terça-feira, 10 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25927: (Ex)citações (429): Ainda a situação do nosso camarada guineense Seco Mané. Sei que há boa vontade a rodos mas quanto a resolver mesmo o problema, tudo com dantes (Morais da Silva, Coronel Art Ref))

1. Mensagem do nosso camarada Coronel Morais da Silva (ex-Cap Art, CMDT da CCAÇ 2796, Gadamael; instrutor da 1.ª CCmds Africanos, Fá Mandinga; Adjunto do COP 6, Mansabá, 1970/72), com data de 8 de Setembro de 2024:

Meus caros camaradas
A propósito da deplorável atitude do HFAR e do CEMGFA, logo que soube da situação do combatente Seco Mané difundi, em 2 de Agosto, o texto que anexo e enviei não só aos meus camaradas como à PR, Min. Defesa, CEMGFA e CEME. Como nada mais soube, julguei o assunto encaminhado. Infelizmente, na passada 6ª feira, o Presidente do Núcleo de Lisboa da ADFA, senhor Janeiro, informou-me que a papelada já estará pronta mas o nó continua.

Não consigo entender porquê o CEMGFA não ordenou imediatamente ao HFAR para tratar o ex-militar Seco Mané ultrapassando a burocracia que tudo asfixia. Caramba, comandar é incompatível com lassidão e muito menos com inacção.

O cor. Armando Ramos acaba de me fazer o ponto de situação da iniciativa que desenvolveu há alguns dias acompanhado do Fernando. Sei pois que há boa vontade a rodos mas quanto a resolver mesmo o problema, tudo com dantes. Mais um exemplo do que somos como equipa eficiente, porque joga bonito, mas INEFICAZ porque não mete golos!

Abraço
Morais da Silva


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2. Transcrição do texto que o Coronel Morais da Silva enviou à PR, Ministério da Defesa, CEMGFA e CEME:

Caros camaradas
Há dias horríveis e hoje foi um deles.
Visitei a ADFA onde, pela voz do presidente da delegação de Lisboa, Sr. Janeiro, soube das situações aflitivas e de miséria em que vivem, alquebrados e velhos, ex-combatentes da guerra do Ultramar.

Eis alguns exemplos pungentes:
- pensões da ordem de 300€, doentes e deficientes, sem eira nem beira
- amputados, aguardando ANOS para substituição/manutenção de próteses que lhes garantam alguma mobilidade
- nativos militares na guerra, que vêm a Portugal (de que já foram nacionais!) na esperança de ser tratados das mazelas que os afligem e que esbarram nas barreiras da indiferença.

A última vítima da indiferença dos actuais mandantes é Seco Mané que já foi militar português enquanto a guerra precisou dele durante 11 anos e 195 dias sendo agora um guineense com 75 anos. Ferido gravemente na Guiné (Bedanda) foi tratado no HMP em 1974 após o que regressou à Guiné.

Velho e alquebrado conseguiu vir a Lisboa à procura de tratamento para as mazelas da perna ferida e o inaudito aconteceu. O HFAR recusa-se a tratá-lo porque não é nacional e, portanto não pode ser considerado Deficiente das Forças Armadas. Onde já chegamos!
Temos agora gente boa, liderante na ADFA, a tentar remover a muralha burocrática que nos asfixia, com um Ministério da Defesa inoperante e nominal e um CEMGFA incapaz de ordenar o tratamento imediato do militar ferido ao serviço de Portugal.

Tutelas e Chefias destas, que não respeitam o passado dos que combateram em África, não merecem ser respeitadas e envergonham os velhos profissionais que combateram e bem conhecem as trágicas consequências da guerra.

Nada mais acrescento que não seja dar-vos conta da minha indignação e revolta.

Abraço e muita saúde
Morais Silva
02Ago24

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Notas do editor

Vd. post de 8 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25923: Ser solidário (272): Actualização da situação do processo do nosso camarada guineense Seco Mané, que em Portugal procura resolver a sua precária situação de saúde resultante de ferimentos contraídos em combate ao serviço do Exército Português (Fernando de Jesus Sousa)

Último post da série de 22 de fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25197: (Ex)citações (428): O sistema AAA, do final da II Guerra Mundial, que "defendia" o aeroporto de Bissalanca e a cidade de Bissau no meu tempo (António J. Pereira da Costa, cmdt da Btr 3434, mai 71/ mar 73)

8 comentários:

António J. P. Costa disse...

Não creio que se vá longe na solução deste problema. Se não se foi (nem vai) na solução de tantos problemas similares de portugueses porque se havia de ir neste? Bateram-se numa guerra estúpida e idiota? A culpa é deles se ficaram doentes e incapacitados e foram mal retribuídos. Pisgassem-se para a Suíça, França e Países Baixos... e vinham de lá todos finórios Um Ab. António J. P. Costa

Anónimo disse...

Uma vergonha a juntar a tantas outras vergonhas que passam os combatentes neste país, sobretudo os combatentes da guerra do ultramar. Enviamos emails, cartas, etc., e esta gente responde mas não faz mais nada senão isso!! Uma vergonha inadmissível!!!

Anónimo disse...

O comentário acima é meu Joaquim Mexia Alves

Eduardo Estrela disse...

Quem deu a alma e os melhores anos da sua vida na defesa da pátria e do império é tratado abaixo de cão. Foi no tempo da outra senhora e continua a ser agora .
É vergonhoso aquilo a que assistimos.
E os argumentos do poder instituído ainda mais vergonhosos são.
Eduardo Estrela

Valdemar Silva disse...

"...Seco Mané que já foi militar português enquanto a guerra precisou dele durante 11 anos e 195 dias sendo agora um guineense com 75 anos. "
....enquanto a guerra precisou dele...
Isto é vergonhoso para os "comandantes" no activo.

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Não compreendo este comentário! Sem querer fazer juízos sobre quem fez a guerra, contrariados ou não; sobre quem decidiu ou não "pisgar-se" e veio de volta finório" ... neste momento vejo apenas um ser humano que sofre e precisa da nossa ajuda. Que neste caso, sendo ele nascido na Guiné, não tinha possibilidade de se "pisgar". E não digo mais.
João Crisóstomo

Anónimo disse...

João Crisóstomo
Vejo , aliviado, a onda de revolta pela triste situação e de solidariedade para com o Seco Mané. Bem hajam os muitos que se têm manifestado e ajudado de alguma maneira, incluindo esta "santa raiva" e solidariedade que têm mostrado. Como não sabia de outra maneira para contribuir também com "os meus dois centimos” consegui ligar e acabo de falar com o Fernando Sousa e dele recebi o numero da conta para onde se pode enviar alguma ajuda. Nao sei se esta info já consta ou não em qualquer parte, mas eu não a encontrei.
Aqui está o número da conta << 003300004570590221305 >>.

Permito-me dar a conhecer uma sugestão/informação que me deram , como sendo a maneira mais eficiente de solução para estes e todos os casos semelhantes de "veteranos” esquecidos ou ignorados : a introdução duma resolução no parlamento, sugestão que pode ser feita por qualquer parlamentar e introduzida por qualquer partido.

João Crisóstomo Nova Iorque

Anónimo disse...

Destaco a frase proferida por outros e proferível por quase todos nós, à qual acrescento mais umas pinceladas da minha lavra: "o Estado Português considerou-o português quando veio ao mundo, ratificou
essa condição quando o convocou e integrou no Exército Português onde serviu a Pátria durante quase 12 anos, sob grande sofrimento, na qual foi ferido e, finalmente, já não lhe prestando, abandona-o". Sei que faz o que costuma fazer com os que manda para a guerra. Por minha parte, se fosse deputado, ou desempenhasse cargos políticos de relevo, tinha vergonha de nada fazer. Quanto a, na falta de poder para mais, contribuirmos com ajuda monetária ou outras, em favor do Seco Mané, concordo absolutamente. Carvalho de Mampatá