Mostrar mensagens com a etiqueta patacão. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta patacão. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24607: Facebook...ando (34): José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74): primeiro aerograma que escreveu à namorada, em 27/6/1972: fui almoçar num bar perto do Cumeré, paguei 70$00 e fiquei cheio de fome...





1. Postagem de José Claudino da Silva, 29 de agosto de 2023, no Facebook da Tabanca Grande Luís Graça  
 [é autor da série "Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) ", de que se publicaram 
mais de 70 postes (*); é membro da Tabanca Grande desde 18/10/2017); tem mais de meia centena de referências no blogue; foto à direita, o nosso camarada, nascido em Penafiel, em 1950; reside em Amarante; tem livros publicados e página no Facebook ]:

Cheguei á Guiné no dia 26 de junho de 1972, no dia seguinte em Cumeré paguei 70 escudos por uma refeição.

Naquele tempo a mesma custava 8 escudos na metrópole. Está a prova neste aerograma 
[que se reproduz e transcreve acima]. (**)




Primeiro  aerograma enviado pelo José Claudino da Silva, à sua namorada [Maria Amélia Moreira Mendes] depois de chegar à Guiné. 

Trata-se de um excerto. O aerograma não está completo, acaba aqui, deveria ter mais folhas; "Fiquei cheio de fome, e paguei 70$00, as cervejas são a" [...]. 

Vamos pedir ao nosso camarada para disponibilizar a segunda parte. Para além de informação sobre preços que se praticavam em 1972, em Bissau, o aerograma tem outro interesse documental, por nos dar conta das primeiras impressões de um "periquito" chegado à Guiné, "uma terra onde todas as pessoas nos parecem suspeitas, e hostis, e logo por azar nem bebidas há na cantina"... 


Transcrição  [fixação e revisão de texto: LG]

Cumeré, 27/6/72  1ª [folha]

Meli, saudosa e querida: 

Espero desde já dar-te um pouco de alegria com as poucas notícias que vou passar a contar-te, ou tristeza, isso depende de ti.

Devo dizer-te que o resto da viagem decorreu bem, e sinto-me para já óptimo.

No que diz respeito às impressões que me causou a Guiné, devo confessar-te que me sinto maluco, um calor que nem em calção se suporta, uma terra onde todas as pessoas nos parecem suspeitas, e hostis, e logo por azar nem bebidas há na cantina. A água parece que foi aquecida ao lume, e há pouca.  A única satisfação que me resta é que aqui não há guerra, e a vida que levo é boa, só tenho a dizer que isto não interessa a ninguém pelo resto.

Cumeré situa-se a 6 km de Bissau, mas para se chegar lá tem que se percorrer 45, por não haver estradas a direito, e ter um rio muito largo.

Eu vim para Cumeré separado da minha companhia, juntamente com mais 6 condutores, e só daqui a três semanas é que me junto a ela, por isso, embora me escrevas, não receberei correspondência de qualquer espécie, a não ser daqui a essas três semanas. Terei que ter paciência e suportar esse tempo, depois provavelmente recebo tudo junto, não tenho alternativa e resigno-me.

2ª [folha]

Espero que mesmo assim não me deixes de escrever, porque eu farei o mesmo. 

No local onde me encontro é um quartel  de instrução de adaptação ao terreno para condutores, e de I.A.O., e estão aqui mais de 600 homens, entre eles mais de 20 colegas de Penafiel, e conhecidos da recruta, etc., etc. Foi bom assim, [pois não me] sinto só.

A única coisa que me lixa é  a falta de bebidas, e o calor sufocante que aui está é insuportável. Além disso, os mosquitos  não nos deixam dormar, é uma loucura uma pessoa vir para aqui, mas não temos outro remédio, e temos que aguentar, ou melhor ou pior.

Aqui nos subúrbios do quartel há um bar, dirigido por um branco, onde servem refeições. Eu fui lá almoçar, pois aqui a comida não presta. Fiquei cheio de fome, e paguei 70$00, as cervejas são  a [...]


Foto (e legenda): © José Claudino da Silva (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Excerto do poste P18002 (***):

(...) Estou agora a lembrar-me que fui sempre um pouco medricas e mesmo que, ao chegar a Bissau, tivesse sido separado dos meus camaradas da 3ª companhia porquanto eles foram para Bolama e eu fui para Cumeré. O que é certo, por aquilo que escrevi, logo no primeiro dia que pisei solo africano, não tive um receio por aí além. Dizia eu!

“Em Cumeré estamos a tirar o I. A. O. (Creio que a sigla significa: Instrução de Aperfeiçoamento Operacional) Aqui não há guerra mas as pessoas parecem-me todas hostis. Neste quartel estão cerca de 600 homens. O calor é sufocante e não há bebidas frescas, nem grande comida e se eu achava caro uma refeição no Porto custar7$50, já me avisaram que fora do quartel custa 70$00. Vê bem que ladrões. Acho que são brancos que vivem a explorar os 'Periquitos' como nós”. (**)


3. Comentário do editor LG:

Usando o conversor da Pordata, verificamos que 7$50 e 70$00 em 1972 valeriam hoje (2023),  2,00 €  e 18,00 €, respetivamente. 

Ao escudo ("peso") da Guiné (emitido pelo BNU - Banco Nacional Ultramarino), temos que abater 10% (de acordo com a taxa de câmbio que se praticvaa então em Bissau)...Se uma refeição no Porto custava, a preços de hoje, 2,00 €, em 1972, em Bissau, custaria  16, 2 €  (=18 € x 0,90).

Em 1969, uma refeição (bife com ovo a cavalo + cerveja) em Bafatá, no restaurante "Transmontana", custava-me  20 "pesos", o equivalente, hoje, a 6,30 €  (=7 €  x 0,90).

Como se vê, de 1969 para 1972, a inflação (ou a especulação, típica da economia de guerra) deu cabo do patacão dos desgraçados dos combatentes que íam parar com os quatro costados à Guiné!

Uma explicaçáo sobre o converssor da Pordata: 

"Esta ferramenta permite converter para preços do ano corrente qualquer montante monetário do passado, desde 1960, utilizando o deflator anual do Índice de Preços no Consumidor (IPC) "base 2012". Trata-se de transformar valores a preços correntes/nominais em valores a preços constantes/reais, descontando a inflação"
_______________

Notas do editor:

(***) Último poste da série > 23 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24581: Facebook...ando (33): António Alves da Cruz, ex-fur mil, 1.ª CCaç / BCAÇ 4513 (Bolama, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, mar1973 / set 1974); vive em Almada

sexta-feira, 9 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24380: (In)citações (247): Já comíamos ostras em Empada, em junho de 1969: abertas em chapa quente com o lume por baixo e passando depois pelo picante e limão... (José Manuel Samouco, ex-fur mil, CCAÇ 2381, 1968/70)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3

Guiné : Região de Quínara > Empada > Junho de 1969 > CCAÇ 2381, "Os Maiorais" (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70) >  Já então se comiam ostras em Empada, em Buba... Os militares da foto nº 3 estão a extrair as ostras em conglemarados ou cachos agarrados aos "paus" do tarrafe...

Fotos (e legenda): © José Manuel Samouco (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Manuel Samouco [ex-fur mil, CCAÇ 2381, "Os Maiorais" (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada , 1968/70); vive em Torres Vedras; é membro da nossa Tabanca Grande desde 4 de abril de 2006]

Data - 8 jun 2023 16:24 
 
Assunto . Ainda as ostras (*)

Boa tarde,  Luís

Quando se fala de ostras até parece que sou dependente!

Resolvi escrever um pequeno texto, recordando coisas boas da Guiné.

Como é normal só publicam se entenderem, o mesmo com as fotos de Empada.

Um abraço, 
J. M. Samouco


Ainda as Ostras ! Empada, Junho de 1969 (**)

Finalmente os “Maiorais” reunem-se depois de praticamente 12 meses espalhados por onde havia guerra.. Não que em Empada não houvesse guerra. Mas agora com a Companhia reunida,  tinhamos a sensação de estar ainda mais fortes.

Alguém, entretanto regressado falou em ostras e como se devem comer e como as arranjar. Em Bissau são abertas em água quente como se fosse berbigão. e ficavam muito bem. Mas, boas, boas,  são abertas em chapas quentes com o lume por baixo e passando depois pelo picante e limão.

Foi como uma novidade que veio para ficar. Praticamente todas as semanas começaram a chegar em doses tais, que nem entravam na messe dos Sargentos. Numa das fotos que envio até o chefe de posto de Empada  (foto nº 1) veio sentar-se junto de nós.

Em 2015 voltei à Guiné, agora Guiné-Bissau, com camaradas da Tabanca de Matosinhos e até parece que as ostras estavam à minha espera. Foi um matar de saudades das ostras e ver calmamente a Guiné por onde tinhamos andado de G3.

Em 2017 voltei às ostras. Quinhamel esperava por mim.. Que maravilha.. A factura não engana. 4 pessoas :

7 minis, 3 sumos e 4 doses de ostras = 284,000 CFA (0,432 euros)

1 euro = 657,26 Franco CFA (BCEAO) em 14 março de 2017.
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - 24376: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (36): As ostras do nosso (des)contentamento (Hélder Sousa / Luís Graça / José João Domingos / Valdemar Queiroz)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24063: Roncos que davam prémios (em dinheiro)... mas podiam custar a vida: a deteção e levantamento de minas...

Guiné > Região do Cacheu > Chão felupe > 1974 > BART 6522/72 (1972/74) > Deteção e levantamento de minas A/P. António Inverno, (*)

Foto (e legenda):  © António Inverno (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Região do Cacheu > Pel Caç Nat 60 > Estrada São Domingos - Susana > 13 de novembro de 1969 > A primeira mina A/C detetada e levantada: na imagem o alf mil Nelson Gonçalves e o 1º cabo Manuel Seleiro.

Foto (e legenda): © Manuel Seleiro (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

Citação: (1963-1973), "Guerrilheiros do PAIGC colocando uma mina", Fundação Mário Soares / DAC – Documentos Amílcar Cabral, disponível HTTP:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43786 (com a devida vénia)

Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  O rebenta-minas com rodado duplo à frente e sacos de areia na cabine, sem tejadilho... Uma GMC, adaptada, com 12 rodas...

Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

1. As minas (A/C e A/P) e armadilhas (fornilhos, etc.) foram um dos "ossos mais duros de roer" na guerra que tivemos de enfrentar no TO da Guiné... Não sabemos quantas foram montadas, identificadas e levantadas... De um lado e do outro... Impossível haver estatísticas. Mas foram dezenas e dezenas, senão centenas, de milhares, ao longo dos anos, as minas que montámos, de um lado e do outro, para provocar baixas no campo do inimigo e desmoralizá-lo... Uma "arma suja", nesta e noutras guerras...

Pior ainda, não sabemos quantas foram accionadas pelas nossas viaturas, ou pelos nossos pés... Nem o número de mortos, feridos e incapacitados, provocados por estes engenhos mortíferos... Falamos de minas terrestres, mas também as havia aquáticas... 

As minas eram o terror de quem fazia colunas logísticas, de quem tinha que se deslocar por picadas (intransitáveis no tempo das chuvas...), de quem fazia operações no mato e tinha que se aproximar de alvos do inimigo... Era o terror de guias e picadores, dos condutores dos "rebenta-minas" (que seguiam à frente das colunas logísticas)... Mas também da população: muitas tabancas, em autodefesa, bem como destacamentos e aquartelamentos das NT, eram cercadas  por campos de minas... 

Enfim, toda a gente tem histórias de minas e armadilhas, teve camaradas que morreram ou ficaram feridos com o accionamento de minas, A/C ou A/P, mas também conheceu camaradas que foram heróis, sobretudo a leventar minas: sapadores ou graduados (alferes e furriéis) com o curso de minas e armadilhas que se tirava em Tancos, se não erro...

O tema está bem documentado no nosso nosso blogue. Temos cerca de 220 referências sobre minas e armadilhas (**)... 

O que toda a gente também sabe é que as minas também davam... "patacão", desde que fossem identificadas e levantadas, ou só identificadas e destruídas... A partir de 22/9/1967, uma mina anticarro (desde que detectada e levantada/capturada com todos os seus componentes) valia tanto como um canhão s/r, um LGFog (RPG 2 ou 7), morteiro pesado ou médio, ou seja, 2 contos (o que equivaleria, a preços  de hoje,  a 771 euros). A mina ou "fornilho, antipessoal, só valia metade, mil escudos... (Afinal, uma GMC, um Unimog ou uma Berliet sempre valia mais do que um homem.)

_____________

Capitulo IV - Ano de 1964 

Anexo n° 1 - Normas para a atribuição de prémios pela captura de material ao inimigo

(CIRCULAR N° 2219/B DE 25 DE Abril da 2ª- Rep/QG/CTIG)

1. Pela captura ao lN de pistolas, espingardas, pistolas metralhadoras e morteiros serão atribuídos prémios, desde que a sua apreensão se verifique nas seguintes condições:

a. Em acções de combate (sob o fogo do lN);

b. Como consequência directa de acções de combate.

Não é atribuído qualquer prémio ao material dos tipos indicados que seja simplesmente encontrado (inclui-se aquele que tenha sido abandonado pelo lN devido ao funcionamento de armadilhas montadas pelas NT).

2. Serão também atribuídos prémios pela captura de minas ou armadilhas  apess [antipessoal, A/P]  e minas ou fornilhos acar [anticarro, A/C].

A designação "fornilho", além do seu significado clássico, engloba também as cargas explosivas convenientemente preparadas e prontas a serem accionadas.

Terão a designação de fornilho acar [A/C]  ou armadilha apess [A/P] consoante a respectiva quantidade de explosivos e o fim a que se destinam.

A estes materiais serão atribuídos prémios nas seguintes condições:

a. Detectado e capturado com todos os seus componentes;

b. Detectado e destruído.

3. Os prémios a atribuir são os seguintes:










4. A atribuição de prémios individuais é dificil, além de se considerar passível de afectar a disciplina e a eficiência operacional das unidades, pelo que se considera excepcional.

Aos Comandos de Batalhão competirá definir, para cada caso, se o prémio deverá ser atribuído individual ou colectivamente.

5. Os Comandos de Batalhão, para os fins de atribuição de prémios, informam o QG das condições em que se verificou a apreensão de material (1.a. ou 1.b. e 2.a. ou 2.b.).

6. Os Comandos de Batalhão devem enviar ao QG, mensalmente, a relação do material apreendido.

7. Modelos para a relação a que se refere o número anterior.







8. A presente Circular substitui a de referência, n° 1843/B de 02Dez63.


Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da actividade operacional: Tomo II - Guiné - Livro II (1.ª edição, Lisboa, 2014), pp. 288/289.


Capítulo I - Ano de 1967 (...): Directivas do Comandante-Chefe

Directiva para "Atribuição de prémos a militares e CIVIS por apreensão de material de guerra ao inimigo" do Comandante-Chefe de 22 de Setembro (referência ao oficio n° 1042/B, do SGDN, 2.ª Rep, de 31 Mar67). Esta directiva substituiu a distribuída com o n° 1980 em 101200Jul67.

" 1. Com vista a conseguir um procedimento uniforme nas Províncias Ultramarinas da Guiné, Angola e Moçambique quanto aos prémios a atribuir a militares e civis por apreensão de material de guerra ao inimigo, Sua Ex". o Ministro da Defesa Nacional, por seu despacho de 07Mar67, determinou o seguinte:

a - Os prémios devem ser iguais nas diferentes Províncias Ultramarinas e para os três Ramos das Forças Armadas;

b - Os prémios por captura de material inimigo devem ser atribuídos quaisquer que sejam as circunstâncias em que esta se efectue;

c - O montante dos prémios deve ser igual para militares e civis;

d - Deve ser também recompensado quem fornecer elementos que conduzam à captura de material do inimigo. O montante para cada caso deve ser fixado pelo Comando-Chefe;

e - No caso de apreensão do material levada a efeito por um grupo de civis ou unidade militar, a repartição do prémio pelos seus componentes ficará ao critério do Comando-Chefe;

f - Os prémios a atribuir deverão ser os constantes da tabela que a seguir se indica:


 [Tabela e negritos: editor LG ]


2. Os comandos dos três Ramos das Forças Armadas da Guiné, o Comando da Polícia de Segurança Pública da Guiné, a Organização Provincial de Voluntários, a Polícia Internacional e de Defesa do Estado e os Serviços de Administração Civil da Província, devem fazer entrar em vigor, em 22/9/67 a tabela de prémios estabelecida pelo despacho de Sua Excelência o Ministro da Defesa Nacional referido no número anterior. [...]"

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da actividade operacional: Tomo II - Guiné - Livro II (1.ª edição, Lisboa, 2015), pp. 47-48

___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7480: Estórias avulsas (46): Desminagem entre S. Domingos e Susana (António Inverno)

(**) Ver uma pequena amostra de postes:

4 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2327: PAIGC - Instrução, táctica e logística (6): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VI Parte): Minas I (A. Marques Lopes)

8 de maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4304: (Ex)citações (27): Lembrando a memória de meu tio Manuel Sobreiro, morto por uma mina (Nelson Domingues)

4 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9850: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (52): Bula - A guerra das minas (2) - Os "eleitos"

4 de janeiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12540: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (5): Sou do famigerado XX Curso de Explosivos de Minas e Armadilhas, iniciado a 8 de Agosto e terminado a 17 de Setembro de 1966, na Escola Prática de Engenharia (EPE), em Tancos


11 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14993: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (15): De 19 a 22 de Junho de 1973


sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23885: Notas de leitura (1532): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte IX: O Prémio Governador da Guiné para o sold Baldé

 

Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 4ª CCAÇ  > c. 1965/67 > O alf mil Oliveira com miúdos da tabanca. É um soldado do seu pelotão, o sold Baldé, quem ganha num dado mês de 1966 (presume-se) o Prémio Governador da Guiné, por atos de bravura em combate. O prémio consistia num mês de férias em Lisboa, com viagens pagas. A companhia, além de um  mês de pré adiantado, gratificou-o com "10 mil pesos" (ou escudos da Guiné, o que, a preços atuais, corresponderia,em 1966, a 3360 euros, considerando que no câmbio o "peso" sofria uma quebra de 10%)... Nessa época, dez contos dava para se passar umas boas férias em Lisboa e arredores... 

Foto (e legenda):  Manuel Andrezo . "Panteras à Solta", edição de autor, s/l, 2010, pág. 399 (Com a devida vénia...).

1. C
ontinuação da leitura do livro "Panteras à solta: No sul da Guiné uma companhia de tropas nativas defende a soberania de Portugal", de Manuel Andrezo, edição de autor, s/l, s/d [c. 2010], 399 pp. il, disponível em formato pdf, na Bibilioteca Digital do Exército). 

Ficha bibliográfica da edição de autor de 2010:

Título: Panteras à Solta
Publicação: Lisboa : Edição de autor, 2010
Desc. Físicia: 399 p. : il. ; 26 cm
Contém: No sul da Guiné uma companhia de tropas nativas defende a soberania de Portugal
Notas
: Manuel Andrezo é pseudónimo do Tenente-General Aurélio Manuel Trindade

O ten gen ref Aurélio Manuel Trindade foi cap inf, 4ª CCAÇ / CCAÇ 6, Bedanda, jul 1965/jul 67. Irá completar 90 anos em 2023. Vive em Lisboa. Um exemplar do seu livro, impresso na Alemanha (c. 2020), foi-me gentilmente facultado, no verão passado, a título de empréstimo, pelo cor inf ref Mário Arada Pinheiro, com dedicatória autografada do Aurélio Trindade, seu amigo, datada de 13/12/2020. 

Já fiz uma meia dúzia de notas de leitura (*) deste livro que, infelizmente, está fora do mercado, por se tratar de edição de autor. Como já tivemos ocasião de o dizer, o livro pode ser considerado como um "diário de bordo" (com um sequência cronológica, embora não datada)  do autor (ou do seu "alter ego", o cap Cristo). 

O cap inf  Trindade foi  o último comandante da 4ª CCAÇ e o primeiro da CCAÇ 6 (a 4ª Companhia de Caçadores passou, a partir de 1 de abril de 1967, a designar-se por CCAÇ 6, "Onças Negras").

Muitos "bedandenses" (e temos cerca de um vintena de camaradas, membros da Tabanca Grande, que estiveram em ou passaram por Bedanda, entre 1961 e 1974, mormente na 4ª CCAÇ e na CCAÇ 6),  têm mostrado interesse por esta obra, que temos estado a divulgar.   

Temos vindo, ao mesmo tempo,  a selecionar uma ou outra história ou episódio dos cerca de 70 capítulos, não numerados, que o livro apresenta, uns sobre a atividade operacional da 4ª CCAÇ / CCAÇ 6, outros sobre o quotidano da tropa e da população (incluindo a população do mato). (**)

2. Acontece que o nosso amigo (e camarada de armas), cor inf ref Mário Arada Pinheiro (ambos somos sócios do VIGIA - Grupo de Amigos da Praia da Areia Branca, e ele é casado com uma senhora lourinhanese) tem estado internado no Hospital ds Forças Armadas, e é provável que passe lá esta quadra natalícia. Falámos há dias ao telefone. E achei-o com ânimo, apesar das circunstâncias.

Ele tem um especial carinho pela Guiné (onde fez uma comissão de serviço, no tempo do gen Spínola, e outras duas em Moçambique). Disse-me que foi substituir o major inf  Carlos Fabião, tendo ficado por sua conta um número impressionante de militares (e mílícias) do recrutamento locla: qualquer coisa como 13 mil!... (Era também na altura major.)

Já aceitou o convite para integrar a nossa Tabanca Grande e, finalmemnte, ia-nos mandar as fotos da praxe e o resumo do seu CV militar quando teve o problema de saúde que o levou a ser internado no Hospital. 

Também em sua honra escolhi esta história do soldado Baldé que ganhou o prémio Governador da Guiné, ao tempo do gen Arnaldo Schulz... Tudo indica que a cena, que abaixo se transcreve, se tenha passado em 1996.
 
Uma das preocupações iniciais do cap inf Cristo, quando chega a Bedanda, em rendição individual, em julho de 1965, para comandar a heterogénea 4ª CCAÇ, é o reforço da coesão,  do espírito de corpo, da disciplina e da lealdade dos seus homens.  A notícia de que o sold Baldé (não sabemos se o nome é fictício) ganhara o Prémio Governador da Guiné é recebida com regozijo por todos, tratando-se para mais de um soldado do recrutamento local. 

É pena não sabermo resto da história (as eventuais peripécias do nosso Baldé em Lisboa), mas a cena da avioneta do correio que o levou até Bissau  por certo que é divertida, e apropriada a esta quadra  natalícia.  Reproduzimo-la, com a devida vénia ao autor. (No livro não há, infelizmente,  nenhum episódio passado na época do Natal, até porque a companhia tinha poucos metropolotanos; mas com um pouco de benevolência do leitor, talvez possamos ver neste Prémio do Governador da Guiné uma espécie de prenda do Pai Natal dos Trópicos...). 

Ao meu amigo e nosso camarada Arada Pinheiro só posso desejar rápidas melhoras. Quero dar-lhe um valente "quebra-costelas" logo que o veja, talvez agora só no inícío de 2023, já devidamente restabelecido e em boa forma. LG


UM PRÉMIO PARA O SOLDADO BALDÉ 

(pp. 258-259)

por Manuel Andrezo


Para os militares que mais se distinguiam em combate havia na Guiné um prémio especial. Era o prémio Governador da Guiné, independente de outros louvores ou condecorações, e constava de uma viagem a Lisboa paga pelo Governador. Poucos militares tinham acesso a esse prémio porque ele era em numero muito reduzido, e sendo muitos os que se distinguiam em combate a selecção era rigorosa.

Um dia chegou uma mensagem dizendo que o prémio tinha sido atribuído ao soldado Baldé, um militar nativo da secção da Casa Gouveia. Todos ficaram contentes por o prémio do mês ter vindo para alguém da companhia e ainda mais para um soldado nativo que não conhecia Lisboa. O capitão mandou chamar o soldado Baldé e o seu comandante de pelotão.

─ Baldé, estás de parabéns, ganhaste um prémio. O Senhor Governador atribuiu-te o prémio Governador da Guiné. Embarcas em Bissau para Lisboa na próxima quinta-feira. É uma honra para ti e para todos nós este prémio. São poucos os soldados que o recebem, e tu até vais a Lisboa. Espero que te divirtas por lá e que quando voltares venhas tão bom soldado como tens sido. Amanhã chega o avião do correio e tu embarcas nele. Tens aqui dez mil pesos da Companhia que em Bissau trocas por escudos de Lisboa para te divertires por lá. Além disso, levas um mês de vencimento adiantado. O nosso alferes vai ajudar-te a tratar e a arranjares as coisas que deves levar.

Podes ir embora. Bom dia.

─ Bom dia, nosso capitão.

Oliveira, vê a roupa que ele leva. O verão lá é sempre mais frio que aqui e eu não quero que o Baldé ande a mendigar roupa. Se for preciso comprar alguma coisa compras no Zé Saldanha que a Companhia paga. Explicas no teu pelotão o que se passa, de forma a criar neles o desejo de também ganhar o prémio Governador da Guiné. Dizes aos outros comandantes de pelotão para fazerem a mesma coisa. Vai lá tratar disso. Até logo.

─ Até logo, meu capitão.

No dia seguinte, com a companhia na pista, o soldado embarcou para Bissau onde ficaria uns dias antes de seguir para Lisboa. O avião do correio vinha de Bissau para Catió, onde deixava o correio e o recebia com destino às várias companhias, levantando depois voo para fazer o circuito tradicional ─ Catió, Cufar, Empada, Cabedú, Bedanda, Catió. Nas diversas companhias entregava e recebia o correio.

Recebia também os doentes ou outros passageiros urgentes até ao limite da sua capacidade. Em Bedanda recebeu o soldado Baldé. Ao chegar a Catió o piloto verificou que havia dois passageiros para embarcar com destino a Bissau e apenas um lugar. Ao saber disto informou o oficial de reabastecimentos e pessoal que só podia embarcar um dos passageiros, pois um dos lugares, inicialmente disponível, fora ocupado por um soldado de Bedanda. A decisão do oficial não se fez esperar e transmitiu-a ao soldado Baldé.

─ Tu aí, desce do avião para entrar o nosso furriel. Vais depois no próximo avião.

─ Eu não desço ─ disse o soldado. ─ Capitão de Bedanda que é capitão do mato disse-me que eu ia neste avião para Bissau para ir para Lisboa como prémio do nosso Governador. Tu és capitão da CCS. Capitão da CCS não dá ordens a soldado de Bedanda diferente da do capitão do mato. Capitão do mato manda mais do que capitão da CCS. Eu vou para Bissau neste avião como disse capitão de Bedanda.

─ Tens que descer. Quem manda no avião sou eu e não o nosso capitão de Bedanda, de quem sou muito amigo. Nosso capitão Cristo não me avisou da tua vinda e eu tenho que mandar o furriel que vai de licença.

─ Não, nosso capitão. Eu não posso descer. Se nosso capitão da CCS é amigo do nosso capitão do mato não dá ordens diferentes dele. Nosso capitão manda no avião e nosso capitão manda em Bedanda, e o avião também é de Bedanda. Eu vou para Bissau porque nosso capitão de Bedanda disse para eu ir, e também tenho de apanhar avião grande para Lisboa. Em mim quem manda é capitão do mato e não capitão CCS.

Dada a situação que foi criada, e porque nada demovia o soldado porque ele não aceitava sequer a ideia de alguém contrariar o seu capitão do mato, o oficial de reabastecimentos e pessoal foi falar com o comandante de batalhão a quem expôs o problema. E falou então o comandante do batalhão.

─ É bom ver um soldado nativo que acredita tanto no seu capitão que não admite que alguém possa contrariar uma ordem sua. O soldado vai para Bissau. Sai do avião o militar a quem não faça diferença embarcar no próximo, ou então só embarca umpassageiro para Catió. Lembra-te de que o soldado que aí vai é um herói. Vai para Lisboa como prémio dos seus feitos em combate. Isto é tão raro que este é o primeiro soldado do batalhão a ganhar tal prémio. Isso devia ser razão suficiente para não ter havido este incidente.

Deste modo, o soldado Baldé conseguiu que uma ordem do seu capitão fosse respeitada no Comando do Batalhão, e ele continuou a considerar o seu capitão como o melhor do mundo. Mundo pequeno, mas era o seu mundo. 

[Seleção / revisão e fixação de texto / subtítulos / negritos, para efeitos de publicação neste blogue: LG]

__________

Notas do editor:

(*) Vd. postes anteriores com as nossas notas de leitura sobre o livro "Panteras à Solta";

9 de setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23603: Notas de leitura (1493): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte VIII: A visita de uma delegação do Movimento Nacional Feminino, em fevereiro de 1966: "O senhor capitão hoje está cheio de sorte, há meses que não via uma mulher branca, hoje vê duas"

5 de setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23590: Notas de leitura (1489): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte VII: A incrível história do soldado 25, cabo-verdiano, aliciado pela amante, uma "mulher do mato" de Cobumba, para cometer um acto de alta traição: tomar o quartel e matar todos os tugas...

1 de setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23577: Notas de leitura (1485): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte VI: "Cercados de guerrilheiros por todos os lados", diz o alf mil Ribeiro, no "briefing" da praxe...

31 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23573: Notas de leitura (1484): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte V: Bedanda, em meados de 1965

30 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23568: Notas de leitura (1482): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte IV: as circunstâncias da morte do 2º sargento mecânico auto Rodolfo Valentim Oliveira, em 11/8/1965...

29 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23565: Notas de leitura (1481): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte III: O Tala Djaló, cmdt do Pel Mil 143 e depois fur grad 'comando' da 1ª CCmds Africana, que virá a ser fuziladdo em Conacri, na sequência da Op Mar Verde

26 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23559: Notas de leitura (1480): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte II: "Homem gosta de ter mulher na cama, quando vem da guerra", lembra a "Tia", a mulher grande...

25 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23553: Notas de leitura (1478): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte I: "Os alferes não gostaram do novo capitão. Acharam-no com cara de poucos amigos."

(**) Último poste da série > 12 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23871: Notas de leitura (1531): Guevara versus Amílcar Cabral: Divergências estratégicas na guerrilha (2) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22199: Memória dos lugares (421): O Café Ronda (que também era pensão... e "casa de câmbio"), e outras "espeluncas" de Bissau (João Candeias / Valdemar Queiroz)


Guiné > Bissau > Café Ronda > Esplanada com cobertura de chapa de zinco > s/d> Fotos de Francisco Carrola (, da página do Facebook), recolhidas por Hélder Sousa, com a devida vénia. O Cafe Ronda situava-se na Av da República, um pouco mais abaixo do cinema UDIB e do lado contrário ao deste, segundo informação do Abílio Magro (*).


1, Comentários de João Candeias e de Valdemar Querioz sobre o Café Ronda (*)


(i) João Candeias Silva  [ ex-fur mil at inf, CCAV 3404 (Cabuca, 1972), CCAÇ 12 (Bambadinca, 1973) e CIM Bolama, 1973/74]

O Café Ronda não era apenas café, era também pensão com quartos colectivos, tipo caserna, onde pernoitavam muitos militares de passagem a caminho da metrópole, de férias, ou de regresso à província. O que foi o meu caso em Novembro de 1972.

Era um ponto de encontro dos militares colocados em Bissau e também de malta como eu, vindos do mato. No tal balcão para o exterior, além das cervejas, café, etc,.  vendia-se  sorvetes muitos procurados por serem bons e porque o calor estimulava o consumo.

Sobre a explosão no café , em 26 de fevereiro de 1974 e no autocarro da Força Aérea , em 22, a notícia correu por toda a província causando alarido especialmente na tropa sediada em Bissau. O autocarro passou a ser vasculhado antes de entrar em serviço.

Embora sendo da Força Aérea,  o autocarro era muito utilizado pelo pessoal do Exército, principalmente por quem estava no QG e ia assistir ao cinema na base aérea [BA 12, Bissalanca]. O que foi várias vezes o meu caso.  receio de o usar não durou muito tempo.

O caso da piscina do QG   [, em Santa Luzia], numa sessão de cinema, foi uma consequência da estado de espírito dos militares. A piscina que podia ser utilizada, com condicionalismos, pelos sargentos,  era em algumas noites usada como cinema ao ar livre e foi numa desses sessões que o pânico se generalizou com a caixa de fósforos a arder. Uns diziam que foi uma brincadeira parva,  outros que foi um acidente a caixa começar a arder.

Como a malta tinha 20 e poucos anos,  em poucos tempo tanto o Café Ronda como a piscina voltaram à normalidade.

Ainda sobre o Café Ronda que eu conheci e frequentei, acrescento que  era um ponto de encontro de militares, do exército,  e paraquedistas, na sua grande naioria,  e em passagem de ida ou regresso à metrópole ou às respectivas unidades.

Mas destacava-se pelas dormidas tipo caserna,  onde fiquei umas noites em Novembro de 1972 a quando da minha vinda de férias a Portugal ao fim de 7 meses em Cabuca,  e por ser simultaneamente Casa de Câmbio. 

O dono cambiava a 110% o escudo da metrópole pelo "peso" da Guiné. No fim da comissão em maio de 1974 o câmbio já estava a 20%. Muitos militares usaram o estatuto e trocar em Lisboa, ali para o lado da Estefânia, a ela por ela. Eram os comerciantes que a troco da comissão  usavam os militares no negócio.

No fim da comissão com a entrega da guia de marcha,  recebiamos uma boa maquia de patacão que, no meu caso, usei uma parte para comprar bilhete na TAP, o restante cambiei em Lisboa.

Concluindo,  o Café Ronda não era um lugar muito aprazível em comparação com o Café Bento, batizado pelos militares como a 5ª REP onde, à sombra de árvores frondosas, passávamos algumas horas em tertúlia, bebendo enquanto nos engraxavam as  botas e os sapatos.

Noutro estilo, tínhamos o Pelicano, na orla marítima com ementa extensa e lugar obrigatório para jantar.


(ii) Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]

Candeias: em 1969 e 1970, também em passagem para férias, lembro-me de ficar numa Pensão em frente das instalações da  Metereologia [, devia ser o Chez Toi, sito na Rua Eng Sá Carneiro , (***) ] , mas julgo não ter nenhum Café-Esplanada, só se o Café Ronda era afastado da casa da Pensão ou era noutro sítio. Não me lembro desse Café Ronda, ou então ainda não existia. [O Carlos Pinheiro não menciona o Café Ronda no seu roteiro de Bissau, pelo que não deveria existir no seu tempo, 1968/70. (**)]

A Pensão parecia uns adidos da tropa: camas da tropa, lençóis da tropa, falta de almofadas como na tropa e o dono também era um tropa. Parece que funcionava como se fosse em comissão de serviço e quando acabava havia o "trespasse" a outro tropa interessado que chegava.

Sobre o câmbio do escudos do BNU (pesos),  também funcionava os 10%, mil escudos do BdP custavam mil e cem do BNU. No avião TAP no regresso, no fim da comissão,  foram esturradas as últimas notas de mil do BNU em compras no avião e julgo que o comissário de bordo não fazia acertos de câmbio no preço dos produtos.

Sobre Cabuca, por lá passei várias vezes e foram Pelotões da minha CART 11 "Os Lacraus" que, além de segurança a colunas e de operações na vossa zona, montaram a segurança durante o período de tempo da construção dos vários pontões da estrada que ligava até à de Nova Lamego-Piche.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

(iii) João Candeias:

Valdemar.

Ao ler o teu comentário recordei - me que o dono  [do Café e Pensão Ronda ].era um militar de carreira, da marinha, nós milicianos dávamos-lhes outro nome. A espelunca e o recheio condizem, camas da tropa, os lençóis não recordo. Utilização era tipo cama quente e, como a malta preferia dormir na cidade, ia ficando e pagando.

Eu só fiquei dessa vez. Nas outras vezes que vim a Bissau,  fiquei na pensão no primeiro andar por cima da Casa das Ostras um pouco mais cara, sem ser luxo, mas nada tinha em comum. (****)

Um abraço, João Candeias 

________


(**) Vd. poste de 9 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18908: Estórias de Bissau (20): A cidade onde vivi 25 meses, em 1968/70: um roteiro (Carlos Pinheiro)... [Afinal o "Chez Toi" era a antiga casa de fados "Nazareno"...]

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21408: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (9): Doidas, doidas, doidas... andavam as galinhas!



Guiné > Região de Quínara > Tite > Bissássema > Jovens balantas en traje de festa

Foto do álbum do Rui Esteves, ex-furriel miliciano enfermeiro (CCAÇ 3327, Teixeira Pinto e Bissássema, 1971/73), e que vive em Vila Nova de Gaia; é um dos primeiros membros da nossa Tabanca Grande.  (*)

Foto (e legenda): © Rui Esteves (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mais uma pequena história do Carlos Barros, enviada por mensagem de 26 de junho passado:


Doidas, doidas, doidas... andavam as galinhas!



por Carlos Barros (**)



Eu, ex-furriel miliciano, 2ª CART / BART 6520/72, fui escalado para manter a segurança, na estrada Tite-Bissássema e levei o meu grupo (3º) para colocar os soldados, nos diversos postos, estrategicamente situados ao longo dessa estrada. 

Por volta das 11h40,  andavam umas galinhas, bem gordinhas, a “pastar”. Os nativos Balantas e Biafadas, tinham as galinhas contadas e matar uma era um risco porque o Comandante teria de atuar disciplinarmente, pois nessa altura vigorava a política de Spínola, por uma “Guiné melhor",  e não se podia molestar ou maltratar um africano guineense, o que se compreendia, no contexto dessa política “ultramarina”…

Disse ao soldado Lurdes, natural do Vitorino de Peães, concelho de Ponte de Lima: 

− Ó Lurdes, atire aquele pau para enxotar aquelas galinhas!

Ele pegou num tronco seco e atirou às galinhas, mas à sorte!... O milagre aconteceu…  Não é que o pau, às cambalhotas, caiu na cabeça da galinha e matou-a fulminantemente! Nem queria acreditar!...

 −  Lurdes, vá a correr, pegue na galinha e ponha-a no bolso grande do camuflado e vamos mas é já embora− disse-lhe eu, perante o ar estupefacto dos outros soldados que estavam perto de mim, coçando-se do exército de formigas que os atormentavam…

Metemo-nos na Berliet Tramagal e só paramos no quartel de Tite. Pedi aos soldados para isto ficar em segredo.

Tenho uma foto (que ainda  não consegui enviar), em que estão o Araújo, o Guimarães e outros dois soldados  a depenar o galináceo e, como uma galinha era pouco, arranjámos mais uma, mas esta teve de ser comprada por 10 ou 20 pesos (moeda da Guiné).

Quando o Capitão, soube do nosso manjar, disse-nos:

− Vocês...estão a viver bem!

Comemos um bom arroz de cabidela, com a ajuda dos cozinheiros que participaram no repasto…

Foi das melhores refeições que tomei na Guiné… Obrigado, galinhas!...

A Guiné,  que poucas alegrias me deu, assim como aos demais militares, sempre tinha destas histórias que atenuavam o sofrimento das situações trágicas e dramáticas que vivemos.

Hoje, estou numa de escrever, e envio esta história real, passada na Guiné em 1973,  apenas como mera curiosidade no seio de um ambiente hostil em que a guerra, com todos os seus impactos trágico-dramáticos, infelizmente, “ditava lei “!

Como homem de paz vivi quase 27 meses,  num desses ambientes. 

Um abraço grande de profunda amizade mas, com confinamento…

Esposende 9 de Junho de 2020,

Carlos Manuel de Lima Barros
__________

Notasdo editor:

(*) Vd. poste de 30 de novembro de 2005 > Guiné 63/74 - P305: A escola de Bissássema (CCAÇ 3327, 1971/73) (Rui Esteves)

(...) Em Novembro de 1971 fomos transferidos da região de Teixeira Pinto para a região de Tite, ficando a quase totalidade da CCAÇ 3327 instalada em Bissássema. Ficámos aqui até ao fim da nossa comissão de serviço.
 
(...) Instalados em Bissássema, começámos vida nova: em Teixeira Pinto, terra do povo manjaco, tínhamos servido de seguranças ao pessoal que abria a nova estrada; aqui, na terra dos balantas, íamos continuar a construção do novo aldeamento.

Passado poucos dias, chama-me o Capitão Alves (Rogério Rebocho Alves, Capitão Miliciano, comandante da CCaç. 3327, tão periquito quanto nós todos!) e comunica-me que vou ser professor dos soldados que pretendessem completar o Ensino Primário. (...)

(...) Um dia, pela manhã, descobrimos que o caminho entre Bissássema e Tite estava minado: o PAIGC tinha colocado algumas minas anti-carro no caminho e também anti-pessoal num local onde escreveram “VIVA O PAIGC”. A mina anti-pessoal foi detonada da pior maneira: um guia ficou sem a perna.

Estava descoberto tema para essa noite: os meus alunos iam escrever sobre as minas. Nunca me esquecerei da redacção do Cabral, o nosso cozinheiro, e o meu melhor aluno: escreveu ele, “Há minas boas e minas más. As minas boas são as que nós pomos aos turras. As minas más são as que eles põem a nós.” (...)


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20626: (Ex)citações (362): O ventre e o patacão da guerra, segundo duas preciosas listas de junho de 1974, guardadas pelo Zé Saúde... Cada um de nós tinha direito a um "per diem" de 24$50 para comer, o equivalente na época a um dúzia de ovos da Intendência (, a preços de hoje, 4,10 euros)



Lista nº 1 > CCS/BART 6523 [, Nova Lamego, 1973/74] > Relação dos víveres existentes no dia 17/6/1974

é

Lista nº 2 > CCS/BART 6523 [, Nova Lamego, 1973/74] > Relação dos artigos de  víveres existentes no dia 18/6/1974

Fonte: cortesia de José Saúde (2016). [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Excerto do poste P16177:

(...) Mantenho ainda comigo uma cópia de um relatório literalmente especificado de uma passagem de bens alimentícios em armazém entre dois furriéis da minha companhia - CCS / BART 6523 [, Nova Lamego, 1973/74[ - que entretanto assumiram a presunçosa função de vagomestre.

Curioso, por que é justo que o citamos, é que ambos foram “atirados” para uma incumbência completamente à parte daquela a que tinham sido submetidos durante o período em que foram mancebos de uma outra especialidade mas que ditou, ao arrepio da verdade, o seu subsequente futuro por terras da Guiné. Um que assumia o cargo desde a nossa chegada a Gabu; o outro a quem foi proposta a possibilidade de substituir o primeiro durante o seu período de férias, 30 dias.

Ainda assim, fica a textura de um documento que descrimina todo o conteúdo do material armazenado e os custos que cada um deles tinham à época. No balanço geral feito à narrativa exposta, oferece-me viajar nas fileiras da ventosidade do tempo e relembrar o “montão de patacão” que os homens que lidavam com os valores sob a sua “divina” proteção mantinham no interior de um quartel onde existiam inevitáveis privações.

Revejo as quantidades, os preços por unidade e o seu subsequente total, assim como os bens nutritivos que por ora eram então averiguados no momento da transição dos artigos de viveres que ambos os furriéis assumiam. Um entregava e outro recebia.

Da listagem observada, existe a certeza que,  se de um lado estavam os bens depositados,  do outro os ditos frescos. Ou seja, tudo o que fosse arroz, açúcar, azeite, batata, banha, feijão, grão, massas, vinho, óleo, vinagre, etc, etc, etc, pertencia a um lote, sendo que os frescos eram constituídos pelo frango congelado, peixes e fruta da época, entre outros, mas devidamente faturados.

O distinto documento era completado com as rações de combate, farinha, sal, café e outros bens necessários. Não há registos das compras espontâneas que se articulavam com o quotidiano, isto é, das vacas, dos leitões, dos porcos, dos cabritos, das galinhas, e outros, que concluíam a ementa.

Reportando-me aos números, refiro que a relação dos artigos em escudos era o seguinte: viveres existentes e frescos transportavam 319 986$20; outros viveres 88 587$10.


Creio que poucos, ou quase nenhuns, dos soldados depositados num quartel onde as “fissuras” de

uma peleja teimavam em ceifar vidas de jovens em plena idade de puro crescimento, desconheciam o conteúdo real de bens alimentícios que a companhia detinha.

Relembro ainda as famosas patuscadas organizadas pela malta que entretanto comprara um leitão, ou um cabrito, e que depois da sua trivial passagem pelo forno, servia de repasto fino para uma rapaziada que se orgulhava com o distinto acolhimento de um prato bem composto. A acompanhar lá estavam as cervejolas bem fresquinhas.

Relíquias de um tempo sem tempo numa Guiné que despejou em nós um cosmos de emoções. (...)



2. Comentário do editor Luís Graça:

O Zé Saúde, em boa hora, reproduziu este poste (**) e os respetivos documentos no seu livro "Um ranger na guerra colonial: Guiné.Bissau (1973-74). Lisboa: Colibri, 2019", pp. 163-166.

São preciosas informações sobre a "economia de guerra": por exemplo, em 17 de junho de 19974, a escassos 3 três meses, da retirada dos "últimos soldados do Império", o "stock" de mantimentos (víveres)  da CCS/ BART 6523, sediada em Nova Lamego (hoje, Gabu) importava em cerca de 320 contos, o que hoje, em euros, representaria qualquer coisa como 53.563,53 €.

O item com maior peso, na relação, era o vinho: 3.320 litos de vinho, a 11$60 o litro, importavam em 38.512$00 (, valor que, a preços de hoje, equivaleria a 6.446,65 €).

Um escudo em 1974 era equivalente hoje a 0,17 €. Mas é preciso ter em conta que o "escudo guineense" (o "peso") só valia, no mercado cambial, 0,90 escudos metropolitanos..

Seguia-se o arroz (, de produção local, da "bolanha") de que havia um "stock" de cerca de 5 toneladas e meia. A  7$00 escudos o quilo,  somava 38.416$00, o que daria hoje qualquer coisa como 6.430,58 €... Havia ainda 2 toneladas de arroz, importado, da metrópole, a 14$50 o quilo,o dobro do preço do arroz guineense.

O item mais caro, desta relação, era o bacalhau liofilizado: havia pouco mais de 40 kg, a 167$20 o quilo (o equivalente hoje a 27,99 €).

Ficamos a saber que o frango (congelado) custava, em 1974, para a manutenção militar, 7 € o quilo...

Da relação do dia 18/6/1974 (Lista nº 2), vai o nosso destaque para a ração de combate nº 20 de que havia em "stock" 680 unidades, a 43$00 cada (7,20 €, hoje).

Outro item essencial para a alimentação da tropa era a farinha (e o fermento): da lista nº 2 constavam quase 5 toneladas de farinha (4.350 de farinha de 1ª, mais 450 kg de farinha americana)... O preço por quilo da farinha de 1ª (portuguesa ?) era então de 6$00 (, o equivalente hoje a 1 euro)... Em "stock" havia 285 (quilos ou embalagens ?) de fermento leverina, a 35$50 por quilo (ou unidade), equivalente hoje a  5,94 €.

Um item que era um luxo era o ovo, fazendo parte tal como os "congelados" dos víveres "frescos", que eram  transportados de Bissau por via aérea: o "stock" era de 60 dúzias de ovos, a 24$30 a dúzia. Como não havia produção local, os ovos eram importados da metrópole...

Recorde-se que cada militar tinha direito a um "per diem" de  24$50  (=4,10 €), o equivalente a uma dúzia de ovos...

Por outro lado, a proporção de "frescos" (hortaliças, legumes, peixe, carne, leite, ovos...) era pequena em relação ao resto...Na lista nº 1, os frescos não ultrapassam os 400 kg, cabendo um 1/3 ao "frango congelado"... Não sabemos como é que o frango (congelado) chegava a Nova Lamego e em que condições, de higiene e salubridade ... O mesmo se pode dizer da pescada (congelada), que não ia além de 85 kg, no inventário do dia 17/6/1974 (Lista nº 1)...

A capacidade de frio, nos nossos quartéis, era muito limitada: não havia eletricidade todo o dia, os geradores eram ligados à noite, pelo que os frigoríficos e arcas frigoríficas tinham que funcionar também... a petróleo!

Em contrapartida, veja-se o peso das "massas" (1.225 kg) e das "salsichas" (meia tonelada), bem como da "marmelada" (mais de meia tonelada), das "conservas de peixe" (330 kg.)... Havia mais de 2,3 toneladas de feijão, na maior parte "seco" (1,9 toneladas)... Em relação ao  "feijão verde" (400 kg.) não sabemos a sua proveniência...

Nestas condições, era complicado para o vagomestre (que, além disso,  não era nutricionista, ou teria pouca formação em nutrição tal como os médicos da época...) fazer dietas equilibradas e saudáveis (, veja-se aqui, no sítio da Direção Geral de Saúde, a "roda dos alimentos", um instrumento de educação alimentar largamente reconhecido pela população portuguesa pela sua utilização desde 1977 na campanha 'Saber comer é saber viver').... 

Não sabemos qual era o recurso, no Gabu, a produtos frescos locais, provenientes do mercado local e da horta da tropa: refiro-me, por ex., às alfaces, as cenouras, às couves, às frutas tropicais, à carne (vaca, porco,cabrito) eao peixe...Comia-se mal, em quantidade e qualidade... abusando-se do "casqueiro", das massas, do arroz, dos  legumes secos, da banha,  e das conservas (chouriço, cavala, atum...).

A título exemplificativo, aqui vão outros itens a preços de hoje, por quilo (ou por litro, no caso do azeite e do vinho):

Azeite: 8,03 €

Batata: 1,37 €
Café: 1,87 €
Cavala (conserva): 11,94 €
Chouriço: 10,85 €
Feijão frade: 2,56 €
Grão (de bico):2,90 €
Margarina: 2,90 €
Massa: 2,03 €
Pescada-marmota: 3,36 €
Sal: 0,17 €
Sardinha (conserva): 8,97 €
Vinho: 1,94 €


Quanto às conservas (sardinhas, cavalas...),  tal como o chouriço, partimos do princípio que vinham em embalagens (latas) de quilo. Convertidos em euros (a preços de hoje),. os valores obtidos não nos parecem divergir muito do que se pratica hoje em relação a 1974...

Constatamos, por fim, que na "despensa" da CCS/BART 6523, havia tambêm, em existência, mercadorias que pertenciam a outras subunidades: CCAÇ 11, 1ª CART / BART 6523, 3ª CART / BART 6523...
_____________