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terça-feira, 9 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25730: Tabanca Grande (562): Elisabete Silva (1945- 2024), nossa grã-tabanqueira nº 892, uma presença luminosa e calorosa nos nossos convívios, e que em 2013 fez uma memorável viagem à Guiné, com o marido, Francisco Silva (1948-2023), a Armanda e o Zé Teixeira


Foto nº 1A > Guiné- Bissau > Bissau >  Hotel Azarai > 30 de abril de 2013 > Antiga messe de Oficiais em Santa Luzia. A  Elisabete e  a Armanda nos jardins,


Foto nº 1 > Guiné- Bissau > Bissau >  Hotel Azarai > 30 de abril de 2013 > Antiga messe de Oficiais em Santa Luzia. A  Elisabete e  a Armanda nos jardins, junto à piscina.


Foto nº 2 > Guiné- Bissau > Bissau >  Hotel Azarai > 30 de abril de 2013 > Antiga messe de Oficiais em Santa Luzia. Da esquerda para a direita, Zé Teixeira, Armanda, Elisabete e Francisco.  "Foi sem dúvida o único local onde nada mudou e,  se tal aconteceu, foi para melhor. Instalações modernas, bem conservadas e bem apetrechadas, os jardins bem tratados. A piscina, um encanto." (*)
 
 

Foto nº 3 > Guiné- Bissau > Bissau > Cumura > Hopital de Cumura > 30 de abril de 2013 >   A Elisabete com um bebé ao colo. "Terminamos o dia com uma visita à maternidade do Hospital da Cumura, onde a Irmã Irina nos acolhe com um sorriso de agradecimento e esperança. Agradecimento pela instalação do sistema de energia solar que deu luz à maternidade e enfermaria de pediatria. Assim se evitarão,  segundo ela, partos e cesarianas à luz da vela como tem acontecido muitas vezes. Esperança, porque ter a sorte de ser visitada por um médico ortopedista [o Francisco Silva, do Hospital Amadora-Sintra], o que considerou uma bênção de Deus, logo, aproveitada e muito bem pela drª Helena, voluntária quase permanente neste hospital], (*)

 

Foto nº 4A > Guiné- Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal  >  A Elisabete e o Francisco



Foto nº 4 > Guiné- Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal  >  1 de maio de 2013 > "O  grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira; na 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo; no dia 3 de maio, 6ª feira, visitam Iemberém, a mata di Cantanhez e Farim do Cantanhez; no dia 4, sábado, estão em Cabedú, Cauntchinqué e Catesse;  dia 5, domingo, vão de Iemberém, onde estavam hospedados, visitar visitar o Núcleo Museológico de Guileje, e voltam depois o Xitole, convidados para um casamento" (*)


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013  > O Francisco Silva (e em segundo plano a Armanda e a Elisabete) com habitantes do Xitole, falando do passado com  o Aliu do Xitole (antigo menino da messe dos sargentos)...  O Aliu reconheceu de imediato o "alfero paraquedista” , o “Sirva”. E logo o grupo ficou em amena cavaqueira com o Aliu a falar do “alfero Sirva”, "manga de bom pessoal". (Sempre ele, calmo e sereno, observador de ouvido atento, como no tempo em que comandava os seus soldados perdidos na selva da guerra.) (*)



Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Cantanhez > Iemberém > 3 de maio de 2013  > O Francisco a aprender  a pilar arroz, com a Elisabete atenta.


Foto nº 7A Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Faro Sadjuma > 2 de maio de 2013 >  "A Fatma de Farosadjuma, ladeadas pelas nossas bajudas" (*)


Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Faro Sadjuma > 2 de maio de 2013 > Interior de um bangalô, no Hotel DjamDjam, em Faro Sadjuma, no interior da Mata do Cantanhez.


Foto nº 8A > Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Cantanhez >  > Farim do Cantanhez > 4 de maio de 2013 > - A Armanda e a Elisabete junto ao poço que a Associação Tabanca Pequena, de Matosinhos  financiou (1).



Foto nº 8A > Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Cantanhez >  > Farim do Cantanhez > 4 de maio de 2013 > 
- A Armanda e a Elisabete junto ao poço que a Associação Tabanca Pequena, de Matosinh0s,  financiou.



Foto nº 9 > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Jufunco > 9 de maio de 2013 > "Os régulos da tabanca, felupes,  Alberto Sambú (o mais novo, vestido de verde) e o Necolá Djata (o mais velho, vestido de vermelho)... Para que ninguém ouse sentar-se no banqunho dos régulos (sob pena de morte!) , estes têm o cuidado de o trazerem sempre consigo, como se pode ver nesta foto em que acompanham os tugas  na visita à tabanca. O mais novo ainda se faz acompanhar de uma vassourinha para limpar a terra e areia dos pés. Cada terra tem seus usos e costumes, mas este é, com o devido respeito, deveras estranho." (*)


Foto nº 10  > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Jufunco > 9 de maio de 2013 > "O local sagrado das reuniões da comunidade, que neste dia se abriu pela primeira vez para reunir com a comunidade de  brancos (e brancas) que visitou a tabanca, vendo os régulos no lugar que ocupam habitualmente". (*)


Foto nº 11 > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Jufunco > 9 de maio de 2013 > A Aemandia e a Elisabete com - com os régulos (felupes) de Jufunco no local sagrado da reunião da comunidade para orar a Deus e centro de decisões.

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. É uma seleção de imagens, feita pelo próprio fotógrafo,  algymas das quais ilustraram as "Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (30 de Abril - 12 de maio de 2013) (*), em que participaram dois casais, nossos conhecidos: o Zé Teixeira e a Armanda  Teixeira;  o Francisco Slva (1948-2023) e a Elisabete Silva (1945-2024).  É uma sequência "fotojornalística", excecional, do melhor que temos publicado aqui... 

E a nossa Elisabete Silva seguramente que guardou estas  imagens na sua memória, como  umas das melhores e mais gratas da sua vida. Ela gostava, aliás,  de viajar, e preparava-se, antes de um operação do foro cardiológica, aparentemente de rotina, para ir em setembro aos fiordes da Noruega, com a sua amiga Ema Guerra, esposa do nosso camarada Hugo Guerra.

O coração atraiçou-a (**). Estive (com a Alice) na capela mortuária de Porto Salvo e depois no tanatório de Barcarena, no passado dia 5, e pude verificar como ela era uma mãe, avó, mulher, amiga e cidadã, estimada e amada. 

Na missa de corpo presente,  o pároco de Linda a Velha,  amigo pessoal dela e da família, fez-lhe umas das mais belas, serenas e singelas despedidas que eu já vi e ouvi, feitas por um sacerdote católico, num diálogo a três (ele, os filhos e os netos da Elisabete). E que família tão linda, tão amorosa, a da Berta e do Chico!...

No "In Memoriam" que lhe dedicámos, já tínhamos dito que a Elisabete  fora ao longo destes anos todos uma presença luminosa (e calorosa)  nos nossos convívios", razão (adicional)  por que ela merecia, sem favor, "honras de Tabanca Grande": não só frequentava os convívios da Magnífica Tabanca da Linha (tal como, algumas vezes, os da Tabanca de Matosinhos) como esteve sete vezes no Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real (e o Francisco dez). 

Em suma, sempre que podia (e que a saúde o permitia) acompanhava o marido nos nossos convívios, incluindo nos encontros anuais da CART 3492 (Xitole, 1972/74), a que o Francisco pertenceu originalmente.

Sabemos, também, que a Elisabete (ou Berta) trabalhou, toda a vida, na Petrogal, nos serviços fnanceiros. O Tony Levezinho lembrava-se dela, tendo sido colega próxima da sua Isabel , que também nos deixou, infelizmente, há três anos e meio.

A Elisabete Silva passa a ser, embora a título póstuma, uma das nossas "mulheres grandes",  sentando-se, simbolicamente, à sombra do nosso poilão no lugar nº 892 (***), ao lado de outras companheiras nossas que "da lei a morte também já se libertaram":
  • Clara Schwarz da Silva (1915-2016);
  • Isabel Levezinho (1953-2020);
  • Manuela Gonçalves (Nela) (1946-2019);
  • Maria Ivone Reis (1929-2022) (esta, camarada enfermeira paraquedista);
  • Maria Manuela Pinheiro (1950-2014);
  • Teresa Reis (1947-2011);
  • Zélia Neno (1953 - 2023).


Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 
48.º Convívio > 19 de maio de 2022 > 
 A Elisabete Silva (1945-2024)... 
De seu nome completo, Maria Elisabete Trindade Vicente 
Figueira da Silva, Berta ou Bertinha 
para os familiares e amigos. Casada com o Francisco Silva, 
médico, e nosso camarada (1948-2023).

Foto: © Manuel Resende (2022). Todos os direitos reservados. 
[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

 

____________________



 13 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11699: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (5): Visitando Cabedu, Cautchinké e Catesse... A alegria com que somos recebidos, a par da tristeza com que vemos a floresta ser destruída no Cantanhez...








25 de agosto de  2013 > Guiné 63/74 - P11976: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (13): A despedida... Temos de voltar!

(**) Vd. poste de 5 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25718: In Memoriam (505): A. Marques Lopes, cor inf ref, DFA (1944-2024), um histórico do nosso blogue: despedida amanhã, às 11h45, no Tanatório de Matosinhos; e Elisabete Vicente Silva (1945 - 2024), viúva do nosso camarada, dr. Francisco Silva (1948 - 2023): o funeral é hoje, na igreja de Porto Salvo, Oeiras, às 16h00

(***) Último poste da série > 3 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25709: Tabanca Grande (561): Aurélio Manuel Trindade, ten gen ref, ex-cap 4ª CCAÇ / CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67), militar de Abril, e autor do livro de memórias "Panteras à solta": senta-se, a título póstumo, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 891

sexta-feira, 5 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25718: In Memoriam (505): A. Marques Lopes, cor inf ref, DFA (1944-2024), um histórico do nosso blogue: despedida amanhã, às 11h45, no Tanatório de Matosinhos; e Elisabete Vicente Silva (1945 - 2024), viúva do nosso camarada, dr. Francisco Silva (1948 - 2023): o funeral é hoje, na igreja de Porto Salvo, Oeiras, às 16h00


Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 48.º Convívio > 19 de maio de 2022 >  A Elisabete Silva (1945-2024)... De seu nome completo, Maria Elisabete Trindade Vicente Figueira da Silva, Berta ou Bertinha para os familiares e amigos.

Foto: © Manuel Resende (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

 

1. A morte é veloz a chegar e a fazer-se anunciar ... Ontem à tarde, às 14:18, o Zé Teixeira, "régulo" da Tabanca de Matosinhos,  mandou-me a telegráfica, dolorosa,  mensagem: "A Elisabete Silva faleceu ontem à tarde. Paz à sua alma".

Só li, estupefacto, a notícia quando me ia deitar, por volta das 22 e tal. E hoje levantei-me cedo, às quatro e tal, para redigir mais este doloroso "In Memoriam"  (*)

A última vez que estive (eu e a Alice) com a Elisabete fora no funeral do marido, há quase ano e meio (**). Tinha sid ela, quem pessoalmente,  nos  telefonou, serena, a comunicar o  desenlace fatal da luta do nosso Francisco contra a doença que o vitimou. 

E no velório, em Porto Salvo, onde o casal vivia, a Elisabete confidenciou-nos que iria refugiar-se na sua casa, no Alentejo.O casal tinha dois filhos (o Francisco e a Cláudia Silva, esta, médica, a viver e a trabalhar em Santiago do Cacém) e três netos.

Nunca mais voltámos a estar com a Elisabete (e com os filhos). Há algumas semanas, pelo nosso amigo comum Zé Teixeira, tinha sabido que estava de novo doente, desta vez com problemas do foro cardíaco. 

Depois da pandemia, o casal tinha aparecido na Tabanca da Linha, em 19 de maio de 2022. E eu escrevi, sobre a foto que acima reproduzo: 

(...) "Caras lindas que não se viam por aqui há mais de 2 anos: primeiro veio a pandemia, depois vieram as mazelas do corpo e da alma... A nossa Eisabete Silva, por exemplo, quem diz que em 2013 andava pelos matos e bolanhas da Guiné-Bissau, toda fresca, com o marido, o nosso dr. Francisco Silva, cirurgião ortopedista, e que depois passou por um grave problema de saúde, felizmente já superado ?!... Está de volta aos convívios da Tabanca da Linha e com ótima cara... Que bom, ver-te, Elisabete!" (**)

E depois acrescentava que sabia que ela tinha trabalhado  na Petrogal desde os seus 20 aninhos, tendo tido como colegas  o António Levezinho (o nosso querido "Tony", da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), a Isabel Levezinho (1953-2020), o João Rebelo, o Fernando Calado... (E por certo o Joaquim Pinto Carvalho de que ela não se lembrava bem.)

À hora a que estamos a elaborar esta triste notícia para o blogue, ainda não pudemos contactar a dra. Cláudia Silva sobre as cerimónias fúnebres, mas sabemos, pelo Zé Teixeira, grande amigo do casal (ele e o Francisco e as esposas fizeram uma memorável viagem de saudade à Guiné Bissau em 2013) (***), que o corpo, em câmara ardente na igreja de Porto Salvo, Oeiras, deverá seguir, às 16h00, para o tanatório mais próximo, o de Barcarena, presumimos.

Aos filhos, Francisco e Cláudia, aos netos e demais família, e aos amigos mais íntimas, a Tabanca Grande expressa a sua solidariedade na dor.  Espero, eu e Alice, poder transmitir-lhes pessoalmente, mais logo, as nossas condolências e irmos dizer-lhe o último adeus. 

O Francisco Silva, além de meu amigo e camarada, foi meu médico. E a Elisabete foi ao longo  destes anos todos uma presença luminosa nos nossos convívios, razão adicional por que ela merece "honras de Tabanca Grande": não só  frequentava os convívios da Magnífica Tabanca da Linha (tal como, algumas vezes, os da Tabanca de Matosinhos) como esteve 7 (sete!) vezes no Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real (o Francisco esteve em 10).  

Até sempre, querida Elisabete e querido Francisco! (LG)


PS - Funeral hoje, sexta feira, dia 5 de julho,  às 16 horas, na igreja de Porto Salvo, Oeiras. 


2. Mensagem deixada hoje,às 00:02, na página do Facebook da Tabanca de Matosinhos:


A TABANCA DE MATOSINHOS ESTÁ DE LUTO

No dia 29 de Janeiro de 2023 faleceu o camarada da Guiné e nosso amigo Francisco Justino Silva. (médico)

Agora foi a vez da esposa, Elizabeth Vicente Silva.

Moravam em Lisboa, mas vieram muitas vezes à nossa Tabanca de Matosinhos  para conviverem. Eram daquelas pessoas que toda a gente gostava de ter como amigos, pela sua simplicidade, pela alegria, e pelo carinho que nos dedicavam

A Elisabeth faleceu ontem, 3-07-2024 e o funeral será amanhã dia 5 de Julho na Igreja de Porto Salvo (Oeiras) às 16 horas.

Sentidas condolências a toda a família, dois amigos que partiram.

Aos filhos, Francisco e Claudia os nossos mais profundos sentimentos de pesar.

Até sempre, amiga Elizabeth


A. Marques Lopes (1944-2024).
Foto de LG (2015):
(i) foi alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967/68)
e CCAÇ 3 (Barro, 1968/69): (ii) cor inf ref DAF;
(iii) natural de Lisboa, vivia em Matosinhos;
 (iv) autor de um dos mais notáveis livros autobiográficos
sobre a nossa geração, "Cabra Cega" (Lisboa, 2015),
editado também no Brasil.





3. À mesma hora da noite, ou com um intervalo de minutos,  soube, também pelo Zé Teixeira,  outra terrível notícia, a morte do nosso camarada A. Marques Lopes, cor inf ref, DAF... 

Estava há uns dias nos cuidados intensivos... Lutou galhardamente contra uma doença de evolução prolongada... Tinha completado os 80 anos, no passado dia 10 de março. Vamos dedicar-lhe a seguir um especial "In Memoriam": era um histórico da nossa Tabanca Grande  
(um dos primeiros a entrar, em 10/5/2005) e da Tabanca de Matosinhos, de que cofundador 
e um dos "régulos".

Tem mais de 270 referências
no nosso blogue. Para esposa, Gena,
e aos filhos e netos, e para os nossos
camaradas da Tabanca de Matosinhos,ficam aqui publicamente  expressas as condolências da Tabanca Grande.


A TABANCA DE MATOSINHOS ESTÁ DE LUTO.

O António Marques Lopes, querido amigo 
e camarada da primeira hora da nossa 
Tabanca, partiu hoje para o eterno aquartelamento,  depois de um longo sofrimento.

A sua grande vontade de viver fez com que  
travasse por longo tempo uma luta de vida.
A sua esperança de recuperar era enorme. Dava gosto ouvir as suas palavras de esperança. Estava sempre bem e sobretudo bem-disposto. "Estou aqui para a luta", dizia-me ele há dias.

Desta vez a doença foi mais forte...

Descansa em paz, António.

À esposa, Geninha,  e aos filhos, em nome de todos os camaradas da Tabanca de Matosinhos, quero expressar os mais profundos sentimentos de pesar.

PS - Por vontade expressa do nosso camarada, não haverá velório. O último adeus será amanhã, dia 6, sábado, às 11h45, no Tanatório de Matosinhos.



Capa do livro "Cabra-cega: do seminário para a guerra colonial", de João Gaspar Carrasqueira (pseudónimo do nosso camarada A. Marques Lopes) (Lisboa, Chiado Editora, 2015, 582 pp. ISBN: 978-989-51-3510-3, Colecção: Bíos, Género: Biografia).

____________

Notas do editor LG:


(***) Vd. poste de 30 de janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24024: In Memoriam (468): Recordar Francisco Silva (1948-2023) - Viagem de saudade à Guiné-Bissau em 2008 (José Teixeira)

quarta-feira, 12 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25633: Elementos para a história do Pel Caç Nat 51 - Parte V: a tragédia de Jumbembem, em 16 de julho de 1973


Francisco Silva (1948-2023), médico, cirurgião 0rtopedista, nosso amigo e camarada.  Terá sido o penúltimo comandante do Pel Caç Nat 51 (Jumbem, jul 1973 / mar 1974).

Foto de Manuel Resende (s/d) com a devida vénia. 




1. Mais alguns elementos para a história do Pel Caç Nat 51 (*):

Em finais de março/princípios de abril de 1973, Jumbembém foi reforçado com o Pel Caç Nat 51. Vinha suprir a fala do 1.º pelotão  da 2ª C/BCAÇ 4512 (Jumbembem e Farim, 1972/73), transferido para  Canjambari, guarnição  a sul de Jumbembém, a cerca de doze quilómetros, juntamente com outro pelotão de Cuntima, em substituição de uma companhia que dali foi retirada (CCAÇ 4143/72). Jumbembem, Canjambari e Cuntima pertenciam ao Sector O2 (Farim), junto à fronteira com o Senegal.

Dos graduados, apenas o alferes, Nuno Gonçalves da Costa,  e um furriel, eram de origem metropolitana.

O cmdt do Pel Caç Nat 51, Nuno Gonçalves da Costa, será morto por um dos seus homens, cerca de 3 meses e meio depois. E
is aqui o relato do Manuel Luís R. Sousa (na altura soldado at inf, na 2ª C/BCAÇ 4512, hoje Saj Ref, GNR) (**):

"Num dia em que se realizava a habitual coluna de reabastecimentos a Jumbembém, Cuntima e Canjambari, a 16 de julho de 1973", um dos elementos do Pelotão   pediu ao seu comandante, alferes Costa,   para o deixar seguir na coluna de Jumbembém para Cuntima para "visitar familiares".

Por se tratar de "um militar rebelde e indisciplinado, como forma de o castigar, o alferes não autorizou a sua deslocação a Cuntima".

"Perante esta recusa, o referido militar deslocou-se ao quarto do alferes, em fim de comissão e quase formado em medicina, com um futuro promissor pela frente, disparando contra ele dois ou três tiros de G3, atingindo-o na região do abdómen".

Prestada a assistência possível na enfermaria, e pedida uma  evacuação urgente por meios aéreos,  acabou por falecer, "p
assado pouco mais de uma hora". Recorde-se que havia na altura restrições ao uso de meios aéreos, na sequência do aparecimento dos mísseis Strela. 


2. Há uma outra versão das circunstâncias da morte do comandante do Pel Caç Nat 51. Vejamos um excerto do relato do Fernando Araújo (ex-fur mil op esp / ranger, 2ª C/BCAÇ 4512, Jumbembem e Farim, 1972/74) (**), que complementa a versão anterior do seu camarada Manuel Luís R. Sousa:

(...) "Presumo que o alferes devia estar deitado. Deve ter-se levantado e foi nessa altura que o homem pegou na G3 e, traiçoeiramente, disparou três tiros à queima-roupa sobre o oficial português.

"Este último ainda foi levado para a enfermaria, onde se prestaram os primeiros socorros, ao mesmo tempo que foi pedido, com a maior urgência, a sua evacuação aérea. Como estava a perder muito sangue, foi pedido sangue e, voltou a ser pedido insistentemente, o máximo de urgência na sua evacuação, que tardava em aparecer.

"E tanto tardou que o alferes não resistiu aos ferimentos e faleceu, sem que aparecesse qualquer meio aéreo para o socorrer. Esta situação indignou todo o pessoal da companhia, desde o soldado até ao comandante.

"O nativo foi preso com arames nos pulsos, atrás das costas, enquanto os próprios elementos do Pel Caç Nat 51, bem como a milícia queriam fazer justiça pelas próprias mãos (linchá-lo). Valeu-lhe o nosso comandante, que ordenou: 'Não lhe toquem!'

"Mas, mal ele virava as costas, alguns militares mais revoltados descarregavam a sua ira em cima do assassino, que foi depois colocado na casa do motor (gerador), que se situava ao lado do tanque da água. Ali permaneceu o prisioneiro até meio da tarde, altura em que o nosso comandante, penso que por causa da evacuação não se ter efectuado e achando que o comandante em Farim teve alguma culpa nesta falta, resolveu ir a Farim levar o corpo do alferes em sinal de protesto.

"Deslocamo-nos então numa coluna motorizada (...), com o corpo do defunto numa viatura “Berliet” e uma bandeira nacional a cobri-lo, até Farim (sede do BCAÇ 4512).

"A coluna fez-se sem fazer a habitual picagem, tal era a revolta, desagrado e excitação que grassava em todo o pessoal da Companhia. Um risco acrescido, mas justificado pela hora tardia para o fazer.

"Viam-se aqui e ali soldados e graduados com as lágrimas nos olhos, chocados com um desfecho fatídico que o alferes assassinado não merecia, porque todos eram conhecedores e concordantes de que ele era boa pessoa e bom para os nativos do Pel Caç Nat 51. Talvez bom demais, ainda hoje o penso e digo! Segundo ouvi dizer na altura, ele, quando isso lhe era solicitado, inclusive emprestava dinheiro aos militares do seu pelotão.

"A coluna chegou à entrada de Farim, abrandou mais um pouco e continuou a sua marcha, enquanto os militares que a compunham saltaram para o chão e acompanharam as viaturas a pé. Ao passar defronte ao edifício de comando, estava em posição de sentido e continência um graduado (ou era o comandante, ten cor Vaz Antunes, ou o 2º comandante,  major Menezes, já não me lembro bem).

(...) "Também trouxemos o nativo assassino que, pelo caminho fora,  na viatura onde seguia, alguns soldados, em certas alturas do percurso, continuaram a dar-lhe o 'tratamento especial', tendo o mesmo chegado a Farim num estado físico muito debilitado. Disseram-me posteriormente que ficou preso em Farim e depois seria enviado para a Ilha das Cobras". (...) (***)

Guiné-Bissau >Região
de Bafatá > Xitole > 2013 > 
Dois inimigos de ontem:
o Fancisco Silva e um antigo
guerrilheiro (****)

3. O infortunado Nuno Gonçalves da Costa era natural de Campos de Sá, freguesia de São Jorge, Arcos de Valdevez.   Infelizmente não temos qualquer foto dele.

A sua morte foi atribuída a "acidente com arma de fogo" (sic), forma eufemística das Forças Armadas classificarem na época não só os casos de acidente devidos a arma de fogo, como os de homicídio, suicídio, automutilação, etc.  no TO da Guiné (há diversos casos, já aqui relatados no blogue).

Após a sua morte, foi substituído pelo alf mil  at inf op esp / ranger Francisco Silva, oriundo da CART 3492 / BART 3873 (Xitole, 1971/74).

O Francisco Silva foi  cmdt do Pel Caç Nat 51, Jumbembem, desde meados de 1973 até possivelmente ao fim do 1º trimestre de 1973, altura em que a sua subunidade de origem terminou a comissão no Xitole, sector L1 (Bambadinca). Tudo indica, pois, que o Pel Caç Nat 51 esteve em Cufar, desde o início de 1970 até março de 1973. 

Já identificámos, pois,  quatro comandantes deste Pelotão: 

  • João Perneco (Guileje, 1966/68); 
  • Armindo Batata (Guileje e Cufar, 1968/70'); 
  • Nuno Gonçalves da Costa (Cufar e Jumbembem, 1972/73);
  • Francisco Silva (Jumbembem, 1973/74).




























Lisboa > Belém > Monumento aos Combatentes do Ultramar > XXV Encontro Nacional dos Antigos Combatentes > 10 de junho de 2019 > Sob o olhar atento do Carlos Silva, régulo da Tabanca dos Melros, o Francisco Justino Silva, hoje ortopedista (à esquerda, na foto), membro da nossa Tabanca Grande desde 26 de abril de 2010, relembra os tempos em que foi substituir, em Jumbembem, em circunstâncias trágicas, o comandante do Pel Caç Nat 51: o seu interlocutor, um antigo milícia do seu tempo (à direita, na imagem), estava lá, nesse fatídico dia 16 de julho de 1973, em que foi cobardemente morto a tiro de G3 o alf mil op esp / ranger Nuno Gonçalves Costa.

Dois camaradas, pelo menos, da nossa Tabanca Grande conheceram e conviveram com o Nuno Gonçalves da Costa: (i) o Luís Mourato Oliveira conviveu com ele, na 1ª metade do ano de 1973, e com o seu Pel Caç Nat 51, em Cufar, ao tempo da CCAÇ 4740 (1972/74); e (ii) Fernando Costa Gomes de Araújo (ex-fur mil op esp / ranger, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4512, Jumbembem, 1973/74).


Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Poceirão > Palmela > 2017 > Mais um encontro dos Pelotões de Caçadores Nativos, formados pelo nosso camarada Jorge Rosales, do 51 ao 56 [no CIM de Bolama], e que serviram na Guiné entre 66 e 68. É já muito dificil encontrar estes nossos camaradas, mas ainda assim juntámos o 51, 52 e 54. Na casa do ex-fur mil João Vaz (ex-prisioneiro em Conacri, libertado em 22 de novembro de 1970, no decurso da Op Mar Verde; pertenceu ao Pel Caç Nat 52).

Acima, elementos do Pel Caç Nat 51 > Da esquerda para a direita: Furriel Castro, Furriel Azevedo, Alferes João Perneco, Furriel Carvalho e 1º Cabo Raul.
 
Foto (e legenda): © José Manuel Viegas (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor

(*) Último poste da série >  11 de junho de 2024 >  Guiné 61/74 - P25630: Elementos para a história do Pel Caç Nat 51 - Parte IV: um 1º cabo trms, José Maria Martins da Costa (Guileje e Cufar, 1968/70), que sabia latim e grego

(**)  Vd. poste de 1 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24027: (In)citações (228): Na morte do Francisco Silva (1948-2023), relembrando o cmdt do Pel Caç Nat 51, Nuno Gonçalves da Costa, assassinado por um dos seus homens, em Jumbembem, em 16/7/1973 (Manuel Luís R. Sousa, srgt ref, GNR)

(*****) Vd. poste de 20 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17493: Convívios (814): os Pel Caç Nat 51, 52 e 54, em Poceirão, na casa do ex-fur mil João Vaz (ex-prisioneiro de guerra em Conacri) (José Manuel Viegas)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24027: (In)citações (228): Na morte do Francisco Silva (1948-2023), relembrando o cmdt do Pel Caç Nat 51, Nuno Gonçalves da Costa, assassinado por um dos seus homens, em Jumbembem, em 16/7/1973 (Manuel Luís R. Sousa, SAj Ref, GNR)

1. Comentário (*) do nosso camarada Manuel Luís R. Sousa (sargento-ajudante da GNR na situação de reforma; ex-soldado da 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4512/72, Jumbembem, 1972/74; autor do livro "Prece de um Combatente - Nos trilhos e trincheiras da guerra colonial" (2012) (**): tem 46 referências no nosso blogue, e entrou para a Tabanca Grande em 31/3/2011.
 

A MORTE DO ALFERES NUNO GONÇALVES DA COSTA

por Manuel Luís Rodrigues Sousa

(excerto do meu livro "Prece de um Combatente", 2012, imagem da capa à esquerda).

Em março ou abril de 1973, Jumbembém foi reforçado com um pelotão de militares nativos, para suprir a falta do 1.º pelotão acabado de ser colocado em Canjambari, um quartel a sul de Jumbembém, a cerca de doze quilómetros, juntamente com outro pelotão de Cuntima, em substituição de uma companhia que dali foi retirada.

Desse pelotão de nativos, o Pel Caç Nat 51,  apenas os comandos, o alferes, Nuno Gonçalves da Costa,  e um furriel, eram de origem metropolitana.

Num dia em que se realizava a habitual coluna de reabastecimentos a Jumbembém, Cuntima e Canjambari, a 
16 de julho de 1973, um dos elementos deste pelotão pediu ao alferes Costa, ao seu comandante, para o deixar seguir na coluna de Jumbembém para Cuntima para visitar familiares.
Tratando-se de um militar rebelde e indisciplinado, como forma de o castigar, o alferes não autorizou a sua deslocação a Cuntima.

Perante esta recusa, o referido militar deslocou-se ao quarto do alferes, em fim de comissão e quase formado em medicina, com um futuro promissor pela frente, disparando contra ele dois ou três tiros de G3, atingindo-o na região do abdómen.

Foi-lhe prestada a assistência possível na enfermaria, enquanto se aguardava a evacuação por meios aéreos que entretanto foi pedida.

Passada pouco mais de uma hora veio a falecer, perante a impossibilidade de ser evacuado por falta desses meios aéreos, cujo uso era já particularmente restritivo, em consequência dos mísseis Strela ao dispor do PAIGC.

Este caso ilustra bem a perda do controlo aéreo na Guiné das Forças Armadas Portuguesas a que faço referência noutra parte do livro.

O referido alferes Costa era natural de Campos de Sá, S. Jorge, Arcos de Valdevez.

Após a sua morte, foi substituído pelo alferes Francisco Silva. Foi nestas circunstâncias que o alferes Silva chegou a Jumbembém. 

Que descansem em paz o alferes Silva, bem como malogrado alferes Costa. (****)

30 de janeiro de 2023 às 19:24

(Revisão e fixação de texto: LG)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de janeiro de  2023 > Guiné 61/74 - P24022: In Memoriam (467): Francisco Justino Silva (1948-2023), médico, ortopedista, ex-alf mil, CART 3492 / BART 3873, Xitole, e Pel Caç Nat 51, Jumbembem (1971/73) cerimónias fúnebres, hoje, em Porto Salvo, na igreja local, com velório a partir das 16h00; missa de corpo presente às 14h00 de 3.ª feira, seguindo o funeral para o cemitério de Carnaxide


(***) Vd. postes de:


(...) Presumo que o alferes devia estar deitado. Deve ter-se levantado e foi nessa altura que o homem pegou na G3 e, traiçoeiramente, disparou três tiros à queima-roupa sobre o oficial português.

Este último ainda foi levado para a enfermaria, onde se prestaram os primeiros socorros, ao mesmo tempo que foi pedido, com a maior urgência, a sua evacuação aérea. Como estava a perder muito sangue, foi pedido sangue e, voltou a ser pedido insistentemente, o máximo de urgência na sua evacuação, que tardava em aparecer.

E tanto tardou que o alferes não resistiu aos ferimentos e faleceu, sem que aparecesse qualquer meio aéreo para o socorrer. Esta situação indignou todo o pessoal da companhia, desde o soldado até ao comandante.

O nativo foi preso com arames nos pulsos, atrás das costas, enquanto os próprios elementos do Pel Caç Nat 51, bem como a milícia queriam fazer justiça pelas próprias mãos (linchá-lo). Valeu-lhe o nosso comandante, que ordenou:

- Não lhe toquem!

Mas, mal ele virava as costas, alguns militares mais revoltados descarregavam a sua ira em cima do assassino, que foi depois colocado na casa do motor (gerador), que se situava ao lado do tanque da água.

Ali permaneceu o prisioneiro até meio da tarde, altura em que o nosso comandante, penso que por causa da evacuação não se ter efectuado e achando que o comandante em Farim teve alguma culpa nesta falta, resolveu ir a Farim levar o corpo do alferes em sinal de protesto.

Deslocamo-nos então numa coluna motorizada (já não sei quantos nem quais pelotões), com o corpo do defunto numa viatura “Berliet” e uma bandeira nacional a cobri-lo, até Farim (sede do Batalhão 4512).

A coluna fez-se sem fazer a habitual picagem, tal era a revolta, desagrado e excitação que grassava em todo o pessoal da Companhia. Um risco acrescido, mas justificado pela hora tardia para o fazer.

Viam-se aqui e ali soldados e graduados com as lágrimas nos olhos, chocados com um desfecho fatídico que o alferes assassinado não merecia, porque todos eram conhecedores e concordantes de que ele era boa pessoa e bom para os nativos do Pel Caç Nat 51. Talvez bom demais,  ainda hoje o penso e digo! Segundo ouvi dizer na altura, ele, quando isso lhe era solicitado, inclusive emprestava dinheiro aos militares do seu pelotão.

A coluna chegou à entrada de Farim, abrandou mais um pouco e continuou a sua marcha, enquanto os militares que a compunham saltaram para o chão e acompanharam as viaturas a pé. Ao passar defronte ao edifício de comando, estava em posição de sentido e continência um graduado (ou era o comandante - Ten Cor Vaz Antunes -, ou o 2º comandante Major Menezes, já não me lembro bem).

Este é o relato com que fiquei gravado no pensamento desse dia.

Também trouxemos o nativo assassino que, pelo caminho fora na viatura onde seguia, alguns soldados, em certas alturas do percurso, continuaram a dar-lhe o “tratamento especial”, tendo o mesmo chegado a Farim num estado físico muito debilitado.

Disseram-me posteriormente que ficou preso em Farim e depois seria enviado para a “Ilha das Cobras”.

Para substituir o comando do Pel Caç Nat 51, foi destacado o alf mil at inf Francisco Silva (madeirense), que apareceu na 2ª Companhia do BCAÇ 4512 logo após esta tragédia. (...)


(****) Último poste da série > 27 de dezembro de  2022 > Guiné 61/74 - P23921: (In)citações (227): As cheias, estas e as outras (Hélder V. Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24024: In Memoriam (468): Recordar Francisco Silva (1948-2023) - Viagem de saudade à Guiné-Bissau em 2008 (José Teixeira)

1. Em mensagem do dia 29 de Janeiro de 2023, José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70) recorda a viagem à Guiné-Bissau, em 2008, na companhia do nosso camarada Francisco Silva.


Recordar o Francisco Silva

O Francisco foi apanhado na contestação coimbrã de 1968, quando cursava o 1.º ano de Medicina, e “despachado” para tropa, quando tinha 18 anos.

Ofereceu-se para os paraquedistas, mas chumbou e voltou à “tropa macaca”. Daí o nome de “alfero paraquedista” como era conhecido na Guiné. Apelido que já estava no esquecimento, quando em 2013 aquele guineense - Alto quadro administrativo, como diretor de um departamento governamental, - no antigo Quartel-General em Bissau, não o abordasse e lhe perguntasse: Tu não és o alfero paraquedista?

O Francisco ficou a olhar para ele, muito admirado, pois tinham-se passado mais de quarenta anos, e disse: - Sim! Chamavam-me o paraquedista…
- Em bem me parecia que eras tu. O meu pai vivia no Xitole e eu estudava no Honório Barreto. Fui para lá nas férias grandes e tu estavas lá.

Logo, se abraçaram e se perderam em conversa, nesta visita de saudade que ambos tínhamos planeado e estávamos a iniciar, acompanhados pelas nossas companheiras de vida.

Foi o início do primeiro dia da visita. No dia seguinte partimos para Xitole e as surpresas continuaram.

Começou por fazer uma “peregrinação” pelos locais que mais o marcaram: Os postos de sentinela dos seus homens; o lugar do morteiro; as valas à volta do quartel, onde se refugiavam e se defendiam quando o inimigo atacava; a messe de oficiais…
Falava-me dos locais onde estava o inimigo nos seus ataques à povoação e da forma como reagiu num dos ataques em que sendo o alferes mais velho , comandou a defesa, quando vê ao longe, aproximar-se em passo rápido um guineense ainda jovem que se dirigiu a ele e afirmou:
- Tu és o alfero paraquedista!
Era o “djubi” que servia na messe de sargentos, tinha quinze anos. E, não mais largou o Francisco. Tinha uma filha que se ia casar no sábado a seguir e logo convidou o Francisco e a comitiva para a festa di casamenti.

Seguimos caminho, ao fim da tarde, para o Saltinho. O Francisco entabulou conversa com um nativo e ali descobriu um antigo guerrilheiro. Localizaram-se no tempo e nos embates de frente a frente em Xitole e perderam-se em conversa durante a noite.

O Francisco era um profundo observador e guardava na memória muitos dos pormenores vividos em combate. Era para mim, um prazer ouvi-lo.

Seguimos para Iemberém. Também ali, o Francisco localizou um antigo guerrilheiro (já falecido), e para sorte do nosso homem, estivera na área do Xitole e passara para o Norte, áera de Jumbembem, tal como Francisco e no mesmo tempo. Fui testemunha destas cenas que ouvi e fotografei para memória futura.

Conheci o Francisco em 2008. Fizemos a viagem para a Guiné, por terra, foram seis dias de viagem para lá, seis dias na Guiné, e mais seis dias no regresso, para participar no Simpósio de antigos combatentes da Guiné, onde convivemos com antigos soldados africanos do exército português e soldados do PAIGC. Excelentes momentos de convívio que, quem viveu não vai esquecer.

O nosso querido amigo Francisco primava pela sua forma de estar. Ficava para trás, sem se preocupar com o grupo. Ele tinha de observar bem tudo o que o despertava. Era sempre o último a chegar e uma vez, no regresso, teve de vir de táxi para a pensão em Noadhibou na Mauritanea, pois os camaradas esquecerem-se dele no centro da cidade. Apareceu meia hora depois, calmamente como se nada tivesse acontecido.

Na noite anterior, tínhamos ficado num Oásis. Um local maravilhoso, no meio do deserto, onde só estavam os guardas do Resort, dado não ser época de caça. Nada para comer, nem mesmo pão, pelo que o nosso jantar, foram sardinhas enlatadas, que felizmente ainda havia na carrinha dos mantimentos.

Nessa noite, o Francisco veio ter comigo - Teixeira, dizem que não há estradas para podermos continuar a viagem, mas escuta!...
Ouvia-se ao longe, um ruído, que parecia, carros a passarem numa autoestrada.
Ele insistia: - Passa aqui perto uma estrada e tem muito movimento. Vamos ver?!

Seguimos os dois pelo deserto dentro na direção do vento que nos levava ao ruído. Andámos cerca de um quilómetro e localizamos a origem do mesmo. Era o gerador de eletricidade do resort, onde estávamos alojados. Ali colocado, à distância, para não incomodar os residentes. O vento, vindo daquela direção fazia chegar ao resort um leve ruído que o Francisco detetou.

Desfeita a dúvida iniciámos o regresso, mas o céu estava tão lindo, carregado de estrelas que nos deitámos na areia e ficamos a apreciar e a divagar sobre a beleza que pairava por cima de nós. Perdemo-nos no tempo e quando regressámos, tínhamos os 27 companheiros de jornada assustadíssimos à nossa procura, chamando-nos e procurando-nos à volta do resort, pensando alguns que tínhamos sido feitos prisioneiros por algum grupo de guerrilha local. Com o vento contra, não ouvimos chamar pelos nossos nomes.

Era este homem, amante da natureza, profundo observador de tudo o que o rodeava e sempre pronto a procurar a razão, ou a raíz das coisas e acontecimentos, que tenho pena de só o ter conhecido em 2008. Ele e a Elizabete, sua esposa estão no meu coração.

Partiu para a eternidade, depois de um longo e profundo sofrimento.

Espera por mim, querido amigo. Não tardarei.
José Teixeira

Fotos 1 e 2 - Em Bissau, conversando com um quadro administrativo que o reconheceu.
Fotos 3 e 4 - No Xitole, com o "djubi" que era o cantineiro em 1972.
Fotos 5 e 6 - No Xitole, em perigrinação pelas valas e local do morteiro 81.
Fotos 7 e 8 - Em Iemberém a estudar a localização de um e outro num ataque a Xitole e... o abraço da paz. 

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Nota do editor:

Vd. poste de 30 de Janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24022: In Memoriam (467): Francisco Justino Silva (1948-2023), médico, ortopedista, ex-alf mil, CART 3942 / BART 3873, Xitole, e Pel Caç Nat 51, Jumbembem (1971/73) cerimónias fúnebres, hoje, em Porto Salvo, na igreja local, com velório a partir das 16h00; missa de corpo presente às 14h00 de 3.ª feira, seguindo o funeral para o cemitério de Carnaxide