(i) Luís Graça
Joaquim, aconteceu-nos a todos... Nos primeiros seis meses (qual quê ?!, nos primeiros três meses), o "periquito" tem os cincos sentidos (olfato, paladar, visão, audição e tato) atentos a todas as potenciais ameaças que vêm do exterior...
Fomos treinados (mas mesmo assim mal e à pressa) para adotarmos comportamentos de segurança na Guiné (nunca ninguém me falou da Guiné, e das suas "armadilhas"!)...
Depois,começamos a relaxar, e acontecem as primeiras "baldas" e os primeiros lamentáveis "incidentes"...
Ao fim de seis meses fomos já "veteranos", "velhinhos como o c...", e depois tudo podia acontecer: as primeiras mortes, estúpidas, por acidente, com o dilagrama, a granada de bazuca 8.9 ou de morteiro 60, as granadas de mão, a mina A/P, o Unimog que capotou, o companheiro que saiu da fila para ir mixar ou cagar na orla da mata, e leva um tiro no regresso...
Parabéns, não tens mortos inocentes na tua consciência...porque foste um oficial competente e responsável, disciplinado e disciplinador... Não era fácil, chamavam-te logo nomes feios, "chicalhão"... (Espero que possas ir alimentando a tua série, interrompida em 2014; eu dou-te uma ajuda, repescando comentários como este...)
Joaquim, aconteceu-nos a todos... Nos primeiros seis meses (qual quê ?!, nos primeiros três meses), o "periquito" tem os cincos sentidos (olfato, paladar, visão, audição e tato) atentos a todas as potenciais ameaças que vêm do exterior...
Fomos treinados (mas mesmo assim mal e à pressa) para adotarmos comportamentos de segurança na Guiné (nunca ninguém me falou da Guiné, e das suas "armadilhas"!)...
Depois,começamos a relaxar, e acontecem as primeiras "baldas" e os primeiros lamentáveis "incidentes"...
Ao fim de seis meses fomos já "veteranos", "velhinhos como o c...", e depois tudo podia acontecer: as primeiras mortes, estúpidas, por acidente, com o dilagrama, a granada de bazuca 8.9 ou de morteiro 60, as granadas de mão, a mina A/P, o Unimog que capotou, o companheiro que saiu da fila para ir mixar ou cagar na orla da mata, e leva um tiro no regresso...
Parabéns, não tens mortos inocentes na tua consciência...porque foste um oficial competente e responsável, disciplinado e disciplinador... Não era fácil, chamavam-te logo nomes feios, "chicalhão"... (Espero que possas ir alimentando a tua série, interrompida em 2014; eu dou-te uma ajuda, repescando comentários como este...)
7 de abril de 2024 às 12:52
(ii) Joaquuim Luís Fernandes:
(ii) Joaquuim Luís Fernandes:
Viva. Luís Graça! E obrigado pela atenção.
Sei que devo alguns postes ao blogue, mas não sei quando pagarei essa dívida. Tenho sempre outros assuntos prioritários que me escasseiam o tempo e a disposição para me sentar a escrever as minhas memórias e a compor os postes com algumas fotos de jeito.
Por enquanto fico-me pelos comentários, que saem ao impulso do que sinto nos postes que leio. E quando posso.
As observações que fazes no teu comentário supra, no que me respeita, suscitam-me outros tantos comentários, mas hoje não me quero alongar, como algumas vezes faço.
Direi apenas que me interrogo como eu com 21 anos (só fiz os 22 em 30 de Julho de 73) consegui comandar um pelotão de "pessoal já velhinho" que não conhecia nem me foi formalmente apresentado, conquistando gradualmente a sua confiança, sem indisciplinas que perturbassem o normal cumprimento das missões que nos destinaram.
E havia no grupo alguns com modos de ser e estar um pouco problemáticos. Mas tive o bom senso de me conduzir de modo ajustado às circunstâncias.
Concluo que comandei um pelotão disciplinado e não foi por força de usar o RDM para impor a disciplina. isto é: Eu procurei ser disciplinado, correto e respeitador para com todos e penso que o meu comportamento induziu no grupo disciplina e respeito.
Creio que nunca me julgaram de "chicalhão". Sabiam que eu era um paisana a cumprir o serviço militar obrigatório, sem tiques militaristas.Também sabiam, porque várias vezes lhes disse, que o que fazia, era para que tudo nos corresse bem, sem azares, sem castigos, sem mortes e sem feridos.
Mas ouvi algumas reclamações e queixumes por cumprirmos os exigentes patrulhamentos nas matas do Balenguerez e do Burné, nas "barbas" da Caboiana, que sabíamos perigosos. Sabiam que outros grupos que connosco alternavam, muitas vezes se baldavam.
Só nunca lhes disse porque assim procedia. E não era por ser guerreiro. Alguns terão pensado que eu via perigo onde não existia, na minha prudente atitude de conduzir os patrulhamentos como se caminhasse-mos em áreas de contacto eminente. (será que o não eram?)
Mesmo assim, terei-me baldado a um patrulhamento ao Balenguerez (que deu para fazer uma caçada aos javalis) e uma outra tentativa de balda, que foi interrompida pelo Comando em T.Pinto, via rádio, a perguntar qual a nossa posição, pois pretendiam fazer uns tiros de obús a partir do Bachile, visando atingir um grupo do PAIGC que tinha roubado vacas numa tabanca próximo de Bassarel.
Foi uma aflição: Nós estacionados na estrada velha, próximo do local onde as viaturas nos tinham deixado, quando com quase 2 horas de percurso já deveríamos estar perto do Balenguerez.
8 de abril de 2024 às 01:07
Sei que devo alguns postes ao blogue, mas não sei quando pagarei essa dívida. Tenho sempre outros assuntos prioritários que me escasseiam o tempo e a disposição para me sentar a escrever as minhas memórias e a compor os postes com algumas fotos de jeito.
Por enquanto fico-me pelos comentários, que saem ao impulso do que sinto nos postes que leio. E quando posso.
As observações que fazes no teu comentário supra, no que me respeita, suscitam-me outros tantos comentários, mas hoje não me quero alongar, como algumas vezes faço.
Direi apenas que me interrogo como eu com 21 anos (só fiz os 22 em 30 de Julho de 73) consegui comandar um pelotão de "pessoal já velhinho" que não conhecia nem me foi formalmente apresentado, conquistando gradualmente a sua confiança, sem indisciplinas que perturbassem o normal cumprimento das missões que nos destinaram.
E havia no grupo alguns com modos de ser e estar um pouco problemáticos. Mas tive o bom senso de me conduzir de modo ajustado às circunstâncias.
Concluo que comandei um pelotão disciplinado e não foi por força de usar o RDM para impor a disciplina. isto é: Eu procurei ser disciplinado, correto e respeitador para com todos e penso que o meu comportamento induziu no grupo disciplina e respeito.
Creio que nunca me julgaram de "chicalhão". Sabiam que eu era um paisana a cumprir o serviço militar obrigatório, sem tiques militaristas.Também sabiam, porque várias vezes lhes disse, que o que fazia, era para que tudo nos corresse bem, sem azares, sem castigos, sem mortes e sem feridos.
Mas ouvi algumas reclamações e queixumes por cumprirmos os exigentes patrulhamentos nas matas do Balenguerez e do Burné, nas "barbas" da Caboiana, que sabíamos perigosos. Sabiam que outros grupos que connosco alternavam, muitas vezes se baldavam.
Só nunca lhes disse porque assim procedia. E não era por ser guerreiro. Alguns terão pensado que eu via perigo onde não existia, na minha prudente atitude de conduzir os patrulhamentos como se caminhasse-mos em áreas de contacto eminente. (será que o não eram?)
Mesmo assim, terei-me baldado a um patrulhamento ao Balenguerez (que deu para fazer uma caçada aos javalis) e uma outra tentativa de balda, que foi interrompida pelo Comando em T.Pinto, via rádio, a perguntar qual a nossa posição, pois pretendiam fazer uns tiros de obús a partir do Bachile, visando atingir um grupo do PAIGC que tinha roubado vacas numa tabanca próximo de Bassarel.
Foi uma aflição: Nós estacionados na estrada velha, próximo do local onde as viaturas nos tinham deixado, quando com quase 2 horas de percurso já deveríamos estar perto do Balenguerez.
Chovia a bom chover! Lá dei as coordenadas na direção que deveríamos ter seguido, não muito longe de onde estávamos. E foi caminhar debaixo de chuva a passo acelerado, dentro do possível.
Não intercetámos o grupo que tinha roubado as vacas, mas sim o trilho por onde tinham passado,com vestígios evidentes: a bosta das vacas e os rastos que a chuva não tinha apagado.
E ainda bem, que na balda, atrasámos o percurso. E ainda bem que o grupo do roubo das vacas, vindo em nossa direção, no mesmo trilho, pouco depois de passarem pelo Balenguerez, desviarem para o lado das Matas de Cacheu, que já não era zona da nossa intervenção. Deste modo evitou-se o contacto, frente a frente, cujas consequências não sabemos no que poderia dar.
E fico por aqui. E dizia eu que não me queria alongar.
Abraços
JLFernandes
Não intercetámos o grupo que tinha roubado as vacas, mas sim o trilho por onde tinham passado,com vestígios evidentes: a bosta das vacas e os rastos que a chuva não tinha apagado.
E ainda bem, que na balda, atrasámos o percurso. E ainda bem que o grupo do roubo das vacas, vindo em nossa direção, no mesmo trilho, pouco depois de passarem pelo Balenguerez, desviarem para o lado das Matas de Cacheu, que já não era zona da nossa intervenção. Deste modo evitou-se o contacto, frente a frente, cujas consequências não sabemos no que poderia dar.
E fico por aqui. E dizia eu que não me queria alongar.
Abraços
JLFernandes
Sobre a famosa "batota no mato", temos 13 referências no blogue. E fizemos inclyusive um "inquérito on line" que, infelizmente, só obteve 45 respostas... As eventuais diferenets formas desta prática estão identificadas e listadas... As três mais frequentes (**):
- Emboscar-se perto do quartel > 17 (37%);
- Começar a “cortar-se", c/ o fim da comissão à vista > 17 (37%)
- “Acampar” na orla da mata, ainda longe do objetivo > 11 (24%)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste da 7 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25349: Acordar memórias (Joaquim Luís Fernandes) (7): Uma estória passada no Pelundo, na escolta a um transporte de rachas de cibes: periquitos e velhinhos...
(*) Vd. poste da 7 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25349: Acordar memórias (Joaquim Luís Fernandes) (7): Uma estória passada no Pelundo, na escolta a um transporte de rachas de cibes: periquitos e velhinhos...
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