1. Mensagem de Carlos Arnaut, ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72)
Data - segunda, 16/08/2021, 13:12
Assunto - Jogos ancestrais (*)
Bom dia, Caro Luís,
Em primeiro lugar o meu desejo de óptimas férias a todos os camaradas, num tempo em que a ameaça que sobre nós pairou parece estar finalmente a desvanecer-se (com ajuda da Marinha).
Deparei num Blog de que sou leitor assíduo, e no seguimento de comentários avulsos sobre o xadrez, jogo de que sou fã, uma referência a um jogo "mancala", que em tempos idos seria jogado pelos árabes e de que existem vestígios no Alentejo.
Este jogo, também ele um jogo de estratégia para dois jogadores, consistiria na transferência de punhados de pedrinhas de cova para cova até se atingir o lado oposto.
A descrição não vai mais além, mas desde logo me recordou aquilo que observei vezes sem conta ser jogado nas zonas por onde andei, na Guiné.
Utilizando-se um madeiro com duas fiadas de covas, os jogadores iam tirando o que me parecia serem umas sementes grandes e arredondadas, de uma cova e vertendo-as noutra ou noutras covas, não tendo eu nunca entendido nem as regras nem quem seria o vencedor.
Recordo-me no entanto que os jogadores estavam sempre altamente concentrados, às vezes com assistência, e tanto quanto me recordo os jogadores eram sempre homens feitos, nunca vi garotos entretidos com tal jogo.
Lembras-te de ter presenciado este jogo? Consegues adiantar mais alguma coisa?
Talvez o nosso amigo Cherno Baldé me consiga matar esta curiosidade, pois acredito que este jogo merece ser divulgado.
Se entenderes que este assunto vale a pena ser debatido, vai em frente.
Grande abraço (agora sim, já vacinado).
Carlos Arnaut
O jogo de toda a Africa (Ouri, Wari, Solo, Mancala, Awélé, etc.) - Revista Jeux & Strategie, nº 7, Fev / Mar 1981. (Cortesia de Carlos Geraldes) (*)
2. Comentário do editor LG:
Carlos, para já vê aqui uma referência a "jogos tradicionias felupes"...
Tu referes-te a um jogo de "tabuleiro" fula, de que tenho ideia de ver jogar em tabancas fulas, no meu tempo... O único poste em que temos referência a esse jogo (um tipo de jogos de tabuleiro) é do falecido Carlos Geraldes (*) (ex-Alf Mil da CART 676, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66). Ele chamava-lhe ôri, mas a grafia correta, em português, é ouri ou uril.
Ab, boa saúde. Luís (, estou pelo Norte).
PS1- Vou reencaminhar a tua mensagem anterior para o Cherno Baldé, que nos vai ajudar.
PS2 - Grafia(s)
ouri
ouri | n. m.
ou·ri
(origem duvidosa)
nome masculino
[Jogos] Jogo de origem africana, disputado entre dois jogadores num tabuleiro com duas filas de cavidades ou casas, sob um conjunto de regras variáveis que permitem acumular e capturar peças, que geralmente são pedras ou sementes. = MANCALA, URIL
"ouri", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/ouri [consultado em 08-09-2021].
mancala
mancala | n. m.
man·ca·la
(inglês mancala, do árabe)
nome masculino
[Jogos] Designação dada a vários jogos africanos e asiáticos disputados entre dois jogadores num tabuleiro com várias cavidades, sob um conjunto de regras variáveis que permitem acumular e capturar peças, que geralmente são pedras ou sementes.
Palavras relacionadas: ouri, uril.
"mancala", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/mancala [consultado em 08-09-2021].
uril
uril | n. m.
u·ril
(origem duvidosa)
nome masculino
[Jogos] Jogo de origem africana, disputado entre dois jogadores num tabuleiro com duas filas de cavidades ou casas, sob um conjunto de regras variáveis que permitem acumular e capturar peças, que geralmente são pedras ou sementes.= MANCALA, OURIPlural: uris.
Palavras relacionadas: ouri.
"uril", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/uril [consultado em 08-09-2021].
4. Resposta do Cherno Baldé, com data de hoje, às 18h23:
Entre os povos muçulmanos e por influência destes também entre os outros grupos, há a prática do jogo de Xadrez designado na língua fula por "Txoqui" (ler Tchoqui) que deve ser a corruptela da palavra Xeque (do xeque-mate) de origem Arabe ou Oriental.
Joga-se num tabuleiro improvisado no chão usando um certo número de paus de lado a lado e a técnica é a mesma da do Xadrez, mas aqui a lógica é bem mais simples pois os paus tem o mesmo estatuto e designação, não havendo hierarquia dos pioes ou paus usados no jogo e ganha o oponente que conseguir eliminar/comer o maior número dos paus do adversário mediante uma regra pré-estabelecida.
Por outro lado, pratica-se também o jogo designado na lingua fula por "Worri", este mais para adultos, embora, como simples jogo de exercício mental em cálculos matemáticos, não existem fronteiras de idades na sua prática.
Para o efeito utilizam-se pedrinhas ou carroços/sementes da palmeira dendém num instrumento talhado para o efeito com 5 buracos em cada lado ou simplesmente com buracos improvisados no chão. Ganha a partida o oponente que conseguir eliminar (sacar/comer) o maior número das pedrinhas/caroços do adversário mediante uma regra bem estabelecida.
No geral são jogos/passatempos em períodos mortos quando não há muito que fazer no campo, durante a época seca e, ainda nas pastagens enquanto se espera pelo retorno do gado que está pastar numa zona aberta de boa visibilidade e sem grandes riscos.
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
__________
Notas do editor:
(*) Último poste da série >8 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21867: Histórias... com abracelos do Carlos Arnaut (ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72)(4): O meu saudoso Xico, um "macaco verde" que comprei a um garoto de Dara