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sábado, 12 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26679: Fotos à procura de...uma legenda (195): Bissau "by air"... Alguns pontos de referência (Armando Oliveira, ex-1º cabo at inf, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)





Guiné > Bissau > s/d (c. 1970/74) > Alguns pontos de referência da capital, na época da administração portuguesa.


Fotos: © Armando Oliveira (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

I. Fotos do álbum do Armando Oliveira (ex-1º cabo,  3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74): grão-tabanqueiro nº 901; natural do Mraco de Canaveses, vive no Porto.
 

Legenda:

1. Catedral

2. Nunes & Irmão Lda (hoje Hotel Coimbra)

3. UDIB

4. Praça Honório Barreto (hoje, Pr Che Guevara)

5. Av República (hoje Av Amílcar Cabral)

6. CTT

7. Pemsão Dona Berta (hoje uma "universidadfe privada)

8. Administração civil (hoje Ministério da Justiça e/ou Finanças)

9. Ponte-cais

10. Porto do Pijiguiti

11. Marginal

II.  Comentário do editor LG: 

As fotos não são famosas. Têm fraca resolução. De qualquer modo, são vistas aéreas da Bissau que conhecemos... (e que faz parte das nossas "geografias emocionais").

O Armando Oliveira não diz   qual é a sua proveniência nem a data.

Se algum dos nossos leitores quiser dar uma ajudinha, mande-nos mais pontos de referência (devidamente sinalizados)... 

É bom como exercício de memória... Ainda há dias se discutia aqui se a antiga Pensão Central (da saudosa dona Berta, que morreu em 2012) ficava antes ou depois da Catedral (no sentido ascendente, da avcnida marginal para a praça do Império / Palácio do Governador).

Ora a ordem é a seguinte: edificio da administração civil (8), Pensão Dona Berta (7), Catedral (1) (e em frente,  os CTT, 6), Nunes & Irmão, Lda (2), e já na quase na outra ponta, na antiga Av República (5), a UDIB (3).

____________________

Nota do editor:

sexta-feira, 11 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26674: A Bissau do Meu Tempo (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte II



Foto nº 12A e 12




Foto nº 15A e 15



Foto nº 14


Foto nº  11


Foto nº 10


Foto nº 8



Foto nº 9 e 9A




Foto nº 13A e 13

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


Fot0s do álbum do Virgílio Teixeira: membro da Tabanca Grande desde 19/12/2017. Tem cerca de 200 referências no nosso blogue. Natural do Porto, vive em Vila do Conde. É economista e gestor reformado.



A Bissau do meu tempo (Virgílio Teixeira,ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


- Parte II








1.  Fotos e legendas:


Foto 8

No Restaurante Tropical

Frequentei este restaurante tradicional várias vezes, mas não me lembro onde ficava, talvez na Bissau Nova.

Estamos 3 na mesa, um deles o Riquito foi bater a chapa, está um prato a mais. O rapaz na minha frente, que aparece inúmeras vezes nas fotos, nem sei o nome, era um soldado que julgo ser irmão do nosso ex-Furriel Riquito, pois é parecido com ele.

Duas garrafas de vinho, que não sei a marca, e um móvel cheio de coisas, que não
consigo agora identificar. Pede-se ajuda!

O penso no meu cotovelo, são as reminiscências da enorme queda nos acessos à Messe de Oficiais no Clube de Santa Luzia, onde já noite, vindo de Safim, com o meu amigo ex-alferes Verde, com uns copos a mais, caímos que nem sapos da motorizada, nas enormes valas de escoamento de chuvas. Ainda fomos à enfermaria tratar das mazelas sem ninguém se aperceber desta bronca.

Foto 9

Na estátua a Mouzinho de Albuquerque (o autor queria dizer, navegador Diogo Gomes, c. 1402/1420-c.1502), era eu e o meu homólogo "bianense", do BCAÇ 1932. Meu amigo do Porto e colega, de que já falei, no ICP (Instituto Comercial do Porto, fu
turo ISCAP - Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto, a partir de 1976).

Em Fevereiro de 1968. Bissau

Foto 10

Marginal e ponte-cais de Bissau

Estou a deslumbrar-me com aquelas vistas, do rio, cais, porto. Está comigo o mesmo individuo que ainda não sei quem é, mas provavelmente irmão do Furriel Riquito (foto 8).

Bissau, em Fevereiro de 1968

Foto 11

Pub Bar A Meta

A tomar um copo neste bar, que era também de jogos de corridas de minicarros, etc,

À esquerda o soldado condutor Espadana, era também o Chefe de Mesa na Messe de oficiais, vestia sempre de branco, e tinha uns galões vermelhos, pelo que era conhecido como o nosso Brigadeiro. Era um rapaz simples e afável, parecia mais morcão do que veio a saber-se,

Foi ele que geriu o Bar no mês em que fui nomeado. Todos beberam à grande, nunca fiz contas nem vi o dinheiro, mas no final deu saldo positivo.

Veio a saber-se nos almoços do batalhão, que ele, não morava dentro do arame farpado! Tinha uma bajuda, isto pelo menos em S. Domingos, com quem fazia vida conjugal e com certeza levava algumas coisas da messe. Nunca soube de nada, só alguns e poucos colegas e amigos.

Nunca deram falta dele, estava a horas no Bar e Messe.

Quando eu nos anos de 1984 e 1985 andei em viagens de e para a Guiné, em negócios, fui e como sempre, antes de embarcar na TAP na Portela, jantar ou almoçar ao mesmo restaurante às Portas de Santo Antão, pegado ao Gambrinus.

Eis que dou com ele, ali numa churrasqueira ao lado, a servir frangos na esplanada. Lá nos abraçamos, era hora de ponta, ele não tinha muita disponibilidade, disse o que fazia agora na Guiné, ele demonstrou alguma saudade ou saudosismo (da bajuda talvez?!).

Já pertence àqueles que da lei da morte se foram libertando. Paz à sua alma.

A seguir o tal rapaz que não sei identificar, mas que andava com esta malta.

Depois aí está o chamado ‘Artolas nº 1’ Era um bom amigo, e fez comigo as marchas finais em Mafra, e depois em Lisboa Lumiar Carregueira na EPAM. Formou-se um grupo autodenominado o Grupo dos Artolas. Era eu, o meu homólogo,  o "Bianense", o chamado ‘Cachadinha’ que morava em Vila do Conde, foi candidato à Camara de Matosinhos pelo PCP, e que foi durante muitos anos, o Diretor Chefe da Alfândega de Leixões. Eu ia lá em serviço muitas vezes, mas nunca facilitava nada. Era severo. Tinha a voz rouca e grossa, baixinho como eu, daí a voz de bagaço a que chamamos de Cachaça, logo o Cachadinha. Era o Madureira. Tinha o curso do ICP e foi parar a outro local qualquer, mas não na Guiné.

A seguir ao Artolas, falha-me o nome, sou eu já conhecido. (Policarpo). Os pais tinham uma pensão junto à Estação de São Bento, onde serviam na tasca, bebidas e petiscos, e fui lá algumas vezes, na Rua da Picaria.

Bissau em 25 de Março de 1968. Faz hoje 57 anos.

Foto 12

No cais de embarque em Bissau e Marginal

Das primeiras fotos que tirei, uns dias depois de ter desembarcado e ainda em Setembro de 67.
A apreciar paisagem com o tal personagem que não sei quem é, o meu batalhão ainda não tinha chegado, eu ia para ali para ver a sua chegada, em 3 de outubro de 67.

Os "bocas de sapo" eram talvez do Estado, pelo aspecto.

Não sei identificar o navio no cais, mas era pequeno, porque os grandes ficavam ao largo.

Bissau, em fins de Setembro de 1967

Foto 13

Junto a navio patrulha da armada portuguesa Esse é um navio, talvez Patrulha ou Fragata, não sei. Mas a bandeira não é Portuguesa, daí a minha confusão. Mas para lá entrar era dos nossos.

Nesta fase, já estou desempregado, e a aguardar a chegada do "Uíge" para me levar
embora.

Bissau, Maio de 1969

(Nota do editor LG: Provavelmente é um rebocador. o pavilhão é alemão (bandeira tricolar: preto, vermelho e dourado, da então República Federal Alemão; o navio estava matricialdo em Hamburgo, lê-se na boia de salvação; o nome do navio é ilegível.)

Foto 14

Grande Hotel de Bissau

Já fumava charuto? Não me lembro, mas talvez esporadicamente.

Vinha muitas vezes para este Hotel, tinha um optimo serviço, parava lá a fina flor de Bissau e visitas,

Passei por lá algumas noites, quando não me apetecia ir para o Biafra, tinha casa de banho completa. Lembro-me do cheiro a creolina para desinfectar tudo especialmente expulsar as baratas que por lá andavam e os fungos de muita gente com doenças,

Tinha pequeno almoço tipo hotel, e muitas vezes almocei e jantei por lá, onde via
frequentemente os altos comandos militares, incluindo Spínola.

Tinha uma loja de venda de muitas coisas que não existiam no comércio local e
tradicional. Ali comprei os primeiros polos.

Na esplanada não faltavam os sardões de meio metro a subir pelas árvores, mas vinham visitar-nos à beira dos pés.

Os jagudis era a sua sombra negra.

Bissau, Novembro de 1968

Foto 15

Avenida da Liberdade (isto é, da República), em Bissau, com duas faixas de rodagem e separador central

Pouco movimento, tudo maltratado, ao cimo a Praça do Império, e o Palácio do
Governador.

Quem sobe do lado direito, depois do Bento, e depois da Pensão da Dona Berta, temos o Stand da Peugeot e venda de gás em botija. Era o Gascidla, muito famoso aqui na metrópole. Devia pertencer à Sacor.

Acima estão as bombas de gasolina da Sacor, onde eu abastecia as minhas motorizadas.

Bissau em 3 de Outubro de 1967, no dia de chegada do T/T Timor com o meu batalhão.

(Continua)

(Revisão / fixação de textyo: LG)
______________

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26667: A Bissau do Meu Tempo (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte I



Foto nº 6



Foto nº 3



Foto nº 2 


Foto nº 5


Foto nº 1


Foto nº 4


Foto mº 7

Fotos (e legenda): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



Virgílio Teixeira
Fot0s do álbum do Virgílio Teixeira: membro da Tabanca Grande desde 19/12/2017. Tem cerca de 200 referências no nosso blogue. Natural do Porto, vive em Vila do Conde. É economista e gestor reformado.




A Bissau do meu tempo (Virgílio Teixeira,ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) 

-  Parte I




1. Nota de introdução.

Isto não são fotos de guerra, são de... passatempos, tempos de lazer.

Nunca tive objetivo nenhum com estas minhas fotos. Apenas instantâneos, momentos, fragmentos... para agora relembrar. Faltam muitas outras que desapareceram em acidente doméstico, Só com as fotos posso falar dos cenários e das centenas de cartas que desapareceram queimadas.

A pedido do nosso editor, aqui vou começar a publicar, ordenadamente, parte do meu Álbum, agora dedicado a Bissau: "A Bissau do Meu Tempo".

Seguem depois mais, e relacionadas com outros temas iu subtemas:

  • Café Bento, 
  • Paradas militares, 
  • Clube de Oficiais do QG, 
  • Amura, 
  • Brá, 
  • Bissalanca, 
  • Bandim, 
  • Pilão, 
  • Safim, Nhacra e outros lugares na ilha de Bissau

Relembro que se trata de álbum resguardado, por fazer parte daquilo a que chamei "As minhas loucuras na Guiné", "As minhas férias na Guiné*

Os temas poderão não ser bem do agrado de todos, mas pode ajudar um pouco aos muitos milhares que estiveram na Guiné, e nunca tiveram a oportunidade e o privilégio de conhecer a cidade de Bissau, os seus encantos e mistérios:

  • uma ida ao Pilão, 
  • o mercado de Bandim, 
  • ir comer ou comprar ostras a Quinhamel, acabadas de chegar, 
  • comer marisco a Safim,
  • ir à piscina a Nhacra, 
  • visitar o Porto Barcaça de Landim, no Rio Mansoa,
  • conhecer bem toda a estrutura do aeroporto, da Base Aérea (BA 12), em Bissalanca, 
  • do Quartel dos Adidos
  • Brá, e demais aquartelamentos na estrada de Bissau a Bissalanca, incluindo o HM241 (que só o conheceram os infortunados que por lá passaram ou quem lá esteve internado).

E duma forma geral toda a cidade, quer a Bissau Velha, mas também a Nova já com vivendas tipo Ocidental, que era pouco concorrida no tempo que por lá andei (de 21set67 a 4Ago69).

A minha função )presidente do Conselho Administrativo do meu batalhão) obrigava-me  a ir todos os meses a Bissau, onde poderia chegar a estar uma semana ou menos. Estive com o meu BCAÇ 1933 em Brá desde 26 de março a finais de abril de 1968.

Depois no final da minha comissão e da minha função no Conselho Administrativo, a partir de abril até 4 de agosto de 1969, sempre em Bissau, noutras funções, a aguardar embarque.

Daí que não tendo sido colocado sempre em Bissau, conheci no âmbito das inúmeras deslocações que fiz, e para isso utilizando o meu transporte independente, a minha motoreta, sem ninguém a mandar em mim.

Vila do Conde, 27 de março de 2025.

2. Fotos e legendas:

Foto1

Jantar no restaurante Nazareno, antes do Natal de 1967. Lado esquerdo o Furriel Riquito, amanuense do meu BCac 1933 ; do lado direito, o alf mil SAM, meu homólogo do BCac  1932, de Farim.

Vinho Casal Aveleda, garrafa tipo garrafão. Restaurante na Bissau Nova, que pertencia a alguém ligado à Casa Pintosinho (sem confirmação),  que eu frequentava assiduamente.

Foto 2

Na varanda do Nazareno à sombra, nota se ser uma zona mais nobre. Foi neste espaço que uma noite num jantar tinha levado a minha Konica Auto S2, mais o tripé e flash para fazer as tais tipo selfies.

O empregado tropeçou no fio de disparo à distância, mandou com tudo ao chão, e a lente partiu.

Fiquei sem máquina. Fui à casa onde a comprei para arranjar. Teve de ir para o Japão e levou meses a chegar. Como já não prescindia daquele aparelho, comprei nova câmara igual. Acho que custou 2500 escudos.

Quando veio a outra fiquei com duas. Uma passou a ser de fotografia a preto e a cores, e a  nova só com rolos de slides, diapositivos,  tudo a cores. Tirei mais de meio milhar delas e como só foram reveladas quando vinha de férias, eram ainda reveladas em França, nunca ninguém as viu, de todos os meus companheiros de fotos.

Foto 3

 Selfie. Penso que é junto aos armazéns de pescado, perto do Porto de Pijiguiti. Um amigo está a bater a chapa para mim e eu para ele, ambas com a minhas câmeras Konica

Bissau em Dezembro de 1967.

Foto 4

Uma noite no Pub-Bar"A Meta".

Junto de alguns amigos e outros apenas militares como eu. Da esquerda para a direita: os 3 primeiros são conhecidos do meu batalhão, mas não me lembro dos nomes. Depois, todos do meu CA, o 4º o cbo escriturário Horta, a seguir sou eu, ex-alf mil Teixeira, Chefe do CA do BCAÇ 1933;  e o último da direita o fur mil Riquito, amanuense.

Bissau Março de 1968, no mês em que estivemos em Bissau em Brá.

Curiosidade que não passa despercebida, todos de meia branca! Hoje teriam de ouvir umas bocas se aparecerem em público. Eu ainda usei meia branca, pelo menos até ao casamento.

Foto 5

Vista exterior do Restaurante "O Nazareno", na zona nova de Bissau.

Possivelmente já em Maio de 1969 a esperar embarque. Eu e a minha Bikla, com calça civil, sapato preto e meia branca.

Foto 6  

 Junto à estação dos CTT em Bissau

Na Avenida da República, chegou um novo aparelho. As balanças automáticas, uma novidade que arrastava a população para ver aquele estranho objeto, do qual saía uma senha com o peso e não sei se altura! 

Estou eu a pesar-me, uns 47-50 kg se tanto, e o meu homólogo do CA do BCaç 1932,  alf mil Soutinho Verde, Bissau entre março ou abril de 1968.

Foto 7

Na Pensão Dona Berta.

Era um Ícone da cidade de Bissau e da Guiné. A Dona Berta era uma pessoa muito afável e a sua pensão mesmo em cima da avenida principal era um local de convívio, mais para casais, e tinha nas redondezas, o Bento, a Gelataria, o Stand de automóveis e gás, acima a bomba de gasolina da Sacor. Em frente a Casa Gouveia ("Armazéns do Povo", depois da independência).

Mais para baixo,  para o rio (o estuário do Geba), situa-se a Catedral de Bissau.

Foi captada entre muitas outras em dezembro de 1967, cerca de 3 meses, depois de ter desembarcado.

Ali me encontrei com um amigo de café,  do Café Cenáculo do Vale Formoso, Porto.

O homem da Cheret que,  antes de embarcar, casou pelo civil com a sua namorada, sem a família de ambos saber, e depois fez a viagem na TAP e foi passar a Lua de Mel à Pensão Dona Berta, onde o encontrei.

Remetendo para as conversas de caserna, no final, esta é uma  incrível história real. 

(Continua)
 

quinta-feira, 20 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26601: Historiografia da presença portuguesa em África (471): Bissau ao tempo de Leopoldina Ferreira ("Nha Bijagó") (1871-1959) (António Estácio, 1947-2022)


Planta da Praça de São José de Bissau. Desenho de Travassos Valdez. Fonte: "África Oocidental" (1864).








Planta da Praça de São José de Bissau. Desenho de Travassos Valdez. Fonte: "África Oocidental" (1864) (Detalhes). Tinha (tem) 4 baluartes: Bandeira, Puana (ou Poama),  Onça e Balança.


Guiné > Bissau > c. 1870 > A Rua de S. José, considerada como a artéria mais importante. Ia do portão da Amura, que estava aberto das 8 às 21h00, ao baluart da Bandeira. 

Após o 5 de outubro de 1910, passou a designar-se como Rua do Advento da República; depois,  Rua Dr. Oliveira Salazar e, após a independência, mudou  em 21 janeiro  de 1975,  paa Rua Guerra Mendes, um dos combatentes da liberdade da Pátria, mortos em combate.

 Fonte: António Estácio - "Nha Bijagó: respeitada personalidade da sociedade guineense (1871-1959)" (edição de autor, 2011, 159 pp., il,).




Guiné > Bissaau > Av República > Postal ilustrado > c. 1960/70 > : Av da República (Hoje, Av Amílcar Cabral) > Ao fundo, o Palácio do Governador, e a Praça do Império; do lado direito, a Catedral de Bissau... Sob o arvoredo, do lado direito, a esplanada do Café Bento (O postal era uma Edição Comer, Trav do Alecrim, 1 - Telef. 329775, Lisboa).

Foto (e legenda): © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




António Estácio (Bissau,
Chão de Papel, 1947 -
Sintra, Algueirão  2022),
V Encontro Nacional
da Tabanca Grande, Monte Real,
 2010.
Foto: Luís Graça (2010)
1. Já na altura demos o devido destaque a esta publicação do nosso querido e saudoso camarada e amigo António Estácio (1947-2022): nascido em Bissau, fez o serviço militar em Angola, em 1970/72), foi engenheiro técnico agrícola, deixou saudades em Macau, escreveu diversos livros, vivia em Algueirão, Sintra, tinha duas filhas e seguramente netos. 

A propósito das mudanças de toponímia de Bissau logo no início de 1975 (*), fomos revisitar o livrinho "Nha Bijagó: respeitada personalidade da  sociedade guineense (1871-1959)" 
(edição de autor, 2011, 159 pp., il,).  (**)

Do prefácio, escrito por Eduardo Ferreira
respigamos entretanto os seguntes excertos (**):

(...) Ao ler este livro  não podemos 
deixar de pensar nas grandes figuras femininas, que foram as “sinharas” e que tanta 
influência tiveram na costa ocidental 
africana,  em particular  nos Rios da Guiné, 
entre  o século XVI e finais do século XIX. 

Essas mulheres que eram na sua maioria crioulas, geriam com enorme maestria os negócios dos seus maridos europeus ou eurodescendentes, resolvendo conflitos, realizando pactos com as autoridades locais, de modo a que as actividades comerciais decorressem sem delongas e fossem coroadas de êxito. 

A sua condição de crioula, dava à “sinhara” uma capacidade negocial ímpar, pois sendo detentora de uma dupla identidade cultural, era com facilidade que fazia a ponte entre as populações locais e os alógenos,  nomeadamente os europeus. 

Ficaram famosas na Guiné algumas dessas “sinharas” como:

  • a Bibiana Vaz, 
  • a Aurélia Correia conhecida por “mamé Aurélia”, 
  • a Júlia Silva Cardoso também conhecida como “mamé Júlia” 
  • e a Rosa Carvalho Alvarenga, mãe de Honório Pereira Barreto, 

entre muitas outras. 

Leopoldina Ferreira, vulgo “Nha Bijagó”, é em meu entender uma das últimas grandes “sinharas” da Guiné, pois o seu perfil enquadra-se na perfeição no papel desempenhado por essas influentes mulheres africanas, referenciadas por diversos autores como foi o caso de:

  •  André Álvares d’ Almada na sua obra “Tratado Breve dos Rios de Guiné do Cabo Verde” de 1594
  •  ou de George E. Brooks com “Eurafricans in Western Africa” publicado em 2004 
  • ou ainda Philip J. Havik com “Trade in the Guinea-Bissau Region: the role of african and luso-african women in the trade networks from early 16th to the mid 19th century” publicado em 1994, 
para apenas citar alguns.

(...) Um aspecto particularmente interessante nesta obra de A. J. Estácio, é a ligação cronológica que o mesmo faz, entre importantes acontecimentos políticos, administrativos e militares, que tiveram lugar na então Guiné Portuguesa, e as diversas fases etárias da biografada, ainda que esses factos não tenham qualquer ligação directa com a personagem tratada neste livro! 

O autor quis desse modo, dar-nos a conhecer alguns factos da história da então colónia/província da Guiné, que tiveram lugar entre 1870 e 1959, período que abarca a vida de “Nha Bijagó”  (...)

(...) Com esta publicação, António Júlio Estácio, revela-nos mais uma vez, o seu grande apego e dedicação às coisas e às gentes da terra que o viu nascer. (...)

Eduardo J. R. Fernandes, "Prefácio" (**)

[O Eduardo Fernandes foi amigo e condiscípulo do autor no Liceu Honório Barreto, em Bissau, e na alutra, em 2011, era comentador da RDP África].

Leopoldina Ferreira,
Nha Bijagó
(1871-1959)
2. Leopoldina Ferreira Pontes, "Nha Bijagó"  (Bissau, 1871 - Bissau, 1959) e a cronologia da cidade de Bissau

Aproveitando a vasta e valiosa pesquisa historiográfica do António Estácio, uma homem de várias pátrias (Guiné-Bissau, Portugal, Angola, Macau...) vamos aqui recolher e sintetizar algumas datas marcantes do desenvolvimento urbano de Bissau, correspondente ao período em que viveu a "Nha Bijagó" (1871-1959), acrescentando mais algumas de outras fontes:


(i) Leopoldina Ferreira (Pontes, pelo primeiro casamento...) nasceu em Bissau em 4 de novembro de 1871

(ii) era filha ("ilegítima", segundo a terminologia do  Código Civil em vigor na época, o de 1866) de João Ferreira Crato (natural do Crato, Alto Alentejo, comerciante na Guiné);

(iii) morreu aos 87 anos, em 26 de maio de 1959;

(iv)  o nominho Nha Bijagó deve tê-lo recebido da mãe, Gertrudes da Cruz (de etnia bijagó, natural de Bissau);

(v) pouco antes de ela nascer, em 1871, o 18º Presidente dos Estados Unidos da América, Ulysses Simpson Grant , proferiu a sentença referente à posse da ilha de Bolama, pertencente ao, então, distrito da Guiné, favorável a Portugal o que pôs termo ao conflito se arrastava com os ingleses;

(v) nessa altura Bissau era uma povoação encravada entre a fortaleza de S. José e um muro, com 4 metros de altura;

(vi) a igreja e o cemitério ficavam no interior da Amura;

(vii) de entre as poucas ruas e ruelas, extra-muros, a Rua de S. José era considerada como a artéria mais importante: a do portão da Amura, que estava aberto das 8 às 21h00, ao baluarte da Bandeira; após o 5 de outubro de 1910, passou ser a Rua do Advento da República; depois, a Rua Dr. Oliveira Salazar e, após a independência e a 21 janeiro  de 1975 a Rua Guerra Mendes; funcionaca como "passeio público" e tinha casas de sobrado

(viii) em 1872, tinha ela cerca de um ano "quando as ruas de Bissau começaram a ser iluminadas a petróleo" mas ainda eram "poucos os candeeiros";

(x) a 1877, foi criado o concelho de Bissau, sendo de 573 habitantes a população na área murada, composta por :

  • 391 nativos, 
  • 166 oriundos de Cabo Verde 
  • e, apenas, 16 europeus.

(xi)  em 1879, ainda a Nha Bijagó não tinha completado os oito anos, foi “a sede do Governo transferida para Bolama";

(xii) no dia 3 de agosto do mesmo ano, assinou-se o tratado de cessão a Portugal do território de Jufunco, ocupado pelos Felupes;

(xiii) pouco antes de Leopoldina completar os 12 anos de idade, 1883, foi publicado o decreto que dividiu a província da Guiné  em quatro circunscriçõess, criando-se assim os concelhos de Bolama, Bissau, Cacheu e Bolola. 

(xiv) tinha ela 14 anos quando Portugal e a França celebraram [ em Paris, em 1886] a convenção referente à delimitação das possessões dos 2 países na África Ocidental e que correspondem às atuais Repúblicas do Senegal, Guiné-Conacri e Guiné-Bissau;
.
(xv) as más condições climatéricas, agravadas pela insalubridade da região, dizimavam a população de tal modo que, em 1886, Bissau era o menos povoado de todos os aglomerados urbanos da Guiné;

(xvi) tinha Nha Bijagó já 18 anos quando foi, então, lançada, em 1889,  a primeira pedra para a tão almejada ponte-cais; (foi designada  por ponte Correia e Lança, em homenagem a Joaquim da Graça Correia Lança  Governador da Guiné., de 1888 a 1890)

(xvii) ano e meio depois, em fevereiro de 1891, o chefe dos Serviços de Saúde defendia que a capital deveria regressar à ilha de Bissau, ainda que para local ligeiramente diferente, isto é, puxando-a para a zona de Bandim que se situava “em terreno suficientemente elevado e com vertentes para a praia arenosa.”, o que, em termos de drenagem e salubridade, era, indubitavelmente, vantajoso; 

(xviii) à beira de completar 22 anos, registaram-se, no interior da fortaleza, dois incidentes graves, em 1893:

  •  o incêndio da enfermaria militar  (13 de janeiro) (vd. planta, 3);
  •  uma explosão (em 9 de maio);

(xvix) a 7/12/1893, a vila sofreu um grande cerco, movido por elementos da etnia Papel a que se juntaram os Balantas de Nhacra;

(xx) em 1894, é demolida uma  parte do muro de 4 metros de altura que ia do Fortim Nozolini ao Baluarte da Balança (vd. planta, 11, 13), com o objetivo de se construir uma igreja católica;

(xxi)  por volta dos seus 25 anos, dada a elevada densidade populacional intramuros, o governador Pedro Inácio Gouveia autorizou “o aforamento de, terrenos no ilhéu do Rei”,  tendo, em 1900, ali, chegado a ser instalado um lazareto; 

(xxii) a implantação da República em Portugal levou à mudança do Governador e, em 1912/13, o primeiro-tenente Carlos de Almeida Pereira manda demolir o muro que constrangia a expansão urbana;


Guiné > Bissau > s/d > Av República (hoje Av Amílcar Cabral), com placa central guarnecida  com árvores, que nos anos 50 seria removida, dando lugar a uma ampla avenida, com duas faixas de laterais, arborizadas, destinadas a estacionamento e delas separadas por um passeio. Fonte: António Estácio (2011)
  

(xxiii) Com a República há mudanças na toponímia:

  • Rua de S. José > Rua do Advento da República
  • Rua do Baluarte da Bandeira > Rua Almirante Reis
  • Travessa Larga > Travessa do Dr. Miguel Bombarda
  • Travessa da Botica > Travessa 5 d’ Outubro
  • Travessa da Ferraria > Travessa Honório Barreto;

(xxiv) depois da "campanha de pacificação" do cap João Teixeira Pinto (1913/15),  Bissau é finalmente  objeto dum plano de urbanização que lhe permitiu crescer de forma disciplinada e segundo malha ortogonal bem definida;

(xxv) a autoria do plano é do tenente-coronel engenheiro José Guedes Viegas Quinhones de Matos Cabral que, no início da década de vinte, seria o director das Obras Públicas na Guiné;

(xxvi) para além do Mercado Municipal e do Cemitério, por detrás do Hospital, etc., procedeu-se ao aterro e à regularização do molhe da rua marginal (Rua Agostinho Coelho, numa evocação do primeiro governador da Guiné)  e à construção do edifício-sede da Alfândega;

(xxvii) ao completar Nha Bijagó os seus 62 anos, teve lugar, em 1933, a transferência da sede da comarca judicial da Guiné, que passou de Bolama para Bissau;

(xxviii) em 1934, procedeu-se ao lançamento da primeira pedra para a construção do monumento ao Esforço da Raça, da autoria do Arq Ponce de Castro; as pedras foram enviadas do Porto e o monumento foi inaugurado em 1941; o único monumento colonial que resistiu ao camartelo revolucionário;



Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura > Baluarte da Puana > c. 1900 > Tropas expedicionárias (Foto do domínio público. Coleção Jill Rosemary Dias, em Memórias de África e do Oriente > Cortesia der Wikimedia Coommons)


Fortaleza da Amura. Foto de Manuel Coelho (c. 1966/68)


(xxix) em 1936, a Associação Comercial e Industrial da Guiné cedeu ao Estado o terreno que lhe fora concedido, o qual se destinava à sua sede e ficava em frente ao  edifício do Banco Nacional Ultramarino, para no local se construir um grande edifício onde, a par do Tribunal, foram instalados os Serviços de Administração Civil, assim como os Serviços de Fazenda;

(xxx) em 1939 foi a Fortaleza de S. José, vulgo Amura, classificada como Monumento Nacional

(xxxi) em finais da década de 30 foi celebrado o contrato para a realização dos estudos de abastecimento de água, melhoramento que só se viria a concretizar  na segunda metade da década  de 40;

(xxxii) transferência da capital de Bolama para Bissau,  em 19 de dezembro de 1941;

(xxxiii) em 1945 toma posse o novo governador, Sarmeno Rodrigues. (***)

 (xxxiv) em meados dos anos 40:

  • efetua-se um novo projecto de urbanização;
  • mudam de nome  as vilas de Canchungo (Teixeira Pinto) e Gabú (Nova Lamego)
  • procede-se à construção do depósito de água no Alto de Intim
  • assim como do Palácio do Governador; 
  • constroem-se moradias no “Bairro Portugal”
  • surge o Bairro de Santa Luzia; 
  • deu-se início à edificação da Catedral, do Museu e Biblioteca, etc.
(xxxv) procedeu-se à colocação de estátuas como a do navegador Nuno Tristão, a de Teixeira Pinto, a do grande guineense Honório Pereira Barreto, etc.

(xxxvi) a Rua Honório Barreto foi, na Guiné, a primeira a ser asfaltada e reabriu em 6/4/1953;

(xxxvii)  de tudo isto e a muito mais Nha Bijagó foi contemporânea, como de:

  • a conclusão da nova ponte-cais, inaugurada em 18/5/1953 pelo Subsecretário de Estado Raul Ventura, 
  • a construção do aeroporto em Brá e à sua transferência para Bissalanca; 
  • a visita do Presidente da República Craveiro Lopes; 
  • a  inauguração do edifício situado na, então, Praça do Império, onde ficou a sede da Associação Comercial e Industrial da Guiné, etc. (****)

Fonte: Adapt. livre de António Estácio - "Nha Bijagó: respeitada personalidade da sociedade guineense (1871-1959)" (edição de autor, 2011, 159 pp., il,).

[Selecão / revisão / fixação de texto para efeitos de edição no blogue: LG]



Nova ponte-cais (1953) e estátua de Diogo Gomes.
Postal ilustrado, edição Foto Serra.



Guiné > Bissau > s/d  > "Monumento ao Esforço da Raça. Praça do Império"... Bilhete postal, nº 109, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa")



Guiné > Bissau > s/d  > "Praça Honório Barreto e Hotel Portugal"... Bilhete postal, nº 130, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa")

Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalizações: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).



Guiné- Bissau > Bissau > c.  2010 > Vista aérea do centro histórico: Av Amílcar Cabral (antiga Av da República, que partia da Praça do Império), ao fundo o cais do Pijiguiti (ou Pindgiguiti, como se escreve agora...), o porto de Bissau,  o ilhéu de Rei... Em primeiro plano, à esquerda, o edifício da administração civil da época colonial, hoje sede o ministério da Justiça.  O edifício a seguir, branco, no cruzamento da Av Amílcar Cabral com a Rua 19 de Setembro ea então o da  RTP África (antiga localização do Café Bento / 5ª Rep).



Guiné- Bissau > Bissau > c. 2010 > Vista aérea do centro histórico: Av Amílcar Cabral (antiga Av da República, que partia da Praça do Império). Em primeiro plano, a Catedral de Bissau.

Fotos:  © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
























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Notas do editor LG:

(*) Vd. postes de:




 

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26522: Humor de caserna (104 ): "Ontem fui ao Pilão, o que não quer dizer que fui às p..." (Bissau, 16 de dezembro de 1973, in: António Graça de Abreu, "Diário da Guiné", Lisboa, Guerra e Paz, 2007).




Guiné-Bissau > Bissau >  Planta de Bissau (edição, Paris, 1981) (Escala: 1/20 mil) > Posição relativa do bairro do Cupelon,. ou "pilão", como diziam os "tugas".. Fica(va) à esquerda da nossa conhecida estrada de Santa Luzia, portanto paredes meias com o QG/CTIG, em Santa Luzia... O Pilão fazia parte das nossas geografias emocionais...





Capa do Livro Diário da Guiné - Lama, Sangue e Água Pura. 
Lisboa: Guerra e Paz, Editores. 2007.


1. O nosso camarada António Graça de Abreu (ex-alf mil, no CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, jun 1972/ abr 74), enviou-nos há muitos anos (há 17)  alguns excertos (e depois cópia integral do seu "Diário da Guiné", com autorização de reprodução no nosso blogue).

Há uma entrada sobre o Pilão. Merece ser reeditada depois da "crónica" do Abílio Magro sobre os seus "desastrados" patrulhamentos nocturnos naquele bairro...

Temos apenas umas trinta e tal referências sobre o Pilão: famigerado, para uns; triste, para outros, vergonhoso, para os mais puritanos e conservadores... Houve um presidente da Câmara municipal de Bissau, o major Matos Guerra, que por volta de 1966 o quis arrasar (segundo  o comerciante Carlos Domingos Gomes, "Cadogo Pai", vereador na altura) ... Ainda bem que prevaleceu o bom senso... (A ideia teria partido do próprio Governador e Comandante-Chefe, Arnaldo Schulz: alegava-se que o Pilão era umn "ninho de terroristas.)

O Pilão existia no nosso tempo...Era um bairro de gente honesta, como todos os nossos bairros populares... Mas ficava já fora do asfalto, com ruas de terra batida e moranças, mais ou menos alinhadas, em geral feitas de adobe, com cobertura de colmo, umas, as mais pobres, ou de chapa de zinco, as dos menos pobres... 

Em 1970, deviam morar em Bissau umas 70 mil pessoas, com a tropa incluída... (Não sabemos quantas no Pilão ou Cupelom)... 55 anos depois é preciso multiplicar por sete a população dos bissauenses...

Em 1973, quando o António Graça de Abreu passou por lá (como quase todos passámos, não havia museus nem monumentos para visitar  nas horas de cultura e lazer da nossa tropa), era mais ou menos equivalente ao nosso Bairro Alto dos anos 50, só com a diferença de que aqui havia "casas de passe" (proibidas pela hipocrisia da época a partir de 1963)... 

Dizer que o Pilão era um gigantesco bordel é um insulto parar os seus habitantes da época... E para as NT. E que se cortavam cabeças de "tugas", era outra enormidade... Que havia alguma animação noturna por aqueles lados, havia, e às vezes alguns distúrbios: não vale a pena negar, escamotear, branquear a realidade de uma prostituição, tolerada, a começar pelas autoridades militares e civis...e pelo próprio PAIGC (viviam lá simpatizantes e militantes, dizia-se)...

Nunca houve cabeças cortadas no Pilão, e a própria prostituição fazia parte da economia de guerra exercida sobretudo por cabo-verdianas, fugidas da miséria das ilhas...Como em todos os teatros de guerra...

Infelizmemnte não há estudos sobre esta realidade dita marginal... e eu até agora ainda estou â espera de descobrir a letra (já não digo a música) do Fado do Pilão, à semelhança do fado do Bairro Alto...

Mas demos a palavra a um dos nossos mais cronistas dessa época.


Diário da Guiné > Bissau, 16 de Dezembro de 1973

Ontem fui às p...!

Nestes dias em Bissau, com tanta tropa à solta, anda tudo num magnífico regabofe. Para estes homens, o fim da Guiné é a loucura. Aqui no “Biafra”, de madrugada ainda havia alferes a cair de bêbados, entrando pelos quartos em gritarias e choradeiras de pasmar. Não deixavam ninguém dormir.

Ontem o meu serviço foi fazer companhia ao alferes Tomé, meu antigo companheiro de quarto em Teixeira Pinto e em Mansoa. Era o seu último dia na Guiné, embarcou hoje para Lisboa no avião dos TAM e passou comigo as horas da derradeira festa guineense.

Fomos os dois até lá baixo à cidade, depois jantámos, bebemos bem e, entre pesaroso e alegre, o Tomé desatou a contar-me as suas aventuras com uma prostituta cabo-verdiana que o andava a encher de ilusões, ou o Tomé a ela. 

A rapariga gostava dele, sempre que vinha de Mansoa a Bissau ia visitá-la, de sexta para sábado dormiu a noite toda em casa da beldade, a menina desembrulhava-se em bolanhas de ternura e desdobrava-se em arrozais de dignidade. Existiria qualquer coisa de verdade nesse relacionamento oblíquo. A rapariga deve ter adivinhado no Tomé um homem que não lhe comprara apenas prazer para vinte minutos e talvez tenha gostado dele. 

Ontem o Tomé foi-se despedir e levou-me para eu conhecer a pérola dos seus sonhos reais. A moça tinha bom aspecto, pequena, redonda, um rosto suave e sorridente onde não se adivinhava o labor da mais velha profissão do mundo. O Tomé abraçou-a, entrou na casa dela e dedicou-se de imediato aos prazeres carnais, ia pela última vez comer o chocolate claro da sua princesinha.

Eu fiquei cá fora, à espera, aí uns quarenta e cinco minutos encostado a um monte de sucata, a carcaça desfigurada de um carro velho. Entretive-me a olhar à volta. Estava no Pilão, um bairro de Bissau habitado por muita miséria e alguma prostituição. 

O lugar é sujo, tem pouca luz e dizem os entendidos que é perigoso à noite. Ontem, sábado, havia muita tropa branca a fazer as despedidas da Guiné, à procura dos últimos prazeres do sexo negro ou mulato para levarem como recordação para Portugal. As prostitutas do Pilão trabalhavam heroicamente. Na casa em frente, vi uma mulher aviar três gajos em pouco mais de meia hora, entravam, saíam uns atrás dos outros. 

Não sou propriamente um puritano mas tudo aquilo com exceção da rapariga do Tomé, parecia boa menina me deixou um travo a desgosto, desconforto e imundície.

Enquanto esperava, uma das prostitutas meteu-se comigo. Chegou saracoteando-se dentro de um vestidinho vermelho, dengosa, um perfume barato, meloso, agarrou-me no braço e disparou: 

− Vá, amor, vem f...! 

Disse-lhe: 

− Não posso, já f.... 

Resposta pronta: 

− Vai apanhar no c... !

Andei pelo Pilão a cirandar junto às putas mas não fui às putas, não faz parte dos meus hábitos. E não segui o interessante conselho da prostituta do perfume oleoso e reles. Apanhar no c... também não faz parte dos meus hábitos. (...)

 

(Seleção, revisão / fixação de texto, título, negritos, itálicos: MR / LG)
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Nota do editor LG:

Ultimo poste da série >  23 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26521: Humor de caserna (103): Conversa de barbeiro na metrópole: "Cuidado com o Pilão, um gajo entra e sai de lá com a cabeça debaixo do braço!" (Abílio Magro, ex-fur mil, CSJD/QQ/CTIG, set 734 / set 74)