sábado, 23 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10065: Em busca de... (193): Pormenores do acidente de aviação que vitimou o Sarg. Radiotelegrafista Domingos de Oliveira Neiva em Angola no dia 10 de Novembro de 1961 (Liliana Ramos)

1. Mensagem da nossa leitora Liliana Davis Ramos, neta do nosso camarada Sarg. Radiotelegrafista Domingos de Oliveira Neiva que faleceu num acidente no Chitado, TO de Angola ocorrido em 10 de Novembro de 1961:

Boa noite,
Hoje encontrei no vosso site http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2011/12/guine-6374-p9158-as-nossas-queridas.html um artigo àcerca do acidente de aviação do Chitado em 1961, sou neta do 1.º Sarg. Radiotelegrafista Domingos de Oliveira Neiva, que infelizmente se encontrava a bordo do avião, será que era possível obter mais informações deste acidente?

Nunca consegui obter muitas informações, será possível obter mais conhecimento junto das enfermeiras Maria Arminda e Aniceto Carvalho que se deslocaram ao local?

Aguardo uma resposta. É muito importante para mim e para a minha mãe, pois infelizmente não conheceu o pai...

Atentamente,
Liliana Davis Ramos
liliana.ramos7@gmail.com
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10041: Em busca de... (192): O ex-1.º Cabo Escriturário Mário Serra de Oliveira procura o seu Tenente Mário da Silva Ascensão, 1967/1968

Guiné 63/74 - P10064: Convívios (454): Encontro do pessoal da CART 2412 levado a efeito no dia 19 de Maio de 2012 em Vizela (Jorge Teixeira)

1. Mensagem do nosso camarada Jorge Teixeira (ex-Fur Mil Art, CART 2412, Bigene - Guidage, Barro, 1968/70), com data de 19 de Junho de 2012:

Caro Carlos Vinhal
Camarada e amigo Carlos
Como sempre apelo à tua boa vontade e disponibilidade para fazeres o favor de publicar, se for possível, o nosso encontro/convívio que aconteceu em Vizela em 19-05-2012.

Um abraço, obrigado e desculpa a trabalheira.
cumprim/jteix



Foi na linda cidade de Vizela, no dia 19-05-2012, que aconteceu conforme estava previsto, o 15º encontro/convívio da CART 2412 "SEMPRE DIFERENTES" organizado e bem, pelo nosso camarada António Ferreira Machado (Machadinho), 42 anos depois do nosso regresso da Guiné à metrópole, que como sabem aconteceu no dia 14 de Maio de 1970. Ainda se lembram?...

A concentração do pessoal começou bem cedo. Bem cedo?... bem, seriam 11:00 horas seus malandros! Mas bem mandados, começaram a aparecer no "ponto de reunião".

Depois, conforme constava na "ordem de serviço", começaram a "perfilar" na Câmara Municipal.
Era a recepção que o Sr Presidente fez questão em nos receber.



Já na câmara o presidente, Sr. Dinis Costa no uso da palavra a dirigir-nos as boas-vindas e dissecando sobre o concelho mais jovem de Portugal, Vizela, e o seu magnifico património cultural e religioso.

Depois da recepção, que muito agradecemos, as fotografias da praxe para a posteridade.


Seguiu-se uma missa na capela de S. Bento das Peras em honra dos camaradas já falecidos.

O Sr. Padre fez uma homilia alusiva à circunstância dos encontros dos ex-combatentes e no fim fez questão de nos cumprimentar. Agradecemos a amabilidade.


É aqui que começava a verdadeira "guerra" ou não estivéssemos nós já habituados a montar verdadeiras emboscadas. É evidente que o IN aqui não era o "bigodes, ou te calas ou te..." e ele não se calou e leu em poesia os "planos da pólvora" até ao fim, grande seca... ...tábem prontos, não foi.

Seguem-se as fotos do "ataque" propriamente dito, sem comentários. Estavam todos concentrados a contar munições e a relatar os factos vividos à muitos anos atrás quando o "rancho" era outro.
Olhem para eles, nem se ouvem tal a concentração...


...ide pró mato malandros!
O pessoal já começava a dispersar para desgastar...

Finalmente o bolo e seus carrascos, que diga-se de passagem estava muntabooomm!

Mas há aqui um "piqueno quiproquó" que convém esclarecer e que já vem dos anos anteriores. Façam o favor de rectificar que não é o 42º convívio, porque só fizemos 15, mas sim o 42º aniversário do nosso regresso da Guiné.

E para acabar, fim de festa: tchim, tchim... Na foto os manfios esq/dta: Godinho, Teixeira, Ventura, Machado (o trabalhador desta coisa), Barbeitos (meio escondido) e finalmente o Feliciano (e a sua mãozinha extra, para o que der e vier!). Até pró ano camaradas, um abraço para todos.
cumprim/jteix

(Fotos e legendas retiradas do Blogue da CART 2412)
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10033: Convívios (453): 2.º Encontro Nacional dos "Onças Negras de Bedanda" - CCAÇ 6, ocorrido no dia 9 de Junho na Mealhada (António Teixeira)

Guiné 63/74 - P10063: Tabanca Grande (345): O nosso camarada Miguel Pessoa deu uma queda, fracturou o úmero, estando internado em Santa Maria para colocação de uma prótese

Através da Tabanca do Centro, tomámos conhecimento ontem que o nosso camarada Miguel Pessoa sofreu uma queda e partiu um braço.

A coisa podia ser mais fácil de resolver não fora a fractura se localizar no úmero, junto ao ombro. Como homem jovem e activo que é, o nosso camarada Miguel, para ficar como novo, vai ter que levar uma prótese, como quem diz, uma dobradiça nova no braço.
Camarada C. Martins, se estiveres por aí, explica à gente como se fazem estas coisas.

Falei há minutos via telemóvel com o Miguel, que está internado no Hospital de Santa Maria (Lisboa), que me autorizou a dar esta notícia, que não sendo nada agradável, não é de todo infausta como foi afirmado no Blogue da Tabanca do Centro.
Quando li o título apanhei cá um susto de morte.

Lá para o meio da semana o nosso camarada será então sujeito a uma intervenção cirúrgica para poder voltar à normalidade. Ficará como novo, todos desejamos e cremos.

Pela minha parte vou tentando estar a par da evolução das melhoras do nosso camarada sinistrado, servindo-me para o efeito dos diversos meios de comunicação, reportando-as aqui para conhecimento da tertúlia.

Caro Miguel, a Tabanca Grande está contigo e a torcer para que voltes à normalidade o mais rápido possível, sempre cumprindo as normas clínicas vigentes.

Recebe um abraço colectivo de amizade e solidariedade.
Carlos Vinhal

Hoje, como ontem, o nosso camarada Miguel Pessoa pode contar com o seu "Anjo da Guarda" privativo, a sua esposa Giselda.
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10039: Tabanca Grande (344): José Alberto Leal Pinto, ex-1º Cabo Escriturário da CCS do BCAV 8320, Bula e Cumeré, 1971/74 (Luís Gonçalves Vaz)

Guiné 63/74 - P10062: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (57): Tenho na minha colecção peças de fardamento, de 1961, de António Sousa Teles, Major de Infantaria (Miguel Andrade)

1. Mensagem datada de 19 de Junho de 2012 do nosso jovem leitor Miguel Andrade a propósito do nosso Poste 9483*:

Muito boa noite
Desculpe incomodá-lo com este meu email mas não consigo não dizer nada após ter lido com atenção o seu blog e a troca de mensagens entre os participantes.

Eu tenho apenas 30 anos, quando o senhor e seus Camaradas já defendiam e honravam Portugal, eu ainda nem projecto era de meus pais, portanto informação importante para a questão que é debatida no blog confesso que não tenho.

Eu sou coleccionador de militaria, portuguesa e estrangeira e sempre que consigo comprar alguma coisa tento sempre obter mais alguma informação sobre ela... É exactamente este meu hábito que me fez chegar a vós... Recentemente adquiri um uniforme de Coronel de Infantaria do Exército Português, tanto na etiqueta do casaco como na etiqueta das calças estava escrito o nome do seu antigo proprietário e uma data:

"Major António Sousa Teles, 12/08/1961"

Uma das questões debatidas era realmente a arma dos oficiais em questão, neste caso o uniforme tem a arma de Infantaria. Não sei se será o mesmo oficial ou não, decerto que Sousa Teles não será exclusivo dos dois irmãos de que falavam, mas seria uma grande coincidência não corresponder ao que é debatido e as datas parecem-me bater certo.

Vou enviar algumas fotos do uniforme.

Outra coincidência engraçada é ver que uma pessoa que sempre estimei, o sr. engenheiro Hélder Sousa, pessoa com quem trabalhei na empresa Tecnep há uns largos anos atrás,  é colaborador neste blog. Um abraço para ele pois deixei de ter qualquer tipo de contacto com ele.

Resta-me enviar-lhe,  a si e a todos os seus camaradas ex-combatentes da Guerra do Ultramar,  a minha profunda gratidão e o meu obrigado sincero por todos os sacrifícios. Apesar de não os conhecer enchem-me de orgulho.

Com os melhores cumprimentos
Miguel Andrade






____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9483: As Nossas Tropas - Quem foi quem (8): António Sousa Teles (1922-2006), ten cor art, comandante do BCAÇ 4514/72 (Cadique, 1973/74)

Vd. último poste da série de 19 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10049: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (56): Desde a ilha de Luanda, evocando o bom irã de Bedanda e enviando um abraço para todos os bedandenses que estiveram no 2º encontro das Onças Negras, e em especial o Tony, o Pinto Carvalho e o Belmiro Pereira (Luís Graça)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10061: Notas de leitura (371): "Bissau, Entre o Amor e a Guerra", de Leonel C. Barreiros (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 7 de Maio de 2012:

Queridos amigos,
Foi um privilégio conhecer o soldado Calvário. Telefonei-lhe para a sua terra, Caçador, em Viseu, ficou feliz por saber que o seu livro fora desencantado de uma estante. Juntou a contracapa do seu diário original, onde ele registou o que se encontrava gravado num pequeno monumento situado dentro da Amura. Reproduz também uma página do seu documento.
O Leonel Barreiros tem vários livros publicados . Andou emigrado na Alemanha, foi continuo em duas escolas secundárias, andou sempre envolvido em ranchos folclóricos.
É uma alegria acolhermos mais um genuíno diário da Guiné.

Um abraço do
Mário


Diário do soldado Calvário, da Companhia de Polícia Militar 590, Guiné 1963/1965 (3)

Beja Santos

Devemos ao diário do soldado Calvário um relato minucioso das atividades da Polícia Militar em Bissau e arredores, entre finais de 1963 e 1965. É um rol infindável de escoltas, rondas, segurança no Hospital Militar, ordenança ao comandante militar e misteres afins. Calvário é pândego, namoradeiro tipo Don Juan, gostou de Canjala, teve derriço por Arcanja Patrícia, gosta agora de Mariana e vai ficar pelo beicinho por Liége. E regista a captura de guerrilheiros, o aparecimento de armas, os bailes, as informações que lhe chegam de vários pontos do teatro de operações, quando encontra patrícios ou malta conhecida. Dá-nos igualmente um quadro vivacíssimo da caserna, das idas ao Pilão e desmandos de vária ordem durante as rondas e até fascinas ao refeitório. Tem imensa correspondência com madrinhas de guerra, o dinheiro é pouco para aquelas praças a viver as delícias citadinas, ele e os camaradas vão vender regularmente sangue, sempre são mais umas centenas de escudos para a estroina.

O alferes Mário Tomé foi promovido, a malta da PM gosta imenso dele. A religiosidade é uma das marcas de água de Calvário, como ele escreve em 12 de Outubro de 1964: “Não faltei ao ato religioso que se celebrou na catedral”. Apesar de só o fazer de vez em quando, vive impressionado pelo Nazareno. Com frequência, somos inteirados da chegada de feridos ao Hospital Militar. As queixas sobre a alimentação levam-nos a percorrer a generalidade das tasquinhas de Bissau, ele, o Rei do Sono, o Cabo Banharia, o Entretela, o Arrentela, o Narciso, mas há muitos mais. Há aviões alvejados, dá para perceber que o armamento do PAIGC se aperfeiçoa mês após mês.

Há descrições tocantes: “Um militar dos comandos de Angola veio visitar um irmão que acabara de chegar da metrópole. Quando estava prestes a partir para Luanda adoeceu gravemente. A doença não perdoou e morreu aos olhos do irmão”. E também: “Um militar do B490, que sofria de úlcera, foi internado de urgência. Pouco lhe valeram as pressas. Acabou por sucumbir antes de ser operado. De olhos abertos, sem vida, ali ficou para sempre, naquela parcela do mundo vivo”. E assim se passou um ano de comissão. A PM tem artes e manhas para fugir à rotina. Logo no dia de S. Martinho vão até à caça e nesse dia assistem a um espetáculo de folclore no cinema UDIB. Vai aparecendo gente que esteve na operação Tridente, deixou sequelas, anda muita gente em consulta no hospital militar. Um camarada fala de coisas insólitas que se passaram na ilha do Como: “A um, uma bala partiu-lhe dois dentes; a outro, furou-lhe a orelha. Um outro levou com uma bala no pescoço e saiu por o outro lado sem cuidados de maior; a um fuzileiro levou-lhe a cabeça do dedo quando carregava no gatilho. A um colega meu a bala bateu-lhe no salto da bota e arrancou-lho. Era tudo assim…”.

Recusa mostrar o diário seja a quem for. E verseja, pois claro, já leva um romanceiro longo, assim: “A tua boca é um cravo/ Os dentes são as folhinhas/ As tuas falas me agradam/ Além de serem pouquinhas./ Sem ti são tristes os dias/ É penoso o meu viver/ Salta daí vem comigo/ Atenua o meu sofrer”. Se há muitos feridos que chegam ao hospital, também impressiona o seu registo em inúmeros desastres, envolvendo militares e civis. Deixa lavrado que consta que James Pinto Bull é dado como presidente da Guiné caso Portugal venha a dar independência à região. No final de Novembro é acionada uma mina que fez explodir uma viatura que transportava bidons de gasolina, ficaram carbonizados 10 homens. Calvário e os camaradas já não aguentam mais o arroz e o peixe do rancho, até já se insinua um levantamento de rancho. De vez em quando aparece pela Amura gente da sua região: “Chegaram do mato os vizinhos de Fragosela. Para os recompensar das novidades que me mandava quando me escreviam, ofereci-lhes um jantar na taberna do ligeiro, com o dinheiro do sangue. Quim Bispo, Tó Vicente, Zé Pêssego, Tó Medo e furriel Lourenço, dificilmente nos voltaríamos a juntar todos naquela mesa. Na opinião de todos nós, era de facto triste ver cair um companheiro; vê-lo cheirar a flor da vida no chão da terra”.

É impressionante como Calvário é imparável nos amores, nas diversões, na galhofa, em apontar tudo quanto ouve, os guerrilheiros que se entregam, os acidentes aparatosos, a audição da rádio Argel, a alegria nas patuscadas, as peripécias nas rondas, botes que se voltam e militares que se afundaram nos rios, temo-lo de faxina à cozinha, de serviço à porta de armas, de plantão, a gozar desabridamente nas suas folgas, o serviço no hospital militar é sempre acompanhado de relatos de dor. Chegam navios repletos de tropas, ele próprio anda aturdido com a extensão daquela guerra, tanto avião cheio de bombas. A comissão avança e também os processos disciplinares crescem: as orgias do Cabo do Rancho, os que irão presos porque prometeram casar com as meninas, é um nunca mais acabar de tragicomédia. Há cada vez mais álcool e farras com o passar dos meses. Cresce a pancadaria na caserna.

É uma arte tratar matéria comezinha com tanto enredo e cores vivas, a sinceridade de Calvário impõe-se nesta escrita do quotidiano, é um processo infatigável de se encontrar, era nesta escrita que ele aportava como numa enseada de serenidade, vagabundeia, olha as estrelas, o Geba, vibra com todos os seus engates o que lhe permite escrever coisas como: “Achávamos tudo tão inocente naquelas horas que chegávamos a procurar a nós próprios que raio andávamos por ali a fazer”. Calvário anda dividido, ama Mariana mas quer regressar descomprometido. Os encontros são descritos com sensualidade discreta: “Brincamos como duas crianças e acabámos trancados nos braços um do outro como dois amados legítimos. Despedimo-nos daquela noite com o respirar leve de quem amava e sofria sem saber do seu futuro”.

Estamos nos reboliços dos últimos dias, há ainda mais cenas de paixão, o embarque avizinha-se, Calvário descreve a euforia da partida. Faz o discurso do adeus a Bissau e escreve: “E, quando fores país, que a tua felicidade prospere e cresça, sem barreiras. Que as tuas necessidades cresçam no pleno esplendor da democracia. Desejo-te um destino nobre”. O navio “Niassa” chega à rocha de Conde de Óbidos, lá está a sua mãe para o abraçar. E assim conclui: “Hoje, nos momentos curtos e loucos em que escrevo, debruço-me sobre a folha branca e procuro-lhe fazer o mais belo poema da minha vida (refere-se à madrinha de guerra que virá a ser sua mulher) mas a grande ansiedade de começá-lo faz com que tudo se me afunde”.

Leonel Barreiros enviou-me, autorizando a divulgação no blogue, de elementos do seu diário. A carta que me enviou termina assim:

Rezo por aquele belo povo guineense para que procure a sorte de caminhar por caminhos novos e diferentes, mesmo dentro dos perigos e guerras forçadas, a que tanto tem estado sujeito. 
Abraços fraternos do seu amigo Calvário”.

Em 2009 ele conclui o 12.º ano de escolaridade. Tem 11 livros publicados. Este achado trouxe-me ainda mais entusiasmo para continuar a ler esta literatura escondida em edições de autor, estou em crer que há pedras preciosas, pepitas de ouro a juntar para o tesouro da literatura da guerra da Guiné.


____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10045: Notas de leitura (370): "Bissau, Entre o Amor e a Guerra", de Leonel C. Barreiros (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10060: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte X: Depois de Ingoré e Bigene, o regresso a casa



Guiné > Últimas fotos do álbum do João Martins > Humor de caserna: guia de marcha para Ziguinchor, Senegal...






Guiné > Últimas fotos do álbum do João Martins > Bajudas e bajudinhas...


Guiné > Últimas fotos do álbum do João Martins > Terras de Portugal, no regresso a casa: região de Sintra ? Praia Grande à direita ? Ou península de Setúbal, serra da Arrábida ? Dão-se alvíssaras para quem acertar na legenda...


Guiné > Últimas fotos do álbum do João Martins > A imagem, sempre reconfortante, de Lisboa e dos ícones, o Tejo e a sua ponte...


Guiné > Últimas fotos do álbum do João Martins > O Tejo e a baixa pombalina...


Guiné > Últimas fotos do álbum do João Martins > A chegada, a Lisboa, de avião, no regresso definitivo a casa... Sobre a última ele escreveu na sua página no Facebook: "Vista da Alameda D. Afonso Henriques e do Instituto Superior Técnico de que, finalmente, guardo boas recordações"... 

Fotos (e legendas): © João José Alves Martins (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Fotos editadas e parcialmente legendadas por L.G.].

ÍNDICE



1. Curso de Oficiais Milicianos
1.1. Mafra – Escola Prática de Infantaria
1.2. Vendas Novas – Escola Prática de Artilharia – Especialidade: PCT (Posto de Controlo de Tiro)
2. Figueira da Foz – RAP 3 - Instrução a recrutas do CICA 2
3. Viagem para a Guiné (10 de Dezembro de 1967)
4. Chegada à Bateria de Artilharia de Campanha nº 1 (BAC 1) e partida para Bissum
5. Bissum-Naga
6. Regresso a Bissau para gozar férias na Metrópole (Julho de 1968)
7. Piche
8. Bissau, BAC 1
9. Bedanda
10. Gadamael-Porto (Parte I e Parte II)
11. Guileje
12. Bigene e Ingoré e regresso a casa





A. Memórias da minha comissão na Província Ultramarina da Guiné - Parte X (*)

por João Martins (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69)




2 – Bigene e Ingoré e regresso a casa



Depois de ter gozado umas férias, mais que merecidas, em Agosto de 1969, regressei à Guiné, onde me esperava nova missão. Desta vez, calhou-me o Norte, Bigene e Ingoré, o que me permitiu um conhecimento geral de toda a Guiné.

A missão consistia em tiro orientado por avioneta Dornier e exigia elevada precisão, suponho que o objectivo consistia em neutralizar um depósito de armas e munições fazendo-o explodir com granadas de obus. Para o efeito, levei comigo um goniómetro, aparelho semelhante aos teodolitos, com elevada precisão em tirar azimutes e fazer pontaria.
Recordo que em Bigene o tiro de obus se limitou a dar apoio às nossas tropas “limpando “ o caminho à sua frente e facilitando a progressão, operação que durou poucos dias e depois transitámos para Ingoré, a escassos quilómetros do Senegal.

Em Ingoré havia um campo de futebol que me pareceu um lugar adequado para instalar os obuses, e, no outro extremo do campo, havia uma pequena capela com uma cruz no topo que era bem visível apesar da distância a que se encontrava ser apreciável. Foi essa cruz que me servíu para regular a direcção do tiro, pois em cada disparo os obuses dão um salto e saiem da direcção pretendida. Recordo que o tiro supervisionado da avioneta foi certeiro logo à primeira tentativa e que o paiol que era o objectivo explodiu com grande fragor.
Lembro-me que não éramos muito atacados: nada que se parecesse com Guilege, Bissum, ou Bedanda, mas uma vez estando eu, como era meu hábito, passeando pela tabanca e convivendo com a população que achei particularmente simpática, o IN começou uma flagelação.

Era um ataque cerrado, e enquanto a população corria para os abrigos, eu corri para as bocas de fogo com as granadas a caírem relativamente perto de mim. A situação foi de tal ordem que o coronel falando comigo me disse:
- Então você veio a correr para os obuses debaixo de fogo sujeito a ser atingido? - Ao que eu respondi:
- Meu coronel, se não morri até agora é porque não tenho que morrer!

Foi aqui, em Ingoré, que apanhei um tal ataque de paludismo que não via nada à minha frente. Presumo que devo ter chegado aos 40º de febre, o que me atirou para a cama de onde não sairia qualquer que fosse a intensidade do ataque e recordo que não me encontrava em nenhum abrigo.

Recordo também as bajudas, que eram particularmente simpáticas, e, pelo que me apercebi, bem merecíam um futuro mais risonho. Da Guiné, trago comigo a felicidade de ter conhecido gente de bom coração, talvez porque muito menos agarrada do que nós, ao “vil dinheiro” que tudo corrompe e sem o qual não sabemos viver.

Por último e a fechar este meu relatório de atividades no cenário de guerra da Guiné, reproduzo uma última ocorrência.

A certa altura sou chamado ao gabinete do comando da unidade, e, com ares muito circunspectos, vários alferes me informaram que tinham uma notícia muito preocupante para me dar, e entregaram-me uma guia de marcha de que anexo cópia

____________________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 16 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10038: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte IX: Os maus ares de Guileje, aos 18 meses de comissão

Guiné 63/74 - P10059: Parabéns a você (439): António José Pereira da Costa, Coronel de Artilharia Reformado (Guiné, 1968/69 e 1972/74)

Para aceder aos postes do nosso camarada A. J. Pereira da Costa clicar aqui
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10054: Parabéns a você (435): António Teixeira, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/73)

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10058: Efemérides (105): A nossa malta no 19º Encontro de Combatentes em Belém/Lisboa. 10 de Junho de 2012 (2) (Arménio Estorninho)


1. O nosso Camarada Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, IngoréAldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), enviou-nos hoje a seguinte mensagem:

Lagoa, 20 de Junho de 2012

Camaradas,

Embora este trabalho seja apresentado um pouco atrasado, mas é devido ao apoio logístico do fotografo não se ter concretizado atempadamente e no entanto mais vale tarde do que nunca. Para que não volte a acontecer, vou iniciar a fotografar mas com as novas tecnologias

Assim este ano, mais uma vez deu-se pela presença, “junto ao Portão de Armas do Forte do Bom Sucesso,” de grande número de Camaradas e Amigos da Tabanca Grande, no evento ocorrido na Praça do Monumento aos Combatentes do Ultramar.

Também como vem sendo habitual o Núcleo de Lagoa/Portimão da Liga dos Combatentes, organizou a deslocação, “ao XIX Encontro Nacional de Combatentes, em Lisboa”, de um grupo de Camaradas Associados e tendo sido efectuada em autocarro, concedido pelo Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Dr. José Inácio. 

Conforme programado para o dia 10 de Junho de 2012, Dia de Portugal, deu-se também o Encontro Nacional de Combatentes, em Lisboa, tendo como objectivo reunir o maior número de portugueses de qualquer idade, credo, raça ou ideologia política que, amantes da sua Pátria, pretendessem celebrar Portugal e prestar homenagem à memória de todos quantos, ao longo da nossa História, foram chamados a servir o seu País, tombaram no campo de Honra, em qualquer época e em qualquer local. 

As cerimónias decorreram em Lisboa; sobre o Dia de Portugal, junto ao Mosteiro dos Jerónimos e do Encontro Nacional dos Combatentes, junto ao Monumento dos Combatentes do Ultramar, em Belém. (Excertos extraídos do Programa das Cerimónias e adaptados sem alterar a sua essência). 

A ocasião deu azo ao reencontro, bem como de novas presenças e ao convívio entre Camaradas que prestaram serviço em locais diferentes do Ultramar. 

Pelo motivo da proximidade dos lugares e simultaneidade destes eventos, notou-se menos presenças nas cerimónias junto ao Monumento dos Combatentes do Ultramar.

Para que uma Nação possa viver, trabalhar, enriquecer e progredir, é imprescindível a existência do serviço militar e o qual exerce grandíssima influência na vida geral da Nação. 

Contudo, sempre tem havido Soldados desde que houve Nações. Primeiramente só era Soldado na ocasião do perigo, nesta altura largava-se o trabalho do campo ou da oficina e pegava-se em armas para defender o País e/ou os seus direitos. Depois começou a haver exército, constituído por homens que faziam da carreira militar um modo de vida, e assim ganhavam o seu jornal ou soldo. O nome de Soldado veio do então se chamar soldo “ou soldada,” como hoje se domina “pré” o dinheiro recebido em pagamento. 

(Excertos extraídos do Livro de Leituras do Ensino Secundário Oficial, com data 1907).


Foto 1 – Um grupo de lagoenses: Manuel Banha, Beng. 447, Brá – Bissau 1972, Vitor Nascimento, Bateria 692, Angola 1964/66, Arménio Estorninho, Joaquim da Conceição, Companhia Ind., Carmona – Angola, 1973/74, Alfredo Ramos, C.Caç. 556, Enxalé, Porto Gole, Guiné 1963/65.

Foto 2 – Pequena cavaqueira com duas Alferes, da esq. Um veterano procurando ex-camaradas, ao centro António Paiva e José Colaço. 

Foto 3 – Sessão de cumprimentos, da esq. Vigínio Briote, Miguel Pessoa, António Pimentel, Vasco da Gama, Fernando Chapouto, (Combatente não identificado) e Jorge Cabral. 

Foto 4 – Amena conversa, António Paiva, Mário Fitas, Esposa do Castro e Magalhães Ribeiro.

Foto 5 – António Duarte, Arménio Estorninho, Agostinho Fernandes, Henrique Jesus e Duarte Azevedo.

Foto 6 – Sessão de cumprimentos, Mário Fitas, José Colaço, Jorge Cabral e António Paiva.

Foto 7- Tribuna de Honra das cerimónias, junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar.

Foto 8 – Vista parcial do decorrer das Cerimónias.

Foto 9 - No final do desfile, Os Portas – Guião de Associações de Comandos, seguindo na frente o ex-Fur. Mil. Comando Fernando Venâncio “Agraciado com a Cruz de Guerra de 3ª Classe. “Informação dada em 2011, por Abreu dos Santos (Sénior)”

Foto 10 – Memorial aos Militares que Tombaram no Ultramar, com colocação de flores nos nomes de ex-Camaradas Amigos; da esq. António Duarte, Duarte Azevedo e António Brandão.

Foto 11 – Memorial dos Militares que Tombaram no Ultramar, tendo eu colocado uma flor no nome do Sol. Cond. Auto Albino Carneiro de Oliveira, da C.Caç. 2381, falecido por acidente “negligência do electricista” dentro de um abrigo em Empada-Guiné. Provavelmente também estava marcado para mim, mas por sorte a minha, cheguei ao lugar já depois do inditoso. 

E assim apresentei uma resenha sobre a homenagem à memória de todos os que tombaram no campo de Honra, agora celebrando a Pátria e honrando os seus Combatentes.

Com Fortes Abraços para Todos
Arménio Estorninho
C.Caç. 2381 “Os Maiorais de Empada” 


Fotos: © Arménio Estorninho (2012). Direitos reservados.    

___________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

16 DE JUNHO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10040: Efemérides (71): A nossa malta no 19º Encontro de Combatentes em Belém/Lisboa. 10 de Junho de 2012 (Magalhães Ribeiro)