Torcato, a 19 de Dezembro de 1961, estavam praticamente todas as unidades de mãos sobre a cabeça. E só a 18 tinham começado os aviões a ameaçar a sério.
Falam ex-furrieis milicianos, participantes, de 73 anos de idade, hoje.
Pouco depois dessa data, em Luanda batiam-se palmas a discursos inflamados, aplaudindo a resistência dos nossos heróis de Goa (, de mãos na cabeça, ) e fazia-se recolha pública de dinheiro para aquisição de um porta-aviões para substituir o Afonso de Albuquerque que os indianos tinham afundado.
Do meu salário de furriel foi-me descontada uma quantia, que não me lembro de quanto, mas voluntariamente, tás-a-ver!
Salazar mentiu e mandou mentir com todos os dentes, e conscientemente pouca gente de nós engolia todas as petas do Botas. Antes pelo contrário, mesmo quando dissesse algumas verdadeiras, já se ficava de pé atrás. Mas a história um dia virá dizer se eram mentiras necessárias para resistir ao que se sabia que aí vinha, e foram mentiras oportunas, ou antes pelo contrário.
Uma coisa é certa, poucos alferes milicianos e furrieis milicianos se propuseram a escrever como tu, Torcato, fizeste com a tua guerra. E isso era preciso, para ajudar a compreendermos melhor, como fomos nós, a nossa geração, no seu todo.
Ficou pelo caminho Goa e São João Batista de Ajudá (**) e o Mapa-Cor-de-Rosa. (***)
Cumprimentos
Antº Rosinha
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 15 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9202: Efemérides (58): A invasão por tropas indianas dos territórios de Goa, Damão e Diu, em 18 de Dezembro de 1961
(**) Hoje Museu de História de Ouidah, República do Benin
Fernando Ribeiro, no seu blogue, A Matéria do Tempo, escreveu em 10 de Janeiro de 2007 o seguinte sobre o Forte de São João Baptista de Ajudá (Ouidah):
(...) "Este é o Forte de São João Baptista de Ajudá, situado em Ouidah, na República do Benim, que foi erguido no séc. XVIII para servir de entreposto e de protecção militar ao tráfico português de escravos para o continente americano e Caraíbas.
" Esteve na posse de Portugal até depois da independência do Daomé (como a República do Benim se chamava então), tendo sido abandonado e incendiado por ordem de Salazar em 1961, ano em que o Daomé decidiu ocupá-lo. Foi recuperado das cinzas ainda na década de 60 e nos anos 80 foi objecto de novas obras de restauro, as quais foram pagas pelo Estado português.
"O forte é agora um Museu de História daquela região de África, de onde foram tantos os escravos que dela partiram que ela era chamada Costa dos Escravos. O sítio do museu na Internet merece uma visita, ainda que só esteja em francês e em inglês. É pena que não esteja também em português, pois as raízes de milhões de afro-brasileiros estão naquela parte do mundo, donde os seus antepassados saíram em condições ultrajantes". (...)
Na Wikipédia, atribui-se à Fundação Calouste Gulkenkian a obra de recuperação do forte, que ocupa(va) um espaço de 2 ha: (...) "A anexação (em 1 de Agosto de 1961) foi reconhecida por Portugal em 1985, tendo os trabalhos de recuperação e restauro sido desenvolvidos em 1987, com orientação e recursos da Fundação Calouste Gulbenkian" (...).
(***) Último poste da série > 15 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P9217: Efemérides (59): O Gen Carlos de Azeredo recorda, em entrevista à TSF, a invasão de Goa (que faz hoje 50 anos)