Pesquisar neste blogue

Mostrar mensagens com a etiqueta Bissau.Nova Sintra. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Bissau.Nova Sintra. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27001: Memórias da tropa e da guerra (Joaquim Caldeira, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, Tite e Fulacunda, 1968/69) (4): A carta de condução, tirada na Escola de Condução Angélica da Conceição Racha


Crachá da CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834 , "Brutos" (Tite e Fulacunda, 1968/69),
grão-tabanqueiro nº 905, ex-fur mil at inf CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834 (Tite e Fulacunda, 1968/69) (*)


Joaquim Caldeira, ex-fir mil at inf,  CCACÇ 2314, "Brutos", TIte e Fulacunda, 19689/609; nosso grão-tabanqueiro nº 905, ex-fur mil at inf CCAÇ 2314 

Fotos (e legendas: ©  Joaquim Caldeira (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


A CARTA DE CONDUÇÃO

por Joaquim Caldeira (*)


Decorria o verão de 1969 e a situação política não alterara em nada a situação militar.

Era muito difícil sair dos buracos que nos estavam reservados. Só com uma forte justificação tal era consentido.

Mas forte justificação tinha eu quando solicitei autorização para me deslocar a Bissau a fim de fazer exame de condução, o qual tinha sido requerido havia mais de seis meses.

Deferido. Só faltava transporte para a cidade e marcar a data do exame, depois de ter alugado viaturas para tal.

E lá fui, desta vez não me lembro de que meio de transporte nem como decorreu. Sei que marquei o exame para o dia seguinte –
tinha prioridade por ser bicho de mato – e só faltava alugar a viatura. 

Desloquei-me à Escola de Condução Angélica da Conceição Racha (**), onde era instrutor um antigo soldado condutor que passara por Fulacunda e com quem eu fizera amizade.

Aluguei um camião com atrelado e uma mota para o exame das duas modalidades.
À hora marcada, o Paulo, o tal condutor, estava com as viaturas preparadas eis que chega o alferes examinador.

Comecei pelo código, a que respondi muito satisfatoriamente, depois das lições que o Durão me deu e que complementei com uma leitura rápida do livro e, passado nesta fase, passei à prática, obtida sem consentimento do Fernando Almeida.

– Um apito é para fazer dois oitos para a esquerda. Dois apitos são para fazer dois oitos para a direita. Três apitos são para regressar a este local e acabar o exame. 
Depois, passamos ao exame do camião   disse o alferes.

E lá vou eu, fazendo tudo muito certinho, regressando ao local de partida aos três apitos. Aí, quis brilhar. Lembrei-me de passar uma rasteira ao alferes e, quando quis travar para parar, a mota não parou. Entrou pela escola dentro.

– Azar, nosso furriel. Depois de uma prova tão boa não o posso passar. Deu muito nas vistas.

Fiquei vacinado e nunca mais pensei na mota. Fiquei-me pela carta de tractor com reboque.

Era assim. Agora, um pouco diferente. Vejam como circular nas rotundas.

Joaquim Caldeira


(**) Segundo a Wikipedia, citando a agência Lusa, em 2013 seria a escola de condução mais antiga da Guiné-Bissau.

Adaptou-se aos novos tempos, e depois independência da ex-colónia portuguesa, passou a denominar-se também por Escola de Condução 3 de Agosto. 

Dá ainda aulas em viaturas da época colonial. O parque automóvel é constituído essencialmente por viaturas bastante antigas

A escola já pertenceu a um português, migrado na ex-colónica portuguesa, de seu nome Telesfório Américo Racha. Tendo mais tarde pertencido a Augusto Soares, entretanto falecido. Actualmente o proprietário é João Augusto Soares, de 59 anos, irmão do anterior dono e conhecido em Bissau como “mestre Joãozinho”.