Queridos amigos,
Se a Ribeira Grande possui o privilégio de ter uma dosagem equilibrada entre património cultural e esplendor paisagístico, sendo a visita curta, portanto impeditiva de pôr o pé em tudo quanto é lagoa, cascata ou miradouro, optou-se por uma passeata e um banho na Caldeira Velha, isto ainda a meditar ter começado com o pé direito pelo Museu da Emigração Açoriana e a perceber muito bem que havia que tomar decisões sobre o que visitar ainda em termos de museus, pois a Ribeira Grande tem um centro de artes contemporâneas, um museu municipal, há o museu de tabaco da Maia, o museu vivo do franciscanismo e Casa do Arcano, optou-se por este último, sentia-se uma atração irresistível por poder ver a peça do Arcano Místico, um móvel/expositor dividido em 3 pisos que são preenchidos por pequenas figuras moldadas à mão, compostas por vários materiais, representando cenas do Antigo e Novo Testamento. Optou-se e optou-se lindamente, como se procura mostrar.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (174):
Regresso aos Açores, às ilhas do grupo oriental – 3
Mário Beja Santos
Finda a visita ao Museu da Emigração Açoriana, com saquinho de fato de banho e toalha e garrafa de água, toma-se um táxi, o concelho oferece maravilhas paisagísticas e não é viável andarilhar pela Serra da Água de Pau e ir à Lagoa do Fogo, havendo caldeiras, ruma-se para a Caldeira Velha, aqui se podem tomar banhos em duas poças de água quente, como o leitor poderá ver nas imagens o lugar é um verdadeiro monumento natural regional, diz a brochura divulgativa que este parque natural contém uma fumarola, uma nascente de água férrea, uma queda de água, uma ribeira e um centro de interpretação que dá informações sobre biodiversidade, geodiversidade, geotermia e termalismo. Guardo memória, de quando aqui vivi entre 1967 e 1968 ter bebido uma água maravilhosa que tinha o nome de Água das Lombadas, desapareceu, perguntei porquê, deram-me a explicação que a nascente não está capaz, não deixo de lamentar não poder beber aquela água tão saborosa. Vamos então conhecer um pouco deste apregoado paraíso de lagoas, termas, cascatas, nascentes, jardins e trilhos pedestres. E para quem não sabe, a Ribeira Grande é a capital do surf dos Açores e há outras práticas, como o parapente, o balonismo, BTT, birdwatching, canyoning, pesca desportiva, scuba diving, andar a cavalo, golfe e tiro. Chega-se à Caldeira Velha (é obrigatório antecipadamente fazer a inscrição no digital). Feita a chamada na receção, faz-se uma bela caminhada no aprazível arvoredo, muda-se de roupa e começa a festa, impossível que o leitor não queira vir aqui um dia relaxar-se em banho de água quente cercado de tanta beleza.
Museu da Emigração Açoriana, vista de um pormenor, dá para perceber que havia lugares de lavagem e bancas de venda de peixe, o museu está instalado no mercado do peixe da Ribeira Grande, datado do século XIX
Esta Casa do Arcano foi onde viveu Madre Margarida Isabel do Apocalipse, comprou-a em 1837. Aqui morou até à sua morte, em 1858. A Casa do Arcano está transformada em casa-museu, tem inalterados alguns dos seus espaços, procurou-se salvaguardar o mais possível as alfenarias e os tetos. Esta Madre Margarida era clarissa no Mosteiro do Santo Nome de Jesus da Ribeira Grande onde viveu até a extinção dos conventos em 1832. Na sua casa, manteve-se a freira clarissa até ao fim dos seus dias.
Há a convicção de que ainda em freira no mosteiro tenha dado início à ideia de criação do Arcano Místico e continuado o projeto já em sua casa.
No seu testamento explica que o Arcano contém os mistérios mais importantes do Antigo e Novo Testamento, que compreende as três leis que o senhor Deus deu ao mundo para que por figuras melhor pudéssemos entender o dever, a que estamos obrigados, e a escolha que devemos fazer pela Lei da Graça que por Graça nos foi dada. Voltaremos a falar desta surpreendente visita.
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 5 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26012: Os nossos seres, saberes e lazeres (648): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (173): Regresso aos Açores, às ilhas do grupo oriental (2) (Mário Beja Santos)