quarta-feira, 5 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22173: 17º aniversário do nosso blogue (4): recordando os resultados de um inquérito "on line", de há cinco anos, sobre as nossas lavadeiras, que de facto não eram "lava-tudo"



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > Rápidos do Saltinho > 3 de Março de 2008 > Lavadeiras do Saltinho.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné >Região do Cacheu >  Teixeira Pinto > Março de 1973 > As lavadeiras no lavadouro público. Foto do álbum de Francisco Gamelas, que vive em Aveiro, ex-alf mil cav., cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73).

Fotos (e legendas): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. No 17º aniversário do nosso blogue (*), e a propósito do tema das "lavadeiras", vale a pena relembrar aqui os resultados de um  inquérito "on line" que lançámos há 5 anos atrás (**),  numa época em que éramos cinco anos mais novos e ainda tínhamos pachorra para responder a questões como estas...

Recorde-se que os nossos leitores tinham 7 dias para responder e havia 4 hipóteses de resposta... O número total de respondentes foi de 122. 

"SIM, NO TO DA GUINÉ, TIVE LAVADEIRA"...


1, Sim, tive lavadeira, mas só me lavava a roupa > 
105 (86,1%)

2. Sim, tive lavadeira, lavava a roupa e fazia outras tarefas domésticas > 1 (0,8%)

3. Sim, tive lavadeira e também me fazia "favores sexuais" > 12 (9,8%)

4. Nunca tive lavadeira  > 
4 (3,3%)

Votos apurados > 122 (100,0%)

Sondagem fechada em 28/6/2016, às 14h36

II. Na altura, a divulgação dos resultados não suscitou muitos comentários. Mas, apesar das conhecidas limitações metodológicas deste tipo de instrumentos de pesquisa, os resultados parecem ir ao encontro do "conhecimento empírico, espontâneo", que tínhamos da situação há mais de meio século atrás:  

(i) praticamente toda a gente tinha uma lavadeira (, pelo menos nos aquartelamentos e destavamentos onde havia população civil); 

(ii) a lavadeira lavava e passava a roupa a ferro; 

(iii) só uma pequeníssima minoria dos rspondentes (menos de 10%) procurava obter adicionalmente, e eventualmente obtinha, da sua lavadeira, algum tipo de "favor sexual", não se especificando qual (, mas podendo ir das simples carícias e beijos à masturbação e ao coito),

É pena que a jornalista do "Observador", Tânia Pereirinha, não tenha feito referência a estes dados, na elaboração da sua reportagem, publicada no "Oservador", em 10 de junho de 2020 (***). Talvez a sinopse da reportagem fosse mais contída na generalização (que nos parece abusiva) da imagem da "lavadeira lava-tudo": 

(...) "Em Portugal não se falava, mas em África todos sabiam que muitas lavadeiras não tratavam só da roupa" (Negritos nossos). (...). 

Tãnia, o que é são "todos" ?  E o que é que são "muitas" ?  Quantifique-me lá isso, numa escala de 1 a 100 ?!...   

[Declação de interesses: não tenho acesso ao "Observador", não sou assinante, li uma cópia do artigo que me chegou as mãos, através de um assinante, troquei ao telemóvel algumas ideias com a jornalista, que me pediu "ajuda", sobre o tema, sobre o nosso blogue e sobre outros contactos, em 14 de janeiro de 2020; não se tratou de nenhuma entrevista formal, nem eu tive oportunidade de rever o texto, muito menos de o ler, depois de publicado.]

Enfim, não se trata de "salvar a honra do convento" (, cada um fala por si...), mas tão apenas de dar um retrato, tanto quanto possível aproximado, da realidade que conhecemos e vivemos no TO da Guiné (Vd. também poste P22169) (****).

___________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 24 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22135: 17.º aniversário do nosso blogue (3): Para muitos, e já lá vão décadas, [este Blogue] tornou-se um indispensável ponto de encontro (José Belo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2391, Ingoré, Buba. Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70))


(***)  Tânia Pereirinha, texto; Raqule Martins, grafismo - Abuso ou amor ? As histórias das lavadeiras que cuidavam dos militares portugueses na Guerra de África /premium "Observador", 10 de junho de 2020  

(...) Em Portugal não se falava, mas em África todos sabiam que muitas lavadeiras não tratavam só da roupa. Exército diz que não tem informação sobre estas relações. Que nem sempre terão sido consensuais." (...) 

(****) Vd. poste de 4 de maio de  2021 > Guiné 61/74 - P22169: (Ex)citações (384): Em louvor das "nossas lavadeiras" que, na sua esmagadora maioria, não foram "lavadeiras lava-tudo"... (Joaquim Costa / Valdemar Queiroz / Cherno Baldé / José Teixeira / Jorge Pinto / Luís Graça)

10 comentários:

Valdemar Silva disse...

E caso para dizer à Tânia Pereirinha:
- ... bu na bai fasi pisikisa Tabanca Grande dispus ka rifliti diritu.
E, também, ser-lhe-ia explicado haver sempre uma 5ª.REP para descontar.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Cite-se a última parte do artigo da Tânia Pereirinha, com transcrição, nem sempre fiel, de parte da "conversa" como editor do nosso blogue, em 14 de janeiro de 2020, sobre as lavadeiras e o relacionamento com os militares portugueses no TO da Guiné:

(...) “As mulheres africanas naquela época não tinham aquele pudor natural e cultural e andavam nuas, e muitas delas eram belíssimas raparigas. Depois temos de ter em conta que estamos num país em guerra, onde estão milhares de soldados de 20 e poucos anos, muitos deles casados e com filhos, que já trabalhavam, já eram vividos (nessa altura, os universitários não iam para a guerra, tinham a possibilidade legal de ir adiando a incorporação até terminarem os cursos). Resultado: a guerra é feita por muita gente, sobretudo da província e das pequenas cidades, que tem o 5.º ou o 7.º ano, alguns nunca tinham visto o mar, ou a grande cidade e muitos deles tinham uma grande inexperiência sexual”, justifica o responsável pelo blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné.

O facto de o próprio Exército não ter percebido que essa parte do relacionamento dos militares com as populações poderia ser problemática, acusa o veterano, também não pode ser ignorada. “Havia um problema de saúde pública grave com que o exército nunca conseguiu lidar bem. As doenças sexualmente transmissíveis, sobretudo as blenorragias [gonorreia], eram frequentes mas só existiam algumas instruções muito simples e muito secas sobre os cuidados de higiene sexual. Hoje haveria seguramente distribuição maciça de preservativos, mas naquele tempo eram um luxo, o enfermeiro no posto médico tinha uma caixinha só para os amigos e para quem pedia muito. Havia a célebre bisnaga antivenérea do laboratório militar, que éramos aconselhados a usar depois do banho e de uma relação sexual, e mais nada”, acusa o antigo furriel.

“Tudo para dizer que este drama não está estudado. O exército era extremamente hipócrita, nunca teve preocupações com a saúde sexual dos militares — era um assunto de que nem se falava, mas não era o único. Os jovens iam para África mal preparados em todos os capítulos, até do ponto de vista militar. Não sabiam a cultura, não sabiam a história e não falavam o crioulo, que era o único veículo de municação. Mas os soldados portugueses não eram uma cambada de violadores, nada disso.”


https://observador.pt/especiais/amor-ou-abuso-as-historias-das-lavadeiras-que-cuidavam-dos-militares-portugueses-na-guerra-de-africa/

Hélder Valério disse...

Sobre a questão das lavadeiras há coisas que me lembro e coisa que não me lembro.

Por exemplo, não me lembro quanto pagava pela lavagem da roupa, tanto em Piche como em Bissau.
Não me lembro (até pareço aqueles figurões nos inquéritos parlamentares...) como foi em Bissau quando cheguei à Guiné e antes de ir para o mato. Tenho uma vaga ideia que possa ter sido à mesma lavadeira dos meus colegas de quarto, o Pechincha, o Zé Augusto e o Ferreira.
Mas lembro que, aquando em Piche, a lavadeira era Binta. Disseram-me que era a melhor. Recém mamãe, repelia os avanços dos alarves apertando o peito e esguichando leite para cima deles.
Nunca tive problemas (que me recorde agora) com a roupa, quanto a trocas, a limpeza e/ou conservação.
Quando me fixei em Bissau, não me recordo (outra vez...) se foi logo à primeira ou de houve mudança, mas a lavadeira com que fiquei era a Irene. Mulher grande, seca de carnes, com porte altivo, sempre acompanhada de uma criança, tratou-me sempre da roupa com competência, prontidão e revelando cuidados.
Sempre que podia ajudava-a de modo discreto, sempre a propósito de ser "para a menina".
Uma tarde pediu-me ajuda, gritando por mim, por causa de um alarve, com um "grãozinho na asa", que à porta da vivenda (moradia) onde eu estava instalado e quando ela me vinha entregar a roupa, estava estupidamente a tentar apalpá-la. Não foi difícil afastar o energúmeno pois como qualquer rafeiro cobardolas desandou em "passo de corrida".

Portanto, e em resumo, não me lembro de dinheiros. Lembro os nomes da Binta e da Irene. E desta, principalmente, recordo, como escrevi, o seu porte altivo e a competência.

Hélder Sousa

José Botelho Colaço disse...

Em Bissau tinha "labandeira" ela dizia que se chamava Sábado no Cachil "cá tem" = a não tem lavandeira impossivel não havia população em contacto com a tropa em Bafatá também tinha o preço eram elas que faziam embora nós tentassemos negociar. para os praças era entre os 40 e os 50 pesos.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sobre o tema "lavadeiras", é importante escolher o maior número de testemunhos, por parte dos antigos combatentes que passaram pelo TO da Guiné. Quem escreve é que fica para a História... Os jornalistas (e os historiadores) têm a "papinha feita" quando encontram testemunhos escritos.

Nesta, como noutras matérias, quem "conta um conto" (e havia gente fanfarrona, capaz dizer que "comia a lavadeira à borla"...), acrescenta-lhe sempre mais um ponto.

Por isso, é de agradecer mais este testemunho do Hélder Sousa. Não me parece, pelo que aqui temos partilhado ao longo de 17 anos (!) de existência que a generalidade dos militares portugueses (metropolitanos e guineenses) se tenham comportado como "predadores sexuais", como aconteceu, infelizmente, noutros cenários de guerra (muito mais dantescos) como os da II Guerra Mundial: veja-se o comportamento infame de japoneses, alemães, mas também russos, americanos...

Anónimo disse...

Eu subscrevo por baixo quase tudo o que o Helder Sousa disse acima, excepto que não me lembra nem de nomes, nem do aspecto delas - as lavadeiras - competência sim, preços não.

Mas o que me trás aqui são estas duas belas fotos deste nossa colega.
A primeira, diz lá a data, de 2008? Ainda andavam assim nuas nos rios? Que bela foto e que não menos, não podemos esconder, que belas mulheres, temos olhos para ver!

A outra - foto 2 - não menos boa, de Teixeira Pinto, Março de 73, já andavam mais compostas.
Que mistério escondem estas duas fotos?

Virgilio Teixeira


Anónimo disse...

Carlos Arnaut
6 mai 2021 11:32

Caro Luís,

Curiosa a questão das lavadeiras e o imaginário da contratação de só roupa ou "corpo todo".
Por tudo o que fui ouvindo ao longo da comissão, embora a amostra ao inquérito seja pequena, acredito que as percentagens encontradas estejam muito próximas da verdade.

Acredito ainda que um contrato que englobasse a cláusula "corpo todo" fosse mais fácil de conseguir com umas etnias do que com outras.

Refiro-me concretamente às bajudas fulas, a quem pelas razões conhecidas o sexo pouco ou nada dizia, enquanto que as balantas, por exemplo, tinham nessa questão toda uma outra postura.

Mais uma variável, a étnica, para aprofundamento do estudo.

A minha lavadeira, ao longo de 21 meses, desde que passei a comandar o 16º PelArt. foi sempre a mesma, mulher do meu municiador Bona Baldé já referido anteriormente, e que sempre tratou da minha roupa com um desvelo sem par.

Abraço (agora já possível)
Carlos Arnaut

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Os antigos combatentes têm dificuldade em lidar com a "comunicação social" (televisão, rádio, jornais...). Em primeiro lugar, não têm líderes (nem nunca poderão ter).

A Liga dos Combatentes não os representa devidamente e está institucionalmente prisioneira, ao depender do Ministério da Defesa Nacional. Nem sequer um museu condigno é capaz de ter para mostrar aos portugueses o que foi o passado dos conflitos militares em que os portugueses estiveram envolvidos, no séc. XX.

Os antigos combatentes queixam-se dos jornalistas que os ignoram, ou só se lembram deles nas grandes efemérides, como é o caso agora dos 60 anos do início da guerra colonial / guerra do ultramar. Quando condescem falar com os jornalistas, não têm uma estratégia coletiva, nem podem ter... Se os jornalistas publicam as suas fotos, histórias e declarações, ai!, Jesus, que não perceberam nada, só publicaram 1 minuto da conversa, avacalharam tudo, não perceberam nada...

Ora, não podemos ignorar os jornalistas nem muito menos maltratá-los... Mas temos que ser firmes no esclarecimento da verdade dos factos... E sobretudo não podemos deixar-nos também seduzir pela tentação de um minuto de fama!...

Cherno Baldé disse...

Caro Arnaut,

Interessante o teu ponto de vista sobre a variavel étnica, mas nao no sentido em que tu referes "Refiro-me concretamente às bajudas fulas, a quem pelas razões conhecidas o sexo pouco ou nada dizia, enquanto que as balantas, por exemplo, tinham nessa questão toda uma outra postura".

Na Guiné do periodo da guerra colonial ou na Guiné-Bissau actual, nao existiu antes e nao existe hoje nenhuma etnia em relaçao a qual "o sexo pouco ou nada dizia", isto nao existia em Africa. E um fenomeno que surgiu com no periodo colonial e se acentuou com as independencias e o alargamento da globalizaçao.

Sociologicamente falando, o sexo sempre foi e ainda é um importante factor socio-cultural que as sociedades, de uma forma ou outra, tentaram e tentam regular ou controlar de forma a influenciar o comportamento da reproduçao e sustentabilidade das mesmas assim como manter um nivel aceitavel de saude materno-infantil.

Em Africa, muitas vezes, o sexo estava ligado nao so a procriaçao dos filhos, mas também a dinamica da produçao economica ou seja, na orientaçao dos mais jovens e mais fortes em relaçao ao factor trabalho etc.

De modo que, e ai concordo, pode-se estudar o comportamento das mulheres usando as variaveis etnica e, talvez religiosa, no sentido de saber que factores podiam entrar nesse jogo, assim podemos questionar:

1. Quais eram os grupos populacionais ou étnicos maioritarios no territorio em geral ou em determinadas regioes?
2. Quais eram os grupos mais proximos em termos de aliança estratégica com os Portugueses e que mais facilmente podiam interagir com os soldados metropolitanos?
3. Em que grupos populacionais os casos dos filhos de vento foi mais numeroso?
4. Quais eram as confissoes religiosas desses grupos populacionais e em que medida o factor religiao facilitava ou dificultava a interaçao com os militares portugueses?


A analise dos outros aspectos sociais como a maior ou menor dependencia das mulheres e/ou a liberdade sexual entre outros, ja sao mais dificeis de avaliar. Por Exemplo, é geralmente consensual a opiniao segundo a qual a mulher Bijago é a mais livre e autonoma e, logo a seguir, vem a mulher Balanta e Manjaco. De todas, as mulheres muçulmanas sao consideradas as menos livres e com menor grau de autonomia de decisao, aparecendo em primeiro lugar as mulheres Fulas seguidas das mandingas e outras da mesma religiao.

Todavia, dos casos de filhos vivos de portugueses com nativas que conheci, as mulheres muçulmanas (sobretudo fulas) aparecem em primeiro lugar, logo seguidas das Balantas (animistas) e em terceiro lugar vem as Manjacas (animistas). Mas, eu nao me coloco no lugar de um estudioso desta matéria, pois eu, sendo nacional e pertencente a uma regiao e a um certo grupo etnico nao posso ter o distanciamento necessario para o efeito.

So queria demonstrar, se necessario fosse, que a variavel etnica pode ajudar, mas nao sera suficiente, de per si, para explicar toda a dimensao do fenomeno em discussao.

um abraço amigo,

Cherno Baldé

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Infelizmente, o tema ("lavadeiras", que já tem mais de 4 dezenas de referências no blogue...) tende a cruzar-se com outros como bajudas, sexo, etnias, mutilação genital feminina, filhos do vento...mas também religião, etc. É um terreno um pouco "minado". E, como tal, tem que ser tratado com serenidade, informação, conhecimento, e sobretudo sem pré-conceitos.

Talvez o Carlos Arnaut possa explicitar melhor o que escreveu: "Refiro-me concretamente às bajudas fulas, a quem pelas razões conhecidas o sexo pouco ou nada dizia, enquanto que as balantas, por exemplo, tinham nessa questão toda uma outra postura."

O simples convívio, na Guiné, há 50/60 anos, com populações desta ou daquela etnia, e nomeadamente com a população feminina, não nos autoriza (, a menos que tenhamos feito estudos aprofundados sobre o assunto, ou tenhamos um grande conhecimento da literatura especializada...) a fazer comparações entre grupos e sobretudo a tirar conclusões numa matéria tão complexa e sensível como a sexualidade humana...

Julgq que o Carlos Arnaut quando diz que, naquela época, "o sexo pouco ou nada dizia" às raparigas e às mulheres fulas, "pelas razões conhecidas", estava a subentender o facto, estatisticamente fundamentado, da generalização da MGF (Mutilação Genital Feminina, para usar uma expressão adotada pela OMS - Organização Mundial de Saúde, e outras instâncias internacionais).

Na época, poucos de nós tinha informação sobre este problema (que é antes de mais de saúde pública tanto quanto o é de direitos humanos). Nem as autoridades portuguesas nem o PAIGC se preocupavam com a tragédia imensa que representava então a MGF (,ou, de maneira mais grosseira, o "fanado" feminino, que também era e é um rito de passagem, um ritual de iniciação, com profundo significado sociocultural).

Em resumo, as fulas são (ou eram) "excisadas", as balantas não... Não é um problema de religião, opondo muçulmanas contra cristãs e animistas... É um problema mais vasto, de natureza socioantropológica, com raízes históricas complexas.

Que a MGF tem imnplicações, não só na saúde sexual e reprodutiva das mulheres, mas também na vivência da plena sexualidade (de mulheres e homens), isso tem... Mas eu seria incapaz de fazer comparações neste domínio (da sexualidade humana) baseado no factor étnico... E, por formação sociólogica, não o faria...

É, de resto, um domínio onde há uma imensão de mitos e de preconceitos...ainda hoje, em pleno séc. XXI.