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segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27461 A nossa guerra em números (46): de 1958 a 1974, em 25 cursos (CEORN / CFORN), foram incorporados 1712 cadetes da Reserva Naval, 3/4 dos quais entre 1967 e 1974; cerca de mil oficiais RN foram mobilizados para o ultramar - Parte III


Almada >  Perímetro Militar do Alfeite > Escola Naval >   21º CFORN (1972) > Juramento de bandeira dos 93 cadetes incorporados. Foto do blogue Reserva Naval,do Manuel Lema Santos (com a devida vénia...)



Manuel Lema Santos (1942-2025).
Foto: Manuel Resende

1. Não conheço melhor elogio da Reserva Naval do que o que foi feito pelo nosso amigo e camaraada Manuel Lema Santos (1942-2025), 1º ten RN (1965-72), e que serviu na Guiné como imediato da LFG Orion (1966-68), com o  posto de 2º ten RN.(*)

1.1. Eis, entretanto, alguns números coligidos por ele com referência à Reserva Naval:

  • dos 1712 oficiais RN formados em 25 cursos (1958-1974), 71 ingressaram no QP dos Oficiais da Armada (4,1%);
  • desses 71,  56 ingressaram na classe de Fuzileiros (78.9%);
  • tomando como referência os 16º e 17º CFORN, de 1970, frequentado por 166 cadetes,  57% foi mobilizado para o ultramar;
  • em 63 Destacamentos de Fuzileiros Especiais (DFE) distribuídos pelos TO de Angola, Guiné e Moçambique, da totalidade de 139 oficiais neles integrados, 82 eram Oficiais RN (56%);
  • e, mesmo dos 57 dos Quadros Permanentes que comandaram os DFE, mais de uma dezena tinham desempenhado missões anteriores como oficiais da Reserva Naval e vieram a optar pelo ingresso no QP;
  • com referência só às Companhias de Fuzileiros: das 45 Unidades que nos mesmos teatros operacionais estacionaram, considerando incluídos os Pelotões Independentes e de Reforço (também em Cabo Verde), 217 dos 328 Oficiais (66%) que integraram o Comando das Companhias pertenciam à Reserva Naval; 
  • e entre estes últimos, 11 pertenciam à Classe de Médicos Navais e alguns Comandantes daquelas unidades eram igualmente oriundos da Reserva Naval;
  • ainda numa outra perspectiva, em finais daquele ano de 1974, do total de Oficiais que prestavam serviço na Armada, 24% pertenciam à Reserva Naval e, considerando apenas os Oficiais subalternos, essa percentagem aumentava para 40%;
  • morreram 6 oficiais RN durante a sua prestação de serviço, dos quais 4 fuzileiros; 3 por doença, 2 por acidente de viação e 1 em combate (em Angola, em 2 de junho de 1973; subtenente FZ  RN António Bernardino Apolónio Piteira , do 18º CFORN, 1971); 
  • 6 outros oficias RN (dos quais 5 fuzileiros) foran licenciados por invalidesz, resultante de ações em campanha: 1 em Angola e 5 na Guiné.

1.2. Excertos do Blogue Reserva Naval  > 1 de fevereiro de 2023 >   Reserva Naval 1958-1992
 

(...) A Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa encarnou, para todos os Oficiais que por lá desfilaram, muito mais do que uma forma, dita civilizada, de cumprimento do serviço militar obrigatório.

Ao tempo, uma opção pessoal possível num percurso universitário completo ou em vias de o ser, passagem obrigatória no rumo de vida traçado, ao serviço da cidadania e do país onde nasceram. Diria melhor e mais correctamente, da Pátria.

A evasão temporária ao amplexo paternalista, algum inconformismo e a necessidade inadiável de transpor aquela linha no horizonte terão sido algumas das motivações. Outras tantas, eventualmente condicionadas por aspectos pessoais, profissionais, familiares e também económicos.

De um lado, incertezas, anseios, dúvidas tumultuosas, sentimentos contraditórios e algumas perspectivas goradas, mas também natural confiança e esperança. Do outro, o salto no desconhecido, arrojado mas sonhador, a aventura e o desejo de bem cumprir.

Se para muitos configurou uma escolha alternativa enquanto no desempenho de um dever cívico, para outros terá representado uma ponte provisória para a vida profissional. Ainda para alguns, em menor número, mas mais tarde a própria carreira profissional.

Escola Naval, viagem de instrução e juramento de bandeira marcaram, em sucessão, formação académica e humana, camaradagem e também crescimento.

Em cenários de guerra como Moçambique, Angola e Guiné, mas igualmente em S. Tomé, Cabo Verde e no Continente, quase quatro mil Oficiais da Reserva Naval desempenharam funções ao serviço da Marinha de Guerra Portuguesa:

  • a navegar ou em terra, como oficiais de guarnição ou nos fuzileiros, todos fazendo parte do transbordante testemunho de solidariedade, generosidade e convívio partilhado com as Unidades e Serviços onde permaneceram;
  • ombreando com militares e camaradas de outros ramos das Forças Armadas;
  • ganhando acrescido sentido de responsabilidade e maturidade;;
  • grangeando pelo cumprimento, pelo exemplo e pela dedicação, a amizade, admiração, respeito e camaradagem de superiores, subordinados e também das populações com que contactaram.

Na memória que o tempo não apaga, esfumam-se relatos, acontecimentos, documentos, registos, afinal História.

História da Reserva Naval e da Marinha de Guerra que lhe deu origem. No espírito Reserva Naval, um passado comum a preservar.

Uma palavra para todos aqueles que nos deixaram prematuramente, chamados para a última viagem. Estarão sempre connosco!  (...)

Manuel Lema Santos

 (Seleção, revisão / fixação de texto: LG

2. Outro grande elogio da Reserva Naval é feitos pelos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado, autores do  "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975" (edição de autor, Lisboa, 1992, 143 pp.).

 Aqui vão excertos de 2 páginas (com a devia vénia):


 Breve análise dos CFORN



- pág. 26 - 

 

- pág 27 - 

Fonte: excertos de "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992, pp. 26 e 27). Sublinhados nossos.

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)

___________________

Nota do editor LG:

 (*) Vd, postes anteriores da série:

19 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27443: A nossa guerra em números (44): de 1958 a 1974, em 25 cursos (CEORN / CFORN) e foram incorporados 1712 cadetes da Reserva Naval, 3/4 dos quais entre 1967 e 1974 - Parte I

19 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27445: A nossa guerra em números (45): de 1958 a 1974, em 25 cursos (CEORN / CFORN), foram incorporados 1712 cadetes da Reserva Naval, 3/4 dos quais entre 1967 e 1974; cerca de mil oficiais RN foram mobilizados para o ultramar - Parte II

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27446: Memórias dos últimos soldados do império (9): os "últimos moicanos" - Parte VI: A Retirada Final, em 14 e 15 de outubro de 1974 (Luís Gonçalves Vaz / Manuel Beleza Ferraz)


Guiné > Bissau >  c. out 1974 > Lancha de Fiscalização Grande (LFG) Lira, atracada na ponte cais, poucos dias antes da “retirada final” em 14 de Outubro de 1974. Foto do álbum do marinheiro radiotelegrafista  812/70 Manuel Beleza Ferraz.


Guiné > Bissau >  c. out 1974 >  4 Lanchas de Fiscalização Grandes (LFG), uma pequena, e uma LDM na Ponte Cais em Bissau, npoucos dias antes da “retirada final” do dia 14 de outubro de 1974. É visível o N/M Uíge ao fundo, preparado para transportar os últimos militares portugueses da Guiné.  Foto do álbum do marinheiro radiotelegrafista  812/70 Manuel Beleza Ferraz.


Guiné > Bissau >  Setembro de 1974 > Ponte cais de Bissau com duas Lanchas de Fiscalização Pequenas (LFP) e uma de desembarque ( LDM ) ao fundo do lado direito.. Algumas destas lanchas foram deixadas na Guiné-Bissau.  Foto do álbum do marinheiro radiotelegrafista  812/70 Manuel Beleza Ferraz.


Guiné-Bissau > 14 de outubro de 1974 > A LFG Lira, depois de abandonar o Rio Geba na Guiné, a escoltar os T/T Uíge e Niassa até águas internacionais. Foto do álbum do marinheiro radiotelegrafista  812/70 Manuel Beleza Ferraz.
 
Fotos (e legendas): © Manuel Beleza Ferraz  (2012). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)
 


 Luís Gonçalves Vaz e  Manuel Beleza Ferraz


A Retirada Final: Os  Últimos Militares Portugueses a Abandonar a Guiné (14 e 15 de Outubro de 1974)  
 
por Luís Gonçalves Vaz / Manuel Beleza Ferraz (*)


Os últimos aquartelamentos a serem entregues ao PAIGC foram:

  • o Complexo Militar de Santa Luzia, onde se encontrava o QG/CTIG (Quartel General do Comando Territorial Independente da Guiné);
  •  e o QG/CCFAG (Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné) instalado no histórico Forte da Amura,  que se localizava mesmo em frente à ponte-cais em Bissau. (#)
A entrega destes dois últimos redutos das Forças Armadas Portuguesas na Guiné foram “negociados” em 11 de outubro (apenas 3 dias antes da saída dos últimos militares portugueses deste território), numa reunião no Forte da Amura com os comandantes do PAIGC, Gazela, Bobo Keita e o comandante Correia, sob a coordenação do então CEM/CTIG (Chefe do Estado-Maior do CTIG), coronel cav CEM Henrique Gonçalves Vaz.

Os “Planos de Entrega destes Aquartelamentos” foram realizados pelo  cor Henrique G. Vaz com a colaboração do  major Mourão, e entregues ao brigadeiro graduado Carlos Fabião no dia 10 de outubro de 1974, um dia antes da reunião com os comandantes do PAIGC. 

A entrega do Complexo Militar de Santa Luzia foi efectuada no dia 13 de outubro, pelas 15 horas, enquanto o Forte da Amura, o último “reduto militar português”,  foi entregue apenas no dia 14 de outubro, o dia previsto para a “retirada final”, e reservado para o embarque do que restava das tropas portuguesas na Guiné.



Guiné > Bissau > Forte da Amura > Entrada do lado sul (frente à ponte-cais). Era aqui que estva instalado o QG/CCFAG (Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné), o último reduto militar portuguès a ser entregue ao PAIG, em  14 de outubro de 1974.

Foto: © Manuel Coelho (2011). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)

Como tal foi concentrado aí, na véspera da partida, o último contingente do Exército Português . No entanto a cerimónia oficial da transição da soberania nacional na Guiné, para o PAIGC, já tinha decorrido em Mansoa, em 9 de setembro. Estiveram presentes nesta cerimónia:

(i) a CCS / BCAC  4612/74, comandada pelo major Ramos de Campos:

(ii) o comandante do batalhão, tenente coronel Américo Costa Varino;

(iii) um bigrupo de combate do PAIGC;

(iv) um grupo de pioneiros do mesmo partido;

(v) Ana Maria Cabral (viúva de Amílcar Cabral) e seu filho;

(vi) o comissário político do PAIGC, Manuel Ndinga;

(vii) e, em representação do chefe do Estado-Maior do Comando Territorial Independente da Guiné (CEM do CTIG),  o tenente-coronel Fonseca Cabrinha (informações dadas pelo próprio militar que arriou a nossa bandeira em Mansoa, o nosso coeditor Eduardo José Magalhães Ribeiro, fur mil Op Esap / Ranger, CCS/BCAÇ 4612/74 ).


Guiné > Região do Oio > Mansoa >9 de setembro de 1974   > Uma foto para a história: o ex-fur mil OE/Ranger Eduardo Magalhães Ribeiro,. hoje nosso coeditor, CCS/BCAÇ 4612/74 (Mansoa, abr - out 1974), a arriar a bandeira verde-rubra, na presença de representantes do PAIGC (incluindo a viúva de Amílcar Cabral) e de autoridades militares do CTIG.




Guiné > Região do Oio > Mansoa >9 de setembro de 1974   > Cerimónia da transição da soberania nacional na Guiné, que decorreu em 9 de setembro de 1974, aquando da entrega do aquartelamento de Mansoa ao PAIGC, e troca de cumprimentos entre o Comandante do BCAÇ 4612/74, tenente coronel Américo da Costa Varino e os comandantes do PAIGC presentes na cerimónia.

Fotos do álbum do Eduardo José Magalhães Ribeiro,  fir mil OE/Ranger, CCS/BCAÇ 4612/74, (Cumeré,. Mansoa e Brá, 1974)

Fotos (e legendas): © Eduardo Magalhães Ribeiro (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

O que vos vou passar a relatar será uma pequena narrativa, dos últimos momentos da nossa “retracção do dispositivo militar”, deste último reduto de militares portugueses, para os navios da Armada Portuguesa e para o navio Uíge (o navio Niassa já se encontrava ao largo de Bissau) , que se encontravam frente à ponteis, mas a alguns metros do cais, com os motores ligados (pairavam todos os navios).

Esta descrição foi-me feita pelo meu primo e ex-Marinheiro Radiotelegrafista da Armada Portuguesa, Manuel Aurélio de Araújo Beleza Ferraz, que fazia parte da guarnição da LFG (Lancha de Fiscalização Grande) Lira, um dos navios que fez a segurança de retaguarda, durante o embarque dos últimos militares portugueses na Guiné.


Guiné > Bissau >  c. out 1974 > O Manuel Beleza Ferraz. LFG  Lira, atracada na ponte cais, poucos dias antes da “retirada final” em 14 de Outubro de 1974. Uma testemunha-.chave, um dos "últimos moicanos". 


Guiné > Região de Tombali > Rio Cacine >  s/d  > Evacuação de pessoal civil  (cuja origem se desconhece, náo devendo ser de Gadamael nem de Jemberé,m), passagem dos civis de uma Lancha de Desembarque, para a LFG Lira, em pleno Rio Cacine, muito abaixo da “marca lira”.


Guiné >  LFG Lira > s/l > c. out 1974 :> O marinheiro radiotelegrafista Manuel Beleza Ferraz, no  seu navio navio, à espera da missão da “Retirada Final"


Guiné > LFG Lira > c. ou 1974 _ Elementos da guarnição do NRP Lira, em convívio na sala comum/refeitório. Foram estes os marinheiros que no dia 14 de outubro de 1974, nos seus lugares de combate e outros, asseguraram a operacionalidade da NRP Lira, no que diz respeito ao apoio e segurança na evacuação do último contingente militar do território da Guiné.

Estima-se que seriam algumas centenas de militares dos três Ramos das Forças Armadas Portuguesas. Neste grupo estavam representadas as várias Especialidades do navio, nomeadamente, Artilheiros, Eletricistas, Telegrafistas e Manobras. Este navio, o NRP Lira, sob o comando do 1º tenente Martins Soares, teve um papel importante na missão de “Retirada Final”, já que era o navio de apoio de retaguarda que se encontrava mesmo em frente à Ponte cais de Bissau, como tal o navio mais próximo do Forte da Amura. O Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz é o que está a olhar para o fotógrafo.

Fotos do álbum do marinheiro radiotelegrafista 812/70 Manuel Beleza Ferraz.
 
Fotos (e legendas): © Manuel Beleza Ferraz  (2012). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)

No dia 14 de outubro, decorreu a última cerimónia de “Arriar da Bandeira Portuguesa”, ao qual se seguiu o “Hastear de Bandeira da República da Guiné-Bissau” (a última bandeira nacional em Bissau só foi retirada 4 ou 5 semanas depois de 14 de Outubro de 1974, sem cerimónia oficial) como tal nesse mesmo momento, todo o que restava do contingente militar português (à excepção de dois pequenos destacamentos de tropa portuguesa, da Marinha e da Força Aérea, esta na já ex-BA 12, em Bissalanca, mas ainda com helicópteros AL-III, e o destacamento 
da Marinha nas suas antigas instalações, para colaborarem na transição e transmissão de técnicas/procedimentos, conhecimentos e experiências de navegação aérea e marítima, com elementos do PAIGC), encontrava-se agora em território estrangeiro.

Nessa cerimónia encontrar-se-iam o Governador (brigadeiro graduado Carlos Fabião), o Comandante Militar (brigadeiro Galvão de Figueiredo), o Chefe do Estado-Maior do CTIG (coronel Henrique Gonçalves Vaz), outros oficiais, alguns sargentos e praças. Os primeiros depois de assistirem ao embarque de todos os militares nos navios que se encontravam ao largo no estuário do Rio Geba, seguiram para o Aeroporto, onde mantínhamos ainda um dispositivo de segurança.

Mal acabou a cerimónia referida anteriormente, e segundo testemunho do ex-marinheiro radiotelegrafista, Manuel Aurélio A. Beleza Ferraz, que se encontrava nesta altura na LFG Lira, todas as guarnições dos nossos navios que se encontravam na zona, estavam por ordens superiores, em posição de combate (para qualquer eventualidade), estando todos os operacionais equipados com coletes salva-vidas, capacetes metálicos e as Bofors (peças de artilharia antiaéreas de 40 mm) sem capa e municiadas, prontas a realizar fogo de protecção à retirada das nossas tropas, que ainda se encontravam em terra.

Segundo o ex-marinheiro radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, os navios que se encontravam a realizar a “segurança de rectaguarda” mais próxima às tropas que iriam retirar-se para os navios ao largo no Rio Geba, eram a LFG Órion e a LFG Lira.

Encontravam-se também ao largo em missão de Segurança um patrulha (NRP Cuanza) e o navio NRP Comandante Roberto Ivens, este último a comandar as operações navais desta missão de “Retirada Final”. No próprio navio Uíge estava montado discretamente um dispositivo de segurança pronto a abrir fogo, caso o PAIGC se lembrasse de abrir alguma hostilidade contra o último pessoal militar a abandonar a Guiné, com algumas metralhadoras HK-21, além de todos os militares estarem armados com as suas G-3 e as respectivas munições.

 Após o “Arriar da Bandeira Portuguesa”, as tropas portuguesas dos três Ramos das Forças Armadas, presentes na referida cerimónia, logo de seguida, foram transportadas em zebros e LDM (lanchas de desembarque médias) para o navio Uíge, que os aguardava no meio do Rio Geba, a cerca de 400 metros afastados do cais, onde se encontrava já com as máquinas em pleno funcionamento (pairavam) por razões de segurança.

O ex-Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, fonte destes testemunhos históricos, aqui relatados, informou-me ainda de que as ordens vindas do Comando Naval, com apenas 24 horas de antecedência, foram entregues em mão aos comandantes das duas LFG (Orion e Lira) e do patrulha Cuanza, presentes ao largo do cais, no caso do seu navio, o patrulha Lira, recebeu directamente o seu Comandante, 1º tenente Martins Soares.

Como tal, os comandantes destes três navios que constituíam nesse dia, a “força naval” em frente ao cais de Bissau, receberam ordens expressas “para se posicionarem em postos de combate”, com todas as peças Bofors de 40mm, devidamente municiadas e preparadas para realizarem fogo, como apoio de retaguarda à retirada das nossas tropas, de terra para os navios, nomeadamente o Uíge.

Felizmente tudo correu bem, não sendo preciso fazer fogo nenhum, já que a retirada se desenrolou como o previsto, sem altercação de qualquer natureza. 

De seguida, no final dos transbordos, os zebros e as lanchas (LDM) foram presas numa boia em frente ao cais (abandonadas), e imediatamente a flotilha portuguesa escoltou os navios Uíge e Niassa (este já navegava mais à frente) até águas internacionais, seguindo a maioria dos navios da Armada para Cabo-Verde, de onde alguns deles partiriam pouco depois, em direcção a Angola.

O Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, ainda informou que a flotilha que rumou em direção a Cabo-Verde, além dos navios já referidos (NRP Comandante Roberto Ivens, LFGs Orion e Lira e patrulha Cuanza) faziam parte também as LDG Ariete, Alfange e Bombarda, tendo estes navios da Armada atracado em 20 de outubro no porto de Mindelo na ilha de S. Vicente, Cabo Verde

A comitiva constituída pelo Governador (Brigadeiro Carlos Fabião), o Comandante Militar (Brigadeiro Figueiredo), o Chefe do Estado-Maior do CTIG (Coronel Henrique Gonçalves Vaz), bem como alguns outros oficiais do Estado-Maior, sargentos e praças, depois de assistirem ao embarque de todos os militares nos navios, que se encontravam ao largo do estuário do Rio Geba, e assegurando-se que tudo tinha corrido sem problemas e de acordo com o previsto nos “Planos de Retirada”, elaborados pelo CTIG/CCFAG que nesta altura se afirmava como o único Comando das Forças Armadas Portuguesas neste TO da Guiné, seguiram directamente para o Aeroporto de Bissalanca, onde mantínhamos ainda um dispositivo de segurança.

Às 2h30m do dia 14 de Outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné (por via aérea). Nesse momento estiveram presentes alguns Comandantes do PAIGC, que quiseram despedir-se dos “seus antigos inimigos”, e assim foi o fim da colonização da Guiné com cerca de 500 anos.

Mas antes de finalizar este artigo, gostaria aqui de referir o árduo trabalho atribuído ao último CEM/CTIG, coronel Henrique Manuel Gonçalves Vaz, já que foi o responsável, por “despacho escrito do Brigadeiro/Governador”, Carlos Fabião, pela elaboração dos “Planos de Retirada do nosso Exército”, da “Carta sobre a Redução de Efectivos e Comissões Liquidatárias”, dos “Planos de entrega dos Aquartelamentos da Ilha de Bissau”, do “Estudo da Comissão Liquidatária do QG/CTIG em Lisboa”, das "Cargas dos aviões", entre outras responsabilidades.


Enfim o brigadeiro Carlos Fabião determinou que este oficial do Corpo do Estado-Maior e Chefe do Estado-Maior do CTIG/CCFAG, coronel Henrique Gonçalves Vaz, se responsabilizasse por todos estes assuntos, como tal fica aqui a minha homenagem a ele, bem como a todos os oficiais, sargentos e praças, que sob o seu comando, o ajudaram a realizar essa importante tarefa, nomeadamente o senhor tenente-coronel de artilhgaria Joaquim José Esteves Virtuoso, o senhor major Mourão, o senhor capitão Lomba, e outros oficiais, sargentos e praças, que colaboraram nesta última missão militar no TO da Guiné, a “Retirada Final”, a todos eles, a minha homenagem, o meu respeito e uma grande admiração, pois ficaram neste episódio da longa história portuguesa.

20 de Fevereiro de 2012
Luís Filipe Beleza Gonçalves Vaz
(Tabanqueiro nº 530 e filho do último CEM/CTIG)

(Uma primeira versão deste texto já tinha sido pubpicada sob o poste P9535, de 26/2/2012. Nova versão, com revisão / fixação de texto, edição de imagem e negritos: LG)


2. Comentário de  Albano Mendes Matos:

Caro Amigo Luís Gonçalves Vaz,

Só agora li o seu comentário ao meu escrito sobre o último a sair da Guiné.

Vou confirmar a data do último avião a sair da Guiné. No meu registo, consta saída em 14 de outubro pela 01h00. Pelas 13h00, do dia 13 ou 14, já não havia portugueses no QG, quando um comandante do PAIGC me deu boleia para Bissau. Julgo que fui o último a sair do QG. Nas ruas de Bissau, fui a andar. Estavam, ao largo, navios, com tropas, para zarparem para Portugal, logo que o último avião, onde eu vim, levantasse do aeroporto de Bissalanca.

Eu dependia do seu falecido pai. O seu pai saiu, pela manhã, para o Palácio do Governo ou para a Base Aérea da Bissalanca. Quando cheguei ao aeroporto, pelas 23h15, já todos os militares lá estavam.
Tenho jornal que tem a notícia da chegada do avião com os últimos militares da Guiné, que vou procurar, para confirmar a data. Tem a foto do general Galvão de Figueiredo.
´
Pelos vistos, o meu registo deve estar errado.
Os meus cumprimentos.
Albano Mendes de Matos
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014 às 21:21:18 WET

3. Resposta do Luís Gonçalves Vaz:

Caro sr tenente-coronel Mendes Matos:

(...) Agradeço-lhe se ter dignado vir aqui repor a verdade da data/hora (já vi que troquei a data/hora do último embarque no cais marítimo com o grupo data/hora do último voo), que julga ser a correta. Não vou nem quero opor-me à sua data de 13 ou 14 de outubro,quando refere no seu artigo, afinal trata-se do depoimento de um dos "protagonistas deste momento histórico", que como tal merece toda a minha credibilidade. 

Mas gostaria de o informar que "oficialmente" no Relatório que possuo,elaborado pela 2ª Rep do QG e autenticado pelo sr. major Tito Capela, na página 46, apresenta para o último embarque aéreo das nossas tropas, o grupo "Data/Hora" de 140230Out, como o embarque do Cmdt Chefe e elementos do QG. 

"Informa também" que foi no dia 13 de outubro que o QG/CTIG (Santa Luzia)  foi entregue, logo o seu artigo está de acordo com este Relatório "Secreto", de que já dei aqui visibilidade. Agora apercebo-me que "troquei" o grupo Data/Hora e, além de pedir desculpa a todos pela minha incorreção, quero também aqui corrigir esta hora, como tal onde digo "Às 23 horas do dia 14 de outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné...",  quero emendar para: "Às 2h30min do dia 14 de outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné (por via aérea ...)

Estive a reler o Relatório, e no mesmo o que parece uma "incoerência", pois o grupo Data/hora do último embarque (aéreo) é 140230Out, e o grupo data/hora da entrega do QG/CCFAG (Fortaleza da Amura), é 142300OutT, não o será, pois o último embarque de tropas portuguesas, foi por via marítima em LDG (no cais de embarque) pelas 23h00 (142300Out), executado diretamente da fortaleza da Amura para os navio Uíge e Niassa e, como tal,  devem ter sido estes os militares que entregaram o QG da AMURA (??). 

No entanto, e segundo este mesmo Relatório, estes navios só saíram da zona em 151000Out, em suma terão sido estes os últimos a abandonar este TO. Agora se assim não foi, então será esta minha fonte que não foi fiel no que concerne às datas (terá alguma gralha ou mesmo erro nestes grupos Data/Hora ?). 

Relativamente aos registos do meu pai, só encontrei a referência que seria no dia 14, a saber:

Bissau, 5 de Outubro de 1974

"... Dia de trabalho derivado da antecipação da nossa saída em 15 deste mês (pois passou para 14 de Outubro) ...

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Entretanto, também registou na sua agenda de CEM, a antecipação de vários voos de cargas .... A pressão era "muito grande" para que abandonássemos aquele TO.

Grande Abraço
Luís Gonçalves Vaz
domingo, 2 de março de 2014 às 15:14:43 WET
_________________

Notas do LGV:

(#) Mensagem do nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74), com data de 21 de fevereiro de 2012:

Caros Editores:

Conforme o prometido, segue em anexo finalmente, o meu artigo sobre "A Retirada Final: Os Últimos Militares Portugueses a Retirar da Guiné   (Dia 14 de Outubro de 1974)".

Para este artigo, além de consultar as notas pessoais do meu falecido pai, também entrevistei um primo meu,  que era na altura Marinheiro Radiotelegrafista da Guarnição do Patrulha Lira (LFG Lira), com quem estive ainda na Guiné, mas que ficou lá até ao último dia, o dia 14 de outubro de 1974, juntamente com muitos outros militares, um deles, o meu falecido pai, o último CEM/CTIG.

Este meu primo, Manuel Aurélio de Araújo Beleza Ferraz, relatou-me na primeira pessoa as últimas horas da retirada para o navio Uíge, dos militares portugueses ainda presentes nesse dia em terra, para assegurarem a última cerimónia, o "Arrear da Bandeira Portuguesa", bem como me forneceu um conjunto de fotografias, que ilustram o poste (...)

Espero que não tenha "distorcido muito" estas últimas horas da nossa "Retirada Final" da Guiné, se o fiz, foi sem intenção. Por outro lado, peço desculpa não "elencar o nome" de todos aqueles militares que nesse mesmo dia, "deram o seu máximo" para não manchar o Bom Nome da Nação, numa altura difícil da nossa longa história... se um de vós lá estava, então deixe aqui "o seu depoimento", pois assim enriquecerá este relato de mais um dos "episódios históricos da descolonização portuguesa".

Grande Abraço
Luís Gonçalves Vaz

 
PS - Como recebi mais informações do camarigo Magalhães Ribeiro, sobre este dia histórico e também do dia 9 de setembro de 1974, aquando da cerimónia oficial da transição da soberania nacional na Guiné, para o PAIGC, em Mansoa, onde fiquei a saber que o meu falecido pai não esteve, pois em representação do chefe do Estado-Maior do Comando Territorial Independente da Guiné (CEM do CTIG), esteve o tenente-coronel Fonseca Cabrinha, como tal fui naturalmente compelido, a corrigir e complementar este artigo, que almejo que se transforme num "agregar de vários testemunhos, daquele dia 14 de Outubro de 1974", dia histórico para os portugueses, e que representa simultaneamente o fim do Império Português nestas paragens.

(##) Um agradecimento especial:

(i) ao meu primo e ex-Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, marinheiro da guarnição de um dos últimos navios a abandonar as águas da Guiné, o Patrulha Lira;
e também

(ii) ao Eduardo José Magalhães Ribeiro, Furriel Miliciano de Operações Especiais/Ranger da CCS do BCAÇ 4612/74, Cumeré/Mansoa/Brá – 1974, pois sem os seus testemunhos, não poderia ter dado parte importante das informações, relatadas nesta minha pequena narrativa sobre a “retirada final da Guiné”.

Aos dois, que foram testemunhas deste momento histórico, o meu muito obrigado.
____________

Nota do editor LG:



quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27442: Fotos à procura de...uma legenda (196): Homenagem aos nossos camaradas da "Reserva Naval", em geral, e ao Manuel Lema Santos (Barrancos, 1942- Cascais, 2025), em particular


Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu >  Mensagem de Natal da LFG «Sagitário» P 1131 > "NRP Sagitário. 20-12-71. Feliz Natal" 

09 dezembro 2023


Fonte: Blogue Reserva Naval > 9 de ezembro de 2023 >  Guiné, 1971 - Mensagem de Natal da LFG «Sagitário» (I)

 
(...) Mesmo na Guiné e também no rio Cacheu onde, a guarnição da LFG «Sagitário», em 1971, em missão de patrulha e fiscalização na zona de Ganturé-Bigene, numa expressão primorosa de esperança, boa disposição e humor, encontrou numa pernada de tarrafo, reverencialmente inclinada para o efeito, a melhor estação dos CTT para afixar a universal mensagem.

Para que muitos iutros pudessem ter Natal!" (...)

Fontes:
Texto do autor do blogue, Manuel Lema Santos, com imagem de arquivo gentilmente cedida pelo então comandante da LFG «Sagitário», 1º  ten  Adelino Rodrigues da Costa, Foto reeditada por LG (2025) (*)




1. Caros leitores, amigos e camaradas: podem deixar aqui uma nota de apreço, homenagem e camaradagem aos antigos combatentes da "Res4reva Naval", em em geral, e ao nosso Manuel Lema Santos (Barrancos, 1954 - Cascais, 2025), em particular... (**)

Ele foi um dos  representantes da Marinha que integrou também, ao lado da malta do Exército e da Força Aérea, a pequena grande aventura, pelas terras, mares e ares da memória, do nosso blogue...  

Tem 64 referèncias no nosso blogue, e deixa-nos, em herança, o seu próprio blogue, "Reserva Naval", referència incontornável para quem quiser conhecer melhor o papel da marinha e dos nossos bravos marinheiros nos rios e mares da Guiné. Ele tinha a paixão (e o talento) da escrita. (***)



Sobre o nosso próprio blogue nunca é demais lembrar que já é uma peça de museu da Net, uma velharia:  já tem mais de 20 anos e não pode ter a veleidade de cumprir  outros tantos  20 anos...

 A geeração que fez a guerra colonial / guerra do ultramar está a despedir.se da Terra da Alegria.  Mais de um terço terá já morrido. Os outros dois terços vão  lutando, árdua e corajosamemnte, contra as mazelas da ususura física e mental da vida, as doenças do foro músculo-esquelético, e do sistema cardio-vascular, as neoplasias (próstata, pulmões, intestinos...), as doenças do foro neurológico e psiquiátrico  (Parkinson, Alzheimer, outras demências e condições, como a depressão, etc.)....Tudo maleitas "de que Dues Nos Livre, ámem!".


_______________

Notas do editor LG:

(*) Esta icónica foto também vem reproduzida no livro "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992),  pág. 55, com a seguinte legenda: "Rio Cacheu, Guiné: a actividade de interceçãpo das 'camabanças', deproteçãos aos 'comboios' e de apoio às forças de fuzileiros, ainda permite alguma descontraçáo, designadamenmte na quadra natalícia".


domingo, 16 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27429: Os 50 anos da independência de Cabo Verde (14): a dupla "sodade", de Manuel Lema Santos (1942-2025) e de Cesária Évora, "Cize (1941-2011)


Foto nº 1 > Cabo Verde > Sáo Vicente > Mindelo> c. 16/17/18 de Março de 1968 > Cesária Évora, aos 26 anos. Festa privada para os cadetes do 11º CFORN, de visita ao Mindelo.


Foto nº 2 >Cabo Verde > Sáo Vicente > Mindelo> c. 16/17/18 de Março de 1968 >  Atuação de Cesária Évora, "Cize", para os cadetes do 11º CFORN (Curso de Formaçáo de Oficiais da Reserva Naval). Já cantava descalça.


Foto nº 3 >Cabo Verde > Sáo Vicente > Mindelo> c. 16/17/18 de Março de 1968 >   A "Cize" com os seus músicos.



Foto nº 4 >Cabo Verde > São  Vicente > Mindelo> c. 16/17/18 de Março de 1968 > Com Cesária Évora, então com 26 anos. Da esquerda para a direita, Henrique Oliveira Pires, António Campos Teixeira, José Manuel Vieira de Sá e José António Trindade Leitão, todos do 11.º CFORN (Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval)

Fotos (e legendas): ©. Manuel Lema Santos  (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Manuel Lema Santos (1942-2025).  Foto de LG (2012).

1. O nosso camarada Manuel Lema Santos (1942-2025), que hoje se despede da Terra da Alegria (*), era um apaixonado por Cabo Verde, a sua gente e a sua música, nomeadamente, a da "diva dos pés descalços",  Cesária Évora (1941-2011).  Essa era uma faceta que eu ignorava completamente.

Tinha família em Cabo Verde, pelo lado da mãe das suas filhas, sobrinha do poeta Jorge Barbosa (1902-1971). E ele próprio tem doces memórias daquela terra, como se pode ler nestes excertos de dois postes que publicou no seu blogue, "Reserva Naval", em 2018. 

São também uma genuína e sincera homenagem à grande cantora e mulher grande do Mindelo e um tributo à nossa Marinha e às guarnições das LFG - Lanchas de Fiscalização Grande que, durante anos, ali aportaram, vindas da Guiné, para trabalhos de reparação e manutenção. É uma homenagem a Cabo Verde, nos 50 anos da sua independência. E é sobretudo uma homenagem a um camarada da Reserva Nacional  que a morte, aos 83 anos, vem privar do nosso convívio.

Excertos de Blogue Reserva Naval > 28 de setembro de 2018 > Cabo Verde, 1968 - Cesária Évora com a Reserva Naval no Mindelo 

(...) Também como outros camaradas, cadete da Reserva Naval, incógnito, tive apenas um primeiro contacto efêmero com as gentes, hábitos e música de Cabo Verde, no decorrer da viagem de instrução do 8.º CEORN – Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval, efectuado nas fragatas «Diogo Cão» e «Corte Real» que, na segunda quinzena de Abril de 1966, aportaram àquelas ilhas. Eram comandadas, respectivamente, pelos CFR Peixoto Correia e CFR Pinheiro de Azevedo, vindo este último a exercer mais tarde as funções de Primeiro-Ministro, após o 25 de Abril.

Era tradicional organizarem-se festas, convívios ou recepções por ocasião da visita de navios da Marinha Portuguesa a Cabo Verde. Recordo esses momentos quer na ilha de S.Vicente, no Grémio do Mindelo,  quer na ilha de Santiago, na cidade da Praia, com visitas guiadas às ilhas a que não faltou uma passagem pelo Tarrafal.

Mais tarde, no decorrer dos anos de 1966 a 1968, voltei ali nas deslocações que, aproximadamente de seis em seis meses, a LFG «Orion», tal como todas as outras lanchas do mesmo tipo, faziam da Guiné a Cabo Verde, por imposição de trabalhos de conservação e manutenção nos estaleiros navais da ilha de S. Vicente.

Quando ali aportavam mantinham-se ali estacionadas cerca de um mês em cada uma das vezes que o faziam. Então, já casado e com família próxima ali estabelecida, sempre fui naquelas casas recebido e tratado com carinho e atenção especiais que aqui gratamente recordo e, entre guarnição e familiares ou amigos, nunca me senti acossado por qualquer sentimento de solidão ou insularidade.

Tudo fez parte de uma etapa da minha vida de que recordo, entre muitas outras pessoas, um tio da mãe das minhas filhas, o poeta Jorge Barbosa cujo nome mais tarde foi atribuído à Escola Secundária do Mindelo, e um sem número de familiares e amigos que partilharam comigo mesa e convívio.

Na nostalgia de quem lembra de forma gratificante estas memórias, ficaram na “sodade di nha tempo ido” as sempre eternas mornas e coladeras que Cesária Évora tão bem interpretou e legou como herança cultural de um Povo. Algumas gravações, sempre escassas, guardo-as há muito comigo.

Como outros cursos, também o 11.º CFORN – Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval, em 1968, ali rumou na viagem de instrução de final de curso, nas mesmas Fragatas «Diogo Cão» e «Corte Real», desta vez comandadas respectivamente pelos CFR Eurico Serradas Duarte e CFR Mário Dias Martins. 

Teve lugar entre os dias 4 e 29 de Março de 1968, saindo de Lisboa e aportando a Ponta Delgada, Angra do Heroísmo, Horta, S. Vicente de Cabo Verde, Funchal e Porto Santo, antes de entrar de novo em Lisboa.

Tendo Cesária Évora nascido em 1941, no mês de Agosto, em Março de 1968 contava ainda 26 anos. A partir da chegada a Lisboa no dia 29 daquele mês, vamos ter em conta que no regresso da viagem de instrução as fragatas não foram a Porto Santo. Rumaram directamente para Lisboa, dois dias de viagem, com saída do Funchal num final de tarde.

 Fazendo contas "às arrecuas",  concluir-se-á que a saída do Funchal se efectuou no dia 27. Deduzindo o tempo de permanência na Madeira de 2 a 3 dias e mais outros 3 a 4 para ali chegarem de Cabo Verde, ficará o dia 19 de Março como provável dia de saída de S. Vicente.

Sem a pretensão de total rigor, quer na data quer na informação, nos dois ou três dias anteriores, terá decorrido uma festa-convívio que incluiu a actuação de Cesária Évora e de alguns elementos que, com "Cize", formavam o conjunto musical que a acompanhava.

Ainda que com meios empíricos, improvisados na hora, a sessão foi gravada, como é visível numa das fotos (a nº 1), mas da sua guarda e eventual conservação no tempo nada se sabe de concreto. Muito provavelmente, perdurará ainda esquecida num baú de recordações pertencente a algum dos muitos participantes na viagem.

Depois da chegada a Lisboa, do Juramento de Bandeira daquele 11.º CFORN e já como oficiais da Reserva Naval:

  • Henrique Oliveira Pires foi destacado para a Guiné como comandante da LFP «Canopus»;
  • António Campos Teixeira,  para o Grupo n.º 1 de Escolas da Armada:
  •  José Manuel Vieira de Sá,  para Angola como comandante da LFP «Fomalhaut»;
  • e José António da Trindade Leitão, para o Grupo n.º 2 de Escolas da Armada.

Como curiosidade adicional, foi o último ano em que aquelas duas unidades navais efectuaram viagens de instrução a Cabo Verde. A Fragata «Diogo Cão» foi abatida ao efectivo dos navios da Armada em 21Out68 e Fragata  «Corte Real» em 19Nov68.

Fontes:
Texto, fotos de arquivo, edição e arranjo de imagem do autor do blogue com fotos cedidas por elementos do 11.º CFORN


Manuel Lema Santos
1º Ten RN, 8.º CEORN, 1965/1972
1966/1968 - LFG "Orion" Guiné, Oficial Imediato
1968/1970 - CNC/BNL, Ajudante de Ordens do Comandante Naval
1970/1972 - Estado-Maior da Armada, Oficial Adjunto


Excertos de Blogue Reserva Naval > 24 de setembro de 2018 >  Cabo Verde, Mindelo - Cesária Évora, "Cize", desaparecimento aos 70 anos.



Cesária Évora (1941-2011)


(...) 

Nascida no Mindelo a 27 de Agosto de 1941, Cesária Évora desde muito cedo que encarnou o espírito da genuína música tradicional das ilhas cabo-verdianas.

A afinidade com o Mar, o Mindelo na ilha de S.Vicente e as inúmeras arribadas de navios àquele porto transformaram muitos marinheiros em testemunhos desse talento mais que cinquentenário, sempre manifestado de forma singela, popular e simpática, mas arrebatadoramente livre numa expressão melancólica e magoada.

Mindelo, as noites de fresca aragem marítima, os banhos madrugada dentro na Baía das Gatas, as idas com os mergulhadores apanhar lagostas, o convívio com um povo culto, são e alegre, as manhãs na praia da Matiota e tantas vivências mais, foram retemperadoras para muitos "marujos" que, vindos da Guiné, aportavam ao cais de S. Vicente para fabricos, integrados nas guarnições das LFG-Lanchas de Fiscalização Grandes.

Também muitos Oficiais, Sargentos e Praças, quer dos Quadros Permanentes quer da Reserva Naval, que ali prestaram serviço ou em viagem de instrução, em unidades navais ainda cadetes, a quem tantas vezes foi dada a oportunidade de partilha daquele fraterno ambiente de convívio, participam certamente deste sentimento, já que Cesária Évora por diversas vezes actuou de forma quase privada, “a pedido”, 
com a simplicidade que se lhe conhecia.

Naquele dia de Dezembro  (**) ficaram especialmente tristes todos os que estiveram em Cabo Verde, tenha sido numa fugaz passagem ou em mais prolongadas estadas. Toda a força e vida de Cesária Évora, expressa em anos de embaixadora mundial da morna e diva dos pés descalços de Cabo Verde não foi suficiente para a manter entre nós.

De nada valeu o apoio médico, carinho de familiares, amigos e admiradores. Nascida no Mindelo a 27 de agosto de 1941, deixou o nosso convívio com 70 anos.

Ficou mais pobre Cabo Verde (***), privado de um património histórico cultural e musical de eleição. Mesmo todos os que, como nós, com ela conviveram e tiveram o privilégio de partilhar a sua presença e voz ao vivo, mesmo que só pontualmente, sentiram a perda.

Cize, como era conhecida, ficará para sempre entre nós, recordada nas mornas coadas entre memórias em cálidas noites de Cabo Verde e do Mindelo, do Grémio à Baía da Gatas, num talento reconhecido mundialmente ao mais elevado nível de consagração.

E que saudade... (****)

Manuel Lema Santos
1º Ten RN, 8.º CEORN, 1965/1972
1966/1968 - LFG "Orion" Guiné, Oficial Imediato
1968/1970 - CNC/BNL, Ajudante de Ordens do Comandante Naval
1970/1972 - Estado-Maior da Armada, Oficial Adjunto

(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos, edição e numeração das imagens: LG. O MLS náo seguia o acordo ortográfico em vigor. Respeitámos a sua vontade.)

___________________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 15 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27427: In Memoriam (560): Manuel Lema Santos (1942 - 2025) , ex-1º tenente da Reserva Naval, 1965-1972; ex-Imediato no NRP Orion, Guiné, 1966/68... O velório é amanhã ,dia 16, das 10h00 às 17h30, no Centro Funerário de Cascais

(**) A Cize morreu a 17 de dezembro de 2011, aos 70 anos, na terra que a viu nascer.

(***) Último poste da série > 15 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27424: Os 50 anos da independência de Cabo Verde (13): Mindelo, agosto de 1935: o que mostra e o que omite o filme de San Payo, de 1936 ("1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente") - Comentários -. ParteI (Adriano Lima, cor inf ref)

(****) A escolha deste tema é do próprio MLS:  Ver aqui a letra em crioulo.

Sodade

Ken mostrá-be es kaminhu lonje?
Ken mostrá-be es kaminhu lonje?
Es kaminhu pa Santumé

(bis)

Sodade, sodade
Sodade des nha térra Saniklau
Sodade, sodade
Sodade des nha térra Saniklau

Ken mostrá-be es kaminhu lonje?
Ken mostrá-be es kaminhu lonje?
Es kaminhu pa Santumé

(bis)

Sodade, sodade
Sodade des nha térra Saniklau
Sodade, sodade
Sodade des nha térra Saniklau

Si bo skrevê-m, N ta skrevê-be
Si bo skesê-m, N ta skesê-be ate dia ki bo voltá
Si bo skrevê-m, N ta skrevê-be
Si bo skesê-m, N ta skesê-be ate dia ki bo voltá

Sodade, sodade
Sodade des nha térra Saniklau
Sodade, sodade
Sodade des nha térra Saniklau

(bis)

Composição: Amândio Cabral / Louis Morais.

Fonte: Com a devida vénia, Letras

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27270: Agenda cultural (903): Convite para a Conferência Círculo do Mar - "Dar Voz Às Guarnições" - Ultramar 1961-1974, dia 16 de Outubro de 2025, pelas 17 horas, a ter lugar na Sociedade Histórica da Independência de Portugal, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, Lisboa (José Maria Monteiro, ex-Marinheiro Radiotelegrafista)

1Mensagem do nosso camarada José Maria Monteiro, ex-Marinheiro Radiotelegrafista (LFP Bellatrix, 1969/71 e Comando Naval da Guiné, 1971/73) com data de 29 de Setembro de 2025:

Meu ilustre camarada.
Se entenderes fazer a publicidade a esta CONFERENCIA - Círculo do Mar - convidando todos os camaradas, em especial todos os marinheiros a estarem presentes no dia 16 de Outubro de 2025, pelas 17h00, na Sociedade Histórica da Independência de Portugal, seria excelente.

O meu Abraço
José Maria Monteiro
(um dos mais jovens combatentes do Mundo e dos exércitos portugueses desde a fundação da nacionalidade até à presente data. (c/16 anos).
Cascais, 29/09/2025


_____________

Nota do editor

Último post da série de 26 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27258: Agenda cultural (902): "Venham Mais Cinco", o olhar estrangeiro sobre a revolução portuguesa, 1974-1975, exposição fotográfica para ver até 23 de Novembro de 2025, no Parque Tecnológico da Mutela, Almada (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27204: (De)Caras (239): Cabos de Manobras (ou marinheiros CM), heróis esquecidos (José António Viegas, ex-fur mil art, Pel Caç Nat 54, Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole, Bolama, Ilha das Cobras e Ilha das Galinhas, 1966/68)



Foto nº 1 e 1A



Foto nº 2





Foto nº 3 e 3A




Foto nº 4 e 4A

Guiné > Região do Oio > Porto Gole > c. 1966/68

Fotos (e legendas): © José António Viegas (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



José António Viegas
1. Mensagem do José António Viegas, ex-fur mil art, Pel Caç Nat 54 (Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole, Bolama, Ilha das Cobras e Ilha das Galinhas, na altura, colónia penal, 1966/68); é membro da Tabanca Grande desde 6/11/2012; tem 65 referências no nosso blogue; vive em Faro; é um dos régulos da Tabanca do Algarve:

Data - 26/08/2025, 10:36

Assunto - Cabos Manobras

Caro Luis, pouco se fala destes homens, os Cabos Manobras, que pilotavam as LDM e LDP, em patrulhamento rio acima rio abaixo, fazendo patrulhas, levando mantimentos, trazendo os camaradas mortos...

De dois tenho conhecimento que morreram num ataque a navegar. Em Portugole onde aportavam várias vezes empatrulhamento e aí ficavam um  ou dois dias nos anos 67/68, deram uma grande ajuda num ataque ao aquartelamento com sua peça de 20mm.  

Um abraço, 
Zé Viegas


2. Comentário do editor LG:

Tens razão, Zé Viegas. São heróis esquecidos. Da nossa Marinha. Da nossa guerra. Vou criar o marcador "cabo de manobra". Na nomenclatura da Marinha, o cabo de manobra chama-se Marinheiro CM, se não erro. Nem sequer existia no nosso blogue esse descritor. Em contrapartida, temos bastantes referèncias às LDG, LDM e até LDP.

Quem eram estes hoemns da Marinha Portuguesa que, apenas com o posto de cabos, comandaram LDM e as LDP ? (*)

Eis o que apurei na Net através dos assistents de IA (Gemini e ChatGPT) e do nosso blogue;

(i) Papel crucial dos cabos de manobra nas Lanchas de Desembarque na Guerra da Guiné (1961-1974)

Durante a Guerra Colonial na Guiné Portuguesa, entre 1961 e 1974, as Lanchas de Desembarque Médias (LDM) e Pequenas (LDP) da Marinha de Guerra Portuguesa desempenharam um papel vital na logística, no transporte de tropas e em operações de combate nos intrincados rios e canais do território.

No seio das suas reduzidas tripulações, a figura do "cabo de manobras" (ou cabo era essencial, acumulando funções de marinharia, liderança e, frequentemente, de combate.


(ii) As múltiplas funções do cabo de manobras


O cabo de manobras (pou marin heiro CM) era um praça especializado da Marinha, com funções técnicas e de comando em pequenas embarcações..Apesar de serem militares de baixa patente, cumpriam a missão de patrão, isto é, eram quem efetivamente conduzia e comandava a LDM ou LDP na operação diária.

Eles assumiam tipicamente o papel de patrão (comandante) das Lanchas de Desembarque Médias (LDM) e das Lanchas de Desembarque Pequenas (LDP), sendo responsáveis pela navegação, segurança, disciplina e missão operacional das suas guarnições.

Os cabos de manobras eram marinheiros promovidos que acumulavam experiência náutica e exerciam funções de comando prático nas lanchas,

As suas responsabilidades a bordo das LDM e LDP eram vastas e críticas para a operacionalidade destas embarcações em ambiente de guerra. As suas principais funções incluíam:
  • Manobra da embarcação: eram responsáveis por todas as manobras de atracação, desatracação, reboque e fundeio; a sua perícia era fundamental para a aproximação a margens não preparadas, para o desembarque e embarque rápido de fuzileiros e material, por vezes vezes sob fogo inimigo;
  • Navegação e governo da Lancha: nas LDP e LDM, o cabo de manobras assumia a função de patrão da lancha, sendo o responsável direto pela sua condução e segurança, navegando por rios traiçoeiros, com correntes fortes e pouca profundidade, er sujeitos a minas e emboscadas (a partir das margens);
  • Manutenção do aparelho do navio: tinham a seu cargo a conservação de todo o material de convés, como cabos, guinchos, ferros e a rampa de desembarque, um elemento crucial destas embarcações;
  • Funções de combate: dada a natureza do conflito e as tripulações reduzidas, os cabos de manobras operavam também o armamento a bordo, como as metralhadoras, e participavam ativamente na defesa da embarcação durante emboscadas e confrontos diretos.

(iii) Tripulações e armamento das LDM e LDP


A composição das tripulações e o armamento variavam consoante a classe da lancha, mas caracterizavam-se por serem reduzidas e multifuncionais.


Tipo de Embarcação | Tripulação Típica | Armamento
  • DM (Lancha de Desembarque Média) | Cerca de 6 praças (frequentemente um cabo como patrão e marinheiros) | 1 peça Oerlikon de 20 mm e 2 metralhadoras MG 42;
  • LDP (Lancha de Desembarque Pequena) | Cerca de 4 a 6 praças (um cabo como patrão e marinheiros) | Variava, podendo incluir 1 peça de 20 mm e/ou metralhadoras ligeiras
Estas embarcações eram a espinha dorsal da Marinha na Guiné, a par das LGG e ad das LFG, , assegurando a mobilidade das tropas num teatro de operações anfíbio. As suas missões iam desde o patrulhamento e escolta de embarcações civis ao desembarque de fuzileiros em zonas de combate e ao reabastecimento logístico de aquartelamentos isolados.


(iv) Memórias de dois cabos de manobras mortos em combate

Apesar das dificuldades em encontrar registos centralizados e detalhados de todas as baixas por especialidade, a investigação documental, nomeadamente em publicações como a "Revista da Armada" e em arquivos de veteranos, permite identificar casos concretos de sacrifício.

Um exemplo documentado é o do Cabo M n.º 2404, Jorge António Pereira.

A 7 de agosto de 1973, na região de Tancroal, no rio Cacheu, a LDM 113 que comandava foi violentamente emboscada. Atingida por fogo de lança-granadas (RPG), a lancha sofreu danos significativos. O Cabo Jorge António Pereira, que atuava como patrão da embarcação, teve morte quase imediata em resultado do ataque.

A sua morte, e a de tantos outros marinheiros, testemunha a dureza e os perigos constantes enfrentados pelas guarnições destas lanchas, que, com bravura e competência, foram um pilar fundamental do esforço de guerra português no território da Guiné. O cabo de manobras, em particular, personificava a resiliência e a polivalência exigidas naquele complexo teatro de operações.

Há ainda o caso, anterior também no TO da Guiné,da LDM 302, que registou oito ataques graves durante a sua vida: os dois primeiros verificaram-se em 1964, sem consequências, ocorrendo nova flagelação em 1965, da qual resultaram 30 impactes no costado, não se registando baixas no seu pessoal, para o que muito contribuiu a resposta imediata e eficiente da sua guarnição; nesse ano foi atacada de novo por mais duas vezes, sendo na última feridos 10 militares de uma unidade do Exército embarcada na lancha.

No dia 16 de dezembro de 1967 foi atacada e afundada no rio Cacheu, incidente que ocasionou a morte do seu patrão, MAR M Domingos Lopes Medeiros, e do GRT A Manuel Santos Carvalho (foram ambos condecorados a título póstumo na cerimónia do 10 de Junho de 1968, com a medalha de Cruz de Guerra de 3ª classe).

Trazida à superfície, a LDM 302 foi reparada em Bissau, e posta de novo a navegar. Logo no primeiro cruzeiro, seis meses depois e no mesmo local onde tinha sido anteriormente atacada - Porto Coco, no rio Cacheu - foi de novo atingida com violência, o que teve como consequência a morte do GRT A António Manuel, e ferimentos noutra praça.

De novo reparada, a lancha já não voltou mais ao Cacheu, passando a actuar no rio Grande de Buba, onde mais uma vez sofreu em Fevereiro de 1969 novo ataque, que causaram três feridos. Seria abatida em 30 de Novembro de 1972.(**)

Existem algumas fotos históricas destas lanchas e das suas guarnições, mas imagens individualmente identificadas de cabos manobras são raras. Em blogues de veteranos, como o "Luís Graça & Camaradas da Guiné", é possível encontrar fotografias de LDM (ex: LDM 203, LDM 302) com tripulantes, embora sem identificação detalhada dos cabos manobras ao nível individual. E sobretudo no blogue "Reserva Naval", do nosso amigo e camarada Manuel Lema Santos ( https://reservanaval.blogspot.com/ ).

Essas imagens retratam geralmente pequenas tripulações ao lado da embarcação ou em patrulha junto a margens de rios da Guiné, permitindo visualizar o ambiente operacional típico, mas raramente atribuem nomes diretamente aos cabos manobras.

Resumo: O cabo manobra era o patrão responsável pelo comando prático das LDM e LDP na Guiné, garantindo o cumprimento das missões navais de patrulha e apoio às operações terrestres e ribeirinhas. As fotos existem, mas raramente individualizam estes cabos; surgem geralmente em grupo junto às lanchas nas imagens de arquivo.

(Pesquisa: LG + assistente de IA / Gemini, ChatGPT)

(Revisão / fixação de texto: LG)
_________________


(**) Vd. poste de 

14 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15003: Notas de leitura (747): “A Epopeia da LDM 302”, por A. Vassalo, em BD, Edições Culturais da Marinha, 2011 (Mário Beja Santos)


28 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10084: Antologia (76): Vida e morte da gloriosa LDM 302, a cuja heróica guarnição pertenceu o marinheiro fogueiro Ludgero Henriques de Oliveira, natural da Lourinhã, condecorado com a Cruz de Guerra em 1968 (Manuel Lema Santos / Luís Graça)