Pesquisar neste blogue

Mostrar mensagens com a etiqueta roteiro. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta roteiro. Mostrar todas as mensagens

domingo, 15 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26922: A Bissau do Meu Tempo (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte IIIa: O "Biafra", "o barraco-dormitório dos oficiais milicianos de passagem", que fazia parte do "Clube de Oficiais" do QG/CTIG, em Santa Luzia (Fotos de 1 a 10)






Foto nº 6A e 6



Foto nº 1 e 1A


Foto nº 5


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 8


Foto nº 7


Foto nº  9


Foto nº 10


Guiné > Bissau > Santa Luzia > QG/CTIG > 1967 > "Biafra" e outras instalações do "Clube de Oficiais" (messe, piscina, esplanadas...) > 

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do Virgílio Teixeira, segunda, 9/06/2025, 23:44


Boa noite, Luis,

Antes de chegar o dia 10, o Dia de Portugal e dos antigos combatentes, estou a enviar aquele poste que foi o mais difícil e trabalhoso, dado o seu melindroso tema.

Ando há um mês com isto, e já iniciei o fim da estória em 1 de junho, agora já acho que é tempo de mais e quero trabalhar noutras coisas.

Espero que não vamos abrir aqui uma fenda, entre os privilegiados e os outros. Mas foi assim, e tudo o que está escrito, salvo erro de algumas datas ou omissão de outros comentários, fiz aquilo que sei, e para quem não teve esta oportunidade, fica aqui a saber como foi no meu tempo.

Atenção que eu não vivia lá, no "Biafra", só uma vez por mês no máximo, e aproveitava o que podia.

Penso que depois, nos anos seguintes e pelo que já vi por aí em novas fotos dos anos 70 e tal, de outros camaradas, as coisas mudaram muito para melhor, e abriram as portas à classe de sargentos, não havia justificação de ser um espaço elitista.

Os dormitórios não sei como se aguentavam, falo do "Biafra", como parte do "Clube de Oficiais"...


Abraço, Virgilio


2. A Bissau do Meu Tempo > "Biafra" (Fotos de 1 a 9)

Sabado, dia 01 Junho , 20h50


ARQUIVO SOBRE BISSAU > BIAFRA – CLUBE MILITAR DE OFICIAIS DO QG – PISCINAS – MESSE DE OFICIAIS


Nota de introdução:

O presente Poste sobre este tema pode ferir a suscetibilidade de alguns antigos combatentes, que não se reveem nestas fotos e descrição das mesmas.

É um tema que esteve sempre guardado, por respeito àqueles que não tiveram estas oportunidades, posso até dizer que pode ser um atentado a todos que tiveram uma guerra que não esta.
´
Uns excessivamente mais dura, mas há muitos que também tiveram melhor vida.



A minha Vida em Bissau:

O nome de "Biafra" foi das primeiras noções sobre a Guiné desde que aterrei em Bissau no dia 21 set 67 pelas 9h da manhã.

O "Biafra" era o nome dado ao barracão de madeira, com cobertura de zinco, onde pernoitavam naquele tempo os oficiais milicianos subalternos, alferes e tenentes.

Para os restantes oficiais existiam vivendas com quartos individuais de qualidade razoável.
A conotação vinha exatamente do apoio dado por Portugal à guerra do Biafra que se desenrolava na Nigéria (#), tal como depois a guerra do Catanga no Zaire (ex-Congo Belga).

Quando parei no Sal onde pernoitamos, encontravam-se dois aviões diferentes que logo soubemos que iam para o Biafra, nome que já conhecia antes, tal como o Catanga.

Este barracão era dotado de nada, apenas camas de ferro, colchão verde de espuma. E, para quem o conseguisse, podia ter uma rede mosquiteira, para nos salvar dos mosquitos   
indesejáveis. Beliches de dois andares, sem limpezas nenhumas. E, como já foi dito,  era um calor sofucante, que nem as portas abertas resolviam o ambiente brutal de cheiros.

Não era uma prisão porque não havia presos especificos e condenados, pois todos que tinham o azar de cair na Guiné,  já eram presos à nascença sem culpa formada, mas condenados a 2 anos de pena efetiva, não beneficiavam de pena suspensa, como a maioria dos fora-de-lei exceto aqueles que cairam no terreno, mortos ou feridos e evacuados.

Como comodidades havia um espaço de casas de banho, sem sanitas, à caçador, e julgo que 2 ou 3 chuveiros para o duche. Havia uns lavatórios, não havia sabão nem toalhas, nada.

Isto era o "Biafra" que conheci, e onde fui parar logo na primeira noite do dia 21set67.

Nos anos seguintes era a mesma coisa, com a agravante da degradação por ausência de obras.

Este barracão-dormitório, destinado àqueles que chegavam em rendição individual, ou que partiam e regressavam de férias à metrópole, ou regressados pós-consultas externas e
tratamentos no Hospital da Estrela, entre outras situações, eram por isso mal dotados em tudo.

Mas diga-se que na minha cabeça pairava outro cenário bem pior, por isso não fiquei com traumas, aceitei aquilo que tinha.

Este pessoal não ia para as instalações dos Adidos (o Depósito Geral de Adidos) em Brá,   
porque aí só ficavam as unidades completas, que chegavam ou partiam.

Era este o meu caso, que, embora não tivesse ido em rendição individual, parti antes do
embarque do Batalhão em avião militar C6, juntamente com o comandante, o oficial de 
operações, dois alferes milicianos de duas companhias operacionais e os dois respetivos sargentos do quadro.

Embora não venha a propósito do tema, quando lá voltei à Guiné em outubro de 1984, fui hospedar-me naquele empreendimento, que era o Hotel 24 de Setembro, com poucas modificações introduzidas. No local do barracão, o "Biafra",  foram construídas meia dúzia de pequenas vivendas iguais às que já existiam do tempo da tropa, para os oficiais superiores, mas tudo era muito pior do que antes.

Voltando e para falar do "Biafra", o barracão- dormitório, mal amanhado: fazia parte de um grande complexo, a que se dava o nome pomposo de "Clube de Oficiais" do QG – Quartel
General – ou de "Santa Luzia".

Faziam parte do Clube,  além do dormitório, um amplo espaço de ruas asfaltadas, com valas fundas para o escoamento de águas, jardins por todo o lado, bem tratados por pessoal profissional.

Completavam as instalações uma dúzia ou mais de pequenas vivendas individuais, para os oficiais superiores e famílias, muito bem tratadas e ajardinadas.

Além disso tinha então um amplo e grande espaço, a "Messe de Oficiais",  um edificio para as refeições, os bares, as salas de jogos e filmes, salas de conferências, tudo espaços de lazer
impecáveis, que toda a oficialada frequentava, servidos por pessoal civil, empregados locais, de luva branca, e outros mimos que, pela minha parte, não conhecia.

Cá fora um amplo espaço de  "Esplanadas e Bar", para as tardes quentes e as noites húmidas inundadas por carradas de mosquitos, que atormentavam o pessoal. 

A luz era fraca, e havia aquelas coisas que não me lembro do nome, que queimavam e faziam um fumo indesejável à mosquitada [o repelente antimosquito, o mais conhecido era o de marca "Lion Brand"].   

Muitos sofriam as agruras das picadelas, e os efeitos nas peles brancas. Por acaso, eu fui um sortudo, a minha pela escura era um tampão às picadelas, não me faziam nada de especial, embora as quantidades enormes chateavam pela sua presença.

Finalmente tinhamos a "Piscina privada do Clube", uma boa piscina diga-se em abono da verdade. Dotada de bar e instalações sanitárias completas.

À volta tudo ajardinado com relva sempre bem tratada, àrvores de frutas, sombras, alguns equipamentos de ginástica.

Tudo isto era o chamado complexo do Clube, que não era o "Biafra", este era apenas o barraco- dormitório dos oficiais milicianos de passagem.

Todo o complexo era gerido por um coronel de Administração Militar a quem davam o pomposo nome de "O Lavrador", por ele se dedicar muito a tudo que dizia respeito às plantas,
flores, relvas, árvores e frutas. Nunca falei com ele, apesar de o ver muitas vezes, era gordo e anafado.

Mas tinha,  a complementar tudo, a sua bela filha Suzy, uma rapariga nova que ornamentava as vistas da piscina, com quem tive uma relação próxima, sem nunca lhe ter tocado.

Poucas mais mulheres brancas se viam, mas algumas, poucas, eram as esposas de oficiais que ali viviam na sua comissão de serviço.

Vivia ali muita gente, ligados quer ao QG, às Companhias de Intervenção, alojadas no quartel, ali ao lado, a que se dava o nome de ‘O 600’, por ter sido construído por esta companhia ou batalhão.

O QG tinha todos os serviços, todas as REP , o Serviço de Justiça, a Chefia de Contabilidade, a Chefia da Intendência, a CHERET, com muita gente, empregados civis, muitos.

A entrada para o complexo, era feita pela estrada de Santa Luzia, que partia cá de baixo junto ao Pilão, e acabava na Porta de Armas. E para lá chegar havia uma viatura militar de hora a
hora, para baixo e para cima, para o transporte do pessoal apeado.

Eu pouco usufruí disso, pois em pouco tempo já tinha o meu próprio meio individual de 
transporte motorizado,  de duas rodas.

Além dos residentes habituais, eram enviados para lá os oficiais que tinham de ir a Bissau, e por Guia de Marcha iam lá parar. Depois da apresentação, acho que ficava lá o meu nome (bem como o dos outros) como comensal habitual, e eram mais as vezes que ficava fora do que lá dentro, por isso podia ser um bom filão de receitas colaterais.

Ali bem perto, a uns 100 metros tive a oportunidade de conhecer a primeira amiga cabo-verdiana, e ganhar uma relação de amizade, que acabou mal para ela, por razões de iintimidades com um militar do quadro.

Isto é aquilo que eu conheci, tal e qual com estes nomes, nos anos de 67, 68 e 69. É natural que muita coisa se tenha alterado, mas não no meu tempo. Isto era o que eu conhecia.

Foi o primeiro local que visitei quando cheguei, vindo diretamente do aeroporto , em jipe militar, e feita a minha apresentação às Autoridades Superiores do QG, onde cheguei, com a farda número um, incluindo o blusão, completamente encharcado dos cabelos aos pés.

Recebido num gabinete que mais parecia uma casa mortuária, era um congelador onde vivia aquela gente, e no pouco tempo que lá passei a tiritar de frio, ainda hoje me lembro como a
pior experiência climática da Guiné. Daí para diante comecei a ter problemas com os dentes, e nunca mais suportei em toda a minha vida, presente e futura, o chamado ar condicionado.

_______________


Nota de VT/LG:

(#) A Guerra do Biafra (também conhecida como Guerra Civil da Nigéria, Guerra Civil Nigeriana, Guerra Nigéria-Biafra...) prolongou-se de 6 de julho de 1967 a 13 de janeiro de 1970; foi um conflito político causado pela tentativa de cessação ou separação das províncias ao Sudeste da Nigéria, como a autoproclamada República do Biafra. Traduziu-sde numa imensa tragédia humanitária com mais de 2 milhões de mortos, e muitos mais deslocados e refugiados, devido a guerra e á fome.
_______________


As Fotos:


F01 – O "Biafra" que encontrei quando ali cheguei. Tem uma cruz, era a porta onde eu fiquei. O acesso nem tinha um passeio ou coisa parecida, era um caminho, que já todos depois lhe chamavam de picada. Ao lado parece que tem um aparelho de ar condicionado, mas é uma
simples ilusão de óptica.

F02 – O "Biafra" com telhado em zinco, bom para aquecer mais, e uma vista da rede mosquiteira. Agora vendo melhor, pensei que era mais fina, mas parece-me agora um pano
grosso, tipo um lençol, que abafava a boca e protegia dos mosquitos.

F03 – A entrada para o "Clube de Oficiais" do QG, com muro separador e uma vista geral da
messe. Foi a primeira imagem que tive, no dia 21set67, ainda estava em melhoramentos. No dia seguinte, 22 de setembro,  segui de Dakota para Nova Lamego, para a minha tomada de posse do CA (Conselho de Adminiustração)  cessante do BCAV1915.

 A primeira missão que me deram à noite, ou foi por acaso, mas agora me lembro que podia ser uma praxe para os periquitos que chegavam. Fazer ou comandar um grupo de militares numa cerimónia de Velório a um militar num caixão de chumbo. Não fiquei com traumas por isso, mas preferia ir beber uns copos com a malta que estava de saida e conhecer alguns que nunca os vi. 

Passados 2 dias voltei para Bissau, para receber mais instruções do major, Chefe da Chefia de Contabilidade. Ele ficou tão atrapalhado com a minha total ignorância, pois soube que eu nunca tinha estado num CA, quer lá quer cá, nunca tive estágio nem a formação, que mais tarde ele foi lá a Nova Lamego pessoalmente para ver como eu me desenrascava. Tive sempre ali um amigo. Mas nem sei o nome dele.

F04 – A Piscina do Clube, quase nova. Parece-me que nem água tinha, visto agora, mas tem
uma boa sombra ao fundo.

F05 – O edificio da Messe, tudo muito novo, será que ainda não tinha aberto ao público? É uma que faço agora por ver as fotos com outros olhos.

F06 – Esta foto ainda em setembro 67, junto à piscina, ainda me parece tudo novo, e sem água ainda, porque estou vestido de roupa normal.

F07 – Já estamos em novembro de 67, e já se vê água e nadadores, já tinha os meus calções que nunca os larguei, mesmo depois de vir ainda usei uns anos, gostava do amarelo. Foi uma
sorte ter comprado no Rossio em Lisboa, na tarde de 19 de setembro, pois por causa de o avião não pegar, fiquei ali um dia, e lembrei-me que na Guiné devia haver também água!! Foi a visita de um camarada do Porto, da Escola e do Instituto Comercial e depois 
colega  na  EPAM no Lumiar. 

Era um bom rapaz, assim transmontano, entroncado à minha beira, os pais tinham uma Pensão e Casa de Pasto, na Rua do Loureiro, ao lado da Estação de São Bento. Hoje está tudo em obras para novos hotéis e alojamentos de turistas. Ali ao lado paravam as camionetas que nos traziam de Mafra e Lisboa, e depois nos levavam no domingo à noite. Por amizade chamavamos de  o "Artolas", pois foi um nome dado a 5 comparsas no curso, que ficavam na mesma tenda, onde eu me incluia também. Chama-se Policarpo e era alferes,  mas não sei o que fazia lá, qual era a sua função. Mas, filho de peixe sabe gerir uma messe ou intendència!

F08 – No espaço da piscina, já com piso relvado, não se vislumbra ainda a água. Ainda em set67 junto de um trabalhador civil, que tratava da limpesa e arranjos de jardins e plantas.

 F09 – Em 5nov67 já está a funcionar a piscina, e inicio eu a minhas maratonas de saltos em alturas, das pranchas para a água, era a minha habilidade. Mesmo sem saber  formalmente nadar como uma pesoa normal, atirava-me sempre em mergulhos para a parte mais funda, depois já sabia o caminho debaixo de água para dar umas braçadas e apanhar umas escadas para me segurar.

Acho que depois de ir para Nova Lamego com o Batalhão, pelo Rio Geba acima, em 040ut67,
este mês não devo ter estado em Bissau, e em novembro já estou lá, para a prestação de contas na Chefia de Contabilidade, e já passo umas vezes pela piscina, ou estou lá instalado, ou noutro sitios de Bissau, como seja o meu preferido, o Grande Hotel, que era um Oásis no meio aquilo tudo. Tinha dormidas em quartos pessoais e independentes e Casa de Banho privativa, pequeno almoço na sala, e almoços e jantares para quem quisesse. Um excelente espaço de bar com muito artigos que nunca tinha visto nem comprado. Assim comprava roupa especial, camisas manga curta, polos Fred Perry, que não existia em Portugal,  calças de ganga, cintos, canetas de marcas, isqueiros, charutos, cachimbos, tabacos para os mesmos, bebidas na sua aioria desconhecidas na metrópole, embora no aquartelamento , verdade seja dita, tinhamos a nossa dose mensal de distribuição militar de bebidas e tabacos importados.

O Grande Hotel" tinha uma esplanada uns degraus abaixo, com mesas à sombra   das  palmeiras, passeavam entre nós grandes sardões, que subiam e desciam das palmeiras, e pela primeira vez vi aterrar perto de mim, um grande jagudi que pegou numa peça morta e a levou para bem longe. Era um animal muito feio, mas muito útil para um ambiente sustentável,  como se diz agora para tudo.

 É a natureza a atuar como sempre fez e vai continuar, por isso não me atormentam os
terrores lançados pelos ambientalistas, pois a natureza tudo resolve.

Por coincidência hoje vi uma reportagem sobre os milhares de milhões de toneladas  plástico nos oceanos, e a ciência descobriu que existe uma fórmula para eliminar os plásticos, são absorvidos pelos fungos. Não sei se estou a dizer uma barbaridade mas foi o que percebi.

F10 – A segunda fase do salto, o lançamento pelo ar tipo pato bravo, a esperar-me uma barrigada na água, pois não tinha ainda a noção das posições, algum amigo encarregava-se de cá fora fazer as fotos, já com a máquina programada por mim, era só bater a chapa.

(Continua)

(Revisão / fixação de texto / negrit0s, título: LG)

________________

sábado, 7 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26895: Facebook...ando (83): João de Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351 (1972/74): um "Tigre de Cumbijã", de corpo e alma - Parte III: A Bissau Velho a renascer das ruinas dos últimos 50 anos...


Foto nº 1  > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Sede do BAO - Banco da África Ocidental, rua Guerra Mendes, nº 18A/C 1360 Bissau  (antiga Rua António de Oliveira Salazar) (**)


Foto nº 2A  > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Vivenda reconstruída... Do lado direito seria a Rua 12 de Setembro...


Foto nº 2  > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Do lado direito, Rua 12 de Setembro (antiga Rua Miguel Bombarda)


 Veja-se  como estava a vivenda em 2007 (Fonte: Bissau Velho | Wikimedia Commons)


Foto nº 3  > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Rua Guerra Mendes, do lado esquerdp... Do lado direito, na perpendicular, é a Rua 24 de Setembro,  paralela à Fortaleza da Amura. (A Rua Guerra Mendes é, por sua vez,  paralela à Av 3 de Agosto, antiga marginal) e perpendicular à Av Amílcar Cabral (a artéria principal, a  antiga Av da República)


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Rua Guerra Mendes... Do lado direito da foto fica a ASAPM - Agência de Supervisão de Atividades de Poupança e Microcrédito, criada em 2014 sob tutela direta do Ministério de Economia e Finanças (tem aqui página no Facebook)


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Parece ser a rua Guerra Mendes e ao fundo os centenários  poilões da fortaleza da Amura... Como se vê, ainda há muitos edifícios por reabilitar...


Foto nº 6  > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 >  O alcatrão vai chegando aos poucos...



Fotos do álbum de João Melo (ou João Reis de Melo),  ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74) (*)

Fotos (e legendas): © João de Melo  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



Guiné-Bissau > Bissau Velho > Excerto do mapa do Google (com a devida vénia...), com a localização das Ruas 1, 2, 3 e 4 e outras à volta: Av 3 de Agosto; Av Amílcar Cabral; R 19 de Setembro; R António Nbana; R Guerra Mendes.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)

Legenda:

Av 3 de Agosto (antiga Av Marginal ou R Agostinho Coelho, 1º governador da Guiné,  referência ao 3 de Agosto de 1959, o "massacre do Pijiguiti"]
19S - R 19 de Setembro (antiga Rua Honório Barreto)
AC - Av Amílcar Cabral (antiga Av da República)
AM - R António Nbana (antiga R Tomás Ribeiro)
GM - R Guerra Mendes (antiga R Oliveira Salazar)




Mapa de parte da baixa da velha Bissau (colonial), entre a Avenida da República (hoje, Av Amílcar Cabral) e a fortaleza da Amura. A escuro, dois prédios que pertenciam a Nha Bijagó. Fonte: António Estácio, em "Nha Bijagó: respeitada personalidade da sociedade guineense (1871-1959)" (edição de autor, 2011, 159 pp., il.).
____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes da série:


Vdf. também poste de 4 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20311: Memória dos lugares (396): Roteiro de Bissau Velha: ruas antigas e ruas atuais, onde se localizavam algumas casas comerciais do nosso tempo: café Bento, Zé da Amura, Pintosinho, Pinto Grande / Henrique Carvalho, Taufik Saad, António Augusto Esteves, Farmácia Moderna...

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26886: Facebook...ando (82): João de Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351 (1972/74): um "Tigre de Cumbijã", de corpo e alma - Parte II: Bissau Velho, a ponte-cais




Foto nº 1A e 1 > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Um trecho do porto de mar em Bissau quando em maré baixa. Ao fundo, um navio chinês a fazer descarga de arroz...




Foto nº 2B, 2A e 2  > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 >  A velha ponte-cais do nosso tempo...


Fotos do álbum de João Melo (ou João Reis de Melo), 
ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74) (*)


Fotos (e legenda): © João de Melo  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


__________________

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26879: Facebook...ando (81): João de Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351 (1972/74): um "Tigre de Cumbijã", de corpo e alma - Parte I: De volta a Bissau Velho, agora de cara lavada




Foto nº 1A e 1  > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > 3 de maio de 2025 >  Jovens vendedeiras de bananas... Lindas bajudas!...E bela froto!... " Tirada no estacionamento do aeroporto Osvaldo Vieira, atualmente em remodelação e ampliação por uma firma turca".


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Esta foto de um edifício em Bissau Velho, tem para mim um significado muito especial. É hoje a principal sede do BAO – Banco da África Ocidental. Este edifício,   o seu primeiro andar, era  em tempos  o meu “Porto Seguro”, quando me deslocava ou passava por Bissau, vindo do “buraco” que era Cumbijã. Nesse primeiro andar morava o casal Oliveira, um casal amigo com origem na minha terra natal , e que estavam “emigrados” na Guiné. Só quem passou por Bissau em tempo de guerra é que poderá avaliar o conforto que era chegar a Bissau e ter um Lar onde ficar com todo o carinho familiar que tanta falta fazia!...

Onde quer que estejam, que esse casal tenha a paz que ambos merecem por todo o bem que me fizeram. Obrigado!.


Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Bissau Velho á noite...  Toda aquela zona habitacional em frente ao Porto de Mar, foi em outros tempos o verdadeiro centro de Bissau! Cinco anos atrás, nem de jipe se podia circular... Hoje, felizmente está de "cara lavada" , com ruS novas e asfaltadas e, já se começa a parecer com o passado...



Foto nº 4 Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 >


Foto nº 5 Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 >



Foto nº 6 Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > A renovada av Amílcar Cabral, antiga av da República (até 1975), que ia do Palácio do Governador (ex-praça do Império) até ao porto de mar (cais do Pijiguiti)


Foto nº 7 Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > "Mão de Timba": homenageia uma revolta das estivadoras, no cais do Pijiguiti em 3 de agosto de 1959...A título de esclarecimento, "Mão de Timba" tem um significado dual na Guiné-Bissau. Pode referir-se à pata do porco-formigueiro (também conhecido como timba), que é usada em feitiços e superstições. No entanto, a expressão mais comum significa "mão de caloteiro", referindo-se a uma pessoa que não paga as suas dívidas...


Foto º 8  Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Hospital Nacional Simão Mendes: recebeu o nome de António Simões Mendes (1930–1966) (*), um enfermeiro nascido em Canchungo que tratou combatentes do PAICG durante a Guerra da Independência. Em 2009-2011, passou por uma remodelação significativa, continha 417 camas e oferecia 21 especializações, das quais a maternidade, pediatria, oftalmologia, radiologia e laboratório eram as mais procuradas. Na época, contava com 41 médicos e 82 enfermeiros.
Atualmente, a realidade é bem mais preocupante (...) sofre de imensas carências, tanto a nível de quadros como de consumíveis.
Anualmente, seguem voluntariamente 13 profissionais de saúde, oriundos do Hospital Distrital de Aveiro "Bisturi Humanitário" que concorrem com material, intervenções cirúrgicas, consultas etc., menorizando as lacunas existentes.



Foto nº 9 >  Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Das 20 estradas transversais à principal avenida de Bissau - Avenida Amílcar Cabral - somente 13 estão com alcatrão novo. Entretanto, andam neste momento a continuar a sua total asfaltagem.(...).


Foto nº 10 > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > A velha catedral católica, na av Amílcar Cabral... Um ícone do nosso tempo.



Foto nº 11 > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Interior da catedral católica...



Foto nº 12 > Guiné-Bissau > Bissau > Bissau Velho > Maio de 2025 > Fortaleza da Amura > Está aqui instalado o "Museu Militar da Luta de Libertação Nacional" e o panteão nacional ( onde repousam os restos mortais de Amílcar Cabral e de outros "heróis da liberdade da Patria").
 


Fotp nº 13 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cumbijã > Maio de 2025 > O João de Melo com os miúdos de uma escola que está a ajudar.



Foto nº 14  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cumbijã > Maio de 2025 >  João de Melo e Maria do Carmo, ao centro, acarinhados pela equipa de futebol local,  "Os Tigres do Cumbijã".


Fotos (e legendas): © João de Melo  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



João Melo (ou João Reis de Melo), ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74): 

(i)  é profissional de seguros, vive em Alquerubim, Albergaria-a-Velha; (ii) viaja regularmente, desde 2017,  para a Guiné-Bissau, em "turismo de saudade e de solidariedade" (em que distribui material pelas escolas de Cumbijã, e apoia também, mais recentemente,  o clube de futebol local); (iii) regressou há pouco tempo da sua viagem desde ano de 2025; (iv) fez uma visita demorada à Amura e ao atual Museu Militar; (v) tem página no Facebook (João Reis Melo); (vi) tem cerca de 20 referências no nosso blogue para o qual entrou em 1 de março de 2009.


1. No passado dia 24 de maio passado, o João  de Melo mandou-nos, pelo Formulário de Contacto do Blogger, a seguinte mensagem;


Data - sábado, 24/05/2025, 15:57 

Boa tarde, amigo Luís.

Há uns meses atrás, solicitaste-me que, quando voltasse à Guiné, gostarias de ter umas fotos de algo (que não me recordo agora) que estaria exposto no antigo Quartel de Amura.

Vim de lá há uma semana e tirei imensas fotos do museu. Caso tenhas interesse em alguma em especial, por favor diz-me, que pode ser que a tenha tirado...

Fui muito bem recebido. Inclusive o tenente Fernando Tchami fez questão de me servir de guia; mostrou-me o interior do contentor onde a "Rádio Liberdade" começou as suas emissões através de Conacri;  retirou a capa do carro onde foi assassinado Amilcar Cabral para poder fotografar o seu interior (!!!) e, no final, ainda me solicitou para escrever no Livro de Honra do Quartel-Museu de Amura, facto esse que muito me honrou!

Abraço amigo.
Abraço
Cumprimentos,
João de Melo


2. Com a devida vénia e a sua autorização, vamos publicar uma seleção das  fotos recentes do João de Melo, tiradas na sua última viagem à Guiné-Bissau, em maio de 2025 (**). 

Começamos por Bissau, e nomeadamente a Bissau Velho que tem mais do que a cara lavada... Houve um trabalho profundo de remodelação das ruas (e de alguns edifícios) da "Bissau Colonial"... 
____________________

Notas do editor:

(*) Vd, poste de 10 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17123: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (6): Vida e morte de Simão Mendes, vítima de bombardeamento, pela FAP, da base central do Morés, em 20 de fevereiro de 1966

terça-feira, 27 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26853: Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) - Parte V: aqui sinto-me em casa, encontro tias, primos, vizinhos, colegas de escola e do liceu...

 

Foto nº 1 _ Paragem no autocarro dos "Transportes Urbanos Militares" na Amura


Foto nº 2 > Restaurante Pelicano



Foto nº 3 > Ronda (Café e Pensão)


(Cortesia do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


O Carlos Filipe Gonçalves, Kalu Nhô Roque (como consta na sua página no facebook):

 (i) nasceu em 1950, no Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde; 

(ii) foi fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74; 

(iii) ficou em Bissau até 1975; 

(iv) radialista, jornalista, historiógrafo da música da sua terra, escritor, vive na Praia; 

(v) membro da nossa Tabanca Grande desde 14 de maio de 2019, nº 790;

 (vi) tem 23 referências no nosso blogue.(*)


Mais extractos de "Recordações de um Furriel Miliciano, Guiné 1973/74". Fotos relacionadas com o Texto: Paragem do autocarro na Amura (nº1). Restaurantes Pelicano Nº 2) e Ronda (nº 3).

Voltamos a chamar atenção para a ausência de notas de rodapé, essenciais para situar o leitor com informação adicional. Isso é devido à não aceitação pela formatação no Facebook.


Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) (*)


Parte V: em Bissau, sinto-me em casa, encontro tias, primos, vizinhos, colegas de escola e do liceu...


Logo depois da minha chegada a Bissau nas primeiras semanas fui.... à  descoberta de Bissau, tenho encontros imprevistos...
.
O recém-chegado de Lisboa à Guiné sofre um choque térmico, que provoca suores, estamos sempre melados! No final de um dia de trabalho anseia-se por mais um banho; no meu caso, já vou no terceiro depois dos de manhã cedo e do meio-dia! E haverá mais um, antes de dormir. 

Perfumado e bem vestido «à civil», passo pela messe para o jantar, depois é rumar a Bissau, para uma bica num café qualquer, conversar, distender…

Na rotina que se vai instalar, jantar fora tem muitas opções de restaurantes: perto do QG na estrada de S. Luzia está o “Santos” com bons vinhos, bifes e mariscada… O camarão e ostra são baratíssimos! 

Há,  em Bissau, restaurantes afamados como “Solar do 10” ou “Pelicano” com uma esplanada frente ao porto de Pidjiguiti, beneficia do ar fresco que vem do rio Geba. Aliás, opções não faltam! O convívio no restaurante permite a fuga do ambiente do quartel e dos pratos «beras» que constituem o menu do jantar: normalmente peixe frito com arroz, de tempos a tempos, pastéis de bacalhau, que a malta chama ironicamente «pastéis de batalhau» por conter mais batata que bacalhau. 

É bom dizer, na situação de “comissão de serviço” em que as pessoas são enviadas obrigatoriamente para as PU (províncias ultramarinas) há uma permanente contestação e resistência a tudo e mais alguma coisa. Mandam-se bocas por tudo e por nada, o pensamento está centrado em passar os dias, chegar ao fim da comissão e o regresso a casa.

Apanhar o autocarro dos “Transportes Urbanos Militares” para Bissau, logo depois do jantar, passou a ser um hábito de todos os dias. O autocarro vai sempre cheio, muitas vezes temos que esperar pela volta, para se encontrar um lugar na próxima viagem. Há várias paragens… Eu, e quase toda a malta, descemos na Amura, um imponente forte, velho de séculos onde está instalado o Comando Chefe. Trata-se de um ponto central, há um pequeno largo e comércio à volta.

 Quando se desce do autocarro, depara-se logo em frente com uma loja de roupas e artigos de luxo, em cuja montra, marca presença um imponente poster, publicidade de relógios «Citizen» no qual se vê o musculado Charles Bronson, um actor de cinema, muito afamado na época. Esta zona é o «down town», conhecida entre os locais, por “Bissau Velho”, onde há muitas lojas e um comércio florescente.

Aqui se encontram o afamado Café Bento, uma esplanada ladeando a avenida principal, e o restaurante Pelicano em frente ao Geba. Estão todos cheios de gente e muito movimento. Se não encontrávamos um lugar ali perto no Bento, eu os meus camaradas militares, deambulávamos pela cidade, às vezes, passávamos pelo Café Ronda a meio da longa avenida principal; subindo mais, um pouco, chegávamos ao Café Império, ali ao lado na praça do mesmo nome. Em frente via-se o Palácio do Governador, no meio da praça está um monumento, um obelisco, se não me engano, evoca o dia da raça, ou será os descobrimentos?

Associação Comercial,
Industrial e Agrícola de Bissau
.

Fonte: Cortesia do Blogue  Luís Graça &
Camaradas da Guiné
Naqueles primeiros dias da minha chegada, estávamos sentados no Café Império, quando ouvimos música e vimos uma movimentação de pessoas num prédio imponente em frente. Fomos ver! Descobrimos que havia uma festa. Era no prédio da Associação Comercial que contava com luxuosas instalações. 

Atrevidamente entramos, subimos, ao primeiro andar, deparamos com um grande salão que está todo enfeitado com balões e serpentinas… há poucas pessoas a dançar, nem nos ligam. Descubro então que se trata de um baile de Carnaval! É que a minha chegada a Bissau, naquele início do mês de Março, coincidiu com o Carnaval e eu nem sabia! 

Naquele ano, a Terça Feira Gorda caiu no dia 6 de março (de 1973). Nesta festa, toca-se música de gira-discos/aparelhagem, ouço Luís Morais e Bana, ambos cabo-verdianos, música angolana… 

Esta festa de Carnaval neste edifício, relembra-me logo o “Grémio”,  um clube social na minha longínqua cidade do Mindelo. Relembro Cabo Verde…, mas, sinto-me em casa, em Bissau!

Nos dias seguintes, faço a habitual ronda por Bissau ao fim do dia. Ainda não se completou uma semana desde a minha chegada, quando ao sair do autocarro, ouço uma voz a chamar: "Kalú! Kalú!"... Volto e dou de caras com o Espim, um amigo que conheço de Cabo Verde. Abraços, risadas, uma agradável surpresa. Ele pergunta logo: “Por aqui? Quando chegaste?” Respondo: “Estou cá na tropa, cheguei semana passada!” Ele explica logo: “Estou cá, desde há cerca de dois meses! Passei num concurso e vim trabalhar no BNU. Somos quatro, todos de Cabo Verde!” 

Abandonei logo os meus camaradas militares, acompanho o Espim, sentamo-nos logo ali em frente na pequena esplanada “Zé da Amura”. Espim é meu velho colega dos tempos do liceu em S. Vicente, tem esta alcunha «espinho» porque é muito alto e magro. Fez logo questão de me mostrar que já consegue dizer umas coisas no crioulo da Guiné, mas logo retomamos a conversa no nosso crioulo de S. Vicente. 

Ele leva-me depois ali ao lado, à casa de pessoas conhecidas com quem ele já se familiarizou, sou apresentado, há muita conversa, descubro então mais dois colegas dos tempos do liceu, um deles, militar (Adriano Almeida) já em final da comissão, também trabalha no quartel-general, o outro (Manuel Rosa), filho de cabo-verdianos nascido na Guiné, mas esteve a estudar em Mindelo, fora meu colega no liceu, está prestes a ser incorporado, deverá ir para o Centro de Instrução Militar em Bolama.

 Abraços, evocações de velhas recordações, muita conversa… não resisto em dizer ao leitor mais uma vez: sinto-me em casa!

A partir de então, a cada dia que passa, vou conhecendo mais gente de Cabo-Verde e encontro familiares: duas tias, um primo da minha mãe e seus filhos, etc. etc. Natural, pois, há ligações familiares antigas com a Guiné, a minha mãe contava que a avó paterna dela, era da Guiné… até encontro laços familiares no quartel! 

Certo dia, sou abordado pelo comandante do BINT (Batalhão de Intendência) que susto! Afinal era só para perguntar: "O nosso furriel de onde é?" Respondo: "de S. Vicente de Cabo Verde".  E aí, o nosso major me diz que fez uma comissão em S. Vicente (em Cabo Verde), é casado com uma cabo-verdiana e dá-me pormenores… Vi logo que a esposa era a filha de um familiar meu, do ramo dos Lopes da Silva! Dou-lhe o nome e o nosso major, fica espantado! Eu conhecia muito bem o pai da esposa , que era compadre do meu padrasto! Mas, hierarquia «oblige» o tratamento continuou, o da praxe: ele lá, eu cá, continência, bom dia/boa tarde, meu major!

Venho depois a saber, muitas repartições e serviços da administração pública de Bissau, têm cabo-verdianos, no BNU são quase todos cabo-verdianos! Verifico mais tarde, há muitos cabo-verdianos, instalados desde muitos e muitos anos na Guiné! Passo a ser convidado para festas, almoços com familiares, pouco a pouco vou-me inserindo na sociedade guineense.

 Começo então a tomar contacto com a organização social na Guiné. Como em Cabo Verde, em Bissau fala-se o crioulo nas conversas familiares e informais, o português é uma língua formal, de relações oficiais e de respeito. E há as línguas das etnias, há programas na rádio em crioulo e nessas línguas depois das 7 da noite ; não entendo nada do que dizem. As etnias residem e agrupam-se por bairros…. Entre os da mesma etnia, fala-se na sua língua, com outros fala-se em crioulo. Com o tempo irei aprender a distinguir vagamente as sonoridades de algumas línguas… 

Teresa Schwarz [escritora, viúva do peota e cantor José Carlos Schwarz], que viveu desde os inícios dos anos 1970 em Bissau tem a mesma percepção, explica: 

“A pequena burguesia (de Bissau) era constituída por famílias originárias de Cabo Verde e de Portugal. Os guineenses vivendo na «praça» eram poucos. Esses últimos vinham (à cidade), trabalhavam e retornavam à tarde às periferias (tabancas que rodeiam Bissau). Os lazeres eram piqueniques, festas, bailes onde a música cabo-verdiana primava.”

Pelos cabo-verdianos na tropa no mato, recebo notícias do que por lá se passa.

Nos próximos meses, vou encontrar mais cabo-verdianos, são militares que estão no mato, mas que volta e meia estão de folga em Bissau, ou então a caminho de férias em Cabo Verde. É então, o momento de convívio, comezainas de camarões, ostras… e beber umas cervejadas para espantar o calor. Locais de convívio não faltam em Bissau. Nas conversas, alguns falam da situação no mato, outros nem por isso. 

O CT é um velho amigo desde a escola primária, era meu vizinho em S. Vicente, estava colocado em Galomaro. Ele conta-me que os ataques dos «turras» eram quase sempre à hora do almoço ou do jantar e comentou: “Não imaginas como isso nos afecta psicologicamente! Quando soam os primeiros tiros de canhão sem recuo ou mísseis, vamos todos para o abrigo. Muitas vezes ficamos sem almoçar ou jantar!” 

Diz-me depois a rir: “Olha, eles até descobriram o meu nome!” Perguntei: "Quem?" Ele responde: “Os turras! Olha, há dias, atacaram à hora do almoço e depois foram-se embora! Quando voltávamos do abrigo, vimos um papel pregado no arame farpado que circunda o quartel. No papel, estava escrito: o meu nome e a frase «Cathorr de dôs pé»! Tradução: cão de duas patas! (uma alusão ao colaboracionismo com a tropa). 

Claro que os colegas portugueses não entenderam nada, pois não sabem a minha alcunha e a frase estava em crioulo!” Já o JL nunca conta nada, fala pouco. Quando nos encontramos, gosta é de pedir uma garrafinha pequena de whisky, daquelas para meter nos bolsos, que têm à volta de 250 ml… Derrama o conteúdo num copo cheio de gelo e vai bebendo calado…

 Outro, amigo militar que estava no mato, era o JC, também um velho amigo de infância e do liceu em S. Vicente. Ele era das “operações especiais”, logo estava sempre à pega. Lamentava-se das operações difíceis no Cantanhez, Cacine e outros locais no Sul… Dizia, aquilo era o «Catanhezname»! Uma referência ao Vietname. Mas, ele era sempre muito vago, não descia aos pormenores e eu não insistia. 

O ZC era fuzileiro, outro velho amigo de infância e dos tempos do liceu. Quando vinha a Bissau, era aquela confraternização, mas ele também era parco nas informações, apenas dizia: “Eh pá! Na última missão foi porrada e mais porrada! Felizmente estou vivo!” Certa vez percebi vagamente que teria sido uma operação no Norte… em Guidage como veremos mais à frente.

(...)

(Revisão / fixação de texto, parènetses retos, links, título, negritos: LG)
__________________

Nota do editor: