Na noite de 10 e 11 de Abril de 1968, o destacamento de Catacunda foi atacado e assaltado por tropas do PAIGC, com a cumplicidade de elementos da milícia e da população locais. Desta acção - uma das mais espectaculares do PAIGC no CTIG, no decursso da guerra colonial - resultaram 11 prisioneiros e 1 morto. Os prisioneiros foram levados para Conacri. Um, pelo menos, ficou por lá, morto devido a doença, em 20.12.68: Luís dos Santos Marques, Soldado. Era natural da Serra Verde, Aguiar da Beira. Os restantes foram depois liberdados em 22 de Novembro de 1970, na sequência da Op Mar Verde.
Fotos: © A. Marques Lopes (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do A. Marques Lopes, ex- Alf Mil At Inf(Hoje Cor DFA, reformado), CART 1690 (Geba) / CCAÇ 3 (Barro) . Vive em Matosinhos.
A Mensagem, de 9 de Maio último, é dirigida ao Benito Neves, com conhecimento aos editores:
Caro amigo: Pode haver razões para o José Henriques Mateus (1) não aparecer:
1 - Ponho a hipótese de uma falha minha na elaboração da lista de Os que nem no caixão regressaram (2). É um livro grosso [, o da CECA, com os mortos em campanha na Guiné,] e eu andei à pesca dos que estavam nessa situação, foi um trabalho moroso e de muita atenção, algum ou alguns podem ter sido passados.
2 - No caso concreto desse camarada, pode ter sucedido que, na altura da elaboração do livro da CECA sobre os mortos na Guiné, a situação dele não estivesse ainda oficialmente determinada.
Muitos casos, aliás, estarão dependentes desta última condição. Alguns mal. E dou-te o exemplo de alguns casos da primeira companhia onde estive, a CART 1690:
- o soldado Armindo Correia Paulino foi dado como "retido pelo IN" em 19DEZ68, mas há quem diga que ele foi morto em combate, e também não apareceu entre os libertados aquando do ataque a Conakry;
- o soldado António Domingos Gomes foi dado como desaparecido em campanha em 21AGO67, mas eu vi-o morto nesse dia;
- o alferes Fernando da Costa Fernandes foi dado como desaparecido em campanha em 19DEZ67, mas há quem o tenha visto morto nesse dia;
- o soldado Agostinho Francisco Câmara também foi dado como desaparecido em campanha em 16OUT67, mas também há quem o tenha visto ser abatido.
O António Batista da Silva, o nosso camarada da Maia, a quem chamamos o morto-vivo do Quirafo (dado como morto pelas NT, em Abril de 1972, feito prisioneiro pelo PAIGC e por fim libertado já em Agosto ou Setembro de 1974)...
O Batista foi vítima, entretanto, da máquina burocrática do Exército Português, num processo digno do génio do Kafka, ao tentar recuperar a dua identidade e a sua dignidade, por que o obrigam a fazer o ónus da prova de estar vivo, de ter estado estado na Guiné do serviço da Pátria, de ter sido feito prisioneiro, de ter sido libertado e recambiado para a terra... Um pesadelo!
E há o caso do nosso conhecido "morto-vivo", o Batista, que ainda agora anda a tentar demonstrar que, afinal, está vivo...
Abraço
A. Marques Lopes
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Notas dos editores:
(1) Vd. poste de 9 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2821: Aqueles que nem no caixão regressaram (2): O caso do José Henriques Mateus, da CCAV 1484, natural da Lourinhã (Benito Neves)
(2) Vs. poste de 5 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2811: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (3): De 1966 a 1967 (A. Marques Lopes)
(3) Vd. o último poste sobre o nosso camarada a quem, na brincadeira, chamamaos o morto-vivo do Quirafo
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