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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P23006: Adeus, Fajonquito (Cherno Baldé) - IV (e Última) Parte: Cuntima, 16 e 17 de novembro de 1976: terror e violência de Estado, a execução sumária e pública de antigos milícias, "cães dos colonialistas", por ordem do famigerado comandante das FARP Quemo Mané


Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Aspeto geral da povoação. Na sua maioria a população era de etnia Fula, de religião muçulmana; havia uma pequena minoria Mandinga.


Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > "Cuntima: reservatórios de água, as duas professoras ao fundo e a casa do agente da PIDE/DGS", Fotos do álbum do ex-1º cabo Vitor Silva, membro da Tabanca Grande desde 2007 (*)


Fotos (e legendas): © Vitor Silva (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementa: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região do Óio > Sector de Farim> Cuntima > 2016 > Restos do antigo quartel das NT


Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Ao tempo da guerra colonial, Cuntima, junto à fronteira com o Senegal,  era um ponto importante para a segurança da província, Tinha um pelotão de artilhar,com três obuses 14, além de uma unidade de quadrícula, e agência da PIDE/DGS.  Há mais de sessenta referência no blogue sobre Cuntima.

Quem esteve em Cuntima foi o então capitão de infantaria Vasco Lourenço, hoje cor inf ref (CCAÇ 2549, Cuntima e Farim, julho de 1969/junho de 1971).

Refira-se ainda, e por fim, que Cuntima, dois anos depois da independência da Guiné-Bissau, em novembro de 1976, foi palco de cenas de terror e violência de Estado, a execução sumária e pública de antigos milícias que tinham estado ao serviço do Exército Português,  por ordem do famigerado comandante Quemo Mané, cenas essas aqui já reconstituídas num poste memorável e corajoso do nosso amigo Cherno Baldé (***)

Esse  poste merece ser lido e relido ainda hoje: na altura, em 2013, o poste  teve cerca de meia centena de comentários e causou emoção nos leitores do nosso blogue,  até pela coragem, física e moral, do Cherno Baldé. que nos deu o OK para a pubicação  do seu texto, tranquilizando-nos: "Eu já vivi o suficiente para não continuar fechado no medo de possíveis represálias". 

Em todo o caso, o Quemo Mané já tinha morrido, muitos anos  antes ( em 1985, em Moscovo, segundo informação do nosso amigo e camarada Carlos Silva, tendo os seus restos mortais sido trasladados para a Guiné-Bissau, e tendo sido sepultado na sua aldeia natal, nma tabanca para os lados de S João, sector de Tite, região de Quínara). Acrescente-se que há poucas referências na Net sobre este homem sinistro: o liceu regional de Mansoa tem o seu nome... Tem várias referências no Arquivo Amílcar Cabral, alojado no portal Casa Comum da Fundação Mário Soares.

Voltamos  a reproduzir este poste, parcialmente, na série "Adeus, Fajonquito" (****). Mas o relato dos acontecimentos vai integral: o Cherno Baldé não presenciou estes factos, mas reconstituiu o relato, oral,  de uma das testemunhas, o Demburri Seidi (nome fictício) (3).

Em 1975, o "Chico" já estava em Bafatá, a frequentar o ciclo preparatório e o liceu. Nâo guarda boas recordações desse tempo... Em setembro de 1979, rumaria depois para Bissau onde prosseguiu os seus estudos. "Do grupo de mais de cinquenta estudantes que com ele tinham vindo de Fajonquito e Contuboel, já não restavam, na corrida, mais do que cinco"..

Depois, em 1986, já com 26 ou 27 anos, consegue a tão almejada bolsa de estudo para poder frequentar a universidade no estrangeiro. Por azar, calhou-lhe a URSS. Foi parar à Moldávia e depois à Ucrânia, Licenciou-se em economia pela Universidade de Kiev. Regressou da URSS, em 1990, já depois da queda do muro de Berlim... Faria ainda  uma pós-graduação no ISCTE, Lisboa, em 1992/94, já casado com Geralda Santos Rocha, natural de Bissau, de origem nalu (e, tanto quanto sabemos, cristã). O casal, ecuménico, tem 4 filhos, um deles já formado em Engenharia de Energias (pela UNILAB- Universidade Internacional Lusofona Afro-Brasileira, estado de Ceará, Brasil).

Mas voltemos a novembro de 1976... e a Cuntima, na fronteira com o Senegal, a noroeste de Fajonquito (distância: cerca de 60 km), ambas as povoações fazendo parte da carta de Colina do Norte (1956), escala 1/50 mil.

Este relato do Cherno Baldé pode bem ser o último adeus a Fajonquito (****), à sua terra natal ... Vamos omitir aqui o seu extenso preâmbulo e a troca de correspondência com o autor com o editor (***) e dizer apenas, sobre o contexto, que a Guiné-Bissau tinha acabado de celebrar o 2º ano da sua independência (1):


(...) "Em Cuntima, pequeno aglomerado fronteiriço que tinha sobrevivido à guerra de fronteiras de 1973, nada fazia prever que nos dias seguintes seria o palco de acontecimentos que iriam marcar o período pós-colonial e perturbar a pacata vida da aldeia e suas gentes. A região vivia a despedida da época das chuvas e nas áreas alagadas de cultura de arroz, as premissas de uma boa colheita que se avizinhava já se faziam sentir pelo cheiro aromático do arroz novo e pela cor amarelada dos campos a perder de vista nas extensas planícies de terras baixas, rodeadas de verdes cinturas de palmeiras dendém. Com o fim da guerra as aldeias tinham sido repovoadas, todas as bolanhas tinham sido recuperadas e parecia não haver limites para criar a prosperidade tão almejada e recuperar o tempo perdido. Mas, nem todos pensavam assim, helás!" (...)

Adeus, Fajonquito  (Cherno Baldé) - IV (e Última) Parte 


(ix) Cuntima: dia 14 de Novembro de 1976, o ataque ao quartel,
ódio, coragem e perfídia


Na noite do dia 14 de Novembro de 1976, um grupo constituido maioritariamente por ex-milicias, cegos de raiva e de ódio, mas muito mal equipados, cujo material bélico se resumia em catanas de uso doméstico, facas de mato e algumas granadas, apostando no efeito surpresa, decide atacar e neutralizar o destacamento militar do PAIGC colocado em Cuntima.

Ao entrarem na aldeia, uma parte dirige-se para a casa de Sissão Seidi, uma decisão que será fatal a este pacífico aldeão que era colega de alguns dos elementos do grupo. Põem-no ao corrente das suas intenções, isto é,  atacar e neutralizar os homens do PAIGC e, de seguida, com as armas que iriam recuperar, liquidar todos os que, na aldeia e seus arredores, colaboravam com o partido.

Quando o grupo deixa a casa para dirigir-se ao seu alvo, o Sissão vai a casa do Comité da tabanca e, em segredo, conta-lhe tudo o que tinha ouvido dos assaltantes. O Comité apercebe-se de toda a gravidade da situação e sabe que não pode perder tempo, rapidamente, decide passar para o outro lado da fronteira, situada mesmo ao lado, levando consigo a sua família, mas antes de partir informa o incrédulo Sissão de que só voltaria em caso de derrota dos assaltantes.

O grupo aproximou-se em silêncio, encoberto pela escuridão da noite, consegue eliminar a sentinela e penetrar no interior do quartel, apanhando de surpresa os seus ocupantes. Os guerrilheiros do PAIGC reagem bem à investida, refeitos da surpresa inicial e melhor armados, obrigam os assaltantes a bater em retirada de uma forma dispersa e desorganizada. De acordo com a testemunha, o ataque teria durado cerca de 3 horas o que, manifestamente, parece exagerado, tendo em conta a disparidade das forças em presença.

O dia começa a amanhecer e os primeiros raios de sol começam a pintar de amarelo o horizonte claro do fim da época chuvosa. E, nas horas que se seguiram à retirada, alguns elementos do grupo assaltante entram, de novo, na morança de um antigo colega, também ex-militar, impelidos talvez pelo desejo de implicar o maior número de pessoas e convencem-no, desavergonhadamente, que já tinham feito o essencial do serviço, mas que, sem munições suficientes, não conseguiram limpar todos, pelo que, se ele tivesse uma catana bem afiada e um pouco de coragem,  podia ir dar o golpe de misericórdia aos feridos que estavam amontoados no quartel. Sem pensar duas vezes e empurrado pelo ódio que nutria pelos novos senhores, o homem não hesitou e com uma catana nas mãos correu para o local indicado, sem saber que se tratava de uma armadilha para o perder.

Quando chega ao quartel, encontra os guerrilheiros a porta da entrada, armados até aos dentes. O que fazer? Recuar? Tarde demais, ele precisa pensar rapidamente numa saida. Com as akas [, Kalashnikov,] apontadas, perguntam-lhe o que procurava ali aquela hora. O homem responde que vinha a procura de ajuda para socorrer um filho que tinha sido mordido por um cão vadio. Parece uma saída razoável, mas não será. Os guerrilheiros estão apressados, pedem a sua identificação e informam-lhe que no momento não tinham tempo para o ajudar, mas que voltasse mais tarde, juntamente com o seu filho.


(x) No rescaldo do ataque das milícias:
 medo e horror em Cuntima


Na manhã do dia 15 de Novembro, os guerrilheiros mandam convocar o Comité da Tabanca para o por ao corrente do que sucedera durante a madrugada. O enviado encontra a morança vazia de gente. Mas, na tarde do mesmo dia, informado sobre o falhanço do ataque e a debandada das milícias, conforme prometera, o Comité regressa com a sua família a Cuntima. 

O Comandante do destacamento dá-lhe ordem de prisão imediata, por comportamento suspeito. Inquirido sobre as razões que tinham motivado a sua fuga precipitada na noite anterior, confessa que tinha sido informado pelo seu vizinho, Sissão Seidi, mas que, lamentavelmente, não pudera prevenir as autoridades porque os assaltantes eram numerosos e bem armados. Disse ainda que fora obrigado a fugir devido a ameaça de morte que pendia sobre a sua cabeça e que regressara após a confirmação de que o perigo tinha sido afastado. 

Ordenaram-lhe para os conduzir a casa do tal Sissão Seidi, onde os dois seriam presos e amarrados à moda do PAIGC, isto é,  mãos para trás e o peito bombeado à frente, estilo peito de pomba.

Na manhã do dia 16 de Novembro chegou a Cuntima o responsável militar da zona norte, o famigerado Comandante Quemo Mané (2), que assume a direcção das operações e manda convocar toda a população de Cuntima e seus arredores. Querem o máximo de gente e para se certificar que todos estavam presentes, guerrilheiros armados passam revista em todas as casas e sitios passíveis de albergar um ser vivo, querem todos, mulheres, velhos e crianças.

Os dois prisioneiros são colocados no meio da assembleia reunida. O Homem de cabelos grisalhos, toda a gente o conhecia, era o Comité da tabanca, espécie de cipaio reformulado na nova nomenclatura, colaborador activo da ordem instituida, mesmo sendo de etnia fula, ele estava ciente de que a sua prisão não preocupava ninguém para além do círculo restrito da sua familia, mas o caso do Sissão incomodava os espiritos dos pacatos camponeses de Cuntima. 

Que diabo o teria arrastado para as malhas do partido, ele que sempre fora um camponês simples, honesto e trabalhador, distante das lides políticas e das intrigas que esta engendra nos homens mais ambiciosos. Não servira na tropa colonial apesar dos benesses, do ronco e da fama que o estatuto augurava no meio social fula. Toda a sua família estava presente, a mãe, duas esposas, os filhos e o irmão mais velho. Com voz trémula, explicou tintim por tintim como os assaltantes o tinham acordado durante a noite, os seus intentos e as ameaças proferidas. O Comité da aldeia também repetiu a sua versão e as palavras trocadas com Sissão naquela fatídica noite,  bem como os motivos que o impediram de alertar os homens do destacamento.

Não foi preciso ouvir mais e, se calhar nem era preciso, o Comandante levantou-se e, com a frieza de quem estava habituado a tomar decisões graves, disse que,  pelos comprovados actos de rebeldia e traição à Pátria, os dois homens deviam ser fuzilados e imediatamente.

Ao ouvir as palavras “pá, mata!” da boca do Chefe militar, a assistência ficou literalmente congelada. A rapidez e a dureza da decisão tinham surpreendido tudo e todos, mas quem conhecia o Comandante Quemo Mané durante a luta, sabia que com ele tudo era simples, rápido e demolidor como o turbilhão de vento em dia de tornado tropical. A semelhança da grande maioria dos Comandantes do PAIGC, apesar de rotundo analfabeto (2), subira na hierarquia militar por mérito próprio, distinguindo-se pela sua coragem, brutalidade e violência extremas, uma inteligência fora do comum e pelos sucessos acumulados nas operações que dirigia.

Deram ordens para que todos fossem presenciar o acto no centro da aldeia, mas antes de os levarem, um grupo de homens do partido dirige-se ao local onde estava o Comandante a fim de interceder a favor do Comité da aldeia, provavelmente, pela lealdade e serviços prestados no passado. Assim, no local da execução da sentença, só compareceu o assustado Sissão, diante de uma dupla de homens armados com metralhadoras de fitas metálicas, contendo perto de uma centena de balas. O caso não era para menos.

Tudo estava a postos, os dois guerrilheiros com as armas apontadas, o Sissão à frente,  com as mãos amarradas e olhos fixos nos seus carrascos, a população em pé, envolta em silêncio e no céu o Deus dos homens a registar mais uma crueldade humana. O Comandante da zona que ficara retido pelos colegas do partido para deliberar sobre a sorte do Comité, ao entrar no recinto, grita para os dois executantes:
- O que estão a espera, acabem com eleǃ

Os tiros sucedem-se ensurdecedores, o corpo de Sissão é projectado para trás com o impacto das balas das metralhadoras que continuaram a cuspir fogo até transformar o corpo num autêntico manto de retalhos. A poeira e o cheiro acre da pólvora invadiram o recinto. De seguida, um dos guerrilheiros pega no corpo inerte do defunto Sissão, tendo-o arrastado até ao pé da família, diz a estes:
- Aqui está o corpo do vosso cão, agora podem levá-lo, se quiserem!

Da multidão, ninguém proferiu uma única palavra, ninguém teve a coragem de sussurar a mais pequena lamentação, os guerrilheiros atentos ao menor gesto de indignação. Perguntaram se havia alguém que estivesse descontente com o que acabara de assistir. Como ninguém respondia, foram autorizados a dispersar-se no preciso momento em que se ouviam os gritos de desespero vindos da concessão de Sissão Seidi, cujos familiares a muito custo tinham conseguido conter a dor pela perda do seu ente querido.

Na tarde do mesmo dia, o Comissário Político da zona convocou todas as mulheres cujos maridos estavam ausentes, refugiados algures no Senegal, e que, eventualmente, podiam ter feito parte do grupo assaltante e intimou-os a deixar Cuntima para se juntarem aos seus maridos, pois que não tolerariam mais a presença de pessoas que viviam na aldeia, mas, ao mesmo tempo, passavam informações para fora. Mais que intimação,  era uma ordem que ninguém podia ignorar. As mulheres partiram levando consigo os filhos para um destino incerto.

Na manhã do dia 17 de Novembro, foram buscar o homem da catana para as averiguações que se impunham. O homem foi amarrado ao estilo peito de pomba e a população foi novamente convocada para mais um julgamento público. Perguntaram-lhe porque não voltara com o filho conforme tinham combinado, o homem confessou que na verdade ele tinha sido enganado pelos assaltantes e que a sua verdadeira intenção era liguidar os homens do PAIGC aos quais ele odiava com todas as suas forças e que,  mesmo depois de morto,  continuaria a odiar. De certa forma, a coragem deste homem desesperado tinha compensado a humilhação pública da população de Cuntima.

Levaram o homem ao mesmo sitio do dia anterior, a cabeça e o rosto encapuchados com um chapéu (sumbia) e para o executar, estavam novamente os homens das metralhadoras. O homem pediu para ver o seu filho mais novo. Retiraram-lhe o chapéu que cobria o seu rosto e,  durante alguns segundos,  olhou para o filho, depois pediu para que o cobrissem de novo e em voz alta, para que todos pudessem ouvir, disse que estava pronto para morrer. 

Acto continuo, o comandante deu ordens de fogo e a cena repetiu-se de novo. Como ninguém reagia e olhando para a multidão silenciosa, o Comandante aproveitou para informar a população aterrorizada de Cuntima que para ele e para o seu glorioso partido não custava nada e não constituía qualquer problema riscar a aldeia e a sua população rebelde do mapa da Guiné-Bissau. Com esta mensagem curta e clara,  tinham dado por encerrado o capitulo da revolta das milícias em Cuntima, mostrando assim a determinação do partido em impor a sua ordem.

A operação de procura dos assaltantes continuou nos dias que se seguiram. Durante as buscas, encontraram um dos assaltantes, gravemente ferido, a quem entregaram aos pais e que viria a sucumbir, poucas horas depois, dos seus ferimentos e, provavelmente, por falta de assistência mêdica. Como dizem os árabes, quem não consegue defender, com as armas, o seu ponto d’água, perdê-lo-á; quem não ataca o inimigo com todas as suas forças, sofrerá a humilhação da derrota com todas as suas amargas consequências.

Actos desesperados e suicídas,  como este, tiveram lugar em outros lugares do território, no período que se seguiu à proclamação da independência, sobretudo junto à linha da fronteira com o Senegal. Actos isolados e mal preparados que estavam condenados ao fracasso e cuja autoria, sistematicamente e sem uma explicação plausível, era atribuída à FLING, fazendo reviver velhos fantasmas do passado, aumentar o grau de crispação das novas autoridades e, em consequência, multiplicar a violência de represálias cegas, perseguições arbitrárias e execuções sumárias que marcaram a vida desta jovem nação que, para muitos, constituía um modelo exemplar de uma luta popular bem sucedida, contra o colonialismo em África e no mundo.

Bissau, 12 de Junho de 2013

Recordações de Demburri Seidi (3), tradução e texto de Cherno Baldé.

[Revisão, fixação de texto, adaptação, subtítulos, para efeitos de publicação neste poste: LG]
______________

Notas de Cherno Baldé

(1) Na minha infância, povoada pelo espectro da guerra e das fugas constantes de um lado para o outro, quantas vezes não perguntara, a mim mesmo, se a minha vida estaria condenada a ser vivida assim no meio de uma guerra sem fim. Pela experiência dos mais velhos, sabiamos que no passado nem sempre tinha sido assim e sofriamos a bem sofrer,  com a guerra que nos minava a vida pelo medo de morrer em cada minuto, vivendo no improviso e na incerteza do momento, em abrigos imundos, quentes e húmdos, onde todos os ruídos eram ampliados ao máximo, rastreados e identificados a tempo, não fossem silvos de uma granada de obus a caminho ou de uma bala perdida na noite escura.

Para afugentar uma aldeia inteira, qual manada de bovinos na planície, bastava ouvir gritar na noite: “Aí estão eles!”. Não era preciso perguntar, toda a gente sabia quem eram “eles”. Uma vez, um dos meus tios ouviu o grito durante a noite e fugiu nu, como tinha nascido, e foi a mulher que lhe cobriu as vergonhas, no caminho, com o seu pano de cima.

(2) A propósito conta-se uma pitoresca estória sobre o Comandante, que aconteceu no período pós-independência. No término de uma aula rotineira, um Professor dá aos seus alunos um TPC (trabalho para casa) em que pede para citar exemplos de alguns animais voadores. Em casa, o filho pediu o apoio do Comandante, seu pai, para a conclusão do mesmo.
─ Isto é muito fácil ─ diz o pai ─ ponha os nomes de peixe e lagarto.

Na escola, durante a correção dos trabalhos o Professor pergunta ao seu aluno:
─ Quem te ajudou a fazer o trabalho?
─ O meu pai ─   responde o aluno, com uma ponta de orgulho.
─ O teu pai é um burro ao quadrado ─ diz o Prof.

A criança não diz nada e em casa conta tudo ao pai. No dia seguinte, o Comandante vai a escola armado com uma pistola e pergunta ao Professor:
─ O peixe voa ou não voa?
─ Voa ─ responde o Professor ─ mas debaixo d’água.

O Comandante pergunta de novo:
─ O lagarto voa ou não voa?
 ─ Voa ─ responde o pobre professor, com a voz a tremer ─ mas debaixo d’água.
─ Afinal quem é o burro ao quadrado? O burro ao quadrado é o professor que não sabe o que diz e a quem o diz ─ responde este.

Devagarinho, o Comandante coloca a pistola na cintura das calças e diz ao professor:
─ Agora continua a dar as tuas aulas e não te metas com antigos combatentes se não queres levar com uma bala na tua cabeça de burro ao quadrado ─  acrescentou antes de sair.

Um provérbio árabe diz: "Não menospreze uma criança frágil, pode ser que seja filho de um leão".

(3) Em 1974, Demburri Seidi (nome fictício) fez parte de um grupo de jovens que fugiu para juntar-se às fileiras do PAIGC, no mato. Após a independência, fez preparação militar em Canchungo, mas rapidamente chega a conclusão que, com o fim da guerra e sem instrução escolar, as suas hipóteses de subir na hierarquia militar eram praticamente nulas.

 Aconselhado por pessoas amigas, decide trocar a farda pelos estudos, colecciona alguns livros e escolhe a localidade de Cuntima, que dista a poucas horas da aldeia dos pais, para a sua formação escolar. E, sem querer, vai testemunhar os trágicos acontecimentos que se seguiram ao ataque de Cuntima (4) que acabamos de descrever e que marcaram a sua vida e sobre os quais, ainda hoje, não consegue falar sem que os seus olhos se encham de lágrimas.

(4) Comandante do destacamento de Cuntima - Capitão Madiu Kim;
Responsável da segurança – Sana Queita;
Comité da tabanca  ─ Samba Seidi;
Fuzilados ─ Soarê Seidi, Sissão Seidi e  Abbaro Candé,  o homem da catana.

___________

Notas do editor:


(**) Vdf.poste de 31 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15920: Memória dos lugares (337): Cuntima, junto ao Senegal... Imagens do antigo quartel (Patrício Ribeiro, Impar Lda, Bissau)

(***) Vd.poste de 25 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11762: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (45): Horror e terror em Cuntima, em novembro de 1976: a revolta de um grupo de antigos milícias, a execução pública de Soarê Seidi e de Abbaro Candé, por ordem do histórico comandante do PAIGC, Quemo Mané (Recordações de Demburri Seidi, tradução e texto de Cherno Baldé)

(****) Vd. postes anteriores da série: 

8 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22979: Adeus, Fajonquito (Cherno Baldé): Parte III: O rabo de um macaco pode ser muito comprido mas não é por isso que deixa de sentir a dor quando picado

7 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22976: Adeus, Fajonquito (Cherno Baldé) - Parte II: A chegada dos guerrilheiros, outrora "bandidos", agora "heróis da libertação da Pátria"...A (mu)dança das bandeiras... Os meus novos amigos, balantas...

6 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22973: Adeus, Fajonquito (Cherno Baldé) - Parte I: Os sinais de uma mudança anunciada, os recados vindos do Oio e a delegação que voltou de mãos a abanar

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15946: Fotos à procura de... uma legenda (72A): "As bajudas do Senegal e os rapazes de Cuntima"... (Foto de Vitor Silva)





Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > "Todas as manhãs, bem cedo, Cuntima tinha visitantes do Senegal. Uns para fazerem comércio, outros para partir mantenhas com familiares e amigos e muitos outros para serem assistidos no Posto de Socorros pelo Médico e Enfermeiros da Companhia. Estas duas bajudas senegalesas prestaram-se para a fotografia, à distância conveniente, da máquina e dos militares". (*)

Foto (e legenda): © Vitor Silva (2008). Todos os direitos reservados.


1. Cada um de nós olha para as fotos que vamos publicando no nosso blogue (e já são mais de 50 mil!), com um certo olhar, seguramente único, já que a íris de cada de nós (pelo menos a sua forma) é única... 

Nenhum ser humano "vê" a mesma coisa da mesma maneira... Muitas das fotos que aqui publicamos retratam a mesma "realidade", quase até à exaustão: a maminha da bajuda, o pilão, o rio, o Niassa, os bu...rakos onde nos metemos, o obus 14, a G3, o Unimog 411 feito num oito... Outras chamam-nos a atenção pela sua singularidade... Esta, por exemplo, obrigou-me a usar "vários óculos" (incluindo os de ver ao perto)... E comentei:

"Vitor, a cena, com as bajudas senegalesas, que vocês estão a 'galar', é um espanto!... Merece destaque num poste à parte... Podia ser um fotograma de... um filme do faroeste, um filme de cowboys!... Eu acho é uma imagem com um grande carga erótica... Há aqui alta voltagem de erotismo!... Podíamos chamar-lhe 'As bajudas do Senegal e os rapazes de Cuntima!'... Elas, púdicas mas vaporosas, e vocês a mirá-las, a despí-las de alto a baixo... Qem terá sido o feliz fotógrafo ?"...


2. E depois é verdade: não há recanto nenhum da Guiné, do "nosso tempo", que não esteja mininamente documentado pelo nosso blogue, graças a uma rede, fantástica, de gente generosa que vai tendo a paixão, a carolice, a pachorra, a infinita paciência de ir compondo as peças de um  "puzzle" sem fim...

Por outro lado, há uma coisa que nos preocupa, amigos e camaradas da Guiné: é o destino a dar a todo este já imenso património memorialístico, reunido ao longo de doze anos... E que já não pertence apenas aos seus autores, ao Vitor, ao Humberto, ao Arlindo, ao Tony, etc., é de todos os nossos leitores, portugueses, guineenses, e por aí fora, que nos procuram e acarinham, que leem os nossos postes, veem as nossas fotos, e comentam ou não...

De qualquer modo, muitas terras da Guiné, pura e simplesmente, não existiriam "no mapa", se não fora o nosso blogue... Se calhar Cuntima é um delas!... (E façam a experiência: vão ao Google Imagens e procurem por um topónimo da Guiné: por exemplo, Bambadinca, Bafatá, Cacine, Fulacunda, Xime, Guileje... A maioria das imagens que o Google exibe são "nossas"...). Na realidade, o nosso blogue presta um serviço público de grande alcance, modéstia à parte!..

E depois vem o "nosso mais velho", o António Rosinha, ainda "armar mais confusão":

"Há quem diga que não fomos colonizadores (Sérgio Buarque da Holanda lido por Norton de Matos), fomos apenas uns aventureiros. As fotos do nosso blogue, com a Guiné em fundo, parece que pode comprovar isso mesmo a muita gente. Andámos ali 500 anos a fazer o quê?, perguntou-me um dia um engenheiro italiano em Bissalanca, na construção da Rotunda onde agora tem a estátua de Amílcar Cabral. Dizia aquele italiano que aquela terra tinha tão pouca graça... E de facto, cá para nós, aqui nesta altura do campeonato, em que até alguns estiveram nos 'Cus de Judas', outros 'além da Taprobana', é difícil explicar a estranhos o nosso 'gosto tão estranho'...

"Talvez este blogue ainda ajude a explicar a 'aventura colonial', além de explicar a nossa guerra em que contámos com Amílcar Cabral do outro lado".  (*)


... E acrescentaria eu: "e cercados por todos os lados, a norte pelo Senegal, a leste e a sul pela Guiné-Conacri, a oeste pelo Atlântico e o resto do mundo"... LG

___________

(**) Último poste da série > 30 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15915: Fotos à procura de...uma legenda (72): Três anos e meio separam estas duas fotos, tiradas no mesmo lugar, no destacamento da ponte do Rio Udunduma, estrada Xime-Bambadinca... Ou melhor, num sítio de nenhures... (Jorge Araújo, 1973 / Humberto Reis, 1970)

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15943: Memória dos lugares (339): Cuntima, no meu tempo (ex-1º cabo Vitor Silva, CART 3331, "Os Tigres de Cuntima", 1970/72) - Parte II


Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 1 > O poilão, o ex-libris da vila de Cuntima...



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 1 A > O poilão, o ex-libris da vila de Cuntima...  No grupo, o Vitor é o primeiro da direita




Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 2 >  "O poilão e a escola primária"



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 3 > "Militar à porta de entrada de quem vinha do Senegal."



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 4 >  O 'burrinho' (Unimog 411), atravessando a avenida Central (também conhecida por av do Senegal).


Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 5 > "Vendedores ambulantes (djilas) e a curiosidade da população e dos militares. O Vítor com um menino ao colo."



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 6 > " O Vítor, de bigode, um Camarada, a bajuda e o pilão. Para a fotografia".

 

Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 7 > "O Vítor e o Hélder na Secretaria da Companhia."


Fotos e legendas: © Vitor Silva (2008). Todos os direitos reservados



1. Recorde-se alguns dados sobre a CART 3331, segundo síntese feita pelo ex-1º cabo Vitor Silva, nosso grã-tabanqueiro:


(i) A CART 3331 foi mobilizada para a Guiné pelo RAP 2, Vila Nova de Gaia;

(ii) era composta por 158 militares, sendo comandada pelo cap mil art Manuel Sena Boléo; a formação era chefiada pelo 1º srgt art Manuel Joaquim Moreira Dias.

(iii) a formação dividia-se nas seguintes secções: comando; alimentação; manutenção auto; sanitária; reabastecimento;  e manutenção de armamento.

(iv)  a primeira  parte da Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO) foi feita no RAP 2;

(v) a Companhia embarcou no Cais da Rocha do Conde de Óbidos para a Guiné no dia 14 de 
dezembro de 1970, a bordo do navio Uíge:

(vi) a 20 de fevereiro a CART 3331 deslocou-se em coluna auto, rumo a Cuntima, dependente do BCAÇ 2879, onde rendeu a CCAÇ 14, durante a qual tomou conhecimento directo com a Zona de Acção (ZA);

(vii)  o terreno, aliás como de uma maneira geral em toda a Guiné, é plano; cnvém no entanto referir que Cuntima é ligeiramente mais elevada que o restante terreno da ZA; daí, talvez o antigo nome de Colina do Norte (?); 

(viii) o sector era servido pela estrada Farim-Cuntima, por onde eram feitos os reabastecimentos;

(ix) o IN não se encontrava instalado nem tinha bases dentro da nossa ZA; irradiava sempre do Senegal, pelo tradicional corredor de Sitató; de uma maneira geral evitava os contactos; as suas acções contra as NT manifestaram-se especialmente por ataques ao aquartelamento, implantação de minas na estrada Farim-Cuntima e, esporadicamente às colunas de reabastecimentos;

(x) a população, na sua maioria era de etnia Fula, de religião muçulmana; apenas uma pequena parte era Mandinga;
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terça-feira, 5 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15940: Memória dos lugares (338): Cuntima, no meu tempo (ex-1º cabo Vitor Silva, CART 3331, "Os Tigres de Cuntima", 1970/72) - Parte I


Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) >"Um dos três obuses [14 cm] que existiam em Cuntima". [Um dos artilheiros que por lá passou foi o Humberto Nunes, ex-alf mil art, 23.º Pel Art, Gadamael e Cuntima, 1972/74; ver aqui o seu álbum de Cuntima]



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) >"Vista panorâmica de Cuntima. Uma povoação com gentes de várias origens (não faltavam os comerciantes libaneses e os gilas)". [Outro camarada nosso que esteve em Cuntima foi o ex-fur mil António Bartolomeu, da CCAÇ  2592 / CCAÇ 14, Cobtuboel, Aldeia Fomosa e Cuntima, 1969/71; diz ele, "em Cuntima éramos um misto de guarda-fiscal e de polícia de fronteiras... Por ali passava um dos corredores do Oio"; a CCAÇ 14 foi rendida pela CART 3331].


Guiné > Região do Oio > Setor de Farim >  Cuntima > CART 3331 (1970/72) > "Posto avançado nº 9. Estive lá de serviço no dia 31 de maio de 1971, no que foi considerado o maior flagelamento IN a Cuntima. As tropas do IN vieram mesmo ao arame farpado".



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) >"Cuntima: reservatórios de água, as duas professoras ao fundo e a casa do agente da PIDE/DGS" [Vd. fotos de 2016, do Patrício Ribeiro (*)]


Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > "Instalações civis ocupadas pela tropa".




Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > "Todas as manhãs,  bem cedo, Cuntima tinha visitantes do Senegal. Uns para fazerem comércio, outros para partir mantenhas com familiares e amigos e muitos outros para serem assistidos no Posto de Socorros pelo Médico e Enfermeiros da Companhia. Estas duas bajudas senegalesas prestaram-se para a fotografia,  à distância conveniente, da máquina e dos militares".



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > "À hora do petisco"... [Outro camarada desta companhia, e que esteve também em Cuntima,  é o Gumerzindo Silva, ex-soldado condutor auto, hoje a viver na Alemanha]

Fotos e legendas: © Vitor Silva (2008). Todos os direitos reservados.


Vitor Silva, ex-1º cabo, membro da nossa
Tabanca Grande (desde 2007)
Breve historial da CART 3331 (Os Tigres de Cuntima, Cuntima, 1970/72):

(i) Mobilizada pelo RAP 2 (Vila Nova de Gaia);

(ii) chega à Guiné a 19 de dezembro de 1970;

(iii) no dia 21 de dezembro embarca na LDG Alfange com destino ao Centro de Instrução Militar de Bolama, para treino de adaptação ao mato e 2.ª parte da Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO);

(iv) a 25 de janeiro de 1971, de novo na Alfange, ruma para Farim onde chega no dia 28 de janeiro;

(v) em Farim participa em algumas ações no mato e na estrada Farim-Jumbembem;

(vi) a 20 de fevereiro, desloca-se em coluna auto, rumo a Cuntima, dependente do BCAÇ 2879, onde vai render a CCAÇ 14;

(vii) a ZA do subsector de Cuntima é extensa: delimitada a norte, numa extensão de aproximadamente 30 km, pela República do Senegal, a este pelo rio Corlá (Sare Dambé Badoral, Sitató, Sinchã Fogã e Sare Tombom), a oeste pela bolanha de Sinchã Massa e a sul pela bolanha de Sinchã Massa e bolanha do rio Norobanta e pelo marco 107;

(viii) na sua maioria a população é de etnia Fula, de religião muçulmana; havia uma pequena minoria Mandinga;

(ix) as acções do IN  irradiam sempre do Senegal, pelo tradicional corredor de Sitató;

(x) as acções contra as NT manifestam-se especialmente por ataques ou flagelações ao aquartelamento, implantação de minas na estrada Farim-Cuntima e, esporadicamente, às colunas de reabastecimentos;

(x) há duas unidades de quadrícula no sector, a CART 3331 e a CCAÇ 2547, ambas instaladas em Cuntima:

(xi) para além da ocupação e defesa do Sector, a sua missão principal é evitar a infiltração do IN para dentro do TO da Guiné;

(xii) a CART 3331 regressa, num avião dos TAM,  à Metrópole no dia 25 de novembro de 1972, com orgulho do dever cumprido;

(xiii) vai ter três comandantes: cap mil Art Manuel Sena Boleo, cap inf Mário José Fernandes Jorge Rodrigues, e cap mil art Armando Pimenta Cristóvão.
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Nota do editor:

quinta-feira, 31 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15920: Memória dos lugares (337): Cuntima, junto ao Senegal... Imagens do antigo quartel (Patrício Ribeiro, Impar Lda, Bissau)


Foto nº 1 > Rua principal de Cuntima


Foto nº 2 > Antigo quartel de Cuntima: depósitos de água


Foto nº 3 > Antigo quartel de Cuntima: marca da passagem do 4º Gr Comb, "Xonés", da CART 3360 (não temos, salvo erro, nenhum representante desta subunidade na Tabanca Grande)


Foto nº 4 > Antigo quartel de Cuntima: marca da passagem do BENG 447 (Bissau)


Foto nº 5 >  Antigo quartel de Cuntima: a equipa da Impar Lda em trabalho (1)


Foto nº 6 > Antigo quartel de Cuntima: a equipa da Impar Lda em trabalho (2)


Foto nº 7 > Antigo quartel de Cuntima: mais marcas da passagem das NT


Foto nº  8 > Antigo quartel de Cuntima:o vice-administrador Samba Candé [, da vila de Cuntima], ex- milícia português, no local onde morreu o seu grande amigo,  o cabo Machado, assim como o furriel Dorindo, em um dos ataques com morteiros.


1. Estas fotos foram-nos enviadas recentemente pelo nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro [,foto à esquerda: português,natural de Águeda,criado e casado em Angola, com família no Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde 1984, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda; também conhecido carinhosamente como "pai dos tugas"]

 De vez em quando ela pega  na máquina fotográfica (ou no telemóvel?)  e tira umas chapas sobre os "sítios de nenhures", os bu...rakos onde nos meteram ou nos metemos, entre 1961 e 1974... Para a gente, masoquista como nós, "matar saudades"... Cuntima foi um deles... O quartel era protegido por um pelotão de artilharia. E tinha uma delegação da PIDE/DGS... Era um ponto importante para a segurança da província. Vejam aqui fotos da época, dos nossos camaradas Vitor Silva e Humberto Nunes...  (*). Há mais de meia centena de referência no blogue sobre Cuntima. Mas é preciso saber procurá-las: o Blogger só nos mostra meia dúzia. Pesquisar também no Google > Imagens > Cuntima Guiné.

Quem esteve em Cuntima foi o Vasco [Correia] Lourenço, hoje cor inf ref (ex-cap inf, CCAÇ 2549, Cuntima e Farim, julho de 1969/junho de 1971]. E quem sabe mais de Cuntima é o nosso camarada Carlos Silva, dirigente da ONGD Ajuda Amiga [e nosso grã-tabanqueiro, de longa data: jurista, foi fur mil inf, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71; tem mais de 90 referências no nosso blogue].

Refira-se ainda, e por fim, que Cuntima, dois anos depois da independência da Guiné-Bissau, em novembro de 1976, foi palco de cenas de terror e violência de Estado, a execução sumária e pública de dois antigos milícias, "cães dos colonialistas", por ordem do famigerado comandante Quemo Mané, cenas essas  aqui já reconstituídas num poste memorável e corajoso do nosso amigo Cherno Baldé (**), um poste que merece ser lido e relido: na altura teve cerca de meia centena de comentários.

Dos 42 graus, no mato...

Junto algumas fotos da vila de Cuntima (e em especial do antigo quartel das NT).

É também uma pequena homenagem aos que aqui viveram, aos que aqui morreram, aos que agora aqui agora trabalham.

Tenho pena… mandei deitar abaixo a casa onde estava instalado o gerador no tempo português.

Vou lá instalar,  no furo feito pelos Portugueses junto à casa, uma bomba solar 50 m3/dia, um reservatório de 30 m3, vai levar diversos fontanários, espalhados pela vila e pela tabanca mais próxima, para abastecimento de água.

Caminho difícil, os 33 km de Farim até lá, terra de ninguém… onde mandam os que lá estão…

Em uma das fotos [foto nº 8], pode ver-se um antigo abrigo, e junto está o vice-administrador da vila Samba Candé, ex-milícia português, no local onde morreu o seu grande amigo, o Cabo Machado, assim como o Furriel Dorindo, em um dos ataques com morteiros. [Não há indicação de data nem da subunidade] (***)

Abraço,
Patrício Ribeiro

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Tel, 966623168 Guiné Bissau
Tel / Fax 00 351 218966014 Lisboa 
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com



Guiné - Mapa de Colina do Norte (1956); Escala 1/50.000 - Localização de Cuntima

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
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Notas dos editores

(*) Vd. alguns dos nossos postes com imagens e outras memórias de Cuntima:

22 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4993: Memória dos lugares (44): Cuntima, na fronteira com o Senegal (Ex-1º Cabo Vitor Silva, CART 3331, 1970/72)

17 de março de 2008 > Guiné 63/74 - P2657: Cuntima nos tempos da CART 3331 (1970/72) (Vítor Silva)

6 de setembro de 2012 >  Guiné 63/74 - P10340: Álbum fotográfico do ex-Alf Mil Art Humberto Nunes (3): Cuntima

3 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10320: Álbum fotográfico do ex-Alf Mil Art Humberto Nunes (2): Cuntima

(**) Vd. poste de 25 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11762: Memórias do Chico, menino e moço(Cherno Baldé) (45): Horror e terror em Cuntima, em novembro de 1976: a revoltade um grupo de antigos milícias, a execução pública de Soarê Seidi e de AbbaroCandé, por ordem do histórico comandante do PAIGC, Quemo Mané (Recordações deDemburri Seidi, tradução e texto de Cherno Baldé)

(***) Último poste da série > 27 de março de  2016 > Guiné 63/74 - P15907: Memória dos lugares (336): Cancolim, subsetor de Galomaro (Rui Baptista, ex-fur mil, CCAÇ 3489 / BCAÇ 3872, 1972/74) - Parte I

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4993: Memória dos lugares (44): Cuntima, na fronteira com o Senegal (Ex-1º Cabo Vitor Silva, CART 3331, 1970/72)

Guiné > Zona Leste > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Na fronteira com o Senegal, a nordeste de Farim, longe de Lisboa e ainda mais do Porto (e do RAP2)... Junto à árvore, o 1º Cabo Vitor Silva.

Guiné > Zona Leste > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > "Todas as manhãs bem cedo Cuntima tinha visitantes do Senegal. Uns para fazerem comércio, outros para partir mantenhas com familiares e amigos e muitos outros para serem assistidos no Posto de Socorros pelo Médico e Enfermeiros da Companhia. Estas duas bajudas senegalesas prestaram-se para a fotografia à distância conveniente, da máquina e dos militares".

Guiné > Zona Leste > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > "Posto avançado nº 9. Estive lá de serviço no dia 31 de maio de 1971, no que foi considerado o maior flagelamento IN a Cuntima. As tropas do IN vieram mesmo ao arame farpado".

Guiné > Zona Leste > Cuntima > CART 3331 (1970/72) >"Um dos três obuses que existiam em Cuntima".

Guiné > Zona Leste > Cuntima > CART 3331 (1970/72) >"Vista panorâmica de Cuntima. Uma povoação com gentes de várias origens (não faltavam os comerciantes libaneses e os gilas)".

Guiné > Zona Leste > Cuntima > CART 3331 (1970/72) >"Cuntima: Reservatórios de água, as duas professoras ao fundo e a casa do agente da PIDE/DGS"

Guiné > Zona Leste > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Instalações civis ocupadas pela tropa.

Guiné > Zona Leste > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > À hora do rancho...

Fotos e legendas: © Vitor Silva (2008). Direitos reservados.

Breve historial da CART 3331 (Os Tigres de Cuntima, Cuntima, 1970/72):

(i) Mobilizada pelo RAP 2 (Vila Nova de Gaia), chega à Guiné a 19 de Dezembro de 1970;

(ii) No dia 21 de Dezembro embarcou na LDG Alfange com destino ao Centro de Instrução Militar de Bolama, para treino de adaptação ao mato e 2ª parte da Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO);

(iii) A 25 de Janeiro de 1971, de novo na Alfange, ruma para Farim onde chegou no dia 28 de Janeiro;

(iv) Em Farim participa em algumas acções no mato e na estrada Farim-Jumbembem.

(v) A 20 de Fevereiro, desloca-se em coluna-auto, rumo a Cuntima, dependente do BCAÇ 2879, onde vai render a CCAÇ 14;

(vi) A ZA do subsector de Cuntima era extenso: delimitada a Norte, numa extensão de aproximadamente 30 km, pela República do Senegal, a Este pelo rio Corlá (Sare Dambé Badoral, Sitató, Sinchã Fogã e Sare Tombom), pela bolanha de Sinchã Massa e a Sul pela bolanha de Sinchã Massa e bolanha do rio Norobanta e pelo marco 107

(vii) Na sua maioria a população era de etnia Fula, de religião muçulmana; havia uma pequena minoria Mandinga;

(viii) As acções do IN não irradiavam sempre do Senegal, pelo tradicional corredor de Sitató;

(ix) As acções contra as NT manifestavam-se especialmente por ataques ou flagelações ao aquartelamento, implantação de minas na estrada Farim-Cuntima e, esporadicamente às colunas de reabastecimentos;

(x)Havia duas unidades de quadrícula no Sector, a CART 3331 e a CCAÇ 2547, ambas instaladas em Cuntima. Para além da ocupação e defesa do Sector, a sua missão princiapl era evitar a infiltração do IN para dentro do TO da Guiné;

(xi) A CART 3331 regressou, num avião dos TAM à Metrópole no dia 25 de Novembro de 1972, com orgulho do dever cumprido;

(xii) Teve três comandantes: Cap Mil Art Manuel Sena Boleo, Cap Inf Máriop José Fernandes Jorge Rodrigues, e Cap Mil Art Armando Pimenta Cristóvão.


Letra da canção Soldado:

Partiu num qualquer navio,
Numa leva de soldados,
Ia calado e sombrio
Entre prantos desolados.

Sabia o itinerário
E o rumo antecipado,
Mas ignorava o fadário
Que lhe estava reservado.

Desembarcou na Guiné,
Em manhã enevoada,
E sentiu, ao pôr do pé
Naquela terra molhada,

Que o destino o lançava
Rumo ao desconhecido,
Sem uma ideia formada,
Numa guerra sem sentido.

Fio destacado p’ró mato,
Lá p’ra terra de Cuntima,
Tinha a fronteira a um passo
E os guerrilheiros em cima.

Sofreu ataques cerrados,
Abafou medo em trincheira,
Sentiu os dias contados,
Viu a hora derradeira.

Fez desumanas picadas,
Padeceu de sede e fome,
Viu cair em emboscadas
Camaradas de uniforme.

Chupou água na bolanha,
Rebolou-se em pó ardente,
Deixou sangue em terra estranha,
Veio-se embora doente!

E depois de tal fadário
Deram-lhe o golpe final:
- Chamaram-lhe Mercenário,
Soldado colonial.


Versos enviados pelo Vitor Silva
Revisão de texto: L.G.

Autor desconhecido,
presumivelmente um militar da CART 3331 (Cuntima, 1970/72).


[Fotos seleccionadas e reeditadas por L.G.; enviadas em Maio de 2007, num lote de 27] (*)

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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:

17 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2657: Cuntima nos tempos da CART 3331 (1970/72) (Vítor Silva)

6 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2245: Cancioneiro de Cuntima (Vitor Silva, CART 3331, 1970/72)

segunda-feira, 17 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2657: Cuntima nos tempos da CART 3331 (1970/72) (Vítor Silva)

A CART 3331 em Cuntima (1970/72)

Texto e imagens de Vítor Manuel Silva, o novo membro da nossa Tabanca Grande ,

A CART 3331 foi mobilizada para a Guiné pelo RAP 2, Vila Nova de Gaia. Composta por 158 militares era comandada pelo Capitão Miliciano Art Manuel Sena Boléo. A Formação era chefiada pelo 1º Sargento de Art Manuel Joaquim Moreira Dias.

Esta dividia-se nas seguintes secções:
- Comando
- Alimentação
- Manutenção Auto
- Sanitária
- Reabastecimento e Manutenção de Armamento.

A 1ª parte da Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO) foi feita no RAP 2.
A Companhia embarcou no Cais da Rocha do Conde de Óbidos para a Guiné no dia 14 de Dezembro de 1970, a bordo do navio Uíge.


O Vítor Silva no Uige, em pleno Atlântico, a caminho da Guiné.

A CART Chegou à Guiné no dia 19 de Dezembro de 1970. No dia 21 de Dezembro embarcou na LDG Alfange com destino ao Centro de Instrução Militar de Bolama. O pessoal fez treino de adaptação ao mato, iniciando a 2ª parte da Instrução de Aperfeiçoamento Operacional.
A 25 de Janeiro de 1971, de novo na Alfange, a Companhia deslocou-se para Farim onde chegou no dia 28 de Janeiro. Aí participou em algumas acções no mato e na estrada Farim-Jumbembem.

A 20 de Fevereiro a CART 3331 deslocou-se em coluna-auto, rumo a Cuntima, dependente do BCAÇ 2879, onde rendeu a CCAÇ 14, durante a qual tomou conhecimento directo com a Zona de Acção (ZA).

Guiné > Zona Leste > Cuntima > A Avenida Central (também conhecida por Av do Senegal).
Enfim, estávamos em pleno teatro da Guerra.

O terreno

O terreno, aliás como de uma maneira geral em toda a Guiné, é plano. Convém no entanto referir que Cuntima é ligeiramente mais elevada que o restante terreno da Z.Z. Daí, talvez o antigo nome de Colina do Norte?

A nossa Z.A. era muito extensa. Delimitada a Norte, numa extensão de aproximadamente 30km, pela República do Senegal, a Este pelo rio Corlá (Sare Dambé Badoral, Sitató, Sinchã Fogã e Sare Tombom), pela bolanha de Sinchã Massa e a Sul pela bolanha de Sinchã Massa e bolanha do rio Norobanta e pelo marco 107.

O sector era servido pela estrada Farim-Cuntima, por onde eram feitos os reabastecimentos.

Inimigo

O IN não se encontrava instalado nem tinha bases dentro da nossa Z.A. Irradiava sempre do Senegal, pelo tradicional corredor de Sitató. De uma maneira geral evitava os contactos.
As suas acções contra as NT manifestaram-se especialmente por ataques ao aquartelamento, implantação de minas na estrada Farim-Cuntima e, esporadicamente às colunas de reabastecimentos.

População

Na sua maioria era de etnia Fula, de religião muçulmana. Apenas uma pequena parte era Mandinga.


Cuntima todas as manhãs bem cedo tinha visitantes do Senegal. Uns para fazerem comércio, outros para partir mantenhas com familiares e amigos e muitos outros para serem assistidos no Posto de Socorros pelo Médico e Enfermeiros da Companhia. Estas duas bajudas senegalesas prestaram-se para a fotografia à distância conveniente, da máquina e dos militares.


O Vítor (de bigode), um Camarada, a bajuda e o Pilão. Para a fotografia.


Cuntima vista, salvo erro, da pista.


Vista panorâmica de Cuntima. Uma povoação com gentes de várias origens (não faltavam os comerciantes libaneses).

Dia de festa na Tabanca. A alegria e o colorido das gentes Guineenses.
Cuntima: Poço de água utilizado pela população.

Cuntima: A Escola Primária.


Vendedores ambulantes (djilas) e a curiosidade da população e dos militares. O Vítor com um menino ao colo.


Cuntima. Reservatórios de água, as duas professoras ao fundo e a casa do agente da PIDE/DGS.


O ex-libris de Cuntima.



Cuntima. Vista aérea.

Nossas Tropas

Em virtude da nossa ZA ser muito extensa, a defesa e ocupação ficou a cargo de duas Companhias, a CART 3331 e a CCAÇ 2547, ambas instaladas em Cuntima. Para além da ocupação e defesa do Sector, a nossa missão dominante e primordial era evitar a infiltração do IN para dentro do TO.
O cumprimento fiel desta missão tornou-se bastante penoso para as NT, pois exigiu delas um trabalho aturado e um elevado grau de sacrifício. Poder-se-á mesmo dizer que a nossa missão foi bastante ingrata pois que foi prática e humanamente impossível fechar os corredores de infiltração numa extensão de fronteiras de 15 km.


Entrada em Cuntima, podendo ser visto o posto nº 1 e a 1ª Caserna, aquela que foi o Hotel do Vítor Silva durante os 23 meses que lá passou.


Um dos três Obuses que existiam em Cuntima.


Como é fácil de ver, para procedermos à contra-penetração usámos como dispositivo dominante as emboscadas sucessivas, quer diurnas quer nocturnas, nos corredores mais propícios e mais prováveis à infiltração.




Pois, elas existiam mesmo. Depois, os bocados chegavam ao aquartelamento envoltos em lençóis.
Para além da actividade principal, procedíamos a frequentes patrulhamentos e seguranças afastadas, diurnas e nocturnas (para evitarmos ataques ao aquartelamento) bem como numerosas operações, colunas e picagens.

Militar à porta de entrada de quem vinha do Senegal.


Sempre que necessário montávamos segurança aos trabalhos agrícolas da população, embora existisse um Pelotão de Milícias que nem sempre era suficiente.

Pessoalmente não me posso esquecer do ataque ao aquartelamento no dia 30 de Maio de 1971. Eu estava de Serviço ao Posto avançado nº 9.


Posto avançado nº 9. Estive lá de serviço no dia 31 de maio de 1971, no que foi considerado o maior flagelamento IN a Cuntima. As tropas do IN vieram mesmo ao arame farpado.

Cerca das 23 horas ouviu-se um barulho junto ao arame farpado. Pensámos que se tratasse de galinhas ou outro animal qualquer. Mas não! Eram mesmo eles que ali estavam. A 50 metros de nós. Foi uma coisa incrível que jamais esquecerei.
O Céu ficou completamente iluminado. Muitos feridos (alguns com gravidade, amputações, cegueiras...) e 3 mortos na População. Felizmente a nossa Companhia não teve qualquer baixa no pessoal.
(...)
A Psico de Spínola


Exemplar de salvo conduto. A Psico de Spínola.



O Vítor e a lavadeira.


O Vítor e o Hélder na Secretaria da Companhia.

A CArt 3331 regressou, num avião dos T.A.M, à Metrópole no dia 25 de Novembro de 1972, orgulhosa de ter cumprido o seu dever. Era o que eu pelo menos na altura pensava.

Pelos bons serviços prestados à Pátria, o Vítor Silva trouxe o apreço do Comandante Militar

o Guião e o crachá da CART 3331

e o livro da História da CART 3331
Fotos: © Vítor Silva (2008). Direitos reservados.
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Fixação do texto e sublinhados de vb: ver artigo de
6 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2245: Cancioneiro de Cuntima (Vitor Silva, CART 3331, 1970/72)