quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25197: (Ex)citações (428): O sistema AAA, do final da II Guerra Mundial, que "defendia" o aeroporto de Bissalanca e a cidade de Bissau no meu tempo (António J. Pereira da Costa, cmdt da Btr 3434, mai 71/ mar 73)


António José Pereira da Costa 

Nosso grão-tabanqueiro desde 12/12/2007, coronel art ref, ex-alf art, CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-cap art, cmdt da Btr AAA 3434, Bissau; CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo; e CART 3567, Mansabá, 1971/74; autor da série e do livro com o mesmo n0me, "A Minha Guerra a Petróleo";  um dos mais ativos membros do nosso blogue, onde tem 195 de referências.


1. Dois comentários do cor art ref António J. Pereira da Costa ao poste P25192 (*)

(...) Fui comandante da BAA 3434 e fico mais que surpreendido que só (!) em 23fev74 o material de "detecção" tivesse sido considerado inoperacional. 

A BA 12 tinha um radar AN/TPS 1-D que não funcionava há anos e não tinha reparação. Estava montado numa torre metálica e fazia vista. Tive instrução num único radar desses existente no CIAAC que tinha sido desenvolvido no final de II Guerra Mundial  e que já não tinha qualquer utilidade

. A BAA 3434 "fazia (?) a defesa da BA 12 com peças AA 4cm e Met AA 12,7 quádruplas. Faziam-se "estudos" sabendo-se de antemão que o radar AA MK VI (táctico) não conseguia fazer detecção em altitude. 

Com apenas dois radares o que se fazia era pô-los a funcionar ao alvorecer e ao anoitecer. As ligações rádio entre as outras estações radar da PU e a da Base eram do tempo do "diga se me ouve! Escuto" (lembram-se?), ou seja,  se houvesse uma detecção, o alarme à base seria dado tarde e a más horas. Transmitir coordenadas à inglesa no sistema Georef era mais que cómico considerando a velocidade que os "aviões do IN", se existissem, eram muito mais rápidos. 

O dispositivo defensivo tinha uma Met AA quádrupla junto à Porta de Armas/Enfermaria guarnecida 24/24 horas com o pessoal instalado num atrelado de tonelada e, durante a noite, uma das GMC patrulhava o caminho de ronda da base com outra Met AA montada na caixa. Entrou em acção numa flagelação.

Por agora fico-me por aqui, lembrando que havia uma igreja na Base que permitia pedir a Deus Nosso Senhor que não deixasse vir um ataque aéreo do Insidioso e Maldoso IN...

21 de fevereiro de 2024 às 10:38 (**)


(...) Das 3 baterias eram duas ligeiras e uma pesada: a BAA 3381 que acabou por ficar num quartel novo em Bor, construído de raíz. Tinha 4 peças de calibre 9,4 cm, (como as que defendiam Londres durante a II Guerra Mundial ) um radar de tiro MK VII que dava (daria) pontaria às peças através de um preditor (computador, diríamos hoje) mas que tinha como velocidade de cálculo máxima 10 seg. 

Estas peças podiam fazer fogo terrestre (bater a zona). Recordo-me de ter participado numa regulação de tiro com observação aérea.

Tenho uma espécie de história da unidade desta bateria.

Como complemento recordo-me de ter conversado com o falecido ten cor pilav Almeida e Brito que tinha uma opinião pior do que a minha. Para mim,  teríamos um "ataque à PAIGC",  levado a efeito com um excedente de uma guerra como a da Coreia,  feita com aviões que até voavam (MiG 15) e pilotados por um internacionalista qualquer. Para o ten cor  poderia ser algo de mais evoluído e com resultados.  (***)

PS - Vou voltar a este tema


______________

Notas do editor:

(*) Vd. 21 de fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25192: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Inf Bettencourt Rodrigues, Governador-geral e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte V: E se o aeroporto de Bissalanca e a cidade de Bissau fossem alvo de um ataque aéreo ? Em 23 de fevereiro de 1974 foi considerado inoperacional o material de deteção de alvos e de tiro...

(**) Último poste da série > 11 de fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 – P25159: (Ex)citações (427): Pequeno texto referenciado no meu livro “UM RANGER NA GUERRA COLONIAL – GUINÉ/BISSAU 1973/1974" (José Saúde)

(***) Vd. postes de

6 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15077: FAP (84): a ameaça dos MiG na guerra da Guiné (José Matos, Revista Militar, nº 2559, abril de 2015) - Parte I

7 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15079: FAP (85): a ameaça dos MiG na guerra da Guiné (José Matos, Revista Militar, nº 2559, abril de 2015) - Parte II

8 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15085: FAP (86): a ameaça dos MiG na guerra da Guiné (José Matos, Revista Militar, nº 2559, abril de 2015) - Parte III 

4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Lia-se ou releia-se a última parte do artigo do José Matos, e os comentários dos nossos leitores, em especial do ten ref pilav ref, António Martins de Matos:

9 DE SETEMBRO DE 2015
Guiné 63/74 - P15092: FAP (87): a ameaça dos MiG na guerra da Guiné (José Matos, Revista Militar, nº 2559, abril de 2015) - IV (e última) parte

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2015/09/guine-6374-p15092-fap-87-ameaca-dos-mig.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Escreveu em comentário o nosso amigo e camarada AMM (António Martins de Matos, na altura ten pilav, BA12, 1972/74):

(...) Só há pouco tempo constatei que havia um radar de defesa aérea na Guiné, até tenho uma foto onde o malfadado radar aparece em fundo, malfadado porque preciosa ajuda nos teria dado se estivesse a funcionar, essencialmente para nos guiar quando em missões de má visibilidade, o elemento que faltava para que se pudessem fazer missões de noite.
Dois anos de comissão e … nunca mexeu!(...)

9 de setembro de 2015 às 12:39
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2015/09/guine-6374-p15092-fap-87-ameaca-dos-mig.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Esta questão dos MiG está esclarecida. Não representavam no curto / médio prazo uma ameaça real para as NT na Guiné, é o que se depreende das leituras do blogue (há já muitos postes e comentários sobre o tema).
Não vale a pena bater mais no ceguinho nem empolar a questão. E muito menos utiliza-lá como "arma de arremesso" a favor desta ou daquela tese...

Este é um blogue, sem "agenda político-ideológica" (é bom lembra-lo de vez em quando) onde todos falam (ou podem falar) e todos têm razão. Não somos historiadores mas atoresatores de uma guerra, antigos combatentes...

Em todo o caso, num cenário de guerra ("subversiva") há sempre muitas surpresas. A dos Strela foi uma delas: fomos apanhados "descalços".

Aprendemos com a lição ? Não sei, se calhar não houve tempo, a guerra deveria ter demorado "mais uns aninhos" para se poder tirar a prova real...

Um alfabravo, amigos e camaradas que ainda têm pachorra de vir aqui à caixa de comentários.

António J. P. Costa disse...

"Não sei, se calhar não houve tempo, a guerra deveria ter demorado "mais uns aninhos" para se poder tirar a prova real"...
Oh Luís, An! Não te punhas a pau e ganhavas "aquilo"...

Continuando diria que o dispositivo AA de "Um Guiné Melhor" tinha a Btr AA 3381 dividida por Aldeia Formosa, Nova Lamego e Emissor de Nhacra. Não sei qual era a capacidade de detecção dos radares MK VI desta bateria. Eram radares a que podemos chamar planimétricos já que, em altimetria, as antenas apenas com três lóbulos permitiam grosseiramente detectar a altitude de voo do atacante. Claro que tinham elevado valor defensivo, se bem colocadas, em caso de ataque "ao arame". A Marinha também usava peças 4 cm, mas as metralhadoras quádruplas Oerlinkon (peças em linguagem naval) eram usadas uma a uma, enquanto o Exército usava/usou na versão quádrupla na Metrópole.

Um Ab.
António J. P. Costa