Oeiras > Algés > 35.º almoço-convívio da Tabanca da Linha > 18 de janeiro de 2018 > "O Carlos Silvério, meu amigo, camarada, vizinho e conterrâneo... Veio com a prima Zita. O casal é lourinhanense, vive em Ribamar... 'Periquitos', na Tabanca da Linha. Ele, furriel miliciano, da CCAV 3378, andou pelo Olossato e por Brá (Bissau), entre abril de 1971 e março de 1973. A Zita viveu com ele em Bissau, de agotso de 1972 a março de 1973.
Foto: © Manuel Resende (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem de Carlos Silvério Silva, que passa a ser o grã-tabanqueiro nº 783 :
Data: 14/12/2018, 17:22
Assunto - Formalização do pedido de entrada para a Tabanca Grande
Camarada e amigo Luís Graça, aqui vai o texto prometido.
Tendo vindo a participar em alguns "Encontros Tabanqueiros", nomeadamente o último da Tabanca Grande em Monte Real e vários outros da Tabanca da Linha, chegou a hora de solicitar ao Tabanqueiro-Mor a minha adesão formal.
Sou o ex-fur mil Carlos Silvério Silva, com o seguinte percurso militar:
(i) EPC, Santarém (destacamento): Recruta do CSM. Abril - junho/70;
(ii) CISMI, Tavira: Especialidade de atirador. Junho - setembro/70;
(iii) RI 5, Caldas da Rainha: Monitor de recruta do CSM. Setembro - dezembro /70;
(iv) RC 3, Estremoz: Monitor de especialidade de atirador. Janeiro - fevereiro/71;
(v) BCAÇ, Portalegre: Formação da Companhia de Cavalaria 3378 [, CCAV 3378,] com destino à Guiné;
(vi) Embarque no
Paquete Angra do Heroísmo em 3 de abril de 71 , [viajando com o BCAV 3846, composto pela CCAC 3366 (Susana, Cumeré), CCAV 3364 (Ingoré, Cumeré) e CCAV 3365 (S. Domingos, Cumeré); a unidade mobilizadora era também o RC 3; o Comando e a CCS ficarm em Ingoré. Cmdt do batalhão: ten cor cav António Lobato de Oliveira Guimarães];
(vii) Desembarque em Bissau a 9 de abril de 71;
(viii) Estadia no Cumeré de 9 de abril a 13 de maio 71 a cumprir o IAO;
(ix) Chegada ao Olossato em 13 de maio de 71;
(x) Saída do Olossato para Safim, João Landim e Brá (Combis) em 26 de maio de 72;
(xi) Embarque no Uíge em 24 de março de 73 de regresso a Lisboa;
(xii) A CCAV 3378, mobilizada pelo RC 3, teve 2 Eugénio Manuel Bilstein de Meneses Sequeira; e Cap QEO Carlos Alberto de Araújo Rollin e Duarte.
Guiné > Região do Oio > Olossato [?] > c. 1971/73 > CCAV 3378 > O fur mil at cav Carlos Silvério.
Fotos: © Carlos Silvério (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
As primeiras semanas na Guiné não foram fáceis. Apesar de alertados para algumas dificuldades climatéricas, aquela temperatura, e principalmente aquela humidade, que quase não nos deixava respirar, foi um choque brutal.
Psicologicamente fomos marcados por dois episódios:
1º - A morte do capitão graduado 'comando'
João Bacar Jaló, comandante da 1ª companhia de comandos africanos, ocorrida precisamente uma semana após a nossa chegada. Não se falava noutra coisa em Bissau. Toda a gente queria saber as circunstâncias e as consequências desta perda.
2º - Mais dramático que o anterior, pois tocava-nos directamente. Tínhamos dezanove dias de Guiné. Estávamos em pleno IAO, estacionados em círculo numa clareira duma mata próxima de Nhacra. Cada homem da companhia tinha cavado o seu abrigo. Após o jantar muitos de nós ficámos a conversar com o vizinho do lado ou em pequenos grupos no interior do estacionamento.
Por volta das 22 horas [, do dia 28 de abril de 1971,] alguém abriu fogo e só parou depois de disparar a última bala do carregador. Gerou-se uma grande confusão porque ninguém entendeu o que se estava a passar. Deste incidente resultou a morte do nosso camarada alf mil cav João Francisco Synarle de Serpa Soares (filho de um antigo comandante da EPC, coronel Serpa Soares). Quando a situação acalmou, chegámos à conclusão que o alferes Serpa Soares tinha resolvido fazer uma ronda pela periferia do estacionamento levando a G3 nos braços como se de um bebé se tratasse.
Um dos soldados que estava de sentinela viu aparecer um vulto e sem tentar perceber de quem se tratava, crivou a G3, o tórax e o abdómen do alf Soares provocando-lha a morte imediata. Digamos que não foi um começo auspicioso.
Oportunamente enviarei mais alguns episódios não tão dramáticos como este.
Abraço,
Carlos Silvério.
PS - Seguem três fotos do tempo da tropa e da Guiné
Lisboa > Hotel Travel Park > 11 de novembro de 2018 > Sessão de apresentação do livro "Voando sobre um ninho de Strelas", do ten gen ref António Martins de Matos > Dois representantes da Tabanca do Porto Dinheiro, Lourinhã, à direita o régulo, o Eduardo Jorge Ferreira (ex-alf mil da Polícia Aérea, BA 12, Bissalanca, de 20 de janeiro de 1973 a 2 de setembro de 1974, colocado na EDT (Esquadra de Defesa Terrestre); e à esquerda o Carlos Silvério, já na altura assinalado como "o nosso próximo grã-tabanqueiro nº 783"...
Fotos: © Miguel Pessoa (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
2. Comentário de LG:
Carlos, meu amigo, camarada, conterrâneo e... primo:
Tenho um triplo ou quádruplo prazer em te acolher na Tabanca Grande. Há muito que esperava por este gesto. Respeitei o teu "timing", imposto por razões que já antes havias partilhado com o Carlos Vinhal e comigo: querias sentar-te à sombra do nosso poilão no lugar nº... 783 (*).
Custou mas foi. O lugar é bem merecido (**). E este blogue é teu, é nosso. Sei que és um leitor fiel. E nós ficamos à espera das prometidas histórias que ainda tens na tua memória.
Ficas a saber que és o primeiro representante da tua companhia a integrar formalmente a Tabanca Grande. Tens a responsabilidade, acrescida, de divulgar o blogue e de trazer mais camaradas para se sentarem contigo e connosco debaixo do nosso poilão, mágico, fraterno e protetor.
Sobre a tua
CCAV 3378 sabemos pouco, temos poucas referências no nosso blogue. Mais uma razão para continuares a escrever sobre ti e os teus camaradas.
Quanto ao nosso parentesco (por afinidade)... Estás casado com a Zita, e a Zita e eu temos em comum dois bisavós, que eram irmãos, nascidos na década de 1860, em Ribamar, Lourinhã, pertencentes ao "clã Maçarico":
(i) o bisavô dela chamava-se Joaquim Filipe Maçarico, casado com Maria Feliz, que tiveram quatro filhos, incluindo a Iria da Conceição, que será avó paterna da Zita;
(ii) a minha bisavó paterna, irmã do Maçarico (só os rapazes é que tinham o apelido Maçarico) chamava-se Maria Augusta (1864-1920), que foi casar na Lourinhã com Francisco José de Sousa (1864-1939): o casal teve 7 filhos, incluindo a minha avó, paterna, Alvarina de Sousa [que morreu de tuberculose em 1922, tinha o meu pai, Luís Henriques (1920-2012), dois anos].
Portanto, as nossas avós (paternas) eram primas direitas, a Iria e a Alvarina.. Não vale a pena ir mais longe, mas sabemos pelo menos os nomes dos pais e dos avós dos nossos bisavós, ou sejam, os nossos trisavós (nascidos por volta de 1830) e os nossos tetravós (nascidos por volta de 1800)...
Um alfabravo fraterno, um beijinho para a Zita. Feliz e Santo Natal para toda a família. LG
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 8 de agosto de 2018 >
Guiné 61/74 - P18904: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (108): O Carlos Silvério, nosso futuro grã-tabanqueiro... n.º 783... Encontrei-o na Lourinhã e ele contou-me o seu... "segredo" ... Também me disse que morou em Bissau, na rua do "Chez Toi", quando lá esteve, casado, com a Zita, em 1972/73...
(...) O 783 era o seu número de soldado-instruendo na recruta, em Santarém. Acabada a recruta, e quando ele se preparava para ir uns dias de férias, andava a passear com a sua Zita nas ruas de Santarém, quando passa rente a um major de cavalaria... Distraído com a namorada, mal deu conta dos galões amarelos do oficial superior que lhe fez a tangente... Mas ainda foi a tempo de se virar e de lhe bater a pala... O major continuou o seu caminho, mas, matreiro ou sacana, foi dar uma volta e, logo mais à frente, virou em sentido contrário para o apanhar de frente. O Carlos desta vez não foi apanhado desprevenido e fez-lhe, corretamente, a devida continência... Mas o senhor oficial estava mesmo determinado em lixá-lo. Tirou-lhe o número (o 783) por causa da desatenção anterior.
Resultado: quando o Carlos Silvério chegou ao quartel, já tinha a participação do major... Enquanto o resto do pessoal (cerca de 400) foi gozar uns merecidos dias de licença em casa, o Carlos ficou de castigo no quartel... Seguindo depois diretamente, de Santarém para Tavira, para o CISMI, numa penosa viagem de comboio que levou toda a noite, ...
Compreensivelmente, o Carlos Silvério "ficou com um pó" aos oficiais de cavalaria, em geral, e aos majores, em particular, nunca mais se esquecendo do seu azarento n.º 783 da recruta em Santarém. Ele é primo do tenente general reformado Jorge Manuel Silvério, nascido em Ribamar, em 1945, e já lhe contou em tempos esta peripécia que o deixou desgostoso em relação à instituição militar. (...)
(**) Último poste da série > 13 de dezembro de 2018 >
Guiné 61/74 - P19287: Tabanca Grande (471): apresenta-se o camarada da diáspora lusitana na América (para onde emigrou há mais de 40 anos), António Cunha (Tony), que foi fur mil enf, de rendição individual, tendo passado pela 38ª Ccmds, pelo HM 241, pela CCS/BCAÇ 4514/72, e, por fim, pela CCAÇ 6 (Bissau, Mansoa, Bolama e Bedanda, 1972/74)... Senta-se, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 782.