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Nota do editor
Último poste da série de 1 de Setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16435: Parabéns a você (1129): Manuel Joaquim, ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf da CCAÇ 1419 (Guiné, 1965/67)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 3 de setembro de 2016
sexta-feira, 2 de setembro de 2016
Guiné 63/74 - P16441: Notas de leitura (876): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte IX: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (V): Finalmente o regresso a casa, depois do pesadelo do Fiofioli, na margem direita do Rio Corubal... Este homem, hoje professor universitário (?), tem histórias para contar aos netos... (Jorge Araújo)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/1969) – Agosto de 1969. Malan Mané a ser interrogado pelo ex-alf mil Torcato Mendonça [Vd. poste P6948] (*).
A foto é do alf mil Cardoso, e chegou-nos à mão através do ex-fur mil Carlos Marques dos Santos, de Coimbra.
Foto: © Carlos Marques dos Santos (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
Nona parte, enviada em 1 do corrente, das "notas de leitura" coligidas pelo nosso camarada e grã-tabanqueiro, Jorge Alves Araújo. Trata-se de um extenso documento, que está a ser publicado em diversas partes (*), tendo em conta o formato, a especificidade e as limitações do blogue.
Mensagem do Jorge Araújo com data de 1 do corrente:
Caro Luís: Bom dia. Segue mais um fragmento do nosso projecto «Médicos Cubanos», o último relacionado com a entrevista a Alfonso Delgado. No início de um novo ano académico, com a primeira reunião a ter lugar na próxima 2.ª feira, em Portimão, vou tentar cumprir com as rotinas anteriores.
Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Estrada Bambadinca-Xime > Ponte do Rio Udunduma > Destacamento da CCAÇ 12 > 2º Grupo de Combate > 1970 > Crianças ou adolescentes, provavelmente de Amedalai, a tabanca mais próxima da ponte, divertem-se, dando saltos para a água, sob a supervisão de um dos nosso militares.
Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]
No mês seguinte, em junho de 1969, foi realizado um vasto programa de acções contra diversos quartéis e destacamentos da frente Leste: Bambadinca, Gabú, Cabuca, Xime, Mansambo, Canjadude e várias tabancas com milícias e tropas portuguesas, sendo de admitir tratar-se do cumprimento de uma orientação superior transmitida em documento assinado por Amílcar Cabral (1924-1973), em 4 de junho desse ano, dando instruções para a realização de ataques, no dia 10 de junho, a diversos quartéis e destacamentos dessa frente, devendo nalguns casos ser repetido durante três dias.
Em resumo e no período em apreço, as principais operações das NT na mata do Fiofioli realizaram-se em março e abril de 1969, reagindo o PAIGC com ataques a aquartelamentos, destacamentos e emboscadas, em abril, maio e junho, nomeadamente a Sul da linha de circulação entre Xime e Bambadinca, incluindo Mansambo e Xitole (subunidades de quadricula), a saber: Xime, Ponta Coli, Amedalai, Ponte do Rio Udunduma, Bambadinca, Taibatá, Demba Taco, Moricanhe, Mansambo, Ponte dos Fulas e Xitole (estrelas cor magenta na infogravura).
Eis, pois, os último excertos (em itálico) da entrevista dada pelo médico Amado Alfonso Delgado. (***)
Entrevista com 25 questões [Parte V, da 22.ª à 25.ª]
“Cirurgias com a ténue luz de fachos de palha ardendo”
Foi de forma casuística. [Em agosto], depois de sair de um cerco que nos fizeram as tropas helitransportadas [paraquedistas do BCP 12] fomos para um lugar perto do acampamento [provável referência à “Op. Nada Consta”].
[A “Op. Nada Consta” realiza-se a 18 de agosto de 1969, envolvendo cerca de duas centenas e meia de militares, divididos por dez Gr Comb pertencentes à CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (3 Gr), CART 2339 (3 Gr), PEL CAÇ NAT 53 e BCP 12 (2 Gr da CCP 122 + 1 Gr da CCP 123, sedeados em Galomaro). Esta “operação especial” tem o seu início pelas 09h30, sempre sob mau tempo (estávamos na época das chuvas), e surge na sequência do ataque de mais de duas horas a Candamã, tabanca fula em autodefesa do regulado do Corubal, realizado ao amanhecer do dia 30 de julho de 1969, tendo o PAIGC utilizado um efectivo de bigrupo com recurso a armamento pesado (P6948)].
[Com o dispositivo das NT distribuído nas proximidades do Rio Biesse (a CCAÇ 12, a leste; o Pel Caç Nat 53, a norte, e a CART 2339, a oeste e na estrada Mansambo/ Xitole, junto à ponte do Rio Bissari), avança a primeira vaga de paraquedistas do BCP 12, colocados na ponta da bolanha, penetrando imediatamente na espessa mata que se estende para sul. Cinco minutos depois era capturado um elemento IN com o seu RPG-2, sucedendo-se mais duas vagas de hélis transportando os restantes páras, que passaram a percorrer a mata de norte para sul. Ouvem-se tiros de rajada, para além do matraquear do helicanhão, sendo feitos dois mortos e capturadas três armas automáticas. Um dos mortos era chefe de bigrupo, de apelido Sampunhe (P6953)].
[O interrogatório sumário que foi feito naquela ocasião ao guerrilheiro capturado pelos páras, este diz apenas chamar-se Malan Mané, pertencer a um bigrupo reforçado (oitenta elementos), comandado por Mamadu Indjai e disperso em pequenos grupos pela mata (P23 + P2683)].
[Passado o efeito de surpresa, os guerrilheiros, dispersos em pequenos grupos, conseguem fugir da zona de acção das NT, e retiram-se muito provavelmente na direcção da base de Biro. Em função das informações dadas pelo prisioneiro, Malan Mané, as tropas paraquedistas seguiram no dia seguinte em direcção daquela base, tendo capturado mais o seguinte material:
1 metralhadora ligeira “Degtyarev”; 1 espingarda automática “Kalashnikov”; 1 pistola-metralhadora “PPSH”; 1 LGFog RPG-2; granada para LG P-27 “Pancerovka”; 12 granadas para LG, RPG-7; 85 granadas para LG, 3 cunhetes com munições; 7 granadas de RPG-2; 9 granadas de morteiro 60; diversos bornais, marmitas, fardamento e botas novas, documentos de interesse, incluindo relatórios onde se refere a ocorrência de dois mortos e seis feridos, por parte do IN, no ataque a Candamã, a 30 de julho de 1969. Pela CART 2339, foram levantadas duas minas A/C (P6948)]. Estranha-se, uma vez mais, a não referência à captura de material de enfermagem e a medicamentos, sabendo-se da existência de enfermarias de colmo naquela zona.
[Quanto a Malan Mané, seguiu para Galomaro com os páras para novo interrogatório, sendo levado, depois, para Bambadinca, onde ficou preso. Esteve também em Mansambo, vindo a ficar gravemente ferido na “Op. Pato Rufia”, em 7 de setembro de 1969, no Xime, numa acção conjunta constituída pela CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (3 Gr); CART 2520 (2 Gr) e PEL. CAÇ. NAT. 53, 63 e 52. Malan Mané foi evacuado para o Hospital Militar, em Bissau (P146 + P2683), Mais detalhes sobre Malan Mané em P1011; P2683 e P6984.]
[A participação de Malan Mané nesta “Op.” aconteceu porque ele estivera lá, três meses antes, num destacamento avançado a escassas horas do Xime, composto por 5 cubatas paralelas à estrada Xime-Ponta do Inglês, do lado oeste, internadas na mata cento e cinquenta metros. Nessa altura os efectivos eram de cerca de quarenta elementos, incluindo um grupo especial de roqueteiros que todas as manhãs se deslocava para a Ponta Varela, afim de atacar as embarcações que circulavam no Rio Geba (P146)].
[Neste novo acampamento] o ajudante que andava comigo e, ao que me diziam, Arrebato piorou. Começou a manifestar um obsessivo delírio de perseguição. Dizia que os próprios guerrilheiros o queriam matar, e uma noite foi desarmado pois já estava bastante débil, e fugiu para a mata.
Deu-se o alarme entre toda a população e ao fim de seis dias [final de agosto?] foi encontrado completamente depauperado, com os olhos inchados, cheio de furúnculos e pesando à volta de quarenta quilos. Falei com o chefe do acampamento, de nome Mamadu Indjai, e acordamos a sua saída da Frente, para a qual me indicou dois guerrilheiros. Isto foi em [início] setembro de 1969, quase no fim da missão.
[A ser verdade este acordo feito na presença de Mamadu Indjai nos últimos dias de agosto, ficando a zona sem apoio médico, estamos perante um “caso de divergência factual, logo histórica”, contraditada por outras informações aqui editadas. Ex.1: “Op. Nada Consta”, em 18 de agosto, (…) um grupo cairia numa emboscada que forças da CART 2339 tinham montado no itinerário Mansambo-Xitole, próximo da ponte sobre o Rio Bissari, e em resultado da qual ficaria gravemente ferido Mamadu Indjai (soube-se mais tarde) (P6948). Ex.2: Soube-se mais tarde que Mamadu Indjai (…) foi ferido com gravidade em trocas de tiros com as forças de Mansambo e evacuado [?] (P23). Ex.3: (…) Mamadu Indjai, gravemente ferido pelas NT (e mais concretamente pela CART 2339) na “Op. Anda Cá” (em 15 de agosto de 1969) (P9011)].
[Chegado o dia da saída da mata do Fiofioli na companhia de Arrebato], meti a sua arma e a minha ao ombro, calcei-lhe os sapatos e agarrei-o pelo cinto. Era uma pluma. Assim caminhei vários dias, numa distância aproximada entre Havana e Matanzas [noventa quilómetros], com muitos portugueses por perto e por caminhos inóspitos.
Quando parávamos para descansar, ficava debaixo das minhas pernas e sempre agarrado pelo cinto, pois queria fugir. Assim, com este tremendo trabalho e sofrendo de uma entorse que me doía sobremaneira, o pude retirar da Frente.
Quando chegámos ao acampamento da fronteira [segunda semana de setembro?], deixei o Arrebato e dizem-me que dentro de quinze dias chegava um barco para nos levar, pois tinha terminado a missão.
Durante a espera, um dia fui informado que o [João Bernardo] “Nino” Vieira (1939-2009) - um dos líderes do PAIGC [, comamdante da Frente Sul]- queria fazer uma incursão pelo território e queria que eu fosse com ele. Pensei que se me tinha salvado nas anteriores ocasiões, nesta não o iria conseguir. Na manhã do dia seguinte formamos para sair e quando estávamos prontos chegaram umas viaturas aonde estavam os novos médicos, pelo que fiquei mais aliviado. E, como é lógico, não saí de novo para a Frente.
Antes de sair da Frente fui a Boké e depois a Conacri, aonde cheguei em setembro de 1969 [terceira semana?]. Recordo-me que um membro da missão cubana me perguntou se queria comprar alguma coisa e mais tarde trouxe-me uns sapatos para a minha filha, uns calções para o meu filho e um corte de tecido para a minha mulher. Naquele momento tinha dois filhos e tinha-me casado em 1963, quando ainda era estudante.
Em Conacri embarcámos num navio e fomos até ao Congo Brazzaville, aonde estivemos cerca de duas semanas, tendo atracado em Ponta Negra [Pointe-Noire, em francês; é a segunda maior cidade e principal centro comercial da República do Congo].
Fizemos depois viagem de regresso, e em outubro desse ano desembarcámos em Mariel, aonde nos receberam vários chefes militares. Fizeram-nos exames médicos e regressei para minha casa.
Quando lia sobre isto assustava-me um pouco porque diziam que até aquele momento não se poderia garantir a cura. Estivemos perto de dois meses em tratamento hospitalar até que saímos totalmente curados.
Não, no Hospital Dr. Carlos J. Finlay estive até 1977, quando me desmobilizei e me transferi para o Hospital em Covadonga [Hospital Docente Clínico-Quirúrgico Dr. Salvador Allende], que começava a ser uma instituição universitária.
Desde então fiquei nesse centro de saúde como cirurgião e professor auxiliar.
Em 1980, já como civil, convidaram-me se queria ir até à Tanzânia como professor e nessa nação africana estive dois anos.
Uma breve síntese das memórias relacionadas com a sua missão [, síntese de JA]:
A missão africana do dr. Amado Alfonso Delgado iniciou-se na véspera de Natal de 1967, voando de Havana até Conacri, na companhia de outro médico cubano.
Na Guiné-Conacri, durante o primeiro trimestre de 1968, tem a sua primeira experiência profissional, prestando serviço médico no Hospital de Boké, uma unidade de saúde de rectaguarda do PAIGC, juntando-se a mais quatro clínicos cubanos aí colocados.
Em abril de 1968 dá início à sua integração na guerrilha ao ser destacado para a Frente Leste para substituir o seu companheiro Daniel Salgado, médico-cirurgião militar que entretanto adoecera com paludismo.
Entra em território da Guiné-Bissau pela fronteira Sul, terminando a sua primeira caminhada na base de Kandiafara, aonde se encontravam vinte combatentes cubanos. Seguiram-se outras etapas ao longo de oito dias, com caminhadas cada vez mais duras, pois não estava preparado para esse desempenho. Nesse lapso de tempo passou por diversas aldeias onde se alimentava com farinha e carne, afirmando ter passado fome, habituando-se, desde então, a comer pouco.
Ao quarto dia disseram-lhe que tinha chegado à Mata do Unal, na região do Cumbijã. Continuada a “viagem” a pé, chegou à foz do Rio Corubal / Rio Geba (Xime) onde lhe foi transmitido que naquele lugar havia um problema mais perigoso que a tropa portuguesa, chamado “macaréu”.
Quando chegou à outra margem [direita], encontrou um homem branco em calções, com gorro na cabeça e uma camisa. Olhou-o com alguma indiferença, tendo-lhe perguntado: “tu pensas aguentar esta ratoeira? “Esquece, pois não duras nem três meses”. Perguntei-lhe porquê? Ao que me respondeu: “tu verás como isto é”.
Entre maio de 1968 e setembro de 1969 [dezassete meses], movimentou-se nas matas do Unal e do Fiofioli [Sector L1 - Bambadinca], com destaque para esta última Frente, aonde esteve os primeiros nove meses de 1969. Durante este período viveu muitos sobressaltos, com muitas corridas em ziguezague, rastejanços e dores de barriga (com diarreias), que implicaram sucessivas trocas de acampamento, incluindo a destruição das suas enfermarias, por quatro vezes.
Esteve cercado por várias vezes. Viu aviões bombardeiros, helicanhões, lanchas da marinha e militares descerem de helicóptero. Fez dezenas de cirurgias e amputações quase sempre durante a noite, tratando dos feridos em combate. Enviou para Boké as situações mais problemáticas. Foi dentista e tratou de mordeduras de animais e serpentes. Foi atacado por melgas e por centenas de abelhas. Teve paludismo por três vezes e automedicou-se.
Lavava-se no rio, mas não tinha nem toalha nem sabão, muito menos papel para escrever alguma mensagem. Bebeu vinho de palma para matar os micróbios, pois a água existente ao seu redor estava contaminada. Usou um par de ténis durante oito meses que se foram degradando por efeito das muitas caminhadas. Para colmatar a ausência de atacadores amarrava-os com folhas largas. Fez “pesca à granada” para se alimentar melhor.
Na mata do Fiofioli esteve em cinco lugares diferentes. Era informado do dia dos ataques onde estavam os portugueses (aquartelamentos, destacamentos, colunas de abastecimento, tabancas,…) quase sempre com armas pesadas. Ficava geralmente na rectaguarda a um quilómetro de distância. Muitas das vezes, nesses ataques programados, existia um guerrilheiro em cima de uma árvore, de modo a dar instruções na correcção do tiro.
Por tudo isto passou vários meses sem ter contacto com o mundo. Devido a estas dificuldades e ocorrências no seu contexto, e das tensões a elas associadas, por via da intervenção dos militares portugueses em diferentes acções naquela região, julgou não ser possível sobreviver, pensando muito nos filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequeninos.
Consequência da actividade operacional das NT e do PAIGC durante um pouco mais de três meses (de 8 de março a 18 de junho de 1969), levou Alfonso Delgado a ficar sem sono, por efeito do muito trabalho e pelas enormes dificuldades sentidas no apoio médico aos guerrilheiros feridos em combate, realizando cerca de cinquenta cirurgias e amputações, de noite, à luz de archotes de palha ardendo.
Nos meses seguintes, julho e agosto, que seriam os últimos da sua missão, os episódios repetiram-se com a mesma dureza dos anteriores, com mais emoções e outras tantas tensões, saindo da mata do Fiofioli por um mero acaso, quando ficou acordado acompanhar a evacuação do seu ajudante e companheiro cubano Arrebato, por este se encontrar bastante debilitado, física e psicologicamente.
Em suma: o médico Amado Alfonso Delgado, em resposta à questão 18 [xviii] afirmou: “eu senti-me muito bem na Guiné e creio que foi uma das melhores épocas de trabalho da minha vida. Às vezes chegava a uma tabanca, e era para eles como um filme ao verem um branco. De repente ficava cercado por quarente/cinquenta crianças e logo me começavam a tocar nos pelos, na cara, nos braços. Era algo raro que nunca antes tinha visto”.
Continua… com nova entrevista, agora ao médico Virgílio Camacho Duverger.
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 7 de setemnbro de 2010 > Guiné 63/74 - P6948: A minha CCAÇ 12 (6): Agosto de 1969: As desventuras de Malan Mané e de Mamadu Indjai nas matas do Rio Biesse... (Luís Graça)
Vd. também poste de 24 de fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5878: PAIGC: um curioso croquis do Sector 2, área do Xime, desenhado e legendado por Amílcar Cabral (c. 1968) (Luís Graça)
(.,..) Leitura e interpretação do documento (L G.):
Ao canto superior esquerdo, consegue ler-se o seguinte:
Educação - Mamadu Dembo;
Comandante de sector - Mamadu Indjai;
Comissário Político de FARP - Pedro Landim;
Comissário Político junto do Povo - Juvêncio Gomes;
Comis[sário] Abast [escimento] FARP - Mamdu Alfa Djaló;
Segurança Milícia - Sabino Mendonça;
Saúde - Benjamim Brito. (.,.)
(**) Vd. postes de
3 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16357: Notas de leitura (864): (D)o outrolado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte V: o caso doclínico geral Amado Alfonso Delgado (I): queria ir para o Vietname foi parar ao Fiofioli... (Jorge Araújo)
11 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16380: Notas de leitura (868): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VI: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (II): Na margem direita do rio Corubal, na mata do Fiofioli: «¿Tú piensas aguantar la mecha esta?, olvídate, que no duras ni tres meses" / "Tu pensas aguentar esta ratoeira? Esquece, pois não duras nem três meses”... (Jorge Araújo)
17 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16396: Notas de leitura (871): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (III): Na mata do Fiofioli, pensei que ia morrer, pensei nos meus filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequenos (Jorge Araújo)
17 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16396: Notas de leitura (871): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (III): Na mata do Fiofioli, pensei que ia morrer, pensei nos meus filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequenos (Jorge Araújo)
25 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16420: Notas de leitura (874): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VIII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (IV): "Os guineenses são muito resistentes...Numa ocasião, uma bomba caiu perto de uma mulher e feriu-a no abdómen... Eu devia abrir-lhe o abdómen pois tinha peritonite. Coloquei-lhe anestesia local e, quando lhe ia dar a geral, um avião largou outra bomba que caiu perto. A mulher levantou-se, com a ferida meio aberta, e fugiu. Não a vi mais. Depois disseram-me que a tinham localizado, já morta, a cerca de quatro quilómetros dali." (Jorge Araújo)
(***) Último poste da série "Notas de leitura" > 22 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16412: Notas de leitura (873): "O que a Censura cortou": notícias da Guiné, por José Pedro Castanheira (Mário Beja Santos)
A foto é do alf mil Cardoso, e chegou-nos à mão através do ex-fur mil Carlos Marques dos Santos, de Coimbra.
Foto: © Carlos Marques dos Santos (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
Nona parte, enviada em 1 do corrente, das "notas de leitura" coligidas pelo nosso camarada e grã-tabanqueiro, Jorge Alves Araújo. Trata-se de um extenso documento, que está a ser publicado em diversas partes (*), tendo em conta o formato, a especificidade e as limitações do blogue.
Mensagem do Jorge Araújo com data de 1 do corrente:
Caro Luís: Bom dia. Segue mais um fragmento do nosso projecto «Médicos Cubanos», o último relacionado com a entrevista a Alfonso Delgado. No início de um novo ano académico, com a primeira reunião a ter lugar na próxima 2.ª feira, em Portimão, vou tentar cumprir com as rotinas anteriores.
Bom trabalho. Um abraço, Jorge Araújo.
Foto acima: O nosso grã-tabanqueiro Jorge Araújo: (i) nasceu em 1950, em Lisboa; (ii) foi fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); (iii) fez o doutoramento pela Universidade de León (Espanha), em 2009, em Ciências da Actividade Física e do Desporto, com a tese: «A prática Desportiva em Idade Escolar em Portugal – análise das influências nos itinerários entre a Escola e a Comunidade em Jovens até aos 11 anos»; (iv) é professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; (v) para além de lecionar diversas Unidades Curriculares, coordena o ramo de Educação Física e Desporto, da Licenciatura em Educação Física e Desporto].
Esta minha decisão não quer dizer que não se possa acrescentar algo mais, em cada situação concreta, antes pelo contrário, uma vez que neste conflito bélico existiram dois lados, e daí o título com que baptizei este trabalho: “d(o) outro lado do combate – memórias de médicos cubanos”.
2. O CASO DO MÉDICO AMADO ALFONSO DELGADO [V]
Esta nona parte do projecto “memórias de médicos cubanos” corresponde ao quinto e último fragmento em que foi dividido a entrevista ao doutor Amado Alfonso Delgado, médico de clínica-geral, com experiência em cirurgia.
Nos quatro fragmentos anteriores [P16357; P16380; P16396 e P16420] (*), referentes às primeiras vinte e uma questões, encontramos um historial de dois anos (1967/1969), entre os antecedentes que influenciaram a sua decisão de cumprir uma "missão internacionalista", tendo-lhe surgido a hipótese de o fazer na Guiné Portuguesa (hoje Guiné-Bissau), que aceitou, até aos actos médicos realizados nas "bases" do PAIGC, em particular nas existentes na mata do Fiofioli (Sector L1 – Bambadinca).
Aí esteve cercado por diversas ocasiões, aonde viveu muitos sobressaltos, com muitas corridas em ziguezague, rastejanços e dores de barriga (com diarreias), que implicaram sucessivas trocas de acampamento, incluindo a destruição das suas "enfermarias" (de campanha), por quatro vezes. Por isso, julgou não ser possível sobreviver, pensando muito nos filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequeninos.
Em função da intensa actividade operacional das NT e do PAIGC, entre 8 de março e 18 de junho de 1969, Alfonso Delgado acabaria por desempenhar o seu papel de profissional de saúde, certamente com elevado grau de dificuldade, prestando apoio aos guerrilheiros feridos em combate, incluindo a realização de algumas cirurgias e amputações, quase sempre durante a noite à luz de archotes de palha ardendo.
Recorda-se que o crescendo da actividade operacional na região da mata do Fiofioli, num cenário de guerra de guerrilha, tem o seu início com a “Op. Lança Afiada”, entre 8 e 19 de março de 1969, movimentando cerca de 1300 efectivos, seguida pela “Op. Baioneta Dourada” em 2 e 3 de abril, envolvendo um total de sete Gr Comb e a “Op. Espada Grande”, em 4 e 5 de abril, com nove Gr Comb.
A resposta do PAIGC surgiu treze dias depois, em 18 de abril, com a primeira acção, realizando uma emboscada na Ponta Coli, no troço da estrada entre Amedalai-Xime, esta liderada por Mário Mendes cmdt do bigrupo que aí actuou.
Seguiu-se, depois, na noite de 28 de maio de 1969, o ataque ao aquartelamento de Bambadinca (aquele que seria o primeiro e único), aonde estava instalado, à data, o comando do BCAÇ 2852 (1968/70) e a respetiva CCS. Durante o ataque, que durou cerca de quarenta minutos, participaram dois bigrupos (mais de cem elementos), tendo utilizado três canhões s/r, morteiros, RPG, metralhadoras ligeiras e pesadas e armas automáticas de assalto, sem grandes consequências.
1. INTRODUÇÃO
Apresento ao colectivo da Tabanca Grande a nona parte deste meu projecto relacionado com a divulgação de algumas das memórias transmitidas por três médicos cubanos que estiveram na Guiné Portuguesa [hoje Guiné-Bissau] em missão de “ajuda humanitária” ao PAIGC, na sua luta pela independência, nos anos de 1966 a 1969.
Com esta narrativa [a quinta] dou por encerrada a entrevista ao médico Amado Alfonso Delgado, a segunda no alinhamento do livro escrito em castelhano pelo jornalista e investigador Hedelberto López Blanch, uma coletânea de memórias e experiências divulgadas pelos seus diferentes entrevistados, a que deu o título de «Histórias Secretas de Médicos Cubanos» [La Habana: Centro Cultural Pablo de la Torriente Brau, 2005, 248 pp.] ou “on line” em formato pdf, em versão de pré-publicação.
Apresento ao colectivo da Tabanca Grande a nona parte deste meu projecto relacionado com a divulgação de algumas das memórias transmitidas por três médicos cubanos que estiveram na Guiné Portuguesa [hoje Guiné-Bissau] em missão de “ajuda humanitária” ao PAIGC, na sua luta pela independência, nos anos de 1966 a 1969.
Com esta narrativa [a quinta] dou por encerrada a entrevista ao médico Amado Alfonso Delgado, a segunda no alinhamento do livro escrito em castelhano pelo jornalista e investigador Hedelberto López Blanch, uma coletânea de memórias e experiências divulgadas pelos seus diferentes entrevistados, a que deu o título de «Histórias Secretas de Médicos Cubanos» [La Habana: Centro Cultural Pablo de la Torriente Brau, 2005, 248 pp.] ou “on line” em formato pdf, em versão de pré-publicação.
Recordo que por ser uma tradução e adaptação do castelhano, onde procurei respeitar as ideias expressas nas respostas dadas a cada questão, entendi não fazer juízos de valor sobre o seu conteúdo, colocando entre parênteses rectos, quando possível, algumas notas avulsas de reforço histórico ou contextualização ao que foi transmitido, com recurso ao vasto espólio disponível no nosso blogue.
Esta minha decisão não quer dizer que não se possa acrescentar algo mais, em cada situação concreta, antes pelo contrário, uma vez que neste conflito bélico existiram dois lados, e daí o título com que baptizei este trabalho: “d(o) outro lado do combate – memórias de médicos cubanos”.
2. O CASO DO MÉDICO AMADO ALFONSO DELGADO [V]
Esta nona parte do projecto “memórias de médicos cubanos” corresponde ao quinto e último fragmento em que foi dividido a entrevista ao doutor Amado Alfonso Delgado, médico de clínica-geral, com experiência em cirurgia.
Nos quatro fragmentos anteriores [P16357; P16380; P16396 e P16420] (*), referentes às primeiras vinte e uma questões, encontramos um historial de dois anos (1967/1969), entre os antecedentes que influenciaram a sua decisão de cumprir uma "missão internacionalista", tendo-lhe surgido a hipótese de o fazer na Guiné Portuguesa (hoje Guiné-Bissau), que aceitou, até aos actos médicos realizados nas "bases" do PAIGC, em particular nas existentes na mata do Fiofioli (Sector L1 – Bambadinca).
Aí esteve cercado por diversas ocasiões, aonde viveu muitos sobressaltos, com muitas corridas em ziguezague, rastejanços e dores de barriga (com diarreias), que implicaram sucessivas trocas de acampamento, incluindo a destruição das suas "enfermarias" (de campanha), por quatro vezes. Por isso, julgou não ser possível sobreviver, pensando muito nos filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequeninos.
Em função da intensa actividade operacional das NT e do PAIGC, entre 8 de março e 18 de junho de 1969, Alfonso Delgado acabaria por desempenhar o seu papel de profissional de saúde, certamente com elevado grau de dificuldade, prestando apoio aos guerrilheiros feridos em combate, incluindo a realização de algumas cirurgias e amputações, quase sempre durante a noite à luz de archotes de palha ardendo.
Recorda-se que o crescendo da actividade operacional na região da mata do Fiofioli, num cenário de guerra de guerrilha, tem o seu início com a “Op. Lança Afiada”, entre 8 e 19 de março de 1969, movimentando cerca de 1300 efectivos, seguida pela “Op. Baioneta Dourada” em 2 e 3 de abril, envolvendo um total de sete Gr Comb e a “Op. Espada Grande”, em 4 e 5 de abril, com nove Gr Comb.
A resposta do PAIGC surgiu treze dias depois, em 18 de abril, com a primeira acção, realizando uma emboscada na Ponta Coli, no troço da estrada entre Amedalai-Xime, esta liderada por Mário Mendes cmdt do bigrupo que aí actuou.
Seguiu-se, depois, na noite de 28 de maio de 1969, o ataque ao aquartelamento de Bambadinca (aquele que seria o primeiro e único), aonde estava instalado, à data, o comando do BCAÇ 2852 (1968/70) e a respetiva CCS. Durante o ataque, que durou cerca de quarenta minutos, participaram dois bigrupos (mais de cem elementos), tendo utilizado três canhões s/r, morteiros, RPG, metralhadoras ligeiras e pesadas e armas automáticas de assalto, sem grandes consequências.
Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Estrada Bambadinca-Xime > Ponte do Rio Udunduma > Destacamento da CCAÇ 12 > 2º Grupo de Combate > 1970 > Crianças ou adolescentes, provavelmente de Amedalai, a tabanca mais próxima da ponte, divertem-se, dando saltos para a água, sob a supervisão de um dos nosso militares.
Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]
Em simultâneo com este ataque, era dinamitada a ponte sobre o Rio Udunduma, ao tempo sem qualquer segurança, situada a quatro quilómetros, na estrada Bambadinca-Xime (imagem cima, retirada do poste P12626, com a devida vénia).
Guiné > 1969/71 > Croquis do Sector L1 / Zona Leste (Bambadinca) > Vd. posição relativa da base do PAIGC em mina / Fiofioli, ma margem direita doRio Corubal a noroeste do Xitole (vd. Sinais e legendas).
Fonte: História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971
Infogravura: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados
Guiné > 1969/71 > Croquis do Sector L1 / Zona Leste (Bambadinca) > Vd. posição relativa da base do PAIGC em mina / Fiofioli, ma margem direita doRio Corubal a noroeste do Xitole (vd. Sinais e legendas).
Fonte: História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971
Infogravura: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados
No mês seguinte, em junho de 1969, foi realizado um vasto programa de acções contra diversos quartéis e destacamentos da frente Leste: Bambadinca, Gabú, Cabuca, Xime, Mansambo, Canjadude e várias tabancas com milícias e tropas portuguesas, sendo de admitir tratar-se do cumprimento de uma orientação superior transmitida em documento assinado por Amílcar Cabral (1924-1973), em 4 de junho desse ano, dando instruções para a realização de ataques, no dia 10 de junho, a diversos quartéis e destacamentos dessa frente, devendo nalguns casos ser repetido durante três dias.
Em resumo e no período em apreço, as principais operações das NT na mata do Fiofioli realizaram-se em março e abril de 1969, reagindo o PAIGC com ataques a aquartelamentos, destacamentos e emboscadas, em abril, maio e junho, nomeadamente a Sul da linha de circulação entre Xime e Bambadinca, incluindo Mansambo e Xitole (subunidades de quadricula), a saber: Xime, Ponta Coli, Amedalai, Ponte do Rio Udunduma, Bambadinca, Taibatá, Demba Taco, Moricanhe, Mansambo, Ponte dos Fulas e Xitole (estrelas cor magenta na infogravura).
Eis, pois, os último excertos (em itálico) da entrevista dada pelo médico Amado Alfonso Delgado. (***)
Entrevista com 25 questões [Parte V, da 22.ª à 25.ª]
“Cirurgias com a ténue luz de fachos de palha ardendo”
(Cap XI, pp. 136 e ss)
(xxii) Como é avisado para deixar
a Guiné-Bissau?
Foi de forma casuística. [Em agosto], depois de sair de um cerco que nos fizeram as tropas helitransportadas [paraquedistas do BCP 12] fomos para um lugar perto do acampamento [provável referência à “Op. Nada Consta”].
[A “Op. Nada Consta” realiza-se a 18 de agosto de 1969, envolvendo cerca de duas centenas e meia de militares, divididos por dez Gr Comb pertencentes à CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (3 Gr), CART 2339 (3 Gr), PEL CAÇ NAT 53 e BCP 12 (2 Gr da CCP 122 + 1 Gr da CCP 123, sedeados em Galomaro). Esta “operação especial” tem o seu início pelas 09h30, sempre sob mau tempo (estávamos na época das chuvas), e surge na sequência do ataque de mais de duas horas a Candamã, tabanca fula em autodefesa do regulado do Corubal, realizado ao amanhecer do dia 30 de julho de 1969, tendo o PAIGC utilizado um efectivo de bigrupo com recurso a armamento pesado (P6948)].
[Com o dispositivo das NT distribuído nas proximidades do Rio Biesse (a CCAÇ 12, a leste; o Pel Caç Nat 53, a norte, e a CART 2339, a oeste e na estrada Mansambo/ Xitole, junto à ponte do Rio Bissari), avança a primeira vaga de paraquedistas do BCP 12, colocados na ponta da bolanha, penetrando imediatamente na espessa mata que se estende para sul. Cinco minutos depois era capturado um elemento IN com o seu RPG-2, sucedendo-se mais duas vagas de hélis transportando os restantes páras, que passaram a percorrer a mata de norte para sul. Ouvem-se tiros de rajada, para além do matraquear do helicanhão, sendo feitos dois mortos e capturadas três armas automáticas. Um dos mortos era chefe de bigrupo, de apelido Sampunhe (P6953)].
[O interrogatório sumário que foi feito naquela ocasião ao guerrilheiro capturado pelos páras, este diz apenas chamar-se Malan Mané, pertencer a um bigrupo reforçado (oitenta elementos), comandado por Mamadu Indjai e disperso em pequenos grupos pela mata (P23 + P2683)].
[Passado o efeito de surpresa, os guerrilheiros, dispersos em pequenos grupos, conseguem fugir da zona de acção das NT, e retiram-se muito provavelmente na direcção da base de Biro. Em função das informações dadas pelo prisioneiro, Malan Mané, as tropas paraquedistas seguiram no dia seguinte em direcção daquela base, tendo capturado mais o seguinte material:
1 metralhadora ligeira “Degtyarev”; 1 espingarda automática “Kalashnikov”; 1 pistola-metralhadora “PPSH”; 1 LGFog RPG-2; granada para LG P-27 “Pancerovka”; 12 granadas para LG, RPG-7; 85 granadas para LG, 3 cunhetes com munições; 7 granadas de RPG-2; 9 granadas de morteiro 60; diversos bornais, marmitas, fardamento e botas novas, documentos de interesse, incluindo relatórios onde se refere a ocorrência de dois mortos e seis feridos, por parte do IN, no ataque a Candamã, a 30 de julho de 1969. Pela CART 2339, foram levantadas duas minas A/C (P6948)]. Estranha-se, uma vez mais, a não referência à captura de material de enfermagem e a medicamentos, sabendo-se da existência de enfermarias de colmo naquela zona.
[Quanto a Malan Mané, seguiu para Galomaro com os páras para novo interrogatório, sendo levado, depois, para Bambadinca, onde ficou preso. Esteve também em Mansambo, vindo a ficar gravemente ferido na “Op. Pato Rufia”, em 7 de setembro de 1969, no Xime, numa acção conjunta constituída pela CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (3 Gr); CART 2520 (2 Gr) e PEL. CAÇ. NAT. 53, 63 e 52. Malan Mané foi evacuado para o Hospital Militar, em Bissau (P146 + P2683), Mais detalhes sobre Malan Mané em P1011; P2683 e P6984.]
[A participação de Malan Mané nesta “Op.” aconteceu porque ele estivera lá, três meses antes, num destacamento avançado a escassas horas do Xime, composto por 5 cubatas paralelas à estrada Xime-Ponta do Inglês, do lado oeste, internadas na mata cento e cinquenta metros. Nessa altura os efectivos eram de cerca de quarenta elementos, incluindo um grupo especial de roqueteiros que todas as manhãs se deslocava para a Ponta Varela, afim de atacar as embarcações que circulavam no Rio Geba (P146)].
[Neste novo acampamento] o ajudante que andava comigo e, ao que me diziam, Arrebato piorou. Começou a manifestar um obsessivo delírio de perseguição. Dizia que os próprios guerrilheiros o queriam matar, e uma noite foi desarmado pois já estava bastante débil, e fugiu para a mata.
Deu-se o alarme entre toda a população e ao fim de seis dias [final de agosto?] foi encontrado completamente depauperado, com os olhos inchados, cheio de furúnculos e pesando à volta de quarenta quilos. Falei com o chefe do acampamento, de nome Mamadu Indjai, e acordamos a sua saída da Frente, para a qual me indicou dois guerrilheiros. Isto foi em [início] setembro de 1969, quase no fim da missão.
[A ser verdade este acordo feito na presença de Mamadu Indjai nos últimos dias de agosto, ficando a zona sem apoio médico, estamos perante um “caso de divergência factual, logo histórica”, contraditada por outras informações aqui editadas. Ex.1: “Op. Nada Consta”, em 18 de agosto, (…) um grupo cairia numa emboscada que forças da CART 2339 tinham montado no itinerário Mansambo-Xitole, próximo da ponte sobre o Rio Bissari, e em resultado da qual ficaria gravemente ferido Mamadu Indjai (soube-se mais tarde) (P6948). Ex.2: Soube-se mais tarde que Mamadu Indjai (…) foi ferido com gravidade em trocas de tiros com as forças de Mansambo e evacuado [?] (P23). Ex.3: (…) Mamadu Indjai, gravemente ferido pelas NT (e mais concretamente pela CART 2339) na “Op. Anda Cá” (em 15 de agosto de 1969) (P9011)].
[Chegado o dia da saída da mata do Fiofioli na companhia de Arrebato], meti a sua arma e a minha ao ombro, calcei-lhe os sapatos e agarrei-o pelo cinto. Era uma pluma. Assim caminhei vários dias, numa distância aproximada entre Havana e Matanzas [noventa quilómetros], com muitos portugueses por perto e por caminhos inóspitos.
Quando parávamos para descansar, ficava debaixo das minhas pernas e sempre agarrado pelo cinto, pois queria fugir. Assim, com este tremendo trabalho e sofrendo de uma entorse que me doía sobremaneira, o pude retirar da Frente.
Quando chegámos ao acampamento da fronteira [segunda semana de setembro?], deixei o Arrebato e dizem-me que dentro de quinze dias chegava um barco para nos levar, pois tinha terminado a missão.
Durante a espera, um dia fui informado que o [João Bernardo] “Nino” Vieira (1939-2009) - um dos líderes do PAIGC [, comamdante da Frente Sul]- queria fazer uma incursão pelo território e queria que eu fosse com ele. Pensei que se me tinha salvado nas anteriores ocasiões, nesta não o iria conseguir. Na manhã do dia seguinte formamos para sair e quando estávamos prontos chegaram umas viaturas aonde estavam os novos médicos, pelo que fiquei mais aliviado. E, como é lógico, não saí de novo para a Frente.
Antes de sair da Frente fui a Boké e depois a Conacri, aonde cheguei em setembro de 1969 [terceira semana?]. Recordo-me que um membro da missão cubana me perguntou se queria comprar alguma coisa e mais tarde trouxe-me uns sapatos para a minha filha, uns calções para o meu filho e um corte de tecido para a minha mulher. Naquele momento tinha dois filhos e tinha-me casado em 1963, quando ainda era estudante.
Em Conacri embarcámos num navio e fomos até ao Congo Brazzaville, aonde estivemos cerca de duas semanas, tendo atracado em Ponta Negra [Pointe-Noire, em francês; é a segunda maior cidade e principal centro comercial da República do Congo].
Fizemos depois viagem de regresso, e em outubro desse ano desembarcámos em Mariel, aonde nos receberam vários chefes militares. Fizeram-nos exames médicos e regressei para minha casa.
(xxiii) Voltou a exercer
como médico civil?
Não; informaram-me que o ministro queria que eu continuasse na vida militar porque tinha cumprido bem a missão e dei então início à especialidade de cirurgia no Hospital Dr. Carlos J. Finlay.
Periodicamente, faziam-nos exames, e no ano do regresso a casa todos os que tínhamos estado em Bissau tiveram resultados positivos de filária no sangue. Há vários tipos de filária produzida por parasitas, e o tipo Loa atravessa os órgãos vitais do olho até ficar cego. Isto era precisamente o que tínhamos.
Quando lia sobre isto assustava-me um pouco porque diziam que até aquele momento não se poderia garantir a cura. Estivemos perto de dois meses em tratamento hospitalar até que saímos totalmente curados.
(xxiv) Continua como médico militar?
Não, no Hospital Dr. Carlos J. Finlay estive até 1977, quando me desmobilizei e me transferi para o Hospital em Covadonga [Hospital Docente Clínico-Quirúrgico Dr. Salvador Allende], que começava a ser uma instituição universitária.
Desde então fiquei nesse centro de saúde como cirurgião e professor auxiliar.
(xxv) Cumpriu outras missões?
Em 1980, já como civil, convidaram-me se queria ir até à Tanzânia como professor e nessa nação africana estive dois anos.
Uma breve síntese das memórias relacionadas com a sua missão [, síntese de JA]:
A missão africana do dr. Amado Alfonso Delgado iniciou-se na véspera de Natal de 1967, voando de Havana até Conacri, na companhia de outro médico cubano.
Na Guiné-Conacri, durante o primeiro trimestre de 1968, tem a sua primeira experiência profissional, prestando serviço médico no Hospital de Boké, uma unidade de saúde de rectaguarda do PAIGC, juntando-se a mais quatro clínicos cubanos aí colocados.
Em abril de 1968 dá início à sua integração na guerrilha ao ser destacado para a Frente Leste para substituir o seu companheiro Daniel Salgado, médico-cirurgião militar que entretanto adoecera com paludismo.
Entra em território da Guiné-Bissau pela fronteira Sul, terminando a sua primeira caminhada na base de Kandiafara, aonde se encontravam vinte combatentes cubanos. Seguiram-se outras etapas ao longo de oito dias, com caminhadas cada vez mais duras, pois não estava preparado para esse desempenho. Nesse lapso de tempo passou por diversas aldeias onde se alimentava com farinha e carne, afirmando ter passado fome, habituando-se, desde então, a comer pouco.
Ao quarto dia disseram-lhe que tinha chegado à Mata do Unal, na região do Cumbijã. Continuada a “viagem” a pé, chegou à foz do Rio Corubal / Rio Geba (Xime) onde lhe foi transmitido que naquele lugar havia um problema mais perigoso que a tropa portuguesa, chamado “macaréu”.
Quando chegou à outra margem [direita], encontrou um homem branco em calções, com gorro na cabeça e uma camisa. Olhou-o com alguma indiferença, tendo-lhe perguntado: “tu pensas aguentar esta ratoeira? “Esquece, pois não duras nem três meses”. Perguntei-lhe porquê? Ao que me respondeu: “tu verás como isto é”.
Entre maio de 1968 e setembro de 1969 [dezassete meses], movimentou-se nas matas do Unal e do Fiofioli [Sector L1 - Bambadinca], com destaque para esta última Frente, aonde esteve os primeiros nove meses de 1969. Durante este período viveu muitos sobressaltos, com muitas corridas em ziguezague, rastejanços e dores de barriga (com diarreias), que implicaram sucessivas trocas de acampamento, incluindo a destruição das suas enfermarias, por quatro vezes.
Esteve cercado por várias vezes. Viu aviões bombardeiros, helicanhões, lanchas da marinha e militares descerem de helicóptero. Fez dezenas de cirurgias e amputações quase sempre durante a noite, tratando dos feridos em combate. Enviou para Boké as situações mais problemáticas. Foi dentista e tratou de mordeduras de animais e serpentes. Foi atacado por melgas e por centenas de abelhas. Teve paludismo por três vezes e automedicou-se.
Lavava-se no rio, mas não tinha nem toalha nem sabão, muito menos papel para escrever alguma mensagem. Bebeu vinho de palma para matar os micróbios, pois a água existente ao seu redor estava contaminada. Usou um par de ténis durante oito meses que se foram degradando por efeito das muitas caminhadas. Para colmatar a ausência de atacadores amarrava-os com folhas largas. Fez “pesca à granada” para se alimentar melhor.
Na mata do Fiofioli esteve em cinco lugares diferentes. Era informado do dia dos ataques onde estavam os portugueses (aquartelamentos, destacamentos, colunas de abastecimento, tabancas,…) quase sempre com armas pesadas. Ficava geralmente na rectaguarda a um quilómetro de distância. Muitas das vezes, nesses ataques programados, existia um guerrilheiro em cima de uma árvore, de modo a dar instruções na correcção do tiro.
Por tudo isto passou vários meses sem ter contacto com o mundo. Devido a estas dificuldades e ocorrências no seu contexto, e das tensões a elas associadas, por via da intervenção dos militares portugueses em diferentes acções naquela região, julgou não ser possível sobreviver, pensando muito nos filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequeninos.
Consequência da actividade operacional das NT e do PAIGC durante um pouco mais de três meses (de 8 de março a 18 de junho de 1969), levou Alfonso Delgado a ficar sem sono, por efeito do muito trabalho e pelas enormes dificuldades sentidas no apoio médico aos guerrilheiros feridos em combate, realizando cerca de cinquenta cirurgias e amputações, de noite, à luz de archotes de palha ardendo.
Nos meses seguintes, julho e agosto, que seriam os últimos da sua missão, os episódios repetiram-se com a mesma dureza dos anteriores, com mais emoções e outras tantas tensões, saindo da mata do Fiofioli por um mero acaso, quando ficou acordado acompanhar a evacuação do seu ajudante e companheiro cubano Arrebato, por este se encontrar bastante debilitado, física e psicologicamente.
Em suma: o médico Amado Alfonso Delgado, em resposta à questão 18 [xviii] afirmou: “eu senti-me muito bem na Guiné e creio que foi uma das melhores épocas de trabalho da minha vida. Às vezes chegava a uma tabanca, e era para eles como um filme ao verem um branco. De repente ficava cercado por quarente/cinquenta crianças e logo me começavam a tocar nos pelos, na cara, nos braços. Era algo raro que nunca antes tinha visto”.
Continua… com nova entrevista, agora ao médico Virgílio Camacho Duverger.
_________________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 7 de setemnbro de 2010 > Guiné 63/74 - P6948: A minha CCAÇ 12 (6): Agosto de 1969: As desventuras de Malan Mané e de Mamadu Indjai nas matas do Rio Biesse... (Luís Graça)
Vd. também poste de 24 de fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5878: PAIGC: um curioso croquis do Sector 2, área do Xime, desenhado e legendado por Amílcar Cabral (c. 1968) (Luís Graça)
(.,..) Leitura e interpretação do documento (L G.):
Ao canto superior esquerdo, consegue ler-se o seguinte:
Educação - Mamadu Dembo;
Comandante de sector - Mamadu Indjai;
Comissário Político de FARP - Pedro Landim;
Comissário Político junto do Povo - Juvêncio Gomes;
Comis[sário] Abast [escimento] FARP - Mamdu Alfa Djaló;
Segurança Milícia - Sabino Mendonça;
Saúde - Benjamim Brito. (.,.)
(**) Vd. postes de
3 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16357: Notas de leitura (864): (D)o outrolado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte V: o caso doclínico geral Amado Alfonso Delgado (I): queria ir para o Vietname foi parar ao Fiofioli... (Jorge Araújo)
11 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16380: Notas de leitura (868): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VI: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (II): Na margem direita do rio Corubal, na mata do Fiofioli: «¿Tú piensas aguantar la mecha esta?, olvídate, que no duras ni tres meses" / "Tu pensas aguentar esta ratoeira? Esquece, pois não duras nem três meses”... (Jorge Araújo)
17 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16396: Notas de leitura (871): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (III): Na mata do Fiofioli, pensei que ia morrer, pensei nos meus filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequenos (Jorge Araújo)
17 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16396: Notas de leitura (871): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (III): Na mata do Fiofioli, pensei que ia morrer, pensei nos meus filhos, que iriam ficar sem pai… coitados, tão pequenos (Jorge Araújo)
25 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16420: Notas de leitura (874): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VIII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (IV): "Os guineenses são muito resistentes...Numa ocasião, uma bomba caiu perto de uma mulher e feriu-a no abdómen... Eu devia abrir-lhe o abdómen pois tinha peritonite. Coloquei-lhe anestesia local e, quando lhe ia dar a geral, um avião largou outra bomba que caiu perto. A mulher levantou-se, com a ferida meio aberta, e fugiu. Não a vi mais. Depois disseram-me que a tinham localizado, já morta, a cerca de quatro quilómetros dali." (Jorge Araújo)
(***) Último poste da série "Notas de leitura" > 22 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16412: Notas de leitura (873): "O que a Censura cortou": notícias da Guiné, por José Pedro Castanheira (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P16440: Contraponto (Alberto Branquinho) (54): Literatura da guerra colonial, o que é?
1. Comentário do dia 1 de Setembro de 2016, do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), deixado no Poste Guiné 63/74 - P16433: Agenda cultural (489): Amanhã, dia de 1 setembro, estreia nos cinemas o filme, de Ivo M. Ferreira, "Cartas da Guerra", baseado nas cartas de amor e guerra de António Lobo Antunes, ex-alf mil médico, da CART 3313 (Angola, 1971/73), inserido aqui na sua série Contraponto:
CONTRAPONTO
54 - LITERATURA DA GUERRA COLONIAL
A - Deixando de lado toda e qualquer postura política ou ideológica, o que é "literatura da guerra colonial"?
1 - É TODO E QUALQUER ESCRITO SOBRE A GUERRA?
2 - É aquela escrita feita por QUEM SOFREU A GUERRA À DISTÂNCIA?
3 - É aquela escrita feita por QUEM SOFREU A GUERRA NOS ESPAÇOS DE GUERRA?
4 - É aquela escrita feita por QUEM SOFREU COM A GUERRA LONGE DOS ESPAÇOS DE GUERRA?
5 - É aquela escrita feita SOMENTE POR QUEM FEZ A GUERRA?
B - Fazer a guerra
Deixando de lado toda e qualquer postura política ou ideológica
- Uma coisa é FAZER A GUERRA outra coisa é SOFRER COM A GUERRA. Daí que eu diga que as ÚNICAS MULHERES que FIZERAM A GUERRA foram as nossas Enfermeiras para-quedistas "(vide livro "NÓS, Enfermeiras para-quedistas", onde algumas delas relatam algumas das suas experiências de guerra)"; muitas outras mulheres (nesses tempos, mas não todas) sofreram com a guerra, mas não fizeram a guerra.
C - Das respostas às questões em A acima se poderão clarificar os EQUÍVOCOS em atribuir o epíteto de literatura de guerra colonial a uma literatura baseada no "consta que" ou no "ouvi dizer":
- No consultório médico ou no posto de socorros;
- Nas messes de oficiais e espaços anexos (incluindo piscinas);
- No cabeleireiro e em outros espaços civis ou militares;
- Etc. etc.
EVITEMOS, portanto, "modas" e atitudes de "Maria vai com as outras".
D - QUESTÃO FINAL
- Por que é que não se fala, escreve, filma sobre os livros do MELHOR escritor da guerra colonial - Carlos Vale Ferraz - que aborda desde a temática da guerra (vivida e sofrida) pura e simples, desde os riscos e os sofrimentos presentes ao planeamento operacional e, até, temática pícara e herói-cómica?
Saudações
Alberto Branquinho
____________
Nota do editor
Último poste da série de 5 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14119: Contraponto (Alberto Branquinho) (53): "A Malta das Trincheiras" de André Brun
CONTRAPONTO
54 - LITERATURA DA GUERRA COLONIAL
A - Deixando de lado toda e qualquer postura política ou ideológica, o que é "literatura da guerra colonial"?
1 - É TODO E QUALQUER ESCRITO SOBRE A GUERRA?
2 - É aquela escrita feita por QUEM SOFREU A GUERRA À DISTÂNCIA?
3 - É aquela escrita feita por QUEM SOFREU A GUERRA NOS ESPAÇOS DE GUERRA?
4 - É aquela escrita feita por QUEM SOFREU COM A GUERRA LONGE DOS ESPAÇOS DE GUERRA?
5 - É aquela escrita feita SOMENTE POR QUEM FEZ A GUERRA?
B - Fazer a guerra
Deixando de lado toda e qualquer postura política ou ideológica
- Uma coisa é FAZER A GUERRA outra coisa é SOFRER COM A GUERRA. Daí que eu diga que as ÚNICAS MULHERES que FIZERAM A GUERRA foram as nossas Enfermeiras para-quedistas "(vide livro "NÓS, Enfermeiras para-quedistas", onde algumas delas relatam algumas das suas experiências de guerra)"; muitas outras mulheres (nesses tempos, mas não todas) sofreram com a guerra, mas não fizeram a guerra.
C - Das respostas às questões em A acima se poderão clarificar os EQUÍVOCOS em atribuir o epíteto de literatura de guerra colonial a uma literatura baseada no "consta que" ou no "ouvi dizer":
- No consultório médico ou no posto de socorros;
- Nas messes de oficiais e espaços anexos (incluindo piscinas);
- No cabeleireiro e em outros espaços civis ou militares;
- Etc. etc.
EVITEMOS, portanto, "modas" e atitudes de "Maria vai com as outras".
D - QUESTÃO FINAL
- Por que é que não se fala, escreve, filma sobre os livros do MELHOR escritor da guerra colonial - Carlos Vale Ferraz - que aborda desde a temática da guerra (vivida e sofrida) pura e simples, desde os riscos e os sofrimentos presentes ao planeamento operacional e, até, temática pícara e herói-cómica?
Saudações
Alberto Branquinho
____________
Nota do editor
Último poste da série de 5 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14119: Contraponto (Alberto Branquinho) (53): "A Malta das Trincheiras" de André Brun
Guiné 63/74 - P16439: Notas de leitura (875): Ida à Feira da Ladra, sábado, 27 de Agosto: a Guiné estava à minha espera, antes, durante e depois da guerra (1) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Agosto de 2016:
Queridos amigos,
O prazer da descoberta de imagens preciosas e uma unidade militar que permaneceu na Guiné entre 1959 e 1961 não ilude a revolta de ver estas imagens históricas fora do seu lugar apropriado, o Arquivo Histórico Militar, é para lá que irão, espero que me ajudei a descobrir que unidade militar foi esta, o fotógrafo, porventura comandante de companhia deixou-nos imagens de truz, posso afiançar que as dezenas e dezenas de fotografias que ficaram para vender mereciam um bom recato, um espaço que recolha, preserve e permita a investigação da história militar. E ver como estavam equipados os militares de Antanho, onde se sediava o CIM, como cresceram os equipamentos da messe de Santa Luzia. Mas as surpresas desse dia não ficaram por aqui. Eu depois conto.
Um abraço do
Mário
Ida à Feira da Ladra, sábado, 27 de Agosto: a Guiné estava à minha espera, antes, durante e depois da guerra (1)
Beja Santos
Entro habitualmente na Feira da Ladra junto ao Hospital da Marinha, o propósito é vasculhar os trastes que o Nuno trouxe de vários espólios em móveis, bugigangas e livros; conversar e por vezes comprar roupas de cama à D. Ercília, sempre de largo chapéu de palha na cabeça, sentada à volta dos seus haveres numa pose de rainha Ginga, subo depois para uma banca onde estão expostos mapas, relicários e centenas de fotografias. Foi aí que me saiu a sorte grande do dia, a vendedora alertou-me: “Tem para aí mais de uma centena de fotografias da Guiné”. Era inteiramente verdade. Material inacreditável, belas imagens tiradas com uma boa máquina, sempre legendadas, e com trabalho de revelação da Instanta, que foi casa de prestígio. Eram centenas, adquiri nove, mas primeiro deliciei-me a vasculhar a matéria-prima existente. E a conjeturar. Deve tratar-se de uma unidade militar que por ali andou entre 1959 e 1961. Há imagens da chegada a Lisboa, a bordo do Ana Mafalda. A letra é cuidada, aqui e acolá referem-se nomes de alferes. É bem possível que o possuidor deste valioso espólio fosse o comandante de companhia, espólio que deve ter deixado indiferentes os herdeiros, porventura desconhecedores de que existe um Arquivo Histórico Militar. Aqui vos deixo as imagens:
Bissau, 15 de Agosto, 1960, juramento de bandeira, demonstração do CIM, Alferes Vigário num perfeito salto mortal para a lona
Guiné, 23 de Dezembro, 1960, dois soldados a desfazerem um monte de bagabaga que já está com metade da altura; a terra é para preparar o presépio
Bissorã, 5 de Janeiro, 1961, junto do monumento ao Governador Serrão, dois fulas montados em burros, animais estes que abundam nesta região
Bissau, 15 de Janeiro, 1961, início das obras para a construção de mais um edifício para quartos destinados a oficiais sem família, junto da messe
Praia de Varela, 18 de Fevereiro, 1961, vista dos balneários da praia, os quais têm chuveiro, o que não se espera ao ver-se o seu teto de palha
O regateio deste punhado de relíquias foi relativamente duro, a vendedeira apercebeu-se da minha comoção, jogou com ela. Subo a rampa da feira em fúria, como é possível as pessoas desembaraçarem-se destas imagens históricas para receber uma tuta-e-meia? A meio da ladeira está plantado, frente ao velho Casão, o senhor Manel, vendedor de livros e trastes, de humor instável, num repente grita: “Tudo a 50 cêntimos!” e pode-se comprar um legítimo e intacto bule inglês ou uma caterva de bons livros, mas pode igualmente mostrar-se patibular e sentenciar: “Os livros são a 2 euros, quem não quer desampare-me a loja!”. Tinha aqui surpresas à espera, encontrei um livro que vem referido em “Os anos da guerra”, de João de Melo, bem como um panfleto grosseiro assinado por uma senhora que entrou há pouco na Academia Brasileira de Letras e por prudência não refere na sua vasta bibliografia o que escreveu sobre a Guiné-Bissau. Eu depois conto.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 25 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16420: Notas de leitura (874): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VIII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (IV): "Os guineenses são muito resistentes...Numa ocasião, uma bomba caiu perto de uma mulher e feriu-a no abdómen... Eu devia abrir-lhe o abdómen pois tinha peritonite. Coloquei-lhe anestesia local e, quando lhe ia dar a geral, um avião largou outra bomba que caiu perto. A mulher levantou-se, com a ferida meio aberta, e fugiu. Não a vi mais. Depois disseram-me que a tinham localizado, já morta, a cerca de quatro quilómetros dali."
Queridos amigos,
O prazer da descoberta de imagens preciosas e uma unidade militar que permaneceu na Guiné entre 1959 e 1961 não ilude a revolta de ver estas imagens históricas fora do seu lugar apropriado, o Arquivo Histórico Militar, é para lá que irão, espero que me ajudei a descobrir que unidade militar foi esta, o fotógrafo, porventura comandante de companhia deixou-nos imagens de truz, posso afiançar que as dezenas e dezenas de fotografias que ficaram para vender mereciam um bom recato, um espaço que recolha, preserve e permita a investigação da história militar. E ver como estavam equipados os militares de Antanho, onde se sediava o CIM, como cresceram os equipamentos da messe de Santa Luzia. Mas as surpresas desse dia não ficaram por aqui. Eu depois conto.
Um abraço do
Mário
Ida à Feira da Ladra, sábado, 27 de Agosto: a Guiné estava à minha espera, antes, durante e depois da guerra (1)
Beja Santos
Entro habitualmente na Feira da Ladra junto ao Hospital da Marinha, o propósito é vasculhar os trastes que o Nuno trouxe de vários espólios em móveis, bugigangas e livros; conversar e por vezes comprar roupas de cama à D. Ercília, sempre de largo chapéu de palha na cabeça, sentada à volta dos seus haveres numa pose de rainha Ginga, subo depois para uma banca onde estão expostos mapas, relicários e centenas de fotografias. Foi aí que me saiu a sorte grande do dia, a vendedora alertou-me: “Tem para aí mais de uma centena de fotografias da Guiné”. Era inteiramente verdade. Material inacreditável, belas imagens tiradas com uma boa máquina, sempre legendadas, e com trabalho de revelação da Instanta, que foi casa de prestígio. Eram centenas, adquiri nove, mas primeiro deliciei-me a vasculhar a matéria-prima existente. E a conjeturar. Deve tratar-se de uma unidade militar que por ali andou entre 1959 e 1961. Há imagens da chegada a Lisboa, a bordo do Ana Mafalda. A letra é cuidada, aqui e acolá referem-se nomes de alferes. É bem possível que o possuidor deste valioso espólio fosse o comandante de companhia, espólio que deve ter deixado indiferentes os herdeiros, porventura desconhecedores de que existe um Arquivo Histórico Militar. Aqui vos deixo as imagens:
Bissau, 28 de Junho, 1960, vista do edifício dos quartos de oficiais da messe de Santa Luzia
Bissau, 15 de Agosto, 1960, juramento de bandeira, demonstração do CIM, Alferes Vigário num perfeito salto mortal para a lona
Guiné, 23 de Dezembro, 1960, dois soldados a desfazerem um monte de bagabaga que já está com metade da altura; a terra é para preparar o presépio
Rio Cacheu (Barro), 5 de Janeiro, 1961, canoa com indígenas junto da jangada
Rio Cacheu (Barro), 5 de Janeiro, 1961, soldado navegando numa canoa
Bissorã, 5 de Janeiro, 1961, junto do monumento ao Governador Serrão, dois fulas montados em burros, animais estes que abundam nesta região
Bissau, 15 de Janeiro, 1961, início das obras para a construção de mais um edifício para quartos destinados a oficiais sem família, junto da messe
Praia de Varela, 18 de Fevereiro, 1961, quatro rapazes Felupes e o alferes miliciano Lourenço
Praia de Varela, 18 de Fevereiro, 1961, vista dos balneários da praia, os quais têm chuveiro, o que não se espera ao ver-se o seu teto de palha
O regateio deste punhado de relíquias foi relativamente duro, a vendedeira apercebeu-se da minha comoção, jogou com ela. Subo a rampa da feira em fúria, como é possível as pessoas desembaraçarem-se destas imagens históricas para receber uma tuta-e-meia? A meio da ladeira está plantado, frente ao velho Casão, o senhor Manel, vendedor de livros e trastes, de humor instável, num repente grita: “Tudo a 50 cêntimos!” e pode-se comprar um legítimo e intacto bule inglês ou uma caterva de bons livros, mas pode igualmente mostrar-se patibular e sentenciar: “Os livros são a 2 euros, quem não quer desampare-me a loja!”. Tinha aqui surpresas à espera, encontrei um livro que vem referido em “Os anos da guerra”, de João de Melo, bem como um panfleto grosseiro assinado por uma senhora que entrou há pouco na Academia Brasileira de Letras e por prudência não refere na sua vasta bibliografia o que escreveu sobre a Guiné-Bissau. Eu depois conto.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 25 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16420: Notas de leitura (874): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte VIII: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (IV): "Os guineenses são muito resistentes...Numa ocasião, uma bomba caiu perto de uma mulher e feriu-a no abdómen... Eu devia abrir-lhe o abdómen pois tinha peritonite. Coloquei-lhe anestesia local e, quando lhe ia dar a geral, um avião largou outra bomba que caiu perto. A mulher levantou-se, com a ferida meio aberta, e fugiu. Não a vi mais. Depois disseram-me que a tinham localizado, já morta, a cerca de quatro quilómetros dali."
Guiné 63/74 - P16438: Os nossos passatempos de verão (10): A varanda dos quatro reis... Onde fica? Quem são?... É obrigatório visitar esta cidade (e o respetivo concelho), pelo menos uma vez na vida...
Foto nº 1
Foto nº 2
Foto nº 3
Foto nº 4
Foto nº 5
Foto nº 6
Varanda dos reis (fotos nºs 5 e 6)... São quatro (Fotos nºs 1 a 4)... Fazem parte da fachada de uma igreja e antigo convento de uma conhecida e bela cidade do norte de Portugal. Esses quatro reis estão ligados à fundação e construção do monumento, representativo de vários estilos da nossa arquitetura religiosa. A igreja e o claustro estão classificados como monumento nacional. Andar por aqui é aprofundar o conhecimento de (e o amor que temos por) a nossa terra, a nossa pátria, a nossa gente... É obrigatório visitar esta cidade e este concelho, pelo menos uma vez na vida.,..
Caros/as leitores/as: essa varanda dos quatro reis... onde fica ? Quem são essas cabeças coroadas ?
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor:
Último poste da série > 26 de agosto de 2012 > 26 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10300: Os nossos passatempos de verão (9): A andorinha da Tabanca de Candoz, que é leal, gregária, solidária, corajosa, persistente, vai à luta, não desiste... (Luís Graça)
Último poste da série > 26 de agosto de 2012 > 26 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10300: Os nossos passatempos de verão (9): A andorinha da Tabanca de Candoz, que é leal, gregária, solidária, corajosa, persistente, vai à luta, não desiste... (Luís Graça)
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
Guiné 63/74 - P16437: Memória dos lugares (343): A CART 494, que eu tive a honra de comandar, foi a primeira unidade de quadrícula em Gadamael (de 17/12/63 a 28/5/65) e em Ganturé (de 21/2/64 a 28/5/65)... Fomos também nós quem construiu o primeiro aquartelamento de Ganjola, para onde fomos destacados, de 17/9 a 15/12/63 (Coutinho e Lima, cor art ref)
Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CART 494 (de 17/12/1963 a 28/5/1965) > A equipa de futebol... Em 21/2/1964, o 3º Gr Com instalou-se em Ganturé em 21/2/1964.
Guiné > Região de Tombali > Setor de Catió > Ganjola > CART 494 (de 17/9/1963 a 15/12/1963) > O primeiro aquartelamento
Fotos (e legendas): © Alexandre Coutinho e Lima (2013). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem do nosso camarada [Alexandre] Coutinho e Lima, cor art ref, ex-cap art cmdt da CART 494, Gadamael e Ganturé, 1963/65; adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné, 1968/70; e ex-major art, cmdt do COP 5, Guileje, 1972/73),
Data: 29 de agosto de 2016 às 19:20
Assunto: P 7186 - 28 OUT 2010 - Memória dos lugares (105): Gadamael e as suas unidades de quadrícula
Caro Luis
Antes de mais um grande abraço, pois há bastante tempo que não temos tido contacto.
Aproveitando este magnífico tempo, aqui no Norte, tenho navegado no nosso blogue. revendo alguns aspectos relativos a Guileje e Gadamael. Hoje "esbarrei" no poste P7186 do já longínquo ano de 2010.(*)
Nele é referido, com alguma incerteza, que a CART 1659 (67/68), poderá ter sido a 1ª. Companhia de quadrícula em Gadamael. Ora isso não corresponde à verdade. Com efeito, a primeira Companhia, naquela localidade, foi a CART 494, que eu tive a honra de comandar.
A Companhia chegou a Bissau em 22 de julho de 1963 e desde 17 de setembro até 15 de dezembro de 1963 esteve a passar umas "férias" em Ganjola (Norte de Catió, onde estava a sede do BCAÇ 356). O PAIGC ficou "tão contente", com a nossa chegada, que nos proporcionou, no próprio dia da chegada uma sessão de fogo de artifício diurno, que começou pelas 16h30; como certamente
pensaram que nós não tínhamos ficado totalmente satisfeitos, repetiram com uma sessão nocturna, por volta da 22g30.
A CART 494 foi a primeira tropa em Ganjola, onde construíu o primeiro aquartelamento, partindo do nada.
Transportada em 2 batelões (um motor) civis da Casa Gouveia (CUF) e no navio motor BOR da Armada, a Companhia fez a viagem de Ganjola para Gadamel, nos dias 15 e 16 de dezembro de 1963, tendo desembarcado em Gadamael Porto em 17.
Em 21 de fevereiro de 1964 o 3ª Grupo de Combate da Companhia ocupou a localidade de
Ganturé, ficando assim a Companhia responsável pelos dois aquartelamentos, os quais construiu, de raiz.
Em Gadamael, construiu também a pista de aviação,apenas com pá e picareta e algumas cargas de trotil para desfazer os inúmeros morros de baga baga.
A CART 494 foi rendida em Gadamael / Ganturé, em 28 de maio de 1965, pela CCAÇ 798.(**)
No historial das Unidades que estiveram em Gadamel, falta preencher o período de 65 a 67.
Um abraço amigo,
Coutinho e Lima
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 28 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7186: Memória dos lugares (105): Gadamael e as suas unidades de quadrícula (Luís Graça / Daniel Matos)
(**) Último poste da série > 10 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16376: Memória dos lugares (342): Galomaro e as suas lavadeiras (António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912)
Guiné 63/74 - P16436: (Ex)citações (316): Em Fá Mandinga e Missirá, costumava declamar, de Reinaldo Ferreira, o poema "Receita para fazer um herói" (Jorge Cabral, ex-alf mil art, Pel Caç Nat 63, 1969/71)
1. Na Guiné, costumava declamar, de Reinaldo Ferreira, o poema "Receita para fazer um herói" (*).
Abraço J.Cabral
Receita para fazer um herói
por Reinaldo Ferreira
Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza, aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome,
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.
Serve-se morto.
In; Reinaldo Ferreira [Barcelona, 1922 - Lourenço Marques, 1959] > Poemas > Livro I - Um voo cego a nada > 3) Epigramas (**)
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza, aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome,
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.
Serve-se morto.
In; Reinaldo Ferreira [Barcelona, 1922 - Lourenço Marques, 1959] > Poemas > Livro I - Um voo cego a nada > 3) Epigramas (**)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 29 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16428: Convívios (766): Os "tugas" de Bafatá... Agosto de 2016, restaurante "Ponto de Encontro", do casal Célia e João Dinis a quem prestamos uma emocionada homenagem (Patrício Ribeiro, Impar Lda)
Guiné 63/74 - P16435: Parabéns a você (1129): Manuel Joaquim, ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf da CCAÇ 1419 (Guiné, 1965/67)
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Nota do editor
Último poste da série de 28 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16424: Parabéns a você (1128): António Barbosa, ex-Fur Mil Cav do Pel Rec Panhard 1106 (Guiné, 1966/68) e José Manuel Corceiro, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 5 (Guiné, 1969/71)
Nota do editor
Último poste da série de 28 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16424: Parabéns a você (1128): António Barbosa, ex-Fur Mil Cav do Pel Rec Panhard 1106 (Guiné, 1966/68) e José Manuel Corceiro, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 5 (Guiné, 1969/71)
quarta-feira, 31 de agosto de 2016
Guiné 63/74 - P16434: Os nossos seres, saberes e lazeres (171): From London to Surrey (1) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Abril de 2016:
Queridos amigos,
Um dos meus voluntariados passa por participar numa organização de direitos de doentes e utentes de saúde. Coube-me ir a uma conferência onde se falou durante dois dias e meio de inovação em cuidados de saúde. Habituei-me a aproveitar todos os bocadinhos para fruir o que o país ou a região melhor oferecem. Mantenho uma relação muito feliz com Londres, o Mall, o Museu Britânico, a Tate Britain, a National Gallery são-me irresistíveis, enquanto tiver forças nada de mais aprazível que me saracotear pelas ruas buliçosas, sentar-me diante do Tamisa, comprazer-me com esta estranhíssima mistura do antigo maciço e do contemporâneo leve, contemplar o povo das antigas colónias que parece sentir-se bem nesta Londres que não perdeu a sua aura imperial.
Um abraço do
Mário
From London to Surrey (1)
Beja Santos
O meu destino é Seldson, no Surrey, aí ficarei encarcerado três dias a ouvir falar em inovação nos cuidados de saúde, imagine-se. Tenho direito à alforria antes da corveia, saí às seis da manhã de Lisboa para ter umas horas em Londres à minha conta. Não me dei mal, viajei de autocarro durante hora e meia, é muito mais agradável do que as pessoas pensam, a aproximação a Londres tem momentos muito curiosos. Desembarquei em London Victoria, ando com um trólei ligeiro de quem viaja em low cost. Viajo à aventura, faço a longa Buckingham Palace Road, dou com o Marechal Foch, Comandante Supremo das Forças Armadas da I Guerra Mundial em pose altaneira, parei diante de uma peça de arquitetura arrojada e mais adiante não perdi o ensejo de mirar uma parede com vegetação, isto numa área de escritórios bem populosa, se dúvidas houvesse que os britânicos não sabem viver sem vegetação, vê-se a imagem e elas ficam dissipadas.
Estou indeciso, vou até ao Hyde Park e depois Piccadilly e depois Trafalgar Square, ou faço ao contrário, circundo Buckingham e desço Saint James Park, percorro o Mall e depois Trafalgar? Escolho a segunda opção, e não estou arrependido. Apanhei a loja que vende recordações régias, Isabel II está magnificente nos seus 90 anos, vejo gente a entrar e a sair carregados de recordações, pratos, canecas, fotografias. Paro diante do Palácio, como a câmara não dá para grandes acometimentos, escolho um ângulo que permite visualizar a fachada, diga-se em abono da verdade que não é nenhuma grande peça de artilharia, é imponente, o Memorial a Victoria e Alberto dá-lhe impacto e temos o Mall, para mim uma das avenidas mais graciosas do mundo. A zona do Palácio tem gradeamentos de finura artística, não resisti ao registo de uma dessas portas que só serve para enfeitar, não me canso de gabar a sua elegância.
Graças a um clima benfazejo para a jardinagem, os temas de conversa entre britânicos tem a ver com o estado do tempo e o que é que andam a plantar nos jardins. Estou em território real, Sua Majestade deve ter dado instruções precisas para que não falte garridice a contrastar com os céus pardacentos. Posso imaginar o que custa ao erário da rainha e a seus súbditos esta natureza em flor, a compensação é enorme, este culto pelos frutos da Deusa Terra, e que compensação!
Inflito para o Parlamento, para ser sincero venho saudar Nelson Mandela e deter-me diante da estátua de Churchill, tenho para mim que é uma das peças estatuárias contemporâneas mais belas. O tempo inglês é isto mesmo, céu luminoso, enevoado, pardacento, e com boa vontade até se apanham as quatro estações do ano. Dou-me por feliz com a primeira imagem, a que tirei ao admirado Churchill não captou a pulsão, o vigor que o artista lhe conferiu, lá surripiei uma imagem no Google que me parece fidedigna, não consigo conceber melhor homenagem a que encabeçou a resistência à fúria nazi, prometendo ao seu povo sangue, suor e lágrimas.
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Nota do editor
Último poste da série de 24 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16416: Os nossos seres, saberes e lazeres (170): Eu fui ao Faial e não vi os Capelinhos (2) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Um dos meus voluntariados passa por participar numa organização de direitos de doentes e utentes de saúde. Coube-me ir a uma conferência onde se falou durante dois dias e meio de inovação em cuidados de saúde. Habituei-me a aproveitar todos os bocadinhos para fruir o que o país ou a região melhor oferecem. Mantenho uma relação muito feliz com Londres, o Mall, o Museu Britânico, a Tate Britain, a National Gallery são-me irresistíveis, enquanto tiver forças nada de mais aprazível que me saracotear pelas ruas buliçosas, sentar-me diante do Tamisa, comprazer-me com esta estranhíssima mistura do antigo maciço e do contemporâneo leve, contemplar o povo das antigas colónias que parece sentir-se bem nesta Londres que não perdeu a sua aura imperial.
Um abraço do
Mário
From London to Surrey (1)
Beja Santos
O meu destino é Seldson, no Surrey, aí ficarei encarcerado três dias a ouvir falar em inovação nos cuidados de saúde, imagine-se. Tenho direito à alforria antes da corveia, saí às seis da manhã de Lisboa para ter umas horas em Londres à minha conta. Não me dei mal, viajei de autocarro durante hora e meia, é muito mais agradável do que as pessoas pensam, a aproximação a Londres tem momentos muito curiosos. Desembarquei em London Victoria, ando com um trólei ligeiro de quem viaja em low cost. Viajo à aventura, faço a longa Buckingham Palace Road, dou com o Marechal Foch, Comandante Supremo das Forças Armadas da I Guerra Mundial em pose altaneira, parei diante de uma peça de arquitetura arrojada e mais adiante não perdi o ensejo de mirar uma parede com vegetação, isto numa área de escritórios bem populosa, se dúvidas houvesse que os britânicos não sabem viver sem vegetação, vê-se a imagem e elas ficam dissipadas.
Estou indeciso, vou até ao Hyde Park e depois Piccadilly e depois Trafalgar Square, ou faço ao contrário, circundo Buckingham e desço Saint James Park, percorro o Mall e depois Trafalgar? Escolho a segunda opção, e não estou arrependido. Apanhei a loja que vende recordações régias, Isabel II está magnificente nos seus 90 anos, vejo gente a entrar e a sair carregados de recordações, pratos, canecas, fotografias. Paro diante do Palácio, como a câmara não dá para grandes acometimentos, escolho um ângulo que permite visualizar a fachada, diga-se em abono da verdade que não é nenhuma grande peça de artilharia, é imponente, o Memorial a Victoria e Alberto dá-lhe impacto e temos o Mall, para mim uma das avenidas mais graciosas do mundo. A zona do Palácio tem gradeamentos de finura artística, não resisti ao registo de uma dessas portas que só serve para enfeitar, não me canso de gabar a sua elegância.
Graças a um clima benfazejo para a jardinagem, os temas de conversa entre britânicos tem a ver com o estado do tempo e o que é que andam a plantar nos jardins. Estou em território real, Sua Majestade deve ter dado instruções precisas para que não falte garridice a contrastar com os céus pardacentos. Posso imaginar o que custa ao erário da rainha e a seus súbditos esta natureza em flor, a compensação é enorme, este culto pelos frutos da Deusa Terra, e que compensação!
Inflito para o Parlamento, para ser sincero venho saudar Nelson Mandela e deter-me diante da estátua de Churchill, tenho para mim que é uma das peças estatuárias contemporâneas mais belas. O tempo inglês é isto mesmo, céu luminoso, enevoado, pardacento, e com boa vontade até se apanham as quatro estações do ano. Dou-me por feliz com a primeira imagem, a que tirei ao admirado Churchill não captou a pulsão, o vigor que o artista lhe conferiu, lá surripiei uma imagem no Google que me parece fidedigna, não consigo conceber melhor homenagem a que encabeçou a resistência à fúria nazi, prometendo ao seu povo sangue, suor e lágrimas.
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Nota do editor
Último poste da série de 24 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16416: Os nossos seres, saberes e lazeres (170): Eu fui ao Faial e não vi os Capelinhos (2) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P16433: Agenda cultural (489): Amanhã, dia de 1 setembro, estreia nos cinemas o filme, de Ivo M. Ferreira, "Cartas da Guerra", baseado nas cartas de amor e guerra de António Lobo Antunes, ex-alf mil médico, da CART 3313 (Angola, 1971/73). Descontos especiais para grupos de ex-combatentes e séniores
Ver aqui trailer do filme, disponível no You Tube. O filme teve anteestreia em 24 do corrente, às 19h30, no Cinema São Jorge, Lisboa, tendo contado com a presença do realizador e dos actores.
Informação adicional da produtora, através de Marta Leon:
Boa tarde Sr. Luís Graça,
O filme CARTAS DA GUERRA estreia amanhã, dia 1 de Setembro. E estará nas salas de cinema até 7 de Setembro.
Envio a lista de salas:
- LISBOA E GRANDE LISBOA
Cinema UCI El Corte Inglés [Sessões: 14h20 | 16h40 | 19h10 | 21h30 | 23h55]
Cinemas NOS Amoreiras [Sessões: 13h10 | 15h40 | 18h50 | 21h30 | 00h00]
Cinema Ideal [Sessões: 14h15 | 16h15 | 20h00 (Leg. Inglês/ Eng. Subtitles) | 22h00]
Cinema City Alvalade [Sessões: 15h35 | 19h30]
Cinema Medeia Monumental
Cinema NOS Almada Forum [Sessões: 12h55 | 15h40 | 18h25 | 21h15 | 23h55]
Cinema NOS Oeiras Parque [Sessões: 12h50 | 15h25 | 18h00 | 21h00 | 23h50]
Cinema da Villa - Cascais
Cinema City Alegro Setúbal [Sessões: 11h40 (fim-de-semana) | 19h20]
Cinema Charlot (Setúbal)
- CENTRO
Cinema NOS Alma Shopping (Coimbra) [Sessões: 13h40 | 16h30 | 19h05 | 21h40 | 00h20]
Cinema NOS Forum Viseu [Sessões: 14h30 | 17h00 | 21h50 | 00h20 (6ª e sáb.)]
Cinema NOS Forum Aveiro [Sessões: 13h05 | 15h40 | 21h20 | 00h00 (6ª e sáb.)]
Cinema City Leiria
Cineplace Serra Shopping (Covilhã)
- NORTE E GRANDE PORTO
- Cinema UCI Arrábida 20 (Porto)
- Cinema NOS Alameda Shop & Spot (Porto) [Sessões: 13h10 | 15h40 | 18h30 | 21h10 | 23h50]
- Cinema NOS NorteShopping (Matosinhos) [Sessões: 16h10 | 18h40 | 21h25 | 00h00]
- Cinema NOS Braga Parque [Sessões: 18h00 | 21h00 | 23h40]
- Cinema NOS Nosso Shopping (Vila Real) [Sessões: 13h50 | 16h40 | 22h00 | 00h30 (6ª e sáb.)]
- Cineplace Estação Viana (Viana do Castelo)
- SUL E ILHAS
Cinemas NOS Forum Algarve (Faro) [Sessão: 18h40]
Cinemas NOS Forum Madeira (Funchal) [Sessões: 11:10 | 13:40 | 19:00]
Cineplace Parque Atlântico - Ponta Delgada (Açores)
Informo também que conseguimos negociar preços especiais para veteranos com os exibidores. Para grupos maiores de 15 pessoas, o valor do bilhete é de 4€ (por pessoa). Se por acaso tiverem interesse em organizar uma ida em grupo ao cinema, peço-lhe que entrem em contacto comigo para eu poder agilizar o processo com a sala de cinema à vossa escolha.
Fico a aguardar o seu feedback.
Obrigada,
Marta
____________________
Nota do editor:
Último poste da série > 7 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16281: Agenda cultural (488): O filme "Cartas da Guerra", de Ivo M. Ferreira, baseado na obra de António Lobo Antunes, tem estreia comercial em 1 de setembro próximo
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Guiné 63/74 - P16432: Manuscrito(s) (Luís Graça) (94): Salvé, minha safada, pequena, bela Helena, hiena, de Bafatá!
Salvé, minha safada, pequena, bela Helena, hiena, de Bafatá!
por Luís Graça (*)
por Luís Graça (*)
Amorosa Helena,
pequena fula dengosa,
salva das garras do Islão
por zelosos missionários,
católicos, apostólicos, romanos…
Mas não da faca da fanateca,
que te extirpou, na festa do fanado,
o teu belo clitóris,
para te tornares o colchão de todas as camas,
a Vénus negra de batalhões inteiros,
a iniciadora sexual de tugas,
mancebos que as sortes vieram arrancar às saias das mamãs,
a alegre,
a divertida,
a traquinas
companheira de muitas farras de caserna,
correndo, nua e lasciva,
do regaço de tropas bêbedos que nem cachos,
para o abrigo mais próximo
quando às tantas da madrugada
soava o canhão sem recuo,
estoirava o morteiro 82,
disparava o RPG
e silvava a bala da Kalash!...
Bela Helena de Bafatá,
minha hiena,
que sabias pôr na ordem
os bravos e truculentos paraquedistas de Galomaro
que te batiam à porta a pontapé,
quando eu estava contigo,
deitado na tua esteira,
de palha de capim,
e me dispensavas pequenas gentilezas:
um ronco de missangas, vermelhas,
uma noz de cola,
uma cantilena da tua infância,
um punhado de mancarra seca ao sol,
uma talhada de papaia que trazias do mercado…
sempre que eu ia a Bafatá
e procurava a tua companhia,
na melhor das hipóteses, uma vez por mês,
no dia de folga dos guerreiros de Bambadinca…
Tu e as tuas amigas de Bafatá,
do Bataclã,
a Fatumata, a Ana Maria, e outras
cujo nome já não lembro,
que tanto trabalho deram
ao competentíssimo furriel enfermeiro Martins,
que nunca punha os pés fora da sua morança,
e que eu duvido que alguma vez tenha ido a Bafatá,
o nosso querido Pastilhas,
que vivia 24 horas por dia dentro do arame farpado,
no perímetro militar de Bambadinca,
trabalhando incansavelmente,
de bata branca,
em prol de uma Guiné Melhor,
que nos aturou mil e um travessuras,
bravatas,
praxes,
esperas,
serenatas,
tainadas,
emboscadas,
partidas de mau gosto,
brincadeiras estúpidas e perigosas,
bebedeiras de caixão à cova
...e que sobretudo nos curou
de alguns valentes esquentamentos!
Destes e doutros males de amores,
dos milhões de unidades de penicilina
com que tu subtilmente te vingaste dos machos,
estás perdoada,
Helena, hiena,
abelha do ferrão e do mel…
Afinal, quem vai à guerra, dá e leva…
Tu curavas-nos dos males da alma,
o Pastilhas, das mazelas do corpo…
Entretanto, quando a guerra acabou,
para mim e para os demais tugas da CCAÇ 12,
por volta do mês de março de 1971,
não tive tempo de te devolver
a pulseira de missangas vermelhas,
nem sequer de te dizer uma palavra,
um adeus, até sempre,
um adeus, triste,
com morabeza e saudade,
essa coisa que os tugas nunca te souberam explicar,
essa palavra saudade,
um adeus sem regresso,
e uma lágrima mal engolida,
que Lisboa estava ali,
tão longe e tão perto.
à nossa espera...
Prometi guardar de ti
a doce lembrança,
das tuas estridentes e saudáveis gargalhadas de hiena,
da tua voz rouca e sensual,
da tua fala encantatória,
do cheiro exótico do teu corpo,
das tuas sagradas funções de sacerdotisa
do amor em tempo de guerra…
Imagino que a tua vida não tenha sido fácil
depois da independência,
se é que lá chegaste,
com vida e saúde…
Se sim, não sei como viveste esse dia,
24 de setembro de 1974,
não sei te raparam o cabelo,
se te insultaram,
chamando-te cadela dos tugas,
ou se te apedrejaram,
amarrada a um poilão,
ou se te violaram
ou se te renegaram para sempre,
que a pior das mortes é a morte social.
Nunca mais tive notícias tuas,
mas, quarenta e muitos anos depois,
revendo mentalmente
a minha primeira viagem, por terra,
em pleno chão fula,
do Xime até Contuboel,
onde nos esperavam os nossos queridos nharros,
pequena fula dengosa,
salva das garras do Islão
por zelosos missionários,
católicos, apostólicos, romanos…
Mas não da faca da fanateca,
que te extirpou, na festa do fanado,
o teu belo clitóris,
para te tornares o colchão de todas as camas,
a Vénus negra de batalhões inteiros,
a iniciadora sexual de tugas,
mancebos que as sortes vieram arrancar às saias das mamãs,
a alegre,
a divertida,
a traquinas
companheira de muitas farras de caserna,
correndo, nua e lasciva,
do regaço de tropas bêbedos que nem cachos,
para o abrigo mais próximo
quando às tantas da madrugada
soava o canhão sem recuo,
estoirava o morteiro 82,
disparava o RPG
e silvava a bala da Kalash!...
Bela Helena de Bafatá,
minha hiena,
que sabias pôr na ordem
os bravos e truculentos paraquedistas de Galomaro
que te batiam à porta a pontapé,
quando eu estava contigo,
deitado na tua esteira,
de palha de capim,
e me dispensavas pequenas gentilezas:
um ronco de missangas, vermelhas,
uma noz de cola,
uma cantilena da tua infância,
um punhado de mancarra seca ao sol,
uma talhada de papaia que trazias do mercado…
sempre que eu ia a Bafatá
e procurava a tua companhia,
na melhor das hipóteses, uma vez por mês,
no dia de folga dos guerreiros de Bambadinca…
Tu e as tuas amigas de Bafatá,
do Bataclã,
a Fatumata, a Ana Maria, e outras
cujo nome já não lembro,
que tanto trabalho deram
ao competentíssimo furriel enfermeiro Martins,
que nunca punha os pés fora da sua morança,
e que eu duvido que alguma vez tenha ido a Bafatá,
o nosso querido Pastilhas,
que vivia 24 horas por dia dentro do arame farpado,
no perímetro militar de Bambadinca,
trabalhando incansavelmente,
de bata branca,
em prol de uma Guiné Melhor,
que nos aturou mil e um travessuras,
bravatas,
praxes,
esperas,
serenatas,
tainadas,
emboscadas,
partidas de mau gosto,
brincadeiras estúpidas e perigosas,
bebedeiras de caixão à cova
...e que sobretudo nos curou
de alguns valentes esquentamentos!
Destes e doutros males de amores,
dos milhões de unidades de penicilina
com que tu subtilmente te vingaste dos machos,
estás perdoada,
Helena, hiena,
abelha do ferrão e do mel…
Afinal, quem vai à guerra, dá e leva…
Tu curavas-nos dos males da alma,
o Pastilhas, das mazelas do corpo…
Entretanto, quando a guerra acabou,
para mim e para os demais tugas da CCAÇ 12,
por volta do mês de março de 1971,
não tive tempo de te devolver
a pulseira de missangas vermelhas,
nem sequer de te dizer uma palavra,
um adeus, até sempre,
um adeus, triste,
com morabeza e saudade,
essa coisa que os tugas nunca te souberam explicar,
essa palavra saudade,
um adeus sem regresso,
e uma lágrima mal engolida,
que Lisboa estava ali,
tão longe e tão perto.
à nossa espera...
Prometi guardar de ti
a doce lembrança,
das tuas estridentes e saudáveis gargalhadas de hiena,
da tua voz rouca e sensual,
da tua fala encantatória,
do cheiro exótico do teu corpo,
das tuas sagradas funções de sacerdotisa
do amor em tempo de guerra…
Imagino que a tua vida não tenha sido fácil
depois da independência,
se é que lá chegaste,
com vida e saúde…
Se sim, não sei como viveste esse dia,
24 de setembro de 1974,
não sei te raparam o cabelo,
se te insultaram,
chamando-te cadela dos tugas,
ou se te apedrejaram,
amarrada a um poilão,
ou se te violaram
ou se te renegaram para sempre,
que a pior das mortes é a morte social.
Nunca mais tive notícias tuas,
mas, quarenta e muitos anos depois,
revendo mentalmente
a minha primeira viagem, por terra,
em pleno chão fula,
do Xime até Contuboel,
onde nos esperavam os nossos queridos nharros,
da futura CCAÇ 12,
ao longo do interminável dia 2 de junho de 1969,
o teu nome,
o teu rosto,
a tua voz,
o teu odor,
o teu corpo,
a tua púbis,
e as tuas gargalhadas, quiçá magoadas,
vieram-me à lembrança…
E essa lembrança tocou-me.
Lembrei-te de ti,
da história que se contava sobre ti,
muito provavelmente lenda,
passada em Ponta Coli,
entre os rios Geba e Udunduma,
frente à vasta bolanha de Samba Silate,
agora seara inútil de capim alto,
com o cadáver do furriel vagomestre do Xime
nos braços...
Lembrei-te de ti e das minhas/nossas escapadelas a Bafatá…
Ia-se a Bafatá,
a bonita e alegre Bafatá colonial,
ao longo do interminável dia 2 de junho de 1969,
o teu nome,
o teu rosto,
a tua voz,
o teu odor,
o teu corpo,
a tua púbis,
e as tuas gargalhadas, quiçá magoadas,
vieram-me à lembrança…
E essa lembrança tocou-me.
Lembrei-te de ti,
da história que se contava sobre ti,
muito provavelmente lenda,
passada em Ponta Coli,
entre os rios Geba e Udunduma,
frente à vasta bolanha de Samba Silate,
agora seara inútil de capim alto,
com o cadáver do furriel vagomestre do Xime
nos braços...
Lembrei-te de ti e das minhas/nossas escapadelas a Bafatá…
Ia-se a Bafatá,
a bonita e alegre Bafatá colonial,
a princesa do Geba,
para limpar a vista,
entrar no café da Dona Rosa,
ver as manas libanesas,
dar um mergulho na piscina,
comprar umas bugigangas da nossa civilização,
para limpar a vista,
entrar no café da Dona Rosa,
ver as manas libanesas,
dar um mergulho na piscina,
comprar umas bugigangas da nossa civilização,
cristã e ocidental,
nos armazéns da Casa Gouveia,
comer o bife com ovo a cavalo
na Transmontana,
dar um salto ao Bataclã,
mudar o óleo, dizíamos, nós, machões,
cheios de testosterona no corpo e angústia na alma…
e passar, por fim, pelo café do Teófilo,
para o último copo, de despedida,
antes de apanhar o último Unimog,
de regresso a Bambadinca,
ao fim da tarde...
Eram os únicos momentos do mês
em que éramos donos do nosso tempo,
em que a nossa liberdade não estava cerceada,
cercada de arame farpado,
nem pensávamos na emboscada de ontem,
nem na operação de amanhã,
nem na puta da mina que nos podia matar
ou amputar um pé...
Também foste, à tua maneira,
uma heroína daquela guerra,
minha impossível amiga colorida,
separada pelos papéis
que nos obrigaram a representar
no teatro da tragicomédia daquela guerra…
Daí figurares,
contra toda a ortodoxia,
do teu povo, fula,
dos teus missionários, cristãos,
que te queriam a alma,
dos tugas, putos de vinte e poucos anos,
que apenas te queriam o corpo,
contra o blá-blá dos revolucionários do PAIGC
que não te terão perdoado
o teu colaboracionismo com os tugas,
para mais sendo tu conterrânea do pai da pátria,
o pobre do Amílcar Cabral
tantas vezes morto e remorto à traição,
ao longo destes anos todos,
daí figurares, dizia eu,
na minha galeria de heróis e de heroínas da Guiné…
Por direito próprio,
com todo o direito,
com o direito que ganharam as mulheres do teu país,
pobres,
as mais pobres dos mais pobres,
mas sempre dignas e corajosas,
apesar de ofendidas e humilhadas,
excisadas,
exploradas,
violentadas pelo sistema,
pela guerra,
pela dominância dos machos,
pelo imperativo da sobrevivência,
pela lotaria da geografia e da história…
Aceita esta pequena homenagem,
tardia, singela, mas sincera,
da minha parte,
e da parte todos os demais meus camaradas
que dormiram contigo, na tua cama,
e em contrapartida,
dá-me o derradeiro prazer,
esse prazer tão terno,
de te ouvir soltar as tuas gargalhadas de hiena,
minha safada, pequena, bela Helena de Bafatá,
onde quer que estejas,
comer o bife com ovo a cavalo
na Transmontana,
dar um salto ao Bataclã,
mudar o óleo, dizíamos, nós, machões,
cheios de testosterona no corpo e angústia na alma…
e passar, por fim, pelo café do Teófilo,
para o último copo, de despedida,
antes de apanhar o último Unimog,
de regresso a Bambadinca,
ao fim da tarde...
Eram os únicos momentos do mês
em que éramos donos do nosso tempo,
em que a nossa liberdade não estava cerceada,
cercada de arame farpado,
nem pensávamos na emboscada de ontem,
nem na operação de amanhã,
nem na puta da mina que nos podia matar
ou amputar um pé...
Também foste, à tua maneira,
uma heroína daquela guerra,
minha impossível amiga colorida,
separada pelos papéis
que nos obrigaram a representar
no teatro da tragicomédia daquela guerra…
Daí figurares,
contra toda a ortodoxia,
do teu povo, fula,
dos teus missionários, cristãos,
que te queriam a alma,
dos tugas, putos de vinte e poucos anos,
que apenas te queriam o corpo,
contra o blá-blá dos revolucionários do PAIGC
que não te terão perdoado
o teu colaboracionismo com os tugas,
para mais sendo tu conterrânea do pai da pátria,
o pobre do Amílcar Cabral
tantas vezes morto e remorto à traição,
ao longo destes anos todos,
daí figurares, dizia eu,
na minha galeria de heróis e de heroínas da Guiné…
Por direito próprio,
com todo o direito,
com o direito que ganharam as mulheres do teu país,
pobres,
as mais pobres dos mais pobres,
mas sempre dignas e corajosas,
apesar de ofendidas e humilhadas,
excisadas,
exploradas,
violentadas pelo sistema,
pela guerra,
pela dominância dos machos,
pelo imperativo da sobrevivência,
pela lotaria da geografia e da história…
Aceita esta pequena homenagem,
tardia, singela, mas sincera,
da minha parte,
e da parte todos os demais meus camaradas
que dormiram contigo, na tua cama,
e em contrapartida,
dá-me o derradeiro prazer,
esse prazer tão terno,
de te ouvir soltar as tuas gargalhadas de hiena,
minha safada, pequena, bela Helena de Bafatá,
onde quer que estejas,
...na terra,
no céu
ou no inferno!
Se ainda estiveres viva,
contra todas as probalibilidades
da estatística demográfica da tua terra,
... que Deus, Alá e os bons irãs te protejam!
Versão 6 | Lourinhã, 20 agosto 2016 (**)
(**) Vd. poste de 12 de janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - P424: A galeria dos meus heróis (3): A Helena de Bafatá (Luís Graça)
Sobre o tema (o sexo em tempo em tempo de guerra...), aqui vai uma lista (necessariamente incompleta, provisória, quiçá arbitrária) dos postes que publicámos (até março de 2009):
21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4065: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (7): Os tomates do Capelão da BA 12, Bissalanca... e outras frutas (Miguel Pessoa)
5 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3025: Os nossos regressos (7): Perdido, com um sentimento de orfandade, pelos Ritz Club, Fontória, Maxime, Nina... (Jorge Cabral)
1 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3546: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (14): Em Junho de 69 havia bajudas a alternar no Tosco, na Conde Redondo (Jorge Félix)
19 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2556: Estórias de Bissau (16) : O Furriel Pechincha: apanhado ma non troppo (Hélder Sousa)
21 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2290: Estórias de Bissau (14) : O Pilão, a menina, o Jesus e os pesos que tinha esquecido (Virgínio Briote)
19 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2281: Estórias de Bissau (13) : O Pilão, a Nônô e o chulo da Nônô (Torcato Mendonça)
17 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2272: As nossas (in)confidências sobre o Cupelom, Cupilão ou Pilão (Helder Sousa / Luís Graça)
14 de Novembro de 2007 >Guiné 63/74 - P2264: Blogue-fora-nada: O melhor de... (3): Carta de Bissau, longe do Vietname: talvez apanhe o barco da Gouveia amanhã (Luís Graça)
28 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1554: As mulheres que ficaram na rectaguarda (Luís Graça /Paulo Raposo / Paulo Salgado / Torcato Mendonça)
3 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1490: Favores sexuais furtivos em Mampatá (Paulo Santiago)
2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1484: Estórias de Bissau (10): do Pilão a Guidaje... ou as (des)venturas de um periquito (Albano Costa)
1 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1483: Blogoterapia (16): Males de amores ou... Tenho um lenço da minha lavadeira ali guardado na gaveta (David Guimarães et al)
31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1476: Blogoterapia (15) : Mulher tua (Torcato Mendonça)
31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1475: A chacun, sa putain... Ou Fanta Baldé, a minha puta de estimação (Vitor Junqueira)
24 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1314: Estórias de Bissau (8): Roteiro da noite: Orion, Chez Toi, Pilão (Paulo Santiago)
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1290: Estórias de Bissau (7): Pilão, os dez quartos (Jorge Cabral)
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1289: Estórias de Bissau (6): os prazeres... da memória (Torcato Mendonça)
11 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1267: Estórias de Bissau (2): A minha primeira máquina fotográfica (Humberto Reis); as minhas tainadas (A. Marques Lopes)
20 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P974: Estórias cabralianas (12): A lavadeira, o sobretudo e uma carta de amor
4 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P936: Estórias cabralianas (11): a atribulada iniciação sexual do Soldado Casto
18 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLV: Teresa: amores e desamores (Virgínio Briote)
17 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 -DXLVI: Estórias cabralianas (5): o Amoroso Bando das Quatro em Missirá
no céu
ou no inferno!
Se ainda estiveres viva,
contra todas as probalibilidades
da estatística demográfica da tua terra,
... que Deus, Alá e os bons irãs te protejam!
Versão 6 | Lourinhã, 20 agosto 2016 (**)
____________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 28 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16425: Manuscrito(s) (Luís Graça) (93): A vida, de fio a pavio
(*) Último poste da série > 28 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16425: Manuscrito(s) (Luís Graça) (93): A vida, de fio a pavio
Sobre o tema (o sexo em tempo em tempo de guerra...), aqui vai uma lista (necessariamente incompleta, provisória, quiçá arbitrária) dos postes que publicámos (até março de 2009):
21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4065: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (7): Os tomates do Capelão da BA 12, Bissalanca... e outras frutas (Miguel Pessoa)
5 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3025: Os nossos regressos (7): Perdido, com um sentimento de orfandade, pelos Ritz Club, Fontória, Maxime, Nina... (Jorge Cabral)
1 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3546: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (14): Em Junho de 69 havia bajudas a alternar no Tosco, na Conde Redondo (Jorge Félix)
19 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2556: Estórias de Bissau (16) : O Furriel Pechincha: apanhado ma non troppo (Hélder Sousa)
21 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2290: Estórias de Bissau (14) : O Pilão, a menina, o Jesus e os pesos que tinha esquecido (Virgínio Briote)
19 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2281: Estórias de Bissau (13) : O Pilão, a Nônô e o chulo da Nônô (Torcato Mendonça)
17 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2272: As nossas (in)confidências sobre o Cupelom, Cupilão ou Pilão (Helder Sousa / Luís Graça)
14 de Novembro de 2007 >Guiné 63/74 - P2264: Blogue-fora-nada: O melhor de... (3): Carta de Bissau, longe do Vietname: talvez apanhe o barco da Gouveia amanhã (Luís Graça)
28 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1554: As mulheres que ficaram na rectaguarda (Luís Graça /Paulo Raposo / Paulo Salgado / Torcato Mendonça)
3 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1490: Favores sexuais furtivos em Mampatá (Paulo Santiago)
2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1484: Estórias de Bissau (10): do Pilão a Guidaje... ou as (des)venturas de um periquito (Albano Costa)
1 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1483: Blogoterapia (16): Males de amores ou... Tenho um lenço da minha lavadeira ali guardado na gaveta (David Guimarães et al)
31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1476: Blogoterapia (15) : Mulher tua (Torcato Mendonça)
31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1475: A chacun, sa putain... Ou Fanta Baldé, a minha puta de estimação (Vitor Junqueira)
24 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1314: Estórias de Bissau (8): Roteiro da noite: Orion, Chez Toi, Pilão (Paulo Santiago)
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1290: Estórias de Bissau (7): Pilão, os dez quartos (Jorge Cabral)
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1289: Estórias de Bissau (6): os prazeres... da memória (Torcato Mendonça)
11 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1267: Estórias de Bissau (2): A minha primeira máquina fotográfica (Humberto Reis); as minhas tainadas (A. Marques Lopes)
20 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P974: Estórias cabralianas (12): A lavadeira, o sobretudo e uma carta de amor
4 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P936: Estórias cabralianas (11): a atribulada iniciação sexual do Soldado Casto
18 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLV: Teresa: amores e desamores (Virgínio Briote)
17 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 -DXLVI: Estórias cabralianas (5): o Amoroso Bando das Quatro em Missirá
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