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terça-feira, 18 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3474: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (1): De Évora a Mansambo...

Estórias de Mansambo
Torcato Mendonça

ex-Alf Mil da CART 2339, Mansambo

1968/69

O Torcato Mendonça nos dias de hoje.

E nos tempos de Mansambo A – De Évora a Bissau Não tinha combinado com o José, a continuidade da segunda parte das suas Estórias da Guiné, prometidas, sem compromisso como era hábito nele, meses antes. Um dia, ao final da tarde, voltou, calmo e sorridente, menos cabelo e mais rugas, com o “eterno” saco a tiracolo.Depois dos cumprimentos, apontou, o José, para o saco e disse: - Tenho as estórias da Guiné aqui. A fase A, a que chamei de Évora a Bissau e parte da Fase B, que será sobre a comissão ou os dois anos que por lá andei. Procurei não me repetir. Eu sorri e esperei o que dali sairia. Abriu a sacola, sacou de umas quantas mini-cassetes e de um bloco. - Olha - disse-me - Ouves as cassetes, seguindo as indicações escritas no bloco. Passas à tecla e dás-me depois uma cópia. Podes cortar à vontade. Não podes é desvirtuar o texto. Se alguns, achares estarem repetidos ou não terem interesse eliminas. Vou ler e passar a limpo. Falaremos depois, disse-lhe. O resultado é este, negando-se ele a ler o que foi passado a limpo e os cortes. 1 – Évora Na primeira parte, das estórias do José, falei da recruta e especialidade. Procurando não me repetir, volto a Vendas Novas.

Cadetes em Vendas Novas limpando as G3. Pouco tempo antes de terminar a especialidade, foi-nos dada a hipótese de “escolher” o quartel para onde queríamos ir. Escolhi Évora e nada mais. Não acreditava que os cadetes, quase aspirantes – fora os que iam chumbar – pudessem escolher algo. Certo é que deu. Terminada a especialidade, galão ou risca num ombro, guia de marcha e um papel na mão para, depois de curto período de férias, me apresentar em Évora.

Conhecia bem a velha cidade. No quartel, que não conhecia, o meu pai tinha estado cerca de trinta anos antes, a cumprir o serviço militar sob a ameaça da II Guerra.

Parada do antigo RAL 3 aqui, nos anos quarenta (RAL1). A Parada mantinha, cerca de trinta anos depois, o mesmo aspecto. Boas recordações dos meses que lá estive. Sempre que por lá passo, se puder, paro e dou uma volta pela cidade… e volto atrás no tempo… até ao dia, há muitos anos atrás em que lá casei… Recordações de outras vidas! No dia determinado apresentei-me um dia no RAL 3. Nada tinha a ver com Artilharia, pois era atirador. Especialidade igual em qualquer Arma. Havia, e apresentaram-se no mesmo dia em Évora, os aspirantes das especialidades de Artilharia. Creio que éramos dez ou doze. Não sei ao certo e também não me recordo como lá cheguei. Lembro-me, isso sim, da velha mala do tempo de estudante, cheia de autocolantes de cidades e hotéis, a maioria fruto de sonhos adiados e do velho saco de cabedal. Saco mais, muito mais velho do que eu, estou hoje já sexagenário. Comprei-o em Portimão a um velho correeiro e acompanhou-me durante muito tempo. Apresentaram-se os novinhos aspirantes, hirtos na postura, continência pronta, sentido de mão fechada. Riam-se os outros oficiais, principalmente os do QP, conhecedores de quem tinha sido o nosso comandante de especialidade. Olhem os pupilos do Capitão Comando Oliveira e Artilheiro anteriormente, se a memória me não atraiçoa. Fomos praxados, como mandam as regras, seguindo-se um lanche, comido nessa tarde ou na seguinte, com pagamento a ser feito por nós, quando o primeiro soldo estivesse a pagamento. Antes do toque do fim da tarde fomos apresentados ao Comandante. Era um Coronel de estatura baixa e olhar manhoso que, depois do toque da saída virava censor. Tempos depois ainda cheguei a acompanhar um dos jornalistas, de um Jornal de Évora, quando estava de Oficial de dia, ao Comandante. Iam os escritos ao lápis… geralmente era o jornalista obrigado a esperar em excesso para gozo do censor… eu tentava, geralmente sem sucesso, abreviar… Na apresentação dos novos aspirantes, o Comandante com mais galões do que ombros, apartou logo artilheiros e atiradores. Distribuiu tarefas. Lembro-me de duas: o Zé Maria virou responsável pela messe de oficiais, eu fui enviado para a PJ Militar. Logo eu?! Nada disse claro. Ouvi a sentença em sentido e toca a encaixar. No dia seguinte fui apresentar-me, a um velho Capitão do Serviço Geral e o principal mentor da organização da praxe e do lanche. Descansou-me o velho militar dizendo: -Escolha um escrivão, furriel ou cabo miliciano seu conhecido, passa depois pelo Quartel-General, aprende as bases e pouco terá que fazer. Se tiver problemas fala comigo. Pus a boina na cabeça, sentido, continência bem puxada e pedido para me retirar. Levantou-se o Capitão, olhou-me e disse: - Aqui não se faz isso pois a disciplina militar não passa por aí. Vá aprendendo essas diferenças. Cumpri as instruções e pouco tive que fazer. Mantinha-me ocupadíssimo e o escrivão, meu antigo colega de estudo também. Ainda tive que dar aplicação militar a uma Bataria e uma ou outra instrução a militares de passagem. E aprendi, isso sim, muito, sobre a vida militar dos oficiais, sargentos e praças. Os milicianos, os profissionais, os nem uma coisa nem outra, os obrigados, os voluntários e tantos outros a gravitarem à volta daquele quartel. Que gentes e que vidas vividas, passadas, bem passadas à pala do tropa… Outras vidas. À tarde, depois do toque, uma ida até a cidade, geralmente ao Fialho ou lugar semelhante com petisco ajantarado, cinema quando havia, uma volta ou outro mata tempo, isso também pois era uma questão de equilíbrio psicológico e, nas terras com militares, há sempre isso. Abreviando, com tanta recordação a ficar no tinteiro. Um dia… conto. Um dia…depois… Corria o tempo de feição, na paz do Senhor, civil ou militar, com fugas em fim-de-semana alargado, trocas de serviço, coberturas para proteger e Beja, Lisboa, a minha casa ou o Algarve ali tão perto… Não há bem que sempre dure... Um dia veio a noticia: - Está mobilizado e apresente-se, daqui a - já não recordo quando -, em Lamego (CIOE). Depois vai para Penafiel formar Companhia. - Creio que, quando fui para Lamego, já sabia ir depois para Penafiel. Lá fui eu e o Zé Maria, no carocha dele, até Lamego. Por lá andamos, em cambalhotas e eteceteras, comendo presunto bom, um peixe desconhecido para mim, trutas, e bebendo branco, tinto ou Raposeira. No regresso, rumo a Lisboa, trocamos, antes, de Companhia com dois camaradas. Eles foram ou ficaram em Penafiel e nós regressamos a Évora, para formar Companhia. Fintámos o destino aqui, mas, mais tarde, eles foram para Moçambique e nós para a Guiné. Era o papão temido… ainda bem, daí… quem sabe? Começou então em Évora, pouco tempo depois, a formação e instrução da CART 2339 __________ Notas de vb:

1. Continuação e reescrita das Estórias de Mansambo.

2. Artigos do Torcato Mendonça em

13 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3310: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (13): Encontro em Bissau: o nosso homem de Missirá...