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segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24554: Notas de leitura (1606): "Um cripto na terra vermelha da Guiné", por Humberto Costa; 2.ª edição, 2020, Eudito (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Setembro de 2021:

Queridos amigos,
Mais uma edição de autor, tive a dita de a encontrar na Biblioteca da Liga dos Combatentes, um fornecedor sempre generoso. Temos o percurso do cabo Humberto Costa, operador cripto em Mansoa e Bissau, foi coligindo notas do seu itinerário desde a recruta à disponibilidade. Homem manifestamente sociável, atento à miséria das populações, realça aspetos divertidos e bizarros que a tropa sempre oferece. Não há nenhuma farronca, não se disfarça de herói o combatente, diz o que sente debaixo de fogo, provou diversas flagelações, e por ser cripto vai tomando nota da atividade operacional do setor de Mansoa. Edição profusamente ilustrada, faltava-nos o depoimento constituído por notas de um cabo cripto quase no final da guerra da Guiné.

Um abraço do
Mário



Um cripto na terra vermelha da Guiné

Mário Beja Santos

É o primeiro livro de Humberto Costa, 2.ª edição, 2020, Eudito (geral@eudito.com), natural de Cedofeita, infância vivida no Monte Aventino, com currículo de grande participação como autarca e desportista; é atualmente presidente do Grupo Dramático do Monte Aventino. Ajunta as suas notas diárias entre 1971 e 1974: recruta em Viseu (8 horas de viagem entre o Porto e Viseu, o comboio era dos antigos com máquina de carvão), conta episódios divertidos de desenfianços e calacices; curso de escriturário em Leiria, nota-se sempre a preocupação em registar o nome de amigos e conterrâneos; curso de operador cripto na Trafaria. Explica-nos o que é ser operador cripto, a natureza das mensagens (romeo – rotina; uniforme – urgente; óscar – imediato; zulo – relâmpago); vai estagiar na Figueira da Foz, nunca se escusa a contar uma boa pilhéria. Chega a Bissalanca em 13 de março de 1972 e segue diretamente para Mansoa, regista as elevadas temperaturas, anota por onde passa:

“Vimos um povoamento, era Infandre, que fica separado de Mansoa pelo rio Mansoa, atravessámos a ponte e entrámos em Mansoa. O quartel estava do lado direito, em frente ficava a vila com uma igreja grande, um cinema ao ar livre, um posto de gasolina, o campo de futebol dos Balantas e o mercado municipal, bem como a igreja. O comércio era exercido maioritariamente por libaneses. Foi colocado na Companhia de Caçadores n.º 15”.

Dá-nos a composição das unidades militares sediadas em Mansoa. Tem batismo de fogo em 31 de março, ataque a Mansoa e Cussaná. Regista o seu espanto de ter visto crianças com latas na porta do refeitório, esperando que os soldados acabassem de comer para irem limpar as mesas e empurrar os restos para dentro das latas. Em 5 de abril há flagelação a Infandre bem como a Mansoa, que sofreu mortos e feridos na população. Dias depois anota que três elementos civis foram vítimas de mina antipessoal.

A obra está repleta de imagens de Humberto Costa, imagens de obuses, rescaldo de flagelações, crianças, patuscadas, a família da lavadeira, jogos de futebol, infraestruturas, e muito mais. Em 27 de abril, regista que numa coluna entre Bissorã e Mansoa rebentou uma mina; em maio fugiu um soldado operador cripto. Vê-se perfeitamente que registou um elevado acervo de sinistros desde emboscadas a flagelações, Mansoa em 26 de junho é flagelada com intensidade. 

“Um foguetão atingiu a torre da igreja junto ao meu local, outro a bomba de gasolina na mesma rua, mas mais ao longe. Estilhaços de granada de canhão sem recuo caíram perto de mim, atirando terra para as minhas costas, então pus a mão e senti húmidas as costas, pensando logo que era sangue. Quando me levantei senti que estava bem”.

Inventaria acidentes, as atividades operacionais da CCAÇ 15, as festas dos seus aniversários passados na Guiné. Está sempre pronto para contar peripécias. Nos seus apontamentos não escusa a deixar notas pessoais como o que se sente debaixo de fogo:

“A tremedeira do nosso corpo, o bater forte do nosso coração que parece mesmo que não vai resistir, a cabeça que pensa rápido, mas fraqueja. Só pensamos em esconder e proteger pelo menos a nossa cabeça. Mas quando se ouve um camarada aos berros, porque foi atingido por um estilhaço ou bala e diz alto ‘vou morrer!’, isto é terrível, sentimos também a dor dos nossos camaradas. A pressão é enorme naquela altura. E então vem o silêncio e nós dizemos que já acabou por hoje. Assim, mais calmos, corremos para os nossos camaradas feridos e para aqueles que estão em estado de choque. No dia seguinte e pela mesma hora estamos todos a olhar para o céu para ver se vem mais guerra”

Dá nota de um acontecimento, durante meio ano aproximadamente foi tempo de pausa na guerra de Mansoa.

Em setembro de 1973 deixou Mansoa para ser integrado no Centro Cripto da CCS do Quartel-General em Bissau. Deixa anotados os encontros com a malta amiga e vizinha, mais um rol de fotografias e escreve nos seus apontamentos em 4 de novembro:

“Ao quartel-general chegou um operador cripto que estava num quartel junto à fronteira com o Senegal. Disse que tiveram de abandonar o quartel depois de um ataque do inimigo. Andaram perdidos durante vários dias. Alguns seguiram o caminho certo e encontraram população ligada às nossas tropas. Outros andaram sem norte, passavam fome e sede, beberam a própria urina para resistir à seca dos lábios. Até que um dia foram avistados. Este operador cripto ao contar isto tremia por todos os lados. O medo era muito forte, não sabiam para onde ir, então corriam para o mato que era mais escondido. Muitos, depois da calma, lá vinham ter com os companheiros, outros perdiam-se”.

Volta a Mansoa em 12 de dezembro, acompanha o seu substituto na CCAÇ 15. Nessa noite foram atacados, teve mais medo porque estava no final da sua estadia em Mansoa. Descreve assim o seu Natal de 1973: 

“Estando eu nos Adidos na véspera de Natal, comi uma posta de bacalhau pequena e duas batatas cozidas para ter algo que me lembrasse o Natal. Comprei dois bolos e uma lata de Fanta”.

 Em 6 de janeiro saiu de Bissau para Lisboa. Os últimos elementos da sua obra são considerações sobre as guerras que travámos em África, mostra curiosas ilustrações da ação psicossocial do Exército Português para atrair as populações do mato e termina o seu trabalho saudando o 25 de Abril.

Posto de gasolina de Mansoa danificado depois de uma flagelação
Igreja Católica de Mansoa
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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24549: Notas de leitura (1605): "O Elogio da Dureza", por Rui de Azevedo Teixeira; Gradiva Publicações, 2021 (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23964: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte VII: Tabanca e destacamento de Braia, na estrada Mansoa-Bissorã

Foto nº 1 > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > A autoestrada"  (Mansoa-Bissorã)...


Foto nº >1A > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > A autoestrada" (Mansoa-Bissorã)... Ao fundo, do lado direito o fortim de Braia...


Foto nº 2 > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Sem legenda...


Foto nº 3 > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Malta do destacamento a fazer o "tacho"...


Foto nº 3A > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Malta do destacamento a fazer o "tacho"...

Foto nº 4 > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Vista, do interior, do destacamento com o fortim, ao fundo, do lado esquerdo...


Foto nº 4A > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Vista, do interior, do destacamento com o fortim, ao fundo, do lado esquerdo...


Foto nº 4B > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Vista, do interior, do destacamento  com militares jogando à bola (?)...


Foto nº 5 > Guiné > 
Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia >   A segunda ponte, com miudos a saltar para a água...


Foto nº 6 > Guiné > 
Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia >  Alunos e alunas do posto escolar militar


Foto nº 6A > Guiné > 
Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Alunos e alunas do posto escolar militar.


Foto nº 7 > Guiné > 
Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Alunos e alunas do posto escolar militar.


Foto nº 7A > Guiné > 
Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > s/d > c. 1970 >  Braia > Alunos do posto escolar militar.

Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71).

Organização e seleção feitas pelo seu amigo e nosso camarada Ernestino Caniço, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa) e Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, (Bissau) (Fev 1970/Dez 1971) (médico, foi diretor do Hospital de Tomar, 6 anos, de 1990 a 1996, e diretor clínico cumulativamente 3 anos, de 1994 a 1996, vivendo então em Abrantes; hoje vive em Tomar).

O José Torres Neves é missionário da Consolata, ainda no ativo. Julgamos que já fez, em 2022, os 86 anos. Vive num país africano de língua oficial portuguesa. Esteve no CTIG, como capelão de 7/5/1969 a 3/3/1971. Os capelães eram, em geral, graduados em alferes, não eram portanto oficiais milicianos. Um ou outro podia do quadro.

As fotos (de um álbum com cerca de 200 imagens) estão a ser enviadas, não por ordem cronológica, mas por localidade, aquartelamentos ou destacamentos do sector de Mansoa.

Estas são as primeiras de um lote de 24 sobre o destacamento (e tabanca) de Braia, que ficava a noroeste de Mansoa, na estrada para Bissorá. Sobre Braia temos 15 referências no blogue.  

 Desejamos um ano cheio de saúde e de graças ao nosso amigo,  antigo capelão,  José Torres Neves. E obrigado por mais estas "prendinhas". Um abraço também ao Ernestino Caniço que nos vai ajudando a alimentar o blogue com as belíssimas fotos do José Torres Neves (*).


Guiné > Região do Oio > Mansoa  (1954) > Carta de 1/50 mil  > Posição de Jugudul, Mansoa, rio Mansoa, Braia e Infandre. Braia e Infandre ficava na estrada Mansoa-Bissorã.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 1 de dezembro de  2022 > Guné 61/74 - P23834: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte VI: Bissá: as últimas fotos do destacamento e tabanca balanta

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23346: Notas de leitura (1455): "Era Uma Vez na Tropa, Rescaldos da guerra em desfile de memórias", por Ireneu de Sousa Mac; Europa Editora, 2022 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Junho de 2022:

Queridos amigos,

Permitam-me justificar a minha incredulidade face à leitura desta narrativa. Passado meio século, manda a sabedoria do perdão que acompanha os velhos, há ressentimentos, azedumes e horas más que passam para a categoria dos desperdícios. Irineu Mac apresenta-se como uma exceção, di-lo frontalmente: "Toda a guerra depois de finda ainda vive em nós. Uma guerra não acaba enquanto houver um último sobrevivente e enquanto os familiares ou amigos que sofreram danos colaterais tiverem memória. Aqui são retratadas as vivências de um miliciano, em jeito de alter ego, forçado a entrar numa guerra de causas e motivações alheias em condições muito adversas".

 É uma narrativa confessional, onde a guerra propriamente dita e a sua relação com os outros merece escassos parágrafos, no entanto, terá vivido uma experiência bem dura em territórios marcadamente hostis em derredor de Mansoa, foi cofundador e professor na escola regimental de Mansoa, voluntariou-se na escola primária da aldeia na preparação para exames de 4ª classe, são assuntos tratados de raspão, questionamos porquê, numa narrativa onde o timbre é dado pelos tais azedumes e recordações de que a idade nos liberta, tal como ele observa nos encontros de ex-combatentes teimamos nesta bonomia de avançar para o outro de braços abertos.

Um abraço do
Mário



Lembranças da CCAÇ 15 (1970-1971), com amargores e ressentimentos

Mário Beja Santos

É cada vez mais raro encontrar nas obras de cunho memorial sobre a guerra colonial algo que fez parte da 1.ª fase deste ramo literário: os ajustes de contas, a revolta incontida pelos comportamentos militarões, o azedume pelo facto da tropa ter impedido os estudos, a catilinária sobre a absurdez e a perversidade daquelas guerras. A idade e o peso da memória fazem outros escrutínios, é aquela sabedoria em que o fel e a bílis já não têm papel na nossa vida. "Era Uma Vez na Tropa, Rescaldos da guerra em desfile de memórias", por Ireneu de Sousa Mac, Europa Editora, 2022, é uma história pessoal de um furriel miliciano que pertenceu à Companhia de Caçadores Nativos, a 15, sediada em Mansoa. 

Revela que lhe interromperam os estudos, que o mundo desabou à sua volta, estava preste a concluir o 7.º ano de liceu. Quando regressou era uma amostra de si próprio, pesava 54kg com 170cm de altura, já tinha os dois irmãos mais velhos nas penas de África, ainda hoje não consegue esquecer o olhar de despedida e a compaixão de familiares e amigos quando lhe disse que ia para a Guiné. A guerra não acabou para Mac. É a vivência na Guiné que ele vai relatar. Antes, porém, conta-nos que estudou num colégio privado, chegou o dia mais infeliz da sua vida, assentou praça nas Caldas da Rainha, confessa que nunca foi capaz de abrir o baú e deixar que as memórias viajassem pelo mundo fora. Agora, já está mais descontraído, fala-nos da sopa intragável, dos treinos nas serranias laterais ao rio Séqua, estava desarranchado, tinha um companheiro de quarto que acabou por desertar. 

“As atitudes danosas e injustas da tropa, deixaram ao Mac marcas desagradáveis e de aversão, ainda hoje, à flor da mente e dentro da pele”.

Irineu Mac esboçou a arquitetura sobre a forma de diálogos com o amigo, há pergunta e resposta, e depois de se falar em classificações do curso, ei-lo que parte em rendição individual para CCAÇ Nat 15. 

“O mundo de Mac sofre um segundo terramoto. Faliram os projetos, desabaram os sonhos. Nunca mais o futuro se escreveu da mesma maneira”

E parte, em estado lúgubre, em 3 de fevereiro de 1970. Dá-nos a nota de rodapé a composição do quadro de oficiais, sargentos e praças oriundos da metrópole, juntam-se todos em Bolama, onde diz que as condições de vida eram péssimas. E partem para Mansoa, descobre que não pode vir a férias até à metrópole por ter 8 dias de prisão no cadastro, coisas que se passaram em Tavira, tudo má sorte. Tira carta de condução de mota. Foi forçado a ir votar num cidadão qualquer, coisas de eleições do Estado Novo. Conta a história de uma cobra que se escapuliu para um buraco da bota, segue-se um rol de peripécias, mete caça, comida, a vida em Cutia tinha as suas durezas. Não se escapa às considerações erótico-sexuais. Não lhe escapou à memória uma encenação feita para jornalistas estrangeiros, um simulacro de combate na mata, uma autêntica montagem cinematográfica. Há acidentes com armas, fala-se de ataques de abelhas.

Nova confissão, há ressentimentos que pesam: 

“Mac foi impelido para a tropa pela intimação, pela força da lei e dos homens dominados, pela obsessão na qual não navega a razão. Ainda tentei, por duas vias, adiar a tropa para a incorporação seguinte. Em especial porque queria muito concluir o ano letivo. Nunca obtive resposta. Voltei com a guerra às costas. Sem bater à porta, fez-se de convidada, entrou sem autorização e sentou-se à mesa da vida. Enquanto a malária, de febre em riste, entrava pelo postigo, pelas frestas das janelas e pelos interstícios dos telhados. Mas não penses que foi fácil regressar. Inventavam atrasos atrás de adiamentos. Já nos íamos adentrando pelo 25.º mês e ainda não tínhamos sido substituídos. Quanto mais o tempo passava, mais o medo aumentava e a coragem e a vontade de arriscar escasseavam. Ninguém queria morrer ao quebrar da onda na areia”.

Há referências esporádicas a operações, patrulhamentos, situações de fogo cruzado. E vem a história de Zé Mamede que em outubro de 1970 abalou de Mansoa em direção ao seu destacamento, Infandre. Chegou notícia cerca do meio-dia de ter havido uma emboscada entre Braia e Infandre, foi logo gente em auxílio. 17 feridos, 10 mortos, entre eles o Zé Mamede. O alter ego de Mac pergunta-lhe se o Zé Mamede deve ser homenageado enquanto heróis, resposta do Mac: 

“O Zé Mamede não é herói. É uma vítima, mortal, inocente, de estratégias alheias e inconsistentes das ideologias reinantes. O Zé é uma vítima de ambições de grandeza desproporcionadas, ultrapassadas e nefastas. O Zé é uma vítima da ambição errónea e condenável de outros. Da opção do orgulhosamente sós”.

Mais adiante, sentencia: 

“Jamais psicólogo algum ou alguma psiquiatria salvará do trauma a quem matou mesmo para sobreviver”.

O alter ego de Mac tem acesso à sua correspondência: 

“A solidão é a minha companheira. Oh esperança, não me abandones! Fica comigo. Agora. Alimenta e alenta a minha vida em frágil equilíbrio sobre o gume das armas. Agora.”

Escreveu poesia. Em jeito de rememoração, dá-nos a saber que fazia parte da estratégia de Spínola formar companhias de caçadores nativos de elite, Mac integrou uma força operacional, atuou nas matas cerradas. Deu trabalho, mas ao fim daquele tempo todo, foram metidos num avião, regresso a Lisboa. Ficamos a saber que entre a tropa metropolitana e os soldados africanos houvera solidariedade devido à luta vital conjunta que se travava. E descreve demoradamente as peripécias do regresso. Confessa ao seu alter ego: 

“Não tenho estátua, mas tenho um louvor e uma insígnia. Não me perguntes como nem porquê. Nem sei bem responder. O que posso garantir é que, decerto, não foi pela minha valentia ou por qualquer ato de heroísmo. Acredito que possa ter sido por me voluntariar a instaurar uma escola regimental para os soldados africanos aprenderem a ler. E isso bastou-me para obter benefícios propinários, deu-me direito a isenção de propinas extensível aos filhos. Cumpri deveres porque me sujeitei a eles. Também não abdiquei daquele direito. Contudo, preferia não os ter tido”.

Despede-se do leitor, desta vez sem azedumes nem ressentimentos:

“A guerra tira, mas também dá. Enobreceu em nós o espírito de entreajuda e o sentido da amizade. Continuamos unidos pela amizade construída sobre a solidariedade vivida nas matas do Oio, do Olossato, do Morés, do Changalana, do Locher. Eu sei que, ainda hoje, essa união se mantém na trajetória de muitos ex-combatentes. Eu sei porque tenho observado muitos dos seus almoços-convívios. Paro, sempre extasiado pelos abraços emotivos que vejo”.

Vista parcial do destacamento de Cutia. Foto: César Dias, com a devida vénia
Localização do destacamento de Cutia

Crachá da CCAÇ 15

Estandarte do CCAÇ 15
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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23341: Notas de leitura (1454): “La fin de l’empire colonial portugais, Témoignages sur un dénouement tardif et tourmenté”, por Éric e Jeanne Makédonsky; L’Harmattan, 2018 (2) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21444: Efemérides (338): Para que não se esqueça o fatídico dia 12 de Outubro de 1970 - Emboscada do Infandre que vitimou 10 dos nossos camaradas (Jorge Picado, ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 2589)


Gravura retirada do Poste 2162, trabalho exaustivo sobre a emboscada de Infandre de autoria do nosso camarada Afonso Sousa.[2]


1. Mensagem do nosso camarada Jorge Picado (ex-Cap Mil do CAOP 1,
Teixeira Pinto, e CMDT da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa e da CART 2732, Mansabá, 1970/72) com data de 11 de Outubro de 2020, recordando a emboscada do Infandre, ocorrida há precisamente 50 anos, no fatídico dia 12 de Outubro de 1970, que vitimou mortalmente 10 militares das NT:

Amigo e camarada Carlos Vinhal
Como estamos em 11 de Outubro, pedia-te mais um trabalhinho na nossa Tabanca.



PARA QUE NÃO SE ESQUEÇA

Completa-se amanhã meio século duma triste efeméride passada na Guiné. A para mim maldita emboscada efectuada ao pessoal de Infandre, quando pouco depois do meio-dia regressavam à base após saída de Mansoa e Passagem por Braia.
Acontece que por casualidade também será segunda-feira e quando estou escrevendo este email, domingo, a esta hora, naquela data, estaria aguardando a coluna que me transportaria de regresso a Mansoa a partir do cruzamento de Infandre, ou a passar pelo fatídico local, quiçá já em Mansoa.

Gostaria que colocasses uma pequena lembrança no Blogue, como homenagem aos bravos que perderam, aí, as suas vidas e que continuam presentes, as suas lembranças, para quem ainda está neste mundo.

Abraços
JPIcado


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2. Nota do editor:

Transcreve-se parte do poste P7115 de 12 de Outubro de 2010[1] onde o Jorge Picado, CMDT da CCAÇ 2589, relata exaustivamente o desenrolar da terrível emboscada:

RECORDANDO. 

HOMENAGEM AOS CAMARADAS MORTOS NA EMBOSCADA DO INFANDRE

Foi há quarenta anos. Segunda-feira, 12 de Outubro de 1970, entre o meio dia e as 13 horas, ou mais exactamente talvez perto do meio dia e meia hora.

A coluna tinha saído de Mansoa, no seu regresso ao Destacamento de Infandre, pouco depois das 12 horas e nas messes do Batalhão, o pessoal iniciara pouco depois a refeição do almoço, quando se ouviram as primeiras explosões, quais lúgubres sinais agoirentos de que algo estava a correr mal com “a Nossa Gente”. 
 

Esquema da emboscada à coluna de Infandre em 12 de Outubro de 1970, enviado pelo nosso camarada Jorge Picado (Poste 2807)

Pois se o barulho era de tão perto... só podia relacionar-se com a coluna saída há tão pouco do Quartel, pois, àquela hora do dia, não era provável que fosse ataque ao Destacamento de Braia, o mais próximo, para os sons serem tão audíveis.

A corrida para as Transmissões, assim o confirmou.

Nem a rápida saída do pessoal de Braia, a poucos quilómetros do funesto local, mas apanhado igualmente com os talheres na mão, e por onde tinham acabado de passar poucos minutos antes, evitou a destruição que encontraram. Mas minoraram, pelo menos o que podia ter sido uma maior hecatombe.

Este triste acontecimento provocou-me grande trauma psicológico de imediato, deixando-me bastante afectado e marcou-me por muito tempo.

Passados 40 anos sobre esta data, quero aqui recordar nesta Tabanca Grande e prestar sentida homenagem, àqueles que então nos deixaram para sempre.

Furriel Mil Op Esp NM 15398468, Dinis César de Castro, da CCaç 2589/BCaç 2885
1.º Cabo NM 17762169, José da Cruz Mamede, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589
1.º Cabo NM 82062566, Joaquim Baná, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589
Soldado NM 19055368, Duarte Ribeiro Gualdino, da CCaç 2589/BCaç 2885
Soldado NM 18901168, Joaquim João da Silva, da CCaç 2589/BCaç 2885
Soldado NM 06975968, Joaquim Manuel da Silva, da CCaç 2589/BCaç 2885
Soldado NM 82047266, Betiqueta Cumba, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589
Soldado NM 82067668, Gilberto Mamadú Baldé, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589
Soldado NM 82023966, Idrissa Seidi, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589
Soldado NM 82040866, Tangatná Mundi, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589

Devo acrescentar a esta lista, dos que morreram nesse dia, o nome do Soldado NM 82066965, Serifo Djaló, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589, que tendo sido um dos feridos que foram evacuados no dia seguinte, 13OUT70, para o HM 241 de Bissau, veio a falecer em 17OUT70, segundo informações fornecidas por pessoal da CCaç 2589, num dos últimos encontros em que estive presente.

Quanto aos feridos, evacuados em 13OUT70 para o HM 241 de Bissau, da HU apenas se pode extrair a lista dos pertencentes ao Pel Caç Nat 58/CCaç 2589 e que foram, além do que atrás indico como tendo depois falecido:

2.º Sargento Mil NM 05040966, Augusto Ali Jaló
1.º Cabo NM 82038960, Jamba Seidi
Soldado NM 82043366, Jorge Cantibar
Soldado NM 82065965, Malam Dabó
Soldado NM 82094468, Samba Canté

Tendo em consideração que na HU, sobre este acontecimento, a notícia é muito resumida, mas refere 9 feridos graves, dos quais um é Furriel (?), e 8 feridos ligeiros, sem outras referências, verifica-se que a lista dos feridos evacuados só menciona os 6 (dos quais um morreu posteriormente) para o HM de Bissau.

Não quero acreditar que os outros 3 feridos graves tenham ficado em Mansoa e por isso, fica-me no entanto uma dúvida que ainda não consegui esclarecer, pelo menos quanto ao 1.º Cabo NM 14992669, José Fernandes Pereira, da CCaç 2589/BCaç 2885, que foi evacuado em 02DEZ70 para a Metrópole por ferimentos em combate, se não teria sido um dos feridos nesta emboscada, uma vez que depois dela não há registo de ter havido, até esta data de Dezembro, qualquer ocorrência de combate com baixas.

Jorge Picado
Ex-Cap Mil Art
CCaç 2589, CART 2732, CAOP 1
11 de Outubro de 2010
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Notas do editor:

[1] - Vd poste de 12 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7115: Efemérides (53): Recordando os camaradas mortos na emboscada do Infandre no dia 12 de Outubro de 1970 (Jorge Picado)

[2] - Vd poste de 7 de outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2162: O fatídico dia 12 de Outubro de 1970 - Emboscada no itinerário Braia/Infandre (Afonso M. F. Sousa)

Último poste da série de 6 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21425: Efemérides (337): O 4 de Outubro, dia do meu mentor espiritual, Francisco de Assis (1181-1226)... É uma ocasião também para lembrar os 7 capelães do Exército, no CTIG, que eram da Ordem dos Frades Menores (João Crisóstomo, Nova Iorque)

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13996: Em busca de... (251): António Lopes Pereira, ex-1.º Cabo Atirador do 4.º Pelotão/CCAÇ 3305/BCAÇ 3832 (Mansoa, Infandre e Braia, 1970/73), procura camaradas

1. Mensagem do nosso camarada António Lopes Pereira, ex-1.º Cabo Atirador da CCAÇ 3305/BCAÇ 3832 (Mansoa, Braia e Infandre (1970/73), com data de 30 de Novembro de 2014:

Uma óptima noite desde já. 
Camarada,
Pela primeira vez me identifico como ex-1.ª Cabo António Lopes Pereira do 4.º Pelotão da CCAÇ 3305/ BCAÇ 3832, e estive na zona de Mansoa, primeiro em Infandre, depois em Braia e novamente Mansoa.

Moro em Matosinhos e procuro os meus camaradas.

Foi com profunda tristeza que soube do falecimento do meu maior amigo, o ex-Furriel França Soares.
Foi o meu furriel e andámos sempre juntos do primeiro dia ao último dia. 

Espero que me consiga ajudar na minha procura ou apenas numas palavras com as quais possa ter alguma identificação. 

Aguardo uma resposta sua e agradeço lhe desde já a sua atenção.

Antonio Lopes Pereira

Quartel de Mansoa
Com a devida vénia a BCAÇ 2885

************

2. Comentário do editor

Caro camarada Lopes Pereira, muito obrigado pelo contacto.
Aqui fica o teu pedido para encontrares camaradas da tua Companhia.
Não sei se reparaste mas temos na nossa tertúlia o teu camarada Germano Santos, ex-1.º Cabo Operador Cripto da CCAÇ 3305. Mando-te o seu contacto por outra via.

Na nossa terra (Matosinhos) realiza-se anualmente, no primeira sábado do mês de Março, o almoço dos ex-combatentes da Guiné. Temos inscrito um camarada de Santa Cruz do Bispo com o nome de António Lopes Pereira Gomes. Se não fores tu, ficas desde já a saber da nossa iniciativa.

Voltando ao Blogue, o nosso Editor Luís Graça disse-me para te convidar para aderires formalmente à nossa tertúlia.
Se quiseres então fazer parte desta família de ex-combatentes da Guiné, basta uma mensagem tua a confirmar a tua adesão, e se quiseres, o envio de uma pequena história passada contigo, seja em Mansoa, Infandre ou Braia, acompanhada de fotos que tenhas.

Deixo-te um abraço em nome dos editores e da tertúlia, com o votos de Boas Festas com saúde e alegria.

Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 21 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13778: Em busca de... (250): Camaradas do Esquadrão de Reconhecimento 2350 (Bafatá, 1966/68), com vista ao próximo Convívio de 2014 (António Bastos)

segunda-feira, 18 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11271: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (22): A guerra no setor de Mansoa, ao tempo do BCAÇ 4612/72, entre fevereiro e junho de 1973


1. O António Graça de Abreu  esteve em Mansoa, no CAOP1, entre inícios de fevereiro de 1973 e meados de junho de 1973… Foi lá fazer os seus 26 anos. [Foi "apanhado na rede" no 3º ano da Faculdade de Letras, daí a diferença de idade em relação à média etária dos milicianos...].   Em Mansoa conheceu a guerra por perto, mas ainda não teve o seu batismo de fogo, que só chegaria aos 17 meses, em Cufar, no sul, na região de Tombali.

No seu Diário da Guiné (Lisboa: Editora Guerra e Paz, 2007),  o  António Graça de Abreu dá-nos conta do recrudescimento da atividade operacional do PAIGC, no setor de Mansoa,  com  (i)  ataques ao destacamento de Cussaná, nas imediações de Mansoa; mas também às guarnições de (ii) Braia, Infandre, Jugudul e Bissá;  assim como  (iii) emboscadas na estrada Mansoa-Mansabá-Farim e ainda (iv) emboscadas e flagelações na estrada Jugudul-Bambadinca (em construção)… 

O nosso camarada esteve lá, em Mansoa,  no tempo do BCAÇ 4612/72,do Jorge Canhão e do Agostinho Gaspar. Em finais de junho de 1973, o CAOP1 é transferido para Cufar. A 38ª CCmds [, do Amílcar Memdes,] estava nessa altura afeta ao CAOP 1, tendo vindo de Teixeira Pinto para Mansoa, com o António Graça de Abreu e o pequeno staff do CAOP1, que era comando pelo cor pára Durão.   Eis aqui a descrição, no seu diário, de escaramuças entre o PAIGC e as NT, no setor de Mansoa, de que resultarão diversos mortos e feridos.


[Foto à direita: O alf mil António Graça de Abreu,   CAOP 1, junto ao obus 14, Mansoa, 1973. Foto: António Graça de Abreu ]



(...) Mansoa, 3 de Fevereiro de 1973 

As minhas mãos doem, estão inchadas. Tanto trabalho! A cabeça está boa, a laborar em pleno na aprendizagem das novas coisas da guerra.

Carregámos vinte e quatro Berliets com os materiais do CAOP 1 e da 38ª. de Comandos. Tanta tralha, dos armários e secretárias aos dossiers, aos cunhetes de balas! Foi empacotar, levar para as viaturas, chegar aqui, descarregar tudo, conferir o destino de cada peça, instalar.

O Tomé, que também teve de transferir o material das Transmissões – rádios, antenas, sei lá que mais! – dorme sossegado a um metro de mim. Temos um quarto minúsculo, o Cravinho safou-se da mudança, está de férias em Portugal. Quando regressar, vai abrir a boca até à nuca ao saber que tem Mansoa à sua espera.

A viagem correu bem. Saímos de Teixeira Pinto às sete e meia da manhã. Viemos com dois pelotões da 38ª. de Comandos - cerca de sessenta homens, - que nos deram segurança durante o percurso. Vim sentado num Unimog, a meio da coluna, de camuflado, a espingarda entre os joelhos, com bala na câmara. Só entre o Pelundo, Có e Bula era possível uma emboscada. Mas tudo sossegado.

Atravessámos o rio Mansoa de jangada, num lugar chamado João Landim e depois, já não muito longe de Bissau, em Safim, cortámos para a estrada até Mansoa. Três quilómetros antes de Mansoa fica uma aldeia chamada Jugudul onde os guerrilheiros, há dez dias atrás, destruíram cem tabancas acabadas de construir pela NT, destinadas a realojar população. A povoação está num estado miserável, toda a gente fugiu. Isto aconteceu por causa da estrada em construção que começa exactamente no Jugudul, vai até Porto Gole e irá terminar em Bambadinca, uns sessenta quilómetros a leste. As estradas novas, alcatroadas dão sempre problemas, os guerrilheiros tentam obstar à sua construção.

Mansoa é diferente, mais pequena, pobrezinha e feia do que Teixeira Pinto. O quartel também é mais fraco. Tive uma surpresa, vivem cá cinco ou seis mulheres de oficiais e dez de sargentos. Connosco, na coluna trouxemos a mulher do capitão Pancada e a esposa com os dois filhos, quatro e dois anos de idade, do capitão da 38ª. de Comandos. (...)
            

[Foto à esquerda: O alf mil António Graça de Abreu  CAOP 1, em Teixeira Pinto, setembro de 1972. Foto de António Graça de Abreu]


Mansoa, 9 de Março de 1973

O general Spínola encontra-se aqui próximo, em Jugudul a três quilómetros de Mansoa. Esta manhã há cerimónia de imposição de insígnias a novos milícias africanos. Jugudul precisa de ser defendida. A 10 e 23 de Janeiro deste ano, os guerrilheiros foram lá e quase arrasaram a povoação, queimaram tabancas, entraram nas casas dos que mais colaboravam connosco e limparam-nos. Ainda estávamos em Canchungo e esta terá sido uma das razões que motivou a nossa transferência para Mansoa, com carácter de urgência.

Os ataques de Janeiro foram muito bem planeados. Mansoa tem o grosso da tropa, antes de nós chegarmos e trazermos a 38ª. de Comandos já eram cerca de 400 homens, depois à nossa volta encontram-se 70 militares em Jugudul, 40 em Braia, outros tantos em Infandre, na estrada para Bissorã. Pois nos dois ataques de Janeiro, os guerrilheiros atacaram simultaneamente Mansoa, Braia e o Jugudul, com uma finalidade simples, fixar a tropa de Mansoa dentro do quartel enquanto, com sucesso, concentravam meios sobre Braia e o Jugudul. 

Nesta última povoação visitada hoje pelo Spínola, queimaram mais de cem casas das cento e cinquenta existentes, e provocaram uma dezena de mortos entre a população. Nos nossos aquartelamentos, o costume, nem mortos nem feridos, só estragos materiais. Os homens do PAIGC não são capazes de tomar um aquartelamento português, mesmo pequeno e relativamente isolado como Braia ou o Jugudul. Atacam e fogem.

Esta zona aqueceu muito por causa da construção da estrada alcatroada que ligará a Bambadinca e a Bafatá, a segunda cidade da Guiné. Os guerrilheiros tentam impedir a construção de estradas e intimidar as populações que estão com as NT. A segurança nos trabalhos da estrada é levada a cabo por grupos de combate do Batalhão 4612, estacionado em Mansoa, e este nosso pessoal anda naturalmente nervoso, preocupado. (...)




Foto s/ nº > Constantino Veira da Rocha, sold cond auto, da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72




Foto s/ nº > Constantino Veira da Rocha com outro camarada


Foto s/nº > "O troféu" [presume.-se que este grupo seja de  militares da 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72]


Foto s/ nº > "A tempestade" [ Instalações militares de Mansoa, depois de um temporal]


Foto s/ nº > "Guerrilheiro morto" (1)


Foto s/ nº > "Guerrilheiro morto" (2)

Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74) > Fotos do álbum do Jorge Canhão, ex-fur mil, da 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72 (Mansoa e Gadamael, 1972/74)-


Fotos (e legendas): © Jorge Canhão (2011). Todos os direitos reservados

Mansoa, 12 de Março de 1973


Bissá, um pequeno aquartelamento doze quilómetros a sul de Mansoa, foi atacado sábado passado às nove e meia da noite, estava eu a beber um café na esplanada do Simões, o restaurante. Foi um ataque a sério que se prolongou por quarenta e cinco minutos, apesar da distância ouviam-se os disparos e rebentamentos com muita nitidez. Os dois obuses de Mansoa ajudaram ao barulho e dispararam cinquenta e sete granadas de canhão sobre as zonas prováveis de retirada do IN. Só hoje soube os números.

Resultado, o IN destruiu e queimou oitenta e sete tabancas, houve três mortos entre a população, muitos feridos e gente intoxicada. As NT de Bissá não sofreram nada, além do desgaste psicológico que uma flagelação tão dura como esta costuma provocar.

Mantive-me tranquilo, mas se em vez de Bissá a ser atacada tivesse sido Mansoa diria, por certo, adeus à pacatez e à calma. Estar dentro de um quartel cercado de arame farpado e experimentar as sensações fortes de ouvir os foguetões, as granadas de morteiro e canhão sem recuo a vir em nossa direcção ou a cair não muito longe de nós, faz com que os rebentamentos comecem a ficar cá dentro. Agora entendo melhor porque é que, depois do regresso a Portugal, um ex-combatente ouve um foguete rebentar na romaria da aldeia e corre, tremebundo, a esconder-se no primeiro buraco que lhe aparece. (...)


Mansoa, 19 de Março de 1973


Foi a vez de Infandre “embrulhar”, um aquartelamento com quarenta militares e cerca de mil habitantes, dez quilómetros a norte daqui. Levaram com foguetões, canhão sem recuo, RPGs, morteiros, armas automáticas, foram atacados com um enorme potencial de fogo. No destacamento, não houve feridos, apenas os usuais estragos materiais. A pobre da população é que pagou as favas. Em Infandre, como em muitos outros lugares da Guiné, os negros tanto fazem o nosso jogo como apoiam o PAIGC. Mas a população é sempre infeliz. Nas flagelações à distância, os guerrilheiros não acertam na tropa portuguesa e acabam por provocar mortos e feridos nos habitantes negros que tantas vezes até não lhes são adversos. É a guerra impiedosa, cruel. (...)

Mansoa, 13 de Maio de 1973


Esta manhã, dia 13 de Maio, na hora da missa e do adeus à Virgem de Fátima, tivemos uma surpresa. Todas as noites estamos à espera do tal ataque das tropas do PAIGC e ele não vem. Agora, em pleno dia, com todo o descaramento, resolveram chatear. Canhão sem recuo e morteiro 82 contra Cussaná, a 800 metros do centro do nosso quartel. Daqui reagiu-se com as armas do costume, obuses e morteiros. Eu, muito calmo entre a tropa, a ver a movimentação dos soldados, a nossa capacidade de resposta numa flagelação deste tipo. O ping-pong não teve consequências, nem eles acertaram, nem nós. Escrevo quase a brincar, hoje tudo isto foi inofensivo, não passou de barulho.

A vida sexual das NT. Dizem-me que aqui em Mansoa há uma puta negra que a troco de comida, ou algum dinheiro, abastece todo o Batalhão. (...)


[Foto à direita: O alf mil António Graça de Abreu  CAOP 1, de G3 e máquina fotográfica, na estrada Mansoa-Porto Gole, 1973. Foto de António Graça de Abreu]


Mansoa, 21 de Maio de 1973 


Eu não quero, mas só oiço guerra, vejo guerra, sinto guerra. Hoje foi pior -  já não sei bem o que é pior! -  do que os três comandos mortos pela explosão dos dilagramas, em Teixeira Pinto. Atacaram, emboscaram a coluna de Mansabá para Mansoa, aqui abaixo de Cutia. Ainda há menos de duas semanas lá passei quando acompanhei os nossos condutores e os dois grupos da 38ª de Comandos na viagem sem regresso para o David Viegas. Todos os dias a tropa se desloca para cima e para baixo, armada, evidentemente, mas quase à vontade. 

Esta tarde, às três horas foram emboscados, a dezassete quilómetros de Mansoa. Nos primeiros disparos houve logo quatro mortos, um furriel e três soldados da companhia de Mansabá que está a um mês de regressar a Portugal. A tropa daqui foi dar uma ajuda. Quando lá chegaram, os guerrilheiros tinham retirado após incendiarem um Unimog e quase destruírem um camião Berliet. Os feridos foram chegando a Mansoa, os hélis não os vão buscar ao mato, mas voam até aqui. De Mansoa a Bissau é zona pacificada pelas NT. Vieram dois hélis e três DOs.

É difícil imaginar o que é a chegada das viaturas carregadas de mortos e feridos, os intestinos saídos para fora das barrigas, os tóraxes atravessados por balas, braços cortados, estilhaços e sangue por todo o lado. Os companheiros de armas não conseguiam suster as lágrimas. Colocaram-se os rapazes destroçados em macas, prestaram-se os primeiros socorros possíveis, os frascos de soro, as ligaduras de ocasião manchadas de sangue. Dez soldados, todos brancos, alguns em estado gravíssimo, foram evacuados para Bissau. Estive no transporte dos homens da enfermaria para a pista, para o heliporto. Sujei as mãos, a farda de sangue. Nunca tinha sentido a boca tão seca e, na garganta, uma espécie de coágulo de poeira e sangue.

A vida continua para os que continuam vivos. (...)

Mansoa, 11 de Junho de 1973

Dois pelotões da 38ª. de Comandos foram dar uma ajuda à tropa do batalhão que fazia a segurança nos trabalhos da estrada Jugudul-Bambadinca e foi flagelada. Houve contacto com o IN e os Comandos, que não sofreram feridos, fizeram quatro mortos. Para o CAOP, trouxeram as armas dos guerrilheiros, três Kalashnikovs e uma Simonov de fabrico russo e chinês. Eu escrevi:


Quatro armas frias,
puras do húmus da terra,
de sangue ainda fresco,
num pano de lona verde.

Uma a uma,
tomei nas mãos as Kalashs,
culatra atrás, bala na câmara,
patilha de segurança.

As armas dos homens que tombaram,
outra vez caídas,
silenciosas, mortas. 
 O canto doloroso da razão. (...)

_______________

Nota do editor:

25 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11000: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (21): A morte de Amílcar Cabral e a mudança do CAOP1 para Mansoa

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9470: Blogues da nossa blogosfera (49): CCAÇ 4641 (Mansoa e Ilondé, 1973/74) do nosso camarada José Fialho, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAÇ 4641/72







1. É o blogue da CCAÇ 4641 (Mansoa e Ilondé, 1973/74), criado e editado pelo 1º cabo radiotelegrafista  José Fialho, um alentejano dos quatros costados que vive em Portimão. Como ele diz o seu perfil, no Blogger, "sou daqueles, que enquanto não me entalar, vou colocando por estes espaços sem teias nem peias aquilo que sou". O blogue foi criado em 2007, tem cerca de 3 dezenas de postes...

Desta companhia só temos um representante na nossa Tabanca Grande: o Vitor Caseiro, recém-chegado.  Mas eles ainda apanharam lá, em Mansoa, o nosso camarigo Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, CCAÇ 15... Do dia 6 de março de 2010,  há um poste em, que se conta uma história que mete ao barulho o nosso Mexia Alves. Vale a pena reproduzi-la aqui, com a devida vénia:


1. Mexia Alves, por José Fialho > Sábado, 6 de Março de 2010

Mexia Alves... Hoje ao vaguear pela grande estrada da informação, na tentativa de ouvir uns faduchos, dei de caras com este vídeo que me trouxe de imediato à memória a nossa passagem por Mansoa, Guiné.

Mexia Alves, pelas mais variadas razões, era do tipo de indivíduo que não passava despercebido. Um belo dia, do alto do seu elevado porte, patente (alferes) e vozeirão…tentou identificar um grupo que fora de horas cantava alentejano, perguntando quem era o mais graduado.

Como pensávamos que fosse para apanharmos uma porrada, éramos todos soldados rasos…como é óbvio, não conseguiu identificar ninguém. Fazendo parte do tal grupo, passados uns dias dou de caras com o Alferes Mexias e, como não gosto de trazer coisas mal resolvidas, pergunto:
- Alferes, afinal o que queria do grupo??? - Responde ele:
- O nosso Alferes [ou tenente]  médico faz anos e gostava que vocês fossem à festa para animarmos aquilo…- Resposta pronta:
 - Fazem parte do grupo, eu (o Fialho) , o Raposo, e... [outros que agora já não me recordo].

Combinámos, no dia marcado lá estávamos e o resto é fácil de adivinhar: muita comida, bebida às carradas até que o nosso amigo Raposo já estava cheio até aos olhos e necessitava de mijar. A cantina onde tudo se passou, era a cantina que ficava em frente do escritório da nossa Companhia. Como habitual, existiam valas para o caso de ataque nos protegermos, essas valas eram circundadas por garrafas de cerveja com o gargalo enterrado.

Conto este pormenor para se perceber o que quero contar a seguir. O Raposo estava tão bêbado que, não conseguindo passar a vala, sentou-se e começou a mijar sentado, mas a magana era tal que caiu para o lado e bateu com a cabeça de lado numa das garrafas que por azar estava partido.

Como é obvio, uma ferida enorme, os médicos e enfermeiros em plena festa - bêbados??? Hummm …não acredito -, tinham de tratar do desgraçado. Resumindo, o Raposo foi cozido, ficou com uma cicatriz tipo, bola de futebol das antigas, ao Fialho calhou-lhe segurar na caixa das compressas e, passado o susto tudo ficou bem, apesar do Raposo dar pinotes ao ser cozido a frio.

A haver culpados… só podiam ser um, o Mexia Alves, porque se não nos desassossega o nosso amigo Raposo, já falecido, não tinha mijado sentado e tão pouco tinha caído para o lado. Mexia Alves, obrigado por nos teres desassossegado, porque sem ti não tinha esta história para contar 36 anos depois. Se passares por aqui e te recordares de alguma coisa, deixa aqui o teu testemunho.


2. Segue-se um comentário, àquele poste,  do J. Mexia Alves, com data de 9 de março de 2010:

Meu caro Fialho:  Obrigado por esta tua mensagem. Confesso que tenho uma vaga ideia desta história mas que não sei se foi provocada pela leitura ou por realmente me lembrar. Não tenho dúvidas que seria uma atitude minha! Disso não tenho dúvidas! O médico não era um individuo "gordo", que era julgo eu de Guimarães, talvez Ferreira, e tinha uma pequena Honda? Se era esse, era realmente um indivíduo excepcional com quem eu me dava muito bem. Lembro-me por exemplo que o Alferes Mendes que estava comigo na CCaç 15, tocava clarinete. Essa cantina seria a da CCaç 15?

Confesso que o meu período de Mansoa é aquele que mais dificuldade tenho de recordar, muito provavelmente porque, estando em fim de comissão, a minha cabeça já estava "aos caídos", depois de uma temporada de quase 9 meses no destacamento de Mato Cão.

Quando vires que há o almoço do blogue do Luís Graça e, se puderes, inscreve-te, (sou eu que organizo), e assim podemos lembrar-nos de todo esse período.Virei visitar o teu blogue de quando em vez.Abraço amigo do Joaquim Mexia Alves.

3. Comentário do José Fialho > 9 de Março de 2010 09:23

Caro Mexia Alves, nada melhor que um Domingo à tarde meio chuvoso para recordar as nossas peripécias em Mansoa. Escreveste tu que: “Confesso que tenho uma vaga ideia desta história mas que não sei se foi provocada pela leitura ou por realmente me lembrar.” E eu,  se escrevi o que escrevi, foi porque um belo dia a deambular pelo meu Alentejo profundo na descoberta de azeite, azeite daquele de lagar, fiz tudo bem feito menos ter levado vasilhame apropriado para transportar o azeite, isto antes da existência da ASAE, agora em vez de azeite tens óleo de beterraba, por aí… mas voltando ao azeite, indicaram-me uma lojeca ao cimo da rua, isto em Beringel, onde vendiam os garrafões que necessitava.

Entro na loja, meio despassarado como sempre e… e de imediatos caí nos braços do nosso amigo Raposo, o tal da bebedeira medonha que,  mesmo a mijar sentado,  caiu para o lado e deu origem à historia contada [acima]. Ele fez o favor de me contar o que se lembrava e eu fui-lhe recordando,  já que ele, bêbado como é obvio, não se lembrava do pormenor. Dai, a história ter alguma veracidade…

A cantina não sei se era a da CCaç 15, era uma cantina que ficava entre duas casernas e em frente aos escritórios da CCaç 4641, a minha companhia. O nome Mendes como a mota Honda diz-me alguma coisa, mas também não sei se o Médico era este. Sabes que mais??? Ser velho é uma merda, eheheheh. Mexia, um grande abraço e vai escrevendo alguma coisa. Ao Raposo, onde quer que esteja,  um GRANDE bem HAJA.

4. O Zé Fialho (que  ainda não é nosso tabanqueiro, mas fica desde já convidado), está a seguir, além do nosso blogue,  um outro blogue da CCAÇ 4641, editado pelos camaradas J. Magalhães, L. Almeida e  A. Fernandes, a quem saudamos.

É um blogue sobretudo para arquivo e divulgação de fotos. Tomamos a liberdade de reproduzir duas,  de Infandre:


________________

Nota do editor:

Último poste da série > 20 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9242: Blogues da nossa blogosfera (48): O sítio do Ministério da Defesa Nacional: Encerramento, pela ADFA, da evocação dos 50 anos do início da guerra colonial...

sábado, 11 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7419: (Ex)citações (119): O destino marca a hora? (Jorge Picado, ex-Cap Mil, 1970/72)

1. Comentário de Jorge Picado ao Poste P7401 [, O Jorge, foto à esquerda,  foi Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72):


 Camarigo Luís Graça:


Referes uma situação em que a "tua montada", e não sei quantas antes, passou e a seguinte "voou", dizendo que tinha sido sorte, a tua.


Ora, quantos de nós tivemos sorte, uma vez..., n vezes, enquanto outros nem uma vez a tiveram?


Foi por essas situações de "sorte", do "acaso" ou seja lá de outra coisa, que às tantas, lá na Guiné, me comecei a interrogar e a "filosofar" comigo. Será isto o destino? Será que o destino está mesmo traçado? Será que ao nascer a nossa vida já está de facto pré-definida? Podem crer que a partir de algumas situações que ocorreram comigo e que me levaram a esses questionamentos interiores, passei a acreditar nesse determinismo.


Quanto às vias de comunicação, a que chamas "estrada", sempre que escrevo algo sobre as paragens que pisei, uso "itinerário", com excepção dos percursos, Bissau-Mansabá e Bissau-Teixeira Pinto-Bachile, onde uso "estrada", uma vez que eram asfaltadas e dignas desse vocábulo. Todas as outras por onde circulei, não passavam de "picadas".


Os abastecimentos, a logística em geral, das NT movimentavam e ocupavam de facto muitos efectivos. Mesmo no Sector de Mansoa, quando lá estive, isso era uma realidade.


Por Mansoa passavam, várias vezes por mês, colunas de abastecimentos para Bissorã e Olossato, em que o pessoal da CCaç 2589,  destacado em Braia e no Infandre,  tinha de assegurar a limpeza do itinerário até ao alto de Namedão, bem como a segurança com emboscadas nos pontos "mais vulneráveis". 


Quanto às colunas para Mansabá, não havia necessidade de picar a estrada, mas montar a segurança, pelo pessoal destacado em Cutia, quase no limite da zona, visto haver um cruzamento com um dos carreiros IN Sara/Canjambari-Morés.


Abraços
Jorge Picado


PS - Quando me refiro ao pessoal da CCaç 2589 (Mansoa, Braia, Infandre e Cutia), quero indicar todo aquele que dependia desse comando e não apenas o da subunidade orgânica.

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Nota de L. G.:

Último poste da série > 10 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7415: (Ex)citações (118): A propósito do vídeo da ORTF sobre a Op Ostra Amarga: "As imagens que vi, foram uma espécie de murro no estômago e cimentaram a admiração que nutro por todos aqueles que sentiram o silêncio bem no meio do capim" (Miguel Sentieiro)