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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25177: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Anexos: II. Comandos Africanos: breve cronologia.

 

Capa do livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il., edição esgotada) 




O autor, em Bafatá, sua terra natal, por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149)


1. Ainda com base no manuscrito, digitalizado, do livro do Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il., edição esgotada) (*), vamos publicar os "Anexos" (pp. 287-299).

O nosso camarada e amigo Virgínio Briote, o editor literário ou "copydesk" desta obra , facultou-nos uma cópia digital. (O Virgínio, com a sua santa paciência e a sua grande generosidade, gastou mais de um ano a ajudar o Amadu a pòr as suas memórias direitinhas em formato word, a pedido da Associação dos Comandos, a quem, de resto, manifestamos também o nosso apreço e gratidão...).

O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem mais  de 120 referências no nosso blogue. Tinha um 2º volume em preparação, que a doença e a morte não lhe permitaram ultimar. As folhas manuscritaas foram entregues ao Virgínio Briote com a autorização para as transcrever (e eventualmente publicar no nosso blogue). Desconhecemos o seu conteúdo, mas já incentivámos o nosso coeditor jubilado a fazer um derradeiro esforço para transcrever, em word, o manuscrito do II volume (que ficou incompleto). E ele prometei-nos que ia começar a fazê-lo, "para a semana"...

Anexos


II. Comandos Africanos: breve cronologia (pp. 288/289)

  • 23Abr69:

despacho do Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, Brigadeiro António de Spínola, determinando a selecção de militares destinados à formação de quadros destinados à Companhia de Comandos a organizar oportunamente e constituídos na sua totalidade por elementos guineenses;

  • 14Jul69:

início do estágio de instrução de quadros para a futura Companhia de Comandos Africana, a cargo da 15ª CCmds (Capitães Garcia Lopes e Barbosa Henriques).

  • 6Set69:
final do estágio de instrução;

  • 5Dez69:

colocação na CCmds Africana de 1ºs  cabos milicianos do recrutamento da Guiné, do 1º Curso de Sargentos Milicianos efectuado em Fá Mandinga, sob a responsabilidade da 15ª CCmds;
  • 5Jan70:

início da recruta de militares do 1º turno de 1969 e dos voluntários para a formação da 1ª CCmds Africana, a iniciar em 14 de Fevereiro de 1970 (em Fá Mandinga, Sector L1, Bambadinca);
  • 13Fev70:

cerimónia de graduação de oficiais e sargentos que foram integrar a CCmds Africana;

  • 14Fev70:

início da 1ª fase do curso de Comandos;

  • 21Jun / 15Jul70:

treino operacional na região de Bajocunda;

  • 15Jul70:

fim do curso em Fá Mandinga e constituição da 1ª CCmds Africana, comandada pelo Tenente Graduado João Bacar Jaló, tendo como supervisor o Major Comando Leal de Almeida; colocada em Fá Mandinga, ficou como unidade de intervenção e reserva do Com-Chefe; a partir desta data, manteve-se em reforço do COT 1, em face do aumento da pressão IN. na área, até finais de Set70, tendo recolhido depois a Fá;

  • 30out-7nov70:

foi atribuída como reforço ao sector L1 (Bambadincva), efectua operações no Enxalé;

  •  21/22 Nov70:

operação “Mar Verde”, Conakry.

  • princípios de Dez70 / finais de Jan/71:

destacou 3 pelotões para reforço temporário das guarniçõe de Gadamael e Guileje;

  • de fevereiro a meados de Julho de 1971:

reforço a outros sectores, fez operações  nas zonas de Nova Sintra, Brandão, Jabadá e Bissássema;

  • 12Jun/20Set71:

2º curso de Comandos Africanos; c onstituição da 2ª CCmds Africana e recompletamento da 1ª CCmds; nomeados supervisores da 2ª e 1ª CCmds Africanas os Capitães Comandos Miquelina Simões e Ferreira da Silva.


  • de finais de Julho até Agosto de 1971,

a 1ª CCmdfs esteve em Bolama para recuperação, deslocando-se depois pra Brá, Bissau, nas instalações do futur0 BCmds da Guiné:

  • 30Nov71:

criado o Destacamento de Unidades de Comandos em Brá, sob o comando do Major Leal de Almeida, sendo 2º Comandante o Capitão Miquelina Simões, acumulando com o cargo de supervisor da 2ª CCmds Africana;

  • Out71/set72
a 1ª e a 2ª CCmds Africanos participam, em conjunto,  em ações em Candocea Beafaa (6Out71), Choquemone (18-12Out71), Tancroal (29Out/1Nov71),MOrés (20/24Dez71 e 7-12Fev72),Gussará-Tambicoó (30Mai-3Jun72),pensínsula de Gampará (11-15Nov71 e 24/28Nov71), Caboiana-Churo(28Ab-1Mai72, 26/28JJun72,19/21Dez72) e na região de Salancaur-Unal-Guileje (28Mar-8Abr72).

  • 30Jun/30Set72:

3º curso de Comandos Africanos em Fá Mandinga, destinado à formação da 3ª CCmds;

  • 29Set72:

extinção do Destacamento de Unidades de Comandos;

2Nov72:

nomeação do Comandante e 2º Comandante do BCmds da Guiné, respectivamente o Major Comando Almeida Bruno e Capitão Comando Raul Folques, tendo como supervisores os Capitães Comandos Baptista da Silva da 1ª CCmds, Miquelina Simões da 2ª, Baptista Serra, da 3ª e Matos Gomes da 1ª CCmds.
  • 3Nov72:

cerimónia da constituição do Batalhão de Comandos da Guiné, com a presença do Governador e Comandante-Chefe, onde foram entregues os crachás aos novos Comandos, graduados oficiais e sargentos e entregues os guiões à 3ª CCmds e ao Batalhão de Comandos da Guiné;

  • 1Abr73:

extintas as equipas de supervisão.

  • 30Mai73:

nomeação de uma equipa do BCmds para representarem as Tropas Africanas do CTIG na exposição “Paz e Progresso”, realizada em Lisboa, entre 10 e 24 de Junho de 1973;

  •  29Jun73:

comemorado pela 1ª vez na Guiné o “Dia do Comando”, com a presença do General Comandante-Chefe e de todos os Comandantes, Directores e Chefes da Armada, Exército e Força Aérea: nesta cerimónia, os Comandos do 4º curso juraram Bandeira e receberam os crachás e foram graduados novos oficiais e sargentos; o comando do Batalhão de Comandos da Guiné foi entregue ao Major Raul Folques.

  • 1Mar/29Jun73:

4º curso de Comandos;

  • 15Nov73/31Jan74:

5º curso de Comandos;

  • 7/Set974
extinção do BCMds da Guiné.



Guiné > Brá > 1973 > O furriel graduado 'comando' Cicri Vieira a cumprimentar o Major Raul Folques, comandante do Batalhão de Comandos da Guiné (no período de 28jul73 a 30abr74) (O major Raul Folques sucedeu ao major Almeida Bruno). (Foto publicada no livro do Amadu Djalõ, na pág. 197).





Lisboa >  2009 >  Da esquerda para a direita, o cor inf 'comando' ref Raul Folques e o ten general 'comando' ref Almeida Bruno (os dois primeiros comandantes do Batalhão de Comandos da Guiné, e ambos Torre e Espada) e o saudoso grã-tabanqueiro Amadu Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015).

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2015). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Fichas de unidade (CECA, 2002)


Batalhão de Comandos da Guiné

Identificação: BCmds

Crndt: Maj Cav Cmd João de Almeida Bruno | Maj Inf Cmd Raul Miguel Socorro Folgues | Maj Inf Cmd Florindo Eugénio Batista Morais

2º Crndt: Cap Inf Cmd Raul Miguel Socorro Folgues | Cap Inf Cmd João Batista Serra | Cap Cav Cmd Carlos Manuel Serpa de Matos Gomes | Cap Art Cmd José Castelo Glória Alves

Início: 02Nov72 | Extinção: 07Set74

Síntese da Actividade Operacional

A unidade foi criada, a título provisório, em 2Nov72, a fim de integrar as subunidades de Comandos da Metrópole em actuação na Guiné e também as CCmds Africanas, passando a superintende no seu emprego operacional e no seu apoio administrativo e logístico.

Em 1Abr73, o BCmds foi criado a título definitivo, tendo a sua organização sido aprovada por despacho de 21Fev73 do ministro do Exército..

Desenvolveu intensa actividade operacional, efectuando diversas operações independentes em áreas de intervenção do Comando-Chefe ou em coordenação com os batalhões dos diferentes sectores onde as suas forças foram utilizadas, nomeadamente nas regiões de Cantanhez (operação "Falcão Dourado", de 15 a 19Jan73, e operação "Kangurú Indisposto", de 21 a 23 Mar73); de Morés (operação "Topázio Cantante", de 25 a 27Jan73); de Changalana-Sara (operação "Esmeralda Negra", de 13 a j 6Fev73); de Morés e Cubonge (operação "Empresa Titânica'', de 27Fev73 a 0IMar73); de Samoge-Guidage (operação "Ametista Real", em 20 e 2IMai73); de Caboiana (operação "Malaquite Utópica", de 21 a 22 Jul73 e operação "Gema Opalina", de 24 a 27Set73); de Choquernone (operação "Milho Verde/2", de 14 a 17Fev74); de Biambifoi (operação "Seara Encantada", de 22 a 26Fev74) e de Canguelifá (operação "Neve Gelada", de 21 a 23Mar74), entre outras. As suas subunidades, em especial as metropolitanas, foram ainda atribuídas em reforço de outros batalhões, por períodos variáveis, para intervenção em operações específicas ou reforço continuado do respectivo sector.

Das operações efectuadas, refere-se especialmente a operação "Ametista Real", efectuada de 17 a 20Mai73, em que, tendo sofrido 14 mortos e 25 feridos graves, provocou ao inimigo 67 mortos e muitos feridos, destruindo ainda 2 metralhadoras antiaéreas e 22 depósitos de armamento e munições com 300 espingardas, 112 pistolas-metralhadoras, 100 metralhadores ligeiras, 11 morteiros, 14 canhões sem recuo, 588 lança-granadas foguete, 21 rampas de foguetão 122, 1785 munições de armas pesadas, 53 foguetões de 122,905 minas e 50.000 munições de armas ligeiras.

Destacou-se também, pela oportunidade da intervenção e captura de 3 morteiros 120,367 granadas de morteiro, 1 lança granadas foguete e 2 espingardas e 26 mortos causados ao inimigo, a acção sobre a base de fogos que atacava Canquelifá, em 21Mar74.

Em 20Ag074, as três subunidades de pessoal africano foram desarmadas, tendo passado os seus efectivos à disponibilidade.

Em 7Set74, o batalhão foi desactivado e exinto.

Observações - Não tem História da Unidade.

CECA (2002), pp. 646/647

1ª Companhia de Comandos Africanos

Identificação:  1ª CCmdsAfr

Crndt: Cap Grad Cmd João Bacar Jaló |Ten Grad Cmd Abdulai Queta Jamanca | Ten Grad Cmd Cicri Marques Vieira | Cap Grad Cmd Zacarias Saiegh

Início: 9Ju169 | Extinção: 7Set74

Síntese da Actividade Operacional

Foi organizada em Fá Mandinga a partir de 09Ju169, exclusivamente com pessoal natural da Guiné e foi formada com base em anteriores Grupos de Comandos existentes junto dos batalhões, tendo iniciado a sua instrução em 6Fev70 e efectuado o juramento de bandeira em 26Abr70.

A subunidade ficou colocada com a sede em Fá Mandinga, com a missão de intervenção e reserva do Comando-Chefe, após ter terminado o seu treino operacional na região de Bajocunda, de 2IJun70 a 15Ju170, e onde, seguidamente, se manteve em reforço do COT 1, em face do aumento da pressão
inimiga na área, até finais de Set70, tendo então recolhido a Fá Mandinga.

A partir de 300ut70, foi atribuída em reforço de vários sectores, tendo tomado parte em operações nas regiões de Enxalé, de 300ut70 a 07Nov70, na zona de acção do BArt 2927; de Nova Sintra, Brandão, Jabadá e Bissássema, de Fev71 a meados de Julho71, em reforço do BArt 2924. 

Tomou ainda parte na operação "Mar Verde", em 21 e 22Nov70, em acção sobre Conacri e destacou três pelotões para reforço temporário das guarnições de Gadamael e Guileje, de princípios de Dez70 a finais de Jan71.

Em finais de Ju171, seguiu de Tite para Bolama, para um curto período de descanso e recuperação, tendo, em meados de Ago71, passado a ficar instalada em Brá (Bissau), nas instalações do futuro BCmds.

Seguidamente, passou a efectuar operações conjuntas com a 2ª CCmds Afr, em regiões diversas, nomeadamente nas regiões de Cancodeá Beafada, em 60ut71; do Choquemone, de 18 a 220ut71; de Tancroal, de 290ut71 a 1Nov71; do Morés, de 20 a 24Dez71 e de 7 a 12Fev72; de Gussará-Tambicó, de 30Mai72 a 3Jun72 e ainda as operações preparatórias e de consolidação da instalação do COP 7 na pensínsula de Gampará (operação "Satélite Dourado", de 11 a 15Nov71 e a operação Pérola Amarela", de 24 a 28Nov71). 

Tomou também parte em operações desenvolvidas pelo CAOP 1, na região de Caboiana-
-Churo, de 28Abr71 a 1Mai72, de 26 a 28Jun72 e de 19 a 21Dez72 e pelo COP 4, na região de Salancaúr-Unal-Guileje, de 28Mar72 a 08Abr72.

Em 2Nov72, foi integrada no BCmds, então criado, tendo tomado parte em todas as operações planeadas e comandadas por este e tendo ainda sido atribuída algumas vezes para realização de operações desenvolvidas pelos sectores ou comandos equivalentes.

A 1ª CCmdsAfr foi desactivada e extinta em 7Set74, com as restantes forças do BCmds.

Observações - Não tem História da Unidade.

CECA (2002), pp. 648/649

2ª Companhia de Comandos Africanos

Identificação 2.a CCmdsAfr
Cmdt: Ten Grad Cmd Mamadu Saliu Bari | Ten Grad Cmd Adriano Sisseco | Ten Grad Cmd Armando Carolino Barbosa
Início: 15Abr71 | Extinção: 7Set74

Síntese da Actividade Operacional

Foi organizada e instruída em Fá Mandinga a partir de 15Abr71 exclusivamente com pessoal africano natural da Guiné e foi formada com base em anterior Grupos de Comandos existentes junto dos batalhões e com graduados vindos da 1ª CCmds Afr, tendo realizado o treino operacional de 28Ag071 a 23Set71, o qual incluiu a participação em operações realizadas nas regiões de Sancorlá-Cossarandim e Ponta Varela, no sector do BArt 2917.

A subunidade ficou colocada em Fá Mandinga, com a função de intervenção e reserva do Comando-Chefe, tendo sido atribuída inicialmente ao BArt 2917, com vista à realização de operações nas regiões de Malafo-Enxalé, em 10/11Set71 e Gã Júlio, de 2 a 40ut71.

Em meados de Out71, passou a ficar instalada em Brá (Bissau) nas instalações do futuro BCmds, em conjunto com a 1ª CCmds Africana com a qual passou a tomar parte em operações realizadas em regiões diversas, nomeadamente nas regiões de Cancodeá Beafada, em 60ut71; do Choquemone, de18 a 220ut71; de Tancroal, de 290ut71 a 01Nov71; do Morés, de 20 a 24Dez71 e de 7 a l2Fev72; de Gussará-Tambicó, de 30Mai72 a 03Jun72 e ainda as operações preparatórias e de consolidação da instalação do COP 7 na península de Gampará (operação "Satélite Dourado", de l l a 15Nov71 e
operação "Pérola Amarela", de 24 a 28Nov71.

Tomou também parte em operações desenvolvidas pelo CAOP 1 na região de Caboiana-Churo, de 28Abr71 a IMai72, de 26 a 28Jun72 e de 19 a 21Dez72 e pelo COP 4, de 28Mar72 a 08Abr72. 

Realizou ainda operações em diversas zonas de acção, nomeadamente na região de Suarecunda, em 17Jan72 e de 18 a 21Mai72, no sector do BCaç 3832 e de Sare Bacar, em 06Mai72, no sector do BCav 3864, entre outras.

Em 2Nov72, foi integrada no BCmds, então criado, tendo tomado parte em toda as operações planeadas e comandadas por este batalhão e tendo ainda sido atribuída algumas vezes para realização de operações desenvolvidas pelos sectores ou comandos equivalentes.

A 2ª CCmds Afr foi desactivada e extinta em 07Set74, com as restantes forças do BCmds.

Observações - Não tem História da Unidade.

CECA (2002), pp. 650/51

3ª Companhia de Comandos Africanos

Identificação: 3ª  CCmds Afr

Crndt: Alf Grad Cmd António Jalibá Gomes |  Ten Grad Cmd Bacar Djassi | Alf Grad Cmd Aliú Fada Candé | Alf Grad Cmd Malan Baldé

Início: 14Abr72 | Extinção: 07Set74

Síntese da Actividade Operacional

Foi organizada e instruída em Fá Mandinga a partir de 14Abr72 até 16Set72, para concretização do despacho de 3Mar72 do CCFAG, sendo constituída exclusivamente com pessoal africano natural da Guiné, recrutado nas subunidades africanas da organização territorial e das subunidades de milícias e com graduados vindos das anteriores CCmds Afr, tendo a imposição das insígnias de "comando" sido efectuada na cerimónia de criação do BCmds, em 2Nov72.

Em 2Nov72, foi integrada no BCmds, então criado, ficando instalada em Brá (Bissau) e tomando parte nas operações planeadas e comandadas por aquele batalhão. Algumas vezes foi atribuída para realização de operações desenvolvidas por sectores ou comandos equivalentes, nomeadamente na região de CampadaJ Barraca Banana, em 4Dez72, no sector do BCav 3846.

A 3ª CCmds Afr foi desactivada e extinta em 7Set74, com as restantes forças do BCmds.

Observações -  Não tem História da Unidade.

CECA (2002), pág. 652

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 648/652.
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sábado, 27 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24344: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXVIII: Na 1ª fase da instruçáo da 2ª CCmds Africanos, fomos atacados em Candamã como se fôssemos do PAIGC...


Guiné > s/l > s/d > O furriel graduado 'comando' Cicri Vieira a cumprimentar o Major Raul Folques, comandante do Batalhão de Comandos da Guiné (no período de 28jul73 a 30abr74) (O major Raul Folques sucedeu ao major Almeida Bruno). (Foto publicada no livro, na pág. 197).



Guiné  > Zona Leste >  Sector L1 (Bambadinca) > BART 2917 (1970/72) >  Forças da CCAÇ 12, a descansar na Ponte dos Fulas (sobre o Rio Pulom, afluente do Rio Corubal), por ocasião de uma coluna logística Bambadinca - Xitole (Xitole era a unidade de quadrícula, do Setor L1, mais a sul; era a sede da CART 2716, em 1970/72).

Perspetiva: norte-sul, quando se vem de Bambadinca e Mansambo para Xitole e Saltinho.  A ponte, em madeira, de construção ainda relativamente recente e em bom estado, era vital para as ligações de Bambadinca e Mansambo  com o Xitole, o Saltinho e Galomaro... A ponte era defendida por um 1 Gr Comb do Xitole, em permanência, dia e noite... Na foto sãos visíveis, em segundo plano à esquerda, o fortim; em terceiro plano, ao fundo, à direita, as demais instalações do destacamento. Foto do álbum de Arlindo T. Roda, ex-fur mil da CCAÇ 12 (1969/71).

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), a partir do manuscrito, digital, do seu livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada) (*).

O seu editor literário, ou "copydesk", o seu camarada e amigo Virgínio Briote, facultou-nos uma cópia digital; o Amadu, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem cerca de nove dezenas de referências no nosso blogue.



Capa do livro do Amadu Bailo Djaló,
"Guineense, Comando, Português: I Volume:
Comandos Africanos, 1964 - 1974",
Lisboa, Associação de Comandos,
2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.


O autor, em Bafatá, sua terra natal,
por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149


Síntese das partes anteriores:

(i) o autor, nascido em Bafatá, de pais oriundos da Guiné Conacri, começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor autorrodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);

(vii) depois da última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal, Amadu foi transferido, a seu pedido, por razões familitares, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757;

(viii) ficou em Bafatá até final de 1969, altura em que foi selecionado para integrar a 1ª CCmds Africanos, que será comandada pelo seu amigo João Bacar Djaló (Cacine, Catió, 1929 - Tite, 1971)

(ix) depois da formação da companhia (que terminou em meados de 1970), o Amadu Djaló, com 30 anos, integra uma das unidades de elite do CTIG; a 1ª CCmds Africanos, em julho, vai para a região de Gabu, Bajocunda e Pirada, fazendo incursões no Senegal e em setembro anda por Paunca: aqui ouve as previsões agoirentas de um adivinho;

(x) em finais de outubro de 1970, começam os preparativos da invasão anfíbia de Conacri (Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970), na qual ele participaçou, com toda 1ª CCmds, sob o comando do cap graduado comando João Bacar Jaló (pp. 168-183);

(xi) a narrativa é retomada depois do regresso de Conacri, por pouco tempo, a Fá Mandinga, em dezembro de 1970; a companhia é destacada para Cacine [3 pelotões para reforço temporário das guarnições de Gandembel e Guileje, entre dez 1970 e jan 1971]; Amadu Djaló estava de licença de casamento (15 dias), para logo a seguir ser ferido em Jababá Biafada, sector de Tite, em fevereiro de 1971;

(xii) supersticioso, ouve a "profecia" de um velho adivinho que tem "um recado de Deus (...) para dar ao capitão João Bacar Jaló"; este sonha com a sua própria morte, que vai ocorrer no sector de Tite, perto da tabanca de Jufá, em 16 de abril de 1971 (versão contada ao autor pelo soldado 'comando' Abdulai Djaló Cula, texto em itálico no livro, pp.192-195) ,

(xiii) é entretanto transferido para a 2ª CCmds Africanbos, agora em formação; 1ª fase de instrução, em Fá Mandinga , sector L1, de 24 de abril a fins de julho de 1971.


Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXVII:

Atacados em Candamã como se fôssemos do PAIGC 
(pp. 195-200)

Em Tite, oito dias depois (*), embarcámos com o pessoal seleccionado para a 2ª CCmds, com destino a Fá Mandinga, para dar início ao curso que iria durar seis meses.

Foi muito duro, terminou com uma prova individual duríssima. Começámos a 2ª parte do curso com a formação das equipas e depois seguiu-se a técnica de combate. Alterámos os horários, o dia passou para a noite e a noite passou para o dia. Começávamos a instrução às 19h00, que era a hora do pequeno-almoço, almoçávamos à 01h00 e jantávamos às 06h00 e a seguir deitávamo-nos no dia seguinte. Era uma semana maluca, diziam alguns.

Num desses dias saímos das viaturas na estrada de Bambadinca para o Xitole. Cinco grupos largados à distância, mais ou menos de três quilómetros uns dos outros, todos com o mesmo objectivo. Tinham-nos sido dados os azimutes para a nossa orientação e, mesmo assim, tivemos muitas dificuldades. A mata tinha um tipo de espinhas que eu nunca tinha visto. Agarravam-se ao camuflado e só saíam à faca. Saímos de lá com os camuflados todos cortados. Até fomos atacados por um civil da tabanca, em auto-defesa, de Candamã [1].

Homens que estavam a trabalhar na monda dos campos de arroz, a que nós na Guiné chamamos lugares de pampam[2], avistaram-nos e como, entre nós, não havia nem um branco, pensaram que éramos do PAIGC e fugiram para a tabanca, a avisar os milícias que a tabanca ia ser atacada. Depois começámos a ser flagelados com tiroteio e não podíamos responder.

Nós sabíamos quem eles eram, mas eles não sabiam que nós também estávamos do lado deles. Como a mata não nos deixava entrar, continuámos a contornar a campada[3] de arroz até que conseguimos deitar a mão a um homem que conhecia um dos nossos cabos monitores, o Califa Embaló, que estava à espera de ser graduado em furriel no final do curso. Convencemo-lo a dirigir-se à tabanca e avisar os milícias que nós éramos de Fá Mandinga e que nos estávamos a dirigir para a ponte do rio Pulom. Cerca de 15 minutos depois, fomos no caminho dele, até à tabanca, que estava vedada com arame farpado.

Quando chegámos, vimos que à volta da tabanca havia uma vala com abrigos que até podiam servir para armas pesadas e toda a população estava lá metida. Quando entrámos não cumprimentámos nem falámos com ninguém, continuámos a andar até sairmos pelo outro lado da tabanca, que ficava a leste da povoação. Seguimos então na direcção do nosso objectivo, a ponte do Pulon e as tabancas de Fulamori, Dulogenjele, Guerleje e Polo, que era o objectivo final. Na ordem de missão não devíamos nem podíamos tocar em nenhuma das tabancas.

Durante o trajecto, o furriel Cicri Marques Vieira informou pelo rádio que tinha chegado a Dulogengele e que ele e o Vasconcelos tinham reunido toda a população e que não havia problemas. Eu e o furriel Sada Candé só chegámos ao pôr-do-sol e encontrámo-nos todos em Bamtabá. Quando estávamos sentados, a descansar, vi umas casas cobertas com capim, à moda Futa-Fula e disse para o Sada Candé:

– Aquelas palhotas ali parecem de patrícios meus. Vou lá ver se me arranjam um local para as minhas orações.

Sada Candé quis ir também e quando lá chegámos ouvi um velhote perguntar a alguém se todos tinham ido e ouvi também esse alguém responder que sim.

–  Olha, Sada, estamos tramados. Fugiram todos para Galomaro. E agora? Temos que saber quantos fugiram e para onde foram.

Em passo rápido para a palhota, cumprimentei o velhote, ele respondeu com consideração, e eu perguntei-lhe:

–  As populações fugiram?

–  Mandámos mulheres e crianças passarem a noite em Galomaro.

–  Porquê?

– Porque não temos confiança no homem que se reuniu convosco. Tem barba muito grande!

O velhote estava a referir-se ao Furriel Cicri Vieira. Pedimos a um rapaz, que estava à nossa beira com uma bicicleta, que fosse atrás dos fugitivos e lhes dissesse para regressarem, que não havia perigo nenhum.

De madrugada, retomámos a marcha com destino ao nosso objectivo, que atingimos às 06h45, quase ao mesmo tempo que o capitão Miquelina Simões e o tenente Oliveira. E às 07h30 iniciámos as provas de equipas que terminaram já passavam das 20h30.

Mais dura foi a semana a seguir. Iniciámos a instrução colectiva, por grupos, que durou poucos dias e depois começámos[4] o treino operacional.

Saímos de Fá Mandinga, depois do pequeno-almoço em direcção ao Xime e atravessámos o rio Geba. Toda a companhia estava na outra margem por voltas das 13h00. Dali seguimos para o Enxalé.

Os comandantes dos grupos, todos furriéis, entraram na sala de operações, juntamente com o capitão, comandante da companhia[5] dos europeus do pelotão destacado no Enxalé, para consultarem os mapas da zona.

Saímos de Enxalé à tarde e caminhámos durante toda a noite, até de manhã. A marcha decorreu sem problemas, sem qualquer contacto com o IN. Quando atingimos o objectivo informámos, por rádio, que já lá estávamos. Então, recebemos ordem para retirar.

Foi uma retirada penosa. Estávamos com fome, com sede e com sono, a chuva miudinha não parava de cair. Só atingimos o Enxalé por volta das 16h00. Atingimos o porto às 18h00, estava a maré baixa. Não podíamos estar ali muito tempo, a maré cheia estava prevista para as 22, 23h00. Como continuava a chover, e estávamos cheios de frio, decidimos meter-nos na água e atravessar o rio, ao encontro das viaturas que nos aguardavam na outra margem.

Tirámos a roupa toda e enfiámo-nos no lodo, a rastejar. No meio do rio, vi-me atolado, quase sem me pode mexer. As lágrimas caíam-me pela cara abaixo, misturadas com a água da chuva, que nunca parou de cair. Finalmente, com muito custo, cheguei à outra margem, já passava das 18h00.

Na berma da estrada tinha uma enorme corrente de água da chuva a correr para o Geba. A tremer, com as lágrimas ainda a caírem-me pela cara, meti-me na corrente da água. Depois de tirar o lodo do corpo, vesti a farda encharcada. Uma mulher da minha etnia, que morava ao pé, convidou-me a ir aquecer-me à varanda da casa dela, enquanto o resto do pessoal não acabasse de atravessar o rio.

–  Meu furriel, vá lá, porque tem uma corrente de ar forte, fica seco num instante  –  disse-me um condutor.

Fui com a mulher. Tinha uma fogueira acesa, deu-me uma cadeira e estive ali a aquecer-me até que ouvi chamarem pelo meu nome para entrarmos para as viaturas. Vinte e tal quilómetros até Fá Mandinga, em viaturas sem capota, com a corrente de ar durante toda a viagem.

Quando cheguei, mandei um condutor chamar o enfermeiro, o Domingos Lourenço Fernandes, conhecido por Dundo Fernandes. Vesti umas calças e uma camisola, secas, e enfiei-me na cama com duas mantas em cima de mim. Quando Dundo chegou, aplicou-me duas injecções e deu-me três comprimidos para engolir.

Durante minutos, tapado com as mantas, senti calor, transpirei até que já não aguentava mais a roupa em cima.

Ainda antes da meia-noite, entrou no quarto um furriel europeu, que me acordou e disse que o capitão Miquelina Simões queria falar comigo.

–  Estou doente, pá!

–  É melhor ires falar com ele, parece que o teu grupo vai sair esta noite ainda!

Vesti-me e lá fui ter com o comandante, ao bar.

–  Desculpa, Amadu, esqueci-me de te dizer que vais sair esta noite. Devias estar em Bambadinca à meia-noite, mas vais na mesma, prepara o teu grupo o mais depressa possível.

Dei dez minutos ao grupo para se preparar. Com o grupo formado, conferi se estavam todos, o capitão passou revista, estava tudo em ordem e mandei-os subir para as viaturas. Ainda não era meia-noite, quando arrancámos para Bambadinca e, quando lá chegámos, passavam 20 da meia-noite.

Depois de consultar o mapa e inteirado da missão, pusemo-nos a caminho. Foi toda a noite a andar, até de manhã, sempre a chover, tudo bolanhas cheias. Chegámos ao rio, e tivemos que o atravessar para o outro lado. Demorou cerca de uma hora a travessia, depois entrámos numa área cultivada de milho. Fomos andando até às 11h00, atingimos um local, onde, conforme o estabelecido, entrei em contacto rádio e ficámos a aguardar nova ordem.

Entretanto fomos comendo qualquer coisa, que tínhamos levado connosco, e aí pelas 15h00, apareceu uma avioneta a sobrevoar a zona. Estava à nossa procura. Com o rádio ligado, pediram a nossa localização, estendemos telas e deram-nos ordem para nos mantermos naquele local.

Eram para aí 20h00 recebemos a indicação para atravessarmos o rio e para progredirmos até junto do objectivo, onde deveríamos permanecer, até nova indicação. A grande dificuldade foi atravessar o rio. Estava uma noite completamente escura, a ponte era de paus, a corrente era muito forte e no outro lado estava a mata densa. Agarrados uns aos outros pela cintura, demorou horas a travessia do grupo. Na outra margem fizemos um alto. Por volta das 04h00, retomámos a marcha com todo o cuidado, sempre com a companhia da chuva, até que por volta das 05h30 executámos o “golpe de mão”.

Após o golpe de mão simulado, rumámos para a estrada Bambadinca-Xitole e em Demba Juli apanhámos uma coluna que nos levou para Fá. 

Foram quatro dias sem qualquer ração quente e com paludismo.
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Notas do autor e do editor literário:

[1] Nota do editor: no subsector atribuído à CArt 2714 de Mansambo. [No livro, o topónimo está mal grafado: é Candamã, e não Gandamã. (LG)]

[2] Lavra de arroz no mato. O mato é cortado, primeiro, a seguir é queimado e, quando chove, lança-se o arroz e pega-se no covadouro, para se infiltrar melhor no solo.

[3] Campo lavrado.

[4] Nota do editor: em 10 Setembro de 1971.

[5] Nota do editor: CArt 2715 / BArt 2917

[Seleção / Revisão e fixação de texto /  Subtítulo / LG]
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 23 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24337: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXVI: 16 de abril de 1971, um dia trágico, a morte de João Bacar Jaló (Cacine, 1929 - Tite, 1971)

domingo, 7 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4473: PAIGC - Quem foi quem (9): Luís Cabral, entrevistado por Nelson Herbert (c. 1999)



Ficheiro originalmente em áudio, gentilmente cedido pelo nosso amigo Nelson Herbert, contendo excertos de uma entrevista com Luís Cabral, 1º Presidente da nova República da Guiné-Bissau, de 1973 a 1978. A entrevista, telefónica, conduzida por Nelson Herbert, hoje editor sénior da Voz da América (serviço e português para África), remonta a 10 anos atrás.

Neste excerto, de cerca de 10 minutos, Luís Cabral aborda questões (ainda hoje dolorosas, para todos nós) como o fuzilamento de antigos comandos africanos: faz referência ao papel de dois dirigentes históricos, já desaparecidos, responsáveis máximos pela segurança do Estado, Constantino Teixeira e António Buscardini; faz referência explicitamente a dois antigos oficiais comandos, o Capitão Cmd graduado Adriano Sisseco ( e não Sissoco...) e o Tenente Cmd graduado Cicri Marques Vieira, da 2ª Companhia do Batalhão de Comandos Africanos.



Menciona também o apelo do antigo Presidente da República Portuguesa, General Ramalho Eanes (que, como se sabe, mantinha relações de amizade com o agora falecido Luís Cabral).

Foto, à esquerda, do Adriano Sisseco, de 1966, que era 1º cabo comando no tempo do nosso camarada, amigo e co-editor Vírgínio Briote, tendo feito operações em conjunto. O Sisseco, tal como o Justo, pertencia ao Grupo de Comandos Os Vampiros. Foi depois em 1970 para a 1ª Companhia de Comandos Africanos, onde era Alf Comd graduado. Foi seu instrutor o Cap Barbosa Henriques, supervisor o major Leal de Almeida, o capitão da companhia o João Bacar Jaló. (Foto: Cortesia do Virgínio Briote, blogue Tantas Vidas).


Vídeo (9' 54''): © Nelson Herbert / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2009). Direitos reservados

1. Mensagem de Nelson Herbert, membro da nossa Tabanca Grande [Nascido em 1962, na Guiné-Bissau, de mãe guineense e pai caboverdiana, viveu a guerra colonial como criança e depois como adolescente, em Bissau; veio para Portugal, onde se licenciou em comunicação social (pela FCSH/UNL); emigrou para os Estados Unidos no início dos anos 90; hoje é editor sénior do serviço em português para a África, da Radio Voice of America / Voz da América, com sede em Washington; tem a nacionalidade norte-americana) (*)...

Meu caro Virgínio:

Quiçá melhor sorte tivera eu, nas várias "tentativas" de chegar à fala ao recém falecido primeiro presidente da Guine Bissau independente, Luís Cabral (**). Digo isto, porque entre as várias conversas, algumas "off", outras tantas "on record", que fui mantendo ao longo dos últimos anos com aquele nacionalista guineense,pelo menos uma teve por finalidade o seu registo em áudio.

Trata-se pois de uma entrevista de um pouco mais de duas horas e meia, gravada há cerca de dez anos e que pela sua importância documental e histórica, ainda conservo 'religiosamente' no meu acervo pessoal!

Na entrevista em questão, Luís Cabral aborda de forma desinibida alguns dos vários momentos, episódios e factos que marcaram a sua presidência da Guiné-Bissau e, obviamente, o caso dos fuzilamentos dos antigos elementos [do Batalhão] dos Comandos Africanos.

Deste acontecimento em particular, aquele dirigente histórico do PAIGC e do Estado guineense, faz referência a um aspecto que a história, por certo, encarregar-se-á um dia de clarificar. Refiro-me pois a uma alegada tentativa de instrumentalização de antigos elementos dos comandos africanos e militares nativos guineenses do Exército Português, para fins desestabilizadores do então embrionário Estado guineense (***).

Aconteceu, pois, no conflito que se seguiu à independência de Angola,com o Batalhão 32 ou Búfalo, criado pelos sul-africanos para conter uma então rotulada "ameaça comunista" na região. Experiência similar viveram os moçambicanos, nos primórdios da sua independência.

Por conseguinte, no caso da Guiné, terá esse risco existido ? Quem sabe, o livro em gestação, de Amadu Djaló (****), traga mais luz ao debate! Até lá, pela estima que me merece e com a certeza no interesse que a temática lhe desperta, segue em anexo um extracto (audio) da entrevista referente à matéria em epígrafe !

Mantenhas Nelson Herbert

2. Comentário do Virgínio Briote (que ainda não tinha ouvido o ficheiro áudio):

Caro Nelson,

O seu trabalho, apesar de eu não ter o registo áudio, que julguei vir em anexo, merece, por todas as razões, ser posto à disposição do grande público.

A morte de Luís Cabral é mais um livro que se consome na fogueira do tempo, são páginas e páginas de vidas escritas com o sofrimento de muita gente, é injusto ficarem em cinzas. Aliás, insinuei isto mesmo ao Presidente Luís Cabral, mas a resposta que lhe dei (nos "comandos, Senhor Presidente") quando me perguntou em que parte da Guiné tinha prestado serviço, a partir daí vi o interesse dele a esboroar-se...

Nelson, pense em editar um artigo sobre o Luís Cabral. É importante para a História da Guiné-Bissau. Hoje vi num semanário Sol, uma página dedicada ao Luís Cabral, escrita por um tal Pedro d'Anunciação, com o título "Luís Cabral, Perdido pela voracidade do poder".

Um abraço, Nelson.
vbriote
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2652: Guineenses da diáspora (3): Nelson Herbert, o nosso Correspondente nos EUA (Virgínio Briote)

(**) Vd. postes de:

1 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4447: PAIGC - Quem foi quem (7): Luís Cabral (1931/2009) (Virgínio Briote)

1 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4449: In Memoriam (23): Luís Cabral ou o respeito por um homem que lutou por um ideal (Virgínio Briote)

4 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4461: O segredo de... (5): Luís Cabral, os comandos africanos, o blogue Tantas Vidas... (Virgínio Briote)

(***) Sobre os comandos africanos e outros antigos combatentes guineenses que lutaram do lado dos portugueses, contra o PAIGC, e foram depois fuzilados no período em que Luís Cabral era o chefe de Estado da República da Guiné-Bissau,vd. os seguintes postes (incluindo os da I Série do nosso blogue):

13 de Maio de 2009 >Guiné 63/74 - P4332: Os Nossos Camaradas Guineenses (8): Braima Baldé, ex-Alf Cmd Graduado, BCA (1938-1975) (Amadu Djaló / Virgínio Briote)

13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2839: Ainda os Comandos fuzilados a seguir à independência (I): O Justo Nascimento e os outros (Carlos B. Silva / Virgínio Briote)

14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2760: Notas de leitura (8): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros... ou a guerra que não estava perdida (A.Graça de Abreu)

2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2713: Notas de leitura (7): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros: Resposta a um Combatente (M. Amaro Bernardo)

2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2711: Notas de leitura (6): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de M. Amaro Bernardo (Mário Fitas)

31 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2706: Notas de leitura (5): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de Manuel Amaro Bernardo (Mário Beja Santos)

30 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2318: Notas de leitura (4): Na apresentação de Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné 1970/80 (Virgínio Briote)

28 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2308: Notas de leitura (3): Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné, de Manuel Amaro Bernardo (Jorge Santos

19 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P886: Terceiro e último grupo de ex-combatentes fuzilados (João Parreira)

31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXII: Mais ex-combatentes fuzilados a seguir à independência (João Parreira)

27 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCVI: O colaboracionismo sempre teve uma paga (6) (João Parreira)

23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)

17 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXVIII: Ainda sobre os fuzilados... ou comentário ao texto do Jorge Cabral (João Tunes)

16 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXIV: Fala-se em 11 mil fuzilados (Leopoldo Amado, historiador)

6 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIX: Salazar Saliú Queta, degolado pelos homens do PAIGC em Canjadude (José Martins)

(****) Vd. postes de:

12 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLIX: O fuzilamento do Abibo Jau e do Jamanca em Madina Colhido (J.C. Bussá Biai)

Sonre o Amadu Dajló e o livro que está a escrever, com a colaboração do Virgínio Briote, nosso co-editor, vd. os seguintes postes:

22 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4067: Os nossos camaradas guineenses (3): Amadu Djaló, Fula de Bafatá, comando da 1ª CCA, preso, exilado... (Virgínio Briote)

25 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4076: Os nossos camaradas guineenses (4): Amadu Djaló, com marcas no corpo e na alma (Virgínio Briote)

27 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4086: Os nossos camaradas guineenses (5): O making of do livro do Amadu Djaló, as memórias de um comando africano (Virginio Briote)

29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4102: Os nossos camaradas guineenses (6): Amadu Djaló, as memórias de um comando africano (Virginio Briote)

21 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4229: Os nossos camaradas guineenses (7): Amadu Djaló, as memórias do Comando Africano continuam (Virgínio Briote)