José Teixeira e seus filhos Joana e Tiago com o grupo de sapadores que estavam no Cantanhez a levantar minas e armadilhas.
O Dr. Tiago Teixeira com um grupo de crianças da Guiné, para quem a guerra já faz parte da história.
1. Mensagem de José Teixeira* (ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), com data de 9 de Maio de 2011:
Caríssimos amigos editores
Junto um artigo sobre os perigos das minas e armadilhas semeadas no tempo da guerra que continuam a sua triste façanha de matar vidas.
Abraço fraterno
Zé Teixeira
Conjunto de granadas levantadas durante uma semana no Cantanhez.
MINAS E ARMADILHAS
A morte provocada por minas e armadilhas ainda espreita na Guiné-Bissau.
Nesta visita à Guiné-Bissau, mais propriamente em Iemberém cruzei-me com o Sané. Homem simpático e bem disposto que me chamou a atenção por não ter um braço.
- Fui soldado português na CCaç 6 de Bedanda - disse-me com felicidade estampado no rosto quando se apercebeu que eu era um antigo combatente português.
Uma roquetada fez desaparecer o seu braço direito. Esteve oito meses em Lisboa e depois... voltou para a guerra.
Com orgulho apresenta-nos o seu filho mais novo, um garotito de 8/9anos, que nos vem cumprimentar delicadamente e fica ali a ouvir o pai a falar da sua guerra ao lado dos portugueses
A conversa atira-nos para o seu passado na guerra colonial; os seus amigos soldados brancos, o Capitão X ou o Alferes Y. Grandes amigos…
A guerra ao lado dos portugueses, sem rancores, bem pelo contrário. As grandes operações em que esteve envolvido. O fim da guerra e as complicações que advieram para os que se bateram por Portugal.
A felicidade por encontrar um português, antigo combatente...
Hoje, integra um grupo de sapadores que com o apoio de uma ONG vocacionada para a desmontagem de minas e armadilhas, dedicam o seu tempo a procurar e desmontar as milhares de minas, armadilhas e bombas que ficaram no terreno, desde o tempo da guerra. A mata do Cantanhez é ainda um terrível ninho dessas fábricas de morte.
Não se pode afirmar haja o perigo de rebentarem, pois com o andar dos tempos, o risco da espoleta estar ativa é quase nulo. Podem tornar-se um perigoso brinquedo nas mãos de uma criança, ou até um adulto que desconhecendo o risco pode provocar o rebentamento. A matéria explosiva estará sempre ativa e… a morte continua a espreitar em qualquer sítio.
Convém lembrar que a idade média de vida na Guiné-Bissau é de 47 anos, o que quer dizer que mais de oitenta por cento das pessoas que viveram a guerra já passaram para o outro lado da vida. Para os mais novos, sobretudo as crianças e jovens, a guerra já faz parte da História. Não é possível sensibilizá-los para os perigos que a mata esconde.
Há cerca de um ano morreram duas mulheres que se serviram de uma granada de morteiro para fazer de martelo e, esta adormecida há quarenta e tantos anos, rebentou, roubando duas vidas.
Os sapadores sabem o risco que correm, mas continuam a sua missão. Ainda há muito trabalho a fazer. Procuram sensibilizar as pessoas para os informarem, se por acaso encontrarem algum explosivo. Tentam saber através de antigos combatentes, os locais onde escondiam o armamento e as munições. Hoje a vegetação descaracterizou o terreno, pelo que a missão é ingrata e difícil. Há mesmo quem sabendo mais ou menos o local onde há munições escondidas se recusa a passar a informação. Quer alvíssaras que ninguém pode pagar.
Segundo me informou o Guia que nos levou a dar os bons dias aos Chimpanzés de Iemberém, nessa visita, atravessamos uma área onde consta que outrora havia um hospital de campanha e mesmo ao lado parece que ainda há um paiol subterrâneo, que não foi possível localizar até à data.
Os guerrilheiros combatentes da Pátria são como nós, antigos combatentes, uma espécie em extinção. O seu desaparecimento está a ser muito mais rápido. Com eles, morre muita informação fundamental para o desarmadilhamento da Guiné.
O Governo local, por inércia e falta de meios, desligou-se do problema, ou não lhe dá a dimensão que merece.
Resta um grupo de corajosos que ao serviço de uma ONG continuam a “picar” a terra em busca das máquinas assassinas.
Zé Teixeira
Um grupo de ex-milícias, camaradas de José Teixeira em Mampatá Forreá.
Tiago Teixeira com dois dos filhos do falecido alferes da milícia e Chefe de Tabanca de Mampatá Alui Baldé.
____________Notas de CV:
(*) Vd. poste de 18 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8444: In Memoriam (83): CART 6250 - Unidos de Mampatá - Unidos pela vida e pela morte (José Teixeira / José Manuel Lopes)
Vd. último poste da série de 11 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8401: Ser solidário (108): Na Guiné-Bissau, fora do umbigo do mundo (Joana Teixeira)