Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.
Ainda a propósito da trágica estória do Fernando Gaspar Ribeiro (1). Comentários recentes de vários membros da nossa tertúlia:
1. Do Paulo Raposo:
Olá, Luís. Mais uma vez te tenho de tirar o chapéu. Pois nem todos os dias há tempo e disponibilidade para estar atento a todos. Bem hajas, rapaz. Estás a fazer história.
Vai um beijo para a amiga que nos escreveu. Todos nós tinhamos uma Maria que ficou na retaguarda. O Fernando ficou por lá e nós voltámos, a história também podia ter sido escrita de outra maneira.
Em Cutia estive três vezes em 1967. De passagem para uma operação ao Morés, emboscado toda a noite perto do trilho IN que passagem próximo e a bater a zona depois de o pessoal de Cutia ter sofrido uma emboscada à saída de Mansoa, que deu um ferido (...). El Almançor
2. Do editor do blogue:
Paulo: Não se trata de fazer história (pelo menos, com H grande), mas apenas a de estarmos minimamente atentos uns aos outros e tirarmos partido do facto de sermos um grupo em rede, de podermos explorar as imensas potencialidades que é a interacção e em comunicação em rede...
Repara: nem esta mulher nem o César Dias (ex-furriel miliciano da CCS do BCAÇ 2885 que esteve em ou passou por Cutia, entre 1967 e 1969) pertencem à nossa tertúlia, ou estão na nossa lista de e-mails... E mesmo assim vieram ter connosco, por via do nosso blogue (que já tem 184 mil visitas)... Dramas como este que nos foi relatado, fazem parte da nossa história trágico-marítima... Têm no mínimo metade dos mil anos da nossa identidade como portugas... Isso deve dar-nos também algum alento, força, coragem... Obrigado a todos.
3. Do Paulo Salgado:
Vivam Todos! Deste meu canto, aqui em Gaia, e num finzinho de tarde, queria deixar a minha partilha - para as Mulheres e Noivas, e Mães, para todas sem excepção. A elas se deve muito do que fomos durante meses a fio (claro que alguns nem madrinha de guerra tiveram, por opção!). Recordo o Mendes - onde estarás tu, meu portador da metralhadora, transportador de fitas de balas e meia dúzia de granadas? - que, casado, com uma filha (ou filho?), ficava completamente desvairado quando a Dornier chegava sem um aerogramazinho para ele! Era bebedeira a jorros, era choro que nem criança, era agressividade - ele, um bom rapaz que, ao outro dia se desfazia em desculpas!
Vede bem: como pôde um homem sobreviver? Como foi possível que a maioria - que jovens que éramos! - tenha sobrevivido!
Para Vós, Mulheres, que sofrestes, que aguentastes a criação de filhos, que suportastes a solidão de um quarto vazio, que chorastes sobre os lençóis, que erguestes as preces aos céus, vão nossos louvores.
Ainda hoje nos aturais - nos nossos devaneios passadistas, nas conversas sobre sortes e fraquezas que tivemos e que não nos cansamos de repetir nas reuniões das companhias. E, à medida que o tempo decorre, melhor reconhecemos a imensidão do Vosso apoio!
Para Vós, um grande agradecimento. Paulo Salgado
4. Do Torcato Mendonça:
(...) aquele grito sem som, lancinante por um amor não realizado. Sente-se um aperto no peito, mais próprio ou mais vulgar, em homens como nós. Estivemos lá, sentimos, vivemos a vida e a morte, os mutilados, a brutalidade do gesto na acção, nosso ou de outros, em ambos os lados da contenda. São marcas indeléveis para todo o sempre, por isso melhor a compreensão a solicitações destas.
(...) Quantas mulheres lançam, ainda hoje, gritos de silêncio ou saudosamente recordam, na solidão, no seu íntimo, aqueles que outrora amaram e uma causa, uma loucura, desta vida, da vida deles, prematuramente, os fez separar!?
Oxalá esta mulher tenha a resposta que merece. Oxalá.
Sabes, parei e voltei. O sol já se escondeu por detrás dos montes. É uma hora mais triste ou mais propícia à meditação, a estarmos mais perto de nós. Velho tonto…
Devia guardar ou apagar este matraquear de teclas. Vale a pergunta recebeste as mensagens e anexos? Por um blogue melhor, livre, solidário em abraço a todos os que acham que este mundo deve, tem que, ser mais fraterno. Eu fico-me, meu caro camarada…e acredito… Chato eu sou! Um abraço, Torcato Mendonça
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Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 24 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1544: Quem conheceu o Furriel Mil Art Fernando J. G. Ribeiro, morto na picada de Binta-Farim em Julho de 1973 ? (Luís Graça)
3 comentários:
Meu caro senhor, antes de mais aproveito para o cumprimentar e congratular por este espaço, que já acompanho do anterior.
Sou pessoa interessada pelas coisas militares - vai-me perdoar não lhe dizer quem sou, mas prefiro o conforto do anonimato, sabendo, como o senhor sabe, que nem sempre uma máscara esconde um vilão ou um cobarde - e considero o seu blogue do melhor que já li sobre a amargurada memória do papel das Forças Armadas em África.
Interrompo o meu silêncio de leitor atento, para o informar que usei uma foto do seu blog num post do meu - como é óbvio indiquei a proveniência.
Os melhores cumprimentos!
P. S. E que nada o espante... muitas vezes o que deve ser dito... precisa de falar a língua de outros públicos para que possa ser entendido... e ter eficácia.
Já agora aproveito para lhe indicar a leitura de umas coisas que escrevi em meu outro blog, de que penso que gostará, principalmente deste texto: http://gothland666.blogspot.com/2006/05/o-heri.html
... mas tomo a liberdade de lhe aconselhar também este e os links para onde remete: http://gothland666.blogspot.com/2006/09/aquele-que-vai-morrer.html
Homens como o senhor, lúcidos e democratas, fazem-me sentir orgulho nesta nossa maltratada Pátria!
Ah, já me esquecia... também tomei a liberdade de fazer bom uso de um comentário seu, sem o qual o meu post perderia o sentido...
Espero que isso não lhe provoque qualquer incómodo, de boa fé o fiz - e porque não poderia deixar de referir a sua bem humorada referência aos «góticos»... Não resisti! :)
P. S. Gente do meu sangue também combateu nas Áfricas, nos três Ramos das Forças Armadas - sei bem do que se fala neste seu espaço.
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