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terça-feira, 5 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25239: Origens do Tigre Azul: Nado e criado entre Famalicão e o Porto (Joaquim Costa, ex-fur mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74) - Parte III: Um hino à camaradagem: a última viagem a casa, de três tristes tigres, antes do... "degredo"


Foto  nº 1 > Guiné > Região de Tombali > CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74) > O amigo José Beires, fur mil de minas e armadilhas,  a levantar mais uma mina A/C no Cumbijã, com o mesmo carinho com que tratava as Inglesas no Parque de Campismo da Prelada. Tem como ajudantes: O capitão Vasco da Gama, o alferes Abundâncio e o enfermeiro Portilho.


Foto nº 2 - Os famosos Tigres do Cumbijã (CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74) nas escadarias do Santuário no Monte de Santa Luzia em Viana do Castelo. Encontro de 2009. Na última fila o amigo Beires (no seu último encontro) conversa com a anfitriã Isabel.

Fotos (e legendas): © Joaquim Costa (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Joaquim Costa, ex-fur mil at Armas Pesadas Inf, CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74); membro da Tabanca Grande desde 30/1/2021; autor da série "Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74)" (de que se publicarm 28 postes, desde 3/2/2021 a 28/7/2022. Tirou o curso de engenheiro técnico, no ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto. 



Capa do livro do Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina, Guiné: 1972/74". Rio Tinto, Gondomar, Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp.


1. Texto enviado pelo  Joaquim Costa, em 26 de fevereiro passado, 15:52:

Olá,  amigo Luís!

Espero que tudo esteja bem contigo. Foi bom ver te todo catita no convívio do pessoal da Tabanca da Linha.

Ao que parece mais uma contrariedade com as cataratas. Sejam todos como essas,  meu amigo. Já fiz o mesmo aos dois olhos e não custou nada. Nesse dia, quando cheguei a casa todas as pessoas me pareciam mais velhas e vi sujidade e nódoas que sempre existiram mas eu não as via.

Envio-te um post que publiquei no Facebook: "Um hino à camaradagem”. Caso consideres de publicação no blogue, podes fazê-lo. Caso contrário tudo bem.

Seguindo a dica que deixaste na nota final do meu livro, vou fazer nova publicação, revista e aumentada. No fundo é o regresso à minha ideia inicial. Terá uma componente das minhas vivências de infância e juventude aumentadas e uma referência às minhas escolas.

O nosso amigo Mário Beja Santos teve a amabilidade de fazer o posfácio do mesmo. Foi já entregue à editora para revisão dos textos, contudo a sua conclusão ainda vai demorar alguns meses.

Um grande abraço do amigo que muito te estima.

Joaquim Costa



Origens do Tigre Azul: Nado e criado entre Famalicão e o Porto (Joaquim Costa, ex-fur mil, CCAV 8351, Cumbijã. 1972/74) - Parte III:  

Um hino à camaradagem: 
a última viagem a casa, de três tristes tigres

 

Por considerar um hino à camaradagem, refiro aqui a última visita a casa antes de embarcar para a Guiné.

Fiz a viagem de comboio, de Portalegre ao Porto, já com a cabeça em África que o silêncio e o ritmo do “pouca terra, pouca terra” da máquina de ferro, convidava. 

Sempre adorei, e adoro, viajar de comboio, sendo esta, porventura, a única viagem que não saboreei. Chegados a Campanhã, eu e o amigo da terra das Cristas de Galo, decidimos, atendendo ao adiantado da hora, apanhar um táxi para nos levar até aos nossos destinos, aproveitando assim todos os minutos para estar com a família. O amigo Machado até Vila Real e eu até Famalicão. 

Sim, ficava caro, mas no momento estar com a família não tinha preço. Pois, por muito esforço que fizéssemos para afastar esses maus pressentimentos, sempre nos passava pela cabeça que poderiam ser os últimos. Não nos saía da cabeça o discurso às tropas do sargento Redondeiro: “Militares, infelizmente nem todos regressarão a casa”!

A viagem ficava cara, mas no momento não era problema. Tínhamos recebido uns bons trocos pelo primeiro “ordenado” como furriéis e um subsídio para comprarmos o fardamento de guerra. Mais parecia que o carrasco nos tinha dado dinheiro para comprarmos a espada com que nos queria matar! 

Já nas despedidas, o José Beires, rapaz da cidade invicta (#), abraça emotivamente os dois e informa-nos, com toda a convicção e entusiasmo: 

– Vamos de táxi até minha casa, que eu peço o carro ao meu pai e levo-os a casa. 

Pensando ser mais uma brincadeira do Beires, tentando afastar a melancolia que reinava no grupo, não demos importância à tão inusitada oferta.

Aceitámos, contudo, de bom grado, a ideia de o acompanhar até casa e depois seguirmos, para os nossos destinos.

Chegados a sua casa, para espanto nosso, mandou logo o táxi embora e fez-nos entrar. Não acreditavamos no que estava a acontecer, tentando reter o taxista, sem sucesso dada a determinação do nosso amigo.

Estávamos os dois decididos, esperando ver  o pai do Beires para lhe  agradecer muito esta atitude altruísta do filho,  mas que seguiríamos só os dois viagem. Pensávamos nós que facilmente iria dissuadir o filho, trazendo-o à terra, mais não fosse pela arriscada viagem de regresso a casa sem companhia. 

Passado uns minutos vem o Beires, sozinho (não obstante o burburinho na sala ao lado da família reunida), e com as chaves na mão, dizendo com todo o entusiasmo, e um sorriso de menino: 

– Vamos embora! 

Uma vez que não tivemos o grato prazer (infelizmente) de conhecer o pai do Beires, nada mais podíamos fazer se não aceitar, tão altruísta oferta.

E aqui fomos nós, incrédulos com este gesto de nobreza extrema do camarada Beires, em amena cavaqueira até Famalicão. Chegados a minha casa, já de madrugada, o trabalhar do carro e o alerta do cão fadista acordou a minha mãe, que abriu a janela acabando por descer, logo seguida pelo meu pai e pelos gatos. 

Depois dos cumprimentos, preparavam-se os amigos para abalarem até Vila Real, vencendo o temido Marão, quando logo a minha mãe diz:

 – Não! Só saem daqui depois de comerem e beberem qualquer coisa. 

Logo partiu presunto, queijo e pão e se encheram três malgas de verde tinto (bons  tempos em que o verde tinto, ainda, não “afetava” a condução!(…

Para meu sossego tudo correu bem. Ficou contudo uma grande admiração por este gesto de grande nobreza deste nosso camarada. Só quem foi militar o poderá entender.

Sempre que nos encontrávamos, as primeiras palavras do Beires eram: “Malas Minho e Malhas Minho”. Duas referências que lhe dei para seguir caminho até Vila Real.

Na linda cidade de Estremoz, onde a companhia se formou, consolidou-se uma grande amizade. Na Guiné, que se nos entranhou e onde estúpida guerra enfrentámos, construiu-se uma verdadeira família. Cito, uma vez mais, o que escrevi no meu livro: "Memórias de Guerra de um Tigre Azul – O Furriel Pequenina", sobre o dia em que vimos tombar, em combate, um camarada aos nossos pés:

“Este foi também o momento de viragem, onde passamos , inexplicavelmente, a relativizar perdas, onde todos perdemos um pouco de nós (tal como eramos) e passamos a ser outros sem deixarmos de ser nós próprios. Confuso mas foi assim mesmo…

"Passamos a esquecer o dia de ontem rapidamente (em defesa da nossa saúde mental); a viver o presente intensamente (não deixando de viver a nossa juventude, mesmo naquelas condições, em convívio com um grupo de amigos que as contingências da guerra nos unia ao ponto de o sofrimento ou alegria de um ser o sofrimento e a alegria do grupo) e a não pensar muito com o amanhã (aprendemos com o tempo a não sofrer por antecipação)”.



Todos os anos (e já lá vão 50) esta família se reúne, fazendo-se acompanhar por filhos,  netos e bisnetos, contando sempre as mesmas histórias mas com a emoção como se que fosse a primeira vez. Nestes alegres e sempre emotivos encontros, de ano para ano, cada vez correm mais lágrimas que cerveja e vinho.

 Joaquim Costa

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Nota do autor:

(#) Menino (quase) da Foz. Porventura um dos últimos “fidalgos” do Porto, com tertúlias sempre marcadas no Orfeu (café na Boavista – Porto). Aperfeiçoou o seu Inglês no “engate” de Inglesas no Parque de Campismo da Prelada, tratando-as com o mesmo carinho como tratou as minas que levantou no Cumbijã (Guiné). Herdou o nome do seu tio-avô: José Manuel Sarmento de Beires, ´major do Exército Português (Lisboa, 4 de Setembro de 1893 – Porto, 8 de Junho de 1974), pioneiro da aviação, tendo feito o Raid aéreo Lisboa -Macau e a primeira travessia aérea noturna do Atlântico Sul.

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Nota do editor:

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25215: As nossas geografias emocionais (22): O antigo Hospital Militar Principal (HMP), Lisboa, Estrela


Fachada do Hospital Militar Principal,  Lisboa, â Estrela, s/d .  



Hospital Militar Principal de Lisboa 
(Igreja e antigo Convento de Nossa Senhora da Estrela)


Fonte: Adapt de Município de Lisboa


1. Quantos de nós passaram por aqui, pelo HMP, que não se resumia a este antigo edif´ciio conventual ?  Do complexo hospitalar da Estrela, fazai ainda parte o Anexo de Campolide... Algns andaram pelo HMP , em tratamento, recuperação e convalescença, um, dois ou até mais anos...  

Importa então relembrar a história do antigo Hospital Militar Principal (HMP) (que encerrou definitivamente em 2013) (*)... 

O edifício  (qeu vemos na foto) começou por ser,   originalmente,  um convento beneditino, fundado em 1572 e dedicado a Nª Sra. da Estrela. 

Em 1615, muito próximo deste, é fundado o Mosteiro de S. Bento da Saúde (no sítio onde é hoje o Palácio de São Bento) (**) . O primitivo convento da Estrela será, entretbato, transformado em colégio e casa de estudo da Ordem.

Em 1624 construiu-se no Convento das Janela Verdes, o Hospital Real Militar da Corte, mais tarde transferido para o colégio de Nossa Senhora da Estrela, passando a designar-se por Hospital Militar de Lisboa.

Com a Restauração e a guerra peninsular, a partir de 1640, desenvolve.se o Serviço de Saúde Militar e criam-se Hospitais de Guarnição.

O edifício da Estrela, tal como outras construções da cidade, fortemente abalado pelo terramoto de 1 de novemvro de 1755. Anos depois, em 1797, passa para as mãos do Estado, acolhendo um hospital militar que será utilizado por tropas auxiliares britânicas (ma também pelas tropas de Junot).

Em 1836, por parecer da 
Comissão de Saúde Militar, o  Hospital Militar Permanente instala-se definitivamente no edifício da Estrela.

Com a evolução dos tempos o Hospital foi alargando as suas instalações e em 1898 anexou-se a ala que dá para a Rua de S. Bernardo, para no ano seguinte alguns dos seus serviços serem instalados na "cerca" do Convento do Sagrado Coração de Jesus (Basílica da Estrela).

Em 1926, passa a designar-se Hospital Militar Principal. No ano seguinte, na "cerca",nas traseiras da Basílica da Estrela, será instalada a Escola do Serviço de Saúde Militar (ESSM)-

Posteriormente, com a abertura da Avenida Infante Santo, em 1950, ficou a referida "cerca" dividida ao meio: os pavilhões de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e o Laboratório de Análises Clínicas vão ficar no lado nascente (lado esquerdo da Infante Santo, quando se desce); o Bloco Operatório e o Pavilhão da Família Militar, construído na década de 1940, situam-se no lado poente (lado direito da Infante Santo, no sentido descendente) (***)

Sem entrar em detalhes, sobre a sua estrutura física e orgânica, que se foi alargando ao longo do tempo, o HMP (constituído por diversas áreas e diversos edificios, e com graves problemas de circulação "intra-hospitalar") vai ter um papel importante durante a guerra de África (1961/75). 
Faz parte das "geografias emocionais" de alguns de nós (****).

Em 1961, o Aquartelamento de Campolide deixou de ser ocupado pelo Regimento de Artilharia n.º 1, sendo aí instalado o Centro Ambulatório de Doentes e Convalescentes, anexo do HMP (conhecido como o Anexo de Campolide), face ao grande número de evacuados do Ultramar.

Em 18 de Outubro de 1973 foi inaugurado a Casa de Saúde da Família Militar, localizada na "cerca" do hospital, com 12 pisos.

Em 1991 procedeu-se à concentração hospitalar dos três corpos de edifícios dispostos em volta do Largo da Estrela, de forma a permitir a alienação do referido Anexo de Campolide que se tornou desnecessário.

Durante a década de 90 o Hospital responde aos desafios da medicina moderna efectuando obras e melhoramentos em diversas áreas. O Hospital Militar de Belém como hospital complementar, integra os seus serviços clínicos no funcionamento hospitalar global.

Em 2009, avançava-se com um projeto para a criação de um Hospital Único das Forças Armadas. Porém, o Hospital Militar da Estrela acabaria por fechar em 2013. O seu destino ficou incerto. 

Anos depois, em 2022, o antigo convento e depois hspital militar, adjacente ao Jardim da Estreka, reabriu portas como espaço cultural, com o nome “House of Neverless” , prometendo eventos, workshops e formações. Tem dois pisos dedicados ao teatro e um terceiro para a academia. 
 
Fontes: 
Adaptado de página do Exército > Hospital Militar Principal > Historial

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 24 de fevereiro de  2024 > Guiné 61/74 - P25210: Os nossos seres, saberes e lazeres (616): Visita técnica no âmbito da minha Ordem Profissional, a OET (Ordem dos Engenheiros Técnicos), à chamada "Linha Circular" do Metro de Lisboa (Hélder Valério de Sousa)

(**)  Mosteiro de São da Saúde de Lisboa > Historial 

(...) O Mosteiro de São Bento da Saúde de Lisboa era masculino, e pertencia à Ordem e Congregação de São Bento.

Também designado por Mosteiro de São Bento da Saúde de Lisboa, Mosteiro de São Bento de Lisboa, Mosteiro de São Bento o Velho.

Em 1581, os monges beneditinos que estavam instalados no Mosteiro de Nossa Senhora da Estrela de Lisboa, decidiram construir um novo edifício, na quinta da Saúde, também em Lisboa.

Em 1598, foram iniciadas as obras, pelo Geral da Ordem Beneditina, frei Baltazar de Braga, segundo o projecto do arquitecto Baltazar Álvares.

Em 1615, a 8 de Novembro, a comunidade transferiu-se para a quinta da Saúde. A invocação do Mosteiro teve a sua origem nesta nova residência, o qual viria a ser designado por São Bento de Lisboa ou por São Bento da Saúde de Lisboa.

A partir de 1755, os monges foram obrigados a ceder uma parte das suas instalações para vários fins. De 1755 a 1856, e de 1769 a 1772, foi sede da Patriarcal de Lisboa. Em 1757, e nos anos seguintes, serviu de instalação à Academia Militar. Em 1796 e 1798, serviu de prisão de pessoas notáveis. Entre 1797 e 1801, serviu de instalação ao Batalhão de Gomes Freire de Andrade. Entre 1756 e 1990, acolheu o Arquivo da Torre do Tombo.

Em 1822, os monges tiveram de abandonar o mosteiro, indo para o Mosteiro de São Martinho de Tibães de onde regressaram em 1823.

Em 1833, abandonaram o edifício definitivamente quando este foi cedido para local de reunião das Cortes Constituintes.

Em 1834, no âmbito da "Reforma geral eclesiástica" empreendida pelo Ministro e Secretário de Estado, Joaquim António de Aguiar, executada pela Comissão da Reforma Geral do Clero (1833-1837), pelo Decreto de 30 de Maio, foram extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e casas de religiosos de todas as ordens religiosas, ficando as de religiosas, sujeitas aos respectivos bispos, até à morte da última freira, data do encerramento definitivo.

Os bens foram incorporados nos Próprios da Fazenda Nacional.

Localização / freguesia: Lapa (Lisboa, Lisboa) (...)


(***) Vd. artigo "Alterações na estrtutura do Hospital Militar Principal", do major Rui Manuel Pereira Fialho, publicado na Revista Militar N.º 2566 - Novembro de 2015, pp 909 - 918. (Disponível aqui em pdf: https://www.revistamilitar.pt/artigopdf/1064)

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24866: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (22): mais quatro fados com letras em calão do fadista ou faia de antigamente


Capa do livro de Luís  Moita (1894-1967): O Fado, canção de vencidos: oito palestras na Emissora Nacional. Lisboa:  [s.n.] [Lisboa, Oficinas Gráficas da Empresa do Annuário Comercial], 1936, 357 páginas. Ilustrações de Bernardo Marques (1898-1962). Foi, na época, o inimigo público nº 1 do fado... "Enquanto cantamos o Fado, de cigarro ao canto da boca, olhos em alvo e paixão a arrebentar o peito, não passamos de um povo inferior, incapaz de compreender a vida moderna das nações civilizadas. Por isso repito aos rapazes  [da Mocidade Portuguesa] : ' Não cantem o Fado!' " (pág. 229). 

Tanto à esquerda como à direita, em diferentes quadrantes político-ideológicos, o fado nunca foi bem aceite pelas elites portuguesas...a não ser mais recentemente coma sua consagração como "património cultural imaterial da humanidade, pela UNESCO (2011). (Temos mais de 7 dezenas de referèncias com o "tag" ou descritor "Fado-)


1. Mais um excerto  do livro de Alberto Pimentel (1848 -1925),  "A Triste Canção do Sul: subsídios para a história do fado" (Lisboa, 1904, pp. 93/99). (*)

Mas não se pense que o Bairro Alto eram só faias, fado, tabernas, naifas e... rameiras. Também concentrava muita gente da emergente classe operária (com a crescente industrialização da cidade), a par dos homens dos  jornais, artistas, escritores e boémios. Desde meados do séc. XIX que se começaram ali a concentrar as publicações periódicas de Lisboa... Ali e nas zonas adjacentes, como o Chiado (chique e burguês). 

Sem dúvida que o Bairro Alto foi, dos bairros populares e ribeirinhos,  talvez o mais "afadistado", o que também tem a ver com a sua origem aristocrática: a nova fidalguia da época dos Descobrimentos  viveu ali, desde o terramoto de 1513  até ao terramoto de 1755 (este o mais mortífero, quando caiu o Carmo e a Trindade...).

Nos séc. XVI e XVII o Bairro Alto, com as suas ruas ortogonais,  são a primeria urbanização moderna da cidade (conhecido como a Vila Nova de Andrade)... O clero e a nobreza, com a degradação física do bairro,  começaram a mudar-se para zonas mais seguras e desafogadas da cidade...  Na segunda metade do séc. XVIII e princípios do sec. XIX, as classes laboriosas (artesãos, operários,  calafates, marinheiros, etc. mas também o lumpen)  começaram ocupar aquele espaço urbano. A seguir, e instalando-se em grandes edifícios deixados vagos,  vieram os tipógrafos e depois os jornalistas, os artistas, os literatos, etc., uma vez que se circulava facilmente entre o bairro, o Chiado e a Baixa (Rossio, Restauradores e Passeio Público, mais tarde Avenida da Liberdade).

 A concentração de tipografias e redações de jornais no Bairro Alto tem uma explicação, mais ou menos óbvia: ficando numa colina, a famosa 7ª Colina de Lisboa, e fazendo-se a distribuição dos jornais através de "ardinas" (hoje uma "profissão extinta"),  que iam de porta a porta, loja a loja, rua a rua, praça em praça, com quilos de papel às costas, era mais fácil descer do que subir, neste caso, da 7ª Colina para a Baixa... 

Já foram recenseadas algumas centenas  de publicações periódicas, de todo o género, com localização nesta zona histórica (Bairro Alto / Chiado), ao longo de mais de um século e meio... Hoje só o jornal desportivo "A Bola" ainda continua no Bairro Alto. Mas continuam a existir a rua do Diário de Notícias (antiga rua dos Calafates), a rua do Século, etc.

Dito isto, desafia-se o leitor a ler e a "descodificar" os vocábulos e as expressões  do calão, usados pelo  fadista ou faia de antigamente (que, diga-se de pssagem, é também uma figura estereotipada que nos veio dos primórdios do fado, ou seja anos 30/40 do séc. XIX)...  

A imposição, pela Ditadura Militar, em 1927 (e mantida depois pelo Estado Novo), do licenciamento dos recintos, da emissão de carteiras profissionais para os fadistas e da censura prévia das letras, vai ter grandes implicações na evolução do fado e dos seus cultores. E este tipo de letras (e outras com conteúdo mais contestário, no plano social e político) irão desaparecer...

Para os nossos leitores, fica  aqui  a tarefa de descodificar estas letras,  o que  não é fácil, à falta de um glossário (**). Alguns destes vocábulos e expressões ideomáticas chegaram, todavia,  até aos nossos dias (e faziam parte do nosso léxico de caserna)... Prometemos,  em próximo poste, publicar um pequeno glossário do calão fadista.


Cap III - Os assumptos do Fado (pp. 93 / 99)

(...) Há, porém, outros Fados compostos em calão. Conhecemos quatro que não devemos deixar de transcrever, tanto mais que elles contêem alguns termos, como por exemplo antrames e gamotes, que não foram incluídos no diccionario do sr. Bessa.(**)


Quem se metter c'um fadista
E o ouvir faltar calão, 
Fica logo a ver navios, 
Té perde a mastreação. 

Chamam ao bater suquir
A' gazúa uma retanha. 
A' bofetada uma sanha
Roncar é estar a dormir
Esgueirar é ter de fugir, 
Um arranjo é uma conquista, 
A taverna é uma modista
Cemitério se m'entende 
Decerto o nâo comprehende, 
Quem se metter c’um fadista. 

Homem honesto e honrado, 
É um gajo direitinho
Bater é fazer joginho, 
Mattar é deixar espalhado
Ser pobre estar desarmado
Gamote é reunião: 
Pois quem se chegue a um bailhão 
Passe-lhe logo as palhetas
Quando o vir fazer caretas, 
E o ouvir fallar calão

Elles chamam laia á prata, 
A um casebre um cortiço
Namorar é um serviço
A pancada é zaragata
Um sôcco é uma batata,
Chapéus altos são cepios, 
Aos ladrões chamam larpios
A’s algibeiras antrames
Quem ouvir dizer arames
Fica logo a ver navios.

Arames é o dinheiro;
Ao vinho chamam briol;
Ao apito um rouxinol;
Jogador de pau, cocheiro
Um bêbado é um archeiro
Um gabinardo um gabão
Dois vinténs um buzilhão
Avésa quer dizer tem: 
Quem os não percebe bem, 
'Té perde a mastreação. 

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Passei os butes (#) á Annica, 
Pois tinha naifa na liga: 
Boas noites, meus senhores. 
Vou cantar uma cantiga. 

De briol tinha atirado 
Duas viuvas e meia: 
Sentou-se uma centopeia 
Junto onde eu estava sentado. 
Fiquei mais envinagrado
Quiz dar cabo da futrica
Já por ser feia e não rica 
E me negar um paivante
Em tempo que é já distante 
Passei os butes á Annica. 

Puz-me a mirar a gajona 
E fez- me tanta arrelia
Que por pouco a não enfia
 À minha naifa, intrujona
Tinha um ar de marafona, 
De mulher que vende em giga
Mas não quiz armar a briga
Apesar já da piélla
Não me quiz medir com ella, 
Pois tinha naifa na liga. 

A final engole a isca 
Que tinha mandado vir, 
E diz- me assim ao sair : 
«Chamo-me Nuna Francisca. 
Se você se não arrisca 
A mostrar-me os seus valores,
Vá ter co'a Julia Dolores,
P'ra nos soccarmos com ela».
Vejam lá que bresundella!
Boas noites, meus senhores.

Se alguém d'aqui foi capaz
De saber o que eu cantei,
Uma prenda lhe darei,
Seja velhote ou rapaz.
Sabem o que aqui me traz,
O que a servil-os me obriga ?
É essa amizade antiga
Que por mim lhes é bem dada.
Visto que fiz esta entrada,
Vou cantar uma cantiga.

_______________________

Quando tenho um carinha
E um charuto a fumegar,
Já sou mais que o faroleiro,
É dar-lhe, toca a gimbrar


0 meu corpo não foi feito
P'ra se ralar...—isso pára!
P’ra gozança é que esta cara
Sempre teve todo o geito.
Se avélo por o direito,
Seja só uma rodinha,
Já dou mil voltas á pinha
A pensar como estafa-la,
E então isso não se falia
Quando eu tenho uma carinha!

Elle é a bella murraça,
E’ a bella rapioca
Elle é a gostosa móca,
Elle é tudo que tem graça.
Lá p'ra fazer de panaça
Co’as mondongas a versar,
Nunca me esteve a calhar;
Prefiro bater a bisca,
Ou dar-lhe então d’uma isca
E um charuto a fumegar.

Se a cousa gruda ao domingo.
Dou girança até ás hortas,
E de lá por horas mortas
É já torto que me tingo:
Que eu também nunca me pingo
Até perder o carreiro ;
Fico só um pouco archeiro,
A trez furos de pingado,
E assim mystico, orchatado,
Já sou mais que o faroleiro.

Todo o gajo que na orchata
Nunca entortou o pescoço,
Avezando bago grosso,
Tem a pitorra bem chata
Devia logo uma data
De camolete apanhar,
Que era então p'ra se lembrar
Que o mundo é uma fumaça,
E emquanto n’elle se passa
E' dar-lhe, toca a gimbrar.

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Em calão a atirar

Dê me a naifa, não se ponha 
Comigo ás duas por trez . 
Não passe os butes agora... 
Que está na mão de má rez. 

— Eu estafo-o, seu mariola
—E eu cá chego-lhe umas todas. 
—Não se me ponha com modas, 
«Que o mando já p'ro esfolla
—Olhe que é de ponta e móla. 
«Olhe que esta  tem peçonha
—Você perdeu a vergonha ? 
—Perdi a vergonha ? Hom'essa! 
— Vamos lá, que lenho pressa, 
«Dê-me a naifa, não se ponha... 

— Não me ponho a fazer vistas 
«De fadista ou galopim
"Lá eslá aberto o estarim 
"P'a quem rentar com fadistas. 
Você porque faz conquistas... 
«Que eu não sei já quantas fez,
 «Vem cá fazer-se francez
«Porque pertence á gentalha
«Vem pôr-se aqui, seu canalha, 
«Comigo ás duas por trez !

—Está nadando, meu amigo; 
«Passe p’ra cá essa espinha.
 Isso, não; que é muito minha:
 «Você, chamava-lhe um figo! 
— Eu se lhe afinfo no embigo
"Um sôcco sem mais demora.. 
"Veremos, se você chora 
"O seu empenho tão cego!...
«Eh! onde vai, seu gallego?
«Não passe os butes agora !
 
—Arrede-se já d'aqui...
«Já o não vejo, percebe? 
—Pois já a comadre bebe!|
«Seu pateta!. .. seu cri-cri
—Eu cá logo quando o vi, 
«Puxei da naifa outra vez : 
«Vá, marche, seu montanhez
«Ou dou-lhe quatro naifadas
"Conte co’as guellas cortadas, 
Que está na mão de má rez.


(#) Bute é uma das palavras que o calão adoptou das línguas estrangeiras. Vem do inglez boot,  bota, pé. (Adolpho Coelho.)  

In: Alberto Pimentel - A triste canção do sul: subsídios para a história do fado. Lisboa: Livraria Ce
ntral de Gomes de Carvalho, editot, 1904, pp. 89-93

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Notas do editor:


Último poste da série > 19 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24864: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (21): Os sinais de código da estrada é para... respeitar, e os dos códigos comportamentais ainda mais... (Hélder Sousa, Setúbal)

(*) Vd. "A gíria portuguesa: esboço de dicionário do 'calão', de Alberto Bessa (1901), citado por Alberto Pimentel (1904)... Foi considerada na época a mais completa recolha de termos e expressões idiomáticas da gíria e do calão, feitas em Portugal e no Brasil, contendo mais de cinco entradas.

Há uma edição, recente, da Húmus (2022, 248 pp; coleção A Iha; preço de capa: 4 euros).

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24855: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (29): A Av Amílcar Cabral, no coração do "novo" Bissau Velho, palco das comemorações dos 50 anos da independência do país

Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral > 16 de novembro de 2023 > 50 anos da independência (em 24 de setembro de 1973) >  Ao fundo, a tribuna com as entidades oficiais em frente da qual irão desfilar os militares guineenses; por detrás da tribuna, o edifício da UDIB. Presentes o presidente da República Portuguesa, e do presidente do Governo Português.

Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral > 16 de novembro de 2023 > 50 anos da independência (em 24 de setembro de 1973) >  Em primeiro plano, elementos da população que se váo juntando nos passeios... Ao fundo, a Praça dos Heróis da Pátria e o Palácio Presidencial.


Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral > 16 de novembro de 2023 > 50 anos da independência (em 24 de setembro de 1973) > A população de Bissau junta-se aos milhares oara assistir às cerimónias
 

Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral > 16 de novembro de 2023 > 50 anos da independência (em 24 de setembro de 1973) > Parada militar a subir a Av. Amilcar Cabral, para desfilarem junto à tribuna oficial...  


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral > 16 de novembro de 2023 > 50 anos da independência (em 24 de setembro de 1973) > Desfile militar, junto ao edifício dos Correios (que é do tempo colonial)... A parada começou por descer a avenida, seguindo para a marinha, dando a volta junto ao porto do Pidjiguiti e subindo depois  a avenida Av. Amilcar Cabral

Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral > 16 de novembro de 2023 > 50 anos da independência (em 24 de setembro de 1973) > Desfile militar, ao fundo o antigo hotel Portugal, da família Parente


Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral > 16 de novembro de 2023 > 50 anos da independência (em 24 de setembro de 1973) Parada militar junto à Casa Esteves  > Comandos (I)


Foto nº 7A > Guiné-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral > 16 de novembro de 2023 > 50 anos da independência (em 24 de setembro de 1973) Parada militar junto à Casa Esteves  > Comandos (II)

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem (e fotos) quer nos foi enviada esta manhã, às 10h29, pelo Patrício Ribeiro (nosso correspondente em Bissau, colaborador permanente da Tabanca Grande para as questões do ambiente, economia e geografia da Guiné-Bissau, onde vive desde 1984, e onde é empresário, fundador e diretor técnico da Impar Lda; tem mais de 130 referências no blogue; autor da série, entre outras, "Bom dia desde Bssau") (*)
 
Luís,

Vão iniciar-se agora as cerimónias dos 50 anos de Independência da Guiné-Bissau, são 10h, estão 28 graus de temperatura, ás 14h vão estar 35.

Abraço
Patricio Ribeiro

Guiné 61/74 - P24853: As nossas geografias emocionais (16): O novo rosto da "nossa" Bissau Velha: fotogramas de vídeo recente de @PauloCacela, ciceroneado por Tita Pipoka e Liliana Correia


Fotograma nº 1   > Bissau > Praça Heróis da Pátria (antiga Praça do Império) (é cruzada na vertical pela Av. Amílcar Cabral e na horizontal pela Av. Francisco Mendes)


Fotograma nº 2 > Bissau > Av. Amílcar Cabral (antiga Av. da República)... Ao fundo, o palácio presidencial (há uns anos reconstruído pelos chineses)... Do lado direito, a catedral de Bissau, do tempo colonial.


Fotograma nº 3 > Bissau > Forte da Amura (fortificação do séc. XVIII, hoje Panteão Nacional onde repousam os restos mortais de alguns heróis da liberdade da Pátria, como o Amílcar Cabral, o Domingos Ramos, o Osvaldo Vieira, etc.) (Sobre a nova toponímia de Bissau, a partir de 1975, vd. poste P20340 (*)


Fotograma nº 4 > Bissau >  Casa N'té, uma gelataria tradicional. Na foto o Paulo Cacela e a Tita Pipoka. A Casa N'té tem página no Facebook. Fica na Rua de Angola, frente à RTP.


Fotograma nº 5 > Bissau >  O novo Mercado Central de Bissau, recém construído no mesmo sítio do velho mercado do tempo colonial, em plena Bissau Velha, perto da  Amura. Foi inaugurado em 26/12/2023, é um edifício de três pisos contando com 360 lugares para venda e com capacidade para albergar 480 comerciantes. Na foto o Paulo Cacela comendo uma saborosa manga com casca.


Fotograma nº 6 >Bissau > Mais um artéria da cidade, em obras  


Fotograma nº 7 > Bissau > o novo Mercado Central de Bissau: entrada. O antigo mercado construido na época colonial, ficou fechado durante 16 anos devido aos bombardeamentos de que foi alvo durante a guerra de 7 de Junho 1998, tendo sido reabilitado um ano depois, mas, em 2006, um incêndio voltou a destruí-lo por completo. Os feirantes acabaram por montar o seu negócio ao longo das ruas adjacentes (Fonte: FAAPA, 27 dez 2022).

Guiné - Bissau > Bissau > 2023 > O "novo" rosto da cidade... Fotogramas do vídeo de Paulo Cacela na sua canal no You Tube, reproduzidos aqui e editados por nós, com a devida vénia>  

Fotogramas (e legendas): © Paulo Cacela (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. O vídeo tem pelo menos três meses, foi c0locado em 21/7/2023. O  nosso já conhecido Paulo Cacela, "youtuber", português a viver em Cabo Verde, desde 2010 (**), faz um visita de carro pela "nova" Bissau Velho, sendo guiado por dois conhecias "influencers", a Tita Pipoka e a Liliana Correia. A época ainda é a da estação seca, a avaliar pela ausência de poças de água nas ruas. (Surpreendeu-me a frota automóvel de Bissau: há ali dinheiro a correr...)

O vídeo, colocado no You Tube,  tem já mais  de 32 mil visualizações.

Sinopse

(...) "Junta-te a nós para acompanhar as mudanças urbanas que estão acontecer na capital Bissau. Ninguem melhor que Tita Pipoka e Liliana Correia que dispensam qualquer tipo de apresentaçãoes na comunidade da lingua portuguesa, para nos mostrar um pouco sobre as ruas da capital, vamos perceber o que est+a a ser feito em prol da melhoria urbana. Podem seguir no Facebook: Tita Pipoka e Mrs Correia no Facebook e no Youtube onde iráo certamente encontrar excelentes videos sobre a Guine Bissau. (...)

Não se esqueçam também de dar o respectivo like e subscrever também".(,,,)

O Paulo Cacela é conduzido por ruas da  "nova" Bissau Velha, umas já remodeladas e alcatroadas, outras ainda em obras (como é o caso da Av Amílcar Cabral, que vem  da antiga Praça do Império ao porto do Pijiguiti). 

Nesta avenida realizam-se as cerimónias da comemoração dos 50 anos da independência da Guiné-Bissau (24 de setembro de 1973) (Vd foto abaixo, enviada há dias pelo nosso colaborador Patrício Ribeiro) (***).


2. O Paulo Cacela é já um nosso conhecido: jovem engenheiro civil português (formou-se em 2006, no ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto), mudou-se para Cabo Verde em 2010.

Até 2019 trabalhou na área da construção civil. E formou lá família. Com a pandemia de Covida-19 , decidiu viajar e mostrar as ilhas do arquipélago de Cabo Verde (vencendo a fobia de viajar de avião). Tornou-se "youtuber", criador de vídeos.

Mais recentemente, em meados de 2023, esteve na Guiné-Bissau, país de que se tornou rapidamente um apaixonado, Os seus vídeos (sobre Bissau, Bubaque, Bafatá, Bambadinca, Saltinho...) merecem ser vistos,

Como forma de o ajudar a tornar este projeto sustentável, sugerimos que subscrevam o seu canal. Tem já cerca de 23 mil subscritores, cerca de 190 vídeos de viagens. O número de visualizações atinge já os 3,5 milhões. Aderiu ao You Tube em 2013 (@PauloCacela). Tem também página no Instagram e no Facebook (aqui com 13 mil seguidores).

Há dias divulgámos um dos seus recentes vídeos, justamente sobre Bambadinca, a que ele chamou "a maior tabanca da Guiné-Bissau" (**).
 
Os fotogramas que reproduzimos, retirados do vídeo (com a devida vénia...) remetem-nos para lugares que pertencem às nossas geografias emocionais (****)


Guiné-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral > 12 de novembro de 2023 > A tribuna VIP que irá receber as entidades oficiais (incluindo representantes do Estado Português), presesntes nas próximas celebrações dos 50 anos da independència do país (que se realizam hoje, 16 de novembro de 2023, com a presença. entre outros do nosso presidente da República e o nosso primeiro ministro). Por detrás da tribuna, o nosso velho conhecido cinema UDIB, ainda da época colonial.


Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de novembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20340: Memória dos lugares (400): Roteiro de Bissau, antes e depois de 1975: principais artérias e pontos de referência


(*** ) Vd. poste de 13 de novembro de  2023 > Guiné 61/74 - P24844: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (28): A av Amílcar Cabral, a antiga av República, toda remodelada e engalanada para receber as entidades oficiais (incluindo representantes do Estado Português) que vão participar nas comemorações dos 50 anos da independência do país

Vd.  também poste de 28 de dezembro de  2022 > Guiné 61/74 - P23924: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (33): Fotos de Bissau Velho e Amura, na véspera de Natal

(****) Último poste da série : 4 de novembro de  2023 > Guiné 61/74 - P24821: As nossas geografias emocionais (15): o reordenamento de Nhabijões (ou Nha Bidjon), 300 casas de zinco que terão custado mais de 2700 contos (c. 700 mil euros a preços de hoje), fora a mão-de-obra, civil e militar, e ainda os custos indiretos e ocultos

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24794: As nossas geografias emocionais (9): Imagens recentes de Bambadinca e Nhabijões (fotogramas do viajante e criador de vídeos Paulo Cacela, Cabo Verde)


Foto nº 5


Foto nº 4


Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 8


Foto nº 1 


Foto nº 3


Foto nº 2

Fotogramas do vídeo de Paula Cacela (2923) : "Dentro da Maior Tabanca da Guiné-Bissau". 
(Editados e reproduzidos com a devida vénia...)



Fotos: © Paulo Cacela (2023). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Paulo Cacela é  um jovem engenheiro civil portuguès (formou-.se em 2006, no ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto). Mudou-se para Cabo Verde em 2010. 

Até 2019 trabalhou na área da construçáo civil.  E formou lá família. Com a pandemia de Covida-19 , decidiu viajar e mostrar as ilhas do arquipélapo de Cabo Verde (vencendo a fobia de viajar de avião). Tornou-se "youtuber", criador de vídeos. 

Mais recentemente, em meados de 2023, esteve na Guiné-Bissau, país de que se tornou rapidamente um apaixonado, Os seus vídeos (sobre Bissau, Bubaque, Bafatá, Bambadinca, Saltinho...) merecem ser vistos, 

C0mo forma de o ajudar a tornar este projeto sustentável,  sugerimos que subscrevam o seu canal. Tem já cerca de 23 mil subscritores, cerca de 190 vídeos de viagens. O número de visualizações atinge já os 3,5 milhões. Aderiu ao You Tube em 2013 (@PauloCacela). Tem também página no Instagram e no  Facebook (aqui com 13 mil seguidores).

Há dias divulgámos um dos seus recentes vídeos, justamente sobre Bambadinca, a que ele chamou "a maior tabanca da Guiné-Bissau" (*).

Hoje tomamos a liberdade de reproduzir, com a devida vénia, alguns dos seus fotogramas, com destaque para a parte do vídeo em que visitou os Nhabijóes e a "máe-de-água" de Bambadinca. 

A nossa legendagem complementar também  pretende ajudar a perceber melhor o conteúdo  do vídeo de cerca de uma hora,  e o seu contexto.  Para quem, como nós conheceu Bambadinca e os seus arredores, no tempo da guerra (incluindo Nhabijões, "de má memória", já que caímos lá em duas minas anticarro, em 13 de janeiro de 1971, na altura em que se estava a construir o respetivo reordenamento), este "regresso" é sempre emocionante... São lugares que pertencem às nossas geografias emocionais (**)


2. Transcreve-se o nosso comentário (*), agora enriquecido com os oito fotogramas do Paulo Cacela, reproduzimos acima (com a devida vénia) (trata-se de capturas de écrã):

Aconselha-se a ver o vídeo com legendas. O vídeo começa em Bafatá, onde o Paulo Cacela apanha uma carrinha de transporte público (tipo "toca-toca") para Bambadinba (ele diz "Babadinca", como toda a gente).

O alcatrão do tempo da tropa, na estrada Bafatá-Bambadinca, já desapareceu, em muitos troços... Parece haver bastante trânsito de camiões (de e para o leste, Gabu). Há paisagens que nos vêm, de imediato à memória (fot0 nº 1), das muitas viagens que fizemos entre junho de 1969 e março de 1971, ao temp0 em que estivemos em Contuboel (oito semanas) e depois em Bambadinca (21 meses). 

Na altura, o único troço de estrada alcatroada na zona leste (Regiões de Bafatá e de Gabu) eram justamente  os 30 km entre Bambadinca ("a cova do lagarto") e Bafatá ("a princesa do Geba").

Faz depois uma visita a Bambadinca, que o surpreendeu pela seu "mercado" e "formigueiro humano" (a expressão é nossa, o Paulo fala em "grande confusão", de gentes e viaturas) (Bambadinca tornou-.se a maior tabanca da Guiné, cresceu imenso depois da independência, 15 ou 20 vezes mais, hoje deve ter c. de 35 mil habitantes), e muito também graças à "eletrificação" operada em 2013/2014, com a instalação de um sistema fotovoltaico.

Na visita ele faz-se transportar de motorizada, conduzida por um futuro jovem professor, Sandji, que está ligado a uma ONG que apoia uma escola local e os direitos das mulheres (não conseguimos saber o nome dessa ONG)...

Depois o Paulo quer "conhecer uma tabanca", e o Sandji leva-o a Nhabijões  ou Nha Bidjon (o grande reordenamento do nosso tempo, com cerca de 300 casas, está bastante modificado, e há novas moranças) (fotos nºs 2, 3, 4 e 5).

Balantas e muçulmanos (mandingas e outros) estão separados, enquanto comunidades... Na foto nº 2, vè-se uma mesquista (que pendsamos ser do tempo da construção do reordenamento), e na º 3, uma escola corânica ou muçulmana ("madraça"),,, (A maior parte da população é balanta, mas havia um núcleo mandinga. que professa a religião muçulmana).

Podem-se ver aqui algumas das mais belas paisagens da Guiné: a grande bolanha de Nhabijões ("Nabedjon"), o cultivo do arroz, as mulheres a mondar, o duro trabalho braçal dos jovens, munidos do "radi", a enxada balanta, etc. (Fotos nºs 4 e 5).

A seguir o Paulo, sempre conduzido pelo Sandji, vai conhecer a instalação fotovoltaica que desde 2013/14 pôs Bambadinca no mapa. "Bafatá ficou parado no tempo", diz o jovem encarregado de gerir o sistema (que está com problemas de eficiència por falta de manutenção: as baterias atingiram o seu prazo de validade, já não funcionam, à noite e em dias sem sol tem se recorrer ao gerador e ao gasóleo...).

Mas em Bambadinca há luz, só há outra comunidade na Guiné (não se diz qual. ,mas julgamos ser Contuboel) que beneficia de luz eléctrica durante todo o dia e à noite até à meia noite.

O vídeo, de quase uma hora, termina na "mãe de água" que alimenta Bambadinca (pelo menos, a antiga zona colonial) e cuja localização exata ainda não descobrimos, numa primeira visualização rápida do vídeo... (E não temos ideia de a ter visitado, em 1969/71; a possível referència ao BART 3873, gravada no cimento, aparece ao minuto 53, já quase para o fim do vídeo). (Fotos nºs 7 e 8).

A paisagem (onde se localiza esta captação de água, do tempo colonial) é luxuriante. O "poço " ou "mina" está muma cota mais elevada (cerca de 50 metros, diz o Paulo, que é engenheiro). A água chega à antiga "baixa" de Bambadinca", a tabanca do nosso tempo, junto ao rio, por gravidade... 

Reconhecemos, isso, sim, o fontenário de Bambadinca, de 1948 (do tempo do grande governador Morais Sarmento) , agora pintado de branco e azul (foto nº 8), que aparece no fim, e que continua a dar água aos bambadinquenses, desde há 75 anos! (vd. poste P10806).

PS - Ainda não conseguimos localizar esta nascente... Pode ser, na carta de Bambadinca, um lugar chamado "Água Verde", entre Bambadincazinho (reordenamento onde ficava a "Missão do Sono") e o rio Geba, à cota 35. A distància até ao fontenário de 1948, na "baixa", na antiga tabanca de Bambadinca, seria de menos de 2 km.Pelo mapa vê-se que havia diversas "pontas" ao longo da margem esquerdo do rio Geba. A região é fértil em água. 
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