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segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27483: Notas de leitura (1870): "Os Descobrimentos no Imaginário Juvenil (1850-1950)"; edição da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses; 2000 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Março de 2025:

Queridos amigos,
Prosseguimos na leitura de Descobrimentos no Imaginário Juvenil (1850-1950), a exaltação do passado colonial com os seus heróis-modelo vão integrar a literatura infanto-juvenil, nomeadamente no fim da monarquia constitucional, a I República e as primeiras duas décadas do Estado Novo. Os heróis dos Descobrimentos enfileiram com outros, tais como Viriato, Egas Moniz, Nuno Álvares Pereira. Impor-se-ão vários nomes, tais como Ana de Castro Osório e Virgínia de Castro Almeida, mas será Mariazinha em África o bestseller desta literatura nos anos 1939 e 1940. Estuda-se aqui a imagem do outro, a ação missionária, obviamente que da monarquia ao Estado Novo há nuances no tratamento do outro, pode aparecer como inferior, aberto ou indisponível à civilização, fala-se no bom selvagem; o Estado Novo irá desenvolver o exotismo, os perigos e a fantasia, será o caso da saga da travessia africana de Capelo e Ivens; e há o sistema de valores, o enaltecimento de Nuno Álvares ou do Infante D. Fernando, não será na escola mas fundamentalmente na imprensa que se irá privilegiar o esforço na criação de infraestruturas, desenvolvimento material, serviços de saúde, etc. Deixaremos para o terceiro e último apontamento o modo como os Descobrimentos serão abordados por associações e organizações da juventude, caso da Mocidade Portuguesa.

Um abraço do
Mário



Não fomos combater na Guiné pela integridade de Portugal de Minho a Timor?
(Uma abordagem dos valores educativos entre o liberalismo e o Estado Novo) – 2

Mário Beja Santos

Falando por mim, e seguindo integralmente o que se escreve na obra de ensaio Os Descobrimentos no Imaginário Juvenil (1850-1950), por Maria Cândida Proença e outros, edição da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2000, éramos educados nos bancos da escola de que o Infante D. Henrique fora o impulsionador dessa ação patriótica engrandecedora que tornou Portugal imperial – e manda o rigor que se diga que não foi obra exclusiva do Estado Novo, a monarquia constitucional também fez soar esta trombeta.

O que mudou ao longo deste século (entenda-se 1850-1950) é a visão que se pretendeu dar do Infante. “Para os autores oitocentistas o Infante era fundamentalmente um homem de ciência dotado de profundos conhecimentos para a época que teriam sido causa do progresso que pode incrementar nos Descobrimentos marítimos.” Homem sábio, até versado nas matemáticas e conhecedor das artes de navegar. “Os avanços da ciência e a divulgação do positivismo eram favoráveis à apresentação de um herói humanizado longe da visão hagiográfica que mais tarde vinha impor-se.”

Tudo muda no final do século, Fortunato de Almeida introduz uma nova perspetiva, ao atribuir-lhe o plano de encontrar um caminho alternativo para a Índia e até a vocação apostólica de dilatar a fé cristã. Atribui-lhe igualmente um plano em que convergiriam três empresas gigantescas, a conquista territorial em Marrocos, a descoberta do caminho marítimo para a Índia e o descobrimento das ilhas do Atlântico.


Como observa a autora, a mitificação do Infante foi ao ponto de se procurar apresentar as suas ações menos exaltantes como movidas pelo imperativo superior da fé e do espírito de cruzada. Era uma constante dos manuais que o Infante era muito mais movido pela fé do que por motivos comerciais, e exigia-se em termos de Ministério da Educação que se escrevesse à frente do nome do Infante que era mestre da Ordem Militar de Cristo. Foi assim que D. Henrique passou do herói essencialmente laico do positivismo oitocentista para o santo mitificado pelo Estado Novo, passou a ser um exemplo de virtudes a seguir pela mocidade do nosso país.

Igualmente se desmonta a fábula que houve uma Escola de Sagres, que o Infante teria mandado erigir um observatório astronómico em Sagres, Mattoso, célebre autor de compêndios de História, dirá que o Infante estabeleceu uma escola de cosmografia náutica. Toda esta incorreção histórica teve momentos de delírio, como escreveu o Padre Marcelino da Conceição dizendo que a Escola de Sagres era a universidade náutica onde portugueses e estrangeiros aprenderam a navegar cientificamente, os Descobrimentos tinham sido feito com método e com certeza científica. Um dos responsáveis por este disparate foi Oliveira Martins. Não há uma só prova documental de alguma Escola de Sagres.

Outras incorreções aqui apresentadas pela autora prendem-se com o descobrimento e colonização do Brasil, procura-se deixar ciente de que já se conhecia a rota antes de 1500; também há mitificação quanto ao Império do Oriente, veja-se o caso de D. João de Castro, herói mítico da Índia nos compêndios:
“O relato dos cercos de Diu e dos atos de valentia que então se teriam praticado sempre estiveram integrados no conjunto das façanhas que preenchiam a memória oficial transmitida nas nossas escolas. É interessante verificar, porém, que no relato do segundo cerco o episódio das entregas das barbas pelo vice-rei como penhor do empréstimo pedido, apenas surge nos compêndios dos anos 30. Mais uma vez, pela sobrevalorização de um pequeno pormenor, a História era posta ao serviço da transmissão no conjunto de valores que o regime pretendia impor. O Império do Oriente era, nos livros escolares, o símbolo por excelência da grandeza de Portugal, mas, a partir da década de 80 do século XIX, passou a ser também a causa primordial da decadência da raça e do Reino. Neste ponto os manuais acompanham as teses então vigentes sobre a decadência da Pátria. A riqueza, o luxo, o dinheiro fácil, trouxeram consigo a indolência e a corrupção que teriam estado na origem da decadência do Império, acelerada a partir de finais do século XVI.”


Também se procura desmontar a teoria obtusa da nossa ação evangelizadora no Brasil, procurou-se exaltar a imaginação dos homens com a grande aventura dos bandeirantes. E mesmo sobre as campanhas de África e a ocupação do território não se poupou um elogio a Portugal como o melhor povo colonizador, e a prova que o colonizado estava permanentemente agradecido ao colonizador era aquele régulo timorense que se tinha deixado fuzilar para não abjurar Portugal. Em jeito de conclusão, a autora enfatiza a evolução do discurso nos manuais escolares, as tais três etapas em que se ia encaminhando a gesta dos Descobrimentos nos livros escolares falando no maior desenvolvimento científico, durante a monarquia constitucional até chegarmos aos grandes heróis do Estado Novo, como caso de D. Henrique ou de Afonso de Albuquerque que eram sábios, escritores e cientistas.

Feita esta exposição à escola e aos Descobrimentos, Luís Vidigal vai aludir à expansão contada às crianças, dá-nos a génese e desenvolvimento de uma literatura infantojuvenil em Portugal, refere os seus nomes e foca-se em duas autoras: Virgínia de Castro e Almeida e Ana de Castro Osório, como elas irão apresentar este passado grandioso que acabava por ser fonte inspiradora para o presente, os portugueses daqueles tempos, que descobriram e conquistaram o mundo destacavam-se pela valentia e a confiança em Deus. Grandes reis marcaram o sentido da História, no fundo era o moralismo com que pretendia apresentar-se o Estado Novo, como escreveu Virgínia Castro e Almeida: “A maior fortuna de quem obedece está na amizade e na confiança de quem manda. Mandar e obedecer são ofícios iguais aos olhos de Deus. Quem manda mal vale menos que quem obedece bem.”

Temos depois a imagem dos outros, a conceção de que o selvagem, o preguiçoso encontra a sua redenção no trabalho, a ação missionária jogava em vários tabuleiros: a escola, o serviço de saúde, a aprendizagem da religião, mas também aqui houve francos desenvolvimentos. Por exemplo, na I República apostava-se na laicidade, com o Estado Novo marca-se outro conceito de civilização que é a de associar o primitivo à violência e à barbárie, ou seja, houve um humanismo republicano que se pautava por uma grande tolerância e passa-se agora para um ideal de civilização em que as escolas do Império são instadas a apresentar os grandes modelos da sociedade portuguesa. Veremos no próximo apontamento qual o papel da História de Portugal e dos Descobrimentos na ideologia e na conduta das associações e organizações da juventude, neste período de 1850 a 1950.
A mitologia da escola de Sagres
Imagem integrada em Portugal Colonial, nºs 7-8, 1931
Mocidade Portuguesa na Guiné, imagem da RTP Arquivos

(continua)
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Notas do editor:

Post anterior de 24 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27460: Notas de leitura (1867): "Os Descobrimentos no Imaginário Juvenil (1850-1950)"; edição da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses; 2000 (1) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 30 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27478: Notas de leitura (1869): "A Mais Breve História do Ultramar", de David Moreira (Porto, Ideias de Ler, 2025) (Virgílio Teixeira, Vila do Conde)

sábado, 29 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27475: As nossas geografias emocionais (60): Cape of Good Hope / Cabo da Boa Esperança, South Africa / África do Sul (António Graça de Abreu, Portugal)



Foto nº 1A e 1 > "Cape of Good Hope, the most south- western point of the 
African Continent" / O Cabo da Boa Esperança, o ponto mais a sudoeste do Continente Africano...
.
É aqui que  o Oceano Atlântico e o Oceano Índico se encontram. Hoje é um ponto turístico, conhecido pela sua beleza natural e por ser um ponto geográfico famoso na história
da navegação e da expansão marítima dos Portugueses.. Bartolomeu Dias foi  o primeiro europeu a dobrá-lo, chamou-lhe  "Cabo das Tormentas" devido às tempestades e por ser o reino do Mostrengo... 

Foi oi rebatizado por D. João II como "Cabo da Boa Esperança", pelo facto de abrir uma nova rota rota comercial  para o Oriente, destronando assim o Mediterrâneo. Mais do que  rota comercial, uma ponte para unir os povos, a humanidade.

 


Foto nº 2  > África do Sul > Cabo da Boa Esperança : Outubro de 2025 > Muito para além do fim do horizonte, a Índia, a China, os orientes extremos, pedaços imensos de um outro, o mesmo mundo.



Foto nº 3 > África do Sul > Cabo da Boa Esperança > A nau de 
Bartolomeu Dias (c. 1450-1500), na segunda viagem com Pedro Álvares Cabral em 1500, a caminho da Índia, aqui se perdeu e nunca mais ninguém soube do seu destino, dele e da má sorte dos seus homens.


Foto nº 4 > África do Sul > Outubro de 2025 > 
 A caminho do Cabo das Tormentas ou da Boa Esperança


Foto nº 5 > África do Sul > Vista de Gordon Bay,  
Krystal Beach Hotel, a 60 quilómetros da cidade do Cabo (Foto nº 5).


Fotos ( e legendas"):  © António Graça de Abreu (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





1. Mais um "postal" enviado, com data de 30/10/205, 01:33, pelo nosso incansável, (e)terno viajante António Graça de Abreu (já nem ele sabe quantas voltas deu ao mundo, sozinho, ou com a sua adorável Han Yan, médica, mãe de dois dos seus filhos). O casal vive em Cascais.

Náo é preciso recordar que o António foi alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto / Canchungo, Mansoa e Cufar, junho de 1972/abril de 1974; é sinólogo, escritor, poeta, tradutor; tem c. de 380 referências no blogue.



Cabo da Boa Esperança, África do Sul, outubro de 2025

por António Graça de Abreu


— "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!

Luís de Camões, Os Lusíadas, Canto IV, 94


Três dias bem instalado, com dormida e comidinha estranha no Krystal Beach Hotel, de Gordon Bay, a 60 quilómetros da cidade do Cabo (Foto nº 5).

Tempo para descansar e avançar por chilreantes caminhadas nesta vilazinha e arredores encaixados numa baía maior que dá pelo simpático nome de False Bay, mas onde nada é falso, tudo é mais do que verdadeiro.

O tempo está frio, Inverno austral, 18 graus, a praia do Bikini aqui ao lado não convida para grandes banhos e dizem-me que há tubarões por perto, o olho do peixe bem aberto para a carne e pele, branca ou negra, do mergulhador distraído. Avisado, fui apenas molhar os pés.

Depois, o adeus a Gordon Bay. Quase um dia inteiro, açambarcando uma centena de quilómetros em funcional carrinha alugada, subindo e descendo por montes, pelo espairecer da terra no beijo do mar, por praias e enseadas no quase extremo meridional de África (Foto nº 4).

A Baía Falsa não é o meu chão, mas será lugar para adivinhar maravilhas e deixar cair o olhar no ondular do encanto.

Alcandorar-me em falésias que mergulham no mar, quase voar sobre o rasgar da pedra e o azul intenso do Oceano, na costa recortada a caminho do Cabo das Tormentas ou da Boa Esperança. Ao chegar, imaginar os pendões silenciosos da História, as efemérides, o testemunho de uma época em que as bravas e loucas gentes lusitanas saíam do nosso humilde chão e se vinham perder, ou encontrar, ou morrer afogadas nestes mares austrais do fim do mundo.

Adivinhei Bartolomeu Dias (cuja nau, na segunda viagem com Pedro Álvares Cabral em 1500, a caminho da Índia, aqui se perdeu e nunca mais ninguém soube do seu destino, dele e da má sorte dos seus homens),Vasco da Gama,

 Luís de Camões e mais uns tantos cinquenta, cem mil portugueses da era de quinhentos dilacerando este mar nas suas casquinhas de noz, descobrindo meio mundo, naufragando no sonho e na aventura, em convulsões trágico-marítimas. Sobrevivendo, era a heroicidade e o pranto, sulcar as águas infindáveis do mar, navegar na insensatez, no desvario, na cobiça e no sonho dos sinuosos caminhos dos homens. Cabo das Tormentas, Cabo da Boa Esperança (Fotos nºs 1, 2 e 3).

Hoje, nestes dias do fim da Primavera a sul, a Boa Esperança, o Oceano Atlântico avassaladoramente calmo, as pequenas enseadas pedregosas na carícia requintadamente azul, a crista das ondas faiscantes debruada a branco.

O Cabo da Boa Esperança. A leste, o mar calmo e limpo. Muito para além do fim do horizonte, a Índia, a China, os orientes extremos, pedaços imensos de um outro, o mesmo mundo.
 
Recordo o encontro do homem do leme, na nau de Bartolomeu Dias em 1488, enfrentando o Adamastor, dono e senhor de naufrágios e tempestades, no poema de Fernando Pessoa, para a memória futura. O poeta assim escrevia:

O MOSTRENGO

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tetos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»

«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»

Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo;
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»

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segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27460: Notas de leitura (1866): "Os Descobrimentos no Imaginário Juvenil (1850-1950)"; edição da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses; 2000 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Março de 2025:

Queridos amigos,
A então Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses convidou três estudiosos a fazer uma apreciação do quadro ideológico entre os inícios da Regeneração e o último ano do Estado Novo em que passámos de ter um império colonial e passámos a ter um Ultramar. O trauma da independência do Brasil acompanhado dos gravíssimos conflitos para a implantação do liberalismo levaram só num período de acalmia que foi o da Regeneração a que tenha sido criado um novo contexto ideológico em torno do passado marítimo dos portugueses; no campo educativo, tomaram-se medidas para a formação da juventude. Para além da educação formal, impõe-se observar a não formal, é o caso da Cruzada Nacional D. Nuno Álvares Pereira ou da Mocidade Portuguesa, e de uma catadupa de eventos com caráter imperial, caso do tricentenário da morte de Camões, o quinto centenário do nascimento do Infante D. Henrique, o quarto centenário do descobrimento da caminho marítimo para a Índia, a Primeira Exposição Colonial Portuguesa, a Exposição do Mundo Português, etc., etc. Estamos a falar de um livro incrivelmente esquecido.

Um abraço do
Mário



Não fomos combater na Guiné pela integridade de Portugal de Minho a Timor?
(Uma abordagem dos valores educativos entre o liberalismo e o Estado Novo) – 1


Mário Beja Santos

Parece-me útil, ao iniciar a apreciação dos ensaios com o título "Os Descobrimentos no Imaginário Juvenil (1850-1950)", edição da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2000, trazer à consideração do leitor este parágrafo de mestre Paulo Pinto publicado pela Associação Portuguesa de História, na Circular Informação n.º 93, com o título “2015, Descobrimentos e Memória”:
“A época vulgarmente chamada ‘dos Descobrimentos’ (grosso modo, os séculos XV e XVI) é uma espécie de baú sagrado, de relicário da memória onde o etos nacional compila e guarda sigilosamente um rosário de grandezas de um tempo marcado por feitos de armas, bravura e espírito aventureiro e que permanece incrustada no imaginário coletivo como uma espécie de ‘Idade do Ouro’ de Portugal. A evocação de figuras e datas dessa época excede a dimensão de outros momentos-chave (como a fundação da nacionalidade, os momentos de recuperação de crise ou de ameaça à independência nacional) no sentido em que envolve a relação pioneira que Portugal estabeleceu com outras partes do mundo, outros povos e culturas; não apenas a relação em si própria, mas também no impacto global que teve no contexto da História Universal.”

Os autores desta obra, que vamos analisar, pretendem apreciar o quadro ideológico em que num século se fomentou um discurso pedagógico não só na escola bem como na literatura e associações juvenis, sendo de incluir o contexto familiar e a difusão dada pelos meios de comunicação social aos feitos e heróis dos Descobrimentos. Não obstante, a ideologia imperial tem antecedentes, alguns deles bem marcantes. Mas foi a partir da década de 1850 que se deu a organização do sistema de ensino e emergiram constantemente, obsidiantemente, os ideais da exaltação das virtudes da raça através do enaltecimento dos seus heróis e de regeneração da Pátria através do Império. É esta a viagem em que nos vamos envolver.

O título do ensaio de Maria Cândida Proença é a escola e os Descobrimentos, e cita Eduardo Lourenço recordando-nos que nenhum povo pode viver sem uma imagem ideal de si próprio; a ideia de Pátria indissoluvelmente ligada ao mito da posse do império ultramarino ganhou profundas raízes entre o século XIX e o século XX. A estruturação do sistema educativo foi determinante. A historiadora disserta sobre a evolução do ensino primário, a preponderância do analfabetismo e da iliteracia, como a nossa alfabetização foi tardia e no fundo aparece associada ao período da Regeneração; dá-nos uma apreciação também do que se pretendeu fazer na I República, logo a partir da reforma de 1911, a natureza dos programas escolares, caracterizadamente os de História, Português e Geografia.

Desde o início da segunda metade do século XIX que assistimos a uma gradual melhoria dos manuais, dando realce às conquistas em Marrocos, à figura do Infante D. Henrique, às navegações e descobertas ultramarinas, a Índia e o Brasil, por exemplo. Só na reforma de Jaime Moniz (1894/95) é que a disciplina de História passou a ter um lugar de destaque, lecionada em todos os anos do ensino secundário. Ao tempo, continuava a privilegiar-se uma história factual e eurocêntrica em que os Descobrimentos portugueses mereciam destaque no conjunto da história europeia, as figuras com maior relevo eram o Infante D. Henrique, Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral. Fala-se muito no papel civilizador, mas há referências específicas ao comércio e ao papel das especiarias e do ouro. Nessa reforma de Jaime Moniz procurou-se estabelecer uma visão interdisciplinar da História com a Geografia e a Língua e Literatura Portuguesa. Poder-se-á dizer que o nacionalismo republicano não postulava o isolacionismo e chauvinismo que irão ser mais tarde defendidos pela ditadura.

É com a chegada a chegada da Ditadura Nacional, e a partir das reformas de Gustavo Cordeiro Ramos que se vão lançar as bases de uma nova escola em que o ensino assenta numa inculcação de valores e endoutrinamento propagandístico. O leque de heróis alarga-se, o mártir Infante D. Fernando ou D. João de Castro e o célebre episódio do cerco de Diu passam a heróis no primeiro plano. A verdade científica era bastante duvidosa, como no caso da mítica Escola de Sagres. É com Carneiro Pacheco que se dá a primeira e importante reforma do ensino com o regime de Salazar e chega às escolas a missão providencial da nação portuguesa no quadro da história mundial. Com as sucessivas reformas, ganham importância outras abordagens, estudam-se trechos de Fernão Lopes, aparecem as narrativas de viagens, as aventuras do século XVI, a história trágico-marítima; e os Lusíadas é a epopeia que assegura a consagração de que os portugueses se tinham tornado um povo criador de novos povos.

Mas tem interesse voltar a Gustavo Cordeiro Ramos e citar a autora: “a obrigatoriedade de inserir nos livros de leitura adotados oficialmente um conjunto de 113 frases de autores nacionais e estrangeiros que contribuíssem para inculcar nos alunos um corpo de valores subordinados a princípios como a obediência, respeito e amor ao chefe incontestado, amor à pátria e defesa intransigente da unidade da família como célula primária do corporativismo. As 113 frases deveriam ser distribuídas pelos compêndios da 4.ª classe do ensino elementar, das cinco primeiras classes dos liceus, para a 6.ª e 7.ª classes da secção de Letras e para as escolas do ensino técnico e profissional. Tratava-se de frases que enalteciam o patriotismo, a obediência e os valores morais. Entre os autores nacionais encontravam-se Salazar, Sidónio Pais, Alfredo Pimenta, António Sardinha, Camões, Gil Vicente, António Correia de Oliveira e, entre os estrangeiros, Mussolini, Comte, Goethe, Bossuet.”

Em 1936 aparece o livro único, as tendências nacionalistas e apologéticas do regime vão encontrar o seu expoente máximo nos compêndios escolares de António Mattoso. Está montado o cenário para que Pátria e Império sejam a mesma coisa. Vitorino Magalhães Godinho dirá mais tarde:
“Império! Mas não houve um império português. É um dos maiores erros do nosso tempo o esquecermo-nos de que, desde o século XV, atravessamos sucessivas fases de expansão e, por outro lado, de descolonização. Descolonizámos, a meio do século XVI, em Marrocos, no Norte de África. Descolonizámos, nos anos de 1570 e 1680, no Extremo Oriente, em Java e nas outras ilhas da Insulíndia, onde tínhamos estabelecido um império poderoso, com base marítima. Descolonizámos, quando o Brasil conquistou a sua independência e, também aí, tanto se discutiu se a unidade na formação teria ou não uma solução melhor do que a simples independência e rutura. Portanto, um império, mas curiosamente, através da História, são poucos os portugueses que vão para esse império. Algumas centenas ao acabar do século XIX, são 500 a 600 que daqui partem para o Ultramar, ao passo que para o Brasil vão, por ano nessa altura, cerca de 30 mil.”

A equação Pátria e Império envolve o espírito de cruzada e a missionação, há uma declarada omissão de objetivos económicos ou estratégicos, a conquista de Ceuta é apresentada como fazendo parte de um movimento ibérico da reconquista cristã, António Mattoso dirá que os Descobrimentos portugueses eram uma obra de apostolado cristão. “Se, posteriormente, surgiram motivos económicos e políticos, estes traduzem apenas a necessidade de os fazer manter e progredir. O que distingue o império português de quantos o procederam é isto: - Ele não é senão, na sua essência, um instrumento de evangelização do mundo.” Daí o papel fundamental que se vai atribuir ao Infante D. Henrique, ele passa a ser a figura mítica da história da expansão.

Vamos ver seguidamente como a historiografia e a propaganda política irão tratar o Infante de Sagres, a mítica Escola de Sagres. Concluída esta viagem proporcionada por Maria Cândida Proença vamos ver como se processou a expansão contada às crianças.

D. Afonso Henriques na Batalha de Ourique, conjunto azulejar de Jorge Colaço na então Escola Primária de Rodrigues de Faria, em Forjães. O mito do milagre de Ourique, que teria conduzido a uma grandiosa vitória de D. Afonso Henriques sobre cinco exércitos mouros era um dos mais divulgados na historiografia escolar. Através dele, desde muito cedo, se interiorizava nos jovens alunos o caráter da eleição do povo português, protegido por Cristo desde a fundação da nacionalidade

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 21 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27449: Notas de leitura (1865): Uma publicação guineense de consulta obrigatória: O Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné (1) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 4 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26552: Tabanca dos Emiratos (16): Visita nas férias de Natal ao antigo Ceilão, a Taprobana de "Os Lusíadas", hoje Sri Lanka (Jorge Araújo) - Parte IV

Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo, 1972/1974)



TABANCA DOS EMIRATOS

Visita nas férias de Natal ao antigo Ceilão,
a Taprobana de “Os Lusíadas”, hoje Sri Lanka

Região Centro/Sul do território do Sri Lanka onde, no interior do círculo ponteado a amarelo, se situam algumas das atracções turísticas da cidade de Ella.
Mapa do distrito de Badulla onde pertence a cidade de Ella


► Continuação do P26453 (III) (3.2.2025)

1. – INTRODUÇÃO

Com o presente texto, o penúltimo sobre este tema, damos continuidade à prometida fotorreportagem da visita ao Sri Lanka (antigo Ceilão) realizada na segunda quinzena de Dezembro último, cujo território fora conquistado e ocupado pelos portugueses durante século e meio (1505-1651), feito militar atribuído ao capitão-mor Lourenço de Almeida (Martim, c. 1480 - Chuil, Índia. 1508). Esta Parte IV volta a ter por cenário a região de ELLA, que em cingalês significa “queda de água”, cidade incluída no distrito de Badulla e na província de UVA (ver mapa acima). Situa-se a 1.041 metros de altitude, a 54 km a leste de Nuwara Eliya, a 135 km a sudeste de Kandy e a 200 km a leste da capital, Colombo (distâncias por estrada).

A cidade encontra-se numa região montanhosa com grande biodiversidade, com numerosas variedades de flora e fauna, estando coberta de florestas nubladas e plantações de chá. Devido à altitude, o clima é mais fresco do que as planícies próximas, que se avistam de Ella Gap.


2. – ATRACÇÕES TURÍSTICAS

ELLA, como referido anteriormente, é uma das cidades com maior oferta turística do interior do Sri Lanka. De entre as diferentes atracções, como foi o caso das “quedas de água de Ravana“, abordada no poste anterior (P26453), apresentamos agora algumas das imagens relacionadas com a “Ponte dos Nove Arcos” ou “Ponte dos Nove Céus” e o Caminho de Ferro a ela associado.


֎► A PONTE DOS NOVE ARCOS

♦ A “Ahas namaye palama” (“Ponte dos Nove Céus”) em cingalês, é uma ponte construída em Gotuwela, localidade situada no Distrito de Badulla, entre duas estações ferroviárias – Ella e Demodara – projecto executado durante o período designado por Ceilão britânico (British Ceylon), então uma colónia do Império da coroa britânica, mantida entre 1802 e 1948, sendo a maior do Sri Lanka, cuja bandeira e brasão dessa época se reproduzem acima.

Localizada a quase 3.100 pés (940 metros) acima do nível do mar, esta ponte de 99,6 pés (30 metros) de altura é chamada de “Ahas namaye palama”.

Esta designação simbólica significa que quando alguém passa por baixo dela e olha para cima, observa uma vista de “nove céus” através dos nove arcos, daí o nome cingalês. Esta ponte também é chamada de “A Ponte no céu” devido à sua altura.

▪ Descrição: – Esta ponte maciça foi construída inteiramente de pedras sólidas, tijolos e cimento sem usar uma única peça de aço. A ponte foi finalmente comissionada em 1921. A Ponte Demodara tornou-se num local icónico para turistas dos cinco continentes, bem como das populações do Sri Lanka, sendo uma das estruturas mais fotografadas.

Há um relato popular sobre a construção desta ponte, e que conta: - Quando as obras de construção começaram na ponte, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) irrompeu e a remessa de aço designada para este local foi apreendida e usada para projectos relacionados com a guerra. Quando a obra parou, os moradores locais apresentaram-se e construíram a ponte com tijolos de pedra sólida e cimento, sem aço.

▪ Antecedentes históricos: – Uma história um tanto desconhecida foi publicada no jornal Mawbima sobre a origem desta ponte. De acordo com esse artigo, a construção desta ponte foi dada a uma pessoa chamada PK Appuhami que vivia em Keppitipola, em Maliyadda.

De acordo com um dos seus netos, que viveu na sua casa, o avô, PK Appuhami, nasceu em 1870 e foi um baterista popular e um dançarino espantoso. Um dia, ele perdeu uma competição de percussão para outro baterista durante um evento de dança de Ritos de Thovil e voltou para casa com a tradicional fantasia de diabo.

Naquela época, a ferrovia estava a ser construída como parte da interesseira expansão da colónia britânica para as terras altas do, então, Ceilão britânico, com o objectivo de transportar chá e café das plantações para Colombo, e depois para o exterior.

Entretanto, o britânico que o vira actuar durante o evento de dança ficou admirado ao reconhecê-lo perto da Estação Ferroviária Ohiya, a 67.ª estação da linha principal (que se estende entre Colombo e Badulla, esta inaugurada em 5 de Abril de 1924, ou seja, trinta e um anos mais tarde), sendo a terceira estação ferroviária mais alta do Sri Lanka, localizada a 1.774 m acima do nível do mar e inaugurada em 1893.

Foto 1 - Estação de Ohiya inaugurada em 1893.

Depois, um relacionamento bem-sucedido entre os britânicos e PK Appuhami ajudou no sentido da construção da ferrovia naquela região fornecendo a mão-de-obra aos responsáveis pela continuação do projecto.

Quando a construção chegou a um vale entre duas colinas, os engenheiros britânicos ficaram preocupados devido a um atoleiro no fundo desse vale. Ancorar com segurança as colunas de uma ponte ao solo era o (um) problema. PK Appuhami, nessa altura, havia garantido a confiança aos engenheiros e pediu-lhes para lhe entregar, a si, a construção dessa enorme ponte. Depois de, no início, ver rejeitada a sua proposta, os engenheiros finalmente concordaram em entregar essa tarefa gigantesca a Appuhami.

O cingalês começou a trabalhar por volta de 1913, onde os seus homens começaram por derrubar grandes pedras nessa abertura até que elas preenchessem o fundo e então ele construiu as colunas de tijolos nesse leito de pedra. O trabalho ficou concluído em cerca de um ano e o custo da construção foi tão baixo que os britânicos não tinham certeza da integridade estrutural da ponte.

PK Appuhami garantiu que se deitaria sob a ponte na primeira viagem de comboio através dela e, reza a história, que ele cumpriu a promessa quando a linha ferroviária foi inaugurada.

Com base na tradição da região, consta-se que os ingleses procederam ao pagamento do soldo, carregando ele quatro carroças cheias de moedas de prata de Colombo, e que depois decidiu oferecer refeições aos moradores de Parabedda e Puranwela durante dois dias, além de dar a cada um deles uma moeda de prata.


3. – FOTOGALERIA

As fotos que se seguem sevem para enquadrar o texto acima.
Foto 2 – Ponte dos Nove Arcos
Foto 3 – Ponte dos Nove Arcos
Foto 4 – Comboio repleto de passageiros com uma carruagem sem cobertura
Foto 5 – O mundo é pequeno… encontro de uma família de portugueses conhecidos.
Foto 6 – À aproximação do comboio todos querem ficar com uma recordação.
Foto 7 – A passagem do comboio para mais uma recordação.
Foto 8 – O comboio em direcção da ponte
Foto 9 – Imagem à procura de uma legenda.
Foto 10 – Depois do comboio… circulam os visitantes.
Foto 11 – Escadaria de acesso à linha férrea, com dezenas de degraus.
Foto 12 – E a caminhada continua até à Ponte dos Nove Arcos.

Continua…

Obrigado pela atenção.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita Saúde.
Jorge Araújo
24FEV2025

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Nota do editor

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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26453: Tabanca dos Emiratos (15): Visita nas férias de Natal ao antigo Ceilão, a Taprobana de "Os Lusíadas", hoje Sri Lanka (Jorge Araújo) - Parte III



Foto 1 – Jorge Araújo e Maria João, dois lisboetas na catarata de Ravana.


Foto 2 - Um visitante especial da catarata de Ravana (Um  exemplar da espécie Macaca sinica um macaco do Velho Mundo endémico do Sri Lanka só existe nesta ilha)


Foto 3 – Uma conversa pedagógica com o visitante especial.


Foto 4  – Restaurante “Chill Café Wellawaya Road”, em Ella.


Foto 5 – Esplanada do Restaurante “Ella Gap”.


Foto 6 – Geografia e arquitectura de Ella (exemplo)


Foto 7 – Trânsito numa rua de Ella.


Foto 8 – Catarata de Ravana


Foto 9 – Catarata de Ravana


Foto 10 – Catarata de Ravana


Foto 11 – Catarata de Ravana


Foto 12 – Visitantes da catarata de Ravana


Foto 13 – Visitantes ao redor das bancas na catarata de Ravana


Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Mapa do Sri Lanka: a cidade de Ella (assinalada a vermelho

Fonte: USA > CIA > The World Factbook (com  a devida vénia...)





Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); nosso coeditor, a viver há uns anos entre Almada e Abu Dhabi, Emiratos Árabes Unidos. É um dos nossos coeditores. Como autor, tem mais de 335 referências no nosso blogue. Tem várias séries: "Tabanca dos Emiratos", "Memórias cruzadas...", "(D)o outro lado combate"...

 

Visita nas férias de Natal ao antigo Ceilão, a Taprobana de "Os Lusíadas", hoje Sri Lanka
 (Jorge Araújo) - Parte III




Infografia dos Descobrimentos, Viagens e Explorações portuguesas: datas e primeiros
 locais de chegada de 1415-1543, principais rotas no Oceano Índico (azul), territórios
portugueses no reinado de D. João III (verde) – (fonte: Wikipédia, com a devida vénia).

 


Continuação (*)  da publicação de uma fotorreportagem sobre o antigo Ceilão, hoje Sri Lanka (independente desde 1948, do domínio britânico), feita durante as últimas férias de Natal pelos nossos amigos Jorge Araújo e Maria João (que vivem em Abu Dhabi, EAU).(*)


1. – INTRODUÇÃO

Como dei conta na Parte I (P26349) *), deslocámo-nos na segunda quinzena de dezembro último ao Sri Lanka (antigo Ceilão), aproveitando essa viagem para entender melhor a atual realidade sociocultural do país, conquistado e ocupado pelos portugueses durante século e meio (1505-1651), e cuja conquista é atribuída ao capitão-mor Lourenço de Almeida (Martim, c. 1480 - Chuil, Índia. 1508).

Durante o itinerário previamente definido, que teve o seu início em Colombo, a capital, foi possível recuperar algumas memórias do tempo da Escola Primária sobre a temática dos “Descobrimentos Portugueses” e, em simultâneo, captar algumas imagens para, depois, as partilhar na nossa “Tabanca”, a que o camarada Luís chamou de “fotorreportagem”.

Assim sendo, esta Parte III tem como cenário a região de Ella, que em cingalês significa “queda de água”,  w cuja cidade pertence ao distrito de Badulla e à província de UVA (ver mapa). Situa-se a 1.041 metros de altitude, a 54 km a leste de Nuwara Eliya, a 135 km a sudeste de Kandy e a 200 km a leste de Colombo (distâncias por estrada).

A cidade encontra-se numa região montanhosa com grande biodiversidade, com numerosas variedades de flora e fauna, estando coberta de florestas nubladas e plantações de chá. Devido à altitude, o clima é mais fresco do que as planícies próximas, que se avistam de Ella Gap.

2. – ATRACÇÕES TURÍSTICAS

Ella é uma das cidades com maior oferta turística do interior do Sri Lanka. De entre as diferentes atracções apresentamos algumas das imagens relacionadas com os espaços envolventes ao local onde ficámos instalados e das “Quedas de água de Ravana”.

► CATARATA DE RAVANA

A «Ravana Falls» é um dos lugares mais belos da cidade de Ella e uma das maiores quedas de água do Sri Lanka. Fica a cerca de meia hora da estrada principal de Ella e é uma paragem popular e obrigatória para turistas e comunidades locais do Sri Lanka.

Por estar localizada à beira da estrada, é uma das mais facilmente acessíveis. A catarata recebeu esse nome em homenagem ao Rei Demónio Ravana, que, segundo a lenda, sequestrou uma princesa e a escondeu nas cavernas atrás da catarata. Esta  queda de água pode ficar extremamente poderosa durante a estação das chuvas, pelo que é aconselhado ter cuidado para a circulação apeada, evitando caminhar sobre as pedras escorregadias.

A «Ravana Falls» é, pois, uma atracção turística popular na província de Uva, no Sri Lanka. Atualmente é classificada como uma das maiores quedas de água do país.

Descrição: - Esta catarata mede aproximadamente 25 m de altura e cai de um afloramento rochoso côncavo oval. Durante a estação chuvosa local, a catarata transforma-se no que se diz assemelhar-se a uma flor de areca com pétalas murchas.

Mas este não é o caso na estação seca, onde o fluxo de água reduz drasticamente. As quedas fazem parte do “Santuário de Vida Selvagem Ravana Ella” e estãolocalizadas a 6 km de distância da estação ferroviária local.

Lenda: - As quedas de água foram nomeadas em homenagem ao lendário rei Ravana, que está ligado ao famoso épico indiano, o Ramayana. Segundo a lenda, é dito que Ravana (que era o rei de Lanka na época) sequestrou a princesa Sita e a escondeu nas cavernas atrás desta catarata, agora simplesmente conhecida como «Caverna Ravana Ella». 

Diz-se que o motivo do sequestro foi a vingança exata por Rama (marido de Sita) e seu irmão Laxmana terem cortado o nariz de sua irmã. Na época, a caverna era cercada por densas florestas no meio do deserto. Acredita-se também que a rainha de Rama se banhava numa piscina que acumulava a água que caía desta catarata. Eles acreditavam que o rei Ravana tocou o Ravanahatha aqui.



O Ravanahatha


► RAVANAHATHA


O «Ravanahatha» é um instrumento musical antigo e tradicional da Índia e do Sri Lanka. É um instrumento de corda friccionada, o que significa que o som é produzido ao passar um arco sobre as cordas, conforme imagem abaixo. A caixa de ressonância é feita de cabaça, meio coco ou madeira, e é revestida com pele de cabra ou outro material semelhante. O instrumento tem braço de madeira ou bambu e geralmente possui uma ou mais cordas. O arco, de tamanho variável, é feito com pelos de crina de cavalo, que friccionam as cordas produzindo o som.

O «Ravanahatha» é um instrumento importante na música tradicional da Índia e do Sri Lanka, sendo usado em várias formas de música folclórica e clássica. ORavanahatha é considerado um instrumento sagrado e tem uma longa história na cultura e nas tradições musicais desses países.

3. – FOTOGALERIA

As fotos que seleconei (vd. acima)  servem para enquadrar o texto.

(Revisão / fixação de texto, título,  edição das fotos: LG)

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Nota do editor:

(*) Postes anterores da série 


6 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26351: Tabanca dos Emiratos (14): Visita nas férias de Natal ao antigo Ceilão, a Taprobana de "Os Lusíadas", hoje Sri Lanka (Jorge Araújo) - Parte II