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quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25953: Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar: uma visão pessoal (Excertos) (Jaime Silva) - Parte X: Testemunho 5: "Desaparecido em combate, em Moçambique, em 15/11/1972: fur mil op esp / ranger João Manuel de Castro Guimarães"

 


SILVA, Jaime Bonifácio da - Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar : uma visão pessoal.

In:  Artur Ferreira Coimbra... [et al.]; "O concelho de Fafe e a Guerra Colonial : 1961-1974 : contributos para a sua história". [Fafe] : Núcleo de Artes e Letras de Fafe, 2014, pp. 23-84.


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Jaime Bonifácio Marques da Silva (n. 1946): 

(i) foi alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72); (ii) tem uma cruz de guerra por feitos em combate; (iii) viveu em Angola até 1974; (iv) licenciatura em Ciências do Desporto (UTL/ISEF) e pós-graduação em Envelhecimento, Atividade Física e Autonomia Funcional (UL/FMH); (v) professor de educação física reformado, no ensino secundário e no ensino superior ; (vi) autarca em Fafe, em dois mandatos (1987/97), com o pelouro de desporto e cultura; (vii) vive atualmente entre a Lourinhã, donde é natural, e o Norte; (viii) é membro da nossa Tabanca Grande desde 31/1/2014; (ix) tem 85 referências no nosso blogue.

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1. Estamos a reproduzir, por cortesia do autor (e com algumas correções de pormenor), excertos do extenso estudo do nosso camarada e amigo Jaime Silva, sobre os 41 mortos do concelho de Fafe, na guerra do ultramar / guerra colonial. A última parte do capítulo é dedicada a testemunhos e depoimentos recolhidos pelo autor (pp. 67/82).


Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar – Uma visão pessoal [Excertos] 


Parte X:  Testemunho 5: "Desaparecido em combate,  em Moçambique, em 15/11/1972: fur mil op esp / ranger João Manuel de Castro Guimarães"  (pp. 78/79)



Testemunho 5 : 

Há algum militar fafense desaparecido em combate?


O furriel miliciano ranger João Manuel de Castro Guimarães desapareceu em combate no Norte de Moçambique durante a Guerra Colonial. O seu desaparecimento ocorreu durante uma operação realizada junto da povoação de Kytaia, aldeia situada no sul da Tanzânia, nas margens do rio Rovuma, e cujo corpo nunca mais foi resgatado.

Tenho em meu poder cópia de um documento que me foi cedido pela Direção do Centro de Trabalhos de Fafe da Associação de Operações Especiais – “Ranger” em 12.03.2012 e que descreve as circunstâncias do desaparecimento do furriel Guimarães.

O texto é da autoria de Carlos Vardasca, ex-soldado condutor nº mec. 15263570,  da CCAÇ 3309, estacionada no aquartelamento de Nangade. 

Vardasca afirma que só foi possível elaborar o documento com o depoimento de Filipe Manuel Cardão Pinto, ex-furriel mil da  CCAÇ 3309 e comandante dos GES 212, estacionados no aquartelamento de Nhica do Rovuma, em Cabo Delgado.

Relata que a operação denominada “Baga 6” teve como objetivo vigiar junto da fronteira da Tanzânia, a cerca de nove quilómetros do aquartelamento, as movimentações da população moçambicana que trabalhava em machambas (terrenos de cultivo) comunais junto da povoação tanzaniana de Kytaia, nas margens do rio Rovuma, e cujos produtos alimentares serviam para guarnecer os guerrilheiros da FRELIMO que, com bastante regularidade, ali se abasteciam para reentrarem em Moçambique e efetuarem as suas operações contra o exército português.

A operação decorreu entre os dias 14 a 16 de novembro de 1972, sendo enviado um pequeno grupo comandado pelo furriel Guimarães, recentemente chegado da Metrópole (designação dada a Portugal no período colonial).

Na tarde de 14 de novembro, o grupo atingiu o local previsto junto ao rio Rovuma e, dado o adiantado da hora, decidiu emboscar ali para observar as movimentações do outro lado da fronteira. 

Na manhã de 15, iniciaram-se as observações, ainda o cacimbo (nevoeiro) flutuava por cima do capim e o rio em maré baixa deixava emergir do seu leito vastos bancos de areia, permitindo alguns deles o acesso fácil ao outro lado da fronteira.

Talvez por inexperiência e desconhecimento da realidade ou por simples espírito de aventura, continua Verdasca, o furriel Guimarães, apesar de ser advertido pelos seus soldados africanos dos perigos em que ia incorrer, decidiu percorrer um dos bancos de areia que se estendia até à outra margem, tendo mesmo pisado território tanzaniano.

Inesperadamente e perante a angústia dos companheiros, ouvem-se dois tiros de arma de precisão e o corpo do Guimarães tombou de imediato, ficando inerte. 

Alguns dos elementos do grupo iniciam os preparativos para resgatar o corpo, mas, advertidos pelos mais experientes de que seriam, certamente, alvos, também da emboscada do atirador que os esperava, decidem não avançar e comunicar com o destacamento de Nhica do Rovuma que, consciente da gravidade da situação, decide enviar para o local um novo Grupo de Combate comandado pelo furriel Pinto para coordenar as ações no terreno. 

Foi decidido, relata o Verdasca, pedir apoio aéreo para proteger e apoiar o grupo de resgate do corpo do Guimarães. O comando do destacamento de Mueda negou esse apoio, sob o pretexto de se poder vir a abrir um conflito internacional com um país vizinho.

O corpo permaneceu no local e, no dia seguinte, 16 de novembro (de 1972), o soldado que estava de sentinela,  alertou os restantes, informando que o corpo do furriel já não se encontrava no local.

A convicção de todos é que o corpo do Guimarães teria sido levado pelos tanzanianos, facto corroborado por um dos GEs da aldeia de Nhica do Rovuma que disse ter ouvido no seu rádio um comunicado difundido por uma rádio tanzaniana em dialeto Swahili,  segundo o qual "as nossas forças fronteiriças abateram e capturaram um mercenário branco, de farda negra e armado de G3, que tentava penetrar no nosso espaço territorial".

Conclui que, com aquela informação oficial, o corpo do furriel Guimarães tinha sido retirado do local por quem o abateu, sendo mais tarde sepultado em território tanzaniano, local que ainda hoje se desconhece, mas provavelmente nas imediações da aldeia mais próxima do local, ou seja, na aldeia tanzaniana de Kytaia.

Insurge-se 
ainda pelo facto de o seu nome não constar na lista inscrita no Monumento Nacional aos Mortos da Guerra Colonial, erigido em Belém e insiste no dever de Portugal em recuperar ainda os seus mortos sepultados e dispersos por vários locais do continente africano. (**)

domingo, 27 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19445: Em busca de... (293): O sobrinho do Marinheiro Radarista Ademar da Silva, natural de Matosinhos, pede que o ajudem a esclarecer as circunstâncias do desaparecimento de seu tio, em 24 de Junho de 1968, assim como do 2.º Sargento Ricardo Manuel Serpa Bettencourt, natural de Angra do Heroísmo (Artur Santos)

1. Mensagem de Artur Santos, enviada à Página do Facebook dos Combatentes do Ultramar do Concelho de Matosinhos:

O meu tio desapareceu em 1968 em Moçambique(*), o seu nome era Ademar da Silva (7329) e era Radarista, junto desapareceu também Ricardo Bettencourt de Angra do Heroísmo.
Eu gostava de saber se pode publicar esta foto de forma a ajudar-me a perceber o que aconteceu.

Desde já obrigado
Artur Santos


 Ademar da Silva está na fila de cima, é o segundo a partir da direita, de farda escura.

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2. Comentário do editor:

Consultadas as listas dos mortos em campanha, verifiquei que o camarada Ademar da Silva desapareceu em Angola e não em Moçambique(*) como refere o peticionário.
Solicitei ao Artur Santos outros elementos que tivesse em mão, tendo recebido a mensagem que se segue:

Bom dia. 
Desde já agradeço o seu interesse.
Os dados que tenho são os seguintes: 
Ademar da Silva era natural de Matosinhos;
À data do desaparecimento tinha 24 anos e estava a servir em Moçambique com a função de Radarista;
Penso ter estado embarcado no "Diogo Cao", "Príncipe" e "Nuno Tristão". 
Na foto está em cima, é o 2.º da direita para esquerda com farda diferente;
Penso que o numero dele era 7329. 
No dia 24/06/1968 foi dado como desaparecido juntamente com Ricardo Manuel Serpa Bettencourt 2.º Sargento de Angra do Heroísmo.

São os dados que me foram dados a conhecer. 
Obrigado e cumprimentos
Artur Santos

********************

3. Comentário do editor:

O nosso blogue não está vocacionado para tratar acontecimentos em Angola, e da tertúlia fazem parte poucos militares da Marinha, no entanto entre os nossos leitores há antigos combatentes deste TO que nos poderão dar alguma pista. Assim esperamos.

Lamentável, para mim pessoalmente, é constatar que este bravo camarada não faz parte do Memorial ao caídos em Campanha na Guerra do Ultramar do Concelho de Matosinhos porque não teve como os demais direito a uma sepultura no cemitério da sua freguesia.
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19380: Em busca de... (292): Rui Manuel Soares de Campos Pessoa de Amorim, nascido em 1939, na Beira, Sofala, Moçambique, e jogagdor dos Juniores da AA Coimbra nas épocas de 1956 / 1958... Vamos realizar um próximo convivio, em data e local a marcar, de ex-jogadores da AA Coimbra (Fernando Natividade, Coimbra)

sábado, 10 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13123: Homenagem póstuma, na sua terra natal, Areia Branca, Lourinhã, 11 de maio próximo, ao sold at cav José Henriques Mateus, da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), desaparecido em 10/9/1966, no Rio Tompar, no decurso da op Pirilampo. Parte VII: Dois importantes depoimentos de camaradas e amigos do Mateus, o sold at cav, José Francisco Couto (Bombarral e Canadá e o ex-fur mil radiomontador Estêvão Alexandre Henriques (Lourinhã) (Jaime Bonifácio Marques da Silva)


Detalhe do cabeçalho do cartaz nº 5, de uma série de cinco, elaborados por Jaime Bonifácio Marques da Silva, e que vão ser exibidos, no próximo dia 11 de maio, no clube local da Areia Branca Lourinhã, na sessão de homenagem á memória do José Henriques Mateus (1944-1966). Aproveitámos alguns elementos de desses cartazes, na impossibilidade técnica de os reproduzir na íntegra, de forma legível, e procurando não repetir informação já aqui divulgada.  Neste poste, reproduzimos dois importantes depoimentos, de camaradas e amigos do malogrado José Henriques Mateus, que estavam com ele em Catió, em 1965/66: o José Francisco Couto e o Estêvão Alexandre Henriques... Vd. também, em poste anterior, os testemunhos dos seus camaradas da CCAV 1484, ouvidos no âmbito do processo sumário organizado na companhia  pelo Alf Mil José Rosa de Oliveira Calvário,  em 22/9/1966. (LG)

(i) Depoimento de José Francisco Couto 
[, natural do Bombarral, vive no Canadá, ex-sold at cav, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67]:

O soldado n.º 699/65 – S.P.M. 3008, José Francisco Couto, natural da freguesia da Roliça (Baracais), concelho do Bombarral,  foi camarada de pelotão do Mateus e seu amigo. Participou na “Operação Pirilampo”, assistindo ao desaparecimento do Mateus quando ambos atravessavam o Rio Tompar e escreveu dois Aerogramas à mãe do Mateus.

Durante a consulta do espólio do Mateus encontrei entre a sua correspondência dois aerogramas enviados à mãe do Mateus pelo José Francisco Couto. Neles, lamentava as circunstâncias da morte do filho e afirmava que a iria visitar logo que regressasse da Guiné, uma vez que eram naturais de concelhos vizinhos.

Transcrevo o segundo aerograma que enviou à mãe do Mateus em novembro de 1966:

José Henriques Mateus (1944-1966)
Catió – 8-Nov-966

Prezada Senhora

É com os olhos rasos de lágrimas que novamente me encontro a escrever-lhe sendo ao mesmo tempo a desejar-lhe uma feliz saúde a si e aos seus filhos que eu cá vou indo na graça de Deus.

Sei senhora Rosa que ao receber esta minhas notícias mais se recorda da tragédia que lhe roubou o seu querido filho, pois é com mágoas no coração que lhe respondo a tudo quanto me pergunta e peço a Deus que não a vá magoar mais com tudo o que lhe possa dizer. Pois compreendo que além da minha dor ser enorme a sua não tem palavras, pois o destino foi traiçoeiro. Sim, a Senhora pede-me que lhe explique como tudo se passou. Pois sou a dizer-lhe tudo o que sei.

Foi uma das saídas que nós tivemos, durante o dia tudo se passou da melhor maneira na graça de Deus e nós nos sentíamos satisfeitos, mas no regresso tivemos que atravessar um Rio e a corrente era enorme, como enorme era o peso que trazíamos, o que ele ao passar a corda se partiu e foi quando ele foi parar ao fundo sem mais ninguém o ver. Pois quatro camaradas nossos, mal pressentiram o que se estava a passar, atiram-se à água e mergulharam ao fundo para ver se o encontravam correndo o Rio de cima para baixo e vice versa mas o resultado foi o que Senhora já sabe. Não o conseguiram encontrar pois a corrente o arrastaria logo, foi como um balde de água fria que caiu sobre nós e todos os esforços que juntos fizemos foram negativos. Esta é apenas a verdade que podem contar à Senhora aos seus filhos. Sim, também me diz que apareceu alguma coisa dele e é certo, mas não o que a Senhora me diz. Apareceu sim o que lhe vou contar. 


Passados alguns dias nós voltámos a passar por lá, e foi nessa altura um dos Alferes encontrou uma parte da camisa e a carteira no bolso, pois a parte da camisa era só da frente e tinha o bolso onde estava a carteira, que o alferes tem para lhe enviar tudo junto que resta do seu querido filho. E a Senhora não precisa de tratar nada pois a companhia já tratou de tudo, pois também tratou dos papéis para a Senhora ficar a receber algum dinheiro que bastante falta lhe fará e assim, minha Senhora, não quero alongar mais as minhas notícias pois elas só lhe levam mágoas. No entanto, mais uma vez lhe digo, a companhia está a tratar de todos os assuntos e lhe enviará todas as suas coisas. Sem mais me despeço com muitas saudades para os seus filhos um aperto de mão para todos para a Senhora também deste que chora também a sua dor.

José Couto



(ii) Depoimemto do ex-fur mil mecânico radiomontador Estevão Alexandre Henriques ( recolhido em 23. 4.2014)

[Imagem à esquerda, guião do BCAÇ 1858, Catió, 1965/67, cortesia de Carlos Coutinho]


O Estevão foi amigo do Mateus. É natural de Fonte Lima, Stª Bárbara, cocnelho da Lourinhã,  e vive no Seixal.

Com a especialidade de Radio Montador, embarcou para a Guiné a 18 de Agosto de 1965 a bordo do navio Niassa, chegando a Bissau a 24. Fazia parte da CCS/BCAÇ 1858. [Tem página no Facebook, clicar aqui].

A sua proximidade ao Mateus advém do facto de ambos serem naturais de terras vizinhas,  o que levou o Furriel Estevão a conseguir o destacamento do Mateus para a Messa de Sargentos, uma vez que este pertencia a uma companhia, a CCAV 1484, adida ao BCAÇ 1858 e era muito amigo do cozinheiro Santos.

Na altura do acidente, o Estêvão não estava em Catió e só soube do acidente três dias depois, quando regressou de Empada onde tinha ido fazer reparações nos rádios. Pensa que,  se estivesse em Catió na altura da operação, seguramente o Mateus não teria sido nomeado para a mesma, uma vez que, no seu entender, ele já não era operacional.

O que soube em pormenor do acidente foi-lhe contado pelo cozinheiro António José dos Santos, natural das Matas (Lourinhã), amigo do Mateus e que faleceu há cerca de dois anos.


O Santos e o Mateus estão os dois na foto acima,  a preparar uma vitela para a festa de anos do Furriel Estevão a 2.9.66. Esta vitela tinha sido oferecida ao Furriel pelos responsáveis da Casa Gouveia (CUF) pelo facto de este ter feito a instalação do armazém de arroz desta empresa. Quem está de catana na mão é o Santos e ao lado o Mateus.

O Estêvão disse que as Nossas Tropas só voltaram ao local do acidente uma semana despois, altura em que encontraram, então, a camisa ou um pedaço (farrapo) da camisa pendurada (presa) numa árvore. Não sabe quem a encontrou e nunca viu a camisa. O que é certo é que na camisa, farrapo ou pedaço,  se encontrava intacto o bolso da mesma e dentro dela uma carteira em forma de ferradura contendo uma medalha da Nossa Senhora, uma moeda portuguesa furada e um amuleto de cabedal.

Foi o Estevão que entregou a carteira à mãe do Mateus. No final da Comissão o Comandante do Batalhão 1858, cujo nome não se lembra, chamou-o e pediu-lhe expressamente que entregasse a carteira à mãe e lhe apresentasse as suas condolências e do pessoal do Batalhão pela morte do filho. O Comandante nunca lhe falou das circunstâncias do desaparecimento do Mateus. Diz que foi sempre tudo um segredo bem guardado e nunca conseguiu que algum dos camaradas que participaram na operação lhe dissesse o quer que fosse sobre o acidente. Afirma, ainda, que o Mateus nunca lhe falou em fugir [, como sugere um depoimento do Couto].

O Furriel Estevão regressou da Guiné em 9 de Maio de 1967 e só em junho teve a coragem de entregar a carteira à mãe do Mateus. Lembra-se que nesse momento estava presente a irmã do Mateus

Texto: Jaime Bonifácio Marques da Silva


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Foi aqui que viveu, durante 3 meses, entre 8/6/1966 (data da chegada da CCAV 1484 ao setor de Catió) a 10/9/1966 (data do seu desaparecimento) o José Henriques Mateus... 

Álbum fotográfico do nosso saudoso camarada Victor Condeço (1943-2010) > Catió - Quartel > Foto 03 > "Foto tirada de cima do depósito da água do quartel [Julho de 1967]. Vista parcial da zona antiga do quartel, o primeiro edifício eram quartos, o do meio era o dos quartos do 7,5 e ao fundo a Central Eléctrica Geradora Civil do lado de lá da rua das Palmeiras que ligava à estrada de Priame. Era também a zona da capela/escola, posto de socorros/enfermaria, arrecadação de material de guerra, arrecadação de material de sapadores, oficina de rádio, etc". 


Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel >

"Foto nº 4 - Foto tirada de cima do depósito da água do quartel [JUL 1967]. Vista parcial da parte nova do quartel. A parada com o cepo (raiz) do Poilão, à esquerda as casernas nº 1 e nº 2, ao centro o edifício do comando, por detrás deste as camaratas de sargentos e depois destas as novas messes ainda em construção, tal como a camarata de oficiais à direita. O telhado vermelho era a messe e bar de sargentos".  



Guiné> Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Porto Interior. O José Henriques Mateus deve-se ter banhado nestas águas, matando saudades da sua Praia da Areia Branca... Mas é bom que se recorde que o seu acidente (desaparecimento nas águas do Rio Tompar, afluente do Rio Cumbijã) não foi acidente de lazer, mas em combate, com as NT de regresso a Cufar, e com o IN à perna...

"Foto nº 9 > Porto interior de Catió no rio Cadime, depois do trabalho a merecida banhoca".

Fotos (e legendas): © Victor Condeço (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13111: Homenagem póstuma, na sua terra natal, Areia Branca, Lourinhã, 11 de maio próximo, ao sold at cav José Henriques Mateus, da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), desaparecido em 10/9/1966, no Rio Tompar, no decurso da op Pirilampo. Parte IV: Programa + Cinco Cartazes: "Pior do que a guerra, é fazer de conta que ela nunca existiu" (Jaime Bonifácio Marques da Silva)


Cabeçalho do primeiro de cinco cartazes com a história militar do José Henriques Mateus (1944-1996). São da autoria do seu amigo, colega de escola e conterrâneo e membro da nossa Tabanca Grande Jaime Bonifácio Marques da Silva. Foram impressos em Fafe (e custeados pelo Jaime). Vão estar em, exposição, durante um semana, a partir de 11 de maio próximo,  no clube da Areia Branca, Lourinhã, terra natal do malogrado José Henriques Mateus, que tem finalmente a homenagem que lhe é devida, ao fim de meio século, numa singela cerimónia com a participação dos seus conterrâneos, familiares, amigos e antigos camaradas. (LG).




Cartaz 1 [Clicar na imagem para ampliar]



Cartaz 2 [Clicar na imagem para ampliar]


Cartaz 3 [Clicar na imagem para ampliar]


Cartaz 4 [Clicar na imagem para ampliar]


Cartaz 5 [Clicar na imagem para ampliar]


1. Mensagens,  de 5 e 7 do corrente, do nosso camarada Jaime Bonifácio Marques
da Silva [, natural de Seixal, Lourinhã, e residente em Fafe, onde foi professor de educação física e autarca (com o pelouro da cultura, e onde é mais conhecido como Jaime Silva), ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), membro da nossa Tabanca Grande]:


(i) Amanhã à noite [, 6 do corrente,] a Comissão vai reunir-se, mas já está confirmado para domingo 11 de maio o seguinte programa:

10.15 h – missa na capela do lugar da Areia Branca,  em memória do José Henriques Mateus [, mais conhecido na sua terra como "o Valente"];

11.30 h – Cerimónia evocativa.

Segue-se a apresentação pública dos 5 cartazes que descrevem o seu percurso militar,  na sede do clube. Estes ficarão expostos durante a semana.

No final, averá um lanche convívio.  

Estive no Jornal Alvorada. A próxima edição só sai a 16 de maio.

(ii) Ontem [, 6,] realizou-se a reunião de coordenação e ficou combinado:

(a) tu [, em representação do blogue,] e o pessoal da companhia do Mateus [, CART 1484,]  são nossos convidados e temos gosto na vossa presença;

(b) ficou em aberto a hipótese do Benito Neves ou outro elemento da companhia poder usar da palavra;

(c) irá estar presente uma sobrinha do Mateus (estive a falar com ela e mostrei-lhe os cartazes), bem como a Câmara e Junta de Freguesia da Lourinhã e, eventualmente, um representante da Liga dos Combatentes.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13071: In Memoriam (189): Domingos Gomes Nabais, soldado da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), morto por afogamento nas tranquilas águas do Rio Geba, em Bafatá, em 13/4/65 (José Colaço / Francisco dos Santos)



Guiné-Bissau > Bafatá > Rio Geba > Margem direita > Duas fotos do mesmo local, com 40 anos de distãncia: a primeira, em cima, de 1968; a segunda, de 2010... Cortesia de Fernando Gouveia.

Fotos: © Fernando Gouveia (2010). Todos os direitos reservados.

1. Mensagem com data de 28 do corrente, do José Colaço [ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil,Bissau e Bafatá, 1963/65]:

Para facilitar quando vasculhares o blogue sobre os mortos por afogamento na guerra da Guiné: aqui só há a rectificar o nome,  que é Domingos Gomes Nabais e não Fernando ou Francisco como por lapso aparece escrito (*), inclusive na lista do António Marques Lopes dos que nem no caixão tiveram direito a regressar (**).

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Zé. Já corrigi o poste P4199 (*). Mas vamos republicá-lo,  com data de hoje. Até por respeito à memória do teu/nosso camarada Domingos Gomes Nabais. Também pode ser que apareçam mais casos. Afinal houve 143  afogamentos, no TO da Guiné, em 11 anos de guerra...


3. Quem era o Domingos Gomes  Nabais ? Pertencia à  CCAÇ 557... e morreu por acidente, quando se banhava nas águas tranquilas do Rio Geba, em Bafatá... A nossa curiosidade foi despertada pelos versos do Francisco dos Santos (***) e logo prontamente satisfeito pelo seu e nosso camarada José Colaço:

(...) Éramos a família unida,
Por isso não digo nomes,
Sacrificámos a vida,
Que heróis todos nós fomos.

Mas veio então a mudança,
Bafatá que era a norte,
Havia mais esperança
E talvez melhor sorte.

Não queríamos muito mais,
O tempo passa a correr,
Mas o soldado Nabais
No rio viria a morrer.

A morte por afogamento
Que já ninguém o previa,
Este triste acontecimento
Chocou muito a Companhia....


Francisco dos Santos

4. Ficha necrológica (*):

Nome: Domingos Gomes Nabais,
Posto: Soldado
Subunidade: CCAÇ 557, Cachil, Bissau e  Bafatá, 1963/65,
Local e data: Bafatá, Rio Geba, 13 de Abril de 1965
Causa: Afogamento
Naturalidade: Aldeia Velha, Sabugal
Última morada: Cemitério de Bafatá, Guiné-Bissau.


5. Escreveu  o José Colaço, em 16/4/2009:

o Nabais era um rapaz muito simples, por esse motivo era muito apoiado por todos os camaradas. Quem lhe escrevia as cartas e os aerogramas era o Francisco dos Santos.

A sua morte não teve nada a ver com combates de guerra, não sei se por ironia do destino, ou sei lá, assisti praticamente aos últimos minutos de vida do Nabais.

Era uma tarde bonita, cheia de sol, o Geba, em Bafatá, convidava-nos a tomar banho. Então um grupo de 10 ou 12 militares fomos tomar banho. O Nabais não sabia nadar, ele estava neste caso mais ou menos à beira rio...

Entretanto notou-se a falta do Nabais mas, como do grupo nenhum sabia mergulhar com capacidade para procurar o Nabais, houve uma corrida até ao quartel para chamar o Fernando, 1º cabo condutor auto, óptimo mergulhador que, em poucos segundos, aparece com o Nabais na palma da mão,  ao cimo da água mas sem sinais de vida.

Ainda se tentou a recuperação mas o Nabais estava morto, não se sabe se por afogamento ou problemas por estar a fazer a digestão.

Ficou sepultado em Bafatá,  no talhão dos militares. Morreu em 13/04/1965. (****)
___________

Notas de L.G

(*) Vd. poste de 16 de abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4199: In Memoriam (18): Domingos  Gomes Nabais, morto por afogamento no Rio Geba, Bafatá, 13/4/65 (José Colaço / Francisco dos Santos).

(**) Vd. poste de 30 de abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2802: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (2): 1965 (A. Marques Lopes)

(***) 16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4196: Blogpoesia (39): CCAÇ 557, Missão cumprida na Guiné (José Colaço/Francisco dos Santos)

domingo, 27 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13054: Aqueles que nem no caixão regressaram (8): Terão morrido, no CTIG, entre 1963 e 1974, 143 combatentes nossos, por afogamento (6,9% do total de mortos) (José Martins)





Fonte: CECA - Comissão para o Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 8º Volume -Mortos em campanha, Tomo II, Guiné - Livro 2. Lisboa: Estado Maior do Exército, 2001, p. 265.


1.  Pedido ao José Martins, nosso colaborador permanente [, foto à esquerda], com data de 22 do corrente:

Zé: Vê se tens alguma ideia sobre isto, números ou lista de desaparecidos na Guiné ... (Já não falo do resto). Vou vasculhar o blogue...

Precisavamos disto com urgência... Vê os postes sobre o José Mateus Henriques, da minha terra, Lourinhã... O Jaime Silva está a organizar uma homenagem no própximo dia 11 e a preprarar uma pequena brochura ou folheto... 

Um abração. Luis


2. Pronta resposta, no mesmo dia (!),  do José Martins:

Luís: Aqui vai o mais rápido que me foi possivel.  Não há uma estatística acerca dos desaparecidos por afogamento. 

Nas estatísticas que anexo das três frentes, não se “vislumbra” onde foram incluídos estes camaradas.

Baseio esta opinião no facto de, em 1969, ter havido, num único afogamento, 47 mortes [, no desastre do Cheche, Rio Corubal, 6/2/1969, Op Mabecos Bravios].

Se observarmos, na Guiné, no ano de 1969,  temos [, vd. quadro acima]:

Mortes em combate > 119
Acidente com arma de fogo  > 31
Acidente de viação > 14
Outras causas > 43

Só poderiam “caber” em combate, mas nota-se que o nº de mortos em combate (119) “está em linha com os anos anteriores” e “não difere muito" dos anos seguintes.

Segue estatística anual dos afogamentos na Guiné (1963-1974):





Fonte: José Martins (2014)


A percentagem dos afogados no total de mortes Guiné seria, pois, de  6,9 % .

Se mantivermos a mesma percentagem para outros teatros de operações  teremos:

Angola  > Total mortes > 3258 >  Por afogamento:  224

Moçambique > Total mortes >  2962  > Por afogamento: 204

Total dos 3 teatros seriam cerca de 571 afogamentos





Fonte: CECA e José Martins (2014)
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Guiné 63/74 - P13053: Aqueles que nem no caixão regressaram (7): Certidão de óbito de Manuel Salgado Antunes, sold, CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74), desaparecido, com mais dois camaradas, no Rio Geba, em 10 de agosto de 1972... Era natural de Quimbres, São Silvestre, Coimbra.







Manuel Salgado Antunes. Cortesia do blogue CART 3494
& Camaradas da Guiné
Certidão de óbito do sold Manuel Salgado Antunes, da CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/74), desaparecido no Rio Geba em 10 de agosto de 1972 (*).  [Foto à esquerda]

Com ele pereceram os sold Abraão Moreira Rosa (desaparecido) e José Maria da Silva e Sousa (sepultado no cemitério de Bambadinca


A certidão foi emitida pela Conservatória do Registo Civil da Comarca da Guiné em 13 de março de 1973. 

O exército tinha processos expeditos de resolver estes casos  de "morte presumida" ), neste caso por afogamento,) que, na metrópole, poderiam levar anos e anos: veja-se o caso dos pescadores desaparecidos em naufrágios ao largo da nossa costa... 

Casos de camaradas nossos, presumivelmente afogados nas águas lodosas e traiçoeiras dos rios e braços de mar Guiné como o Manuel Salgado Antunes, natural do concelho de Coimbra, ou do José Henriques Mateus, natural do concelho da Lourinhã, eram "despachados" no prazo de um ano ou menos...  São apenas dois dos muitos camaradas nossos que "nem no caixão regressaram" (**)

Imagens: cortesia do blogue CART 3494 & Camaradas da Guiné, criado e mantido pelo nosso grã-tabanqueiro, o nº 2, Sousa de Castro.
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Notas do editor:


(*) Vd, postes do blogue CART 34994 & Camaradas da Guiné:

14 de junho de 2013 > P180 - O Nosso camarada desaparecido no Rio Geba em 10AGO1972, Manuel Salgado Antunes não era efectivamente da Póvoa de Varzim, mas sim do Lugar de Quimbres da Freguesia de S. Silvestre do Concelho de Coimbra, conforme certidão de óbito que seu sobrinho nos facultou.

9 de agosto de 2012 > P-159 (III) O RIO GEBA E O MACARÉU - O NAUFRÁGIO NO DIA 10AGO1972 (Guiné, Xime - CART 3494) por: Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Milº. Op. Esp./RANGER


(**) Vd. postes anteriores da série:

13 de maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2837: Aqueles que nem no caixão regressaram (6): O infeliz António da Purificação Marques, morto no Cantanhez (Mário Fitas)

12 de maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2836: Aqueles que nem no caixão regressaram (5): Alguns casos da minha unidade, a CART 1690 (Geba, 1967/68) (A. Marques Lopes)

10 de maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2830: Aqueles que nem no caixão regressaram (4): O Açoriano, da CCAÇ 1439, desintegrado por uma mina (Henrique Matos)

9 de maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2829: Aqueles que nem no caixão regressaram (3): Os oito esquecidos de Guidaje (Albano Costa)

9 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2821: Aqueles que nem no caixão regressaram (2): O caso do José Henriques Mateus, da CCAV 1484, natural da Lourinhã (Benito Neves)

9 de maio de 2008 >  Guiné 63/74 - P2820: Aqueles que nem no caixão regressaram (1): O Sold António Alves Maria da Silva, campa nº 247, Bissau (Virgínio Briote)

sábado, 26 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13045: Homenagem póstuma, na sua terra natal, Areia Branca, Lourinhã, 11 de maio próximo, ao sold at cav José Henriques Mateus, da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), desaparecido em 10/9/1966, no Rio Tompar, no decurso da op Pirilampo. Parte III: A certidão de óbito nº 594/967, da Conservatória do Registo Civil da Comarca da Guiné (Jaime Bonifácio Marques da Silva)

1. Mensagem de ontem, do nosso camarada Jaime Bonifácio Marques 
da Silva [, natural de Seixal, Lourinhã, e residente em Fafe, onde foi professor de educação física e autarca (com o pelouro da cultura, e onde é mais conhecido como Jaime Silva), ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), membro da nossa Tabanca Grande]:

Caro Luís

Estive a ler a Certidão de óbito do Mateus., Diz que vai ser sepultado mas não se percebe a palavra porque a fotocópia está em muito mau estado. Vou tentar voltar ao Arquivo do Exército.

No entanto lê e passa ao pessoal para ver se sabem explicar a sua existência!


Eu não a vou divulgar nos cartazes da exposição
Jaime


2. Reprodução da certidão de óbito nº 594/967, referente ao sold at cav José Henriques Mateus,  CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), desaparecido no Rio Tompar, em 10/9/1966, no decurso da Op Pirilampo, e cujo corpo nunca foi encontrado.

Recorde-se que em Novembro de 1966 fora já abatido ao efetivo do Regimento  [ RC 7] e da Companhia de Cavalaria n.º 1484 e um ano depois, em novembro de 1967, "por despacho de 24.10.67 foi confirmado como ocorrido em e por motivos de serviço o acidente referido, e de que lhe resultou a morte. (O.S. 265)." (*)


CONSERVATÓRIA DO REGISTO CIVIL DA COMARCA DA GUINÉ
CERTIDÃO N.º 594/967
------- PEDRO GOMES DIAS, TERCEIRO AJUDANTE INTERINO, DA CONSERVATÓRIA DO REGISTO CIVIL DA COMARCA DA GUINÉ,  EM BISSAU, E COMO TAL SUBSTITUTO LEGAL DO CONSEVADOR, EM EXERCÍCIO: -------------------------------------------------------------------------------------------------------
------ CERTIFICO que as folhas sessenta e cinco verso do livro do registo de óbito arquivado nesta Conservatória, e referente aos anos de mil novecentos e sessenta e seis a mil novecentos e sessenta e sete, se encontra um registo de teor seguinte: ----------------------------------------------
À MARGEM.- Averbamentos. – Registo número setenta e cinco “HENRIQUES MATEUS” (JOSÉ). Certificado de óbito nos termos do artigo duzentos e oitenta e um e duzentos e oitenta e dois do Código do Registo Civil. – NO TEXTO. -  Registo de óbito.  No mês de Janeiro do ano de mil novecentos e sessenta e sete, nesta Província, faleceu em combate um indivíduo do sexo masculino  de nome José Henriques Mateus, de vinte e três anos de idade, de profissão soldado do Exército, natural da freguesia de Lourinhã, Concelho do mesmo nome, domiciliado nesta [_____________], filho de Joaquim Mateus Júnior, e de Maria Rosa Mateus. O falecido era solteiro. O falecido ignora-se deixou descendentes menores, ignora-se deixou bens, não deixou testamento e o seu cadáver vai ser transladado, digo, sepultado no cemitério do [_____________].
A declaração de óbito foi feita de conformidade com o ofício número sessenta e quatro traço sessenta e sete, Processo número sete traço sessenta e sete do tribunal Judicial da Comarca da Guiné que acompanhou a certidão de sentença proferida pelo Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz [?], em Bissau, digo em vinte e três de Janeiro de mil novecentos e sessenta e sete. Depois deste registo ser lido e conferido com o seu extrato vai ser assinado por mim Carlos Dinis de Figueiredo Júnior,  conservador do Registo Civil. Conservatória do Registo Civil da Comarca da Guiné em Bissau, aos trinta dias do mês de Janeiro  de mil novecentos e sessenta e sete. (Assinado) Carlos Dinis de Figueiredo Júnior.----------------------------------------------------------------------------- Por ser verdade mandei passar apresente certidão que vai por mim assinada e autenticada com o selo branco em uso nesta Conservatória, depois de revista e conferida.-----------------Isenta de selos e emolumentos por se destinar única e (?) (?) (?) militares (?) (?) (?). (**)-------------- Conservatório do Registo da Comarca da Guiné (não se percebe a data, escrita por extenso, nem a assinatura)

ESTÁ CONFORME
O CHEFE DA 1.ª REPARTIÇÃO
SOUSA MONTENY

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8590: BCAÇ 1860 (Tite, 1965/67): 16 Mortos e 6 desaparecidos em combate (Santos Oliveira)




Guiné > Região de Quínara > BCAÇ 1860 (Tite, 1965/67) > Mortos e desaparecidos em combate...

Contribuíu o BCaç 1860, durante a sua permanência em terras da Guiné, com a vida e o sangue dos seguintes militares, para quem vai a mais respeitosa homenagem e o agradecimento da Nação:

12Ago65, Fur Mil Júlio Lemos P Martins;
12Ago65, 1º Cabo Inácio Freitas Ferreira;
30Set65, Sold Aníbal A Pires;
18Out65, Sold Diogo A Neves;
01Nov65, Sold Manuel A A Nobre;
18Mar66, Sold Alberto T Silva;
11Mai66, Sold Julde Mané;
25Ago66, Sold José Maria F Carvalho;
25Ago66, Sold Francisco António Lopes;
06Out66, Alf Mil Carlos Santos Dias;
29Dez66, Sold Malan Sambú;
15Jan67, Sold António C do Nascimento;
16Jan67, Sold Saliu Djassi;
16Fev67, Sold Alberto Samba;
01Mar67, 1º Cabo José Félix Lopes;
04Abr67, Furr Mil Rui Palmela Mealha.

Desaparecidos em Combate, em 07Out65, durante a Op Lenda (**):

Alf Mil Vasco Nuno L de Sousa Cardoso;
1º Cabo Fernando de Jesus Alves;
Sold Armando Leite Nascimento;
Sold José Ferreira Araújo;
Sold José Vieira Lauro [, e não Louro, como certamente por lapso consta no documento acima; natural do concelho de Leiria, foi feito prisioneiro pelo PAIGC, levado para Conacri, e entregue em Dacar à Cruz Vermelha Internacional, mais tarde, em Março de 1968]; (***)
Sold Armando dos Santos.

Imagem digitalizadas (e legendas): © Santos Oliveira (2008). Todos os direitos reservados.

Fonte: História da unidade, conforme documentos digitalizados pelo nosso camarada Santos Oliveira (2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66). Material em arquivo, enviado pelo Santos Oliveira  por mail em 2008 (*)... Desconhece-se o autor das ilustrações. (LG)

Sobre os seis desaparecidos em combate, vd. poste P2026 (**).

 [Edição de imagem, legendagem e título: L.G.]
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Notas do editor:


(**) Vd. poste de 4 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2026: Antologia (61): Rumo a Fulacunda: uma estória que ficou por contar ou a tragédia das CCAÇ 1420 e 1423 (Rui Ferreira)

(***) José Vieira Lauro: o seu nome também consta da lista dos ex-prisioneiros de guerra a quem foi atribuída a pensão a que se refere o art. 4º do Decreto-Lei nº 170/2004, de 16 de Julho.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4050: (Ex)citações (21): A esperança de que o António Ferreira ainda esteja vivo...(Cátia Félix)

1. Cátia Félix, amiga da viúva de António Ferreira, Cidália Cunha, deixou o seguinte comentário ao poste de 18 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4046: Ainda a atroz dúvida da Cidália, 37 anos depois: O meu marido morreu mesmo na emboscada do Quirafo ? (Paulo Santiago)

Boa noite, amigos

Desde já apresento-me...sou a Cátia, amiga da Cidália Cunha (viúva), que entrei em contacto com o Paulo Santiago (um SENHOR). Agradeço imenso a dedicação de todos, acreditem que tudo o que fizerem fará a diferença.

Tenho uma relação com a Cidália como mãe/filha e numa das nossas muitas confissões ela contou-me toda a sua história. O casamento de sonho com o grande amor da sua vida e o desabar de tudo nas terras da Guiné.

Esta grande Mulher que desde sempre fez frente aos "grandes" do exercito à procura de respostas que nunca conseguiu ter.

As perguntas: "Será que o Ferreira morreu mesmo no Quirafo? Será que naquela sepultura, que é adorada todos os Domingos, está mesmo o corpo do Ferreira?" mantêm-se depois de todos estes anos por falta de explicações. Além disso o Ferreira disse sempre que fugia antes de morrer...Se calhar todos disseram o mesmo...

O que é certo é que a Cidália e toda a familia vivem na esperança que mais um "morto" apareça vivo. A filha que nunca conheceu o pai, o neto que adora o avó que nunca conheceu, a esposa que o continua a amar como no 1ºdia, desde sempre até ao fim...

Por isto tudo e muito mais, mais uma vez agradeço em meu nome e em nome da Cidália e familia:

-tudo o que têm feito e sei que continuarão a fazê-lo;
-toda a dedicação em encontrar respostas;
-por este blogue que nos deu uma enorme esperança, aquando das minhas pesquisas até altas horas...

Estarei sempre disponível para acompanhar a Cidália, já que ela não conduz, para sabermos algo mais.

OBRIGADO!

NOTA - Só para corrigir um lapso, o Ferreira estudava na Escola de Engenharia de Arca d'Água e, pelo que li algures aqui no blogue havia um Sr. chamado Sousa de Castro que frequentava esse mesmo curso, que poderá ajudar-nos.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3313: Grandes acidentes (1): Oito mortos do Pel Mort 980, em 5 de Janeiro de 1965, no Rio Cacheu (Virgínio Briote)

Batalhão de Cavalaria 490. História da Unidade.
Guiné. Fevereiro 1963/Agosto 1965.


Com a História do BCav 490 nas mãos, oferta do Carlos Silva (que mantém um blogue com muita informação útil, especialmente sobre o Sector de Farim), ao folheá-la deparei com o relatório de um acidente de que, lembro-me agora, ouvi falar em finais de Janeiro de 1965.

Eram ainda os primeiros anos da Guerra na Guiné. Os meios escasseavam e a improvisação impunha-se mais que nunca.

Pelo interesse de que se reveste, transcrevo na íntegra o relatório assinado pelo Alf Inf José Pedro Cruz, que, se a memória me não atraiçoa, foi mais tarde Cmdt da CCav 489 e, posteriormente (talvez Set/Out 65), vim a encontrar no Xitole, como Cmdt de uma CCaç (de que já não me lembro o número).

vb

Revisão e fixação de texto: Carlos Silva e Virgínio Briote.
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Cópia do relatório do acidente, que se transcreve abaixo.


Batalhão de Cavalaria n.º 490

Pelotão de Morteiros n.º 980

Relatório do acidente que teve lugar em 5/01/1965

O Pel Mort 980 era constituído por 33 homens, incluindo o cmdt de Pelotão e os Furriéis (3), comandantes de Secção.

O Pelotão participava na Op Panóplia que se realizava na Península de Sambuiá, entre o rio do mesmo nome e o rio Talicó.

Para dar cumprimento à missão, o Pel embarcou na LFG Orion às 05h00 como estava previsto e foi transportado por este meio na direcção E-W pelo rio Cacheu. Como fora planeado, o navio passou pelo local de desembarque, local esse que fora reconhecido na véspera, até um ponto antes de Bigene. Aí, o navio inverteu a marcha e, como também fora planeado, foi então que o Pel desembarcou para o bote de borracha pertencente ao Exército no qual se faria o desembarque na Península de Sambuiá.



A LFG Orion no Cacheu. Foto do Lema Santos, com a vénia devida.

Embarcaram para o barco de borracha do Exército, 25 homens entre os quais se encontrava o Cmdt do Pelotão. Embarcámos também para esse barco todo o material e armamento necessário para se realizar o desembarque.´

Como seria mais seguro não embarcaram todos os homens nesse barco, que tem uma lotação aproximada de 30 homens, tendo o Comandante do navio posto à nossa disposição um barco de borracha pertencente à Marinha, no qual embarcaram simultaneamente os restantes homens do Pel Morteiros (8) assim como o restante material.

Os dois barcos seriam rebocados pela Orion"«, de maneira a estarem permanentemente encobertos das vistas de possíveis sentinelas existentes na Península onde se efectuaria o desembarque, junto ao rio Cacheu. Segundo notícias, essas sentinelas existiam. Os barcos onde eram transportados os homens do Pel Mort seriam afastados da Orion ao passarmos pelo local onde se realizaria o desembarque.

Antes do navio se pôr em marcha, foi passado um cabo por baixo do barco onde eram transportados os 25 homens, amarrado a um ferro existente no fundo do mesmo.

O navio recomeçou a marcha e, depois de ter navegado durante alguns minutos, o cabo que fora passado para rebocar o barco maior, rebentou pelo que o navio se afastou um pouco. Foi posto o motor do barco a funcionar e a recolagem fez-se sem qualquer incidente ou dificuldade.

Foi então que se passou um cabo mais forte para dentro do barco de borracha, ficando os próprios homens que o tripulavam a agarrar nesse cabo, sendo nessa altura avisado pelo Cmdt da Orion e depois por mim que, em caso de emergência, o cabo devia ser largado imediatamente. Foi nessa altura que eu chamei a atenção dos homens para a conveniência de se chegarem o mais possível para a ré, pois o barco rebocado teria a tendência a baixar a proa. Os homens assim fizeram.

A marcha recomeçou, não podendo eu avaliar a velocidade da Orion, pois ela, necessariamente, difere bastante (aparentemente), devido às diferenças de tamanho da Orion e do barco rebocado.

Depois de se navegar nestas condições alguns metros, notei que o barco de borracha deixava entrar água pela proa. Coisa sem importância, pois isso seria natural devido à ondulação provocada pela deslocação do navio rebocador.

Foi nesse momento que à ré do barco de borracha alguns homens se levantaram, talvez assustados pela água que saltava para dentro do barco. Mandei-os sentar imediatamente, mas o barco já se encontrava desiquilibrado de um dos lados e, sem nos dar tempo a qualquer reacção, afundou-se rapidamente.

Alguns homens que se encontravam dentro do barco sinistrado não sabiam nadar e, então, o pânico foi enorme.

Nadei para junto do barco que se encontrava voltado e icei-me para ele. Seguidamente e auxiliado pelo Soldado nº 1069/63 (1), fui aconselhando calma e ajudando alguns homens a içarem-se para para o barco voltado. Foi feito todo o possível para salvar o maior número de homens. Alguns não chegaram a vir à superfície uma única vez, talvez devido ao grande peso do equipamento, armamento e munições. Entre estes, dois eram bons nadadores.

Verifiquei então que se aproximava rapidamente um barco de borracha da Marinha, tripulado pelo próprio Cmdt da Orion, a qual se encontrava parada, afastada do barco sinistrado cerca de 80 metros.

Depois de se efectuar o transporte de todos os sobreviventes para bordo do navio, efectuaram-se pesquisas em todos os sentidos e recolheu-se todo o material que se encontrava a boiar.

Verifiquei imediatamente que tinham desaparecido no desastre alguns homens do meu Pelotão e varadíssimo material.

Ao subir para a Orion fui informado que dois homens se salvaram por terem ficado agarrados ao cabo do reboque, o que prova que o mesmo cabo não foi largado como foi aconselhado aos homens para o fazerem em caso de emergência.

Conclusões

1. O desastre deu-se, em grande parte, devido ao pânico de que os homens se apossaram.

2. O pânico foi devido à entrada da água pela proa do barco. Pânico natural, por muitos não saberem nadar.

3. Que a água entrou devido à ondulação provocada pelo deslocamento do barco rebocador e ainda devido à tendência do barco em baixar a proa, visto o cabo do reboque não ter sido passado por baixo do barco mas sim por cima, indo agarrado pelos próprios tripulantes do barco rebocado.

Recomendações

1. Tanto quanto possível evitar, nas operações em rios, homenss que não saibam nadar.

2. Nunca rebocar um barco com o cabo de reboque passado por cima do barco rebocado e agarrado pelos próprios homens do mesmo barco.

3. Sempre que possível, evitar reboques por meio de navio de peso elevado e de elevada velocidade.

No acidente pereceram os seguintes homens:

1.º Cabo n.º 1295/63- Arlindo dos Santos Cardoso
1.º Cabo n.º 2143/63- João Machado
Soldado n.º 2481/63- António Ferreira Baptista
Soldado n.º 2517/63- António José Patronilho Ferreira
Soldado n.º 2540/63- António Domingos Félix Alberto
Soldado n.º 2594/63- Joaquim Gonçalves Monteiro
Soldado n.º 3021/63- João Jota da Costa
Soldado n.º 3029/63- António Maria Ferreira

Quartel em Farim, 10 de Janeiro de 1965

O Comandante do Pel Mort 980

José Pedro Cruz
Alf Inf


Comentário do Comandante do BCav 490

Concordo com as conclusões e recomendações apresentadas. No que respeita à escolha dos homens que saibam nadar, creio que infelizmente é bastante teórica pois na maior parte dos casos terão que ser utilizados os efectivos disponíveis. Aliás, não basta saber nadar, pois como se verificou dois dos desparecidos eram até bons nadadores. A única solução parece-me que será dotar as Unidades de meios próprios para desembarques.

No caso presente é possível que o acidente se tivesse evitado se não tivesse havido necessidade de tomar medidas motivadas pela grande vulnerabilidade do barco de borracha.

O barco tem sido utilizado inúmeras vezes, nomedamente no percurso Farim-Binta e na travessia do rio Cacheu em Farim, deslocando-se pelos próprios meios e transportando até cargas mais elevadas, sem que a sua estabilidade desse lugar a reparos.

Quartel em Farim, 10 de Janeiro de 1965

O Comandante do BCav 490
Fernando Cavaleiro
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Nota:

1. Não consegui identificar o Nome deste Soldado.