sábado, 14 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25942: Os nossos seres, saberes e lazeres (645): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (170): Restos de coleção de visitas inesquecíveis ou lugares esplendentes (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Junho de 2024:

Queridos amigos,
Ao passar em revista as imagens registadas num passeio às ilhas de S. Miguel e Sta. Maria, descobri lá no "fundo da gaveta" um outro conjunto de imagens que ainda hoje estou para saber como é que não foram despejadas para o éter ou utilizadas nestes percursos que partilho convosco. Não há qualquer associação entre manifestações de arte oriental ou escultura do Franklin Vilas Boas com Vieira da Silva e Arpad e a alegria que sinto pelo meu jardim. Espero que estes restos de coleção vos convidem a itinerâncias do género ou aparentadas, quem se sente feliz está em condições de incitar os outros a confiar nestes imprevistos, saborosas recordações, enfim, talvez uns instantâneos que outros possam apreciar, porque não?

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (170):
Restos de coleção de visitas inesquecíveis ou lugares esplendentes


Mário Beja Santos

Prepara-se um indivíduo para organizar as suas recordações de viagens às ilhas de S. Miguel e Sta. Maria, das mesmas fazer-vos relato, eis senão quando aparecem umas imagens que parecem ter sido retidas por não merecerem cabimento, do assunto versado já a ver um acervo de imagens adequadas; mas, confesso, que nalguns casos terá havido esquecimento do que ficara em caixa, arreigou-se o interesse em vê-las ao pormenor, não é que então elas parece que ganharam nova vida? É exatamente o que vos vou contar.
Vieira da Silva
Vieira da Silva
Arpad Szenes

Visitei o Museu Arpad Vieira da Silva para ver a exposição dos autorretratos de Ofélia Marques. É um museu magnífico, o arquiteto aproveitou o espaço de uma fábrica criando compartimentos confluentes e afluentes, quem dirige aquele espaço consegue a mestria de ir renovando a coleção permanente e pôr tudo mais à conversa com o visitante. Fiquei a saber que em 1931, pela mão de Vieira da Silva, Arpad integrou o grupo do Atelier 17, ateliê de gravura, por ali passaram nomes geniais das artes plásticas do século XX como Ernst, Miró, Tanguy e Calder. Arpad compôs uma série temática criança com papagaio de papel, foi aqui que ele explorou uma nova linguagem visual onde o signo substitui o objeto, a composição é movimento criado por elipses sucessivas e o tumultuo das cores, nada de tons sombrios ou dos ocres e cinzas das suas primeiras pesquisas, é uma celebração com recursos a cores primárias e a velaturas.
Diante do mundo reticular de Vieira, momentos há que me sinto sugado por toda aquela comunicação de cariz geométrico, que fez dela uma artista de referência da 2ª Escola de Paris, ela é inigualável, a tal ponto que quando vejo os trabalhos de Cargaleiro, ele que me perdoe o desabafo, anda por ali sempre a mão da sua mestra.

Fora visitar uma exposição singular intitulada As mulheres carregam o mundo, no Museu Nacional de Etnologia. O acervo fotográfico, belíssimo, tinha algo de atordoador, de vez em quando saía daquele alinhamento de imagens em que a fotógrafa põe nos píncaros que a mulher faz e fez na história da nossa civilização, passeava-me por espaços de uma grandiosa arte asiática, onde, leitura exclusivamente minha, consigo ver a inocência das crianças quer no pendor e exaltação lúdica quer na exultação religiosa, é como se essas figuras e o que elas simbolizam exsudassem o cântico da alegria no universo.
Ernesto de Sousa (1921-1988), criador, crítico, conhece Franklin Vilas Boas. Deslumbrado com a obra deste artista de uma família de santeiros de Esposende, que preferiu a madeira à pedra, vai acompanhar e promover a sua produção artística. As obras que adquiriu são do ano em que se conheceram, 1964, o escultor criou-as a partir das raízes, trazidas pelas águas do mar ou do rio e dos troncos da melhor madeira que encontrou. Faz parte da doação que a companheira de Ernesto de Sousa fez ao Museu Nacional de Etnologia. Não conhecia e sinto-me assombrado por esta imaginação criadora.
Num lugar chamado Reguengo Grande disponho de dois casebres e uma colina de calhaus onde se vai organizando um possível ajardinamento que também mete árvores de fruto. Lá em baixo, no vale, os meus vizinhos Susana e Henrique cultivam, sou deles beneficiário de feijão-verde e pêssegos, por exemplo. Como seria possível olhar para estes restos de coleção de imagens e não vos mostrar, envaidecido o que nasce no meio destes calhaus dignos de uma área protegida?
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Nota do editor

Último post da série de 7 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25918: Os nossos seres, saberes e lazeres (644): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (169): Igreja de Nossa Senhora da Piedade e Santo Quintino, não há mostruário de azulejo como este (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25941: Timor: passado e presente (21): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Parte XII: O regresso à Pátria e o fim do anátema de 'deportado' (pp. 102-107)XII




Restos do edifício da Cãmara Municipal de Timor (Setembro de 1945), bombardeado duarnte a guerra (pág.  103)


Fonte: José  dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial" (Lisboa: Livraria Portugal, 1972)





Recorte da 1ª primeira página do "Diário de Lisboa", de 15 de fevereiro de 1946,
 2ª edição. (Fot0 à direita: O governador de Timor e a sua fanmília a bordo do "Angola").

Portal Casa Comum | Instituição: Fundação Mário Soares e Maria Barroso | Pasta: 05778.042.10619 | Título: Diário de Lisboa | Número: 8341 | Ano: 25 | Data: Sexta, 15 de Fevereiro de 1946 | Directores: Director: Joaquim Manso | Edição: 2ª edição | Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos | Tipo Documental: IMPRENSA  

Citação:
(1946), "Diário de Lisboa", nº 8341, Ano 25, Sexta, 15 de Fevereiro de 1946, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_23303 (2024-9-13)




Capa do livro de José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972, 208 pp. Cortesia de Internet Archive. O livro é publicado trinta anos depois dos acontecimentos. O autor terá nascido na primeira década do séc. XX.




António Oliveira Liberato, capitão: capas de dois dos seus livros de memórias: "O caso de Timor" (Lisboa, Portugália  Editora, s/d, 242 pp.)  e "Os Japoneses estiveram em Timor" (Lisboa, 1951, 33 pp.). São dois livros, de mais difícil acesso, só disponíveis em alguns alfarrabistas e numa ou noutra biblioteca pública.



Carlos Cal Brandão: "Funo: guerrra em Timor". 
 Porto, edições "AOV", 1946, 200 pp.





Capa do livro de Carlos Vieira da Rocha,
" Timor: ocupação japonesa dirante a Segunda Guerra Mundial,
2ª ed rev e aum, Lisboa: Sociedade Histórica da Independência de Portugal, 1996 309 pp.





Mapa de Timor em 1940. In: José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972, pág. 11. (Com a devida vénia). Assinalado a vermelho a posição relativa de Maubara e Liquiçá, a oeste de Díli, onde se situava a zona de detenção dos portugueses, imposta pelos japoneses (finais de 1942 - setembro de 1945)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)


Timor Leste > Com c. 15 mil km2, e mais de 1,3 milhões de habitantes, ocupa a parte oriental da ilha de Timor, mais o enclave de Oecusse e a ilha de  Ataúro. Antiga colónia portuguesa, tornou-se independente desde 2002, depois de ter sido  invadida e ocupada pela Indonésia durante 24 nos, desde finais de 1975.

Infografia : Wikipédia > Timor-Leste |  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné 



1. Estamos a chegar ao fim das notas de leitura e excertos do livro do médico de saúde pública José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (*), disponível em formato digital no Internet Archive. Recorremos também a outras fontes, nomeadamennte, Rocha (1996).


Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) 

Parte XII:     O regresso à Pátria e o fim do anátema de 'deportado' (pp. 102-107)
 

(i)  Portugal recuperou a soberania da Timor, ao fim de
três anos e meio de ocupação do território pelas tropas japonesas. 
Morreram perto de um centena de portugueses, europeus e "liurais" (régulos timorenses, fiéis a *Portugal), em combate, assassinados, vítimas de doença, ou desaparecidos no mato,   sem falar das muitas  dezenas e dezenas de milhares de timorenses anónimos.

 Isolados do mundo desde julho de 1943,  os habitantes de Timor só souberam em  1 de setembro de 1945 (!) da notícia 
do fim da II Grande Guerra e  do armistício. 
 
  O Governador, cap Ferreira Carvalho, 
 rapidamente decidiu a reocupação da ilha, 
 e o restabelecimento da autoridade portuguesa, 
o que foi feito em tempo tempo-recorde de 14 dias.

A 27, chegam a Díli os avisos "Bartolomeu Dias" e "Gonçalves Zarco", 
e,  dois dias depois, a  29, o aviso "Afonso de Albuquerque" e o T/T "Angola", 
vindos de Lourenço Marques,  
e ainda, a 9 de outubro, o vapor "Sofala", 
com tropas expedicionárias, novos funcionários e mantimentos.


 (...) Assim, na manhã de 27, estávamos na praia todos os não-timorenses  homens, mulheres e crianças, e muitas centenas de timorenses,  avistando-se os navios cerca das 8 horas, com emoção fácil de calcular. 

O brigadeiro Roque de Sequeira Varejão, comandante-em-chefe das forças expedicionárias, desembarcou cerca das 11: 30 sendo recebido na improvisada ponte-cais e acompanhado por todos os presentes até às ruínas da Câmara Municipal onde se realizaria a cerimónia da receção. 

Neste percurso estavam alinhados quase todos os chefes timorenses, com as suas bandeiras, mais de um cento, os seus tambores e as suas comitivas, totalizando alguns milhares de  pessoas, formadas em massas compactas de um e outro lado  da rua. 

«Alguns dos chefes transportavam apenas a haste da bandeira com um papel dependurado e bem visível. Eram os que tinham emprestado as suas bandeiras durante a guerra e para a reocupação e queriam assim mostrar que não as tinham perdido. Os papeis eram os recibos passados pelas autoridades portuguesas, que comprovavam os empréstimos e garantiam  direito de receberem bandeiras novas, quando as houvesse disponíveis» (1). 

«Tendo o governador, que entretanto se dirigira a bordo, pedido ao comandante-em-chefe das forças expedicionárias que não fizesse desembarcar qualquer força armada para a guarda de honra, foram encarregados dessa missão os bravos moradores de Manatuto e Baucau, que bem mereciam essa distinção.» (1). 

À frente do cortejo seguiu o brigadeiro Varejão acompanhado do Governador e dos oficiais do seu séquito, recebendo  calorosas aclamações e manifestações de alegria de todos os presentes, naturais ou não de Timor. 

Nas ruínas da Câmara, de que apenas restava de pé, ao cimo da escadaria, o frontão do pórtico de entrada apoiado em colunas, improvisou-se uma sala de receção, de que formavam  as restantes três paredes as bandeiras nacionais dos chefes  timorenses que, ordenadamente, se foram colocar nos seus lugares. 

Para dentro do recinto entraram todos os não-timorenses,  com as senhoras e crianças colocadas à frente. 

«E foi neste cenário, simples e ao mesmo tempo impressionante, que se realizou a cerimónia de receção, reduzida a meia  dúzia de palavras pronunciadas pelo governador, de boas-vindas aos que chegavam, de reconhecimento ao Governo da Nação por tudo o que fizera e estava fazendo, de agradecimento a todos os portugueses que tanto se tinham sacrificado no cumprimento do seu dever e aos chefes timorenses pelas provas inequívocas de lealdade e dedicação que tinham dado durante o longo período de provações a que se tinham sujeitado, resistindo a todas as pressões e promessas feitas pelo inimigo. E, tal como acontecera no dia 3 de setembro, no campo de concentração de Lebomeu, quando o governador foi anunciar a todos  que o seu martírio terminara, todos os presentes entoaram o Hino Nacional, vendo-se em todos os olhos lágrimas de alegria  e emoção patriótica» (1). 

 (...) Na tarde desse mesmo dia 27 acompanhei o Governador  e o brigadeiro Varejão numa visita ao acampamento que os  aponeses haviam instalado sob as árvores, no sítio de Túru-Liu,  perto da baía de Tíbar, na estrada de Díli a Liquiçá, a cerca de dez quilómetros da capital. 

A minha presença, ordenada pelo Governador, justificava-se pela necessidade de obterem o meu parecer acerca das condições sanitárias do acampamento, com vista à possível  instalação das tropas a desembarcar. 

Porém, além da casa do comandante, construída de pedra  e cal, nada mais se poderia aproveitar pois havia somente as arracas de madeira e zinco, sem paredes, onde os japoneses  se instalaram, protegidos dos mosquitos por enormes mosquiteiros coletivos feitos de pano e tule. 


(ii) Uma nova equipa santária (quatro médicos) desembarca na ilha: por eles soube, o autor, da descoberta da penicilina!

Faz-se também o pesado balanço da guerra e da ocupação nipónica,
com os seus milhares de mortos e danos patrimoniais


(...) Na manhã do dia 29 chegaram a Díli o aviso "Afonso de Albuquerque" e o navio armado em transporte "Angola", conduzindo, o primeiro contingente do destacamento expedicionário a Timor. 

Foi-me dada então a grande alegria de poder abraçar dois dos oficiais recém-chegados, meus conhecidos e amigos: o capitão-capelão, padre Aníbal Rebelo Bastos e o capitão-farmacêutico Artur de Oliveira, o qual havia conseguido alcançar Moçambique, ido da Austrália e agora voltava à terra onde estabelecera residência e profundamente amava (2) . 

No navio «Angola» chegou o destacamento sanitário comandado pelo capitão médico Dr. Costa Félix tendo como  subalternos os tenentes milicianos médicos, Drs. Meira e Cruz, Tamaguini [mais priovável, Tamagnini], Leitão Marques e Teixeira Dinis, os quais instalei no pavilhão principal do Hospital Dr. Carvalho que, felizmente, estava pronto a recebê-los embora, não restasse um único vidro nas suas janelas por todos haverem desaparecido, estilhaçados  pelo efeito dos bombardeamentos aéreos. 

Deles soube da recente descoberta de um maravilhoso medicamento — a penicilina. 

Desembarcados do «Angola» as tropas e material seguiu  o navio para a Austrália com o fim de se reabastecer de carvão  e mantimentos e transportar os portugueses que aí se encontravam foragidos. 

A 9 de outubro fundeou em Díli o vapor «Sofala» com militares e funcionários administrativos e trazendo os mais diversos artigos necessários à população, para serem postos à venda. 

Por estes dias, o aviso «Afonso de Albuquerque» deslocou-se ao território do Oecússi, transportando o novo administrador. A sua chegada foi completa surpresa para o chefe de posto Fernando Tinoco que esteve encarregado da circunscrição durante todo o período da guerra. Milagrosamente, tudo aí corria em ordem, graças ao encarregado administrativo e à lealdade e dedicação do liurai D. Hugo da Costa, tendo-se mantido a população sempre coesa e disciplinada. 

(…) Pouco a pouco, passámos a saber de factos passados durante a guerra, os quais, até aí, completamente desconhecíamos e pudemos recapitular algumas estatísticas. Contámos, então, os portugueses mortos por causa violenta  durante a guerra: 

  • timorenses, às centenas; 
  • e, dos não naturais de Timor, trinta e sete assassinados, dez mortos em combate e seis mortos por suicídio;
  • também vinte faleceram ao abandono no interior da ilha onde andavam foragidos;
  •  e oito acabaram miseravelmente os seus dias no cárcere nipónico. 

Durante todo o período da guerra Díli, incluindo Lahane e arredores, sofrera noventa e quatro ataques aéreos com bombardeamento. Desses bombardeamentos, atingiram Lahane  trinta, sendo vinte concentrados nos meses de outubro e novembro de 1944. 

Muitas centenas de timorenses haviam perecido assassinados e muitos milhares morreram, principalmente por estarem completamente abandonados os serviços públicos de assistência médica e de enfermagem e não disporem de qualquer possibilidade de obter medicamentos. 

Entre os primeiros, tinham sido passados pelas armas  velhos e leais amigos timorenses dentre os quais se destacava a figura gloriosa do liurai do Suro, D. Aleixo Corte Real 

Alguns refugiados portugueses na Austrália foram aí voluntariamente treinados na técnica dos comandos (3) para depois desembarcarem ou serem lançados em paraquedas sobre Timor para se dedicarem à observação dos movimentos das  tropas nipónicas e à respectiva comunicação pela via radiolegráfica (4). 

Seguira para Timor, em Fevereiro de 1944, um primeiro grupo constituído por dois autralianos, o chefe Paulo de Ussuroa, seu primo Cosme Soares e o criado Sancho. Mais tarde, em agosto, seguira um novo grupo chefiado por um  capitão australiano que levava consigo um telegrafista da mesma nacionalidade e os portugueses José Rebelo, Armindo Fernandes e José Carvalho, que apenas desejavam serem sempre considerados portugueses voluntários para coadjuvar nas operações que tivessem por fim repelir o dominador e espoliador da sua terra (4) . 

O primeiro grupo foi aprisionado pouco depois de ter desembarcado tendo os timorenses que dele faziam parte estado na cadeia de Díli e depois sido transferidos para Lautem, onde morreram, com exceção do criado Sancho (4) . 

Os portugueses do segundo grupo desembarcaram num ponto ermo da costa sul de Lautem e «foram recolhidos nas povoações indígenas, onde os japoneses os foram prender, logo aos primeiros rumores do armistício, em agosto, para os  fuzilar» (4). 



(iii) a vida parece voltar "à normalidade", os "deportados" (políticos e sociais) são amnistiados... E a 8 de dezembro, o navio "Angola", reabastecido na Austrália, faz a sua viagem de regresso a Lisboa, 
levando a bordo cerca de 160 portugueses 
que tinham ficado em Timor durante a guerra.

A chegada a Lisboa foi a 15 de fevereiro de 1946, 
tendo o navio feito escala na Beira, Lourenço Marques, 
Moçâmedes, Luanda e Funchal


(....) No dia 25 de outubro, por despacho do Governador dando execução um telegrama do Ministro das Colónias, foi levantada  a nota de «deportado» a todos os indivíduos que se encontravam em Timor nessa situação, restituindo-lhes o uso de todos os direitos civis e políticos que a lei confere aos cidadãos portugueses. 

A 18 de novembro realizou-se um ato eleitoral em toda  a colónia, que decorreu na mais absoluta ordem e legalidade, elegendo-se, quase por 100% dos votos o candidato a deputado por Timor e antigo governador da colónia, capitão Teófilo  Duarte. 

Por este tempo, foi dado conhecimento aos interessados de o Governador ter promulgado uma portaria, pela qual eram louvados os que mais se haviam distinguido durante a ocupação. 

Na tarde de 7 de dzembro, tendo chegado o vapor "Angola"  em regresso da Austrália, o capitão Ferreira de Carvalho fez entrega do governo da colónia ao inspector administrativo, capitão Óscar Freire de Vasconcelos Ruas, numa sessão pública em que ambos discursaram. 

Às 15 horas do dia 8 de dezembro, embarcaram no referido navio cerca de 160 portugueses — homens, mulheres e crianças — que tinham permanecido em Timor durante a guerra.  Alguns, poucos, não seguiram, por então preferirem ficar na ilha onde tinham a sua família e interesses. 

Chegados a bordo, tivemos a alegria de poder abraçar, de novo, conhecidos e amigos, entre os quais, D. Jaime Garcia, o engenheiro José de Azevedo Noura, o administrador António Policarpo de Sousa Santos, o capitão Silva, o administrador Lourenço Aguilar, o Dr. Cal Brandão, etc. 

(...) Pôde ser classificada de triunfal a viagem até Lisboa. Em todos os portos que tocámos, fomos acolhidos com festas e honrarias e, sobretudo, com manifestações de tão sincera alegria que nos demos por bem pagos das provações que  havíamos passado. 

Na Beira, Lourenço Marques, Moçâmedes, Luanda e Funchal recebemos inúmeras e inequívocas provas de consideração e estima que nunca poderíamos esquecer. 

Chegámos e Lisboa em 15 de Fevereiro de 1946, sendo esperados ansiosamente por muitos milhares de pessoas (5). 

«Em Alcântara viveu-se uma hora simultaneamente apoteótica e emotiva, dentro de um dos mais belos espetáculos  que alguma vez se têm verificado em Lisboa, Milhares de pessoas de todas as classes acorreram à Estação Marítima para receber triunfalmente os repatriados de Timor, vítima de uma  guerra que não provocaram. Bem singular foi essa manifestaçao, em que às palmas e aos vivas se juntaram palmas e  soluços. Quase todos os que vieram sofreram crueldades e  torturas sem nome, correram aventuras de jogar-se a vida, viram cair para sempre parentes e amigos — só por teimarem  em defender a soberania portuguesa. E a história de cada um foi o que se viveu ontem, em vibrante comunhão patriótica,  forte o amplexo em que se confundiam o orgulho dos que chegaram e a comoção dos que os recebiam." (5) 

(...) Aos repatriados necessitados foram distribuídos, ainda no navio, roupas e agasalhos por uma comissão do Fundo de Socorro Social que tinha ao seu serviço uma brigada de 40 empregados dos Armazéns do Chiado, sendo contemplados 100  homens, 68 mulheres, 78 rapazes, 71 meninas e 10 bebés (5) . (...)

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Notas do autor (JSC):

(1) Vide artigo do Dr. Tarroso Gomes no jornal «Novidades» de 27 de setembro de 1970.

(2) O capitão-farmacêutico, ao avistar-me, não pôde reter estas palavras que irresistivelmente lhe escaparam: «Ai coitadinho, que está tão magrinho!». De facto eu, embora seja de baixa estatura pesava então, somente 42 quilos!

(3) O tenente Pires havia-se prontificado na Austrália a conservar-se em Timor, com um pequeno grupo, em serviço de observa ção. Comprometera-se ainda a recrutar quinze voluntários que, trei- nados nas escolas de «Comandos», fossem depois juntar-se-lhe naquele serviço e debaixo das suas ordens. (Vide Cal Brandão, "Funo", p. 148).

 (4) Vd. Carlos Cal Brandão: "Funo: guerrra em Timor".  Porto, edições "AOV", 1946, 200 pp.

(5) Vide jornal «Diário de Notícias», de 16 de fevereiro de 1946
 

(Continua)

(Seleção, revisão / fixação de texto, itálicos, negritos, parênteses retos, comentários, reordenação das notas de rodapé: LG)

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Nota do editor:

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25940: Notas de leitura (1726): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, ano de 1874) (20) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Maio de 2024:

Queridos amigos,
Desta vez, temos um texto literário que explora uma dimensão pouco vulgar, um delegado de saúde que saiu de Cabo Verde e foi à Guiné apurar as condições de vida e os tratamentos de quem ali vivia entendeu que devia pôr ênfase nas relações entre a meteorologia e as doenças, hoje tudo quanto ele escreveu pode ser entendido como um anacronismo, mas o recorte literário da sua exposição é de uma indiscutível beleza, dou-vos somente um exemplo:
"Não posso dar conta dessas modificações atmosféricas por meio dos algarismos que se lêem sobre as escalas dos instrumentos físicos, porque os não tinha; mas vou tentar dar uma ideia daquilo que, sem estes, se pode observar.
Começa-se a ouvir ao longe um estrondo como o surdo bater das vagas a desfazerem-se em rolos na costa; ao mesmo tempo lá na orla extrema do horizonte, do lado de leste e sudeste, e às vezes em outros diferentes pontos, assoma uma escuridão; a princípio pouco intensa, depois mais, depois muito; de repente passa o tufão que sibila irado e parece arrebatar tudo na sua corrente. É então que castelos de nuvens, levantando-se nas asas da procela, sobem para as alturas do céu, e caminhando uns para os outros, estreitam a distância que os separa; são como dois exércitos inimigos que, avançando, se vão topar em cheio." E depois desta dissertação naturalista encontra forma de encaixar um sem número de doenças. Estamos a caminhar para 1875, cresce em mim a tensão em adivinhar como se irá anunciar os acontecimentos associados ao desastre de Bolor que levaram as autoridades de Lisboa a separar a Guiné de Cabo Verde.

Um abraço do
Mário



Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX
(e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, ano de 1874) (20)


Mário Beja Santos

O Boletim Official vai enveredando pelo crescimento da parte dita não oficial, há qualquer coisa que lembra o Almanaque Bertrand, tem uma fase profundamente didática, chama a atenção para a importância do eucalipto que, segundo o autor, teria a propriedade de afastar doenças, e este mesmo autor discorre sobre os métodos para a sua transplantação bem-sucedida, há artigos sobre educação infantil, alfaias rústicas, operações agrícolas, aborda-se a longevidade, a zoologia agrícola, a meteorologia, até a criação da cochonilha. Mas vamos à parte oficial e quanto ao que se versa sobre a Guiné.

No Boletim n.º 21, de 23 de maio de 1874, o Governador da Guiné, António José Cabral Vieira, envia o seu relatório simplificado para a Praia através da escuna Mindelo: é satisfatório o estado sanitário do distrito, bem como o alimentício; o comércio em Cacheu continua pouco animado e o de Bissau não tem melhorado; em Bolama continua a colheita da mancarra e a sua exportação, tendo entrado no porto da referido ilha durante o mês passado seis navios para carregar e saíram cinco carregados; terminou a colheita de arroz, mas continua a vir o suficiente para a alimentação do povo de Bissau e do Rio Grande; a tranquilidade pública não tem sido alterada, salvo a continuação da guerra entre os Futa-Fulas, Fulas e Biafadas. E lê-se mais adiante: satisfatório foi o estado sanitário do distrito durante o mês de março; na clínica civil foram observadas as seguintes doenças: quanto às endémicas, há a registar febres, terçãs, febre biliosa hematúrica, úlceras fagedénicas; quanto às doenças comuns, há a registar as asmas, bronquites, conjuntivites, faringites, reumatismos articulares crónicos, sífilis, cancro e tuberculose. No hospital foram tratadas doenças endémicas (caso da caquexia paludosa) e doenças comuns (caso do abcesso e sífilis). Dá também informação sobre o movimento da população na freguesia da Nossa Senhora da Candelária de Bissau: 18 batismos e 7 óbitos. Assina o delegado de saúde, António Augusto Santa Clara.

No Boletim n.º 26, de 27 de junho, o Governador da Guiné envia o seu relatório para a cidade da Praia pelo palhabote Experiência: estado sanitário regular, estado comercial pouco animado; a tranquilidade pública continua regular, a não ser a prevenção que existe a respeito dos Futa-Fulas e Fulas, sobretudo nas margens do Rio Grande na circunstância de se ter visto obrigado a retirar de Buba, por causa das suas exigências, o comerciante Severino Anastácio Vicente. O relatório faz-se acompanhar da súmula da Junta de Saúde em Bissau onde se referem as doenças endémicas: febres, acompanhadas ou não de bronquites; as doenças comuns como apertos orgânicos da uretra, cistites, doença do sono, reumatismo, tuberculose, entre outras. Houve 7 batismos e 5 óbitos.

Há uma novidade a registar no Boletim Official, e é de monta: vão aparecendo com regularidade as listas de degredados que chegam a Cabo Verde e seguramente também com destino à Costa da Guiné.

No Boletim n.º 34, de 22 de agosto, novo envio de informações do Governador da Guiné pela escuna César 2.º: estado sanitário regular no mês de julho e satisfatório em junho; estado comercial pouco animado, estado alimentício regular; não há alteração na tranquilidade pública, talvez esta se possa justificar por se viver a estação chuvosa. Há uma mudança agora de discurso no Boletim Sanitário, sabe-se lá se a razão não é mesmo a estação das chuvas: aguaceiros abundantes estabeleceram perigosas alianças com produtos orgânicos, recrudesceram os focos de emanações; e apresenta-se uma listagem de doenças endémicas e comuns. Assina o delegado de saúde interino, Aleixo Justiniano Sócrates da Costa.

No Boletim n.º 43, de 24 de outubro, o relatório do Governador não traz novidades com significado, mas sublinha haver atonia do comércio e da sua pouca vitalidade dá-se a recente receita pública. Sócrates da Costa passou a delegado de saúde, recompôs o modelo do Boletim sanitário, como se exemplifica:
“Conquanto a febre inflamatória predominasse na patologia endémica, o elemento paludoso parece não possuir essa virilidade de resistência que em outras ocasiões torna majestosas as pelejas que empenha com as armas da terapêutica. E que à violência da pugna sucede o enfraquecimento da mesma, e o organismo cansado do batalhar constante havido contra esse poderoso agente de destruição teve tempo para reassumir, durante o curto armistício, uma parte do seu exausto vigor.
Houve dias em que o calor que nestas regiões chega a ser calcinante, enervadas as forças do corpo conseguiu enervar as do espírito. Apenas, de longe em longe, os bafejos de uma ligeira aragem vieram amenizar este abrasador clima.”


No Boletim n.º 45, de 7 de novembro, reproduz-se um interessante artigo intitulado Última expedição em busca das origens do Nilo, 1870-1871-1872, reproduzido da Revista Marítima e Colonial, publicação do Ministério da Marinha e das Colónias de França. No Boletim n.º 48, de 28 de novembro, temos um texto de digno interesse, intitula-se Apontamentos acerca de Bissau, relativos ao ano de 1873, em cumprimento do que se acha disposto no decreto de 1869. O autor diz que vai dividir o seu trabalho em duas partes; na primeira, faz diversas reflexões que têm por alvo a etiologia e na segunda dispõe a patologia da localidade. Situa o lugar da vila de S. José de Bissau, diz que as ruas principais vêm do Leste para Oeste, as casas são de pequena altura, térreas, mal divididas, mal alumiadas e mal arejadas; muitas têm grossas paredes feitas de uma espécie de barro e todas elas são cobertas de telha. A casa em que está o hospital é insatisfatória em todos os títulos. Descreve a fortaleza e o seu interior onde há uma igreja, o quartel dos soldados, o calabouço e a cadeia civil, a cadeia é mal arejada, húmida e de acanhadíssimas dimensões em relação ao crescente número de presos; o calabouço também não está em melhores condições higiénicas e muito melhores as não tem o quartel em relação ao fim a que é destinado. O artigo continuo no Boletim n.º 49, de 30 de novembro, a tónica da higiene permanece, mas o autor insiste em falar de Bissau, considera Bissau o ponto da Guiné de Cabo Verde que tem mais recursos, por ele passam todos os negociantes estabelecidos noutras partes, por esses motivos aumenta a população, escasseia o terreno, estreitam-se as ruas, acanham-se as casas, aumenta a acumulação dos habitantes. O ar que circula dentro das casas é viciado pela acumulação relativamente grande dos seus habitantes; o que se conhece mesmo no cheiro repugnante que se experimenta quando se entra nas casas.

Não é digno de menor atenção o fosso que rodeia as muralhas; nele cresce a erva com uma rapidez admirável durante o tempo das águas; alguns dos habitantes que moram perto, ali fazem despejos às horas mortas na alta noite; rastejam nele miríades de répteis. Todas estas circunstâncias devem concorrer para o quadro da insalubridade.

O autor expende considerações sobre os sistemas de limpeza, o facto de o cemitério estar muito próximo da povoação, a própria insalubridade do cemitério, e finda a exposição do quadro etiológico apresenta um quadro patológico. Reinam ali doenças endémicas, releva as febres paludosas, caso da febre biliosa, faz uma exposição sobre o tratamento destes quadros febris e dirá em certo momento:
“Tive ali a ocasião de verificar a influência dos fenómenos meteorológicos sobre o organismo animal; em todas as doenças os sintomas exacerbavam-se mais ou menos, mas nos doentes de febres perniciosas e de febres biliosas apareciam muitas vezes cãibras nas pernas, uma certa agitação geral, às vezes subdelírio ou mesmo delírio, e isto ainda quando se não se esperasse exacerbação: coincidiu com uma horrível trovoada que ia passando sobre Bissau, o aparecimento do soluço num daqueles doentes de febre biliosa.”

Não há dúvida que o delegado de saúde que escreve este texto associa, sem margem para dúvidas, a meteorologia à patologia, e a sua exposição é simultaneamente a de um profissional de saúde que gosta muito de escrever:
“Como se mão gigante e invisível rompesse as cataratas do céu, torrentes de chuva se despenham do seio das nuvens e inundam a terra; fuzilam os relâmpagos, estalam os raios, atroam os trovões: pela escuridão da noite a cena é mais sublime, através do densíssimo véu das trevas não se vê entre as nuvens o clarão da lua, e o céu negro da noite não se enxerga o cintilar de uma estrela.”

Texto magnífico, podia-se transcrever ainda muito mais, ainda vai falar do alcoolismo e finda o seu relatório datado de 30 de agosto de 1874, foi escrito na ilha do Sal e é assinado pelo delegado de saúde António Augusto Pereira Leite d’Amorim.



Planta da Praça de Bissau, por Bernardino António d’Andrade, 1796

(continua)

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Nota do editor

Vd. post da 6 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25916: Notas de leitura (1724): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, ano de 1873 e 1874) (19) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25939: Verão de 2024: Nõs por cã todos bem (12): ...menos as andorinhas, vítimas dos "ocupas", as abelhas asiáticas e os javalis, predadores! (Luís Graça, Tabanca de Candoz)

 












Marco de Canavezes > União das Freguesias de Paredes de Viadores e Manhuncelos > Candoz > Quinta de Candoz > 10 e 11 de setembro de 2024 >

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 



1. À espera da primeira vindima (de três), no próximo fim de semana, de 20/21 do corrente, não se está mal na Tabanca de Candoz...  Com calor q.b, e nevoeiros matinais (estamos aqui rodeados das albufeiras de duas barragens, a do Carrapatelo, no rio Douro, e a do Torrão, no rio Tâmega)...E à noite, os javalis, a anteciparem-se às vindimas: temos que usar "repelentes solares ultrassónicos" para os manter fora das vinhas, que são em socalcos...

Além disso há as abelhas aisáticas, que, mal as uvas de mesa estão em ponto de rebuçado, fazem um ataque em voo picado sobre as videiras (em ramada), e devoram tudo... Temos que usar sacos para proteger as uvas... E, como se uma desgraça não bastasse, um "ocupa" decidiu desalojar as nossas andorinhas!...Melro ou gaio, teve a ousadia de frazer o ninho na casa das andorinhas de Candoz!

As nossas andorinhas já são célebres: nidificam aqui há perto de 30 anos...Constuiram um ninho  insólito,  à volta da lâmpada do hall exterior ou alpendre de uma das nossas casas (desabitada)... 

Gerações e gerações de andorinhas nasceram aqui e todos os anos volta(va)m pela primavera... Só que este ano deram de caras com um "ocupa" insolente...Tiveram que construir um novo ninho em parte incerta... A última vez que as vi, foi no passado dia 9, devem ter desistido de reconstruir a "habitação" (agora inútil, uma vez que já fizeram criação na primavera)... E, com todas as probibilidades, já não voltarão aqui mais... Daqui a mais umas semanas irão procurar outras paragens mais quentes... Levam, entertanto,  a barriga cheia de insetos... e a prole (que já não nasceu, pela primeira vez,  em Candoz).

Estamos desolados!... Já retirámos o ninho vazio do "ocupa" (em princípio maior do que o de melro)... Ninguém se lembrou de tirar uma foto... Como se costuma dizer, temos de deixar seguir o curso da natureza... Mas Candoz sem as andorinhas fica mais triste... mesmo que agora tenhamos uma piscina "nova" para a "canalha"...



Marco de Canaveses, Paredes de Viadores, Candoz, Quinta de Candoz > 23 de Agosto de 2012 > Fotograma de vídeo > Ninho de andorinha, insólito, construído à volta da lâmpada do hall exterior ou alpendre de uma das nossas casas...

Aos 43 segundos vê-se uma andorinha entrar no ninho levando insetos para alimentar as crias, e 10 segundos depois a sair para mais uma "caçada" ao redor da Quinta de Candoz, que é rica em insectos... O ninho tinha sido recentemente reconstruído. As andorinhas caçam em círculo, num raio de 500 metros do ninho.

Vídeo (1' 07''): © Luís Graça (2012). Alojado em Luís Graça : You Tube




Tabanca de Candoz > 20 de abril de 2023 > O melro-preto (Turdus merula) alimentando os três rebentos... Não é a mãe, é pai (plumagem preta e bico amarelo)... 

Fotograma de vídeo feito por Américo Vieira, "Meco" (para a família e amigos) (Vd. o vídeo aqui, na página do Facebook Fotos de Américo Vieira).


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Nota  do editor:

Guiné 61/74 - P25938: Ser solidário (273): Concerto da Orquestra Médica Ibérica, no passado dia 8, no Porto, a favor de uma ONGD que trabalha na área da saúde em Moçambique (Health4Moz) - Parte I

 


Porto > Casa da Música > Sala Sugia > Concerto solidário da Orquestra Médica Ibérica >8 de setembro de 2014, 18h00 


Foto (e legenda): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Solidariedade não é uma palavra vã para uma profissão altruísta como a medicina. É também, como a saúde, um valor sem preço, mas que custa tempo e dinheiro. Tempo e dinheiro que os músicos da Orquestra Médica Ibérica (OMI) despendem em dois concertos solidários anuais que em regra dão, revertendo as receitas para instituições de solidariedade social que trabalham na área da saúde.(*)

A OMI foi fundada em 2022 e nela estão inscritos músicos, médicos e estudantes de medicina, de mais de 40 cidades da península ibérica. Já atuaram em Lisboa, Braga, Barcelona e Madrid, tendo angariado mais de 32 mil euros. Este ano, só em Madrid, tiveram mais de 1500 pessoas a assistir, e a participação de 3 coros. No passado dia 8 encheram a belíssima e emblemática sala Suggia, na Casa da Música, Porto,  mais de 1200 luagres). 

Nos próximos anos a OMI tem já agendados concertos em Lisboa, Granada, Valência e Coimbra.

Para saber mais: www.orquestramedicaiberica.com

Além do maestro Sebastíão Martins, atualmente médico interno de psiquiatria,a orquestra sinfónica que atuou na Casa da Música (**) era composta por 48 instrumentos de cordas (31 violinos, 12 violas, 13 violoncelos e 5 contrabaixos) e 23 de metais (4 flautas, 3 oboés, 3 clarinetes, 4 fagotes,2 trompetes, 1 tuba,1 harpa, 5 de percussão). Em geral, nos inctrumentos de corda há o dobro de mulheres.  

Atou ainda o pianista Vasco Dantas, conhecido desde miúdo do nosso coeditor Carlos Vinhal. 

Cada concerto implica 4 dias de trabalho  (3 de ensaios), que são fornecidos "por bono" por cada elemento da orquestra (incluindo deslocações, e sem contar com o trabalho individual em casa...)

este concerto na Casa da Música foi particularmente exigente: falaremos na Parte II do programa musical, com 1 peça de Joly Braga Santos (1924-1988), o concerto nº 2 para piano, de Sergei Rachmaninoff (1873-1943), e a mundialmente famosa Scheherazade, de Nikolai Rimsky-Korsakov (1844-1908).


2. O beneficiário, desta vez, foi uma ONGD, portuguesa, que trabalha na área da saúde, em Moçambique: Healt4Moz (Health 4 Mozambican Children's and Families, Saúde para as Crianças e Famílias Moçambicanas). 

Foi fundada em 2013 por médicos e professores universitários portugueses.

Em trabalho totalmente voluntário, "por bono". tem contribuído, nos últimos 11 anos da sua história, para a formação de profissionais de saúde, nas mais diversas áreas médicas, atingindo um público-alvo de mais de 20 mil médicos, enfermeiros, dentistas e técnicos de saúde moçambicanos que foram já formados, além de 10 mil alunos que foram capacitados. 

Com diversos apoios e parcerias (sociedade civil, beneméritos, mecenas e cooperação portuguesa), tem também reconstruido,  restaurado e equipado diversas unidades de saúde, incluindo o Hospital Central da Beira (um dos maiores de África, servindo 8 milhões de habitantes). Tem também prestado cuidados de saúde, em valências como a saúde oral e a cirurgia oftalmológica, benefciiando um total de 2150 crianças.

Para saber mais: www.health4moz.com

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 8 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25923: Ser solidário (272): Actualização da situação do processo do nosso camarada guineense Seco Mané, que em Portugal procura resolver a sua precária situação de saúde resultante de ferimentos contraídos em combate ao serviço do Exército Português (Fernando de Jesus Sousa)

(**) Vd. poste de 29 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25891: Verão de 2024: Nós por cá todos bem (7): ... E vamos lá estar, no Porto, na Casa da Música: Orquestra Médica Ibérica, Concerto solidário, dia 8 de setembro, domingo, às 18h00

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25937: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (23): Victor Condeço (1943-2010), o ex-fur mil mec armamento, CCS/BART 1913 (1967/69), que documentou como ninguém o quotidiano da linda vila de Catió - Parte II

 


Guiné > Região de Tombali > Cufar > Foto 7 > Fevereirto de 1968 > Pista de Cufar, a "Bissalanca do Sul": o helicanhão ("Lobo Mau")



Guiné > Região de Tombali > Cufar > Foto 7 > Fevereiro de 1968 > Pista de Cufar topo do lado do aquartelamento (Operação Ciclone I, envolvendo forças pára-quedistas do BCP 12).


Guiné > Região de Tombali > Cufar > CART 1687 (1967/1969) > Setembro de 1967 > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Foto 07 > Interior da messe e bar de Sargentos. O Victor Condeço, de bigode, parece ser o terceiro  da segunda fila, a contar da direita para a esquerda




Guiné > Região de Tombali > Cufar > CART1687 (1967/1969) > Setembro de 1967 > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Foto 07  > Pormenor: interior da messe e bar de Sargentos. O Victor Condeço, de bigode, parece ser o terceiro  da segunda fila, a contar da direita para a esquerda.



Guiné> Região de Tombali > Cufar > CART1687 (1967/1969) > Setembro de 1967 > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Foto 10 > "Outro interior da messe de Sargentos. Vejam-se os cadeirões feitos dos barris do vinho, a necessidade aguçava o engenho".


Guiné> Região de Tombali > Cufar > CART1687 (1967/1969) > Setembro de 1967 > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Foto 10 > Pormenor: "Outro interior da messe de Sargentos."... Na parede, um grafito: "Salta (periquito)..."


Fotos (e legendas): © Victor Condeço (2010).Todos os direitos reservados [Edição e legtendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 



1. São  fotos, selecionadas,  do álbum do nosso querido e saudoso amigo e camarada Victor Condeço (Vitinho, para os amigos de Catió) (1943-2010),  um dos históricos da nossa Tabanca Grande: sentou-se à sombra do nosso poilão em 3/12/2006. 

Esteve na Região de Tombali, em  Catió,  CCS / BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Victor Condeço, ex-fur mil mec armamento.

Era natural do Entroncamento. Infelizmente a morte levou-o cedo, há 14 anos, em 18 de junho de 2010.

Não o conheci pessoalmente Falei com ele, ao telefone, algumas vezes. A última, na véspera do início do seu tratamento no IPO de Lisboa... Começou a ter sintomas da doença que o vitimou, a partir de fevereiro de 2010. Lúcido e corajoso, sabia o que tinha, conforme  mail de 10 de maio, que me enviou... A última vez que falei com ele, foi justamente no início do mês de junho. Estava apreensivo e ansioso, ia começar no dia seguinte o tratamento de radioterapia no IPO... Tarde de mais, infelizmente... 

Era uma homem discreto, afável e prestável.  
Temos dele  6 dezenas de referências no nosso blogue. Achámos, por isso, que estava na altura de revisitar o seu álbum, com belíssimas fotos da linda vila de Catió, e dos arredores (npomeadamente Ganjola e Cufar,  meticulosamente organizadas por áreas temáticas e e devidamente legendadas...  Estão dispersas no nosso blogue.

Um dos seus grandes amigos era o Benito Neves,  ex-fur mil atirador da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), membro da nossa Tabanca Grande desde abril de 2007, natural de Abrantes,  bancário reformado.

As fotos deste poste são relativas a Cufar.

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Nota do editor:

Último poste da série  > 25 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25880: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (22): Victor Condeço (1943-2010), o ex-fur mil mec armamento, CCS/BART 1913 (1967/69), que documentou como ninguém o quotidiano da linda vila de Catió - Parte I