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terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25122: Armamento do PAIGC (9): A pistola-metralhadora Sudaev PPS-43, também conhecida por PM de Ferro, PM Chinesa, Decétris




Sudaev PPS-43



Sudayev (em russo e em inglês) PPS-43. Fonte: Wikipedia (em inglês)

Segundo o nosso especialista m armamento, Luís Dias (*), a pistola-metralhadora Sudaev (Ou Sudayev) foi fabricada na II Guerra Mundial pela URSS, com o desenho de Sudaev, entre 1943 e 1946 (perto de 2 milhões de PM), e era uma arma mais compacta que a sua antecedente, sendo distribuída às unidades blindadas e paraquedistas. 

Alguns autores afirmam tratar-se da melhor PM da II Guerra Mundail. Após a guerra foi exportada para muitos países e foi muito copiada. Era conhecida pelos guerrilheiros como a “Decétrin”. Segundo o nosso camarada A. Marques Lopes. era conhecida na gíria do PAIGC por várias expre4ssões: PM de Ferro; Decétris; Modelo Patchanga; PM Chinesa). (**)

Características da arma 
  • Tipo: Pistola-metralhadora
  • País de Origem: URSS
  • Calibre: 7,62 mm Type P
  • Ano de fabrico inicial: 1943
  • Alcance eficaz: 200 m
  • Alcance prático: 25 a 50 mPESO: 3,67 Kg com o carregador completo
  • Comprimento: 831 mm
  • Munição: 7,62X25 mm Tokarev
  • Velocidade de saída do projéctil: 500 m/s
  • Alimentação: Carregador curvo com 35 projécteis
  • Segurança: Colocada à frente do guarda mato, travando a culatra
  • Funcionamento: Arma de disparo unicamente automático, funcionando por inércia da culatra, partindo da posição recuada/aberta
  • Cadência de tiro: 500 a 600 tpm

Observações: A Sudaev 'versus' FBP 

A nossa pistola-metralhadora FBP não era uma arma fiável, porque tinha a mola de soltura do carregador numa posição que poderia fazer com que alguém, mais nervoso, empunhando mal a arma, carregasse na mola inadvertidamente, soltando o carregador e se desse ao gatilho não sairia nenhum projéctil. 

Por outro lado, o sistema de segurança não era famoso, porque em caso de queda da arma, poderia dar-se o disparo da mesma (aconteceu-me no Dulombi, em que a arma caiu no quarto e efectuou um disparo inadvertido que, felizmente, não teve consequências). 

Por estas razões, esta arma, no período em apreço, na guerra colonial, não era muito utilizada em termos operacionais.(***)
 
No TO da Guiné, a Sudaev aparecia em poucas quantidades e era tecnicamente superior à Shpagin (****), embora só produzisse disparo automático, compensando, contudo, por ter uma cadência bem mais baixa.


Munição 7,62x25 mm Type P/Tokarev, utilizada na pistola TT33 e nas Pistolas-metralhadoras PPSh-41 e PPS-43

Munição 9x19 mm Parabellum ou Luger, utilizada na pistola Walther P-38 e nas pistolas-metralhadoras ao serviço das forças armadas portuguesas, como a FBP.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 23 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5690: Armamento (2): Pistolas, Pistolas-Metralhadoras, Espingardas, Espingardas Automáticas e Metralhadoras Ligeiras (Luís Dias)

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24703: Facebook...ando (37): António Medina, um bravo nativo da ilha de Santo Antão, que foi fur mil na CART 527 (1963/65), trabalhou no BNU em Bissau (1967/74) e emigrou para os EUA, em 1980, fazendo hoje parte da grande diáspora lusófona - Parte II: um veterano do tempo da frada amarela, do capacete de aço e da pistola metralhadiora FB-


Guiné > Região de Cacheu > Caió > CART 527 (196365) O fur mil Medina | 1963 | 10 de Novembro de 2012 ·



Folha 3 da caderneta militar do António Cândido da Silva Medina, 1,65 m de altura, nº de matrícula 1960 / A / 0874 80087460, Classe 1961, Arma de Infantaria



Crachá da CART 527 (Guiné, 1963/65) | Medalha comemorativa das Expedições e Campanhas das Tropas Portuguesas | Chapa metalica de identificação | Miniaturas das armas de artilharia e infantaria


Guiné > s/l > CART 527 (1963/65) > O fur mil at inf António Medina, de capacete e pistola-metralhadora FBP: "Foto tirada na Guine. Nessa altura tinha eu um ferimento no meu pulso direito, cicatriz que ainda existe."  | 6 de dezembro de 2013



Guiné > s/l  >  CART 527 (1963/65) >  Foto tirada em cima de um bagabaga (formigas). Adoptei o nome Bagabaga como meu nome de guerra.| 16 de Dezembro de 2013 ·


Guiné > s/ l > CART 527 (1963/65> Na mata de Cabloiana (e não Coboiana...):  "Tantas mortes, de um lado e do outo, que se podiam ter evitado", diz um primo. A que o António Medina responde: "Concordo plenamente contigo, infelizmente nós,  os milicianos, fomos obrigados a dar o passo em frente controlados pela PIDE que proliferava tambem nas fileiras. Tivemos momentos dificeis com medo de perder a vida, cansaco, fome e calor infernal daquelas paragens. | 21 de Outubro de 2013 ·
 



Guiné > s/l > CART 527 (1963/65) > Uma pausa para descanso e fotografia. Foram 24 meses de comissao, cumprindo diversas missoes em terreno desconhecido. Este grupo de combate foi bastante organizado e obediente, nunca hesitando em cumprir as ordens que eram recebidas como salvaguarda do perigo constante que a todos espreitava.
 
Cada um foi para o seu lado pela forca das circunstancias, assim como eu preservo a imagem deles e acontecimentos, julgo que tambem devem se lembrar daqueles longos dias passados juntos.

Naturais da Guine, havia alguns militares e outros erasm  civis nos serviam de guias naquele mato cerrado. O  que está na foto, na prinmeira fila, do lado esquerrdo,  de nome Aliu, foi afiliado no PAIGC, e preso pelas nossas forças, até que decidiu colaborar connosco, tendo se mostrado fiel até à nossa saida. Como contrapartida e a troco de informações,  tinha comida e um sal+ario de 250 escudos da Guine | 16 de Dezembro de 2013 ·

Fotos (e legendas): © António Medina (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


 1. Continuação da seleção de fotos do álbum do nosso camarada da diáspora lusófona, António Medina:

(i) ex-fur mil at inf,  CCAÇ 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65), de resto o único representante desta subunidade, na Tabanca Grande;

(ii) de seu nome completo, António Cândido da Silva Medina, nasceu em 26 de setembro de 1939, na ilha de Santo Antão, Cabo Verde (completou há duas 84 anos);

(iii) estudou no liceu Gil Eanes (Mindelo, São Vicente) (o único liceu das ilhas);

(iv) vive desde 1980 nos EUA, em Medford, no estado de Massachusetts; 

(v) depois da "peluda", em Bissau, e até à independência, foi funcionário do BNU (Banco Nacional Ultramarino), entre 1967 e 1974;

(vi)  tem página no Facebook (último poste: 30 de outubro de 2022); 

(vii) é primo do antigo comandante do PAIGC, Agnelo Dantas (com quem se encontrou, em Bissau, já depois do 25 de Abril de 1974, por iniciativa deste, que o convidou para almoçar).
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sábado, 22 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20673: Fotos à procura de... uma legenda (124): o meu pai era um homem que cumpria a lei que proibia armas de guerra a civis... A tal pistola metralhadora FBP deve ter-lhe sido emprestada por alguém para a pose fotográfica (Lucinda Aranha, escritora)




Guiné > s/l > s/d  > c. 1950/60 > O empresário de cinema Manuel Joaquim dos Prazeres, também caçador... Usava carabinas de caça, mas não armas de guerra... 

Fotos (e legenda): © Lucinda Aranha (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legemdagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagens (duas) da nossa amiga e grã-tabanqueira, escritora, filha do Manuel Joaquim dos Prazeres, o homem do cinema ambulante no nosso tempo, na Guiné, Lucinda Aranha, autora de uma biografia ficcionada do pai,  a que chamou "romance" ( "O homem do cinema: a la Manel Djoquim i na bim"-Alcochete: Alfarroba, 2018, 165 pp.)


Sexta, 31/01/2020, 20:39:
Luís,

(i) Relativamente a armas de guerra, quer o Faxina quer o Daniel Levy nunca ouviram falar em tal, só lhe conhecem [, ao meu pai,] as armas descritas no meu livro. Ambos vão falar com grandes amigos do meu pai para confirmarem se alguma vez o viram com tais armas. Envio 2 fotos com a célebre carabina [, reproduzidas acima];

(ii) Envio a carta do Carlos Geraldes,  escrita a um cunhado meu antes de eu ser aceite como tabanqueira e o conto "O Dia de S. Cinema": naa altura abandonei a ideia deste meu último livro , tendo escrito então "No Reino das Orelhas de Burro" [, será publicado um poste aparte com esta carta e este conto do nosso saudoso Carlos Geraldes (1941-2012), de Viana do Castelo;

(iii) Envio a notícia do "Eco de Cabo Verde",  de 9 de Setembro de 1934, sobre a paragem do zepellin sobre Santiago, em 2 de Setembro , ou seja, no domingo anterior à saída deste número do jornal [, também a publicar em poste aparte];

(iv) Envio 3 fotos que penso serem de uma sessão de endoutrinação levada a cabo pelo exército e autoridades locais [, presunivelmente em "chão fula", talvez região de Gabu ou região de Bafatá]. Não consegui que ninguém soubesse exactamente do que se trata, mas como aparecem militares talvez no blogue descubram [, igualmente a publicar mais tarde].

Beijos, Lucinda

Sexta, 21 de fevereiro de 2020, 10:50
Luís,

A propósito da arma com que o meu pai aparece na fotografia do poste P20601 (*), consultei vários amigos. Falei com o Carlos Freitas que confirma ser uma G3 BP [, ou melhor, pistola  metralhadora FBP,  portuguesa, da Fábrica Braço de Prata]  mas nunca viu o meu pai com uma arma de guerra nem nunca ouviu falar em tal.  É sua opinião que lhe fora emprestada para a fltografia. 

O Pereira pensa o mesmo, acrescenta que tinha 2 carabinas de caça, uma com mira telescópica, uma delas italiana e Flaubert.

Diz ainda que o meu pai era um homem que cumpria a lei que proibia armas de guerra a civis. O Daniel Levy, o Faxina, o Peralta subscrevem a opinião de que a arma foi emprestada psra a fotografia. 

Quanto à máquina de projectar, o Pereira, que foi um dinamizador e membro da admnistração da UDIB, embora não ligado ao cinema, pensa que seria igual à da UDIB porque tinham um acordo, trocando filmes. 

Como te disse, o Carlos Geraldes fala nela e até ao momento é fonte única. Não sei se há algum espólio , embora duvide,

Sobre o clube mas já agora vou perguntar ao Tony Tckeca.

Já conseguiram alguma pista sobre as fotografias dos militares [, em sessão de "psico"]?

Saudades, Lucinda

2. Resposta do editor Luís Graça:

Lucinda, obrigado pelo teu empenho, dedicação e honestidade intelectual na tentativa de esclarecer a questão da arma de guerra que o teu empunha numa das fotos que publicaste no teu livro (*)...

Mss não se trata de uma G3, espingarda automática com que fizemos a guerra colonial, e equipou o exército português até há meses...Trata-se, sim, em princípio,  de uma pistola metralhadora FBP [, Fábrica Braço de Prata]. 

O que dizes sobre o assunto, recolhendo testemunhos de amigos dele, pode bater certo: seria um arma de algum administrador ou chefe de posto, emprestada ao teu pai para a fotografia... O exército usou pouco esta arma, a FBP (, a não ser logo no início em Angola...). Estava distribuída às forças militarizadas (PSP, etc.), incluindo possivelmente a polícia administrativa da Guiné (, uma hipótese a confirmar)...

Vou publicar os teus esclarecimentos, começando pela questão da arma de guerra... Em casa, em Lisboa, quando vinha de férias no tempo da chuva, o teu pai nunca vos falou de armas de guerra... Já tinhas confirmado isso. Então, a arma em questão podia bem ser de algum algum amigo, e ele tinha muitos entre os  administradores e chefes de posto, espalhados pelo mato... (**)

Quanto ao Carlos Geraldes, terá  um tratamento à parte, bem como as fotos dos militares que mandaste há 3 semanas atrás...  Por outro lado, gostava de saber se  tens alguma informação adicional sobre o comerciante Mário Soares [M. Santos, para o Carlos Geraldes), que vivia em Pirada ?... Ele era amigo do teu pai... Era um homem influente, com boas relações com o Senegal (e também com  os dois lados da guerra, as NT e o PAIGC)... Já li algures, que ele ficou inclusive mais um ou ano  dois na Guiné, após a independência... Vou fazer uns postes sobre ele, a partir do material (incluindo fotografias), de que dispomos...
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segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20601: Fotos à procura de... uma legenda (116): afinal, o "Manel Djoquim" andava armado,no mato, com uma pistola metralhadora, facto que a família desconhecia... Resta saber a marca e o modelo: é mais provável que fosse a portuguesa FBP m/948 ou até m/963


Foto nº 1 A
Foto nº 1

Foto nº 2 A


Foto nº 2 

Guiné > s/l > s/d > Não há dúvida que se trata de uma "arma de guerra" e não de caça, uma pistola metralhadora, talvez a portuguesa FBP m/948 ou m/963...  Ou a americana M3 (1942), a famosa "grease subgun" ? As opiniões dividem-se... Thompson não parece, pelo punho em madeira...E M3 também não, que os americanos (General Motors) desenvolveram na II Guerra Mundial, mais barata que (e, por isso, substituta de) a Tommy Gun, a Thompson m/927 (, esta, sin, eternida, na Lei Seca, pelo famigerado Al Capone)... Procurámos melhorar a resolução das fotos acima (Fotos nºs 1 e 2) que, por serem a cores, devem ser dos anos 60.


Fotos (e legenda): © Lucinda Aranha (2014) . Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Angola > 1961 >Angola > 1961 > Desfile de tropas > O António Rosinha, furriel miliciano, aparece aqui em primeiro plano, assinalado com um X... O alferes, que vem à frente, e os três furriéis, imediatamente a seguir, empunham pistolas-metralhadoras FBP (Fábrica Braço de Prata) (1)... As praças, brancas e negras, usam a velha Mauser...Mas, diz o Rosinha, "essas FBP estavam inoperacionais em geral, porque as poucas que existiam em Angola eram da instrução, e com tanto 'monta e desmonta' as molas de recuperação já não actuavam. Mas a mim não me fez diferença, pois que, tirando a carreira de tiro, nunca fiz fogo a não ser à caça. Nem fiz nem ouvi. Vivi 200 dias por ano em toda a Angola, durante os 13 anos de guerra, menos a tropa, em barracas de campanha." (*)

Foto (e legenda): © António Rosinha (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Não, não estamos aqui a discutir o "sexo dos anjos"... Se efetivamente for uma FBP m/948 ou até m/963, a pistola-metralhadora que empunha o "Manel Djoquim", a questão agora que se põe é a de saber como é que ele a arranjou (**) ...

Tratava-se de uma arma de guerra, distribuída apenas aos graduados do exército e  às forças militarizadas... O António Rosinha usou-a em Angola, como furriel miliciano, não como civil...

Temos de admitir a hipótese de, na Guiné, ter sido distribuída aos comerciantes e demais empresários (madeireiros, etc.), para defesa pessoal... Possivelmente no início dos anos 60, quando há cada vez mais indícios de "subversão": destruição de linhas telefónicas, sabotagens de pontes, raptos e assassínios de civis, incluindo comerciantes, etc. E,  se sim, quem dá ordem para distribuir armas de guerra aos civis ?

Não era arma para a caça de onças e crocodilos... Para esse efeito, o nosso homem tinha que ter uma ou mais caçadeiras de grosso calibre... Enfim, daqui a uns dias, a Lucinda Aranha poderá esquecer esta questão, da FBP, que é nova, para ela... E ficou de nos mandar cópia das imagens que tem nas pp. 80/81, com melhor resolução...

De qualquer modo, obrigado aos nossos leitores pelas diversas achegas..

PS - Mandei à Lucinda Aranha, hoje, às 12h49 a seguinte mensagem: "

"Lucinda: não há dúvida que o teu pai tinha uma arma de guerra, uma pistola-metralhadora...Há disputa, entre os nossos leitores, sobre se é uma FBP m/948 ou m/963 (portuguesa) ou uma M3 (americana, do tempo da II Guerra Mundial)... Que idade é que teria aqui o teu pai nestas fotos [, que reenvio, editadas] ? Devem ser fotos, a cores, dos anos 60... Portanto, ele já teria 60 e picos"..

2. Comentário de Lucinda Aranha, com data de hoje, às 16h43:

Apesar de a família desconhecer, tenho de me render à evidência. Como disse, o meu pai nunca fez serviço militar mas, eventualmente, quis uma arma que lhe desse mais segurança. Ele nasceu em 1901, portanto rondava 60 e pouco quando a guerra começou. O Pereira [, o genro do Esteves,] foi para a Guiné por volta de 1956, vamos ver o que ele dirá.

Uma forma de resolverem as vossas dúvidas era contactarem as relações públicas do exército. Eu contactei por  mail as relações públicas da marinha a propósito da fotografia do jogo de futebol na Praia [, pág. 44: uma equipa de futebol da marinha alemã em visita a Santiago] e o sr Costa Canas foi excelente, não só identificou a nacionalidade dos oficiais como mandou fotografias com os fardamentos dos oficiais alemães. Penso que deviam tentar.

Lucinda

3. Pistola-Metralhadora FBP (m/948, m/963 e m/976) (**)

 A FBP é uma pistola-metralhadora de 9 mm,  desenvolvida a partir de um desenho concebido pela primeira vez, em 1940, pelo maj art Gonçalves Cardoso. Coma a 2ª Guerra Mundial, o desenvolvimento da arma ficou em "stand by". É preciso esperar pelo pós.guerra para que o 948 o projecto de uma pistola-metralhadora portuguesa,  entretanto modificado e melhorado, entre em fase de produção.

Como a sigla sugere, a arma foi produzida na Fábrica do Braço de Prata, em Lisboa, em 1948. Foi adoptada para o serviço como m/948. Nessa altura, o  Exército Português apenas dispunha da Steyr m/938, uma pistola-metralhadora moderna mas em pequena quantidade. 

As primeiras FBP foram entregues,  numa primeira fase às unidades da metrópole, seguindo para as colónias as armas consideradas obsoletas.   Em finais dos anos 1950, a principal pistola-metralhadora usada nas colónias era a Steyer 9mm m/942.  A FBP vinha apenas em  segundo lugar. 

Fachada da antiga Fábrica de Braço de Prata
hoje um "centro cultural privado"
Foto: Cortesia da CM de Lisboa.


"Foi buscar a mola telescópica à alemã MP40 e a culatra amovível em aço, à americana M3 (Grease Gun). Inovador e único em pistolas-metralhadoras, foi a inclusão na m/948, de um grampo fixo debaixo do cano para suporte de uma baioneta Mauser".

A arma era distribuída apenas a  oficiais e sargentos das Forças Armadas e a Forças de Segurança. No início da guerra colonial, era a principal pistola-metralhadora nos primeiros tempoos da Guerra de África. Era manobrada sobretudo  pelo comandantes dos pelotões (alferes) e das secções de atiradores de infantaria (furríéis e sargentos). 

Também era  usada pelas unidades de defesa das instalações militares. Acaba por ser susbtituída pela    G3, que passa a equipar toda a secção de atiradores-

 "Nessa altura, a FBP foi relegada para as forças de segurança de instalações ou para unidades de recrutamento local e acabou por ser gradualmente substituída pela Uzi calibre 9 mm e pelas versões de coronha retráctil ou encurtada da G3 m/961".

Funcionamento:

(i) Arma automática, de tiro semiautomático e automático, de funcionamento por inércia.

(ii) A pistola-metralhadora FBP apresenta uma culatra cilíndrica. A abertura da câmara, retardada pela acção conjunta da massa da culatra e da mola recuperadora, dá-se no instante seguinte à saída do projéctil à boca. 

(iii) O percutor encontra-se fixo na culatra. Após a recuperação, esta só inicia o seu movimento de avanço quando o gatilho é pressionado. 

(iv) A alimentação efectua-se por acção da mola do depósito. Um extractor de garra com mola efectua a extracção do invólucro no movimento de abertura da culatra. A ejecção verifica-se quando a base do invólucro encontra, ao nível da caixa da culatra e sobre a base, um ejector fixo. 

(v) Um problema recorrente nos modelos iniciais tinha a ver com o sistema de segurança, o que originava alguns acidentes com as armas que, por exemplo, começavam a disparar ao receberem uma pancada forte (devida, por exemplo, a uma queda acidental) e só paravam quando o carregador estava vazio. 

Especificações técnicas:

Peso: 3,77kg (descarregada); 4,50kg (carregada) 
Comprimentos: Total - 807 mm (coronha esticada); 64 mm (coronha rebatida), Cano - 251mm - Calibre: 9 mm Parabellum
Tipo de Acção: Blowback (sistema de acção que dispensa o sistema de travamento da culatra. Devido à expansão dos gases da “explosão” do cartucho que se encontra no cano da arma, o ferrolho é impulsionado para trás, a mola recuperadora absorve a energia passada ao ferrolho, provocando a seguir o retorno do ferrolho para frente, colocando um novo cartucho na câmara)
Cadência de tiro: 500 tpm
Velocidade de saída: 390m/s 
Alcance: Útil – 50m; Efectivo - 100m; Máximo - 300m
Sistema de suprimento: Carregador de 32 munições
Mecanismo de segurança: Imobilização da culatra
Arrefecimento do cano: Pelo ar.

Variantes:

Limitações da FBP: a  versão original só fazia fogo em tiro automático. Com a versão melhorada, a FBP m/963, introduzida em 1961, passou também a fazer tiro semiautomático. 

Já depois de finda a guerra colonial, é desenvolvido, em 1976,  um modelo melhorado do m/948: a FBP  m/976  dispões de uma manga de refrigeração no cano, o que torna a arma mais precisa e fácil de controlar.

Temos, pois, 3 modelos:

(i) FBP m/948: versão original, com capacidade limitada a tiro totalmente automático;
(ii) FBP m/963: versão introduzida em 1963, com capacidade acrescida de tiro semiautomático;
(iii) FBP m/976: versão desenvolvida em 1976, com uma manga de refrigeração envolvendo o cano que, acidentalmente, também melhorou a precisão da arma. 


(***) Vd. 23 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5690: Armamento (2): Pistolas, Pistolas-Metralhadoras, Espingardas, Espingardas Automáticas e Metralhadoras Ligeiras (Luís Dias)

Guiné 61/74 - P20598: Fotos à procura de... uma legenda (123): O caçador e empresário de cinema Manuel Joaquim dos Prazeres, o "nho Manel Djoquim" (1901-1977) andaria no mato... com uma pistola-metralhadora FBP m/948 ou m/961 ?


Foto nº 3 > Guiné > s/d > s/l > Uma das armas que o Manel Djoquim usava para caçar ... Uma carabina de caça, uma caçadeira, adaptada, com carregador de 10 munições. (Detalhe de foto inserida no livro "Manel Djoquim, o homem do cinema", de Lucinda Aranha (2018), pp. 80-81.



Foto nº 2 > Guiné > s/d > s/l > Uma das armas que o Manel Djoquim usava para caçar...crocodilhos e onças. De novo a carabina de caça,  caçadeira, adaptada, com carregador de 10 munições [Vd. foto nº 3].



Foto nº 1 > Guiné > s/l > s/d  > É provável que o Manel Djoquim, sobretudo depois do início da guerra, passasse a usar, também, para defesa pessoal, esta pistola metralhora que parece ser uma FBP m/948. Mas a Lucinda Aranha nunca lhe ouviu falar em armas de guerra. O pai, de resto, não fez o serviço militar. Mas percorreu toda a Guiné, de lés a lés, antes e durante a guerra, pelo menos até 1970/71...

Fotos (e legendas): © Lucinda Aranha (2014) . Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



I. Diversos comentários ao poste P20558 (*) e mensagens chegadas por email, relacionadas com o tema:

(i) Valdemar Queiroz:

1ª. fotografia (*): O Sr. Manuel Joaquim está com uma espingarda metralhadora e, se era utilizada como caçadeira, matava a caça de rajada. (...)

24 de janeiro de 2020 às 02:25

(ii) Tabanca Grande

Caros leitores, vamos lá descobrir que arma era esta... Está identificada e descrita no livro, na página 71...

A mecânica, os carros, a caça e, mais tarde, a fotografia são paixões que o acompanham na Guiné... Caça onças e crocodilos... cujas peles depois vendia...(Hoje, seguramente, teria outra consciência ecológica e conservacionista, como o nosso camarada Patrício Ribeiro, que vive na Guiné ha mais de 4 décadaas...).

24 de janeiro de 2020 às 07:09



(iii) G.Tavares:

A arma parece-me ser uma pistola metralhadora FBP.

24 de janeiro de 2020 às 09:31



(iv) Luís Graça

Ou será uma carabina de caça adaptada pelo Manuel Joaquim... Marca e calibre ? Estava na moda, na época. Estamos a falar do pós-guerra, anos 50, antes do início da guerra colonial.

24 de janeiro de 2020 às 12:03


(v) Valdemar Queiroz:

Rectifico: A arma é uma pistola-metralhadora FBP 9 mm, de coronha recolhida.

 24 de janeiro de 2020 às 12:56

(vi) Antº Rosinha:

Naqueles tempos uma das actividades com mais sucesso em África era ser mecânico de automóveis, (camiões, tractores, máquinas), ser mecânico, ou ter uma oficina com mecânicos, ou ser muito "habilidoso" com maquinismos.

As viaturas exigiam uma manutenção tão cara, que o mais difícil não era dinheiro para a aquisição da máquina, o mais difícil era a sua manutenção.

Isto tudo também devido ao tipo de estradas, picadas, que nem é preciso explicar.

O Manuel Joaquim tinha uma oficina e era apaixonado por carros, estava nas suas sete quintas.

Dizia-se: uma camionete velha, uma caçadeira, uma linda mulata...é o paraíso na terra.

Foi uma pena ter vindo a guerra e todas as grandes ambições, e vejamos no que deu, acabou-se o paraíso na terra.

24 de janeiro de 2020 às 13:00


(vii) Tabanca Grande

Rosinha, mais à frente falaremos da "grande ansiedade" com que era esperado o Manel Djoquim, nas terras do interior da Guiné... 


Ele, era de facto, o homem dos "sete ofícios", tendo mãos milagrosas para tudo o que era "mecânica": geradores, automóveis, camionetas, motores, armas... Às vezes estava no Sul e chamavam-no, do Norte, algum administrador ou chefe de posto, para ele vir depressa consertar... o gerador!...

Os administradores retribuíam-lhe depois estes "pequenos grandes favores" com hospitalidade e apoio (logística, publicidade, cipaios...) à realização das sessões de cinema... Não admira por isso que fosse recebido em festa por todo o lado, da administração às populações: "A la Manel Djoquim i na bim" [Vem aí o Manuel Joaquim!].

24 de janeiro de 2020 às 14:48

(viii) Tabanca Grande


Valdemar e G. Tavares:

A FBP era uma arma de guerra, uma pistola-metralhadora... Vulgarizou-se com a guerra de África / guerra do ultramar / guerra colonial.. Não me parece que, nos anos 50, pudesse andar nas mãos de civis... Pelo pelo menos, antes dos acontecimentos de 1961,em Angola...

Além disso, na sua 1ª versão [FBP m/948], só fazia tiro de rajada...

Diz a Wikipédia:

(...) FBP é uma pistola-metralhadora projectada no final da década de 1940 por Gonçalves Cardoso, Major de Artilharia do Exército Português, combinando as funcionalidades da MP40 alemã e da M3 americana. O resultado foi uma arma de confiança e com baixos custos de produção. (...)







Guiné, Região do Oio, Olossato, 1963. CART 527 (1963/65).
Fur mil António Medina, equipadode pistola metralhadora FBP,
m/948 ou m/963.  É natural de Cabo Verde,  ilha de Santo Antão.
Vive nos EUA.

A arma acabou por ser produzida pela Fábrica de Braço de Prata (FBP) em Lisboa, com cuja sigla foi baptizada.

A arma foi utilizada em combate pelas Forças Armadas Portuguesas durante a Guerra do Ultramar. A sua utilização nesta guerra levou à verificação que a sua capacidade de fazer apenas tiro automático levava a um grande desperdício de munições [, FBP m/948]. Como tal, em 1961 foi introduzida uma versão aperfeiçoada com capacidade acrescida de tiro semiautomático [FBP m/963]. (...)

4 de janeiro de 2020 às 16:00

(ix) Valdemar Queiroz

Luís: A caríssima Lucinda Aranha incluiu, no seu livro 'O Homem do Cinema', fotografias cá da minha pessoa (ena, até já apareço em livros) em Contuboel e fez o especial favor de me o enviar, autografado. O meu neto Zee (mar, em neerlandês)farta-se de mostrar o livro com a foto do avô 'a ver filmes na selva'.


FBP m/948. Origem: Portugal. Fonte: Wikipedia (com a devida vénia...)

Quanto à arma da 1ª. foto [acima], é sem duvidas uma FBP m/48 ou m/63, igualzinha à que aparece na imagem do P5690 (**). 

A arma transformada, referida no pag. 71 do livro, deve ser uma adaptação, com um carregador de 10 balas, numa carabina de caça.


Este nosso blogue Tabanca Grande e Camaradas da Guiné é também feito de todos estes extraordinários episódios passados na Guiné que nós conhecemos quando lá estivemos, infelizmente, na guerra.

Não façamos deste blogue apenas de noticiários dos sempre agradáveis e saudosos Encontros/Almoçaradas da rapaziada, ou de arrepiantes noticias de necrologia dos nossos queridos camaradas falecidos.(...)

24 de janeiro de 2020 às 18:14



(x) Tabanca Grande

Ok, ótimo, a Lucinda é impecável...

Pedi-lhe para esclarecer a marca, o modelo, o calibre, o ano da carabina. 


Na pág 71, ela diz que o pai "andava sempre armado", tendo : 

(a) uma "Flaubert" [?], "uma carabina para atirar ao alvo"; 

e (b) uma caçadeira,calibre 12, automática, com um carregador de cinco cartuchos, mas em que ele modificou "todo o sistema (os carregadores, as molas)", ficando com a possibilidade de dar "10 tiros seguidos"... (pág. 71).

Não percebo nada de armas de caça... Mas, nas pp. 80/81, aparecem mais fotos com estas armas [, vd. acima, fotos nº 3 e 2]...


24 de janeiro de 2020 às 19:47



(xi) Alcídio Marinho

A arma que se vê em cima do para-lamas, parece ser uma Thompson, arma usada no tempo de Al Capone, que podia utilizar carregador ou tambor.


(xii) Valdemar Queiroz

A nossa pistola-metralhadora FBP e a americana Thompson m3 são primas direitas.

Julgo que a nossa foi projectada/fabricada com uma 'autorização' da Thompson.

A nossa tem o punho em madeira e a entrada do carregador ligeiramente diferente, a Thompson é toda feita em ferro.


A famosa m3, cacibre 45, de 1942  (USA).
Criador: George Hyde. Não oconfundir
com a Thompson...
Fonte: Cortesia de Wikipedia.
Julgo que a esta Thompson não era adaptado o tambor/carregador.

E não sabemos como o Sr. Manuel Joaquim adquiriu a nossa, por ser arma de guerra, ou então a Thompson, por ser de algum gangster americano.

(xiii) Lucinda Aranha

25 jan 2020, 20h50

Luís,

Vejo que efectivamente gostaste do livro pelo empenho que tens demonstrado, o que muito te agradeço. 

Quando escrevi o livro, tive a preocupação de não ferir susceptibilidades, tendo-me as minhas irmãs pedido para que os nomes fossem alterados; segui o mesmo critério para algumas das outras personagens que aparecem no livro de modo a não ferir descendentes. (...)

Sobre as dúvidas a propósito das armas do meu pai, o que sei é que nunca ouvi falar que tivesse uma metralhadora mas as armas que referi no livro, entre elas a dita Flaubert, que adaptou. 


Várias fontes me falaram destas armas, sendo a mais fidedigna e importante o genro do Esteves [, da Casa Esteves, Bissau] , o sr. Pereira, pelas relações de grande convívio e amizade. Aliás, assim que puder, já combinei encontrar-me de novo com ele para tentar esclarecer as dúvidas que tens posto a propósito do Esteves e do meu pai. 

Não percebo nada de armas mas o meu pai era um espírito muito inventivo e não me espantaria que a vossa metralhadora fosse a dita Flaubert com a cartucheira adaptada e, eventualmente, que o braço mais comprido seja uma pega. 

Nas pp 80/81 do livro, lá está a dita de novo, embora reconheça que não tem nenhuma pega. 

Quanto a toda a parafernália de que ele se fazia acompanhar, disse-me uma outra fonte, o sr. Faxina, que se encontrava, pelo menos até há alguns anos, no quintal do Tita Orelha. Creio que este senhor já morreu, mas há um filho, que talvez seja tabanqueiro, com quem nunca consegui falar. Eventualmente, seria ele quem melhor te podia esclarecer. 

Gostei muito do poste sobre o zepelim. Quanto à data exacta da ida do meu pai para Cabo Verde. não consegui apurá-la com toda a exactidão, 1922 é a minha proposta. 

A concretizar-se o encontro da Lourinhã, teremos muito para falar. (...)

Quanto à venda do livro, pode-se sempre encomendar na FNAC, mas tenho em meu poder vários livros e gostava de os vender. Basta que os interessados me contactem para o meu mail [ lucinda.aranha@gmail.com ], que eu enviarei o(s) livro(s) pretendido(s) pelos CTT
 contra reembolso ao preço de 12,50 euros (já com os portes incluídos).

PS- Há efectivamente uma relação entre "No Reino das Orelhas de Burro" e "O Homem do Cinema",  embora este último não seja um prolongamento do anterior. 


Quando escrevi "No Reino...",  já pensava escrever um livro sobre o meu pai mas ainda não tinha os contactos indispensáveis para o poder fazer. "No Reino..." é um caderno de agravos ( se me é permitida a terminologia da revolução francesa) em defesa dos direitos dos animais. Tenho muito gosto em te oferecer um exemplar assim como do "Melhor do que Cão é Ser Cavaleiro", uma espécie de romance da cavalaria escrito por duas das minhas cockers. (...)



Guiné > s/ l> s/d >

O  "Manel Djqouim" com uma pistola-metralhadora
FBP, Thompson ou M3 ?... Detalhe.
Foto: Cortesia de Lucinda Aranha
(xiv) Elísio Esteves de Oliveira [nosso leitor e camarada, nascido em Angola, ex-oficial miliciano de infantaria, CTIG, 1963-1965]

sábado, 25/01, 23:06


Boa noite, Luís,

Cá está de volta o chato picuinhas - mas na foto que acompanha o post Guiné 61/74 - P20588: Manuscrito(s) (Luís Graça) (177): Manel Djoquim, o homem do cinema ambulante, o último africanista - Parte II (*), a arma que nho Djoquim empunha não é uma caçadeira, mas sim uma portuguesíssima {pistola metralhadora] FBP m/948... 


Topa o encaixe para a baioneta sob o cano, o carregador e a corcova entre o carregador e o resguardo do gatilho.

Um Alfa Bravo e um bom ano,
Esteves







(xv) Lucinda Aranha

26 de janeiro de 2020, 19h50:


(...) Como te disse, quer o falar de novo com o Pereira [, o genro do Esteves, de Bissau.] que me deu as informações mais detalhadas e mais fiáveis sobre a vida do meu pai na Guiné e sobre o Esteves, inclusive sobre as armas. 


Gostava também de falar ao Parente cujo irmão mais velho chegou a caçar com o meu pai mas não acredito que ele possa responder às vossas dúvidas. Falei com o meu cunhado que combateu na Guiné e ele também acha que pode ser uma pistola metralhadora. O irmão, que esteve na marinha, também na Guiné, põe a hipótese de ser uma pistola metralhadora FBP de 9mm ( feita em Braço de Prata).

Volto a dizer que nunca ouvimos lá por casa falar em G3 ou metralhadoras. Será que com a guerra colonial comprou alguma dessas armas para se defender? Para se exibir? Ele nunca fez o serviço militar, mas era farrompeiro a propósito das suas caçadas.

De qualquer modo, acho que ninguém caça com semelhantes armas.

Ontem,andei à procura de outras fotos com armas mas não encontrei o mail que mandei à editora. Esta semana vou procurar os originais e logo te envio mais fotos. Talvez fosse melhor esperares por estes elementos que, quem sabe, poderão ajudar a esclarecer dúvidas. (...) (***)

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segunda-feira, 5 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13101: De Lisboa a Bissau, passando por Lamego: CART 527 (1963/65). Parte I: Caió, Bula, Olossato, Fajonquito, meados de 1963...





Guiné > Região do Oio > CART 527 (1963/65) > Olossato > Julho de 1963 > Fardas novas, capacete de aço. os graduados equipados com a pistola metralhadora FBP: em primeiro plano, o fur mil António Medina (em cima); a secção do António Medina (em baixo) (montagem de L.G.)

Nota do AM: "Vasculhando os meus arquivos encontrei a foto que faço juntar, que diz respeito à mata em Olossato. Eramos todos maçaricos na altura, com a farda ainda nova. Quem tirou a foto não me lembro."... Está bastante estragada, do lado esquerdo, pelo que teve de ser recortada e editada... (LG).


Foto (e legenda): © António Medina (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Mensagem, com data de 21 de abril último, do nosso camarada da diáspora (, natural de Santo Antão, Cabo Verde, a viver nos EUA) António Medina, ex-fur mil inf, CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65):

Olá, amigo Graça,

Terminei o meu artigo , conforme te informei havia de to enviar logo que possível para ser publicado no blogue. Lamento nao ter fotos da area de Olossato que pudessem sustentar esse meu escrito, mas procurei ser o mais realista possivel. Ficarei aguardando as tuas noticias.


Um abraco camarada e amigo.


2. Resposta de L.G.:

António: Que memórias frescas!... Vou publicar e arranjar fotos... Diz-me se vais dar continuidade, e quantos textos ainda queres escrever sobre a tua vida na tropa e na guerra, e em particular sobre a história da tua CART 527... O que me mandaste podia ser "partido" em dois...Temos que fazer render o peixe... Mas, pelo que sei, tens mais histórias na forja... Vou abrir uma série, "De Lisboa a Bissau, passando por Lamego"... O início da guerra no TO da Guiné, em 1963, precisa de ser melhor documentado no nosso blogue... Vocês faziam coisas impensáveis no meu tempo (1969/71), só com um pelotão!... O que é feito do teu antigo comandante, o ex-alf mil Correia ? Tens notícias dele ?

Outra coisa: vê este documentário, de 1 hora, "Kolá San Jon é Festa di Kau Berdo", com cenas filmadas na Cova da Moura (Amadora), São Vicente e Santo Antão, a tua ilha, pode interesar-te. Foi realizado pelo Rui Simões, com produção da Real Ficção, em 2011... Está à venda em DVD:

Abraço grande. Luis

3. De Lisboa a Bissau, passando por Lamego: CART 527 (1963/65): Parte I: Caió, Bula, Olossato, Fanjonquito, 1963

por António Medina

Cumprindo o serviço militar na Companhia de Caçadores 2, em Mindelo,  São Vicente, Cabo Verde, contando pelos dedos da mão os dias que já me faltavam para passar à peluda, inesperadamente fui mobilizado pelo RAL 1, de Lisboa, com instruções para me apresentar no Centro de Operações Especiais, em Lamego.

Deixei Cabo Verde naquela mesma noite no N/M Alfredo da Silva, revoltado e frustado por ver o meu tempo de serviço aumentar mais dois anos, e o perigo a que me iria sujeitar no teatro da Guerra. Como funcionário publico que era, tinha a garantia de retomar o meu emprego logo assim deixasse a tropa.

Fui então incorporado na CART 527. Se sucederam treinos variados, destacando a resistência física que foi a mais penosa e estafante, em especial quando se subia e se descia em cross a longa escadaria de Nossa Senhora dos Remédios. [vd foto a seguir].


Lamego: as célebres escadarias do Santuário
de N. Sra: Remédios. Foto: Wikipédia
A 29 de Maio deixámos Lamego e no dia seguinte, de Lisboa partimos para a Guiné, chegando a 4 de Junho em Bissau cerca do meio dia.

O sol era abrasador, o calor asfixiante, o suor escorria pelo rosto de todos, alguns sentindo ainda o mal estar do enjoo. Do navio atracado se via a banda militar, um primeiro sargento e seus “cometas” davam-nos as boas vindas à terra que se dizia ser portuguesa e que teríamos de defender com unhas e dentes até à última gota de sangue.

Estivemos duas semanas no Quartel de Amura. Nesse interim foi indicado Comandante da CART 527 o Capitão Antonio A. Varela Pinto que por sua vez dependeria do Tenente-Coronel Hélio Felgas do Batalhao de Bula [, BCAÇ 507]. O comando da companhia, o primeiro e o segundo pelotão ficariam sediados em Teixeira Pinto, o nosso terceiro pelotão em Caió e o quarto em Cacheu.

Em meados de Junho de 1963 deixámos Bissau a caminho de Teixeira Pinto, atravessámos o rio Mansoa pela jangada de João Landim. Foi o nosso primeiro contacto com o mato.

Chegamos à pequena vila de Caió onde se encontrou um pelotão independente que terminara a comissão e aguardava qualquer momento para o embarque de regresso. Como é óbvio, tinham eles alegria no rosto, enquanto mostravamos saudade, medo, preocupação e vontade de também querer partir.

Em principios do mês de Julho o inimigo já infiltrado se mostrava activo nas zonas Norte e Leste. Do Comando de Bula [, BCAÇ 507,] chegara em cripto instruções para o nosso Alferes Correia, que juntos com o quarto pelotão tomássemos o caminho de Bula prontos a entrar em acção (sic). 

Pela estrada fora um dos condutores do quarto pelotão adormeceu ao volante e o Unimog bateu numa árvore, devido a ferimentos graves o nosso Furriel Severino perdeu a vida, lembro-me de ter rezado baixinho para ele, fazendo o sinal da cruz antes do seu passamento.

Bula estava em pé de guerra com tropas chegadas de Mansoa
e outros quartéis, como reforço para a operação Morés.

Antes do Sol nascer,  e sob o comando do Tenente-Coronel Felgas,  partimos em coluna pelas estradas de Binar, Bissorã, Mansabá até chegarmos a Morés onde se dizia existir abrigos subterrâneos do PAIGC. Durante o percurso não houve contacto com o inimigo. Dois aviões Fiat lançaram foguetes para dentro do mato em Morés sem qualquer resposta, regressando à base em Bissau.

À tardinha foi então dada ordem de retirada para Bula, excepto ao nosso terceiro pelotão que. em vez, foi desviado para Olossato, na região do Oio, a reforçar a secção do furriel Campos que pertencia a uma companhia de Cavalaria, aquartelada em S. Domingos ou Farim.

A secção de Cavalaria ocupava um celeiro, porque o espaço não chegava para todos,  eu e o colega Fidalgo ficámos numa parte do edificio da Escola Primária. Coube-nos o chão cimentado que não era de todo mau para se passar a noite, mesmo assim alguns preferiram as carteiras da escola para que mesmo sentados tivessem algum descanso.



Guiné > Mapa da província >1961 > Escala 1/500 mil > No tempo em que um pelotão dava à volta a meio território, ou pelo menos, saía de Bissau, era colocado em Caió, dependente de Bula, ira reforçar o Olossato, participava numa operação no Morés  e ia acudir as gentes de Fajonquito... Estamos de meados de julho de 1963!.. Oficialmente a guerra tinha começado com uns tiros em Tite, no dia 23 de janeiro de 1963... Por sorte, ainda não havia minas... (LG)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)


Batismo de fogo em Olossato e Fajonquito: início de uma guerra
Guiné, Região do Oio,
Olossato, 1963. CART 527. Fur mil
António Medina, equipado
de pistola metralhadora FBP



De madrugada fomos flagelados por um bando armado tentando atingir as nossas sentinelas, ao qual respondemos prontamente com o fogo das G-3. Não houve baixas.

De manhã reconhecemos a vila com casas cobertas de colmo,  outras com chapas de bidons e aluminio, formando uma pequena avenida. Deparamos com uma padaria pertencente a um casal libanês e mais abaixo, quase no principio da estrada que seguia para Farim, uma sucursal da Casa Gouveia.
Na quarta noite um guarda noturno da Gouveia nos informou que um grupo armado do PAIGC estava saqueando a empresa. Que alguns posicionaram-se ao longo da pequena avenida de Olossato entre as residências, para emboscar qualquer forçaa que se atrevesse a avancar.

O nosso Alferes determinou que eu saísse a pé com o guia por uma vereda que nos levaria às traseiras da Gouveia. O Furriel de Cavalaria que saisse alguns minutos mais tarde, de Unimog com metralhadora fixa pela avenida abaixo, então foram surpreendidos pelo nosso fogo cruzado

Constatámos no dia seguinte que o inimigo se retirou furtivamente no escuro da noite, deixando mercadorias ao abandono. Entretanto o casal libanês foi raptado e nunca mais se soube deles.

Destacados para Olossato vindos de Morés apenas com armas e munições, o que o Furriel tinha em stock não bastava para alimentar um pelotão por muito tempo. Por isso, o nosso colega Cruz,. desprezando o perigo,  saiu de Olossato a caminho de Mansoa à procura de mantimentos para voltar practicamente de mãos vazias, apenas com um saco de arroz e algumas folhas de bacalhau.



Guiné > Região do Oio > Olossato  > 1958 > O senhor Reis, da Casa Gouveia.  Foto nº 2267,  do nosso camarada   Leopoldo Correia (ex-fur mil, CART 564, NhacraQuinhamel, Binar, Teixeira PintoEncheia e Mansoa, 1963/65).

Foto (e legenda): © Leopoldo Correia (2013) Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


Aliás, o colega Cruz durante o seu caminho para Mansoa viu passando em certa érea algo estranho, árvores caidas atravessando a estrada, cratera de minas que explodiram e sangue, mais tarde confirmado que naquela madrugada a tropa de Mansoa caira numa emboscada com muitas baixas.

À tardinha, um dos guardas do Posto Admninistrativo acabara de chegar dando-nos a notícia que um grupo armado do PAICG esteve na tabanca de Fajonquito, aliciando, intimidando e recrutando pessoal, onde decapitaram dois dos habitantes que, para eles,  eram supostos colaboradores da tropa colonial.

O nosso alferes resolveu fazer um reconhecimento à tabanca no dia seguinte de manhã cedo. Connosco levámos alguns batedores com catanas e que iriam à frente em linha, abrindo caminho naquele mato cerrado cheio de espinheiras. Tivemos de atravessar uma bolanha de arroz, com água até aos joelhos,  para que se chegasse a Fajonquito.

A tarefa não foi facil, já  cansados avistámos a tabanca de Fajonquito, em terreno descoberto,  cultivado de mancarra à volta. O inimigo nos surpreendeu,  abrindo fogo do lado direito do terreno onde começava a mata, redireccionámos os nossos homens e contra-atacámos com as G-3, o furriel de cavalaria com a bazuca e o morteiro. O tiroteio durou algum tempo, depois fugiram deixando a minha secção com duas baixas sem gravidade.

Devo realçar o sangue frio do 1º cabo aux enfermagem  que mesmo debaixo de fogo não se poupou a cuidar daqueles feridos que mereciam receber os primeiros socorros, antes de serem evacuados para o Hospital de Bissau.



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Fajonquito > c. 1964/66 > Sérgio Neves e um camarada em cima de uma autometralhadora Daimler > Foto nº 15, do álbum fotográfico de Sérgio Neves (ex-fur mil, CCAÇ 674 (Fajonquito, 1964/66), a falecido, irmão do nosso camarada Constantino (ou Tino) Neves.

Foto (e legenda): © Constantino  Neves (2010) Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


Mas aonde estaria o nosso Alferes Correia, que é feito dele ?

De inicio pensámos o pior, finalmente encontrámo-lo sentado no chão, abrigado em um monte de baga-baga. Como cristão que era, calmamente rezava seu terço. Sempre o trazia com ele, para fazer suas orações nas horas certas.

Em fins de Julho o nosso alferes nos informa que de imediato aprontássemos para o nosso regresso a Caió. É que o pelotão de Caió tinha recebido ordem de marcha e cabia agora a nós segurar aquela zona.

Euforicamente arrumámos o nosso material, tomámos as viaturas e partimos em alta velocidade pela estrada fugindo a qualquer emboscada que se avizinhasse, passando por Mansoa e Bula até chegarmos a Caió,  sãos e salvos. Olossato ficara para trás mas serviu para nos mostrar a determinação do inimigo em querer lutar pela sua ideologia e futura independência.

Doente e dando sinais de um certo desiquilíbrio,  o que na altura bastante lamentámos, o nosso alferes foi levado a se apresentar na junta médica em Bissau, que o desqualificou do serviço e o evacuou para Portugal.