Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 22 de setembro de 2024
Guiné 61/74 - P25964: Parabéns a você (2314): Carlos Arnaut, ex-Alf Mil Art, CMDT do 16.º Pel Art (Binar, Cabuca e Dara, 1970/72)
Nota do editor
Último post da série de 21 de Setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25962: Parabéns a você (2313): José Macedo ex-2.º Tenente Fuzileiro Especial do DFE 21 (Bissau, 1973/74)
sexta-feira, 22 de setembro de 2023
Guiné 61/74 - P24685: Parabéns a você (2208): Carlos Arnaut, ex-Alf Mil Art, CMDT do 16.º PelArt (Binar, Cabuca e Dara, 1970/72)
Nota do editor
Último poste da série de 21 de Setembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24680: Parabéns a você (2207): José Macedo, ex-2.º Tenente Fuzileiro Especial do DFE 21 (Bissau, 1973/74)
domingo, 23 de janeiro de 2022
Guiné 61/74 - P22934: In Memoriam (425): Vasco Pires (1948-2016), um grande abraço, camarada, amigo e companheiro, lá onde estiveres!... Só agora soube do teu falecimento (Carlos Arnaut, ex-alf mil , 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72)
Foto (e legenda): © Vasco Pires (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem de Carlos Arnaut (ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72, tem dez referências no nosso blogue; entrou para a Tabanca Grande em 12/9/2020):
Data - 23 jan 2022 12:32
Assunto - Vasco Pires
Bom dia, caro Luís.
Só hoje, ao ler o nosso blogue, tive conhecimento da funesta notícia do desaparecimento do meu camarada e amigo Vasco Pires, galante comandante do pelotão de obuses de Gadamael (*).
Como só me juntei à Tabanca Grande em 2020, embora já seguisse o blogue há tempos, não soube do seu falecimento quando vós atempadamente o noticiaram.(**)
A inevitável contagem decrescente da nossa geração levou prematuramente este meu camarada e amigo, do meu curso de Vendas Novas, mas com quem não me cheguei a cruzar no TO da Guiné, nem em Bissau calhou encontrarmo-nos, já que quer um quer outro só por ali passámos de raspão.
Foi com imenso prazer que, anos mais tarde, estava eu envolvido na montagem com dois amigos de uma unidade de preparação e engarrafamento de aguardente, que o fornecedor dos nossos depósitos em aço inox fosse a empresa do Vasco Pires.
Grandes abraços e vários almoços intermináveis, em Peniche e em Anadia, selaram contratos e levaram-nos de regresso aos tempos de cadetes e suas patifarias, lembrando figuras do curso, tentando adivinhar por onde andariam.
Soube, tempos mais tarde, por um dos seus comerciais que ele tinha saído do País, perdendo-lhe então o rasto já que eu próprio também deambulei para outras latitudes.
As memórias perduram, um grande abraço Vasco, lá onde estiveres. (***)
Carlos Arnaut
_________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 21 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22928: Companhias e outras subunidades sem representantes na Tabanca Grande (1): CART 6252/72 (Bissássema, Tite, Gadamael, Bafatá, 1972/74)
(**) Vd. poste de 31 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16663: In Memoriam (268): Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23º Pel Art (Gadamael, 1970/72), acaba de morrer, em Porto Seguro, Brasil (Pedro Araújo, seu afilhado)
segunda-feira, 20 de dezembro de 2021
Guiné 61/74 - P22825: O meu sapatinho de Natal (14): Votos de boas festas para todos os "residentes" da Tabanca Grande... E uma prendinha: a notícia da última viagem do N/M Niassa, em 8/5/1979, a caminho do sucateiro de Bilbao, Espanha... (Carlos Arnaut, ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72)
Pertencia à Companhia Nacional de Navegação. A notícia "necrológica" (, os navios também se abatem como os cavalos e os seres humanos,) acrescentava:
"Com alojamento para 322 passageiros, o paquete efectou durante longos anos, as carreiras regulares entre Lisboa e as colónias de África, tendo servido como transporte de tropas e, durante alguns meses, foi o elo de ligação entre o Continente e a Madeira [em 1978 ]. Pela tarde [do dia 8 de maio de 1979] a sirene do "Niassa" anunciava a saída para a última viagem".
Foi mandado construir em Antuérpia, Bélgica, em 1952, no âmbito da modernização da nossa frota da marinha mercante. Custo: 135.000.000$00 (equivalente, a preços atuais, a cerca de 66,4 milhões de euros, de acordo com a aplicaçãodo INE, Atualização de Valores com base no IPC - Índice de Preços ao Consumidor).
2. Mensagem de Carlos Arnaut (ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72, tem cerca de uma dezena de referências no nosso blogue; entrou para a Tabanca Grande em 12/9/2020) (*):
Data - sexta, 17/12/2021, 00:53
Assunto - Niassa
Olá Luís,
Como tenho lido diversas citações ao paquete "Niassa" nos posts da rapaziada que nele viajou, junto envio notícia do seu falecimento em Maio de 79.
Se entenderes que vale a pena recordar a notícia, aqui segue a foto.
P.S. - Não mereci parabéns no dia 22 de Setembro, quase chorei ...
Ultimamente temos estado a "exigir" a prova de vida... A tua está feita. Espero que o 2022 nos corra a todos melhor do que o 2021.
(*) V.d poste de 12 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21351: Tabanca Grande (502): Carlos Arnaut, ex-alf mil art, 16º Pel Art (Binar, Cabuca, Dara, 1970/72): senta-se, no lugar nº 817, à sombra do nosso poilão
quarta-feira, 8 de setembro de 2021
Guiné 61/74 - P22526: Histórias... com abracelos do Carlos Arnaut (ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72)(5): O jogo do ouri (ou mancala)
Data - segunda, 16/08/2021, 13:12
Assunto - Jogos ancestrais (*)
Em primeiro lugar o meu desejo de óptimas férias a todos os camaradas, num tempo em que a ameaça que sobre nós pairou parece estar finalmente a desvanecer-se (com ajuda da Marinha).
Deparei num Blog de que sou leitor assíduo, e no seguimento de comentários avulsos sobre o xadrez, jogo de que sou fã, uma referência a um jogo "mancala", que em tempos idos seria jogado pelos árabes e de que existem vestígios no Alentejo.
Este jogo, também ele um jogo de estratégia para dois jogadores, consistiria na transferência de punhados de pedrinhas de cova para cova até se atingir o lado oposto.
A descrição não vai mais além, mas desde logo me recordou aquilo que observei vezes sem conta ser jogado nas zonas por onde andei, na Guiné.
Utilizando-se um madeiro com duas fiadas de covas, os jogadores iam tirando o que me parecia serem umas sementes grandes e arredondadas, de uma cova e vertendo-as noutra ou noutras covas, não tendo eu nunca entendido nem as regras nem quem seria o vencedor.
Recordo-me no entanto que os jogadores estavam sempre altamente concentrados, às vezes com assistência, e tanto quanto me recordo os jogadores eram sempre homens feitos, nunca vi garotos entretidos com tal jogo.
Lembras-te de ter presenciado este jogo? Consegues adiantar mais alguma coisa?
Se entenderes que este assunto vale a pena ser debatido, vai em frente.
O jogo de toda a Africa (Ouri, Wari, Solo, Mancala, Awélé, etc.) - Revista Jeux & Strategie, nº 7, Fev / Mar 1981. (Cortesia de Carlos Geraldes) (*)
Carlos, para já vê aqui uma referência a "jogos tradicionias felupes"...
PS1- Vou reencaminhar a tua mensagem anterior para o Cherno Baldé, que nos vai ajudar.
ouri | n. m.
ou·ri
(origem duvidosa)
nome masculino
[Jogos] Jogo de origem africana, disputado entre dois jogadores num tabuleiro com duas filas de cavidades ou casas, sob um conjunto de regras variáveis que permitem acumular e capturar peças, que geralmente são pedras ou sementes. = MANCALA, URIL
"ouri", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/ouri [consultado em 08-09-2021].
mancala
mancala | n. m.
man·ca·la
(inglês mancala, do árabe)
nome masculino
[Jogos] Designação dada a vários jogos africanos e asiáticos disputados entre dois jogadores num tabuleiro com várias cavidades, sob um conjunto de regras variáveis que permitem acumular e capturar peças, que geralmente são pedras ou sementes.
Palavras relacionadas: ouri, uril.
"mancala", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/mancala [consultado em 08-09-2021].
uril
uril | n. m.
u·ril
(origem duvidosa)
nome masculino
[Jogos] Jogo de origem africana, disputado entre dois jogadores num tabuleiro com duas filas de cavidades ou casas, sob um conjunto de regras variáveis que permitem acumular e capturar peças, que geralmente são pedras ou sementes.= MANCALA, OURIPlural: uris.
Palavras relacionadas: ouri.
"uril", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/uril [consultado em 08-09-2021].
Entre os povos muçulmanos e por influência destes também entre os outros grupos, há a prática do jogo de Xadrez designado na língua fula por "Txoqui" (ler Tchoqui) que deve ser a corruptela da palavra Xeque (do xeque-mate) de origem Arabe ou Oriental.
Por outro lado, pratica-se também o jogo designado na lingua fula por "Worri", este mais para adultos, embora, como simples jogo de exercício mental em cálculos matemáticos, não existem fronteiras de idades na sua prática.
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
terça-feira, 11 de maio de 2021
Guiné 61/74 - P22192: 17º aniversário do nosso blogue (10): por que é que das "lavadeiras" ao "sexo em tempo de guerra" vai um passo ? (Carlos Arnaut / Cherno Baldé / Luís Graça)
Baião > Ancede > Mosteiro de Santo André de Ancede > Mosteiro, masculino, cuja origem remonta aos primórdios da nacionalidade,,, Vale a pena uma visita,,, Está em restauro, com projeto de Siza Vieira... São quase mil anos de história que nos contemplam e nos confrontam ... Faz parte também da "rota do românico" (Vale do Tâmega)...
Mas tem também uma capela, octognal, do séc. XVIII, chamada do "bom despacho", que merece uma visita especialmemte guiada... Foi lá que descobrimos a 'anjinha de Ancede', que parece passar despercebida aos visitantes e aos guias locais (*)... Uma delícia, essa e todas as demais peças da arte barroca popular, sob a forma de cenas de teatro, relativas aos mistériso da vida de Cristo... com destaque para a cena da circuncisão do menino Jesus... Questão do foro teológica com muitos século, entre os cristãos, é a a discussão (por vezes acolarada, apaixonada e dramática) do "sexo dos anjos": são meninos ou meninas, ou não têm sexo ? Se são meninas, faz-se a "infibulação" (ou cobre-se com um véu para "tapar as vergonhas", os "pipis", ou o "pito", como se diz no Norte em bom calão); se são meninos... "cortam-se... as pilinhas", como aconteceu há décadas na igreja da frequesia de Paredes de Viadores, Marco de Canaveses (!)... (A arte islâmica tem uma vantagem: não permite a figuração, seja humana, seja animal...)
Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
(i) Carlos Arnaut
6 de maio de 2021 às 12:23
6 de maio de 2021 às 14:22
(iii) Luís Graça
Infelizmente, o tema ("lavadeiras", que já tem mais de 4 dezenas de referências no blogue...) tende a cruzar-se (e a sobrepor-se) com outros como bajudas, sexo, etnias, mutilação genital feminina, filhos do vento... mas também religião, etc. É um terreno um pouco "minado". E, como tal, tem que ser tratado com serenidade, informação, conhecimento, e sobretudo sem pré-conceitos.
Talvez o Carlos Arnaut possa explicitar melhor o que escreveu: "Refiro-me concretamente às bajudas fulas, a quem, pelas razões conhecidas, o sexo pouco ou nada dizia, enquanto que as balantas, por exemplo, tinham nessa questão toda uma outra postura."
O simples convívio, na Guiné, há 50/60 anos, com populações desta ou daquela etnia, e nomeadamente com a população feminina, não nos autoriza (, a menos que tenhamos feito estudos aprofundados sobre o assunto, ou tenhamos um grande conhecimento da literatura especializada...) a fazer comparações entre grupos e sobretudo a tirar conclusões numa matéria tão complexa e sensível como a sexualidade humana...
Julgq que o Carlos Arnaut quando diz que, naquela época, "o sexo pouco ou nada dizia" às raparigas e às mulheres fulas, "pelas razões conhecidas", estava a subentender o facto, estatisticamente fundamentado, da generalização da MGF (Mutilação Genital Feminina, para usar uma expressão adotada pela OMS - Organização Mundial de Saúde, e outras instâncias internacionais), entre as mulheres de religião muçulmana (e nomeadamente fulas).
Na época, poucos de nós tinha informação sobre este problema (que é antes de mais de saúde pública tanto quanto o é de direitos humanos). Nem as autoridades portuguesas nem o PAIGC se preocupavam com a tragédia imensa que representava então a MGF (,ou, de maneira mais grosseira, o "fanado" feminino, que também era e é um rito de passagem, um ritual de iniciação, com profundo significado sociocultural).
Em resumo, as fulas são (ou eram) "excisadas", as balantas não... Sabe-se que não é um problema de religião, opondo muçulmanas contra cristãs e animistas... É um problema mais vasto, de natureza socioantropológica, com raízes históricas complexas.
Que a MGF tem imnplicações, não só na saúde sexual e reprodutiva das mulheres, mas também na vivência da plena sexualidade (de mulheres e homens), isso tem... Mas eu seria incapaz de fazer comparações neste domínio (da sexualidade humana) baseado no factor étnico... E, por formação sociológica, não o faria...
É, de resto, um domínio onde há uma imensão de mitos e de preconceitos...ainda hoje, em pleno séc. XXI.
10 de maio de 2021 às 22:50
__________
Notas do editor:
(**) Vd. poste de 5 de m aio de 2021 > Guiné 61/74 - P22173: 17º aniversário do nosso blogue (4): recordando os resultados de um inquérito "on line", de há cinco anos, sobre as nossas lavadeiras, que de facto não eram "lava-tudo"
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021
Guiné 61/74 - P21867: Histórias... com abracelos do Carlos Arnaut (ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72)(4): O meu saudoso Xico, um "macaco verde" que comprei a um garoto de Dara
(*) Vd. poste de 6 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21861: Fotos à procura de...uma legenda (135): Que espécie de macaco é este ? (Foto: António Marreiros; texto: Luís Graça)
Vd também poste de 7 de fevereiro de 2021 > Guné 61/74 - P21862: Fotos à procura de...uma legenda (136): "Macaco verde" [Chlorocebus sabaeus], dizem eles, depois do sueco Lineu (em 1766), que nunca esteve em Buruntuma ou em Bafatá e muito menos no Cantanhez... (António Marreiros / Fernando Gouveia / António Levezinho / Virgílio Teixeira)
(**) Último poste da série > 8 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21746: Histórias... com abracelos do Carlos Arnaut (ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72)(3): Lições de artilharia para infantes..., sob a forma de piadas do passado
sexta-feira, 8 de janeiro de 2021
Guiné 61/74 - P21746: Histórias... com abracelos do Carlos Arnaut (ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72)(3): Lições de artilharia para infantes..., sob a forma de piadas do passado
1. Mensagem de Carlos Arnaut, membro nº 817 da nossa Tabanca Grande, ex-alf mil art, cmdt do 16º Pel Art (Binar, Cabuca, Dara, 1970/72):
Data - 7 jan 2021 12h03
Assunto - Paródias do passado (*)
Camarigo Luís, em primeiro lugar quero desejar a todos os Tabanqueiros votos sinceros de um 2021 que finalmente nos liberte desta opressão Covidiana.
Tendo vindo a seguir com atenção as estatísticas referentes à vida do blogue, deixa-me agradecer-te, e aos co-editores, o trabalho tão meritório que tens vindo a desenvolver de uma forma apaixonada, mas rigorosa, na defesa das nossas memórias.
No meu currículo não referi que sou filho de militar, Coronel de Artilharia falecido há alguns anos, com várias comissões em Angola, país onde ele prestou serviço pela primeira vez de 1949 a 1954 [António M. Arnaut].
Cheguei ao colo da minha mãe, os primeiros anos da minha vida foram assim passados entre Luanda e Sá da Bandeira, hoje Lubango. Regressei nos anos sessenta, o meu pai foi mobilizado em 63, tendo estudado em Luanda até 65 quando ele terminou aquela comissão como Ten Cor.
Foi pura coincidência o facto de eu ter vivido a minha guerra como artilheiro, tanto mais que logo que entrei para a recruta o intimei a não interferir, fosse de que maneira fosse, no meu percurso militar, tendo essa coincidência dado origem após o meu regresso a divertidas e acesas discussões sobre a rapidez e eficácia da nova geração de artilheiros, ao conseguir, por exemplo, pôr à noite granadas no ar em menos de três minutos.
Todo este arrazoado visa sobretudo contrariar a tendência de queda das participações no blogue, pelo que me lembrei de contribuir com dois menus que vigoraram em duas confraternizações distintas entre artilheiros, meu pai e camaradas seus contemporâneos.
A imaginação posta ao serviço da ementa terá especial significado para os meus camaradas da Arma de Artilharia, dada a especificidade da linguagem.
A primeira tertúlia, realizada na extinta Cooperativa Militar, infelizmente não foi datada (Foto nº 2), tendo a segunda ocorrido em Março de 81 (, foto nº 1).
Se entenderem que este modesto contributo vale a pena ser publicado, o meu velhote, lá onde estará, ainda se vai rir, (**)
Abracelo grande, conto voltar em breve.
Carlos Arnaut
___________
(*) Último poste da série > 2 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21506: Histórias... com abracelos do Carlos Arnaut (ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72)(2): Segundo o meu antigo soldado Bona Baldé e outras fontes, cerca de metade do 16º Pel Art terá sido fuzilado depois da independência
segunda-feira, 2 de novembro de 2020
Guiné 61/74 - P21506: Histórias... com abracelos do Carlos Arnaut (ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72)(2): Segundo o meu antigo soldado Bona Baldé e outras fontes, cerca de metade do 16º Pel Art terá sido fuzilado depois da independência
Foto (e legenda): © Carlos Arnaut (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Date: sábado, 31/10/2020 à(s) 23:27
Subject: Crónica da Guerra da Guiné
Caro Luís,
Não posso deixar de me solidarizar com o Manuel Luís Lomba (*) quando critica, com toda a justiça, a ignomínia do abandono daqueles que na Guiné combateram ao nosso lado:
" Ao ignorá-lo, o MFA não terá cuidado de salvaguardar os mais de 60 000 naturais guineenses, militares e militarizados, voluntários ou recrutados ao serviço das FA portuguesas. Foram deixados para traz – uma traição a eles e uma indecência (no mínimo) para com os mais de 100 000 dos veteranos da Guerra da Guiné, para com os seus 2 500 mortos, para com os seus 4 000 feridos, a maioria no grau de deficiente e para com cerca de 20 000 pacientes de stresse pós traumático.
"O seu irmão e sucessor Luís Cabral, começou a aplicá-lo logo no após o cessar-fogo, e, diz-se que, entre 1974 e até 1976, sancionou com o fuzilamento, sem qualquer julgamento, mesmo sumário, diz-se que cerca de 11 000 guineenses, somando militares, militarizados portugueses e oposicionistas políticos ao regime do PAIGC."
Mais do que indignação, foi com um profundo sentimento de revolta que ouvi da boca de um ex-soldado do meu pelotão, Bona Baldé, que cerca de metade dos seus, e meus, camaradas de armas tinham sido fuzilados logo após a independência.
Como todos os que conviveram com pelotões de artilharia bem sabem, os seus efectivos eram constituídos por graduados oriundos da metrópole e soldados do recrutamento provincial, como era o caso do Bona Baldé, de etnia fula.
Esta notícia foi-me transmitida aquando do nosso reencontro em Lisboa, que me comoveu até às lágrimas, em circunstâncias só possíveis pelo génio e persistência deste Guinéu na conquista do que lhe era devido pela Mãe Pátria.
Sem grandes certezas quanto a datas, presumo que no início de 1972, por ordem do Comando de Batalhão sediado em Nova Lamego, fiz deslocar uma secção de obus para reforçar a segurança do aeroporto, comandada pelo Furriel Rodrigues e de que fazia parte o Bona.
Dado que esta situação era de carácter temporário, o alojamento do pessoal foi feito em moranças de familiares e amigos, sob o olhar benévolo e condescendente do Rodrigues.
Nesse período Nova Lamego sofreu uma flagelação com mísseis, das primeiras, tanto quanto sei, que aconteceram no TO, tendo um deles destruído parcialmente a morança onde dormia o Bona Baldé, o que com o estouro lhe provocou a surdez do ouvido esquerdo e ferimentos ligeiros por projecção de detritos.
Quando do regresso a Dara da secção, reparei que o Bona girava a cabeça para a esquerda quando falava com alguém, tendo-me respondido que nada ouvia de um lado e daí o comportamento algo bizarro.
Depois dos abraços e notícias da família, foi pai de dois filhos durante a minha comissão sendo eu "padrinho" da filha mais nova, soube que tinha tido que fugir da Guiné para escapar à morte, quando me relatou o destino de outros camaradas, tendo-se refugiado na Mauritânia, onde mercê das suas qualidades conseguiu construir um negócio proporcionando à família uma vivência confortável.
Fiquei também a saber que a razão primeira da sua vinda a Portugal,onde o filho mais velho já estava a trabalhar, teve como objectivo tratar de obter uma pensão como deficiente das Forças Armadas, a que muito justamente considerava ter direito.
Fui ouvido no quartel em Sacavém, onde confirmei quer as circunstâncias da sua presença em Nova Lamego, quer a sua óbvia surdez, tendo tido a alegria de não muito tempo depois receber o Bona em minha casa, portador de uma garrafa de Chivas em bolsa de veludo e rolha de prata, para além da notícia de lhe ter sido concedida uma pensão vitalícia com retroactivos à data do acontecido.
Estes diligências ocorreram em 1984, já ele se tinha entretanto estabelecido na terra natal, a poeira das vinganças já se tinha desvanecido, e os retroactivos de 12 anos devem ter-lhe caído como um jackpot no Euromilhões.
Numa romagem de saudade em 1985 à já então Guiné-Bissau, visitei Dara, onde me confirmaram quer o fuzilamento de soldados do meu pelotão como também o de diversos elementos do corpo de milícias, para além da amputação de três dedos da mão direita ao homem grande que nos vendia a carne de vaca que consumíamos no destacamento.
Perante tudo isto, ninguém pode deixar de sentir o sabor amargo de quem se sente traído pelo abandono daqueles que vestiram e honraram a nossa farda. (**)
Abracelo,
____________
(*) Vd. poste de 30 de outubro de 020 > Guiné 61/74 - P21497: (In)citações (173): Crónica da Guerra da Guiné, segundo um seu Veterano - Parte II (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703)
(**) Último poste da série > 1 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21407: Histórias... com abracelos do Carlos Arnaut (ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72), (1): Rissóis de marisco com arroz de tomate, na messe de oficiais do GACA2, Torres Novas
quinta-feira, 1 de outubro de 2020
Guiné 61/74 - P21407: Histórias... com abracelos do Carlos Arnaut (ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72) (1): Rissóis de marisco com arroz de tomate, na messe de oficiais do GACA2, Torres Novas
1. Mensagem, com data de 23/09/2020 à(s) 21:50, de Carlos Arnaut, o novo membro da Tabanca Grande, nº 817, ex-alf mil art, cmdt do 16º Pel Art (Binar, Cabuca, Dara, 1970/72) (*):
Caro Luís,
Quero em primeiro lugar agradecer a gentileza dos votos pelo meu aniversário. (*ª)
No tocante à tua pergunta sobre o pelotão de artilharia de Binar, parece incrível mas não me recordo do número já que fiquei por ali pouco tempo.
Consegui descobrir uma foto (que junto em anexo) onde estou a introduzir os elementos de pontaria num Obus 14 com alguns serventes a apreciar.
Esta amnésia é provável que faça parte de um mecanismo de auto-protecção mental, bloqueando nomes, datas e outros detalhes, pois em Binar protagonizei uma acção que poderia ter tido um desfecho trágico, fruto sobretudo da minha "periquitice".
É provável que venha a dar conta do que se passou numa próxima ocasião.
Como tenho vindo a constatar, as histórias relatadas pela rapaziada cobrem os acontecimentos mais diversos, desde experiências traumáticas a farras de todo o género.
Assim sendo, vou começar por vos contar um episódio que se passou comigo, ainda Aspirante em Torres Novas, pouco antes de ser mobilizado.
Boa noite, Luís, outras histórias se seguirão se para tanto não me faltar inspiração e a vocês paciência para as lerem.
Abraçelo (Abraço com cotovelo)
2. Histórias... com abracelos > Rissóis de Marisco
Após a apresentação da praxe ao Comandante, foi-me atribuída a missão de zelar pelo parque das baterias de 4 cm, o que desde logo me levou a concluir que o meu destino estava traçado.
Aquele material para mim eram fisgas quando comparadas com os obuses de Vendas Novas, pelo que fiz um acordo com a secção ali destacada:
− Cabo, equipamentos e instalações sempre limpas, eu nunca estou ausente, ando por aí, e podem ir levantar todas as tardes à cantina uma garrafa de Lagosta (...lembram-se ?!) para o lanche.
Assim foi, fazia as contas semanalmente na cantina, era a felicidade suprema, com namorada já arregimentada nos convívios dos cafés chiques de Vendas Novas, até que, não há bem que sempre dure, tocou-me a gerência da messe de oficiais.
Após um período inicial, de estudo aturado da gestão hoteleira castrense, entendi ser criativo e fugir aos carapaus fritos, à massa guisada e às diversas iguarias com base no frango.
Convoquei o cozinheiro e seus ajudantes, começando por lhe perguntar se sabia fazer croquetes. O alarve respondeu-me que não percebia nada de estrangeiro, ainda hoje estou para saber se o sacana estava a gozar, e decidi-me então avançar para rissóis de marisco, sendo que o marisco se limitava ao berbigão.
Foram comprados de manhã na praça, antes do almoço, tendo eu tido o cuidado de estudar no livro de culinária que existia na cozinha quais os ingredientes necessários, e em que quantidades. As receitas eram para 10 pessoas, uma simples conta de multiplicar por 4 definiu quantidades, pelo que passei o receituário ao cozinheiro com as devidas instruções:
− Isto, mais isto, mais aquilo, bem misturado, dá uma massa. Isto, mais isto, mais aquilo, dá um creme, a que juntas o berbigão. Estendes a massa com o rolo...
− Usa um copo, minha aventesma. Depois passas o pastel por ovo batido, a seguir pelo pão ralado e toca a fritar. Entendeste ???
− Sim, meu Aspirante, vá descansado que não há problema.
Montei a operação com todo o cuidado, até porque a Unidade entrou de prevenção e toda a oficialagem estaria presente, Comandante incluído, pelo que esperava brilhar com aquela ementa diferente de tudo o que era habitual.
A pressão era grande, a criatividade por vezes tem custos, pelo que a meio da tarde fui à cozinha para me certificar do andamento da receita. A massa já estava pronta, com bom aspecto, o recheio na fase terminal, tudo parecia rolar sobre esferas.
− Vejam lá, não me lixem, está cá toda a gente, isto tem que correr às mil maravilhas.
Voltei costas, mesmo assim não completamente descansado, sem garantias que o meu atrevimento culinário fosse bem interpretado por malta que nem sabia (?) o que era um croquete.
Cerca das 19h30 voltei à cozinha para fiscalizar a última fase da operação "rissóis com arroz de tomate", a frigideira XXL fervilhava e eu ia tendo um colapso.
− Então, mas o que é isto, seus sacanas ? Como diabo é que, em vez dos pastéis que eu vos ensinei a fazer, passo a passo, vocês conseguiram parir estas bolas de ténis ?
De facto, ao olhar para o produto final, o que tínhamos era uma bola onde aqui e ali despontava uma ponta de berbigão, sabor não testado.
A explicação que se seguiu foi de que não tinham arranjado uma garrafa, como se tal fosse possível num quartel, e vai daí misturaram tudo, massa, recheio, ovos batidos, pão ralado, e toca a fritar.
Saí porta fora brindando-os com ameaças num vernáculo que não me atrevo a reproduzir, garantindo-lhes que aquilo que me viesse a acontecer reverteria para eles multiplicado por 10.
Fui jantar fora, fugi, incapaz de enfrentar a turba decerto esfomeada que estaria a pedir a minha cabeça.
Como dormia fora, em casa de umas velhotas que me tratavam com todo o carinho, só na manhã seguinte voltei ao quartel, qual Egas Moniz de baraço ao pescoço, quando, para minha grande surpresa, percebi que nem sequer se tinha levantado qualquer celeuma.
A ordem de prevenção tinha sido levantada, toda a gente se tinha pirado para o fim de semana, tendo ficado na unidade apenas aqueles que com famílias muito distantes se viam obrigados a ficar confinados ao quartel, pelo que o jantar só foi servido a meia dúzia de gatos, um dos quais ainda por cima elogiou a ementa, dizendo nunca ter visto tal petisco mas que era bem bom.
A sorte protege os audazes.
Carlos Arnaut
(*) Vd. poste de 12 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21351: Tabanca Grande (502): Carlos Arnaut, ex-alf mil art, 16º Pel Art (Binar, Cabuca, Dara, 1970/72): senta-se, no lugar nº 817, à sombra do nosso poilão
(**) Vd. poste de 22 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21382: Parabéns a você (1870): Carlos Arnaut, ex-Alf Mil Art, CMDT do 16.º Pel Art (Guiné, 1970/72)
terça-feira, 22 de setembro de 2020
Guiné 61/74 - P21382: Parabéns a você (1870): Carlos Arnaut, ex-Alf Mil Art, CMDT do 16.º Pel Art (Guiné, 1970/72)
Nota do editor
Último poste da série de 21 de Setembto de 2020 > Guiné 61/74 - P21378: Parabéns a você (1869): Cor Art Ref Alexandre Coutinho e Lima (Guiné, 1963/65; 1968/70 e 1972/73); Maria Teresa Almeida, Amiga Grã-Tabanqueira de Lisboa e Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402 (Guiné, 1968/70)
sábado, 12 de setembro de 2020
Guiné 61/74 - P21351: Tabanca Grande (502): Carlos Arnaut, ex-alf mil art, 16º Pel Art (Binar, Cabuca, Dara, 1970/72): senta-se, no lugar nº 817, à sombra do nosso poilão
Carlos Arnaut, foto atual
Fotos (e legendas): © Carlos Arnaut (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]Guiné > Região de Gabu > Carta de Nova Lamego (1957) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Dara, a leste de Nova Lamego, na estrada para Piche, a nordeste
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)
1. Mensagem de Carlos Arnaut, nosso novo membro da Tabanca Grande, com o nº 817
Date: sábado, 12/09/2020 à(s) 12:15
Subject: Inscrição no Blogue
Caro Luís,
Sou leitor do Blogue desde há vários anos, mas por preguiça irracional nunca me decidi a entrar "oficialmente" na Tabanca Grande.
Presumo que para oficializar esta adesão sejam necessárias as duas fotos da praxe, a recordação dos vinte e poucos anos, e a actual dum venerando ex-Alf Mil Art que completa 72 anos no próximo dia 22 de Setembro.
As fotos seguem em anexo assim como a minha caderneta militar com foto "à civil" recentemente desmobilizado.
A minha estadia na Guiné começou no pelotão de Obus 14 estacionado em Binar, onde fiquei cerca de três meses, tendo sido de seguida colocado em Cabuca a comandar o glorioso 16º Pelart, durante cerca de treze meses.
Para protecção à distância de Nova Lamego, o pelotão recuou para Dara, na estrada Nova Lamego Piche, onde fiquei até ao fim da comissão.
Em resumo, 24 meses e três semanas de suor, temperado a Johnnie Wallker Black Label e Basucas Sagres, com muitas estórias de permeio.
Por agora é tudo, espero que me aceitem à sombra do Poilão, um abraço e até breve.
Carlos Arnaut