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sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26420: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (3): Estimativa: podemos apontar para 2,6 evacuações, em média, por dia, só de militares gravement feridos, entre princípios de 1963 e meados de 1974 ?


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  1 de janeiro de 1970 > Quem seria a enfermeira paraquedista que, nessa manhã, a do primeiro dia do novo ano de 1970, veio de DO 27 para tentar salvar o Sambu, do Pel Caç Nat 52 ?  Tanto pode ter sido a Maria Ivone como a Rosa Serra, que nesse dia estava de serviço mas, que nos informou, nunca usou pulseira (para mais na mão esquerda).



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá >  Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  1 de janeiro de 1970 > O fotógrafo, o Jaime Machado,  estava lá!... Uma enfermeira paraquedista prepara o moribundo Uam Sambu para a evacuação para o HM 241...  O camarada, de costas, com o camuflado todo ensanguentado é o Mário Beja Santos, comandante do Pel Caç Nat  52,   À saída da Missão do Sono, em Bambadincazinho, reordenamento a  escassas centenas de metros do quartel de Bambadinca, o Sambu foi vítima de um grave acidente com arma de fogo que lhe custou a vida.  Apesar da evaciação Y, ele irá morrer na viagem, tal a gravidade do do seu estado. (`De pé, em tronco, por detrás da enfermeira que está debruçada sobre o ferido, reconheço o Fernando Sousa, o 1º cabo aux enf, fa CCAÇ 12).

Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  1 de janeiro de 1970 >  Outro pormenor dos primeiros socorros que foram prestados ao Sambu antes de ser evacuado. Era médico do batalhão o Vidal Saraiva, já falecido. À esquerda do Beja Santos, de camuflado ensanguentado (pelo transporte, às costas, do gferido), sob a asa do DO 27, com a mão direita à cintura, em pose expectante, o fur mil enf da CCAÇ 12, o João Carreiro Martins. Ao fundo estão camaradas do infortunado Sambu, do Pel Caç Nat 52.

Fotos: © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Queridas senhoras enfermeiras paraquedistas, boas amigas, camaradas e grã-tabanqueiras Giselda, Arminda, Rosa, Aura:

Não importa que um deus menor tenha ordenado a vossa extinção, há 40 anos atrás...Ou que a tropa vos tenha maltratado... Uma vez enfermeiras pqdt, enfermeiras pqdt para a vida...

Ninguém ficará com ciúmes com este título antológico aplicado a vocês... Se pensarem nas vidas que ajudaram a salvar (nos 3 TO), não é nenhuma "boutade", ou enormidade, dizer-que, no vosso caso, "Nunca tantos ficaram a dever tanto a tão poucas", parafraseando o grande estadista inglês Winston Churchill...

Vocês foram 46, e agora são bem menos... Há saberes que se perderam irremediavelmente com a extinção do corpo de enfermeiras paraquedistas... Saber-ser, saber-fazer, saber-estar...Na guerra, nos cuidados de saúde aos feridos,  militares e civis, a bordo do AL III ou da DO-27, no hospital, no quartel, na base, no mato, na cidade...

No vosso livro coletivo (que faz inveja a outros "corpos" que não conseguiram fazer nada parecido, por exemplo, os médicos, os capelães...), vêm ao de cima muitas dessas competências cognitivas, técnicas, relacionais, humanas, psicossociais... imprescindíveis a um profissional de saúde, na paz e na guerra,,,

Vocês ainda "não fecharam o livro", e até aos 100 (!) ainda irão surgir, bem "espremidinhas", outras histórias, memórias, "cenas"... Penso que faltam sobretudo histórias "sobre" vocês, contadas por nós...Daí o duplo desafio desta série, que tem um título que até pode parecer provocatório...

Andamos todos a "rapar" os baús da memória...Mas a questão não é tanto a falta de material como a "mudança de perspetiva"...Os acontecimentos, os factos, as situações, os lugares, as pessoas, etc. não têm uma única e definitiva leitura...Por isso, "não deitem nada fora", por enquanto...Tudo pode ser "reciclado"...

Será que vamos conseguir material para uma boa dúzia de postes ? O blogue precisa, e vocês merecem o palco (e a nossa gratidão)...

Boa continuação da caminhada pela "picada da vida", agora mais minada e armadilhada... Sobretudo, saudinha.


2. Quantas evacuações terão feito as nossas enfermeiras paraquedistas no TO da Guiné, entre 1962 e 1974 ? (1962 foi o primeiro ano em que se regista a presença de uma enfermeira paraquedista, a Maria Arminda,  no CTIG, aonde chegou em julho,  e a Eugénia, a seguir, quinze dias depois: foram elas que assistiram aos primeiros feridos da guerra, evacuados em Tite, em 23 de janeiro de 1963).

Impossível saber o número de evacuações sanitárias realizadas por elas, embora se possa tentar estimar, com a ajuda delas (enfermeiras) e deles (pilotos e especialistas  da FAP)...

É uma pena que a FAP não tenha esses registos. Ou se tenham perdido. Ou não possam ser discriminadas as evacuações sanitárias dos restantes transportes de pessoal. (E se calhar até tem, é uma questão de ir procurar...)

Sabemos que o HM 241, em Bissau, tinha uma razoável capacidade de internamento: 320 camas.  Sabemos que no TO da Guiné,  se terão registado (só entre as NT)

  • 2854 mortos (dos quais 1717 em combate);
  • 9400 feridos graves (7200 em combate e 2200 em acidentes)
O Pedro Marquês dos Santos, no seu livro "Os números da guerra dce África" (Lisboa, Guerra e Paz Editores, 2021), que estamos a citar,  diz que  rácio na Guiné foi de 1 morto para 3,6 feridos graves (superior ao rácio de Angola, 3,2, e de Moçambique, 1,4) (pág. 143).
  • e perto de 20 mil feridos ligeiros, segundo rácio 1 morto / 3 feridos graves e 1 morto / 10 feridos ligeiros: no entanto, para a Guiné, estimam-se em 34 mil o número de feridos.
Em teoria poderíamos apontar para cerca de 10 mil evacuações, ao longo de 11 anos e meio de guerra  (princípios de  1963 / meados de 1974) (c. 3800 dias), o que daria, grosso modo, 2,6 evacuações de militares feridos gravemente durante o conflito...Os mortos em princípio não podiam "roubar" lugar aos vivos, no heli ou na DO-27, mas também eram evacuados nalguns casos.

Mas faltam também aqui as evacuações de feridos e doentes da população civil bem como dos guerrilheiros do PAIGC, aprisionados pelas NT e feridos... Impossível saber quantas foram.

Por outro lado,  também não sabemos quantas enfermeiras paraquedistas (46 ao todo, de 1961 a 1974, nos 3 TO) poderiam  estar em média na BA 12, em cada ano...

Num recente poste que publicámos com dados sobre transportes (aéreos e marítimos) do BCAÇ 1860 (Tite, abril 65/ abril 67), ficámos a saber que houve as seguintes evacuações sanitárias (no setor S1, neste período de tempo):

A = 6
B= 28
Y = 10

Achamos pouco para um batalhão que teve 16 mortos e 6 "desaparecidos em combate" (**)... 16 mortos a multiplicar pelo rácio 3,6, daria cerca de 58 feridos graves... Ora durante a comissão só terá havido 10 evacuações Y... (podendo o heli ou a DO-27 levar duas macas).

Recorde-se que havia três tipos de códigos para as evacuações sanitárias

  •  Tipo A;  militares ou civis  com necessidade de serem evacuado para o hospital: (i) no mesmo dia do pedido; (ii) ou no dia seguinte; (iii) para consulta urgente; (iv) não exigindo a presença de enfermeira;
  • Tipo B: (i)  transporte para consultas ou tratamentos programados (anteriormente, pelo próprio hospital), de modo a dar continuidade à vigilância ou tratamento em curso;  (ii) não exigia a presença de enfermeira;
  • Tipo Y (ou "Zero Horas", em Moçambique): (i) a mais urgente; (ii) de execução imediata; (iii) feita em helicóptero ou avioneta, passível de aterrar em pequenas pistas de mato; (iv) o ferido precisava logo de levar soro e/ou sangue; e (v) era  obrigatório uma enfermeira a bordo.

Na carlinga do pequeno Dornier DO-27  e na caixa (acanhada) do heli AL III as enfermeiras só tinham espaço para colocarem duas macas sobrepostas. Como equipamenmto dispunham ainda de um gancho ou argola no teto onde se pendurava o frasco de soro.

O essencial da tarefa da enfermeira podia resumir-se ao controlo de três parâmetros:

 (i) conseguir combater o choque, repondo a volémia (aumento de líquidos circulantes), e tentando ao máximo  mantê-la estável;

 (ii) aliviar a dor; 

e (iii)  manter as vias aéreas respiratória permeáveis. 

Mantendo estes 3 parâmetros sob controlo, havia maiores probabibilidades dos feridos ou doentes chegarem com vida ao HM 241 e serem de imediato intervencionados  no hospital e no bloco operatório. 

Claro que havia outros casos, em que era  preciso muito cuidado no manuseamento e posicionamento dos feridos,muitos deles com hemorragias muito ativas e graves traumatismos músculo-esqueléticos. (Fonte:  adapt. de "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira; Porto: Fronteira do Caos, 2014,   pág. 214).

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(***) Último poste da série > 15 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26392: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (2): O que é feito de ti, Maria Rosa Exposto ?... "Nunca vos esqueci nem esquecerei", escreveu ela em depoimento para o livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas", 2ª ed., 2014, pág. 403)

sábado, 28 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25989: O melhor de... A. Marques Lopes (1944-2024) (10): evacuado numa maca, no Dakota, para Lisboa, com mais 4 feridos graves, ao lado de umas senhoras de "altas patentes", que não nos nos ligaram puto...

 

Interior de um Douglas C-47 Skytrain ou Dakota. Imagem do domínio público. Cortesia de Wikimedia Commons.



1. Estamos a reproduzir alguns excertos do melhor que o A. Marques Lopes escreveu, nomeadamennte no seu livro de memórias "Cabra Cega" (*).

Seguimos o texto, respeitando a seleção que ele próprio fez na sua página do Facebook, na postagem de 9 de agosto de 2019.
  
Aqui a narrativa é já feita na 1ª pessoa do singular, assumindo o autor que o "Aiveca" do livro (edição de 2015) era o seu "alter ego", ou seja, o alferes Lopes (pp.  439-442).



Capa do livro "Cabra-cega: do seminário para a guerra colonial", de João Gaspar Carrasqueira (pseudónimo do nosso camarada A. Marques Lopes) (Lisboa, Chiado Editora, 2015,  582 pp. ISBN: 978-989-51-3510-3, Colecção: Bíos, Género: Biografia).



Evacuado numa maca, no Dakota, para Lisboa, com mais 4 feridos  graves, ao lado de umas senhoras de "altas patentes", que não nos nos ligaram puto... 
 

por A. Marques Lopes (1944-2024)


Três dias depois de ter chegado ao hospital  [HM 241, em Bissau ], passou pela minha cama um velho amigo e conhecido. Era o Herculano Carvalho, do mesmo pelotão que eu nos primeiros meses do COM.

− O que é que te aconteceu?  −  perguntou-me.

Expliquei-lhe que tinha ido ao ar com uma mina. O Herculano disse-me que estava ali porque tinham descoberto que era hemofílico e que no dia seguinte seria evacuado para a metrópole.

 E não descobriram isso logo quando foste para os comandos?

 − Parece que não sabes como é. Alguma vez os gajos se preocupam com isso? Lembras-te bem que, em Mafra, além da injeção cavalar, que diziam dar para todos os males, não se preocupavam em saber mais nada. Menos, é claro, em ver aqueles que tinham cunhas para os serviços auxiliares. Serves para o que queremos e toca a andar, era assim.

 
− É verdade, eu sei bem. Mas como é que descobriram isso agora?

−  Por acaso, foi sorte. Tive um pequeno ferimento aqui na perna durante uma operação  
− arregaçou um bocado a calça e mostrou a perna direita ligada.  − O enfermeiro viu que o sangue não estancava e topou logo.

A conversa derivou. Contei-lhe a história toda da mina e por onde andara e ele contou-me do Cantanhez onde acabara por ser ferido.

Ele foi no dia seguinte e eu foi no fim dessa semana evacuado para o HMP , para Lisboa.

Fui só com as calças e uma camisa, era o que tinha quando rebentara a mina. Nunca me lembrara quando estava a comprimidos mas ocorreu-me quando estava a entrar para o Dakota.

− Eu tinha uma mala…

 
− Não há mala nenhuma  −  disse-me um dos pilotos.

Estava a ver. O pessoal da companhia nunca mais lhe tinha ligado depois daquilo. Podia ter-lhes exigido que lhe mandassem a mala que tinha debaixo da cama lá do quarto. Eram coisas pessoais que lá estavam mas era sobretudo o livro da escola do PAIGC e a  Kalashnikov da professora que queria ter. Eram recordações minhas que iriam ser agarradas por um outro qualquer. Fiquei lixado.

Mais fiquei quando já estava dentro do avião. Iam também outros feridos. Os bancos que estavam à frente, logo após a cabina dos pilotos, foram ocupados por umas senhoras, não soube quem eram, mas os cinco feridos foram esticados em macas no corredor. Ainda disse que não estava assim tão mal e que podia ir sentado. Que não, disseram-me, tinha de ir numa maca. Quando o avião já estava alto,  comecei a deitar sangue pelos ouvidos, era o meu ferimento principal.

Ninguém me 
ligou, teve que se ir limpando com um lenço.

As mulheres cavaquearam durante a viagem. Por entre os roncos do avião uma dizia que o meu marido é isto, outra que o marido tinha feito aquilo, outra que o dela comandava o batalhão tal, uma loura gabava-se de o marido ser amigo do governador [gen Arnaldo Schulz].

Eu não ouvia quase nada, ia limpando o sangue que me pingava dos ouvidos. O que estava ao meu lado, o que tinha ficado sem uma perna numa armadilha, é que comentava o que elas diziam. Cada um deles também disse porque é que vinha ali. Esforcei-me por ouvi-los. Era o que tinha caído na armadilha, o que estava mais perto de mim, um que tinha apanhado uma roquetada e estava todo ligado, um que tinha apanhado bilharziose, um que tinha apanhado uma rajada que lhe fodera um pulmão e o quinto ia com uma hepatite aguda. No meio deles, vi que ainda era o que estava melhor.

Contavam o seu caso em voz alta mas as senhoras nunca viraram a cara, não se perturbaram. Aquele era outro mundo, estranho àquele das boas relações em que elas se moviam. Ainda pensei que lhes ficaria bem chegaram-se ao pé das macas para saber o que cada um tinha e desejarem melhoras. Mas nem isso, não se interessaram puto. Elas, senhoras das altas patentes, iam agora meter-se com a soldadesca... Nem pensar, até parecia mal ao seu estatuto.

Ao fim de cinco ou seis horas, não soube bem, não me deu para contar o tempo, chegámos ao aeroporto militar de Las Palmas. Foi o que disse um piloto, e que quem quisesse podia sair para descontrair.

– Empresta-me a tua perna 
  rosnou o que caíra na armadilha.

Deles só eu é que saí. As mulheres também, mas não soube para onde foram. Estava cheio de fome porque não lhes tinham dado nada, nem as queridas rações de combate. Vi vários militares e olhei para uma porta que me pareceu a entrada para um bar. Fui até lá e entrei.

Olharam para mim mas ninguém pareceu espantado, já deviam estar habituados a estas visitas. Pedi uma cerveja e uma sandes. Devorei-as, era a fome. No fim fiquei atrapalhado porque dei que não tinha dinheiro. Nem escudos, nem pesos da Guiné, muito menos pesetas. 

Baixei a cabeça e fui-me afastando devagar até à porta. Ninguém reparou em mim, pareceram distraídos. Já fora, zarpei o mais rápido que pude para o Dakota. Já esticado na maca e enquanto o avião arrancava para Lisboa, ainda pensava, na dúvida, se fora eu que tinha sido esperto ou se tinham sido eles que, compassivos, me deixaram sair sem me agarrarem para pagar.

Ao fim de não soube quantas horas chegámos a Figo Maduro. Os meus pais e a minha irmã, bem como familiares dos outros feridos, estavam lá à espera. Só lhes tinham dito que vinham evacuados, não como vinham. 

Expetativa geral, angústia nos olhares e corações de os poder ver sem pernas ou sem braços, cegos ou meio mortos. Foram lágrimas e abraços aos que conseguiam estar de pé, beijos e mais lágrimas para os que continuavam nas macas. Os meus ficaram contentes por me verem de pé. Durou pouco tempo o encontro porque nos meteram, quase logo, em ambulâncias em direcção à Estrela.

(Seleção, revisão / fixação de texto, título: LG)
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Nota do editor:

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25079: Casos: a verdade sobre... (41): "Canquelifá era o seu nome" - Uma batalha de há 50 anos (José Peixoto, ex-1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883, 1972/74) - IV (e última) Parte: O nosso batismo de fogo, na bolanha do Macaco-Cão, em 29 de agosto de 1973


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Sector L4 (Piche) > Canquelifá >  CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (1972/74) > 29 de agosto de 1973 > Cópia da mensagem original com o pedido de meios aéreos para transporte de feridos: Escrita pelo então 1º cabo cripto Jacinto Teixeira, e difundida pelo 1º cabo radiotelegrafista José Peixoto para o CAOP 2, Nova Lamego  e Bissau.


Guiné > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Sector L4 (Piche) > Canquelifá >  CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (1972/74) > s/d> s/l > "Dois bons amigos de então, Luís Henriques, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, mais conhecido por "Alcanena” e Manuel Claro, ex-Atirador, dos quais junto foto na bolanha",





Fotos (e legendas): © José Peixoto  (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Crachá da CCAÇ 3545, "Os Abutres" (Canquelifá e Dunane, 1972/74

(cortesia do José Peixoto)



José Peixoto, Canquelifá, c. 1973


José Peixoto, hoje, inspetor 
da CP, reformado



1. Quarte (e última) parte da narrativa do José Peixoto com as suas memórias sobre a Canquelifá do seu tempo (*). 

Recorde-se que:

(i) foi 1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (Canquelifá, 1972/74);

(ii) vive no concelho de Vila Nova de Famalicão, reformado da CP como inspetor;

(iii) é membro da Tabanca Grande nº 731, entrado em 30/10/2016.(**)

Deixou-nos um relato memorialistico, dramático, dos últimos tempos da sua comissão, de 12/13 páginas, que foi escrevendo ao longo dos anos, e que intitulou "Arauto da Verdade".

O texto, extenso, foi publicado na íntegra (**). Estamos agora a republicá-lo, em postes por episódios, e cruzá-lo com outros postes que temos publicado sobre Canquelifá, com referênica à situação militar que se agravou, naquele aquartelamento e povoação do nordeste da Guiné, região de Gabu, a partir de agosto de 1973.


"Canquelifá era o seu nome" - IV (e última) Parte:   

O nosso batismo de fogo,
na bolanha d0 Macaco-Cão,
em 29 de agosto de 1973

por José Peixoto


Outro episódio não menos importante na nossa passagem por aquelas terras de além-mar, foi o dia 29 de agosto de 1973: primeiro contacto com o IN na bolanha do Macaco-Cão cerca das 16h00, emboscada perpetrada às nossas tropas com graves consequências, pois saldou-se por 2 mortos, o Gomes e o Nunes, e vários feridos, alguns com gravidade.

Encontrava-me eu de serviço no posto de rádio quando se fez ouvir o disparar de armas automáticas à mistura com morteiradas e RPG 2 ou 7 (da parte do IN) e bazucada (da parte das NT). Essa emboscada foi  a cerca de 3 km de distância de Canquelifá.

Logo chegou o pedido via rádio, da evacuação dos feridos, não me recordo quem era o operador (tenho dúvidas se era o Matos ou o Coelho),

Escrita a mensagem pelo então cripto Jacinto Teixeira, a mesma por mim foi difundida ao CAOP 2, Nova Lamego e Bissau.

A confirmar a veracidade do exposto, mantenho em meu poder o original da mensagem do pedido da evacuação, que exibo (vd. foto acima).

A referida emboscada ficou marcada por uma série de acontecimentos entre eles destaco!..

  • aquando da chegada dos hélis ao local, em número de 3, foi constatado viajarem militares cujo destino era a passagem para Bissau, e desta à metrópole a fim de passarem férias, dificultando deste modo a total evacuação dos feridos;
  • o capitão Cristo, que também fazia parte daquela operação, ao aperceber-se de tal, logo ordenou o desembarque dos referidos militares, dando-lhes como justificação não ser aquele momento e meio de transporte para fazerem turismo.

A talho de foice, como é usual dizer-se, no passado dia 4 junho 2016, no decorrer do almoço- convívio em Amarante, foram estes momentos lembrados, mais uma vez, pelo veterano José Carvalheira, a residir ali para os lados de Barcelos, que fez parte deste lote de feridos. Com todo o seu bom humor de pessoa simples, não deixou de sublinhar o facto de naquele dia lhe ter saído o totoloto duas vezes:

(i) o primeiro sorteio tocou-lhe uma boa meia dúzia de estilhaços na zona lombar, mas apesar de tudo está vivo sem sequelas;

(ii) no segundo sorteio, que foi em função do primeiro, o prémio está sendo dividido ao longo da sua vida, atribuído pelo Estado Português, e que muito jeitinho lhe faz no final de cada mês!..

E exclamava o Veterano ironizando:

- Caríssimos Veteranos, todos quantos fizeram parte da CCAÇ 3545, o relato que aqui deixo gravado não se trata de uma ficção! Fazer um relato de guerra não é tarefa fácil mesmo tendo passado pelos acontecimentos.

Creiam, estas são memórias que se encontravam alojadas no meu subconsciente e que foram trazidas para o computador com algumas lágrimas à mistura, mesmo considerando o facto de poder dizer bem alto “correu bem, cheguei vivo”. Mas, mesmo assim, não se pode esquecer nunca aqueles que tombaram a meu lado e por isso temos orgulho em todos que combateram na terra, no ar ou no mar!

Aproveitando a circunstância, quero aqui deixar a todas as Famílias a eterna saudade.

Ao lerem todos estes escritos que antecedem, vão com certeza recordar aqueles momentos que muito particularmente marcaram para sempre as nossas vidas, e bem assim as das nossas famílias.

Todo este “Arauto da Verdade” foi escrito há vários anos, todos os acontecimentos transcritos são de uma percentagem de erro muito reduzida, considero eu. Relativamente aos seus meandros relatados, no tocante às datas dos acontecimentos, aceito alguma eventual discrepância. 

Por outro lado, também quero dedicar este capítulo que não deixou de ser menos histórico, à minha família, especialmente aos meus filhos, Rui e Vera, hoje pessoas adultas, com a sua formação académica nas áreas de engenharia mecânica e ciências farmacêuticas, respetivamente, para que se possam orgulhar de o seu pai ter cumprido um dever de cidadania, mesmo sendo este de causas desconhecidas.

O caminho é feito caminhando, como o nosso povo costuma dizer! Era tempo de iniciar outro capítulo de vida que também não se apresentava fácil.

O construir de uma família, a subsistência dela, tudo eram interrogações que se colocavam e que apenas tinha uma só saída, escolher e seguir uma carreira profissional.

Para concluir, gostaria de registar que durante a vida devemos aproveitar todos os momentos para dizer àqueles que amamos, o quanto são importantes. Amanhã pode ser tarde para dizermos que amamos e precisamos!

Às leis do divino chefe, se efetivamente ele existe, o meu obrigado, e um bem-haja por não me ter abandonado nos momentos difíceis.

Como todos bem sabem, haveria a mencionar muitos outros momentos não menos difíceis, muito gostaria que outro camarada pertencente à CCAÇ 3545 lhe desse continuidade, se o caso o merecer.

Para dar por terminado estes meus simples capítulos, só pretendia abrir aqui um outro, na tentativa de encontrar dois bons amigos de então:

(i) Luís Henriques, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, mais conhecido por "Alcanena” e Manuel Claro, ex-Atirador, dos quais junto foto na bolanha (vd. foto acima).

Os não menos amigos:


(ii) Alcino Teixeira, o nosso destacado cozinheiro;

(iii) Arnaldo Pinho, o responsável pela padaria, onde se assavam os cabritinhos;

(iv) Teles Dias, o braço direito da messe dos oficias, creio ser de Ponte de Sor;

(v) Carlos Sarmento, e o Teixeira, dupla de Operadores Criptos da Companhia.

E bem assim tantos outros que não recordo nomes, mas gostaria de os encontrar. Ergam o dedo, e digam que estão vivos, vamos a um almoço?!

Se por ventura alguém tiver dificuldade em se deslocar, relativamente a transporte, não há inconveniente ser eu a fazê-lo, de qualquer parte do país. .

Para contacto, o meu correio eletrónico é jspeixotolord@hotmail.com

Um bem.haja a todos!
José Peixoto

(Seleção, revisao/fixação de texto, negritos: LG)
____________

Notas do editor

(*) Último poste da série : 14 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25068: Casos: a verdade sobre... (40): "Canquelifá era o seu nome" - Uma batalha de há 50 anos (José Peixoto, ex-1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883, 1972/74) - Parte III: 21 de março de 1974, Op Neve Gelada, 22 cadáveres de guerrilheiros são trazidos para o quartel, lavados, fotografados e enterrados na pista de aterragem

Vd. postes anteriores:


sábado, 2 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24609: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (8): ex-alf mil cav Jaime Machado, cmdt Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70) - Parte IV: a morte à saída da Missão do Sono em Bambadinca, na madrugada do dia 1 de janeiro de 1970


Foto nº 19 > Guiné > Zona leste > Região de Bafatá >  Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  1 de janeiro de 1970 > O fotógrafo estava lá!... Uma enfermeira paraquedista prepara o moribundo Uam Sambu para a evacuação para o HM 241...  O camarada, de costas, com o camuflado todo ensanguentado é o Mário Beja Santos, comandante do Pel Caç Nat  52, de acordo com a identificação feita pelo fotógrafo, o Jaime Machado.  À saída da Missão do Sono, em Bambadincazinho, reordenamento a  escassas centenas de metros do quartel de Bambadinca, o Sambu foi vítima de um grave acidente com arma de fogo que lhe custou a vida.  


Foto nº 19A  > Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  1 de janeiro de 1970 > Não conseguimos identificar a enfermeira paraquedista que, nessa manhã, a do primeiro dia do novo ano de 1970, veio de DO 27 para tentar salvar o Sambu... Em vão, ele irá morrer na viagem... Vamos continuar a tentar saber quem era a enfermeira... (que tanto pode ter sido a Maria Ivone como a Rosa Serra, que nesse dia estava de serviço).


Foto nº 19B >Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  1 de janeiro de 1970 > Quem seria a enfermeira paraquedista que, nessa manhã, a do primeiro dia do novo ano de 1970, veio de DO 27 para tentar salvar o Sambu ?  Tanto pode ter sido a Maria Ivone como a Rosa Serra, que nesse dia estava de serviço mas, que nos informou, nunca usou pulseira (para mais na mão esquerda).


Foto nº 20 > Guiné > Zona leste > Setor L1 > Região de Bafatá > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  1 de janeiro de 1970 >  A DO 27 que no primeiro dia do novo ano de 1970, logo de manhã cedo, veio fazer evacuação do Sambu. Do lado esquerdo, de perfil, vê-se o piloto, com "cara de puto", alferes...


Foto nº 20A  > Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  1 de janeiro de 1970 >  Outro pormenor dos primeiros socorros que foram prestados ao Sambu antes de ser evacuado. Era médico do batalhão o Vidal Saraiva. À esquerda do Beja Santos, sob a asa do DO 27, com a mão direita à cintura, em pose expectante, parece-se ser o fur mil enf da CCAÇ 12, o meu amigo João Carreiro Martins. Ao fundo estão camaradas do infortunado Sambu, do Pel Caç Nat 52.



Foto nº 21 > Guiné > Zona leste > Região de Bafatá: Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  1 de janeiro de 1970 >  Um DO 27 a levantar voo, de regresso a Bissau... Pode ser a mesma da foto anterior, como pode ser outra... Tudo indica que esta foto tenha sido tirada noutra altura e noutro lugar. Parece-me ser a pista de Bafatá, a avaliar pelo casario ao fundo... (O Jaime Machado diz-me que é Bambadinca e vem na sequência das fotos anteriores,,,).  (LG)

Fotos: © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Continuação da publicação de uma seleção das melhores fotos  do álbum do nosso camarada Jaime Machado, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70) (*), que vive na Senhora da Hora, Matosinhos [foto atual à direita], e foi contemporâneo do Mário Beja Santos (cmdt do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com uma pequena  diferença de meses. Eu também estive com eles, lá, na mesma altura, desde julho de 1969... O Jaime saiu em fevereiro de 1970, e o Mário, dois meses depois, em abril de 1970, se não erro.

Ao ver estas fotos, tive um arrepio, quando o Jaime Machado me disse que o camarada com o camuflado ensanguentado era o Beja Santos, o nosso "Tigre de Missirá"...  

Lembrei-me imediatamente deste trágico acidente que ceifou a vida ao Uam Sambú. Fui pesquisar os escritos do Mário Beja Santos. Aqui vai um excerto do poste P2540, de 15/2/2008 (**)

(...) O Setúbal já nos tinha avisado que viria o Xabregas [condutor]  ao amanhecer, eu que não estivesse preocupado. Assim que clareou, todos de pé, arrumadas as mantas, satisfeitas as necessidades mais prementes nas redondezas, esperámos a tiritar a aproximação dos faróis do Unimog, procurando desentorpecer os músculos. Assim foi naquele amanhecer de 1 de Janeiro de 1970. O Xabregas trouxe um burrinho, o que significava dez militares sentados, 20 a pé. Dez não, um outro saltava para o lado do condutor, mais um outro encavalitava-se junto do alferes. Uam Sambu senta-se ao pé de mim e diz a Quebá Sissé:
- Sobe,  Doutor, dá cá a mão!

Vejo o riso feliz e sempre aberto de Quebá Sissé, segue-se o estrondo inusitado de uma rajada de G3, procuro levantar-me, oiço gritos de aflição, imprecações, um coro desorientado de protestos, e é nisto que Uam me cai nos braços,  enterrando-me no assento:
- Alferes, estou morto!

Com Uam no meu colo, vejo o seu peito esburacado, os lábios num esgar de dor, o olhar a esmorecer, o sangue passa para a minha farda em abundância. O burrinho corre em poucos minutos nas mãos expeditas do Xabregas até à enfermaria. Vou a correr tirar da cama o [alf mil médico] Vidal Saraiva que se debruça atarantado sobre Uam com o peito tracejado por diferentes perfurações. 

Cá fora, desenrola-se uma outra tragédia, há quem ameace o Doutor, ouve-se a palavra assassino, ouvem-se as expressões impensadas do costume. Ora, tinha sido o mais estúpido dos acidentes, o malogrado Doutor ao subir metera o dedo no gatilho e fulminara Uam, o Doutor era a alma mais pacífica do 52, ninguém lhe conhecia azedume, aguentara estoicamente todos os comentários ao seu trabalho de cozinheiro. Percebendo que era necessário pôr termo àquela ira dementada, disse ao Domingos:
- Não quero aqui ninguém, tudo para a tabanca, tu desces imediatamente com eles e explicas que foi um acidente, quem tocar no Doutor tramo-lhe a vida.

Dita a bazófia, acerquei-me da marquesa onde o Vidal Saraiva me avisou:
- Só por milagre se salva, tem os órgãos vitais atingidos, veja o sangue aos cantos da boca, pulmões e rins têm lesões que presumo serem irreversíveis. Vamos ver como é que ele se aguenta até Bissau.

 O DO [27] chegou rapidamente e lá fomos todos a acompanhar o moribundo até à pista de aviação, Binta, a mulher do Uam, gritava o seu desespero, o Pel Caç Nat 52 assistia ao transporte de Uam num silêncio total, estarrecido. Dispersámos, o Vidal Saraiva era o mais acabrunhado entre nós. (...) 
 ____________

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20503: FAP (114): O helicóptero Alouette II


Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (Out 64 / Jul 66) > O pessoal em operações militares: na foto, acima, transporte às costas de um ferido, evacuado para o HM 241, em Bissau, por um helicóptero Alouette II (versão anterior do Alouette III, que nos era mais familiar, sobretudo para aqueles que chegaram à Guiné a partir de 1968).


Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (Out 64 / Jul 66) > "O heli [, aqui a descolar,]  era o Alouette II (dois). O que está na foto nº 1 já tem rodas, os que conhecia eram todos com patins. Nesta altura, os feridos eram transportados no "caixão" que eu destaquei a amarelo. Podes imaginar como arrepiante seria viajar, amarrado e bem amarrado, naquele cubículo do lado de fora da carlinga" (Jorge Félix) (*)..

Foto (e legenda): © Alberto Pires (Teco) / Jorge Félix (2009). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Foto nº 3 > Guiné > Região do Oio > Jumbembem > CART 730 (1964/66) e CCAÇ 1565 (1966/68) > Domingo, 10 de julho de 1966 > Um dia trágico: pormenor da evacuação do cap mil inf Rui Romero, na foto a ser transferido para a maca do helicóptero Alouette II... A enfermeira paraquedista era a alf Maria Rosa Exposto.

Foto ( e legenda): © Artur Conceição (2007). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 4 > Guiné > Região de Quínara > Tite > Agosto/Setembro de 1965 > Alouette II. Foto do álbum de Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf do Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66.

Foto (e legendas): © Santos Oliveira (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 5 > Guiné > Região do Oio > Porto Gole > Arnaldo Schulz ao lado do piloto do helicóptero;  Fevereiro de 1967 > A despedida: em segundo plano, no banco de trás, duas caixas de cerveja, Sagres e Cristal; em primeiro plano, à esquerda, um cabo especialista da FAP e, à direita, o fur mil Viegas, do Pel Caç Nat 54, com camuflado paraquedista trocado com um camarada numa operação no Morés em outubro de 1966. A aeronave parece ser um Alouette II.

Foto (e legenda) : © José António Viegas (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 6  > Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66) > Alouette II > "O meu batismo em heli"...

Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Tancos > Base Aérea nº3 > 1967 > 1.º Curso de Pilotos de Helicópteros, onde pela 1.ª vez também foram incorporados milicianos, segundo informação do Jorge Félix, aqui, junto a um Allouette II, no meio dos seus camaradas, onde se inclui o Duarte Pio de Bragança [e não Duarte Nuno de Bragança, como por lapso escreveu o Jorge Félix]

Os primeiros pilotos milicianos de helicópetros da FAP > 14 de Março de 2008 > "Éramos oito milicianos (Eu, Antolin, Cavadas, Melo, Baeta, Pinto e Duarte) e três da Academia Militar (Braga, Afonso e Costa).

O Pinto faleceu em Outubro de 2007, em Lisboa, vítima de doença. O Oliveira faleceu no acidente de aviação em Tancos, em 72 ou 73. Estes dois companheiros estiveram comigo na Guiné. O Melo anda em sítio incerto na Venezuela (vou saber pormenores da 'chatice' que foi a vida dele por lhe terem roubado um Allouette III da FAP). O Baeta faleceu em Gago Coutinho, Angola, Março de 1969, num acidente, voo nocturno, Heli. O Cavadas também já faleceu em acidente de Heli, andava nas pulverizações, no Alentejo. O Antolin está de perfeita saúde, Comandante da TAP reformado, a viver em Lisboa. O Duarte é... Sua Alteza D. Duarte Pio de Bragança, esteve em Angola [... e não em Moçambique...] e vive em Lisboa. O Pinto, também reformado da TAP, faleceu há quatro meses. Do Braga, Afonso e Costa, sei muito pouco (...)..

Foto (e legenda): © Jorge Félix. Todos os direitos reservados [Cortesia de: Blogue do Victor Barata > Especialistas da BA 12, Guiné 1965/74.] (**)


Guiné > Algures > Jorge Félix, allf mil pil heli Al III (BA 12, BA 12, Bissalanca, 1968/70) e António Spínola (Com-Chefe e Governador Geral, CTIG, 1968/73)... O tratamento por "pilav" era reservado aos pilotos-aviadores que vinham da Academia Militar. Não sabemos exatamente em que data chegaram, à BA 12, Bissalanca, os Alouette III. A partir de 1969, o fabricante francês destaca para a BA 12 um técnico de manutenção, o Pierre Fargeas (nascido em 1932) e que se tornou um grande amigo de Portugal e do pessoal que passou pela BA 12 entre 1969 e 1974. A sua esposa, Ivette Fargeas, também o acompanhou. (***)

Foto (e legenda): © Jorge Félix (2010). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O que muito de nós não sabem (ou não sabiam) sobre o heli Alouette II, antecessor do Alouette III

(i) Maria Arminda Santos (****)

(...) "A partir daí a guerra na Guiné estava instalada e assim que foi possível fomos colocadas na Base de Bissalanca, para o início das evacuações aéreas com enfermeiras. Havia os aviões Auster e os helicópteros Alouette II; nestes não nos era possível acompanhar de perto os feridos, os quais eram transportados fora do helicóptero, numa espécie de caixas colocadas por cima dos patins do heli, uma de cada lado. Nos Auster a maca quase entrava pela cadeira ao lado do piloto e na cauda do avião. 

"Felizmente mais tarde chegaram os DO-27 e os Alouette III, onde passámos a fazer inúmeras evacuações, adaptando e modificando os meios sanitários e a nossa actuação, com a finalidade de uma mais eficaz prestação de cuidados aos feridos, os quais iam sendo cada vez em maior número. Infelizmente tivemos que chegar a fazer evacuações no Dakota, quando havia ao mesmo tempo muitos feridos e a pista era adequada para a sua aterragem." (...)  


(ii) Wikipedia > Aérospatiale Alouette II (em português)

(... ) O Alouette II é um helicóptero ligeiro, produzido, sob diversas versões, pelo construtor aeronáutico francês, SNCASE, que em 1957 deu origem à Sud Aviation, em 1970 à Aérospatiale, em 1992 à Eurocopter e que em 2000 passou a integrar a EADS (...)

Foi o primeiro helicóptero do mundo, motorizado com turbina a gás a ser certificado para voo.

As versões militares eram usadas essencialmente em, fotografia aérea, observação, salvamento marítimo. ligação e treino. Na parte civil era usado essencialmente na evacuação médica principalmente em grande altitude, tirando partido do seu motor de turbina. (...)

(...) O Alouette II foi o segundo modelo de helicóptero ao serviço da Força Aérea Portuguesa, a seguir ao único Sikorsky UH-19 operado desde 1954. Foram recebidas sete unidades em 1957, começando a ser operadas no ano seguinte, uma das quais seria destruída por acidente.

Com o início da Guerra do Ultramar, os seis helicópteros remanescentes foram enviados para Angola, de onde operaram a partir das bases aéreas do Negaje e de Luanda. Foram utilizados sobretudo para evacuações sanitárias e para ligações. 

A partir de abril de 1963, começaram a ser substituídos em Angola pelos recém adquiridos Alouette III, sendo enviados para a Guiné Portuguesa onde se tinha aberto uma nova frente. Também neste teatro de operações começaram a ser substituídos por Alouette III, sendo quatro transportados num DC-6 para a nova frente de Moçambique em 1966. Foram finalmente completamente substituídos operacionalmente pelos Alouette III e pelos Puma, sendo todas as unidades colocadas na Base Aérea de Tancos na função de instrução, onde serviram até 1976. (...)
__________

Notas do editor:


(***) Vd. poste de 1 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12375: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (7): By air... (Vídeo de Jorge Félix / Pierre Fargeas)

sábado, 21 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20165: Controvérsias (139): louvor, em ordem de serviço, do comando do BART 733 (Farim, 1964/66), aos seus militares, pelo pronto, abnegado e eficiente socorro prestado às vítimas do atentado terrorista de 1 de novembro de 1965 (João Parreira, ex-fur mil op esp, CART 730 / BART 733, Bissorã, 1964/65; ex-fur mil cmd, CTIG, Brá, 1965/66)

1. Mensagem do nosso grã-tabanqueiro João Parreira ( ex-fur mil op esp, CART 730 / BART 733, Bissorã, 1964/65; ex-fur mil cmd, CTIG, Brá, 1965/66):

Data:  sexta, 20/09/2019 à(s) 19:40
Assunto: o incidente em Farim, em 1/11/1965

Boa tarde Luís Graça,

Não me esqueci do que falámos no almoço da Magnífica Tabanca da Linha [, no passado dia 19,]  e fui procurar saber se, além do que publicaste no P20130 do passado dia 7 (*),  tinha mais elementos sobre o incidente em Farim em Novembro 1965.

Assim, para o caso de ter interesse, transcrevo uma ordem de serviço do comando do BART 733 (Farim, 1964/66) (**):



Após o incidente ocorrido na Vila de Farim em que perderam a vida alguns nativos (mulheres e crianças) e outros ficaram feridos, é dever deste Comando pôr em destaque o trabalho do pessoal militar em serviço nesta Sede que desde o momento do acontecimento até ao dia seguinte trabalhou afanosamente durante toda a noite socorrendo os feridos, transportando-os aos postos de socorros e enfermarias, iluminando o campo de aviação para que o avião de socorro pudesse vir em auxílio dos feridos, o que se realizou de maneira impecável na opinião dos pilotos, acorrendo ainda a diversos pontos da Vila onde a sua presença se tornava necessária, recolhendo alguns cadáveres, ajudando o pessoal especializado em número muito reduzido, nos tratamentos, ministrando até injecções, colocando pensos e realizando outros trabalhos para os quais não estavam preparados, tudo executado com o máximo de desembaraço, rapidez e sobretudo boa vontade inexcedível, compenetração e espírito de abnegação e de bem servir, contribuindo assim com a sua acção para socorros mais rápidos e evitando perda de maior número de vidas, factos que foram reconhecidos pela população que de certo modo nos manifestou o seu agradecimento e nos retribuiu a solidariedade demonstrada. 

 Por todos estes motivos, a acção das NT aquarteladas na Sede deste Batalhão, merece ser posta em realce, pelos altos serviços prestados nesta situação de emergência, tudo decorrendo com tal método, ordem, disciplina e sem pânico que mais parecia um serviço previamente planeado e determinado.

Um abraço. João Parreira

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17906: Os Nossos Enfermeiros (11): O 1.º Sargento Enfermeiro Reformado José Bragança Ferreira, HM 241, Bissau, 1970/72... Com 86 anos, vive em Abrantes e dedica-se ao voluntariado. Foi homenageado, em 2013, pelo Rotary Club de Abrantes


Clicar na imagem para leitura mais confortável

Com a devida vénia ao Jornal de Abrantes, edição de dezembro de 2013 >
Entrevista por Hália Costa Santos, pag. 2


1. Mensagem de 8 do corrente, do nosso amigo e camarada (ex-
Manuel Traquina (ex-Fur Mil Mec Aurro, da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70), que vive em Abrantes [, foto atual, à direita]


Amigo Luís,
Agradeço esta publicação.

Estou certo que muitos se recordam de enfermeiro Bragança.

Um abraço.
Traquina


2. Os Nossos Enfermeiros > O Enfermeiro Bragança

Muitos daqueles que nos anos 70/72 passaram pelo hospital militar 241 em Bissau, decerto lembram o Primeiro Sargento Enfermeiro José Bragança Ferreira. 

Agora com 86 anos,  reside nesta cidade de Abrantes, exercendo a sua actividade como voluntário em várias instituições (Liga dos Amigos do Hospital de  Abrantes, Centro Social Interparoquial de Abrantes, entre outras). 

O Rotary Club de Abrantes,  no ano de 2013, decidiu homenageá-lo como o “Profissional do Ano”. É conhecido na cidade como o "enfermeiro Bragança". Ver aqui entrevista dada então ao "Jornal de Abrantes", em dezembro de 2013.

 O enfermeiro Bragança,  depois de uma comissão em Angola e outra em Moçambique (onde nasceu um dos seus filhos), viria a ser colocado no Hospital Militar de Bissau [HM 241] (1970/72).

No jantar realizado em sua homenagem, referiu-se àqueles anos passados no HM 241, como sendo o ponto alto da sua carreira. Colocado nas enfermarias de Cirurgia  A e 2,  onde era responsável por 40 doentes, recorda que de um modo geral não tinha horário, tudo dependia do número de sinistrados que os helicópteros ali “descarregavam”, quase sempre com diagnósticos “poliestilhaçados”,  outros amputados e alguns até com perda de visão. 

Recorda que por vezes era chocante ver o militar da cama ao lado a ler a carta da família ao amigo que tinha acabado de perder a visão em combate. 

Segundo a sua opinião, naqueles anos aquele hospital possuía a melhor aparelhagem hospitalar e, também o melhor pessoal médico e de enfermagem,  pelo que qualquer militar gravemente ferido ansiava por ser evacuado, pois sabia que naquele hospital poderia estar a sua salvação.  Em caso de evacuação Ypsilon,  dizia-se ou pensava-se: "Se chegar ao hospital vivo,  já não morro".

Recordamos que as evacuações no interior da Guiné por vezes não eram fáceis, no período nocturno era quase impossível, de um modo geral os helicópteros de noite não tinham condições e, por vezes também o terreno e o clima condicionavam as evacuações. 

A todos aqueles que com ele trabalharam e também aqueles a quem prestou os seus cuidados,  ele envia um grande abraço.