sábado, 12 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26040: Os nossos seres, saberes e lazeres (649): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (174): Regresso aos Açores, às ilhas do grupo oriental (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Julho de 2024:

Queridos amigos,
Se a Ribeira Grande possui o privilégio de ter uma dosagem equilibrada entre património cultural e esplendor paisagístico, sendo a visita curta, portanto impeditiva de pôr o pé em tudo quanto é lagoa, cascata ou miradouro, optou-se por uma passeata e um banho na Caldeira Velha, isto ainda a meditar ter começado com o pé direito pelo Museu da Emigração Açoriana e a perceber muito bem que havia que tomar decisões sobre o que visitar ainda em termos de museus, pois a Ribeira Grande tem um centro de artes contemporâneas, um museu municipal, há o museu de tabaco da Maia, o museu vivo do franciscanismo e Casa do Arcano, optou-se por este último, sentia-se uma atração irresistível por poder ver a peça do Arcano Místico, um móvel/expositor dividido em 3 pisos que são preenchidos por pequenas figuras moldadas à mão, compostas por vários materiais, representando cenas do Antigo e Novo Testamento. Optou-se e optou-se lindamente, como se procura mostrar.

Um abraço do
Mário


Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (174):
Regresso aos Açores, às ilhas do grupo oriental – 3


Mário Beja Santos

Finda a visita ao Museu da Emigração Açoriana, com saquinho de fato de banho e toalha e garrafa de água, toma-se um táxi, o concelho oferece maravilhas paisagísticas e não é viável andarilhar pela Serra da Água de Pau e ir à Lagoa do Fogo, havendo caldeiras, ruma-se para a Caldeira Velha, aqui se podem tomar banhos em duas poças de água quente, como o leitor poderá ver nas imagens o lugar é um verdadeiro monumento natural regional, diz a brochura divulgativa que este parque natural contém uma fumarola, uma nascente de água férrea, uma queda de água, uma ribeira e um centro de interpretação que dá informações sobre biodiversidade, geodiversidade, geotermia e termalismo. Guardo memória, de quando aqui vivi entre 1967 e 1968 ter bebido uma água maravilhosa que tinha o nome de Água das Lombadas, desapareceu, perguntei porquê, deram-me a explicação que a nascente não está capaz, não deixo de lamentar não poder beber aquela água tão saborosa. Vamos então conhecer um pouco deste apregoado paraíso de lagoas, termas, cascatas, nascentes, jardins e trilhos pedestres. E para quem não sabe, a Ribeira Grande é a capital do surf dos Açores e há outras práticas, como o parapente, o balonismo, BTT, birdwatching, canyoning, pesca desportiva, scuba diving, andar a cavalo, golfe e tiro. Chega-se à Caldeira Velha (é obrigatório antecipadamente fazer a inscrição no digital). Feita a chamada na receção, faz-se uma bela caminhada no aprazível arvoredo, muda-se de roupa e começa a festa, impossível que o leitor não queira vir aqui um dia relaxar-se em banho de água quente cercado de tanta beleza.

Museu da Emigração Açoriana, vista de um pormenor, dá para perceber que havia lugares de lavagem e bancas de venda de peixe, o museu está instalado no mercado do peixe da Ribeira Grande, datado do século XIX
Pormenor da lagoa mais alta da Caldeira Velha
Banhos de água férrea
Não estava enevoado, mas também não estava ensolarado, daí o reflexo desta luz, a temperatura era amena, podia-se estar especado a ver esta vegetação luxuriante.
Detalhe da vegetação, aqui se pode estar sentado a ver os esplendores da natureza
Um dos acessos à Caldeira Velha
Aqui não se toma banho, é água borbulhante, com os seus odores característicos, tem semelhanças com o que se vê no Vale das Furnas, na mesma ilha.
Uma das quedas de água dentro deste paraíso
Está na hora de regressar à Ribeira Grande, segue-se almoço, a serenidade de um passeio à beira-mar, e da coleção de museus da Ribeira Grande escolheu-se uma peça singularíssima, a Casa do Arcano, isto é onde se guarda o Arcano, obra de arte única do século XIX, classificada como Tesouro Regional em 2009. Aqui se mostra o testemunho de vida da obra de Madre Margarida do Apocalipse, um conjunto impressionante de cenas do Velho e Novo Testamento, uma composição de centenas de figurinhas, moldadas à mão e formadas por vários materiais, tais como farinha de arroz, gelatina animal, goma-arábica e vidro moído.
Esta Casa do Arcano foi onde viveu Madre Margarida Isabel do Apocalipse, comprou-a em 1837. Aqui morou até à sua morte, em 1858. A Casa do Arcano está transformada em casa-museu, tem inalterados alguns dos seus espaços, procurou-se salvaguardar o mais possível as alfenarias e os tetos. Esta Madre Margarida era clarissa no Mosteiro do Santo Nome de Jesus da Ribeira Grande onde viveu até a extinção dos conventos em 1832. Na sua casa, manteve-se a freira clarissa até ao fim dos seus dias.
Há a convicção de que ainda em freira no mosteiro tenha dado início à ideia de criação do Arcano Místico e continuado o projeto já em sua casa.

No seu testamento explica que o Arcano contém os mistérios mais importantes do Antigo e Novo Testamento, que compreende as três leis que o senhor Deus deu ao mundo para que por figuras melhor pudéssemos entender o dever, a que estamos obrigados, e a escolha que devemos fazer pela Lei da Graça que por Graça nos foi dada. Voltaremos a falar desta surpreendente visita.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 5 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26012: Os nossos seres, saberes e lazeres (648): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (173): Regresso aos Açores, às ilhas do grupo oriental (2) (Mário Beja Santos)

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