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sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26213: Notas de leitura (1750): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Outubro de 2024:

Queridos amigos,
Continua a ser mistério insondável o silêncio do Boletim Oficial da Província da Guiné quanto aos acontecimentos, verdadeiramente preocupantes, das dificuldades postas à pacificação e ocupação do território. Nunca se fala da hostilidade do Oio e da sua firme oposição a pagar impostos; não há uma só referência à insubmissões das populações à volta de Cacheu, isto a despeito de haver relatórios mensais do comandante militar de Cacheu, parece que está tudo em paz. Um dia, em conversa com Armando Tavares da Silva, ele contou-me como é que sendo ele um professor catedrático aposentado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, se lançou neste cometimento de investigação da História Política e Militar nas vésperas de autonomia até ao fim da I República. O seu avô, tenente da Armada Real e administrador colonial, estivera na guerra do Churo, deixara documentação, picado pela curiosidade, lançou-se ao trabalho. Neste texto, em que se fala da guerra do Churo de 1904, invoco com respeito a memória de Armando Tavares da Silva, a quem a historiografia da Guiné muito fica a dever.

Um abraço do
Mário


O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (4)

Mário Beja Santos

O leitor tem vindo a ser informado da parcimónia informativa do Boletim Official da Província da Guiné quanto a este período do virar do século, entrou-se numa rotina burocrática das chegadas e partidas, nomeações e exonerações e questões alfandegárias, não esquecendo as questões militares, mas também de caráter burocrático. Por isso se regressa ao vasto acervo documental da obra de Armando Tavares da Silva, A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar, 1878-1926, no caso vertente o período de 1903 a 1905.

Judice Biker partiu, chegou Soveral Martins. Este escreve para Lisboa, elogiando a obra pacificador do seu antecessor, considera a situação que a situação económica da província não correspondia à riqueza e vastidão do território e observa que “fazer a guerra a pretos com pretos só serve e basta quando aqueles sabem que ela pode ser sustentada com outras forças cuja decisiva e irresistível ação já sentiram.” Exprime dúvidas quanto à lealdade de diversas etnias, será o caso do Oio, a campanha de Judice Biker podia ter sido seguida por uma ocupação séria, é de prever nova guerra. Faz ao Governo uma resenha dos diferentes povos, enumera a multiplicidade de artérias fluviais e questiona em voz alta quais os meios que a província dispõe para manterem respeito aos povos inimigos. Alude à ocupação reduzida aos comandos militares – Cacheu, Farim, Bissau, Geba, Buba e Cacine, os postos fiscais de Arame, São Domingos e Contabane; existem duas lanchas canhoneiras, Cacheu e Farim, que não podem sair ao mar. O material de guerra é inapropriado, dúvida do seu bom estado de funcionamento. Elogia a administração francesa em que o sipaio senegalês mantinha o prestígio colonial, a segurança e integridade do território.

Enumera as regiões que, pelo seu estado de revolta, necessitam de uma imediata ocupação: o Oio; a região ocupada pelos Balantas nas duas margens do Mansoa; a ilha de Bissau; o arquipélago de Bijagós e Manjacos. Para que se dê essa ocupação seria indispensável um estabelecimento de um total e seis comandos militares, fala dos efetivos necessários, a presença de um navio de guerra capaz de sair ao mar, forças europeias. Em Lisboa, o novo ministro do Ultramar pede ao ex-governador Judice Biker um relatório confidencial, este elabora-o, considera que o principal problema passa por castigar os Oincas e sujeitá-los ao pagamento imposto, tinha a convicção que se assim não se fizesse, os Fulas e Biafadas passariam a ter relutância ao pagamento; e Biker exprimia também a opinião de que na época seca seguinte se devia avançar para o Oio e depois aproveitar a mesma expedição para castiga o gentio do Churo, que estava constantemente incomodando a praça de Cacheu; Biker termina o seu relatório indicando as forças militares necessárias para manter o gentio em sossego; o desenvolvimento comercial com a paz na província compensaria bem todos os esforços e defesas. Também não deixa de notar quando, a 13 de julho de 1900 assumira o Governo da província “o nosso domínio era pouco mais que nominal, limitando-nos a conservarmo-nos na sede dos comandos militares, mas sem prestígio e influência sobre os gentios para nos fazermos obedecer.”

O ministro não responde às propostas de Soveral Martins, era certamente da opinião que se fazia resolver sem empregar a força. Soveral Martins viaja pelo interior da província, informa o ministro que conseguira com meios suasórios a submissão de agentes do Oio, o que estava muito longe da realidade. É nisto que o comandante militar de Cacheu avisa o governador que foi prevenido pelo gentio de Churo de que no prazo de três dias iria atacar a praça. Seguem uma embarcação para Cacheu e mais tarde a lancha canhoneira Cacheu. Está tudo num impasse, não há nenhuma operação contra o Churo, mas a 7 de dezembro o gentio de Churo avança sobre Cacheu. O governador junta reforços para a defesa da praça. O ministro expede um telegrama para o governador de Angola perguntando-lhe se ele poderia organizar um batalhão disciplinar com uma companhia europeia e outra indígena para destacar em serviço de campanha na Guiné. O ministro não tem dinheiro, não é aceitável qualquer guerra dispendiosa, sugere ao governador que aproveite os Grumetes como elemento essencial e principal nas operações. O governador vê esboroarem-se os seus planos, mas pede apoio naval, 500 armas Snider e 200 mil cartuchos. A custo, fora organizada na metrópole uma pequena força composta quase só de praças que, estando na maioria dos casos a cumprir penas, se tinham voluntariado para servir no Ultramar.

Depois de alguns avanços e recuos organiza-se a coluna de operações composta por um núcleo de forças regulares e por forças irregulares de auxiliares Grumetes, partem a 26 de fevereiro de 1904 para Cacheu, vai chegando mais apoio naval, a coluna põe-se ao caminho, dirigem-se para as tabancas de Churo, as palhotas foram incendiadas, houve algum tiroteio, mas o Churo estava vencido. Restava, para completo castigo dos rebeldes levar a guerra às tabancas da região de Cacheu. Não era possível atravessar o território entre o Churro e o Cacheu, 30 km de mato quase impraticável e o calor era uma fornalha. Regressa-se a Cacheu e a partir por terra castigavam-se os povos que mais incomodavam a praça.

O governador deixou um detalhado relatório, informa o governo em Lisboa dos resultados desta nova expedição, as tabancas arrasadas em torno de Cacheu. O governador viajará a Cacheu para receber a submissão do gentio e impor as suas condições para o perdão, estas foram aceites. Para que houvesse ocupação efetiva, era indispensável a nomeação de um corpo de tropa aguerrida, ou um esquadrão de dragões. O ministro irá arguir à constituição de um esquadrão de dragões indígenas da Guiné, pede que se proceda à reorganização militar, e o esquadrão fica com a sua sede em Farim. Lapa Valente é o governador interino, vê-se confrontado com a decadência progressiva do pequeno comércio nas margens dos rios e no interior. Interessante observação dele sobre o comércio da Guiné, constituiria “um sindicato entregue a três ou quatro companhias estrangeiras, pouco escrupulosas, que num futuro muito próxima explorarão sem consciência europeus e indígenas”. E, mais adiante, referindo-se ao pequeno comércio no interior diz que é “constituído por nacionais clientes dessas companhias, e que se limitavam a casas de venda a grosso e retalho em Bolama e Bissau, os portos servidos pela navegação de longo curso.” Internando-se pelos rios, ali faziam o seu abastecimento, promovendo com o indígena “trocas em dinheiro e em produtos do país (mancarra, cola, borracha, bandas, gado, coros, cera, etc.), que entregues a essas casas, eram depois por elas lançadas nos mercados europeus.” É, pois, manifestamente favorável ao estabelecimento de companhias estrangeiras no interior dos rios.

Decorrem, entretanto, a delimitação de fronteiras, acarretando confrontos com o gentio; tratava-se da delimitação da fronteira norte pela missão conjunta luso-francesa, com o levantamento dos rios Cacheu e Casamansa, para se determinar a linha de separação. Encontrou-se bastante hostilidade. Em 15 de dezembro de 1904 é nomeado novo governador, o capitão Carlos d’Almeida Pessanha, virá tomar posse em 2 de fevereiro de 1905.

Armando Tavares da Silva
Lapa Valente nomeado governador interino na ausência de Carlos d’Almeida Pessanha, 1905
Nomeação de João Augusto d’Oliveira Muzanty como governador da Guiné, 1906
Um prisioneiro. Oferta de Maria Alice Caldeira, viúva do Coronel de Artilharia/Comando Octávio Barbosa Henriques (1938-2007), de um conjunto de materiais do seu espólio. No arquivo da EPHEMERA, encontra-se um número significativo de fotografias da guerra colonial, em particular da sua estadia na Guiné entre 1968-1972, aquartelado no Sul da Guiné junto da fronteira com a Guiné-Conacri.

(continua)
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Notas do editor

Vd. post de 22 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26181: Notas de leitura (1747): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (3) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 25 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26191: Notas de leitura (1749): A Guiné Que Conhecemos: as histórias sobre unidades do BCAV 2867 (1) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26181: Notas de leitura (1747): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Outubro de 2024:

Queridos amigos,
Declaro que ando de candeias às avessas com o Boletim Oficial da Província da Guiné, todo recheado de nomeações partidas, louvores, muitos relatórios de saúde pública, movimento marítimo, etc. etc., nem dá para ler nas entrelinhas se a agricultura progride, o que melhorou na vida administrativa, o que tem sido a ocupação do território e a chamada pacificação. Por isso me voltei para nova leitura do livro de Armando Tavares da SIlva, ele andou no Arquivo Histórico Ultramarino e fez um levantamento indispensável à documentação oficial. É que por detrás da pasmaceira do Boletim Oficial estavam a acontecer coisas nos Bijagós, em toda a região do Geba, na Costa de Baixo, na região dos Felupes. O governador Herculano da Cunha não quis fazer ondas e tanto quanto parece não tinha dinheiro para organizar expedições. O que aqui se escreve é que Judice Biker, que irá governar a Guiné até 1903, é imparável, move-se nas zonas de conflito, e até ficamos com a ilusão de que já não há insubmissões nos Bijagós, nem no Oio, nem em Cacheu. Vamos agora à atuação do novo governador, Soveral Martins.

Um abraço do
Mário



O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (3)

Mário Beja Santos

O governador Herculano da Cunha parte para Lisboa e a 13 de julho de 1900 o novo governador é o 1.º Tenente da Armada Joaquim Pedro Vieira Judice Biker. Herculano da Cunha tudo fizera para evitar expedições. Biker mostra logo claramente que vem empreender operações militares de pacificação. Em Canhabaque, arquipélago dos Bijagós, assaltavam-se lanchas, um dos dois régulos da ilha era condescendente com tais hostilidades. Biker chama o capitão de 2.ª linha Adolfo Eduardo da Silva e encarrega-o de ir à ilha entender-se com o chefe dos atacantes, exigindo-lhe que entregasse o que havia roubado, o régulo recusou e o governador decide fazer um ataque à ilha, mas só passada a época das chuvas. A 27 de outubro larga a expedição, bombardeia-se a povoação, a 29 desembarcam os Grumetes, incendeiam-se povoações, novo bombardeamento e incêndio no dia seguinte. O régulo rebelde pediu perdão.

Biker foi também confrontado com o problema da dispersão da ocupação militar, escreve ao ministro: “Nos postos onde o gentio está perfeitamente submisso, como acontece no Forreá, os soldados exerciam toda a qualidade de violências sobre o gentio, impondo multas, roubando mulheres, etc. Nos postos, como Safim, onde o gentio ainda não está tão submisso, exerciam represálias sobre os soldados, roubando-lhes armas e correame. Com este sistema de ocupações, conseguíamos ter perto de 70 cabos e soldados disseminados pelo interior da província com grande prejuízo para a disciplina militar, o que era péssimo, e uma fonte de conflitos com o gentio que graves dissabores nos podiam acarretar, o que ainda era pior.”

E havia questões em Geba que requeriam a atenção do novo governador. O influente Mamadi Paté morreu no final do ano, o comandante de Geba imaginou que os seus sucessores se apresentavam como régulos independentes, o que não era verdade, o governador substituiu o comandante e viaja até Geba, é cumprimentado por todos os régulos, aconselha os sucessores de Mamadi Paté a serem obedientes ao Governo, vai até ao Xime onde é eleito o novo régulo. E volta-se para a questão do Oio. Houvera uma desastrada incursão em 1897, a gente do Oio continuava a obrigar os negociantes que ali iam a pagar-lhes um imposto, agiam à revelia da soberania portuguesa. Biker envia o chefe dos Grumetes de Bissau ao Oio para ver se conseguia que eles viessem pedir perdão ao Governo, não é acatado. Mudando de direção, Biker faz uma expedição ao Jufunco, faz-se muito fogo, o povo local rende-se. Biker vem até Lisboa e aqui passa uma boa temporada, no regresso à Guiné dá prioridade à questão do Oio, o povo local recusava pagar multa, foi decidido organizar uma coluna para os castigar. Armando Tavares da Silva descreve minuciosamente o ataque ao Oio, tomam-se tabancas, incendeia-se tabancas. A fidelidade à soberania portuguesa parecia restaurada, começam a ser cobrados impostos, chega mais dinheiro aos cofres.

A expedição que se segue tem a ver com o Arame, povoação de Cacheu, o objetivo é castigar revoltosos, tudo vai correr bem à expedição decretada por Biker. Em abril de 1903, é nomeado novo governador, Alfredo Cardoso de Soveral Martins, ele chega a um território que ainda não tem a pacificação completa e onde se tornou um imperativo encontrar novas soluções de organização militar. Falaremos a seguir deste período de 1903-1905.

Armando Tavares da Silva
Quando se consulta o Boletim Official, vale a pena ter em atenção as disposições gerais sobre a política colonial, achei bastante interessante o que menciona em 9 de novembro de 1903, do régio paço: “Tendo chegado ao conhecimento de Sua Majestade El-Rei, que nas províncias ultramarinas está sendo frequente os funcionários públicos envolverem-se e interessarem-se em especulações comerciais, a despeito das disposições legais não derrogadas, que expressamente lho proíbem, manda o mesmo Augusto Senhor, pela Secretaria d’Estado dos negócios da Marinha e Ultramar, suscitar a fiel e exata observância do disposto na régia portaria de 8 de janeiro de 1863.”
Na transição do século, o Boletim Official formalizou-se, predomina a rotina administrativa, é raro abrir espaço para que o leitor entenda a evolução sociopolítica e militar na Guiné. Excecionalmente, temos direito a saber que as autoridades de Bolama reagem a sublevações ou práticas de insubmissão. Num daqueles relatórios habituais que mensalmente Cacheu publicava faz-se menção a uma ocorrência extraordinária, a chamada guerra do Churo, e escreve-se: “Em três saíram com destino ao porto de Churo Uenque as lanchas canhoneiras Cacheu e Farim, rebocando as lanchas que conduziam os auxiliares, para a guerra do Churo, e a canhoneira Cacongo conduzindo as forças de marinha, de infantaria e artilharia que faziam parte da coluna de operações destinada a castigar o gentio rebelde do Churo. Na mesma canhoneira seguiu Sua Excelência o Governadora.” Terá havido êxito, a guerra continuou até se queimarem várias povoações, caso de Cacanda. A 11, o Governador voltou para Bolama.
Jogo do Uri, imagem recolhida em Casa Comum/Fundação Mário Soares

(continua)
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Notas do editor

Post anterior de 15 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26158: Notas de leitura (1744): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (2) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 22 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26180: Notas de leitura (1746): "A pesca à baleia na ilha de Santa Maria e Açores", do nosso camarada e amigo Arsénio Puim: "rendido e comovido" (Luís Graça) - Parte I

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26158: Notas de leitura (1744): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Outubro de 2024:

Queridos amigos,
Confrontado com esta nova linguagem do Boletim Oficial da Província da Guiné que passou a ser omisso quanto à história política, económica e social, reduzindo-se à rotina burocrática, vi toda a vantagem em revisitar o acervo monumental organizado por Armando Tavares da Silva na sua gigantesca obra A Presença Portuguesa na Guiné, 1878-1926. No texto de hoje, são referidos os dois primeiros governadores, Agostinho Coelho e Pedro Ignacio de Gouveia, tiveram que apagar incêndios, sobretudo à volta de Geba e na região do Forreá, são notórios os lugares onde ainda não há presença portuguesa, as hostilidades sucedem-se, exigindo expedições, punições, perdões e tratados de paz, muitas destas iniciativas são pura fantasia, os insubmissos voltarão à carga. A França tudo vai fazendo tudo o que pode para pôr os Fulas revoltosos, aquela região sul ainda é para ela um grande atrativo, para juntar ao Futa-Djalon. Aqui fica o registo de duas governações dificílimas, há pouquíssimo dinheiro, os meios navais são frágeis e até há revoltas no Batalhão de Caçadores nº1, com os oficiais punidos.

Um abraço do
Mário



O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (2)

Mário Beja Santos

Estamos agora no Governo de Agostinho Coelho, ele é o 1.º Governador da Guiné como província independente de Cabo Verde, desembarca em Bolama a 20 de abril de 1879. Começa por mexer no dispositivo militar, constituiu o Conselho do Governo, a província da Guiné é dividida em quatro concelhos: Bolama, Bissau, Cacheu e Bolola, Bissau compreende a vila de S. José e o presídio de Geba, Cacheu inclui, além da praça deste nome, os presídios de Farim e Ziguinchor e as povoações de Mata, Bolor enquanto Bolola inclui Sta. Cruz de Buba e todos os mais pontos que venham a ocupar-se no Rio Grande, era esta a divisão administrativa da Guiné autónoma. É claro que havia porções do território ainda não ocupadas, outros com presença duvidosa, e esta situação irá perdurar por algumas dezenas de anos. A divisão administrativa levantou críticas e o Governador seguinte, Pedro Ignacio de Gouveia, fará alterações.

Melhorou o equipamento naval, havia a canhoneira Rio Lima, vai chegar o vapor Guiné, o Rio Lima regressará a Cabo Verde. O coronel Agostinho Coelho tinha à sua espera problemas que requeriam inadiável solução, era indispensável garantir um quadro de normalidade em Buba, os Futa-Fulas impunham tributos aos negociantes. O Governador procurou fazer tratados com régulos, havia pretensões territoriais francesas no sul, o Governador deixou um documento esclarecedor sobre a situação existente no Rio Grande:
“É uma das zonas mais produtivas da província; as suas margens são povoadas até muito para o interior por tribos laboriosas e agrícolas e convém a todo o custo dar-lhe segurança e proteção. Há nas margens deste rio 53 feitorias portuguesas e francesas, onde vão muitos navios à carga; porém, estes agricultores, têm vivido até hoje expostos aos vexames dos Futas, os quais, em diversas épocas do ano, percorriam os vários estabelecimentos e exigiam, mesmo à mão armada, o tributo a que eles chamam dacha. Cobravam a título de senhores do território um imposto de proximamente 12 mil pesos, e os cofres da província nada lucravam. Como medida de transição, determinei que a importância da dacha fosse paga pelos negociantes por uma comissão composta da autoridade militar de Buba e de três negociantes, competindo a esta comissão reunir, em determinado dia do ano, os principais chefes Fulas e Futas, a quem distribuiria com o simples caráter de presentes, alguns donativos em panos, armas, e bijutarias, uma parte do produto do imposto, entrando na Fazenda o resto, quando o houvesse.” E mais adiante dirá que houve resistência dos negociantes franceses que tentaram atrair os chefes indígenas para ações de descontentamento.

O Governador empregou esforços para a ocupação do Rio Grande, assinou em Buba o tratado de paz com os régulos de Biafadas e com o chefe principal do Forreá. O Governador informa Lisboa que com este tratado terminava uma guerra encarniçada entre etnias. Mas havia continuidade de problemas em Geba, encontravam-se em guerra Fulas-Pretos e Mandigas. Atenda-se a um parágrafo de um documento que Agostinho Coelho mandara ao Governo: “Geba era antigamente o principal centro de resgate do ouro e do marfim na Guiné; hoje do primeiro aparece muito escassa quantidade e do segundo nem a mínima partícula. Dirigi-me a Geba, e foi aí tal o espanto produzido pela aparição de um navio a vapor que muito do interior vieram inúmeras pessoas verificar tão assombroso facto. Esta romaria de visita ao Guiné durou nos 3 dias em que nos conservámos em Geba. Os Fulas-Pretos e Mandigas andavam em guerra, Agostinho Coelho reforçou a defesa de Geba. Dá-se a sublevação do Batalhão de Caçadores n.º 1. O capitão e o ajudante suscitavam comentários injuriosos acerca dos actos de Governo da província. Agostinho Coelho aplicou-lhes dois meses de prisão, houve tentativas de levantamento, o Governador respondeu mandando levantar autos do corpo de delito".

Tavares da Silva destaca a dimensão daquela Guiné com o propósito de degredados, estes, por sua vez, eram sujeitos a um tratamento vexatório, o Governador tomou providências para aquilo que hoje se designa reinserção social. Foram efetuados tratados, houve esforço para a pacificação do Forreá, que culminou com o tratado de paz com os régulos do Forreá e do Futa-Djalon. Mas a questão nevrálgica dava pela delimitação da Guiné, havia a presença estrangeira, particularmente a francesa, fazia-se uma enorme pressão para a ocupação de pontos onde a administração portuguesa não se encontrava estabelecida. O Governador pede a Lisboa recursos financeiros; se havia problemas no sul, surgiram novos problemas fronteiriços envolvendo o Senegal. O que se passava no sul era preocupante, o próprio governante comunica que naquele sul era débil o movimento comercial, muita gente a viver em condições miseráveis, o que inaceitável.

Assim se passaram dois anos é nomeado novo Governador, o 1.º Tenente da Armada Pedro Ignacio de Gouveia, toma posse do cargo em dezembro de 1881, após três semanas de permanência no território, manda uma exposição ao Governo, constata que os povos da região estão longe da civilização, fala sobre o cultivo da mancarra, o principal produto agrícola de exportação, manifesta dúvidas que em pouco tempo se faça a substituição desta cultura de um produto pobre como é a mancarra pela cana sacarina, algodão ou café e cacau. Manifestando a sua preocupação sobre as produções agrícolas da província, escreve:
“A árvore que dá borracha e que aqui é abundante também sofre umas incisões primitivas: se na América ainda não compreendem bem a maneira de obter-lhe o líquido sem prejuízo temporário da árvore, aqui o definhamento é quase completo e o produto que sai é perfeito.” Falando do elemento militar ao Governo, é profundamente crítico: “As autoridades subalternas não são sempre aquelas que coadjuvam melhor o magistrado superior da província: o elemento militar tem o seu lado bom e o seu lado mau. Quando o militar não é ilustrado, e que saiu unicamente da fileira, sem noções razoáveis de administração civil, colocado à frente do concelho, vê nos indivíduos que o rodeiam soldados ou, quanto muito, sargentos. Se este indivíduo, entregue aos próprios recursos naturais, e uns hábitos de vida que destoam completamente da sua educação militar, não é vigário a mando, principia a destemperar e, por fim, desproposita, estabelecendo completamente a desarmonia social.” Pede meios de transportes, recorda a dificuldade em obter o combustível apropriados para os navios a favor.

Ignacio de Gouveia lança uma nova expedição contra os Biafadas de Jabadá, a exposição acontece em janeiro de 1882, está ciente de que deu uma lição aos rebeldes, é feita a paz com o régulo de Jabadá, fará outros tratados de paz, é confrontado com novos atritos com os Fula-Forros de Bakar Quidali. Muitos anos mais tarde, no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, Fausto Duarte louva o documento enviado por Pedro Ignacio de Gouveia a Lisboa, dizendo a seu favor: “Espírito lúcido, observador arguto e com uma cultura digna de apreço […] Não faz literatura, nem procura servir-se de artifícios de linguagem para esconder ou mesmo diminuir certas deficiências da administração local. Num período incerto para a vida da província que adquirira a tão almejada autonomia política, mas se via a braços com toda a sorte de dificuldades, era preciso expor ao Governo de Sua Majestade em toda a sua crueza variadíssimas contrariedades que mantinham dentro de certos limites a ação do Governador.”

Mas ainda iremos falar adiante deste Governador, haverá acusações de alegada escravatura, novas desavenças em Geba e Buba, o alferes Marques Geraldes entra em cena, haverá perda do vapor Guiné, operações em Nhacra, a criação de escolas em Bissau e Bolama, dar-se-ão passos na organização administrativa e na ocupação do território.
1902, o Boletim Oficial passa por uma fase burocrática, não há conflitos, não há tensões políticas, é só rotina administrativa
Notícia da chegada de novo governador, em novembro de 1902, o 1º tenente da Armada Judice Biker
Pedro Ignacio de Gouveia
Imagem do que foi o último Palácio do Governador em Bolama

(continua)
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Notas do editor

Vd. post anterior de 8 de novembro de 2024 > 8 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26128: Notas de leitura (1742): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (1) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 11 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26141: Notas de leitura (1743): À descoberta do passado de África, por Basil Davidson (2) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26128: Notas de leitura (1742): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Outubro de 2024:

Queridos amigos,
Não escondo o pasmo e admiração do conteúdo dos anos mais recentes do Boletim Oficial da Província da Guiné, tornou-se numa enfadonha rotina administrativa: nomeações, exonerações, movimento marítimo, questões orçamentais, boletins do estado sanitário das principais povoações, questões alfandegárias, etc., etc. Até parece que a província vive num estado de serenidade absoluta, não há rebeliões, nem necessidade de tratados de paz, não há conflitos com a demarcação das fronteiras, até parece que acabou a guerra do Forreá. Vi-me, pois, na contingência de procurar material que desse contraponto ao que vem no Boletim Oficial. Ora, temos um documento de peso, o vasto e importante acervo documental é que procedeu Armando Tavares da Silva em A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar 1878-1926, Caminhos Romanos, 2016, obra indispensável para quem pretende estudar este período. Ele abre o seu trabalho com os estabelecimentos portugueses do distrito da Guiné em 1888, por conflitos em Bolor e em Geba, e depois de diferentes peripécias chegamos à transformação da Guiné em província independente de Cabo Verde, estava-se em 1879.

Um abraço do
Mário



O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (1)

Mário Beja Santos


Em 2016, era publicado "A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar 1878-1926", por Armando Tavares da Silva, Caminhos Romanos. É, indiscutivelmente, um acervo documental de peso, uma investigação minuciosa com a justificada chamada de atenção para acontecimentos relevantes de uma Guiné que deixava de ter categoria de distrito na dependência de Cabo Verde e passava a ser província autónoma.

Apropriadamente, o autor chama a atenção para o apelo feito pelo ministro da Marinha e Ultramar para que os governadores habilitassem o Governo com elementos suficientes para poder nessas províncias fomentar a implantação e desenvolvimento de diferentes ramos da indústria, a que melhor se prestem as condições especiais de cada uma delas. E 18 de fevereiro a 21 de março de 1878, o Governador-Geral de Cabo Verde visita os estabelecimentos portugueses na Senegâmbia. Em abril dá conta da visita: há possibilidades de desenvolvimento do território, Bolama tem uma excelente posição geográfica (estava então indicada para capital de distrito) e fez notar que os antigos estabelecimentos em Geba, Farim e Ziguinchor, Cacheu e Bissau se encontravam em notável decadência. Previa para Buba um próspero futuro. O Governador conta a Lisboa que se encontrou com os principais chefes das tribos, ele notou disposição amigável destes chefes com os portugueses. Face a este ofício, o ministro da Marinha faz publicar uma portaria em que determina ao Governador-Geral de Cabo Verde que fossem elaborados plantas e orçamentos dos edifícios a construir em Bolama. Havia uma grande insatisfação quanto à atenção prestada aos poderes públicos do distrito da Guiné. Ainda o Governo não tinha tomado medidas efetivas quando a situação muda totalmente devido ao chamado “desastre de Bolor”.

Havia neste ponto do Norte da Guiné um grave conflito interétnico, fora arrasada Bolor, o Governador Cabral Vieira fez juntar uma força para punir os conflituosos, dá-se um massacre que deixou as autoridades de Lisboa em sobressalto, vão barcos de homens armados para intimar as populações e elabora-se um relatório, quem o escreve é o Secretário-Geral do Governo de Cabo Verde, Castilho Barreto. No documento afirma ter havido um procedimento inconveniente por parte do administrador do concelho de Cacheu que forneceu pólvoras e balas aos rebeldes. Havia indiscutivelmente influência estrangeira que alimentava estas insubordinações, eram sobretudo súbditos franceses, estava em curso o plano para ocupar o rio Casamansa.

O assunto vai à Câmara dos Deputados, elaborara-se um projeto para transformar a Guiné em província independente, como observa o autor a opinião dos deputados não foi unânime, mas mesmo assim houve luz verde em março. Estabelecia-se que o Governo da província teria a sua sede na ilha de Bolama, transferia-se para a Guiné o Batalhão de Caçadores n.º 1, o Governo fica autorizado a organizar uma bateria de artilharia para guarnecer as fortalezas da província da Guiné, previa-se o estabelecimento de comunicações regulares a vapor entre a Guiné e a metrópole, o que só virá a acontecer mais tarde, em 1881, foi celebrado um contrato com a Empresa nacional de navegação para o serviço de navegação por barcos de vapor entre Lisboa e os portos de África Ocidental. Vamos agora ver o Governo de Agostinho Coelho, 1.º Governador da Guiné.
Armando Tavares da Silva

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 4 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26114: Notas de leitura (1741): À descoberta do passado de África, por Basil Davidson (1) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26122: As nossas geografias emocionais (30): A "toponímia" da colónia ou a "Babel linguística": Bafatá devia ter sido grafada como "Báfata" e Gabú como "Cabo" (do mandinga "caabu")...







Governador Manuel Sarmento Rodrigues (1945-1949) 
[ foto: cortesia da Revista Militar]. 
Também era carinhosamente conhecido com o "Mamadu" Rodrigues
e havia uma tabanca conhecida como Sinchã Sarmento.  


1. "Em bom português nos entendemos" ? ... Nem ontem nem hoje...

Foi em 1948, quando era governador da Guiné (então colónia  portuguesa, parte do Império Colonial Português, e sem complexos, de natureza semântica e conceptual, e muito menos político-ideológica!),  o  capitão de fragata Sarmento Rodrigues,     que se  fez um primeiro esforço sério para grafar os topónimos (nomes geográficos) guineenses, através da Portaria nº 71, de 7 de julho de 1948...


Ainda hoje, há um pequena "Babel linguística" no nosso blogue  (e demais redes sociais), quando escrevemos alguns nomes de terras por onde passámos e que nos são familiares (dolorosamente familiares, em muitos casos)

Por exemplo, deve escrever-se:
  • Guileje e não Guilege ou Guiledje;
  • Guidaje e não Guidage;
  • Jabicunda e não Djabicunda:
  • Bajocunda e não Badjucunda (e muit0 menos Bajicunda);
  • Iracunda e náo Ira Cunda;
  • Áfia e não Afiá;
  • Piche e não Pitche;
  • Xime e não Chime;
  • Xitole e não Chitoli;
  • Contuboel e não Contubo El;
  • Pecixe e não Peciche;
  • Porto Gole e não Portogole;
  • Gandembel e não Gã Dembel;
  • Camamadu e não Cã Mamadu;
  • Copelão e não Cupelom ou Cupilão ou Pilão (para os "tugas");
  • Poindom e não Poidon ou Poidão;
  • Sinchã e não Sintchã;
  • Sare e não Saré;
  • Tombalí e não Tombali ou Tombáli;
  • Quitáfine (e não Quitafine) (palavra exdrúxula, mas o "e" final é aberto: Quitáfinè);
  • Ilha de Jeta e nãoo Jata ou Jete...
O caso de Pigiguiti então é divertido...Temos visto as mais diversas grafias: Pijiguiti, Pidjiguiti, Pidgiguiti, Pindgiguiti... 

Bambadinca também já tenho visto como Babadinca e até Bambarinca  e Bambadinga (num anúncio comercial, erro tipográfico comum na nossa imprensa da época colonial). E deve dizer-se Bambadincazinho e não Bambadincazinha... tal como de resto vem na carta de Bambainca (1955), escala de 1/50 mil.

Nalguns casos, ficaram consagradas pelo uso  grafias erradas como;
  • Bafatá (que deveria ser Báfata, como pronunciam os fulas);
  • Gabú em vez de Cabo;
  • Sinchã Jobel em vez de Sinchã Jaubel...
Gabú (do mandinga, "caabu") era o nome de uma circunscrição, Gabú-Sara era uma povoação (p. 37, da Portaria, abaixo citada) e Nova Lamego uma vila tal como Nova Sintra (p. 52).

As cartas geográficas seguiram esta orientação de "aportuguesamento" dos nomes geográficos da Guiné, de acordo com  as regras fixadas na Portaria nº 74, de 7 de julho de 1948 e a ortografia então em vigor.

No nosso blogue (que é escrito, em geral, em Português europeu...) devemos seguir esta "normalização"  dos nomes geográficos da Guiné que conhecemos..., sob pena de cairmos na babelização linguística...

A crioulização do português da Guiné.Bissau é outro problema  (complexo e delicado...) sobre o qual não nos vamos debruçar agora... Na dúvida, perguntamos ao Ciberdúvida da Língua Portuguesa...

Até 1948, as tropelias linguísticas nesta matéria (grafia dos nomes geográficos da Guiné) era confrangedora, agravada pelas frequentes gralhas tipográficas (vd. por exemplo anúncios comerciais da imprensa da época). 

Leia-se, também,  um folheto como o "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é hoje", da autoria do 2.º Sargento António dos Anjos (Bragança, Tipografia Académica, 1937, c. 97 pp.) que  publicámos no nosso blogue. Cite-se alguns nomes, mal grafados: 

  • Gábu
  • Xôroenque,
  • Sáfim, 
  • Gêba
  • Gade-Mael
  • Xôro
  • Bacerél
  •  Sozana, etc.

Armando Tavares da Silva (1933-2023)


Obrigado ao nosso saudoso amigo e grão-tabanqueiro Armando Tavares da Silva (1933-2023), especialista da história político-militar da Guiné (1878-1926) que nos fez chegar cópia desta portaria e de alguns dos seus anexos. 


2. Voltamos a reproduzir aqui a mensagem do prof Armando Tavares da Silva, com data de 3/10/2017 (*)

Luís,

Enviei por WeTransfer 14 páginas da "Primeira Relação de Nomes Geográficos da Guiné Portuguesa" elaborada em 1948 nos tempos do Governador Sarmento Rodrigues.

Por ela se pode ver que havia 2 povoações Canchungo, uma na área de S. Domingos e outra na área de Cacheu. Teixeira Pinto existia e era uma Vila.

Quanto a Portugal, havia uma povoação na área de Bolama e uma fulacunda. A do régulo Bacar Dikel deve ser esta.

Gabú era uma circunscrição e Nova Lamego uma Vila.

Quanto a Aldeia Formosa esta aparece como uma fulacunda, e Quebo outra fulacunda, aparecendo também como povoação na região de Catió (páginas não enviadas).

Curioso é ler o preâmbulo da Portaria de Sarmento Rodrigues e as normas adoptadas para a escrita dos nomes geográficos.

Sinchã foi introduzida para designar uma nova povoação fula. Entre elas notei a existência de uma Sinchã Comandante, outra Sinchâ Sarmento e (entre muitas outras) uma Sinchã Marío (com acento agudo!?).

Espero que isto anime a discussão...

Abraço, 
Armando






Excerto da Portaria nº 71, de 7 de julho de 1948 (publicada no Boletim Oficial, suplemento nº 10, de 7 de julho de 1948, Império Colonial Portuguêrs, Colónia da Guiné)
 

3. Veja-ser também o Anexo à Portaria nº 71, de 7 de julho de 1948, do Governo da Colónia da Guiné, de que publicámos, por ser muito extenso, apenas alguns excertos (pp. 7, 23, 37, 52, 57, 68, 67, 69, 72) (*).


Por essa lista (onde parece haver gralhas tipográficas da sempre rigorosa Imprensa Nacional - Casa da Moeda) se pode ver, por exemplo, que havia duas povoações Canchungo, uma na área de S. Domingos e outra na área de Cacheu (p. 23). O Canchungo, nome gentílico, de povoação,  coexistia com a nova vila, Teixeira Pinto (p. 72).

Quanto à tabanca Portugal, havia dois lugares com este nome: (i) povoação na área de Bolama; e e uma outra na região de Fulacunda, sendo nesta que morava, em 1947, o régulo Bacar Dikel (p. 57).

Gabú era uma circunscrição (e região), Gabú-Sara era uma povoação (p. 37) e Nova Lamego uma vila tal como Nova Sintra (p. 52). 

Também existia uma Nova Cuba (p. 52) (que só podia sere a Cuba do Alentejo e não a Cuba do...mar de Caribe).

Quanto a Aldeia Formosa (p. 7) esta aparece como uma povoação de Fulacunda, a par de Quebo (p. 57).

Como se lê no preâmbulo da Portaria de Sarmento Rodrigues, houve uma expressa vontade de normalização da escrita dos nomes geográficos da Guiné. Alguns nomes são novos, ou aparecem pela primeira vez: 

  • Teixeira Pinto, 
  • Nova Lamego, 
  • Aldeia Formosa, 
  • Nova Sintra, 
  • Nova Có,
  • Nova Cuba (...do Alentejo ?)...

Lembre-se, por fim, que Sinchã foi introduzida para designar uma nova povoação fula, acompanhando a "expansão" do chão fula... Entre elas (e são mais de centena e meia) notámos a a existência de uma Sinchã Comandante (p. 67) e outra Sinchã Sarmento (p. 68)... E, já agora, uma Áfia do Governador (p.7).

Por sua vez, Sare que dizer povoação fula não recente...

Também, para além de Aldeia Formosa, há mais 3 Aldeias (p. 7). 

Também havia muitas Pontas (pp. 56 e 57) (não temos a pág. 56 do Anexo):

  • desde a Ponta Brandão à Ponta Varela, 
  • de Ponta do Inglês a Ponta de Janadá, 
  • de Ponta Augusto Barros à Ponta Luís Dias.

 (Ponta era sinónimo de horta, pomar, terra agrícola, em geral junto a um curso de água ou bolanha.)

Há ainda, topónimos pouco vulgares ou pitorescos como:

  • Algodão, 
  • Acampamento,
  • Achada do Burro (p. 7),
  • Olho Grande, 
  • Olhozinho (p. 52),
  • Porcoa, 
  • Preço Leve
  • Quartel (p. 57)
  • Sinchã Fodê (p. 67)...

Pode ser que o Valdemar Queiroz ou Ramiro Jesus, que são os nossos campeões dos passatempos "Vê se és bom observador" e "As gralhas da nossa embirração"..., sejam capazes de descobrir se alguns destes topónimos, aportuguesados, sobreviveram à guerra e à independência...

No nosso blogue há, por exemplo, há várias referências a lugares começados por Sinchã... Destaque para Sinchã Jobel (ou Jaubel, mais correto) e foi uma base do PAIGC ou "barraca" no regulado de Mansomine (carta de 1/50 mil. Bambadinca).

Sinchã Abdulai (1)
Sinchã Bambe (1)
Sinchã Dumane (1)
Sinchã Jobel (16)
Sinchã Madiu (1)
Sinchã Molele (1)
Sinchã Queuto (2)
Sinchã Sambel (1)

Tirando um ou outro nome português, do nosso roteiro poético-sentimental (Nova Sintra, Nova Lamego, Nova Cuba, Aldeia Formosa, Teixeira Pinto...), o essencial dos nomes geográficos (ou topónimos) da Guiné não nos diziam nada, nem tinham que dizer, eram exóticos, pitorescos, gentílicos... mas não suscitavam curiosidade por aí além... Muito menos, emoção... nem faziam sorrir como alguns topónimos portugueses, com conotações erótico-burlescas (Coito, Pito, Picha, Rata, Rabo, Cabrão, Coina, Cu,  etc.)

Eu, que não sabia mandinga, só muito mais tarde é que vim a saber, por este bliogue,  que Bambadinca, por exemplo, queria dizer "a cova do lagarto"...

De facto, quem é que se lembraria de ir fazer umas "férias", em 1948, a Contuboel, a Gadamael a Pejungunto, ou a Buruntuma ou a Catió... ? Eram nomes completamente estranhos aos militares portugueses que foram aportando a Bissau, a partir de 1961... 

Mas muitos desses topónimos hoje fazem parte das  nossas "geografias emocionais" (**), de Madina do Boé a Guidaje, de Gadamel a Guileje, de Canquelifá a Mansoa, de Fajonquito ao Xime, de Piche a Contabane, de Buruntuma a Cumbijã, de Buba a Bambadinca, de Olossato a Farim...

quarta-feira, 7 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24375: Historiografia da presença portuguesa em África (371): As campanhas de pacificação na Guiné no livro "História do Exército Português", pelo General Ferreira Martins; Editorial Inquérito, 1945 (Mário Beja Santos)

Com a devida vénia a Cabral Moncada Leilões. Foto editada


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Setembro de 2022:

Queridos amigos,
Não se pode dizer que a narrativa do general Ferreira Martins traga algo de novo àquilo que se tem vindo aqui ilustrar sobre as campanhas de pacificação, chamemos a este texto um exercício de divulgação. Há aqui algumas falhas de peso, não se fala na bravura de Graça Falcão no Oio, pelo que de novo se recomenda a quem queira estudar este período o importante levantamento documental efetuado por Armando Tavares da Silva que tem o título "A presença portuguesa na Guiné: história política e militar, 1878-1926", Caminhos Romanos, 2016.

Um abraço do
Mário



As campanhas de pacificação na Guiné no livro História do Exército Português, pelo General Ferreira Martins

Mário Beja Santos

Trata-se de uma obra de divulgação que fez a sua época, publicada em 1945 pela Editorial Inquérito. Veremos adiante que há de facto uma poderosa intervenção do Exército no caso vertente da Guiné, mas antes do Capitão Teixeira Pinto destacaram-se briosos oficiais da Marinha. Para quem se interessa pela matéria, a partir da página 470 deste tomo ir-se-á falar da pacificação da colónia da Guiné. Vamos ao que escreve o general Ferreira Martins.

Logo no começo do século XX, sendo governador o Primeiro-Tenente da Marinha Júdice Biker, houve que reprimir revoltas em Jafunco (1901) e no Oio (1902) utilizando as poucas tropas disponíveis, mas contando com a cooperação de canhoneiras e a intervenção de auxiliares indígenas. Houve sublevação do gentio do Churo (Cacheu), reprimida pelo novo governador, Soveral Martins, também oficial da Marinha, em 1904. O autor enfatiza que estas operações não foram completadas por uma ocupação efetiva e cita o marechal Bugeaud: “Em África uma expedição não seguida de ocupação não deixa mais vestígios do que o sulco de um navio no oceano”. Governava a Guiné em 1907 o Primeiro-Tenente Oliveira Muzanty, outro oficial da Marinha, a quem se deve a ocupação da ilha Formosa (Bijagós), quando se deu a sublevação de régulo do Cuor, Infali Soncó. Embora à espera de uma expedição metropolitana, Muzanty lançou-se numa coluna de operações sobre a região revoltada do Cuor. Infali aliciara os régulos de Badora e do Xime. Muzanty foi temporariamente bem-sucedido, assaltou com sucesso a tabanca de Campampe, que estava solidamente fortificada. Por curto tempo, a margem esquerda do Geba, entre Xime e Bafatá, ficou pacificada.

No princípio de 1908, um outro destacamento constituído por praças da Marinha e outros militares europeus foi encarregado de, sob o comando do Capitão Ilídio Nazaré, efetuar a reparação das linhas telegráficas danificadas por rebeldes no Quinara, efetuou-se a reparação e castigaram-se os rebeldes. Em março, o Capitão Botelho Moniz bateu os Felupes de Varela, que se negavam ao pagamento do imposto. E a 19 desse mesmo mês chegou a tão desejada expedição metropolitana que trazia uma companhia de Infantaria 13, alguma artilharia deficiente e uma força de engenharia. Muzanty viu-se obrigado a reforçar o grupo expedicionário com uma companhia da Marinha e uma companhia mista de Infantaria (deportados europeus e atiradores indígenas). Irão bater a margem direita do Geba. O primeiro combate deu-se em Canturé, em 6 de abril, os Biafadas bateram-se bravamente, a povoação foi incendiada, a expedição seguiu para Sambel Nhantá, esta era a sede do regulado, régulo e sua comitiva fugiram, a coluna avançou para Madina que após hora e meia de combate foi tomada incendiada. Em 1 de abril, hasteava-se a bandeira portuguesa no Cuor, neste regulado, em Caranquecunda ficou uma companhia de Infantaria macua, dispondo de armamento velho.

Muzanty foi depois defrontar-se com os papéis que em 1894 o Governador Vasconcelos e Sá não conseguiu dominar. Depois de bombardeadas pela artilharia da fortaleza de Bissau, as povoações de Intim, Bandim e Antula, marchou uma desfalcada coluna sobre Intim, onde foi violentamente atacada mas a povoação foi ocupada e destruída. Prosseguiu a operação para Contume, celeiro natural da ilha, deu-se aqui um violento combate que custou a vida ao alferes Jaime Duque. Os Papéis não desarmaram e atacaram a coluna, a resposta foi enérgica, dentro de um quadrado que Papéis e Balantas não conseguiam desarticular, e os rebeldes acabaram por fugir. Com este violente combate de Intim terminou na Guiné a campanha de 1908.

O autor fala agora das operações de 1909, cita um livro do antigo governador Carvalho Viegas, donde extrai a seguinte observação: “Foi o Balanta, talvez o indígena que maior resistência opôs à expansão do propósito colonizador, enfrentado com decisão e valentia as colunas enviadas a recontros em que as armas de fogo não puderam contê-lo à distância.”

Foi este o inimigo com que se defrontaram os portugueses em 1909 quando na região de Gole (Porto Gole) gente sublevada atacou na manhã de 21 de fevereiro o posto militar, a guarnição conseguiu repelir o atacante. Havendo indícios de que em breve voltariam os Balantas a atacar o fortim com mais numerosos elementos, mandou o governador Muzanty reforçar a guarnição com tropas de infantaria e artilharia. E pela primeira vez é referida a presença de Abdul Indjai, ele é o régulo do Cuor. Sucediam-se os ataques dos sublevados, sem êxitos.

Estamos agora em 1912, não se pode ainda falar na ocupação definitiva da Guiné, as rebeliões sucedem-se. Em 1912, o Governador Carlos Pereira, também ele oficial de Marinha, organizou uma coluna de operações para castigar revoltosos, dirigiram-se primeiramente a Binar, foram depois a Cacheu, foram sucessivamente punindo rebeldes. É neste contexto que aparece na Guiné o Capitão João Teixeira Pinto. Começa por castigar rebeldes do Oio, leva consigo Abdul Indjai, conta com a colaboração de duas lanchas e de um grupo armado pela administração de Geba. Em 1913, Teixeira Pinto, quase só com irregulares de Abdul Indjai e de outro oficial de segunda linha, Mamadu Sissé, foi a Cacheu e bateu o gentio de Churo. As sublevações acalmaram mas não desapareceram. Em fevereiro de 1914, os balantas de Braia trucidaram o Alferes Manuel Pedro e o seu pelotão de cavalaria, houve chacina, coube ao Capitão Teixeira Pinto vingar os desditosos camaradas trucidados. Coube a Teixeira Pinto responder, obteve a pacificação de toda a região Balanta entre Mansoa e Geba.

Graças ao seu crescente prestígio, o governo aproveitou para em 1915 submeter definitivamente os Papéis e Grumetes de Bissau, a sua rebeldia era permanente. Teixeira Pinto pôs-se à frente de uma numerosa coluna, contava com os irregulares de Abdul Indjai, travou com os rebeldes renhidos combates de Intim e Bandim, cujas posições foram tomadas depois de um bombardeamento. Teixeira Pinto atacou ainda outras povoações, lutando sempre com a inaudita resistência dos rebeldes. Teixeira Pinto é preferido em Safim, recolhe-se a Bissau, mas a coluna, sob o comando do Tenente Sousa Guerra, continua o avanço e tomou de assalto outras posições. Depois de dois meses de operações em que as forças de Teixeira Pinto tinham sofrido 47 mortos e 202 feridos, tomaram-se de assalto outras posições rebeldes e a ilha de Bissau foi considerada como submetida. O autor fala da ilha de Canhabaque, houve operações em 1917, comandadas pelo Major Ivo Ferreira (Governador da Guiné entre 1917 e 1919), tais operações demoraram oito meses, mas os atos de rebeldia continuaram. Em 1925, o novo Governador, Vellez Caroço, viu-se forçado a realizar novas operações na ilha, apreendeu armas e munições, parecia que o castigo tinha sido duro, pura ilusão, as operações foram retomadas em 1935-1936, são consideradas como o termo das operações de pacificação, daí o monumento em Canhabaque, evocativo que era tido como o fim das rebeliões. O General Ferreira Martins concluiu assim as suas referências às campanhas de pacificação.


General Luís Augusto Ferreira Martins (1875-1967)
Joaquim Pedro Vieira Júdice Biker (1867-1926)
Alfredo Cardoso de Soveral Martins (1869-1938)
Imagem da guerra do Cuor, fotografia de José Henriques de Mello, 1908
No Xime, no decurso da guerra do Cuor, fotografia de José Henriques de Mello, 1908
Estátua do Capitão João de Teixeira Pinto
Monumento aos heróis da pacificação de Canhabaque, imagem retirada do livro “Bijagós Património Arquitetónico”, fotografia de Francisco Nogueira, Edições Tinta-de-China, 2016, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 31 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24357: Historiografia da presença portuguesa em África (370): Da CUF à Casa Gouveia, da Casa Gouveia à CUF: Uma viagem interminável (3) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24071: In Memoriam (468): Historiador Armando Tavares da Silva (5/5/1939 - 1/2/2023), Professor Catedrático Aposentado da Universidade de Coimbra (Mário Beja Santos)

IN MEMORIAM

Armando Tavares da Silva (5/5/1939 - 1/2/2023)

Mário Beja Santos

Conheci Armando Tavares da Silva quando um dia, inopinadamente (sem prévio aviso) me abriu a porta do meu gabinete de trabalho, onde eu fazia voluntariado, na Praça Duque de Saldanha, estávamos em 2016, vinha ajoujado de um cartapácio, apresentou-se, fiquei a saber que era professor catedrático reformado, presidente da secção Luís de Camões da Sociedade de Geografia de Lisboa, que andara aturadamente no Arquivo Histórico Ultramarino, fora desperto pelos assuntos guineenses graças a um avô marinheiro que andara na guerra do Churo, em 1904, trouxera muitas memórias, decidiu-se por aprofundar, documento puxa documento e escreveu uma obra de referência “A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar, 1878-1926”, obra recheada de imagens e cartografia, viria este tão prodigioso esforço a ser premiado pela Gulbenkian.

São centenas e centenas de páginas que começam na transformação da Guiné em província independente de Cabo Verde, meticulosamente vão sendo reveladas as atividades dos primeiros governadores, é o caso da guerra do Forreá, os incidentes do Casamansa, a delimitação de fronteiras (depois da convenção luso-francesa de maio de 1886), as intermináveis rebeliões, a indisciplina dos Papéis de Bissau, as tentativas de pacificação, com destaque para a governação de Oliveira Muzanty, as campanhas de Teixeira Pinto e o processo de Abdul Indjai, a governação de Vellez Caroço, o drama de heróis insurretos como Graça Falcão, a monopolização do comércio pela Casa Gouveia.

Não me cansei de louvar este levantamento monumental, uma singularidade na historiografia da Guiné colonial, tivemos a nossa querela a propósito das suas considerações finais quanto a legadas divisões em permanência entre militares e comerciantes, e mantive como mantenho sérias dúvidas quanto a todas as benevolências que ele atribui à campanha de Teixeira Pinto em Bissau, conducente à chamada pacificação definitiva de 1915. São arrufos entre estudiosos, mal ficaríamos se não houvesse divergências quanto ao olhar da sociedade e da política num certo período em análise.

A Guiné perde um investigador histórico de gabarito, foi colaborador do nosso blogue, deixou obra em várias instituições como a Sociedade de Geografia de Lisboa, o Instituto Português de Heráldica e a Sociedade Histórica da Independência de Portugal.

Curvo-me respeitosamente pela sua memória, pela companhia que nos trouxe e pelo acervo admirável que deixou sobre um importante período da nossa presença na Guiné.


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- Os editores e a tertúlia do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, lamentam a morte do insigne Historiador, Professor Armando Tavares da Silva, nosso confrade, endereçando aos seus familiares as mais sentidas condolências.

O Prof Armando Tavares da Silva deixa uma prestimosa colaboração neste Blogue, onde tem 52 referências, dando-nos a conhecer, no seu último livro publicado, a história política e militar da presença portuguesa na Guiné no período compreendido entre 1878-1926.

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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24022: In Memoriam (467): Francisco Justino Silva (1948-2023), médico, ortopedista, ex-alf mil, CART 3492 / BART 3873, Xitole, e Pel Caç Nat 51, Jumbembem (1971/73) cerimónias fúnebres, hoje, em Porto Salvo, na igreja local, com velório a partir das 16h00; missa de corpo presente às 14h00 de 3.ª feira, seguindo o funeral para o cemitério de Carnaxide