Data - segunda, 16/08/2021, 13:12
Assunto - Jogos ancestrais (*)
Bom dia, Caro Luís,
Em primeiro lugar o meu desejo de óptimas férias a todos os camaradas, num tempo em que a ameaça que sobre nós pairou parece estar finalmente a desvanecer-se (com ajuda da Marinha).
Deparei num Blog de que sou leitor assíduo, e no seguimento de comentários avulsos sobre o xadrez, jogo de que sou fã, uma referência a um jogo "mancala", que em tempos idos seria jogado pelos árabes e de que existem vestígios no Alentejo.
Este jogo, também ele um jogo de estratégia para dois jogadores, consistiria na transferência de punhados de pedrinhas de cova para cova até se atingir o lado oposto.
A descrição não vai mais além, mas desde logo me recordou aquilo que observei vezes sem conta ser jogado nas zonas por onde andei, na Guiné.
Utilizando-se um madeiro com duas fiadas de covas, os jogadores iam tirando o que me parecia serem umas sementes grandes e arredondadas, de uma cova e vertendo-as noutra ou noutras covas, não tendo eu nunca entendido nem as regras nem quem seria o vencedor.
Recordo-me no entanto que os jogadores estavam sempre altamente concentrados, às vezes com assistência, e tanto quanto me recordo os jogadores eram sempre homens feitos, nunca vi garotos entretidos com tal jogo.
Lembras-te de ter presenciado este jogo? Consegues adiantar mais alguma coisa?
Se entenderes que este assunto vale a pena ser debatido, vai em frente.
O jogo de toda a Africa (Ouri, Wari, Solo, Mancala, Awélé, etc.) - Revista Jeux & Strategie, nº 7, Fev / Mar 1981. (Cortesia de Carlos Geraldes) (*)
2. Comentário do editor LG:
Carlos, para já vê aqui uma referência a "jogos tradicionias felupes"...
Em primeiro lugar o meu desejo de óptimas férias a todos os camaradas, num tempo em que a ameaça que sobre nós pairou parece estar finalmente a desvanecer-se (com ajuda da Marinha).
Deparei num Blog de que sou leitor assíduo, e no seguimento de comentários avulsos sobre o xadrez, jogo de que sou fã, uma referência a um jogo "mancala", que em tempos idos seria jogado pelos árabes e de que existem vestígios no Alentejo.
Este jogo, também ele um jogo de estratégia para dois jogadores, consistiria na transferência de punhados de pedrinhas de cova para cova até se atingir o lado oposto.
A descrição não vai mais além, mas desde logo me recordou aquilo que observei vezes sem conta ser jogado nas zonas por onde andei, na Guiné.
Utilizando-se um madeiro com duas fiadas de covas, os jogadores iam tirando o que me parecia serem umas sementes grandes e arredondadas, de uma cova e vertendo-as noutra ou noutras covas, não tendo eu nunca entendido nem as regras nem quem seria o vencedor.
Recordo-me no entanto que os jogadores estavam sempre altamente concentrados, às vezes com assistência, e tanto quanto me recordo os jogadores eram sempre homens feitos, nunca vi garotos entretidos com tal jogo.
Lembras-te de ter presenciado este jogo? Consegues adiantar mais alguma coisa?
Talvez o nosso amigo Cherno Baldé me consiga matar esta curiosidade, pois acredito que este jogo merece ser divulgado.
Se entenderes que este assunto vale a pena ser debatido, vai em frente.
Grande abraço (agora sim, já vacinado).
Carlos Arnaut
O jogo de toda a Africa (Ouri, Wari, Solo, Mancala, Awélé, etc.) - Revista Jeux & Strategie, nº 7, Fev / Mar 1981. (Cortesia de Carlos Geraldes) (*)
Carlos, para já vê aqui uma referência a "jogos tradicionias felupes"...
Tu referes-te a um jogo de "tabuleiro" fula, de que tenho ideia de ver jogar em tabancas fulas, no meu tempo... O único poste em que temos referência a esse jogo (um tipo de jogos de tabuleiro) é do falecido Carlos Geraldes (*) (ex-Alf Mil da CART 676, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66). Ele chamava-lhe ôri, mas a grafia correta, em português, é ouri ou uril.
Ab, boa saúde. Luís (, estou pelo Norte).
PS1- Vou reencaminhar a tua mensagem anterior para o Cherno Baldé, que nos vai ajudar.
PS2 - Grafia(s)
ouri
ouri | n. m.
ou·ri
(origem duvidosa)
nome masculino
[Jogos] Jogo de origem africana, disputado entre dois jogadores num tabuleiro com duas filas de cavidades ou casas, sob um conjunto de regras variáveis que permitem acumular e capturar peças, que geralmente são pedras ou sementes. = MANCALA, URIL
"ouri", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/ouri [consultado em 08-09-2021].
ouri | n. m.
ou·ri
(origem duvidosa)
nome masculino
[Jogos] Jogo de origem africana, disputado entre dois jogadores num tabuleiro com duas filas de cavidades ou casas, sob um conjunto de regras variáveis que permitem acumular e capturar peças, que geralmente são pedras ou sementes. = MANCALA, URIL
"ouri", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/ouri [consultado em 08-09-2021].
mancala
mancala | n. m.
man·ca·la
(inglês mancala, do árabe)
nome masculino
[Jogos] Designação dada a vários jogos africanos e asiáticos disputados entre dois jogadores num tabuleiro com várias cavidades, sob um conjunto de regras variáveis que permitem acumular e capturar peças, que geralmente são pedras ou sementes.
Palavras relacionadas: ouri, uril.
"mancala", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/mancala [consultado em 08-09-2021].
uril
uril | n. m.
u·ril
(origem duvidosa)
nome masculino
[Jogos] Jogo de origem africana, disputado entre dois jogadores num tabuleiro com duas filas de cavidades ou casas, sob um conjunto de regras variáveis que permitem acumular e capturar peças, que geralmente são pedras ou sementes.= MANCALA, OURIPlural: uris.
Palavras relacionadas: ouri.
"uril", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/uril [consultado em 08-09-2021].
Entre os povos muçulmanos e por influência destes também entre os outros grupos, há a prática do jogo de Xadrez designado na língua fula por "Txoqui" (ler Tchoqui) que deve ser a corruptela da palavra Xeque (do xeque-mate) de origem Arabe ou Oriental.
Joga-se num tabuleiro improvisado no chão usando um certo número de paus de lado a lado e a técnica é a mesma da do Xadrez, mas aqui a lógica é bem mais simples pois os paus tem o mesmo estatuto e designação, não havendo hierarquia dos pioes ou paus usados no jogo e ganha o oponente que conseguir eliminar/comer o maior número dos paus do adversário mediante uma regra pré-estabelecida.
Por outro lado, pratica-se também o jogo designado na lingua fula por "Worri", este mais para adultos, embora, como simples jogo de exercício mental em cálculos matemáticos, não existem fronteiras de idades na sua prática.
Por outro lado, pratica-se também o jogo designado na lingua fula por "Worri", este mais para adultos, embora, como simples jogo de exercício mental em cálculos matemáticos, não existem fronteiras de idades na sua prática.
Para o efeito utilizam-se pedrinhas ou carroços/sementes da palmeira dendém num instrumento talhado para o efeito com 5 buracos em cada lado ou simplesmente com buracos improvisados no chão. Ganha a partida o oponente que conseguir eliminar (sacar/comer) o maior número das pedrinhas/caroços do adversário mediante uma regra bem estabelecida.
No geral são jogos/passatempos em períodos mortos quando não há muito que fazer no campo, durante a época seca e, ainda nas pastagens enquanto se espera pelo retorno do gado que está pastar numa zona aberta de boa visibilidade e sem grandes riscos.
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
__________
Notas do editor:
(*) Último poste da série >8 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21867: Histórias... com abracelos do Carlos Arnaut (ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72)(4): O meu saudoso Xico, um "macaco verde" que comprei a um garoto de Dara
(**) Vd. poste de 8 de outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5078: Gavetas da memória (Carlos Geraldes) (10): Como descobri o jogo do Ôri
13 comentários:
Olá Camaradas
Tenho um jogo do ori, mas faltam-me algumas peças. São sementes pretas de uma planta que não conheço. Deviam ser 48, mas não tenho tantas, Haverá alguém que me arranje as que me faltam? Pelas minhas contas faltam-me 7 sementes. No meu livro "A Minha Guerra a Petróleo" conto a história das derrotas que o "Balantazinho" me aplicava. O pagamento era feito em Sumol de Laranja ou Ananás... Uma garrafa por cada vitória.
Um Ab.
António J. P. Costa
PS: Ja´enviei para o blog fotos das minhas peças de arte guineense. Para esclarecimento é só lá ir.
TZ
Como diz Carlos Arnault, também no Alentejo encontramos buracos feitos no chão, melhor dizendo feitos em pedras no chão, muito parecidos com os que vi em Canquelifá feitos na terra.
Conheço os buracos feitos na pedra junto da Igreja da Graça e na Trav. de Sertório, em Évora, mas também os há junto da Fonte das Bicas e da Capela de S. Sebastião, no Alandroal, e junto do Paço de D. Diniz, em Estremoz. Dizem que este buracos são um "tabuleiro" dum jogo do tempo dos romanos e/ou dos mouros.
Os nossos soldados fulas, os mais velhos, também jogavam este jogo em buracos feitos no chão,
Julgo tratar-se do wari, mancala ou choko.
Abraços
Valdemar Queiroz
Em Bafata joguei várias vezes Uri (em francês Iuri), como então lhe chamávamos, com o ator Carlos Miguel, o "fininho". De Madina Xaquili, onde cheguei a estar trouxe de lá um Uri em forma de canoa. Tentei descobri-lo no blogue mas não dei com ele.
Abraços
Fernando Gouveia
Olá Camaradas
O meu óri é em forma de canoa e tem duas "caixas" nas prôas para guardar as sementes, antes de começar o jogo.
Um Ab
António J. P. Costa
Caros Amigos,
Na minha esplanaçao, disse erradamente que eram 5 buracos de cada lado, na verdade sao 6 buracos ou casas de cada lado, onde no inicio da partida se colocam 4 pedras/sementes em cada uma das casas. O sentido do jogo é sempre de esquerda para a direita, no sentido contrario aos ponteiros do relogio. O jogo faz-se distribuindo a totalidade das pedras/sementes de uma das casas de cada vez seguido do adversario que também procede da mesma forma, tentando capturar ou comer (como se diz nas linguas africanas). Para a captura usa-se a estratégia do lobo ou seja de atacar o lado mais fraco do adversario. Quando a distribuiçao das pedras/sementes termina numa casa ou numa serie de casas com menos de 4 sementes (2 ou 3) estas encontradas em situaçao de fragilidade, consideram-se capturadas/comidas e sao retiradas e guardadas na ponta do lado direito de cada um dos jogadores. E quando nao houver mais sementes, ganha o jogo aquele que tiver mais pedras ou sementes capturadas.
Um abraço amigo,
Cherno Baldé
Os árabes nunca chegaram a Angola e a religião islâmica também não. No entanto, o mancala era jogado muito frequentemente pelos meus incomparáveis camaradas angolanos que foram integrados no meu pelotão. Diziam eles que o jogo tinha nascido em África e que as suas origens se perdiam no tempo. Os mais entusiásticos jogadores eram os naturais do Planalto Central (distritos do Huambo e do Bié), embora os das outras regiões também conhecessem bem as suas regras e também jogassem de vez em quando.
Em quimbundo, o jogo chama-se kiela e nesta fotografia podem ver-se dois homens de etnia mucubal jogando, em buracos feitos na areia do deserto ou semideserto. A legenda da fotografia chama wela ao jogo, o que deve ser o seu nome em herero, a língua falada pelos mucubais e povos aparentados (himbas, dimbas, muhakaonas, etc.) em Angola e na Namíbia.
Um engenheiro ou matemático angolano desenvolveu aplicações para telemóvel e computador, para que o mancala possa ser jogado de forma virtual por quem tiver acesso à internet. A página dele tem o endereço https://kiela-game.com/pt/. Parece que ele também comercializa tabuleiros de verdade, incluindo as respetivas "pedras", organiza torneios, etc.
Amigo Fernando Ribeiro,
Os povos Mucubais ou Hereros são originários do vale de Nilo e são criadores de gado tal como seus primos Tutsis do Rwanda e Congo (RDC) que, tudo leva a crer que são aparentados a outros povos da mesma origem como os Fulanis (Fulas) espalhados um pouco por mais de 20 países em África com predominância na zona ocidental assim como os povos Massai do Quênia e Tanzânia.
De acordo com o historiador e Egiptólogo Cheik Anta Diop do Senegal, a bacia do Nilo foi o ponto de partida da maior parte dos povos africanos e não admira que subsistam algumas reminicências de culturas antigas nas práticas culturais de muitos povos africanos hoje distantes,geográficamente, um do outro no continente.
Cherno Baldé
Caros amigos:
Tal como o uri do António J. P. Costa, também o meu tem nas proas as cavidades para ir colocando as pedras que se vão comendo.
Ainda bem que o Cherno fez a correção do 6 buracos e não cinco. Porém no meu tempo, em Madina Xaquili aprendi que só se comia quando nas últimas casas se encontravam ou uma ou duas pedras e só no lado do adversário.
Continuo à procura da foto do meu uri no blogue e depois direi onde a podem ver.
Abraços.
Fernando Gouveia
Camaradas:
Já encontrei o uri. Está no P 4585 e toda a sua história à volta dele.
Abraços
Fernando Gouveia
Caro Fernando Gouveia,
Esta certo o que dizes, todavia, para capturar (comer) tens que juntar (distribuindo) mais uma pedra a outra (quando é 1) ou as outras (quando sao 2). Quando a distribuiçao das pedras de uma casa termina numa casa vazia (sem pedras) ou numa casa totalizando 4 ou mais pedras, nao se pode capturar porque 4 é um numero neutro (de segurança minima), razao porque designo este jogo por estrategia do Lobo que so ataca o lado mais fraco das suas vitimas. Neste jogo as casas em risco de ser capturadas sao as que tem 1 ou 2 pedras pois que quando se junta mais uma pedra do adversario sao capturadas. Cada um dos adversarios vai tentar atrair para o seu lado o maximo de pedras e construir casas fortes de ataque ao adversario, acumulando um numero significativo de pedras (artilharia) as quais serao redistribuidas no momento oportuno, de modo a poder capturar/matar (comer) o maior numero de inimigos/pedras do seu adversario.
Abraços,
Cherno Baldé
Amigo Cherno Baldé,
Sobre os Mucubais e a sua relação com outros povos, nomeadamente os Fulas, passo a transcrever o seguinte:
Os homens sobretudo são de uma maneira geral mais altos e mais robustos do que o cidadão comum que vês à volta, e a estatura e a indumentária, e também o porte, como já te disse, vão produzir-te a inevitável impressão que ocorre a quem como nós se ilustrou pela letra e pela imagem dos livros que lemos e dos filmes que vimos: estamos perante gente muito parecida com outros pastores de África, nomeadamente os tão celebrados Maasai da costa oriental (lembras-te das magníficas páginas que Hemingway escreveu sobre os Maasai, em As verdes Colinas de África?) e os Peul do Sahel. A viagem que vamos fazer vai de facto revelar-te que os Kuvale constituem uma sociedade pastoril accionada por instituições comuns a muitas outras sociedades pastoris africanas, dispostas a sul e a sudeste das nossas, depois largamente a leste e pela costa oriental acima até às Etiópias, daí pelas bordaduras do Sahara até à costa ocidental do Senegal e interiores adjacentes e vastos que implicam um grande número de países modernos onde circulam os Peul, com os seus zebuínos de pelagem encarnada e grandes e lindos cornos projectados para trás, em forma de lira.
(...)
*
Muitas destas imputações desabonatórias dirigidas aos Mucubais são afinal as que, por todo o mundo e desde a Bíblia, estigmatizam as sociedades pastoris e todas aquelas que fundamentam na mobilidade as suas estratégias de vida. Percorre a bibliografia e verifica. É uma antinomia que remonta a Caim e Abel e muitos dos lances mais decisivos e marcantes da história universal estão ligados a fluxos e refluxos territoriais e culturais, invasões e expansões, recuos e dissoluções de grupos originariamente móveis e pastores. Pensa nos Mongóis e no Islão, por exemplo. (...) Há ainda na actualidade muitos milhões de seres humanos que extraem da sua mobilidade e dos seus recursos vivos e móveis as razões e as dinâmicas da sua vida económica e cultural, entendida a cultura, aqui, como a totalidade dos comportamentos, das expressões, das interpretações e dos conceitos que correspondem e assistem à prática de determinada sociedade. (...) Acresce que os pastores de animais de grande porte, e é esse o caso de grande parte dos pastores de África que mais de perto nos podem interessar, são de uma maneira geral, embora em maior ou menor grau, também povos mais ou menos guerreiros ou que preservam traços culturais, logo comportamentais, de uma vocação e de uma capacidade guerreiras. (...)
(continua)
(continuação)
As palavras acima reproduzidas foram extraídas do livro "Vou lá visitar pastores", de Ruy Duarte de Carvalho, que foi certamente o não-Mucubal que melhor conheceu e entendeu os Mucubais. Como se vê, ele também se refere neste trecho aos Fulas.
Português de nascimento, Ruy Duarte de Carvalho (escritor, antropólogo, cineasta, etc.) tornou-se angolano por opção e por paixão, e é como angolano que ele é sempre considerado. Não passa sequer pela cabeça de ninguém chamar-lhe português. A sua angolanidade e a sua africanidade em geral estão acima de qualquer suspeita. Faleceu há poucos anos na Namíbia, país onde tinha estabelecido a sua residência habitual.
A palavra que Ruy Duarte de Carvalho utiliza preferencialmente para designar os Mucubais é Kuvale. Para ele, são sinónimos. A palavra Kuvale é apenas um radical, ao qual há que acrescentar um prefixo (e também um sufixo no caso dos tempos dos verbos) para se obter uma palavra completa, como acontece em todas as línguas bantus. Se acrescentarmos o prefixo Omu-, obtemos a designação usada para uma só pessoa (homem ou mulher) pertencente a esta etnia: Omukuvale. O nome Mucubal deriva desta palavra. O plural de Omukuvale é Ovakuvale. Portanto, um Omukuvale, dois Ovakuvale.
No livro "Vou lá visitar pastores", Ruy Duarte de Carvalho expõe tudo o que sabe sobre os Mucubais, o que é muito. É um livro de difícil leitura, cheio de palavras em Herero, que por vezes chega a ser penoso. No entanto, é um livro cuja leitura recomendo, quanto mais não seja para se perceber que há sociedades e culturas que nada ou quase nada têm a ver com a cultura europeia, simples e até simplista. É surpreendente a riqueza e a complexidade das tradições, usos e costumes, assim como das relações humanas, familiares, sociais e económicas (baseadas no gado bovino) dos Mucubais e, por certo, dos povos aparentados. Os europeus julgam que sabem muito, mas afinal não sabem nada.
O tom do livro é de certo modo coloquial, o que ajuda a amenizar um pouco a sua leitura. Ruy Duarte de Carvalho parece estar a falar para outra pessoa, e de facto está. O seu interlocutor nunca é nomeado, mas sabe-se quem era. Era João van Dunem, irmão (também falecido há poucos anos) da atual ministra da Justiça de Portugal, Francisca van Dunem.
Um abraço
Fernando de Sousa Ribeiro
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