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sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23518: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje ? (1) : É estar no mundo como em casa (Telma Pinguelo, Toronto, Canadá, citando o etnólogo Jorge Dias)

1. O José (Joseph, para os suecos, os lapões ou "suomi", os americanos, etc.) Belo, talvez o mais "estrangeirado" dos membros da "diáspora  lusófona" da Tabanca Grande (que vai de Toronto a Sidney, passando por Macau), lembrou-se, a alguns dias ou semanas de voltar a Key West, Florida, EUA, de nos lançar um saudável, criativo, senão mesmo provocador mas divertido desafio, muito ao seu jeito, feitio e gosto;

 "Afinal, quem somos, hoje, nós,  os portugueses e os descendentes de portugueses?"... 

Inevitavelmente o nome do grande vulto da cultura portuguesa do séc. XX,  Eduardo Lourenço (Almeida, 1923- Lisboa, 2020) veio  à baila (*):


(...) "No 'Labirinto da Saudade', Eduardo Lourenço  afirma que a literatura histórica portuguesa se pode ler como uma busca de resposta às perguntas: Quem são os portugueses? O que significa ser-se português?

Com início em Camões, Eduardo Lourenço identifica todo um irrealismo que engloba o espírito português. Uma mistura de grandiosidades,  lado a lado com profundo complexo de inferioridade.

Segundo ele, a imagem histórica de Portugal não é resultante de observações baseadas em realidades. Resulta antes de sonhos político-ideológicos criados por uma minoria urbana, como referido pelo realismo de Eça de Queiroz. Uma aristocracia (e burguesia) endinheirada sempre com o pé no estribo do 'Sud-Express', arrastando-se para uma Europa onde se produz a verdadeira cultura e o conhecimento.

A existência de um mítico 'povo simples' torna o diálogo literário entre estes polos opostos num… monólogo literário limitativo. É neste espaço (ou contradição) entre a 'falta' e o 'regresso' que, segundo ele, surge a palavra 'saudade'."(,,,)

2. O "nosso querido mês de agosto, pós-pandémico" não é o mais apetecível para "blogar"... Pelo contrário, é mais indicado para "folgar" (praia, campo, festivais, festas, viagens, petisqueira, convívio, amigos, família...).  Mas, por tradição ou pirraça, o raio do blogue recusa-se a fazer "férias"... Há dezoito anos que não faz "férias". 

Até quando ? Não sabemos, quando o blogue fizer "férias" é mau sinal... É como a história do frango e do pobre (hospitalizado): "Quando o pobre come frango, um dos dois está doente"... Caro leitor, quando o blogue começar a fazer gazeta, é caso para desconfiar... e chamar o 112...

Mas, voltemos à "provocação" do Joseph Belo, o nosso "luso-lapão" que agora também já é meio "amaricano": 

(...)   "A fins deste mês volto para Key West e, por lá, os meus tempos dedicados à “com-puta-gem” perdem prioridade frente ao Sloppy Joe’s Bar." (que é o "Sempre em Festa" lá do sítio)...

 A brincar, a brincar, meio a blogar e meio a folgar, a rapaziada (e porque não também a raparugada ?!) lá foi debitando matéria sobre o tema, "o que é ser português, hoje, em 2022"...

O que é ser português ? Boa pergunto, responde o nosso editor, LG... Pergunta que os portugueses "cá de dentro" não fazem (a não quando "provocados" ) nem sequer sabem responder (a menos que "obrigadps")... 

Parece que é preciso a gente ir para lá fora, para o "estrangeiro", para ganhar a suficiente distância e sentir a tal "saudade" e perder-se no seu "labirinto"... Como eu, que uma noite de verão e de tempestade cheguei a um parque de campismo perto de Guernica / Gernika, e quando estava a montar a tenda, começo a ouvir, no altifalante, a voz da Amália em a "Estranha Forma de Vida"... E, depois a seguir, o "Grândola, vila morena"... Hà emoções sentidas fora da nossa terra, que são indescritíveis e que nos marcam para sempre... Eu que gostava da Amália q.b., passei a ouvi-la com emoção, quando ela morreu... 

2. Leia-se então esta reflexão de Telma Pinguelo, jornalista, natural de Aveiro, apaixoanda pelo Canadá. A primeira intervenção, publicada na caixa de comentários ao poste P23512 (*), é nada menos desta jovem  "portuga", radicada no Canadá...e que faz questão de dizer que o que mais ama naquele país que a acolhei é justamente a sua "diversidade cultural"...

Esperamos que ela, a Telma Pinguelo,  não nos leve a mal a ousadia de reproduzir aqui a sua estimulante crónica na Revista Amar, que secionámos para dar o pontapé de saída à discussão sobre a nossa identidade, ou melhor, sobre o significado de ser-se português, hoje, aqui e em toda a parte... (Com a devida vénia... Adaptação / revisão / fixação de texto / negritos: LG)




 

O que é ser português? É a pergunta que volta e meia paira no ar e tema que ouvi ser inúmeras vezes debatido durante os anos em que tenho convivido com a comunidade lusa em Toronto.

Os nossos clubes e associaçōes têm de momento em mãos a difícil tarefa de passar as suas casas, tão arduamente construídas, para as mãos das novas geraçōes. É difícil porque os modelos de organização e também muitas tradiçōes que alegravam os nossos pais e avós estão a cair em desuso e já não cativam os jovens. 

Independentemente do que agrada a uns e a outros, o certo é que, seja qual for a idade ou situação, todos partilhamos do mesmo sentimento: amamos ser portugueses. Se há tantas diferenças de como celebramos, do que gostamos e do futuro que envisionamos… o que é, afinal, esta coisa de ser português?

Se pergunto ao condutor do Uber que me leva a casa, ele diz “Portuguese chicken”, os meus colegas dizem “Cristiano Ronaldo”, num encontro de amigos falam-me das “férias com paisagens lindas, deliciosa comida e ainda melhores bebidas”, nos eventos fala-se de “fado” e nos jantares vem sempre à conversa o famoso pastel de nata, aqui batizado “Portuguese custard tart”.

Mas então é isto? Será que ser português se resume a frango de churrasco, futebol, turismo, música, vinhos e bolos? Tenho a certeza de que existe muito além das belezas, sabores e conquistas deste nosso país plantado à beira-mar. O que mais faz de nós portugueses ? A língua, o território, o passaporte?

O povo português nunca teve, nem tem, problemas de identidade. Ainda que a resposta não esteja na ponta da língua, não é por isso que ela deixa de existir. Antes pelo contrário. Esta é uma daquelas situaçōes em que andamos à procura das chaves pela casa toda e depois damos conta que afinal estiveram sempre no bolso do casaco que temos vestido. É o que eu vejo acontecer com esta pergunta. Esquecemo-nos de olhar para dentro.

Eu digo que ser português está naquilo que não se saboreia, não se vê nem se toca. A portugalidade está no nosso caráter. 

O etnólogo português Jorge Dias publicou na década de 50 um livro chamado “Os Elementos Fundamentais da Cultura Portuguesa”, no qual faz um resumo daquilo que seria a nossa personalidade geral. Jorge Dias diz que:

  • o português é “ao mesmo tempo sonhador e homem de ação”, ou seja, “um sonhador ativo que mantém sempre um olhar realista sobre os seus objetivos”;
  • é "humano e sensível, amoroso e bondoso, contudo, sem ser fraco";
  • "não gosta de fazer sofrer e evita conflitos";
  • "mas quando ferido no seu orgulho pode ser violento e cruel";
  • "tem um grande sentido de fé";
  • "tem uma ligação muito forte com a sua natureza e herança";
  • "é  individualista, mas tem uma forte solidariedade humana";
  • "tem espírito crítico e trocista e uma ironia pungente”.

Pegando nas palavras de Jorge Dias, eu acrescento: 

o português: (i)  traz na alma a inspiração de Luís Vaz de Camōes, (ii) a ousadia de Bocage, (iii) a inquietude de Saramago, (iv) leva no peito a libertação da Revolução dos Cravos, (v) a coragem dos navegadores dos Descobrimentos e (vi) pratica diariamente o verso de Fernando Pessoa “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.

Mesmo com a globalização e os crescentes fluxos migratórios, os portugueses espalhados pelo mundo continuam a manter a essência da sua identidade. A verdadeira portugalidade acontece nos empregos em que somos conhecidos como um povo trabalhador, nos nossos círculos sociais em que somos calorosos e acolhedores, acontece em cada uma das nossas mesas em que há sempre espaço para mais uma pessoa.

Ser português é falar de uma História que não é perfeita, mas que nos tornou no que somos hoje. Somos lutadores, resilientes, somos um povo guerreiro, endurecido pelas batalhas travadas ao longo dos tempos e sofrido com a tão nossa saudade. O encanto é que embrulhamos tudo isso com a também muito nossa bondade, hospitalidade e fé.

Sim, há algo em ser português que é especial. É a nossa vocação de “estar no mundo como em casa”, assim o diz muito bem o autor Jorge Dias. Feliz Dia de Portugal!

Telma Pinguelo 

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23512: Notas de leitura (1473): Eduardo Lourenço (1923-2020): afinal, quem são os portugueses, e o que significa ser português? (José Belo, Suécia)


Eduardo Lourenço (Almeida, 1923 - Lisboa, 2020).
Foto da Agência Lusa (2020). 
Cortesia de Wikimedia Commons


1. Mensagens do José Belo:

(1) Data - 6 ago 2022 11:31
Assunto - Talvez o menos estrangeirado

Caro Luís

O nosso Eduardo Lourenço soube, talvez melhor,  que muitos intelectuais contemporâneos, pôr o dedo na ferida quanto aos nossos grandiosos mitos lado a lado com profundos complexos.

Vou enviar-te um texto resultante de leitura muito atenta a alguns ensaios do mesmo

PS - Espero sinceramente que quanto às saúdes todos nós continuemos sem estar... ”piorzinhos”!

Um abraço, JBelo

(ii) Data - 6 ago 2022, 12h39

Assunto - Estrangeirados

Francamente que não sei se o tema, e texto, terá cabimento (ou interesse) para os seguidores do blogue. Os parâmetros são distintos.

A ser publicado fico grato se indicares uma data aproximada que possa permitir um debate… caso este venha a surgir.

A fins deste mês volto para Key West e, por lá,  os meus tempos dedicados à “com-puta-gem” perdem prioridade frente ao Sloppy Joe’s Bar.

Um abraço com votos, para ti e família, de Boas Férias! JBelo

 

"Lisboa é o sítio ideal para acreditar que as Caravelas continuam a existir" (Eduardo Lourenço). Foto: José Belo (2022).

2. Eduardo Lourenço:  “As palavras que definem uma Nação “ (*)

Um dos maiores intelectuais portugueses contemporâneos que, e segundo as suas palavras… ”se afastou do País para respirar liberdade”. (**)

Nascido na pequena aldeia de São Pedro do Rio Seco, passou longo período da sua vida no estrangeiro. 
Primeiro como professor na Alemanha e, posteriormente, como professor nas universidades francesas de Grenoble e Nice.

Regressou a Portugal no período final da sua vida.

O jornal “Le Monde” descreveu-o como um intelectual liberto da rigidez política das ideologias,  que soube sempre seguir o seu próprio caminho.

As suas obras mais conhecidas foram escritas nos anos setenta, antes, durante e depois da “revolução dos cravos“: Tempo e Poesia (1974); O Labirinto da Saudade (1978). Obras que o tornaram conhecido fora dos círculos literários e académicos.

Importante parte dos seus ensaios foram dedicados a Luís de Camões e a Fernando Pessoa.

No “Labirinto da Saudade“ afirma que a literatura histórica portuguesa se pode ler como uma busca de resposta às perguntas:
  • Quem são os portugueses?
  • O que significa ser-se português?
Com início em Camões, Eduardo Lourenço identifica todo um irrealismo que engloba o espírito português. Uma mistura de grandiosidades lado a lado com profundo complexo de inferioridade.

Segundo ele, a imagem histórica de Portugal não é resultante de observações baseadas em realidades. Resulta antes de sonhos político-ideológicos criados por uma minoria urbana, como referido pelo realismo de Eça de Queiroz. Uma aristocracia (e burguesia) endinheirada sempre com o pé no estribo do "Sud-Express", arrastando-se para uma Europa onde se produz a verdadeira cultura e o conhecimento.

A existência de um mítico “povo simples” torna o diálogo literário entre estes polos opostos num… monólogo literário limitativo.

É neste espaço (ou contradição) entre a “falta” e o “regresso” que, segundo ele, surge a palavra “saudade”.

Afirma também que, em Portugal, tanto o neo-realismo como o comunismo (verdadeiros polos opostos à ditadura do Estado Novo tanto nas artes como na política) se dedicaram ao mesmo tipo de “mitologia” no modo como integraram na sua visão mundial os mesmos clichês quanto ao “Povo simples”, em tudo semelhantes aos usados por intelectuais da Direita. Mitos que serviram, e servem, como conveniente “manta de cobertura “ sobre um tipo de fragilidade histórica.

Com Salazar, o patriotismo jacobino dos convulsionados 16 anos da Primeira República, transformou-se em nacionalismo exaltado. O Estado Novo, com o seu aparelho de propaganda desde a escola aos meios de comunicação, cria uma verdadeira “Disneylândia” de portugalidades feita.

Como poderá a cultura de um pequeno país, isolado num extremo europeu, manter a sua originalidade, usar de um pensamento crítico quando a análises do passado, manter vivas as suas tradições ao mesmo tempo que se abre perante o mundo?

Segundo Eduardo Lourenço é fundamental para Portugal... ser europeu!

Um abraço do JBelo

Adenda - Talvez o menos… estrangeirado!

Abandona o país em 1953, mas recusa a condição de exilado. É apenas emigrado.

“Como é que um homem nascido em São Pedro do Rio Seco, pode ser outra coisa que não português?” Não aceita ser estrangeirado:” Não, não aceito!... Fico furioso. Fico desesperado.”

O seu método é o “de olhar de dentro mesmo estando fora”. No "Labirinto da Saudade" escreve:

“Pensar Portugal como vontade e como comunidade plural de destinos e valores, pondo em diálogo os mitos e a razão e… procurando afastar a maldição do atraso.”

“…é a hora de fugir para dentro de casa, de nos barricarmos dentro dela, de construir com constância o país habitável de todos, sem esperar de um eterno lá-fora ou lá longe a solução que, como no apólogo célebre, está enterrada no nosso exíguo quintal.

Não estamos sós no mundo, nunca o estivemos. A conversão cultural necessária passa por um olhar crítico sobre o que somos e o que fazemos.”

PS - E como Eduardo Lourenço escreveu: "Lisboa é sítio ideal para acreditar que as Caravelas continuam a existir"



José Belo, jurista, o nosso camarada luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande:

(i) tem repartido a sua vida agora entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e os EUA (Key West, Florida); 

(ii) foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, recusando-se a jubilar-se do cargo: afinal todos os anos pela primavera, corre o boato de que a Tabanca da Lapónia morre para logo a seguir ressuscitar, como a Fénix Renascida; 

(iii) na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); 

(iv) é cap inf ref (mas poderia e deveria ser coronel, se ele tivesse tratado da papelada a tempo) do exército português; 

(v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade"; 

(vi) tem 226 referências no nosso blogue.
 ___________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 8 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23506: Notas de leitura (1472): "Histórias da C. CAÇ. 2533" - Os belos testemunhos da gentes da CCAÇ 2533 (1) (Mário Beja Santos)

(**) Vd. também postes de:

2 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21604: Manuscrito(s) (Luís Graça) (195): In Memoriam: Eduardo Lourenço (1923-2020), pensador maior da nossa história, da nossa cultura, da nossa identidade como povo

17 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15013: Notas de leitura (748): “Do Colonialismo como Nosso Impensado", Organização e Prefácio de Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi, Gradiva Publicações, 2014 (Mário Beja Santos)

sábado, 16 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23435: Frase do dia (4): Quer queiramos, quer não, na Guiné era diferente de Angola e Moçambique... É a minha segunda pátria. Confesso que em Mampatá do Forreá sentia-me em casa e ainda hoje tenho lá "ermons", "sobrinhos" e até "filhos". Para outros sou "avô". Até já me ofereceram uma casa para eu ir para lá viver (José Teixeira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70)

1. Comentário de José Teixeira ao poste P23429 (*):

(i) ex-1.º Cabo Aux Enf,  CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70);

(ii)  um dos históricos do nosso blogue, integrando a Tabanca Grande desde 14/12/2005; 

(iii) autor de diversas séries (Estórias do Zé Teixeira; Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado; O meu diário); 

(iv) tem 374 referências no nosso blogue: é autor de vários livros, entre contos e poesia, o último dos quais "Palavras que o Vento (E)leva", 2022, 138 pp., edição da Poesia Impossível, a ser lançado em novembro próximo; 

(v) um fundadores e régulos da Tabanca Pequena de Matosinhos; 

(vi) voltou à Guiné-Bissau por diversas vezes; 

(vii) gerente bancário reformado; 

(viii) avô babado de três netos; 

(ix) mora em São Mamede de Infesta)


Quer queiramos, quer não, na Guiné era diferente de Angola e Moçambique. Afirmo isto porque tenho,  entre os meus amigos, como todos nós, gente que andou por essas bandas, com quem tenho dialogado. 

O teatro de guerra era pequeno, tanto quanto a "província". A maior parte dos que estavam no interior tinha o seu aquartelamento com tabancas ao lado, ou, como eu, vivia na própria tabanca. 

As operações, apesar de duras e violentas, eram de curta duração, na maioria dos casos. Alguns de nós, como eu, passávamos muito tempo na tabanca. A população recebia-nos bem -sabia acolher e conviver. 

Confesso que em Mampatá do Forreá sentia-me em casa e ainda hoje tenho lá "ermons" "sobrinhos" e até "filhos". Para outros sou "avô". Até já me ofereceram uma casa para eu ir para lá viver. Todos os dias tenho alguém a pedir-me amizade no FB dizendo-se filho de A, neto de B, etc. De Empada nem tanto porque a tabanca ficava ao lado do quartel e o convívio era menor, mas quando lá estive em 2005, 2011 e 2013 fui reconhecido, bem recebido e mimado.

Quando entrei no barco - O Niassa - para regressar a casa, lembro-me de ter dito cá para mim: "Adeus Guiné para sempre, jamais cá voltarei"... E, passados uns anos, a saudade daquela gente, a beleza daquela terra, começou a atormentar-me. Agora é a minha segunda Pátria.

Ainda há dias, filha do Chefe de tabanca de Mampatá, e creio que à data Régulo do Forreá, esposa do atual Régulo de Contabane, ao chegar a Lisboa, me telefonou para saber com estou e a minha "senhora" e para nos encontrarmos em breve.

Zé Teixeira
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sábado, 9 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21752: (In)citações (175): Saudade (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), autor do livro "Brunhoso, Era o Tempo das Segadas - Na Guiné, o Capim Ardia", com data de 7 de Janeiro de 2021:


Saudade

Francisco Baptista

Ontem, Dia de Reis segundo o calendário católico, foi um dia nefasto, com notícias que nos abalaram um pouco a todos. A primeira foi sobre o alarmante número de infectados em Portugal, com o covid-19 que atingiu o seu máximo, com mais de dez mil pessoas afectadas por essa moléstia.

Já em 2021, ouvi na RTP que numa grande votação online, organizada pela Porto Editora, a saudade foi eleita a palavra do ano de 2020. O locutor da estação de televisão entre o anúncio da votação e o seu resultado fez um intervalo com outras notícias diferentes, desafiando os ouvintes a pensar no resultado. O meu voto foi também para a saudade apesar de ter pensado também no covid 19 e na pandemia, as segundas e terceiras mais votadas. Ao escolhermos por maioria a saudade, essa palavra que é dor, melancolia, memória, nostalgia, distância, tristeza, mas que também é poesia, amor, pátria, amizade, fraternidade, escolhemos a esperança na vida que os portugueses sempre tiveram apesar das maiores adversidades. A Saudade tem múltiplos significados e definições que variam de acordo com a sensibilidade e a experiência de vida de cada um.

Carolina Michaelis, a célebre escritora, filóloga e pedagoga definiu-a assim:
[Saudade é a] lembrança de se haver gozado em tempos passados, que não voltam mais; a pena de não gozar no presente, ou de só gozar na lembrança; e o desejo e a esperança de no futuro tornar ao estado antigo de felicidade.”]

Eu, em viagem de família em Veneza, num encontro ocasional num restaurante com dois portugueses um jovem e uma senhora, dias depois, lembrando a conversa calorosa que tivemos, descrevi desta forma a saudade numa crónica:
"Os portugueses da diáspora que inventaram a palavra saudade evocam-na como quem procura o afecto e o calor da Pátria. Há nela um sentimento doce porque nos faz recordar bons momentos passados com pessoas que estimamos muito. Há nela um sentimento amargo, que nos magoa pela distância que interpõe entre uns e outros, que só se acalma nos reencontros possíveis entre abraços e beijos, nessa proximidade física que os portugueses como povos latinos adoram."

Todos temos a nossa saudade. Uma palavra complexa que sendo amarga ou doce nos ajuda a viver.

A segunda má notícia de ontem, divulgada pelos meios de comunicação de toda a Terra foi a invasão do Capitólio americano por uma horda de milhares de fanáticos, às ordens desse bárbaro e imbecil Donald Trump. Os Estados Unidos da América são uma grande democracia, que se tornou também uma nação imperial, sem perder muitos princípios básicos da democracia que copiou dos ingleses e da Revolução Francesa. Com muitos defeitos como a escravidão, o genocídio de nações indias, a descriminação racial e situações de prepotência e exploração a nível internacional, algumas foi corrijindo, outras sem remédio, continua a ser a maior democracia dos tempos modernos. Que o Império Americano não se auto-destrua como o Império Romano que ele quis imitar e que na sua fase decadente teve imperadores imbecis e idiotas como Calígula e Nero. Não sabemos o que podemos esperar dos impérios Russo ou Chinês, já que eles nunca tiveram raízes democráticas.
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21679: (In)citações (174): Apesar de agnóstico, ainda conservo, na cabeceira, um crucifico-talismã que alguém deixou na tabanca onde eu pernoitava: Ká pudi larga mezinho qui pudi salvar kurpu (Luís Mourato Oliveira, o último comandante do Pel Caç Nat 52, Mato Cão e Missirá, 1973/74)

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P18019: Blogpoesia (540): Tempos duros em que as saudades apertavam (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto do BCAÇ 3872)



1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 25 de Novembro de 2017:

No mês de Novembro de 1972 morre numa mina, entre Galomaro e Saltinho, o 1.º Cabo PELREC Teixeira; são transferidos para o hospital de Bissau o Carlos Filipe e o seu comandante de pelotão, alferes Mota, que vem a falecer dois dias depois.
Foi um tempo duro em que as saudades apertavam e, em sentido figurado, também se morria de amor.

Um abraço
Juvenal Amado


Meu amor morro de saudades

O papel fino
Letra redonda tão harmoniosa,
Feminina sem segredos
Água fonte dos meus sentidos
Cheirava a ti o papel
Lá estavam os iis com corações
A tua escrita tinha aroma de pêssego
Sabia onde tinhas colado a tua boca
O teu sabor a maçã
Perfume dos nossos lugares
Erva fresca pinheiro e eucalipto
Relia o cabeçalho 
- Meu querido... Morro de saudades 
meus olhos perdiam-se nos iis com corações 
Como sobrevivemos longe 
Como suportamos a longa espera 
Guardava as tuas palavras 
Enquanto aguardava o regresso a ti
Doía-me a ausência de nós
Na solidão da noite tudo parecia irreal
Fustigavam-me todas a dúvidas
Os meus fantasmas ganhavam formas
Vagueavam entre o suor e o calor
Voltava a ler a magia nas tuas palavras
- Meu querido… morro de saudades
Guardava-te junto ao peito
Nunca te amei tanto
e…
Também eu morria de saudades
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de Novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18015: Blogpoesia (539): "As rampas...", "Apanágio de poucos..." e "Arame farpado...", poemas de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17900: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (11): Resumo do programa que concretizámos (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)


1. Termina assim a publicação das "Memórias Revividas" com a recente visita do nosso camarada António Acílio Azevedo (ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72, Bula e da CCAÇ 17, Binar, 1973/74) à Guiné-Bissau, trabalho que relata os momentos mais importantes dessa jornada de saudade àquele país irmão.

AS MINHAS MEMÓRIAS, REVIVIDAS COM A VISITA QUE EFECTUEI À GUINÉ-BISSAU ENTRE OS DIAS 30 DE MARÇO E 7 DE ABRIL DE 2017

 RESUMO DO PROGRAMA QUE CONCRETIZÁMOS (11)

01 – AS VISITAS QUE FIZEMOS

De comum acordo, ficou previamente definido que a intenção máxima de todos os colegas que se deslocaram, em viagem de saudade, à Guiné-Bissau, tinha como primeira prioridade visitar as terras ou locais por onde andaram, passaram sacrifícios e sofreram algumas agruras, nomeadamente nas alturas em que estávamos em luta directa e muitas vezes aberta com os elementos e apoiantes do PAIGC, realidade que deixou profundas marcas em muitos de nós. Cumprido este principal desejo, viajámos depois por outras paragens.
Passaram-se mais de 40 anos, mas mesmo assim, sentimos necessidade de visitar aqueles locais por passámos e onde alguns pagaram com a vida esse esforço e sacrifício que, de pouco valeu, já que aquele pedaço de chão era dos Guinéus e não dos Portugueses.

Visitámos muitos e variados locais, que iam desde pequenas povoações sediadas algures no mato, até a vilas e cidades da Guiné, tendo para nós sido importante recordar com alguma saudade esses lugares de solidão e de algum sofrimento, que muitos de nós passaram.

Encontrámos vilas e cidades, algo mais desenvolvidas do que quando lá estivemos, casos de Bissau, Gabu (ex-Nova Lamego) e Mansoa, mas infelizmente, a maioria delas está em situação mais degradante do que nos anos 60 e 70, do século passado, ouvindo nós, muitas vezes, e da boca de pessoas mais velhas, afirmações de que “naquele tempo estavam bem melhores que agora”.

Em qualquer pequena povoação de então, existia sempre um pequeno bar ou centro de encontro, onde, quanto mais não fosse, se bebiam umas cervejas e se convivia um pouco. Hoje, em muitas das vilas, nada ou quase nada existe e refiro aqui os casos de povoações, vilas e cidades como: Binar, Bissorã, Mansabá, Farim, Bafatá, Susana, Ingoré, Bula, Biambe, Cacheu, Bachile, Có, Pelundo, Nhacra…

Aquando de uma das nossas estadias em Bissau, procurámos visitar a velha Fortaleza de S. José da Amura, primitiva estrutura construída no ano de 1696, com alterações introduzidas em 1766 e edificada na parte baixa da capital guineense e ainda hoje edifício-símbolo da antiga cidade de Bissau, estando toda ela protegida por uma muralha em cantaria, com cerca de 4/5 metros de altura, de planta quadrangular abaluartada, rodeada de um fosso.

Infelizmente, não nos autorizaram a entrar e a visitar o interior desta Fortaleza, por razões que não nos explicaram apesar da nossa insistência, local este, onde segundo nos tinham informado, o PAIGC mandou construir um mausoléu em homenagem ao fundador do PAIGC, Amílcar Cabral.

Terá sido por vergonha (?!) face ao conhecimento generalizado de ter sido ali um dos locais onde fuzilaram muitos militares guineenses que estiveram ao serviço do exército português e sobre os quais os nossos “governantes” daquela época, nada fizeram para os proteger e salvar a vida?!…


02 – A DISTRIBUIÇÃO DOS MATERIAIS QUE LEVÁVAMOS

Uma das missões que também nos levou à Guiné-Bissau, foi a vertente humanitária, traduzida no transporte e posterior distribuição por diversas missões católicas e não só, de vestuário e calçado, e pelas escolas de material escolar, que os destinatários receberam com imensa alegria, atitude que se compreende pelas grandes carências que toda a Guiné sente e sofre.

Aqui um grande agradecimento às entidades portuguesas, em particular à TAP, permitindo que cada um de nós pudesse transportar duas malas/sacos/volumes, cada um com o peso máximo de 23 quilos, o que possibilitou que num desses volumes apenas levássemos os materiais que lá pretendíamos deixar e entregar, e no outro as nossas coisas e mais algo que completasse os tais 23 quilos. Claro que estando o tempo quente, o peso da nossa bagagem pessoal, não deveria pesar, em média, mais de 10/12 quilos, o que facilitou maiores dádivas transportadas.


03 – OS CONTACTOS PREVIAMENTE EFECTUADOS

Através dos contactos privilegiados e prévios que os colegas Moutinho e Rebola fizeram porque já lá tinham ido várias vezes, foi facilitada a missão aos restantes colegas, quer no que diz respeito à marcação do local de alojamento, quer para podermos ter acesso a alguns dos pontos mais importantes que pretendíamos visitar, nomeadamente aqueles onde houvesse necessidade de autorização prévia das autoridades guineenses.

O nosso muito obrigado à preciosa colaboração do Dr. João Maria Goudiaby, que além de médico, no Hospital Padre Américo, em Penafiel, é amigo pessoal de alguns dos colegas que se deslocaram à Guiné-Bissau e que connosco almoça, várias vezes, às quartas-feiras no Restaurante Milho-Rei, em Matosinhos, elemento que nos ajudou a abrir algumas portas, de entre as quais saliento e deixo aqui registado, com muita estima e consideração, a do Palácio da Presidência da República da Guiné-Bissau, de que é actual Presidente o seu cunhado, Dr. José Mário Vaz.


 04 – AS VISITAS PROGRAMADAS

Na continuidade do que já referi no ponto 01, os locais a visitar foram ordenados, não só em função das áreas geográficas onde eles se situavam, mas também tendo em atenção tentar rentabilizar o melhor possível os jeeps em que cada grupo de 4 pessoas se deslocavam, procurando desenhar um circuito rodoviário que melhor se coordenasse com a vontade de todos esses colegas e com o estado do pavimento.

Para isso, e semanas antes de embarcarmos, começámos por dividir o território da Guiné-Bissau em várias quadrículas, que contemplassem as áreas que a cada um de nós mais interessava visitar, mas também procurando escolher os eixos rodoviários com melhor piso e que cobrissem cada um dos sectores selecionados.

Por coincidência dos 13 colegas que compunham o grupo que no dia 30 de Março de 2017 rumou à Guiné-Bissau, a grande maioria tinha prestado o serviço militar nas regiões do norte e do centro do território, o que facilitou a visita aos locais que pretendíamos.

A capital Bissau, o Cacheu, Canchungo (ex-Teixeira Pinto), Bula Binar, Bissorã, no norte e Mansoa, Mansabá, Farim, Bafatá e Gabú (ex-Nova Lamego), no centro e leste, foram por isso os lugares mais privilegiados das nossas visitas.


05 – O CLIMA LOCAL DURANTE QUE ENCONTRAMOS

Com duas épocas perfeitamente distintas, o clima da Guiné-Bissau é quente e húmido durante os meses de Maio a Novembro, em que chove quase todos os dias, e seco, mas não tão quente, entre Novembro e Maio, período este, durante o qual, diria eu, nunca chove.

Acrescentaria que durante o período da época das chuvas, o teor de calor húmido chega a ser tão elevado que, mal acabamos de tomar um duche, estamos logo a transpirar de novo, obrigando-nos a novo duche, nem que fosse da própria chuva que caísse.

Não era fácil a adaptação a um novo clima, naturalmente bem diferente daquele que em Portugal estamos habituados, não só pelas diferentes latitudes existentes entre estes dois Países, mas também pela orografia e até tipo de vegetação, que em cada um deles existe.

Estas diferenças, obrigavam-nos a um esforço suplementar, principalmente nos primeiros tempos da nossa passagem pela antiga colónia portuguesa da Guiné, situação agravada pelas deslocações que fazíamos, porque a maioria dos caminhos, denominados como “picadas”, provocavam-nos um desgaste, muito mais acentuado no período das chuvas, com caminhos enlameados, ou nas zonas de bolanha que os militares, embora constrangidos, eram obrigados a atravessar nas suas missões de rotina para a defesa e vigilância dos aquartelamentos e das tabancas edificadas nas zonas que lhe eram envolventes.


06 – O PAÍS QUE ENCONTRÁMOS

Como começámos a nossa visita por Bissau, estamos em posição de afirmar que encontrámos uma capital que nos mostrava diferentes espaços, perfeitamente contrastantes uns com os outros, opiniões mais reforçadas, se atendermos à realidade que conhecia por lá ter estado nos já longínquos anos de 1973/1974.

Pelo lado positivo, reconheço a existência de novas e bonitas zonas habitacionais, de novas vias de comunicação, como a avenida que do Aeroporto nos conduz à antiga Praça do Império e aos meios de transporte muito mais modernos e eficazes.

Em contrapartida, o lado negativo continua a ser maioritário em todo o território guineense, sendo, no caso de Bissau, evidente a degradação da antiga Avenida do Império (actual Avenida Amílcar Cabral), bem como de toda a sua zona ribeirinha, em especial a Avenida Marginal e sobretudo o abandono a que foram deixadas a quase totalidades das antigas casas coloniais, fenómeno para mim anormal em quase todo o território da Guiné-Bissau, de que o maior exemplo é o estado de total desleixo em que encontrámos o antigo Hospital Militar, onde, segundo nos informaram, logo após a instauração da independência, todo o equipamento cirúrgico foi roubado e/ou destruído!!

Idêntico exemplo foi-nos dado a observar em relação às antigas instalações militares que em diferentes locais ocupámos, todas elas em ruína evidente e sem sinais de recuperação à vista, para qualquer utilização benéfica para as populações locais.

Do interior do País e com honrosas excepções, tudo está pior que no tempo da dita guerra colonial. Vilas ou cidades como Bula, Canchungo (ex-Teixeira Pinto), Cacheu, Bissorã, Mansabá, Farim e Bafatá, localizadas em zonas que em bem conheci, encontram-se muito mais degradadas, onde não existe uma boa rua asfaltada e a maioria das casas estão arruinadas, não se encontrando em muitas delas, um café ou um restaurante!!

Em termos de boas vias de comunicação, salvaguardo as estradas de Canchungo ao Cacheu, de Canchungo a Bissorã, passando por Bula e Binar, e a de Mansoa a Farim, que passa junto a Mansabá e a de Mansoa a Gabu.


Bissau: Uma das actuais e apresentáveis ruas de Bissau, onde, fugindo à regra, uma boa parte dos antigos edifícios coloniais  foram preservados. Repare-se no piso da rua que no tempo colonial era asfaltado, mas que agora e quando chove, se transforma em lamaçal!


07 – A BELEZA DE ALGUNS LOCAIS E EDIFÍCIOS VISITADOS

Nesta breve descrição, será justo salientar, em Bissau, o Palácio da Presidência da República e toda a sua zona envolvente, a extensa e bonita avenida, que do Aeroporto nos conduz à zona central de Bissau, via onde se encontram construídos alguns dos principais edifícios da cidade, como o Palácio do Governo, a Assembleia Nacional Popular e algumas embaixadas, a Sé Catedral e a zona de Santa Luzia, onde, em nossa opinião, se encontra o Hotel Azaalai, a melhor unidade hoteleira de Bissau.

Fora de Bissau, destacamos as grandiosas obras de engenharia das elegantes pontes sobre o Rio Mansoa, em João Landim (Ponte Amílcar Cabral) e a Ponte sobre o Rio Cacheu, em S.Vicente, entre as vilas de Bula e do Ingoré.

Em termos territoriais, destacamos a bonita cidade de Gabú (ex-Nova Lamego), situada no leste da Guiné-Bissau, já próxima da fronteira com o território da Guiné-Conakry e a pequena mas ainda alindada vila de Mansoa e talvez alguns pormenores da antiga bonita cidade Bafatá.


08 – AS RECORDAÇÕES POR MIM VIVIDAS

Consegui concretizar uma vontade que tinha em visitar terras que, em situações bem mais difíceis, vividas em anos de perigo permanente, e em que o cumprimento de rigorosa segurança tinha que obrigatoriamente ser a palavra de ordem, pois a situação que se viveu, entre os anos de 1963 e 1974, não permitia aventuras nem distracções ou descuidos, leva-me a afirmar com total conhecimento de causa que, em tempos da dita guerra colonial, seria quase impensável fazer as deslocações e visitas que fizemos.

Por outro lado, segurar a rebeldia de alguma juventude dos nossos militares e a atracção/convite que sobre eles faziam a juventude feminina local (vulgo “bajudas”), não eram tarefas fáceis de controlar, muitas vezes aliada à inexperiência de um cenário de guerra para a maioria desses militares, realidades que preocupavam, e de que maneira, a delicada missão de quem os tinha que comandar.

Embora já direccionado para ir comandar, como Capitão Miliciano, a Companhia de Caçadores n.º 17 (CCAÇ 17), sediada em Binar, foi-me determinado para ir comandar a 1.ª Companhia do Batalhão 8320/72 (BCAV 8320/72), cuja sede se localizava em Pete, situada a sul da estrada entre as localidades de Bula e Binar e a cerca de 6/7 quilómetros a nascente/sul da vila de Bula, cujo Comandante tinha sido castigado e mandado regressar à então designada metrópole, aguardando-se a sua substituição.

Cerca de dois meses depois e já colocado em Binar, por doença contraída pelo novo Comandante da .1ª Companhia do BCAV 8320/72, que o levou a ser internado no Hospital Militar de Bissau, fui solicitado para comandar de novo essa mesma companhia, que nessa altura tinha sido transferida para Nhamate, uma pequena povoação situada a nascente de Binar e a meia distância entre Binar e o destacamento do Biambe.

Saliento porque é de inteira justiça fazê-lo, tinha em Pete/Nhamate o Alferes Gatinho, de Lisboa, e em Binar o Alferes Teixeira, de Braga, que muito mais experientes que eu, me mereciam e demonstraram total confiança, e comandaram interinamente as tropas dos dois aquartelamentos (cerca de 140 homens em cada um deles), durante a minha temporária ausência, porque durante uns 3/4 meses andei a saltar de um lado para o outro, situação que me obrigava a ter casa/alojamento em cada um desses lugares, afastados cerca de 10 quilómetros uns dos outros, mas tudo correu pelo melhor, graças sobretudo à capacidade de liderança desses dois bons elementos.

Como referência negativa, sinto hoje talvez a culpa de ter acreditado demasiado nas palavras do Comandante Dick Daring do PAIGC, quando me afirmou, por diversas vezes, que os graduados guineenses que serviram de boa-fé o exército português, seriam reintegrados no novo exército da nova Guiné-Bissau.

Meses mais tarde, veio a confirmar-se ser falsa essa promessa, pois a maioria deles acabou fuzilada no antigo aquartelamento do Cumuré e na Fortaleza de S. José da Amura, lamentando-me não ter sido o suficiente convincente com os furriéis guineenses da minha CCAÇ 17, para que viessem para Portugal, porque, aqui sim, havia grandes possibilidades de continuar a integrar o exército português


09 – A POBREZA DE ALGUMAS DAS POVOAÇÕES VISITADAS

Em contrapartida, e tal como já referi no anterior ponto 06, deixou-nos algo desolados aquilo que que de negativo vimos e que não estávamos a contar ver.

Muita pobreza nalguns locais, é verdade, mas ficou-nos sobretudo na memória a pouca vontade da maioria dos naturais guineenses em procurar melhorar o seu nível de vida, trabalhando. Diz-se em Portugal que “trabalhar faz calos”, mas em muitas zonas da Guiné-Bissau vimos os homens à sombra das árvores ou de outros obstáculos que provocassem sombra, enquanto as mulheres e as crianças trabalhavam.

Sendo a Guiné-Bissau tão rica, desde que bem trabalhada, em áreas agrícolas como na cultura do arroz, na produção de mancarra (amendoim, em Portugal), na produção do cajú, na pesca do camarão e de variados peixes, na produção de mangas, entre outros, porque não aproveitam as potencialidades destes enormes recursos naturais que possuem?!


10 – OBSERVAÇÕES FINAIS

Consegui concretizar um desejo e uma vontade que tinha em visitar terras que, em situações bem mais difíceis, com a segurança a ser obrigatoriamente a palavra de ordem, e que em tempos da dita guerra colonial, seria quase impensável fazer.

Poderão então perguntar: Se foi um tempo perdido, cheio de incertezas e de sacrifícios, afastado da família, dos amigos e do seu ambiente natural, será que valeu a pena?

Apesar de tudo, creio que sim, pois trouxe-nos outra maturidade, um melhor sentir cá dentro aqueles a quem mais queremos, ao mesmo tempo que nos alertou e deu espaço temporal para pensar que a vida, em geral, não é fácil de seguir e de cumprir, que as metas pretendidas são difíceis de atingir e que as dificuldades nos podem surgir em qualquer dos percursos que possamos optar.

Um grande abraço amigo aos doze colegas que comigo partilharam estes nove dias de romagem de saudade e visita a terras da Guiné.

Aos meus familiares e amigos que ficaram, mas que de uma forma ou outra me acompanharam nesta odisseia africana, o meu obrigado a todos.

F I M 

António Acílio Azevedo
Leça da Palmeira
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Nota do editor

Postes anteriores da série de:

19 de Setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17779: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (1): 1.º Dia, a viagem de ida (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)

21 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17784: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (2): 2.º Dia, a cidade de Bissau (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)

27 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17802: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (3): 2.º Dia, a cidade de Bissau - continuação (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)

28 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17804: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (4): 3.º Dia: Bissau, Safim, Bula, Có, Pelundo, Canchungo, Bachile e Cacheu (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)

3 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17820: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (5): 4.º Dia: Bissau, Safim, Bula, Có, Pelundo, Canchungo, Bachile e Cacheu (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)

6 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17827: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (6): 5.º Dia: Bissau, Safim, Bula, Binar e Bissorã (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)

10 de outubro de 2017 >  Guiné 61/74 - P17844: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (7): 5.º Dia: Bissau, Safim, Bula, Binar e Bissorã (continuação) (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)

12 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17855: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (8): 6.º Dia: Bissau, Safim, Nhacra, Jugudul, Bambadinca, Bafatá e Gabu (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)

17 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17870: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (9): 7.º Dia: Bissau, Safim, Nhacra, Jugudul, Mansoa, Mansabá e Farim (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)

19 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17880: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (10): 8.º e 9.º Dias: Bissau e Regresso a Portugal (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17880: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (10): 8.º e 9.º Dias: Bissau e Regresso a Portugal (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)


1. Continuação da publicação das "Memórias Revividas" com a recente visita do nosso camarada António Acílio Azevedo (ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72, Bula e da CCAÇ 17, Binar, 1973/74) à Guiné-Bissau, trabalho que relata os momentos mais importantes dessa jornada de saudade àquele país irmão.

AS MINHAS MEMÓRIAS, REVIVIDAS COM A VISITA QUE EFECTUEI À GUINÉ-BISSAU ENTRE OS DIAS 30 DE MARÇO E 7 DE ABRIL DE 2017

AS DESLOCAÇÕES PELO INTERIOR DA GUINÉ-BISSAU (10)

8º DIA: DIA 06 DE ABRIL 2017 – CIDADE DE BISSAU 

Depois de um sarau agradável com o grupo das médicas e enfermeira italianas que tínhamos conhecido na Praia Varela e que connosco vieram jantar e conviver no restaurante do Aparthotel Machado, descansámos a que seria a última noite que passaríamos na Guiné-Bissau, já que cerca da meia-noite do dia seguinte, teríamos o embarque que, de regresso, nos traria de volta ao rincão lusitano.

Bem dormidos e com o pequeno-almoço tomado, eis-nos de jeep em direcção ao centro da cidade de Bissau, onde havíamos decidido passar o último dia em terras guineenses.
Conforme havido sido já de véspera preparado, através do nosso colega João Rebola e com a preciosa colaboração dum nosso comum amigo médico da Guiné-Bissau, tivemos pelas onze horas da manhã, um encontro informal com o Senhor Presidente da República da Guiné-Bissau, Dr. José Mário Vaz, que amavelmente acedeu em receber-nos, o que para nós foi uma honra.

Esse médico, de nome João Maria Goudiaby, presta serviço no Hospital Padre Américo, em Penafiel, e é já nosso bem conhecido, pois, sempre que pode, aparece nos almoços/convívios semanais que os antigos militares que combateram na Guiné, entre os anos de 1963 e 1974, realizam todas as quartas-feiras, no Restaurante Milho Rei, em Matosinhos, sendo, nada mais, nada menos, que cunhado do actual Presidente da República da Guiné-Bissau.

O Senhor Presidente teve o gesto amável de nos receber no seu gabinete da Presidência da República na manhã deste dia e que, sabendo, naturalmente pelo cunhado, daquilo que se estava a passar com o contentor, nos prometeu ultrapassar com a maior brevidade possível a desagradável e pouco clara situação do contentor cativo, porque, no mínimo e para o levantarmos era preciso pagar cerca de 2.500,00 € de taxas de armazenagem!!!

Permitam-me salientar que este grupo de antigos colegas militares, unidos por fortes sentimentos ao povo da Guiné-Bissau, com quem conviveram, constituíram, há já alguns anos a “Tabanca Pequena – Tertúlia de Matosinhos”, de onde nasceu a criação de uma ONG que tem apoiado a população guineense, com material diverso, mas maioritariamente direccionado para as áreas da saúde e da educação, sem descurar outras, onde se descubram maiores carências.


Foto 116 - Bissau: Foto obtida no hall de entrada do Palácio Presidencial, na companhia de Sua Ex.ª o Sr. Presidente da República da Guiné-Bissau, Dr. José Mário Vaz, que teve a gentileza de nos receber. Na imagem os colegas: Rodrigo, Cancela, Isidro, Monteiro, Moutinho, Azevedo, Angelino, Barbosa, Vitorino, Leite Rodrigues e Rebola. Foi pena a claridade do local, pois não permitiu que os colegas da parte esquerda da foto ficassem muito visíveis

Foto: Com a devida vénia a CONOSABA.BLOGSPOT.PT


Foto 117 - Bissau: Rua lateral poente ao Palácio da Presidência da República, vendo-se em toda a sua extensão o gradeamento de segurança do espaço presidencial 


Foto 118 - Bissau: Depois do encontro com o Sr. Presidente da República da Guiné-Bissau, os elementos do nosso grupo dirigem-se para junto da Confeitaria Império, onde os nossos jeeps nos esperavam


Foto 119 - Bissau: Os colegas Monteiro, Vitorino, Ferreira e Moutinho, nas instalações da Delegação da TAP Air Portugal, a confirmarem o voo de regresso a Portugal 


Foto 120 - Bissau: Foto da muralha exterior da Fortaleza de S. José da Amura 


Foto 121 - Bissau: Outra foto obtida do exterior da muralha da Fortaleza de S. José da Amura, onde se vêm algumas construções no seu interior, mas que não nos autorizaram a visitar… talvez porque “receassem” que “violássemos” o mausoléu de Amílcar Cabral, que parece lá existir?! Algo inacreditável… 


Foto 122 - Bissau: Visita de cortesia que o colega Vitorino fez à família de um amigo e que eu e o Ferreira acompanhamos 


Foto 123 - Bissau: Almoço do grupo no último dia, no Restaurante Coimbra, localizado ao lado da Catedral 


Foto 124 - Bissau: Sé Catedral, localizada na avenida que do Palácio do Presidente da República nos leva ao Rio Geba 


Foto 125 - Bissau: Um dos talhões do Cemitério da cidade, em cujas campas ficaram sepultados muitos militares portugueses que faleceram na Guiné. Fomos lá prestar-lhes uma sentida homenagem


Foto 126 - Bissau: Um último convívio na sala do restaurante do Aparthotel Machado, antes de nos dirigirmos para o aeroporto, a fim de regressarmos a Portugal


Foto 127 - Bissau: Os colegas Monteiro, Isidro, Vitorino, Barbosa, Rebola e Cancela, já de malas preparadas para deixarmos o Aparthotel Machado e nos dirigirmos ao Aeroporto de Bissau, para o nosso regresso a Portugal


Foto 128 - Bissau: A D. Teresa, esposa do senhor Manuel Machado e a Adelaide, filhita de ambos, ao despedirem-se de nós, quando arrancámos em direcção ao Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, para o nosso regresso 


Foto 129 - Bissau: Uma das últimas fotos de convívio no Restaurante do Aparthotel Machado, de quase todos os colegas que visitaram a Guiné (faltam aqui o Ferreira e o Angelino), acompanhados do guineense Djalló


Foto 130 - Bissau: Já no interior do Aeroporto, e aguardando o embarque, cá estão, o Ferreira, o Vitorino, o Leite Rodrigues, o Rebola, o Isidro, o Azevedo, o Monteiro e o Cancela, numa imagem final 

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9.º DIA - DIA 07 DE ABRIL 2007: O NOSSO REGRESSO A PORTUGAL

Com partida marcada para as 23,55 horas do dia 06 de Abril, e já com as malas preparadas para o regresso ao Continente Europeu, fizemos a última refeição no restaurante do Aparthotel Machado. Cerca das 22,00 horas, e feitas as despedidas do simpático Casal Teresa e Manuel Machado e da sua filhita Adelaide, bem como das 3 empregadas que com eles trabalhavam no Aparthotel, os 10 colegas, Ferreira, Vitorino, Leite Rodrigues, Rebola, Isidro, Azevedo, Monteiro, Cancela, Barbosa e Angelino, que deixavam a Guiné-Bissau, dirigiram-se para os jeeps que aguardava à porta do Aparthotel para os conduzir ao Aeroporto de Bissau, ali bem próximo.

Como curiosidade o facto de, dos 13 colegas que embarcaram comigo para a Guiné-Bissau no dia 30 de Março, ficaram lá mais uma semana o Moutinho, o Rodrigo e o Samouco, aos quais se juntaram outros 9 colegas que viajaram no mesmo avião da “Star Alliance”, que nos trouxe de regresso.

Com um “Adeus Guiné”, viemos talvez “mais ricos”, não só porque cumprimos com êxito a missão a que nos tínhamos proposto levar a efeito, mas sobretudo, porque tudo correu dentro do previsto e em segurança total para todos nós.

A viagem teve a duração de cerca de 4 horas e 15 minutos, feita sempre durante a noite, mas deu perfeitamente para dormir uns bons bocados, pois dos 162 lugares que o avião comportava, três de cada lado do corredor, cerca de 20 vinham vazios na parte traseira do avião, o que permitiu a algumas pessoas poderem “passar pelas brasas”, largos minutos.

Tal como na ida, também feita, grande parte durante a noite, foi-nos servida, cerca das 2 horas da madrugada, uma ligeira refeição.

Após uma viagem perfeitamente calma, aterrámos no Aeroporto de Lisboa, cerca das 5 horas e 15 minutos da madrugada, tomámos pelas 7 horas o pequeno-almoço, após o que nos dirigimos para a sala de embarque, ficando a aguardar a ligação para o Porto, o que aconteceria só cerca das 8 horas e quarenta minutos da manhã, tendo o avião com cerca de 70 lugares, feito uma calma viagem, acabando por aterrar no Aeroporto de Pedras Rubras cerca de 1 hora depois, tendo sobrevoando quase sempre a costa ocidental portuguesa, a baixa altitude e num dia sem nuvens, local onde a Maria Gabriela me esperava para o regresso a casa.

Fotos: © A. Acílio Azevedo, excepto as cujos autores e proveniência foram devidamente indicados

(Continua)
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Nota do editor CV

Último poste da série de 17 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17870: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (9): 7.º Dia: Bissau, Safim, Nhacra, Jugudul, Mansoa, Mansabá e Farim (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17870: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (9): 7.º Dia: Bissau, Safim, Nhacra, Jugudul, Mansoa, Mansabá e Farim (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)


1. Continuação da publicação das "Memórias Revividas" com a recente visita do nosso camarada António Acílio Azevedo (ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72, Bula e da CCAÇ 17, Binar, 1973/74) à Guiné-Bissau, trabalho que relata os momentos mais importantes dessa jornada de saudade àquele país irmão.

AS MINHAS MEMÓRIAS, REVIVIDAS COM A VISITA QUE EFECTUEI À GUINÉ-BISSAU ENTRE OS DIAS 30 DE MARÇO E 7 DE ABRIL DE 2017

AS DESLOCAÇÕES PELO INTERIOR DA GUINÉ-BISSAU (9)

7.º DIA: DIA 05 DE ABRIL 2017 - BISSAU, SAFIM, NHACRA, JUGUDUL, MANSOA, MANSABÁ E FARIM


Depois de concluída a visita a terras de Bafatá e de Gabú e após uma calma viagem, regressarmos à nossa base, (Aparthotel Machado, em Bissau), para um bom necessário e refrescante banho, um bom jantar e mais uma boa dormida), acordámos no dia seguinte bem dispostos para nova aventura guineense, que neste sexto dia nos esperava.

Como pessoas conscientes que somos, não podíamos porém esquecer outros compromissos que o nosso grupo tinha assumido, antes da partida de Portugal, e que se relacionava com o já constante a folhas 10 do presente texto.

Assim e embora nos parecesse tudo já previamente combinado, e na presença dos nossos colegas Moutinho e Leite Rodrigues, o responsável da Alfândega de Bissau mandou chamar, na manhã dessa quarta-feira, dia 05 de Abril, esse tal agente (?!) que, logo de imediato apresentou a documentação em falta, afirmando que a mesma se encontrava numa das gavetas da sua secretária, mas que não tinha aparecido ninguém para levantar o contentor, o que se provou não ser verdade, porque ele próprio seria o representante legal do destinatário desse material escolar.

Antes de sairmos para mais um dia de visitas, fomos informados pelo nosso amigo, Dr. João Maria Goudiaby, médico no Hospital Padre Américo, em Penafiel e cunhado de sua Ex.ª o Senhor Presidente da República da Guiné-Bissau, Dr. José Mário Vaz, mas também amigo da maioria dos membros da Tabanca Pequena de Matosinhos, a que pertencemos e que prestaram serviço militar na Guiné-Bissau entre os anos de 1963 e 1974, que nos informou que pelas 11 horas da manhã do dia seguinte,  e em puro acto de cortesia, o Senhor Presidente da República ia ter a atenção de nos receber no seu Gabinete da Presidência, em Bissau.

Ficámos a aguardar a boa-vontade expressa pelo Senhor Presidente da República da Guiné-Bissau, em nos receber, pois para além dessa muito honrosa cortesia, nos permitiria, talvez, tentar expor a situação sobre um contentor que se encontra retido no Porto de Bissau, desde princípios de Novembro de 2016, visando a sua justa e oportuna intervenção, já que no interior do já referido contentor existem materiais e equipamentos oferecidos por entidades e muita gente anónima de Portugal, para ser entregue a escolas e outros serviços da área do ensino da Guiné-Bissau.

Assim e procurando manter o nosso programa de visitas, e com um bom pequeno almoço ingerido, cada grupo tomou lugar no seu habitual jeep, com destino às terras ou zonas que pretendiam visitar.
Neste dia e para o meu grupo de quatro colegas, no qual eu me integrava, iniciou a deslocação para a zona de Mansoa, para a partir daí seguir viagem até às localidades de Mansabá e Farim, localizadas na parte nordeste do território da Guiné- Bissau, com esta última a não ficar já não muito longe do território vizinho do Senegal.

Estrada plana, com longas rectas e um óptimo pavimento, que segundo nos informaram foi custeado pelo Senegal, visando um melhor escoamento das mercadorias produzidos naquela zona de fronteira, através do porto guineense de Bissau.

Com uma breve paragem no posto de abastecimento de Jugudul, para abastecimento de combustível, avançamos em direcção à vila de Mansabá, onde nos detivemos algum tempo antes de nos dirigirmos para Farim, pois pretendíamos ficar com uma ideia em como se encontrava esta povoação localizada num ponto importante de ligação rodoviária entre Bissau, o leste e o nordeste da Guiné-Bissau.

Ficámos muito impressionados, pela negativa, pelo aspecto de quase total abandono em que se encontra Mansabá, chamando-nos particular atenção o estado totalmente arruinado em que se encontram as instalações do nosso antigo aquartelamento sediado naquela antiga vila da Guiné, mas o mesmo se pode afirmar das habitações locais e dos próprios arruamentos que serviam a localidade, apenas escapando a esse “tornado”, a nova e boa estrada que de Mansoa se dirige a Farim e que num itinerário novo, contorna a antiga povoação.

Para uma melhor demonstração do que exponho, junto duas fotos, uma antiga e outra actual do que existia e do que agora nos ainda oferece a antiga vila de Mansabá. Sem mais comentários, porque não se compreende como as autoridades locais e nacionais deixaram cair Mansabá para um estado de quase total abandono, como tivemos oportunidade de confirmar, mas o mesmo, ou pouco melhor, se pode afirmar da antiga cidade de Farim.


Foto 94 - Mansabá (Guiné-Bissau): Antiga imagem da Vila, com as instalações militares na parte superior da fotografia 

Foto: © Carlos Vinhal  


Foto 95 - Mansabá (Guiné-Bissau): Imagem da talvez melhor rua e zona habitacional que encontramos em Mansabá http://mapio.net/pic/p-3525451/ 

Concluída a passagem por esta pobre e muito abandonada povoação, deixámos para trás a antiga vila de Mansabá, continuando a percorrer a bem asfaltada e ampla estrada que nos iria conduzir a Farim, situada na margem direita do Rio com o mesmo nome e que por inexistência de uma ponte, teríamos que atravessar a bordo de uma pequena jangada.

Durante o trajecto que liga Mansabá a Farim, despertou-nos a atenção o facto de vermos à margem da estrada e em locais mais abertos de vegetação, uns pequenos montículos que, em princípio me pareciam pequenas pedras, mas que, depois de efectuarmos uma breve paragem, constatámos serem montículos de terra, construídos pelas formigas bagabaga.

Antes de atingirmos as margens do Rio Farim e numa recta bastante grande, passamos no lugar mítico e muito perigoso, do tempo da guerra colonial, designado por K3, assim conhecido por se localizar a 3 quilómetros de Farim, e que era um local onde, além deste itinerário principal, se cruzavam outros, como era o caso do “corredor” do Olossato e Bissorã, bem como o da mata do Morés, ocupada pelo PAIGC, logo zona de interesses estratégicos comuns às duas partes envolvidas nessa guerra.

Percorridos esses três quilómetros, chegámos à margem esquerda do Rio Farim, onde aguardámos que chegasse a pequena barcaça/jangada que fazia a ligação entre as duas margens do rio, que ali tem uma largura de cerca de 150 metros, mas que apenas tem capacidade para o transporte de uma viatura de cada vez e mais ou menos 20 pessoas. Tivemos “sorte” quando ali chegámos, porque passámos para Farim logo de seguida, embora houvesse no local outros veículos para também fazerem a travessia do rio.

Como apontamento adicional, refiro que a maioria da população que faz a travessia de uma para a outra margem, utiliza pirogas que são embarcações estreitas, mas compridas e apetrechadas com motores fora de borda e com coletes de salvação, conforme o demonstra uma das fotos seguintes e que são construídas a partir de troncos de madeira, que são escavados e que têm uma capacidade entre 8 a 10 passageiros, mas que também transporta bicicletas, motorizadas e pequenas bagagens.


Foto 96 - Estrada Mansoa–Mansabá (Guiné Bissau): Terrenos junto à estrada, onde se vêm pequenos montes de terra, construídos pelas formigas bagabaga pretas (termiteiras em cogumelo)  

Foto: https://1.bp.blogspot.com/-y7AoF-IerJY/To7cHS8iEjI/AAAAAAAAh2o/2IlAFZ-WxlM/s1600/Guine_2006_Mansaba_HC_12+189.jpg 


Foto 97 - Farim (Guiné-Bissau): Os colegas Barbosa, Monteiro e Angelino na zona do famoso K3, que comigo estavam a aguardar embarque de jangada para Farim



Foto 98 - Farim (Guiné-Bissau): Piroga, transporte típico na travessia do Rio Farim entre K3 e Farim, que até motorizadas leva


Foto 99 - Farim (Guiné-Bissau): Chefe da Alfândega de Farim 


Foto 100 - Farim (Guiné-Bissau): Travessia em jangada de Farim para o K3, vendo-se o nosso jeep a meu lado 

Desembarcados em Farim, ficámos de imediato decepcionados com a degradação que a antiga cidade do leste da Guiné apresentava, pois além das ruas se apresentarem sem sinais de asfalto, todas em terra, poeirentas e cheias de buracos, mostrava um conjunto de antigos edifícios coloniais, todos eles muito degradados, que nos mostravam uma realidade de pobreza e abandono, daquela gente que ali vive.

A pé percorremos algumas dessas ruas, começando por atravessar o antigo parque público, onde ainda são ainda visíveis bancos em cimento para descanso das pessoas e vestígios do que terá sido um belo jardim, com diversos canteiros onde terão existido bonitas flores e pequenos arbustos que o embelezavam.

Vimos um espaço cimentado e ainda, em parte, vedado, que terá sido um local onde se terão praticado algumas modalidades desportivas, como o futsal, naquele tempo designado por futebol de cinco, o voleibol, o andebol e o ténis, mas que actualmente são apenas vestígios de equipamentos de uma época, que as autoridades de Farim e/ou os seus habitantes, não conseguiram conservar e manter.
Um edifício ao lado deste parque mostra-se ainda o que terá sido um hotel e onde é também bem visível uma antiga piscina, completamente abandonada.

Não vimos um único restaurante e lojas comerciais, apenas nos foi despertada a atenção para um edifício, relativamente moderno, onde funciona um talho e duas pequenas lojas de comércio local. No largo central e nas ruas que para lá convergem, ainda tivemos oportunidade de verificar a existência de pequenos armazéns e de algumas lojas destinadas à alfaiataria e à reparação e venda de bicicletas e respectivos acessórios, muito pouco para uma cidade que na época colonial chegou a viver com algum conforto, em que os habitantes se sentiam bem e onde havia espaços de divertimento e de lazer, mas tudo mudou e para pior.

Algumas ruas largas, tipo avenidas e com postes de iluminação na sua zona central, mas que, ao que nos disseram, não dão luz há muitos anos, são outros pontos que referenciam, pela negativa, a cidade de Farim, levando ao ponto de alguns dos actuais residentes nos afirmarem, com toda a convicção, que estão muito piores agora do que quando estavam lá as tropas portuguesas.


Foto 101 - Farim (Guiné-Bissau): Foto antiga da marginal da cidade, vendo-se à direita da imagem o tal antigo parque público de lazer e passeio e onde nos anos 70, se passeava e praticava desporto 

Foto: http://trip-suggest.com/guinea-bissau/guinea-bissau-general/bissilao/ 


Foto 102 - Farim (Guiné-Bissau): A travessia na jangada, com a actual Farim já ali próxima  

Foto: http://www.odemocratagb.com/duas-novas-pontes-e-estrada-para-sul-sao-prioridade-do-governo-da-guine-bissau/ 


Foto 103 - Farim (Guiné-Bissau): Antiga foto do parque público, vendo-se, a meio, o recinto desportivo e por trás dele o edifício do cinema, com a piscina a localizar-se entre estes dois espaços 


Foto 104 - Farim (Guiné-Bissau): Foto actual do monumento colonial, alusivo ao V Centenário da morte do Infante D. Henrique e que ainda se apresenta em bom estado de conservação. Ao lado e espalhados pelo antigo parque público, podem ver-se, pintados de azul, alguns dos bancos de cimento, ainda ali existentes 

Foto: © Fernando Inácio (2007). Direitos reservados. 


Foto 105 - Farim (Guiné-Bissau): Embora designada como Rua dos Alfaiates, nela só encontramos esta pequena amostra 

Foto: © Patrício Ribeiro (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


Foto 106 - Farim (Guiné-Bissau): Imagem actual das instalações do nosso antigo quartel

Embora tivéssemos connosco o jeep que nos havia transportado até Farim, decidimos fazer um passeio a pé por algumas das ruas desta pobre cidade, ficando com a desagradável sensação de sentir as carências da sua população, apoiado no meu conhecimento que tinha sobre Farim, há cerca de 43/44 anos, e das realidades que agora se observavam e sentiam.

Passámos pelo pequeno edifício da Alfândega local, onde encontramos à porta o responsável daquele posto aduaneiro e com o qual eu troquei alguns minutos de conversa, sobretudo inquirindo sobre o movimento de mercadorias que actualmente são ali controladas.

Talvez não esperando a questão que apresentei, este responsável defendeu-se o melhor que pôde, procurando explicar-me que faziam o controlo das mercadorias que vinham do vizinho Senegal, para serem exportadas pelo porto de Bissau.

Foi evidente um certo nervosismo quando, de seguida, também lhe perguntei:
- Mas se não existe aqui nenhuma ponte para atravessar o rio e a jangada ser pequena e só levar uma viatura ligeira em cada travessia, como é possível dar resposta a esse movimento de mercadorias que me fala?!

Riu-se e não fez qualquer comentário.

Como não víamos qualquer local para almoçarmos, decidimos telefonar aos colegas de outros dois jeeps que tinham ficado pela zona de Mansoa, a fim de algum deles num indicar uma casa para esse fim.

Em boa hora telefonámos, porque esse grupo que se fazia acompanhar do senhor Djalló, proprietário da empresa dos jeeps em que andávamos, encontrava-se num Hotel Rural, na localidade de Uaque, próximo de Mansoa, onde iriam almoçar e convidaram-nos para esse mesmo almoço.

Estávamos porém a cerca de 120 quilómetros para leste de Mansoa, mas mesmo assim e como a estrada entre Farim e Mansoa era sempre plana e se apresentava com bom piso, decidimos vir para Uaque, onde chegámos cerca das 13,30 horas, mas ainda a tempo de participarmos na churrascada que tinham mandado preparar e que depois comemos à sombra de um redondel coberto com paus e ramos de palmeira.

Terminada a refeição, tivemos oportunidade de efectuarmos uma visita pelo espaço, onde além dos edifícios tradicionais também ali se localizavam salas de jantar e bares, existindo no exterior e isoladas umas das outras, cerca de 15 construções redondas, do tipo “bungalows”, cada um com duas camas e casa de banho privativa.

Na zona central do empreendimento, num grande edifício, funciona a zona da recepção, mas também possui áreas para a realização de conferências e seminários, tudo isto envolvido numa grande mancha verde de vegetação, com muitas palmeiras e outras árvores.


Foto 107 - Hotel Rural “Uaque”: Espaço turístico, localizado entre Mansoa e Jugudul, onde almoçámos, no regresso a Bissau. Começando pelo Djalló, proprietário dos jeeps, vêm-se, sentados à mesa, os colegas Barbosa, Angelino, Leite Rodrigues Rebola, Isidro e Ferreira


Foto 108 - Hotel Rural “Uaque” (Guiné-Bissau): Outra foto do mesmo local onde almoçámos, em que apareço eu, vendo-se de frente o Djalló e de costas os colegas Samouco e Vitorino e um pouco da careca do Moutinho


Foto 109 - Hotel Rural “Uaque” (Guiné-Bissau): Outra foto do almoço, onde à direita aparece o Isidro, o Rebola, o Leite Rodrigues, o Barbosa, o Djalló e ao fundo eu e o Moutinho e do lado esquerdo, o Cancela e o Rodrigo


Foto 110 - Hotel Rural “Uaque” (Guiné-Bissau): “Bungalows” existentes no interior do espaço do empreendimento

Depois de uma manhã bem preenchida por terras do interior leste da Guiné-Bissau, que apesar da evidente pobreza que verificámos existir, principalmente em Mansabá e Farim, gostámos de visitar, a manhã terminou com um bom almoço e um salutar convívio no empreendimento turístico Hotel Rural de Uaque, onde depois passámos uma parte da tarde, conversando, descansando e protegendo-nos um pouco do forte calor que se fazia sentir a esta hora do dia, não sem que antes de partir em direcção a Bissau, fizéssemos uma visita guiada às óptimas instalações deste novo empreendimento, que, pelo que vimos continua a expandir-se.

No decorrer da conversa, ficamos a saber que a sociedade que explora este espaço é também proprietária do agradável complexo da Pousada do Saltinho, situado junto à ponte com o mesmo nome, construída sobre o Rio Corubal, já a caminho da fronteira sul com a Guiné-Conakry, local que desta vez não me foi possível visitar por falta de tempo, e que desenvolve diversas actividades de entretenimento, como jornadas dedicadas à caça e à pesca, bem como caminhadas.

Ficará para uma próxima oportunidade, já que é um lugar muito bonito e aprazível, referenciado positivamente pelas designadas “corredeiras”, que mais não são que pequenas quedas de água existentes junto à ponte sobre o Rio Corubal, mas que toda a gente conhece como os “Rápidos do Saltinho“, nome este que tem origem no facto de as diferenças entre os diversos níveis de água serem pequenas, e que é um local onde, mesmo no tempo da guerra colonial, o pessoal militar gostava de tomar umas boas banhocas, já que apesar da corrente do rio, a profundidade das águas, é relativamente baixa.

Pelo que eu conheci e pelo que me transmitiram os colegas que agora lá foram, o Saltinho continua a ser um lugar paradisíaco, com o mesmo encanto, sendo um espaço que valerá bem a pena visitar.

Passados estes mais que 40 anos, a sensação de o visitar é naturalmente bem diferente, a segurança é total e sentimo-nos perfeitamente à vontade aqui, como em qualquer outra zona da Guiné-Bissau, onde como já foi por mim referido, fomos sempre bem acolhidos.

Depois de um dia bem passado e já com o final da tarde a aproximar-se, regressámos à nossa base em Bissau, sediada no Aparthotel Machado, para tomarmos um refrescante duche e depois jantarmos, desta vez com a companhia das 5 médicas e a enfermeira italianas, que “desenrascámos” dias antes na Praia Varela e que tinham mostrado vontade em vir confraternizar connosco.


Foto 111 - Saltinho (Guiné-Bissau): Uma das imagens de marca de quem se desloca ao Saltinho e aproveita este espectacular cenário para tomar uma banhoca, nas águas do Rio Corubal. Para mim, a visita ficará para uma próxima oportunidade, já que é um lugar lindo e encantador 

Foto: © Hugo Costa / Albano Costa (2006). Todos os direitos reservados


Foto 112 - Saltinho (Guiné-Bissau): Como lembrança do local, cá fica uma bela imagem da ponte em betão sobre o Rio Corubal  

Foto: http://www.povonalu.com/gbterradeoportunidades/


Foto 113 - Saltinho (Guiné-Bissau): Foto dum local já mais perigoso dos “Rápidos do Saltinho”, pois a corrente era mais forte  

Foto: https://www.youtube.com/watch?v=J_nfDEPhOBE


Foto 114 - Bissau: Sentados à mesa do Aparthotel Machado, ao fim da tarde, e bebendo umas cervejas, encontra-se o Azevedo, o Vitorino, o Barbosa, o Angelino, o Rodrigo, o Isidro e de costas o Samouco


Foto 115 - Bissau: À mesa do Restaurante do Aparthotel Machado, no início do jantar com as cinco médicas italianas de Udine, que se encontravam a fazer voluntariado numa clínica hospitalar de Bissau. Recordo que as encontrámos e safámos de ficar com a carrinha Toyota em que se faziam transportar, presas nas areias da Praia Varela

Fotos: © A. Acílio Azevedo, excepto as cujos autores e proveniência foram devidamente indicados

(Continua)
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Nota do editor CV

Último poste da série de 12 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17855: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (8): 6.º Dia: Bissau, Safim, Nhacra, Jugudul, Bambadinca, Bafatá e Gabu (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)