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quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24605: (Ex)citações (422): Os Furriéis – De Explorados da República a Ícones da Guerra da Guiné (Manuel Luís Lomba)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil Cav da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), com data de 30 de Agosto de 2023, onde nos fala do posto militar mais barato que o Exército Português tinha, o furriel miliciano, dado que enquanto cabo (miliciano) fazia de sargento e enquando furriel fazia de oficial. Quantos e quantos camaradas nossos durante a suas comissões em África completaram o tempo de promoção a segundos sargentos milicianos e só se lambravam disso no momento da passagem à disponibilidade.


Os Furriéis – De Explorados da República a Ícones da Guerra da Guiné

O P24586 é o generativo deste escrito, a gratificação do Cherno Baldé aos furriéis, evocando as vivências na Guiné, e a foto do furriel Carlos Cunha, do furriel Abílio Duarte com criança guineense ao seu colo.

Recorrendo à Wikipédia, o termo furriel é modificação fonética do francês “fourrier”, derivado de “fourrage”, forragem em português, – era o vagomestre responsável das forragens e da palha do passadio dos muares das Companhias de Cavalaria.

O posto de furriel foi introduzido nas Companhias de Ordenanças por D. Manuel I, introduzido por D. João IV nas Tropas de Linha e extinto em 1884, pelo famigerado ministro e capitão de Engenharia Fontes Pereira de Melo. Das conversas quando jovem com o meu conterrâneo Joaquim Luís de Faria, soldado condutor de ambulâncias na Frente da Flandres, condecorado, promovido por distinção a cabo miliciano e passado à disponibilidade como furriel, guardo a memória oral que estes postos terão sido reintroduzidos pelo general Norton de Matos, no contexto da nossa participação na I Guerra Mundial. Sem recurso a fontes, a reintrodução do posto furriel pertencerá a esse nosso vulto histórico, salvo erro ou omissão.

Relembrando que a classe dos praças - os básicos e os cabos -, foram os mais explorados do Exército Português, deixo a dimensão da exploração militar e laboral de cada um ao juízo dos meus camaradas. As matérias e metodologias da instrução, a capacitação, eram comuns aos cursos e instrução de sargentos e oficiais milicianos – os dois volumes do Manual do Oficial Miliciano o seu livro único – a escolaridade formal era a sua discriminação: o 2.º ciclo dos liceus e equivalentes alçava a soldado instruendo do CSM, o 3.º ciclo dos liceus alçava a cadete do COM.

Os soldados instruendos do CSM saíam promovidos a cabos milicianos, passavam a desempenhar todos os serviços de sargentos e até dos oficiais subalternos, mas o pré de praças a sua remuneração, as ementas da messe de sargentos a sua única regalia; os cadetes instruendos do COM saíam promovidos a aspirantes a oficiais, remunerados com soldo de oficiais e as mesmas sinecuras.

A tropa ou não tinha ou o elevador social não funcionava, em matéria de serviço, a nivelação feita por cima. Os cabos milicianos eram investidos nos desempenhos dos praças, dos sargentos e até dos oficiais subalternos, eram pau para toda a obra, os aspirantes e alferes milicianos eram elitizados, longe de investidos no desempenho dos praças e dos sargentos…

Saí do CISMI promovido a cabo miliciano, fui colocado no RI 13, Vila Real, até à chegada do seu comandante, um reprovado da Academia Militar e passado a aspirante miliciano, comandei todo o mês de janeiro de 1964 um pelotão de cerca de 90 recrutas e a sua instrução, maioritariamente analfabetos, coadjuvado por outro cabo miliciano de Lamego e por dois cabos RD – um deles paciente do stress pós-traumático, sofrera as agruras de Nambuangongo -, estudava e cumpria as respetivas fichas e respondia ante o comandante da Companhia, capitão Carrapatoso – eu ganhava 90$00/mês, o aspirante veio ganhar 1.800$00/mês.

Mobilizado para a Guiné, era o ”mais antigo” da Companhia – diferença de duas décimas do saudoso Manuel Simas – substituí os outros furriéis operacionais e os alferes nos seus impedimentos - começara por substituir o vagomestre logo que chegamos e acabei a comissão a substituir o comandante do destacamento da Ponte de Camajabá, entre Buruntuma e Piche.

Em Buruntuma havia um grupo de milícia nativa com o efetivo de pelotão, comandado por um alferes de 2.ª linha fula, fui nomeado comandante dele, fui selecionador de outro grupo de igual efetivo e seu instrutor, o Manuel Simas foi mandado para meu adjunto – dois militares brancos com as divisas de furriel, comandavam dois alferes fulas de 2.ª linha, com galões de alferes…

A burro que muito anda, nunca falta quem o tanja. Como já abordei a relação histórica do posto furriel-cavalo, acrescento o provérbio popular da revolta do burro, analógico à nossa prestação militar: “burro para a azenha, burro para a lenha, burro para a eira, burro para a jeira e burro para a feira – irra de tão burro!”

Para terminar registo um nosso camarada histórico – o Zé do Telhado! E que os furriéis foram as vértebras da “coluna” do 25A74.

Honra aos Furriéis!...

____________

Nota do editor

Último post da série de 13 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24553: (Ex)citações (421): Vivendo na Suécia há já quase meio século, com família sueca, há muito que compreendi não existirem paraísos... Mas, atenção!, os suecos estão longe de serem ingénuos caçadores... de borboletas (José Belo, Suécia)

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24600: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (2): O percurso de muitos de nós: Tavira (CISMI), Elvas (BC 8), Tomar (RI 15), T/T Uíge...


Foto nº 6 > Tavira > CISMI > Recruta > 2º turno 1972 Ao centro o Machado; o camarada da esquerda não recordo o nome; eu, à direita, de óculos.




Foto nº 7 > Tavira > CISMI > 1972 > Quando acabei a especialidade (atirador).



Foto nº 8 > Elvas > BC 8 > A dar recruta 4º turno 1972 [os pelotões eram numerosos, contam-se aqui quase meia centena de homens; o Cruz é o oitavo da fila de pé, a contar da direita]



Foto nº 9 > Tomar > RI 15 > 1973 : A formar o BCAÇ 4513/72 mobilizado para a Guiné: eu e o Victor Domingues com o nosso aspirante Jorge, no meio, de blusão, a formar o 3º pelotão da 1ª companhia.



Foto nº 10> T/T Uíge > Março de 1973, rumo à Guiné: da esquerda para a direita, Raposo, Cruz, Victor Domingues e Félix.



Foto nº 11 > T/T Uíge > Março de 1973, rumo à Guiné: O pessoal a dar ao dente a bordo do Uíge: da esquerda para a direita, Loução, Félix, Baeta e o outro camarada não recordo o nome.


Foto nº 12 > T/T Uíge > Março de 1973, rumo à Guiné: à minha direita, o Félix e à esquerda o Victor Domingues.



Foto nº 13 T/T Uíge > Março de 1973, rumo à Guiné: - No Uíge com o Félix

Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos do álbum do António Alves da Cruz (*).  Já em 2014 tínhamos descoberto a sua página do Facebbok, e publicámos dois postes. Já  na altura fizemos o convite, formal, para se juntar ao nosso blogue,  o que veio acontecer agora: é o novo membro, nº 880 da Tabanca Grande (**).

Ele fez o percurso de muitos de nós: Tavira (CISMI), Elvas (BC 8), Tomar (RI 15), T/T Uíge, conforme documenta as fotos acima publicadas... E depois Bolama (CIM),  de acodo com o próximo poste.

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24586: Fotos à procura de... uma legenda (177): Foto do Abílio Duarte, tirada talvez pelo Cândido Cunha, em Fasse, Paunca: (i) "Furriel com um bebé ao colo"; (ii) "O capitão pode ser o chefão disto tudo, mas é o furriel que me dá a pica cá no sitio"; (iii) "Os furríeis podem ser os mais garbosos, mas quem me trazia as sobras eram os da ferrugem", etc. (Valdemar Queiroz / Chernmo Baldé / Carlos Vinhal / Eduardo Estrela / Luís Graça)


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Paunca > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > "Eu, dentro do possível, fazendo psico"...


Fotos (e legendas): © Abílio Duarte (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Seleção de comentários a propósito da foto acima, inserida no poste P24579 (*). Oportunidade para os nossos leitores acrescentarem algo mais â(s) legenda(s) possível(eis) (**):


(i) Valdemar Queiroz:

Como lisboetas, eu nem tanto, mas nem se notava os vincos da escorregadela na tábua, e o Duarte andávamos muitas vezes juntos, e grande parte das fotografias a ele próprio são tiradas por mim. Julgo que a da messe é uma delas.

Há muito poucas fotos tiradas em operações, ninguém se lembraria de levar ou nem sequer haver máquina.

Lembro-me daquela foto tirada no mato, o meu Pelotão também foi naquela Operação e eu estou numa imagem na distribuição de rações de combate.

Havia a moda dos slides com belas fotografias que ficaram por ser reveladas para papel. O Duarte tinha um slide extraordinário dum fim de tarde quente e poeirento em Canquelifá, ao vê-lo só falta ouvir algumas palavras em panjadinca que com este calor de agora até isso estamos a sentir.

Uma rectificação, uma das máquinas de fotografias existentes era do 1º. Cabo Pais de transmissões, já falecido, e não fur mil Pais de Sousa, mecânico.

Na bela fotografia do Duarte com uma criança ao colo, parece ser una menina (brincos e roncos) nas nossas acções de psico 'por uma Guiné melhor', talvez na pequena tabanca de Fasse (Paunca).

Esta menina devia ter sido uma bonita bajuda e agora mais de cinquenta anos deve ser uma bela avó que está numa fotografia ao colo de um tuga nos tempos da guerra.

Saúde da boa (,,,)

23 de agosto de 2023 às 14:50


(ii) Cherno Baldé:

Se algum dia tivesse que falar ou escrever sobre uma determinada tipologia ou classe do soldado português que nós admirávamos, essa seria a dos Furrieis, não porque os tivesse conhecido ou convivido de perto, mas porque, no ambiente que conhecemos, na altura, no seio de uma companhia de quadrícula, eles se destacavam por certas características (juventude, empatia, boa disposição, garbo militar, sobriedade, entre outros) que os faziam parecer distintos e, certamente, mais simpáticos que o resto da Malta, era como se tivessem sido especialmente escolhidos a dedo.

É verdade que não se pode generalizar, mas era a impressão com que, na altura, nós ficávamos e, assim como no futebol todos queriam ser o Eusébio e do Benfica, também o Furriel era o nosso modelo preferencial nos momentos das brincadeiras a imitar os adultos.

Em contrapartida, ninguém queria fazer o papel do velho e "rabugento" Sargento da companhia, cuja figura se situava nas antípodas dos Furríeis. Se calhar era o resultado dos conflitos próprios inerentes às suas funções no seio das corporações que fazia com que não fosse muito apreciado dos restantes soldados da companhia.

No entanto, ainda me lembro da parte de uma canção que as bajudas da minha terra, mais discretas e criativas, inventaram para fazer eco destas imagens recriadas a partir das observações sobre os soldados metropolitanos, mostrando o quão a nossa comunidade apreciava os nossos jovens e irrequietos soldados portugueses durante a guerra na Guiné (traduzido da língua fula):

"O Capitão bem que pode ser o chefão cá do sítio, mas é o Furriel que me dá a picadela (injecção) no sitio".

Confesso que, ainda hoje, não consigo vislumbrar o significado desta estrofe da canção, mas nunca mais desapareceram do meu espírito as vozes ritmadas das meninas a cantar nas nascentes e lagoas, enquanto batiam com toda a sua força os pesados camuflados nas pedras de lavar a roupa, tendo como fundo o espaço verde e límpido da nossa bolanha no rio Suncujuma, em Fajonquito.

Mas, colocando à parte o imaginário infantil que nos habitava, na altura, os meus verdadeiros amigos eram os condutores e mecânicos auto entre os quais fiz amizades que perduraram no tempo. Infelizmente, pela lei da vida, estão a partir pouco a pouco para a outra dimensão. No ano passado partiu o Elsa (Oliveira) que, pela primeira vez na vida me entregou o volante do seu Unimog para uma experiência única inesquecível.

Assim, também, apetece dizer que "os Furríeis podem ser os mais garbosos, mas quem me trazia as sobras eram os da Ferrugem".

23 de agosto de 2023 às 20:24


(iii) Carlos Vinhal:

Caro amigo Cherno, o "furriel" Vinhal agradece a tua apreciação sobre a sua classe.

Dizes muito bem, os nossos homens da "ferrugem" eram diferentes para melhor. Lembro-me de o pequeno Salifo, cuja mãe tinha sido morta num golpe de mão a uma tabanca "inimiga", ter sido trazido para o quartel e ficar ao cuidado dos nossos mecânicos. 

Dormia nas suas instalações e eram eles que também lhe proporcionavam roupa e comida, além de lhe ensinarem português em troca de ele ensinar crioulo. Era muito pequenino, teria uns 5 anos.

Às vezes era nosso convidado na messe, onde lhe dávamos-lhe lições de "etiqueta", ensinando-o a comer com talheres, o que para ele era muito difícil. De vez em quando, fazíamos de conta, olhávamos para o lado para ele comer como lhe dava mais jeito, com as suas mãozitas.

Um dia o avô, que vivia na tabanca, exigiu o menino de volta,  o que foi para nós um desgosto. Mas compreendemos.

Pessoalmente, não convivi muito com a população de Mansabá, apesar dos 22 meses de quadrícula: primeiro por me sentir um "invasor" e me achar porventura mal recebido; segundo porque tinha muito trabalho no quartel, além da actividade operacional;  e terceiro ser pouco sociável, fruto talvez do facto de ser filho único e estar habituado a estar só e a não sentir necessidade de conversar.

No entanto, nos momentos de contacto social, fui sempre cortês e respeitador para com aquelas pessoas que eram diferentes de mim porque eram diferentes os seus usos e costumes. Não sendo os africanos, nem mais nem menos do que nós europeus, porque carga de água haviam de ser "convertidos" ao cristianismo? (...)

23 de agosto de 2023 às 22:13

(iv) Valdemar Queiroz:

Tens razão, Cherno Baldé, os Furriéis milicianos eram uns bacanas. Poderia haver um ou outro palerma mais a maioria eram uns gajos porreiros.

Repara como o ex-Furriel miliciano Abílio Duarte pega ao colo a criança-bebé, repara no seu braço esquerdo que a envolve, a segura com todo o cuidado para não cair e aconchegando ao mesmo tempo para não chorar com um "chiu" sorridente para não a assustar.

Esta fotografia é uma obra d'arte, repare-se no braço que segura a menina.
Como não sabemos a patente do militar fotografado,  podemos catalogá-la : "Furriel com um bebé ao colo".

Julgo que a fotografia foi tirada pelo furriel mil Càndido Cunha que era do Pelotão do Abílio Duarte.

Saúde da boa (...)
 
23 de agosto de 2023 às 23:56

(v) Eduardo Estrela:

Subscrevo por inteiro os vossos comentários mas retenho o do Carlos que diz...." Aquelas pessoas que eram diferentes de mim por serem diferentes os seus usos e costumes ".

Em suma, a sua cultura que era tão ou mais valiosa do que a nossa.

Os furriéis milicianos tinham que gramar com os seus superiores e ouvir e conciliar os seus subordinados.

Para além de que, duma forma menos direta, contribuíram para que o 25
de Abril fosse em 1974 e não em data posterior.

Abraço fraterno. (...)

24 de agosto de 2023 às 13:16

(vi) Luís Graça:

Querem história mais linda do que a do nosso camarada e amigo Manuel Joaquim, ex-fur mil armas pesadas inf da CCAÇ 1419 (Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), hoje professor do ensino básico reformado, que trouxe para a sua casa e educou, como padrinho, o "nosso minino Adilan", o Zé Manel, o José Manuel Sarrico Cunté...

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2015/12/guine-6374-p15500-decaras-26-os-homens.html

Mais do que ser furriel, sargento, alferes ou capitão, miliciano ou do quadro, é(era) a formação humana e moral de cada um de nós que conta(va)... no trato com a população da Guiné... E, claro, a liderança, a orientação superior, o exemplo que vem de cima...

Eu posso dizer que, no geral, tive orgulho nos camaradas que me couberam em sorte (praças, graduados, especialistas, europeus e africanos). Claro, como em todos os rebanhos, há sempre uma "ovelha ranhosa"...

24 de agosto de 2023 às 15:15

__________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 23 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24579: Por onde andam os nossos fotógrafos ? - Parte IIB: Abílio Duarte, ex-fur mil art, CART 2479 / CART 11, “Os Lacraus” (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)

quinta-feira, 7 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23414: Blogpoesia (773): A CCS, "Era aquela Companhia", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 - Parte I - (2)

1. Lembremos a mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70) com data de 5 de Julho de 2022:
Bom Dia Carlos Vinhal, Bom Dia Tabanca Grande
Desta vez é, "ERA AQUELA COMPANHIA", parte 1, e depois será a segunda parte.
E muito mais haverá para enviar à Tabanca. É que agora pensei em não te dar sossego , é muito o trabalho aqui acumulado.

Para todos os que habitam na Tabanca Grande vai um bom abraço em especial para os Chefes de Tabanca.
Albino Silva




ERA AQUELA COMPANHIA

Parte I - (2/2)


Santos era o Sargento
Era um pouco desordeiro
Mas era excelente pessoa
E muito bom corneteiro.

Fernando Guerreiro Nunes
Outro Sargento então
Na CCS como nós
A cumprir sua Missão.

Sargento Alfredo António
Na Oficina a trabalhar
Como era bom mecânico
Punha os motores a roncar.

O Furriel Moreira
Era Rádiomontador
Fazia o que sabia
Mudava bem o transístor.

O Nunes era mecânico
E Furriel também
Com rajadas na bolanha
Vendo se tudo estava bem.

Como era mecânico de armas
Para ver se estavam zeladas
Mandava fazer ensaios
Tiro a tiro e rajadas.

O Furriel Garrido
Um militar verdadeiro
Não ligava puto à tropa
E era ele Enfermeiro.

Como era responsável
Lá naquela Enfermaria
O trabalho que era dele
Era eu que o fazia.

Furriel Guimarães
Aquele bom bracarense
Em Teixeira Pinto então
Na CCS Amanuense.

Era bom camarada
Todo o soldado dizia
Estivesse ou não de serviço
Ou mesmo de sargento dia.

O Aires bom Furriel
Brincalhão bem humorado
Cumpria bem seu dever
Andava por todo lado.

O Furriel Carvalho
Miliciano e bom
Era ele o responsável
Pela nossa alimentação.

No seu Depósito de Géneros
Onde ele tudo guardava
Quando mais nada havia
Na bolanha ele pescava.

Ele era bom brincalhão
Se podia desenrascava
Quantas vezes em canecas
O vinho que ele me dava.

O Furriel Ribeiro
Sapador a comandar
Nos mais variados serviços
Cumpriu bem a trabalhar.

Com serviços no Quartel
Sua equipa comandar
Com ele estive na Ponte
Quando a fomos guardar.

Coimbra N. Furriel
De Amanuense fazia
Era bom miliciano
Lá na nossa Companhia.

Até o Furriel Freitas
No Pelotão de Reconhecimento
Mais tarefas praticava
Sempre que tinha um momento.

Nosso Furriel Rodrigues
Comandava as Transmissões
Recebia e transmitia
Em várias ocasiões.

Furriel Miliciano Sena
Reconhecimento e Informação
E quando jogava à bola
O Sena era mesmo bom.

O Furriel Fernandes
Comandava secção
Como era Sapador
Na CCS era bom.

Também o Silva Rodrigues
Sapador a comandar
Em tantos e mais serviços
Cumpriu sempre a trabalhar.

Na CCS o Lima Pereira
Era outro Furriel
Lá em sua secção
Fazia bem seu papel.

Havia outro Amanuense
O Furriel Amaral
Pertencia à CCS
E como nós era igual.

O Furriel Almeida
No Reconhecimento lá estava
Procurando tudo aquilo
Que no Quartel faltava.

O Furriel Ferreira
Na CCS do Batalhão
Dizia o que mais sabia
Pois era da informação.

Depois de Oficiais e Sargentos
Muitos Cabos lá haviam
Uns que faziam tudo
Outros que nada faziam

Com Alferes e Tenentes
Furriéis muitos havia
Sargentos e muitos Cabos
E Soldados da Companhia

Gostando de falar da Tropa
Porque dela não esqueci
Numa espécie de brincadeira
Assim isto escrevi.

Foi escrito sem maldade
Com todos brinquei assim
Lembrei Oficiais e Sargentos
Tudo escrito por mim.

Tenho mais para escrever
Continuar na brincadeira
Pois lembrar bons Camaradas
Acho ser boa maneira.

É dos Cabos que vou começar
Depois passarei ao Soldado
Depois de fazer isto tudo
Dou meu trabalho acabado.

Parte um e parte dois
E como na Guiné dizia
Com o mesmo nome que dei
Era aquela companhia.

FIM DA 1ª PARTE

Segue com Cabos e Soldados
____________

Nota do editor

Último poste da série de 5 de Junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23411: Blogpoesia (772): A CCS, "Era aquela Companhia", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 - Parte I - (1)

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18927: Furriéis que tombaram no CTIG (1963-1974), por acidente, combate e doença - Parte II: Em combate (n=139) (Jorge Araújo)


Lisboa > Olivais Norte > A Rua Furriel João Nunes Redondo / Morto na Guiné ao Serviço da Pátria / 1963 ficou na Rua F da Zona dos Olivais Norte.

"João Nunes Redondo (Ílhavo /? – 22.03.1963/Guiné), era um Furriel Miliciano que quando estava no sul da Guiné, na Tabanca do Cubaque, a proceder ao levantamento de minas, verificou que o dispositivo de disparo de um dos engenhos fora inadvertidamente acionado por um dos sapadores que o auxiliavam na tarefa e, deliberadamente, lançou-se sobre a mina prestes a explodir, que o vitimou de imediato evitando a morte dos camaradas próximos. A título póstumo, foi agraciado com o grau de Cavaleiro com Palma da Ordem Militar da Torre de Espada e foi promovido a Sargento Ajudante, a 12 de março de 1964. O seu nome consta também na toponímia da sua terra natal como Rua Sargento Nunes Redondo." (Fonte: Toponímia de Lisboa > 13 de fevereiro de 2017 > Mortos na Guiné e Angola, em 1963, na toponímia de Olivais Norte) (Foto: Sérgio Dias, com a devida vénia... Reeditada pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).




Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do nosso blogue


OS 221 FURRIÉIS QUE TOMBARAM NO CTIG [1963-1974] (POR ACIDENTE, COMBATE E DOENÇA) - Parte II: Em combate  (n=139)

Sinopse:

Na sequência da actualização da lista dos camaradas «Alferes» que tombaram no CTIG (1963-1974), publicada no P18860, anexo agora a referente aos camaradas «Furriéis», apresentando-a ao Fórum organizada segundo a mesma metodologia anterior, ou seja, por quadros de categorias (acidente, combate e doença) e por ordem cronológica.

Para que não fiquem na "vala comum do esquecimento", como é timbre do nosso blogue, eis os quadros estatísticos dos 221 (duzentos e vinte e um) furriéis, nossos camaradas, que tombaram durante as suas Comissões de Serviço na Guerra no CTIG, por diferentes causas: combate (n=139), acidente (n=68)  (*) ou doença (n=14).


2- QUADROS POR CATEGORIAS E ORDEM CRONOLÓGICA (Continuação)




















Jorge Araújo

(Continua)
________________

Nota do editor:

Último poste da série > 15 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18924: Furriéis que tombaram no CTIG (1963-1974), por acidente, combate e doença - Parte I: Por acidente (n=68) (Jorge Araújo)

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18925: Furriéis que tombaram no CTIG (1963-1974), por acidente, combate e doença - Parte I: Por acidente (n=68) (Jorge Araújo)


A linha vermelha, ligando o Xime (aquartelamento) e a Ponta Coli (local da segurança), na estrada Xime-Bambadinca, era o itinerário diário utilizado pelas NT. Linha vermelha para Sul, zona de emoções fortes (antiga estrada Xime-Ponta do Inglês), onde se verificaram muitas baixas de ambos os lados (NT e PAIGC), ao longo da guerra.


Xime (Abril de 1972) – Elementos do 4.º Gr Comb, o grupo que sofreu duas emboscadas na Ponta Coli (estrada Xime-Bambadinca) – a primeira, em 22 de Abril de 1972; a segunda, em 1 de Dezembro de 1972 [vidé P9698 e P9802]. Até à 1.ª data, a CART 3494 foi comandada pelo cap. Vítor Manuel da Ponte Silva Marques (?-2004) [P15470]. Em 22 de Junho desse ano, o cap. António José Pereira da Costa [membro da n/ Tabanca] chegou ao Xime para render o cap. Silva Marques, ausente após a 1.ª emboscada.

Imagem acima: de cócoras, da esquerda para a direita – Manuel Bento (furriel; 1950-1972.04.22), Jorge Araújo (furriel) e Sousa Pinto (Furriel; 1950-2012.04.01), os três “quadros de comando” do 4.º Gr Comb.

Esta imagem foi obtida alguns dias antes da primeira emboscada, onde viria a falecer o camarada Manuel Bento, natural de Galveias, Ponte de Sôr, a única baixa em combate do contingente da CART 3494, nos mais de vinte e sete meses de comissão (1971-1974).


Subsector do Xime (08Fev1970), heli evacuação de feridos em Madina Colhido, durante a «Op Boga Destemida», envolvendo a CART 2520 (1969/70) e CCAÇ 12 (1969/71) – [P16762].

Em 26NOV1970, na «Op Abencerragem Candente», o mesmo cenário envolvendo a CART 2714, CART 2715 e CCAÇ 12, num total de 8 Gr Comb. Dos combates travados com a guerrilha, as NT tiveram 6 mortos e 9 feridos graves. Um dos mortos foi o camarada furriel Joaquim Araújo Cunha, natural de Outeiro, Barcelos, da CART 2715, unidade sediada no Xime, comandada pelo cap aet Vítor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014).


Em 14NOV1968 (três anos e meio antes do episódio da CART 3494), em emboscada na Ponta Coli (estrada Xime-Bambadinca) morreu o furriel Fernando Maria Teixeira Dias, natural de São Simão, Amarante, da CART 1746, comandada pelo cap mil António Gabriel Rodrigues Vaz (1936-2015) [P11522].




Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do nosso blogue


OS 221 FURRIÉIS QUE TOMBARAM NO CTIG [1963-1974] (POR ACIDENTE, COMBATE E DOENÇA) - Parte I: Acidente (n=68)


1. INTRODUÇÃO

Na sequência da actualização da lista dos camaradas «Alferes» que tombaram no CTIG (1963-1974), publicada no P18860 (*), anexo agora a referente aos camaradas «Furriéis», apresentando-a ao Fórum organizada segundo a mesma metodologia anterior, ou seja, por quadros de categorias (acidente, combate e doença) e por ordem cronológica.

Porém, admitimos a hipótese desta lista estar incompleta, uma vez que existem alguns casos de ex-combatentes que tombaram nos diferentes TO que estão ainda por registar e/ou recensear, como são os exemplos de dois dos três camaradas da minha CART 3494, naufragados no rio Geba em 10AGO1972 [faz quarenta e seis anos], cujos corpos não apareceram e daí não fazerem parte dos documentos oficiais [P10246]. São eles: o Abraão Moreira Rosa (Sold; 1950-1972), da Póvoa de Varzim [registo do óbito em 23Nov1973], e o Manuel Salgado Antunes (Sold; 1950-1972), de Quimbres, São Silvestre, Coimbra [registo do óbito em 21Fev1973].

Entretanto, em homenagem a todos aqueles que não regressaram para junto dos seus familiares, aqui recordo os nomes de três furriéis, todos eles falecidos em combate no subsector do Xime, com intervalos de dois anos, região onde vivi, convivi e sobrevivi a muitas situações… francamente difíceis e de grandes emoções/tensões.

● Em 14NOV1968 – o furriel Fernando Maria Teixeira Dias, da CART 1746.

● Em 26NOV1970 – o furriel Joaquim Araújo Cunha, da CART 2715.

● Em 22ABR1972 – o furriel Manuel Rocha Bento, da CART 3494.

Para que não fiquem na "vala comum do esquecimento", como é timbre no nosso blogue, eis os quadros estatísticos dos 221 (duzentos e vinte e um) furriéis, nossos camaradas, que tombaram durante as suas Comissões de Serviço na Guerra no CTIG, por diferentes causas: combate (n=139), acidente (n=68)  ou doença (n=14).


2. QUADROS POR CATEGORIAS E ORDEM CRONOLÓGICA










Jorge Araújo

(Continua)
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Notas do editor: