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terça-feira, 17 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26928: A Bissau do Meu Tempo (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte III: A piscina do "Clube de Oficiais" do QG/CTIG, em Santa Luzia (Fotos de 11 a 17)


F11 – Na barra de elevações com a Suzi, filha do Coronel "Lavrador", chefe daquilo tudo. Abril68.   [ Seria coronel de intfantaria Saraiva, diretor do Clube Militar de Oficiais em 1 de julho de 1972 ? Vd.  comentário abaixo do editor LG]



F12 – Apanhar sol na relva da piscina, ao lado da minha amiga Suzy. Abril/68



F13 – Refrescando-me na piscina, que como se vê com pouca gente. Abril68




F14 – Deitado na prancha da piscina, com algumas pessoas. Abril68.



F15 - Preparando-me para um mergulho. Abr68.


F16 – Tomando um duche na piscina, e pelo aparato deve ser o bar de piscina, sem certezas,



F17 – A descançar na piscina fumando um cigarro. 02Abril/68


Guiné > Bissau > Santa Luzia > QG/CTIG > 1968 >  A piscina  do "Clube Militar 
de Oficiais"  

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Continuação da publicação de uma seleção de fotos do álbum do Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69).


1.1. Comentário do autor (enviado por email, 
17 jun 2025, 12:25) ao poste P26922 de 15junho2025 > O Biafra » O Clube de Oficiais de Santa Luzia (*)

(...) Entenda-se que não estamos a fazer uma tese de doutoramento, nem uma pesquisa para a História de Portugal. São noções que ainda vamos tendo do que se passou em 67 a 69, já passaram 58 anos, a memória já é curta e confusa. Depois existem comentários e outras descrições em diversas fontes, aqui eu falo do periodo de 21set67 a 04agosto69. Acredito que com o andar dos anos, muita coisa fosse melhorada ou até piorando, mas não é da minha lavra.

Como já disse o "Biafra"  era o então barracão de madeira e teto de chapas de zinco, onde eram colocados oficiais inferiores, que andavam de passagem. O nome de "Biafra" advém portanto das péssimas condições de alojamento, mas era um local de passagem, ninguém vivia lá em permanência, até porque passavam por lá não só os chamados "periquitos", como também a malta da pesada já com uma grande tarimba, e pirados da cabeça, ou apanhados pelo clima.

O nome advém, julgo eu, porque nesse ano de 1967, já se notavam movimentações de aviões e material para a guerra do Biafra, na Nigéria, essa sim sem nenhumas condições. A associação é fácil de compreender.

O então novo empreendimento situado ao cimo da estrada de Santa Luzia, com Porta de Armas, chamado por vários nomes: Clube de Santa Luzia, Clube de Oficiais do QG, Messe do QG, ou até Piscina do QG, era tudo do mesmo. Aqui já eram instalações de certo luxo relativo, não tem nada a ver com a guerra do Biafra.

A caserna dormitório, onde se alojavam, passe o termo, os oficiais milicianos de aviário, era então o chamado pejorativamente o "Biafra"

Não me consta a existência dessa praxe de atirarem com lapas para cima da chapa, simulando um ataque dos turras!

Se existia o termo de "Biafra" da Base Aérea eu desconheço, e ainda lá fui uma única vez, enquanto esperava transporte para Nova Lamego.

Esta é a minha versão do excelente Clube de Oficiais de Santa Luzia, com a sua piscina, messe, esplanadas, bares, salas de jogos e muito mais.

O local icónico que não dá para esquecer, pois aqui, ao invés do Café Bento (ou 5ª Rep), não se discutia a guerra, era coisa que passava ao lado. Sei que depois, anos depois já não era local seguro.

 "Biafra" de Sargentos e Biafra de Praças???

Francamente não tenho a mínima noção da sua existência, pois mal se viam sargentos neste espaço, e Praças muito menos. Será que ocupavam as instalações do Quartel do 600 que fazia a segurança do QG? Ficava por trás do Clube.

Conforme já li entretanto nos comentários, constato que na realidade nunca vi um "Biafra" para Sargentos e muito menos para Praças.

Isto leva-me a pensar melhor como se ia para lá parar.

Eu, pessoalmente, vinha a Bissau em serviço, com Guia de Marcha e apresentação no QG. Logo tinha estadia no Clube de Oficiais, cama, mesa e roupa lavada. Mas quando passei lá por duas vezes, a caminho de férias na metrópole, e depois no regresso, era tudo por minha conta, inclusive a estadia e alimentação.

É aí que recorro à estadia no "Grande Hotel", e comidas e bebidas nos vários pontos, nomeadamente, o "Solar dos 10".

Fala-se muito no "Pelicano", mas já vi as fotos e não me lembro de existir no meu tempo.

O pessoal, sargentos e praças, que estariam em serviço em Bissau, tinham as instalações dos Adidos, em Brá, e como já foi dito, eram muito más, faz-me lembrar o levantamento de rancho quando fiz um Oficial de Dia.

Os quartos eram abafados e quentes, verdadeiros viveiros de baratas, que me alteraram o sistema nervoso, e foi uma das causas que me levou ao internamento na Psiquiatria do HM 241, entre outros problemas, nomeadamente de colocação após ter terminado a minha função no CA do BCAÇ 1933. (...)

(Seleção, reedição e numeração das fotos, revisão / fixação de texto: LG)


1.2. Comentário do editor LG:

A propósito do coronel "Lavrador", pai da Susy das fotos 11 e 12, cito aquu um excerto do depoimento do Coronel Engº de Transmissões Jorge Golias, publicado em 
Memórias do Agrupamento de Transmissões e Histórias de Guerra na Guiné – 1972/74


(..:) Cheguei ao aeroporto de Bissalanca no dia 1 de Julho de 1972 (...)

(...) O Agrupamento de Transmissões em Bissau era um aquartelamento confortável, com todas as suas instalações feitas de raiz, bem adaptadas à função e ao clima. Bem perto ficava o Grupo de Artilharia nº 7 (GA-7) e fazia-se a pé o percurso até ao Clube Militar de Oficiais (CMO) em Santa Luzia, mas sempre se utilizava o Jeep Willis para evitar a exposição ao sol do meio-dia. (...)

(...) Seguiu-se a apresentação e, logo nesse mesmo dia, a passagem do testemunho pelo Cap. Cordeiro, que eu ia render.(...)

(...) Foi este ambiente, inesperadamente agradável, que vim encontrar no dia 1 de Julho de 1972. Foram meus companheiros de voo o Capitão comando Carlos Matos Gomes e o Cap miliciano José Manuel Barroso, à data jornalista do Jornal “República”.Ao fim da tarde desse dia, e enquanto me refrescava na esplanada do Clube, chegou-me aos ouvidos o som de várias explosões que não percebi se tinham origem na cidade ou mais longe. (...)

A segunda emoção da minha chegada à Guiné acontece quando, já de noite e tomando um digestivo na mesma esplanada, assisto a uma debandada geral dos presentes, apenas porque umas gotas de água refrescantes começavam a cair. (...)

(...) À noite recolhi a casa do Cap Cordeiro (por alcunha o Verde) que eu ia render. Seria nesta casa que me instalaria, aguardando a chegada da família, que só viria a estar comigo seis meses, por questões de segurança. Esta casa ficava na Rua Gen. Arnaldo Schulz, o anterior governador, e onde era vizinho do Coronel Saraiva, um camarada de Infantaria que não tinha casa no Continente e que sempre tinha vivido no Ultramar até uma idade já avançada e com duas filhas adultas.

Era ele o Director do Clube Militar de Oficiais. Curiosamente viria ainda a cruzar-me com ele nos Açores onde, já na Reserva, viria a acabar o seu serviço militar, refugiando-se a seguir e, finalmente, não no Continente, mas na ilha de Santa Maria! 

E ao escrever estas linhas ao correr da pena, recordo-o com saudade pela companhia que me fez na Guiné e nos Açores e porque é dele a frase para mim mais marcante que ouvi na altura do PREC (processo revolucionário em curso) e que foi dita aos oficiais que comandava numa unidade da RMN: os senhores mantenham-se sempre unidos, nem que seja contra mim! (...)


(Seleção, revisão / fixação de texto, itálicos e negritos: LG)

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26923: Humor de caserna (200): "Bomba" no Clube de Oficiais, em Santa Luzia, Bissau, em plena sessão de cinema ao ar livre (Abílio Magro, ex-fur mil, CSJD/QG/CTIG, 1973/74)


Guiné > Bissau > Outubro de 1973 > O António Graça de Abreu, em boa forma, no regresso de férias na Metrópole, na  piscina do Clube de Oficiais, Santa Luzia,  enquanto aguardava transporte para o CAOP1, em Cufar, no Sul].

Foto (e legenda): © António Graça de Abreu (2011). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné ] 



Guiné > Bissau > c- 1973/74 > Clube de Oficiais, QG/CTIG em Santa Luzia > "Eu, na messe e piscina em Santa Luzia; ao fundo vê-se o ecrã de cinema, que funcionava à noite... Os sargentos podiam frequentar a piscina aos sábados, o cinema era acessível a oficiais e sargentos.

Foto (e legenda): © Carlos Filipe Gonçalves (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. É uma história hilariante (*), esta, vivida e contada pelo  Abílio Magro, um dos seis manos Magro que a Pátria chamou ao seu serviço em Portugal e terras de alé-mar em Áfriica:

(i) foi fur mil, CSJD/QG/CTIG, 1973/74);

(ii) trocado por miúdos, a sigla quer dizer "Chefia do Serviço de Justiça e Disciplina do Quartel-General do Comando Territorial Independente da Guiné";

(iii) entrou para a Tabanca Grande em 2013;

(iv) é nosso colaborador e tem mais de seis dezenas e meia de referências no blogue;

(v) vive no Porto.


"Bomba" no Clube de Oficiais do QG/CTIG, em Santa Luzia, Bissau, em plena sessão de cinema ao ar livre

por Abílio Magro

Nas Instalações Militares de Santa Luzia existia um Clube de Oficiais, composto de acomodações, messe, piscina, esplanada bar e cinema ao ar livre. (Podia-se fumar enquanto se via uma "sessão"... "Porreiro, pá!").

A classe de Sargentos tinha acesso a esse Clube para assistir à exibição de filmes e, uma vez por semana (às quintas, julgo eu) [e/ou sábados, segundo o Carlos Filipe Gonçalves, que trabalhava na ChefInt] tinha também acesso à piscina.

O local era circundado por um muro formado com aqueles tijolos geométricos que permitem ver de um lado para o outro.

O cinema era montado no recinto da piscina e a tela era composta de um grande pano branco suportado por duas altas estacas. 

As cadeiras eram metálicas, daquelas de fechar, usadas normalmente nos parques de campismo e nas nossas praias.

Nestas circuntâncias, as sessões de cinema eram efetuadas à noite, como é óbvio,  e, como do outro lado do muro existiam tabancas, os respetivos habitantes viam o filme do outro lado da tela com as legendas do avesso, o que nunca impedia uma razoável assistência nativa.

Quando no filme se desenrolava uma qualquer cena de pancadaria entre um branco e um negro (Sidney Poitier, por ex.) e o negro dava um murro no branco, invariavelmente se ouvia uma grande salva de palmas vinda do outro lado do muro. Compreensível, diga-se de passagem.

Alguns soldados sentavam-se nos muros e também assistiam ao espectáculo.

Naquela altura pairavam no ar receios fundados de provável início de guerrilha urbana em Bissau. Ali, no cinema ao ar livre e com as luzes apagadas por via da exibição cinematográfica, e com as tabancas do outro lado do muro, uma bombita era "canja!"

O pessoal andava nervoso.

Naquela noite o cinema estava cheio, como de costume. Eu também lá estava a ver uma "sessãozita".

De repente vê-se um clarão... e a debandada foi geral! Com a confusão, algumas cadeiras "ensarilharam-se", provocando tropeções e quedas e os que caíam ao chão eram, espezinhados pelos outros, como foi o meu caso.

No chão, a ser espezinhado e com as cadeiras a atrapalhar, não conseguia fugir e entrei em pânico! Ouvia o som das "Kalashnikov"! Ia ser apanhado à mão, despedi-me da família!

Passadas longos minutos, lá me consegui erguer e, já pronto para saltar o muro, ouço risadas!

O pessoal da primeira fila tinha-se safado bem das cadeiras e, junto à tela, deliciava-se com o espectáculo. 

Extremamente nervoso e com o coração a bater a 200 r.p.m., mandei umas "bocas foleiras" aos de "tacha arreganhada" e dirigi-me ao chuveiro da piscina para lavar os arranhões (face, braços e pernas)... Tive a companhia do brig Galvão de Figueiredo que lá foi fazer o mesmo às mãos e que vociferou:

− Cambada de cretinos!

Entretanto:

− De quem são estas chaves?...

− Ó Magro, olha aqui o teu cartão!

Os meus "bens pessoais" lá foram aparecendo aos poucos.

Resumindo:
  • a "bomba" tinha sido uma caixa de fósforos que se incendiara a um soldado, enquanto acendia um cigarro em cima do muro e que se terá desequilibrado; 
  • na queda, terá arrastado consigo mais dois ou três camaradas;
  • os longos minutos no chão a ser espezinhado, ter-se-ão resumido a meia dúzia de segundos;
  • os tiros de Klashnikov seriam, afinal, as cadeiras metálicas a bater umas nas outras.
Mais um filme que ficou a meio e eu, novamente, fui direitinho ao quarto (no "Biafra" dos Sargentos).

Acreditem que foi o maior susto que apanhei em 18 meses de Guiné. Acreditem que, em pânico, a ser pisado, sem me poder levantar, nem ver o que se passava ao redor, nem que fosse feijão fradinho entrava no "uropígio"!

No dia seguinte, quando entro na CSJD,  vejo o cabo condutor-motorista do ten cor com a mão esquerda ligada.

− Então, que foi isso?

− Queimei-me ontem à noite no cinema.

Ali estava o autor do "crime"! (**)

(Revisão / fixação de texto / título: LG)



Guiné > Bissau > Santa Luzia > QG / CTIG >"Cartão que nos foi distribuído para podermos circular no QG depois da bomba. Reparem nas datas de emissão e validade (parece que contavam comigo até ao fim da comissão)"

De facto, o cartão era válido de 27 de abril de 1974 a 27 de março de 1975... A bomba no QG/CTIG terá sido em 22 de fevereiro de 1974... A burocracia militar levou dois meses a emitir o cartão de acesso ao QG/CTIG!...

Foto (e legenda): © Abílio Magro (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné- Bissau > Bissau > c. 1975 > Novo mapa, pós-colonial, da capital da nova república, já com as novas designações das ruas, avenidas e praças, que vieram substituir o roteiro português: Av 3 de Agosto, Av Pansau Na Isna, etc. Veja-se a localização do porto do Pijiguiti (para os barcos de pesca e de cabotagem), à esquerda do porto de Bissau (para os navios da marinha mercante).

Santa Luzia e o Cupelon (já fora da malha urbana da "Bissau Velha") ficavam paredes meias... 

Pensando bem, o QG/CTIG podia ser, teoricamente, um alvo fácil para uma ação terrorista do PAIGC... Até porque trabalhavam muitos civis naquelas instalações militares, onde se integrava o Clube de Oficiais e o "Biafra" (dormitório dos oficiais milicianos em trânsito por Bissau).

Foto: © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 23 de maio de 2025 >  Guiné 61/74 - P26835: Humor de caserna (199): O meu grande "bubu" azul!... Que pena não mo terem deixado levar, vestido, no avião da TAP, de regresso a casa !... (Jorge Cabral, 1943-2021)


(**) Excerto do poste de 7 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11164: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (6): Regresso a Bissau

domingo, 15 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26922: A Bissau do Meu Tempo (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte III: O "Biafra", "o barraco-dormitório dos oficiais milicianos de passagem", que fazia parte do "Clube de Oficiais" do QG/CTIG, em Santa Luzia (Fotos de 1 a 10)






Foto nº 6A e 6



Foto nº 1 e 1A


Foto nº 5


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 8


Foto nº 7


Foto nº  9


Foto nº 10


Guiné > Bissau > Santa Luzia > QG/CTIG > 1967 > "Biafra" e outras instalações do "Clube de Oficiais" (messe, piscina, esplanadas...) > 

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do Virgílio Teixeira, segunda, 9/06/2025, 23:44


Boa noite, Luis,

Antes de chegar o dia 10, o Dia de Portugal e dos antigos combatentes, estou a enviar aquele poste que foi o mais difícil e trabalhoso, dado o seu melindroso tema.

Ando há um mês com isto, e já iniciei o fim da estória em 1 de junho, agora já acho que é tempo de mais e quero trabalhar noutras coisas.

Espero que não vamos abrir aqui uma fenda, entre os privilegiados e os outros. Mas foi assim, e tudo o que está escrito, salvo erro de algumas datas ou omissão de outros comentários, fiz aquilo que sei, e para quem não teve esta oportunidade, fica aqui a saber como foi no meu tempo.

Atenção que eu não vivia lá, no "Biafra", só uma vez por mês no máximo, e aproveitava o que podia.

Penso que depois, nos anos seguintes e pelo que já vi por aí em novas fotos dos anos 70 e tal, de outros camaradas, as coisas mudaram muito para melhor, e abriram as portas à classe de sargentos, não havia justificação de ser um espaço elitista.

Os dormitórios não sei como se aguentavam, falo do "Biafra", como parte do "Clube de Oficiais"...


Abraço, Virgilio


2. A Bissau do Meu Tempo > "Biafra" (Fotos de 1 a 9)

Sabado, dia 01 Junho , 20h50


ARQUIVO SOBRE BISSAU > BIAFRA – CLUBE MILITAR DE OFICIAIS DO QG – PISCINAS – MESSE DE OFICIAIS


Nota de introdução:

O presente Poste sobre este tema pode ferir a suscetibilidade de alguns antigos combatentes, que não se reveem nestas fotos e descrição das mesmas.

É um tema que esteve sempre guardado, por respeito àqueles que não tiveram estas oportunidades, posso até dizer que pode ser um atentado a todos que tiveram uma guerra que não esta.
´
Uns excessivamente mais dura, mas há muitos que também tiveram melhor vida.



A minha Vida em Bissau:

O nome de "Biafra" foi das primeiras noções sobre a Guiné desde que aterrei em Bissau no dia 21 set 67 pelas 9h da manhã.

O "Biafra" era o nome dado ao barracão de madeira, com cobertura de zinco, onde pernoitavam naquele tempo os oficiais milicianos subalternos, alferes e tenentes.

Para os restantes oficiais existiam vivendas com quartos individuais de qualidade razoável.
A conotação vinha exatamente do apoio dado por Portugal à guerra do Biafra que se desenrolava na Nigéria (#), tal como depois a guerra do Catanga no Zaire (ex-Congo Belga).

Quando parei no Sal onde pernoitamos, encontravam-se dois aviões diferentes que logo soubemos que iam para o Biafra, nome que já conhecia antes, tal como o Catanga.

Este barracão era dotado de nada, apenas camas de ferro, colchão verde de espuma. E, para quem o conseguisse, podia ter uma rede mosquiteira, para nos salvar dos mosquitos   
indesejáveis. Beliches de dois andares, sem limpezas nenhumas. E, como já foi dito,  era um calor sofucante, que nem as portas abertas resolviam o ambiente brutal de cheiros.

Não era uma prisão porque não havia presos especificos e condenados, pois todos que tinham o azar de cair na Guiné,  já eram presos à nascença sem culpa formada, mas condenados a 2 anos de pena efetiva, não beneficiavam de pena suspensa, como a maioria dos fora-de-lei exceto aqueles que cairam no terreno, mortos ou feridos e evacuados.

Como comodidades havia um espaço de casas de banho, sem sanitas, à caçador, e julgo que 2 ou 3 chuveiros para o duche. Havia uns lavatórios, não havia sabão nem toalhas, nada.

Isto era o "Biafra" que conheci, e onde fui parar logo na primeira noite do dia 21set67.

Nos anos seguintes era a mesma coisa, com a agravante da degradação por ausência de obras.

Este barracão-dormitório, destinado àqueles que chegavam em rendição individual, ou que partiam e regressavam de férias à metrópole, ou regressados pós-consultas externas e
tratamentos no Hospital da Estrela, entre outras situações, eram por isso mal dotados em tudo.

Mas diga-se que na minha cabeça pairava outro cenário bem pior, por isso não fiquei com traumas, aceitei aquilo que tinha.

Este pessoal não ia para as instalações dos Adidos (o Depósito Geral de Adidos) em Brá,   
porque aí só ficavam as unidades completas, que chegavam ou partiam.

Era este o meu caso, que, embora não tivesse ido em rendição individual, parti antes do
embarque do Batalhão em avião militar C6, juntamente com o comandante, o oficial de 
operações, dois alferes milicianos de duas companhias operacionais e os dois respetivos sargentos do quadro.

Embora não venha a propósito do tema, quando lá voltei à Guiné em outubro de 1984, fui hospedar-me naquele empreendimento, que era o Hotel 24 de Setembro, com poucas modificações introduzidas. No local do barracão, o "Biafra",  foram construídas meia dúzia de pequenas vivendas iguais às que já existiam do tempo da tropa, para os oficiais superiores, mas tudo era muito pior do que antes.

Voltando e para falar do "Biafra", o barracão- dormitório, mal amanhado: fazia parte de um grande complexo, a que se dava o nome pomposo de "Clube de Oficiais" do QG – Quartel
General – ou de "Santa Luzia".

Faziam parte do Clube,  além do dormitório, um amplo espaço de ruas asfaltadas, com valas fundas para o escoamento de águas, jardins por todo o lado, bem tratados por pessoal profissional.

Completavam as instalações uma dúzia ou mais de pequenas vivendas individuais, para os oficiais superiores e famílias, muito bem tratadas e ajardinadas.

Além disso tinha então um amplo e grande espaço, a "Messe de Oficiais",  um edificio para as refeições, os bares, as salas de jogos e filmes, salas de conferências, tudo espaços de lazer
impecáveis, que toda a oficialada frequentava, servidos por pessoal civil, empregados locais, de luva branca, e outros mimos que, pela minha parte, não conhecia.

Cá fora um amplo espaço de  "Esplanadas e Bar", para as tardes quentes e as noites húmidas inundadas por carradas de mosquitos, que atormentavam o pessoal. 

A luz era fraca, e havia aquelas coisas que não me lembro do nome, que queimavam e faziam um fumo indesejável à mosquitada [o repelente antimosquito, o mais conhecido era o de marca "Lion Brand"].   

Muitos sofriam as agruras das picadelas, e os efeitos nas peles brancas. Por acaso, eu fui um sortudo, a minha pela escura era um tampão às picadelas, não me faziam nada de especial, embora as quantidades enormes chateavam pela sua presença.

Finalmente tinhamos a "Piscina privada do Clube", uma boa piscina diga-se em abono da verdade. Dotada de bar e instalações sanitárias completas.

À volta tudo ajardinado com relva sempre bem tratada, àrvores de frutas, sombras, alguns equipamentos de ginástica.

Tudo isto era o chamado complexo do Clube, que não era o "Biafra", este era apenas o barraco- dormitório dos oficiais milicianos de passagem.

Todo o complexo era gerido por um coronel de Administração Militar a quem davam o pomposo nome de "O Lavrador", por ele se dedicar muito a tudo que dizia respeito às plantas,
flores, relvas, árvores e frutas. Nunca falei com ele, apesar de o ver muitas vezes, era gordo e anafado.

Mas tinha,  a complementar tudo, a sua bela filha Suzy, uma rapariga nova que ornamentava as vistas da piscina, com quem tive uma relação próxima, sem nunca lhe ter tocado.

Poucas mais mulheres brancas se viam, mas algumas, poucas, eram as esposas de oficiais que ali viviam na sua comissão de serviço.

Vivia ali muita gente, ligados quer ao QG, às Companhias de Intervenção, alojadas no quartel, ali ao lado, a que se dava o nome de ‘O 600’, por ter sido construído por esta companhia ou batalhão.

O QG tinha todos os serviços, todas as REP , o Serviço de Justiça, a Chefia de Contabilidade, a Chefia da Intendência, a CHERET, com muita gente, empregados civis, muitos.

A entrada para o complexo, era feita pela estrada de Santa Luzia, que partia cá de baixo junto ao Pilão, e acabava na Porta de Armas. E para lá chegar havia uma viatura militar de hora a
hora, para baixo e para cima, para o transporte do pessoal apeado.

Eu pouco usufruí disso, pois em pouco tempo já tinha o meu próprio meio individual de 
transporte motorizado,  de duas rodas.

Além dos residentes habituais, eram enviados para lá os oficiais que tinham de ir a Bissau, e por Guia de Marcha iam lá parar. Depois da apresentação, acho que ficava lá o meu nome (bem como o dos outros) como comensal habitual, e eram mais as vezes que ficava fora do que lá dentro, por isso podia ser um bom filão de receitas colaterais.

Ali bem perto, a uns 100 metros tive a oportunidade de conhecer a primeira amiga cabo-verdiana, e ganhar uma relação de amizade, que acabou mal para ela, por razões de iintimidades com um militar do quadro.

Isto é aquilo que eu conheci, tal e qual com estes nomes, nos anos de 67, 68 e 69. É natural que muita coisa se tenha alterado, mas não no meu tempo. Isto era o que eu conhecia.

Foi o primeiro local que visitei quando cheguei, vindo diretamente do aeroporto , em jipe militar, e feita a minha apresentação às Autoridades Superiores do QG, onde cheguei, com a farda número um, incluindo o blusão, completamente encharcado dos cabelos aos pés.

Recebido num gabinete que mais parecia uma casa mortuária, era um congelador onde vivia aquela gente, e no pouco tempo que lá passei a tiritar de frio, ainda hoje me lembro como a
pior experiência climática da Guiné. Daí para diante comecei a ter problemas com os dentes, e nunca mais suportei em toda a minha vida, presente e futura, o chamado ar condicionado.

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Nota de VT/LG:

(#) A Guerra do Biafra (também conhecida como Guerra Civil da Nigéria, Guerra Civil Nigeriana, Guerra Nigéria-Biafra...) prolongou-se de 6 de julho de 1967 a 13 de janeiro de 1970; foi um conflito político causado pela tentativa de cessação ou separação das províncias ao Sudeste da Nigéria, como a autoproclamada República do Biafra. Traduziu-sde numa imensa tragédia humanitária com mais de 2 milhões de mortos, e muitos mais deslocados e refugiados, devido a guerra e á fome.
_______________


As Fotos:


F01 – O "Biafra" que encontrei quando ali cheguei. Tem uma cruz, era a porta onde eu fiquei. O acesso nem tinha um passeio ou coisa parecida, era um caminho, que já todos depois lhe chamavam de picada. Ao lado parece que tem um aparelho de ar condicionado, mas é uma
simples ilusão de óptica.

F02 – O "Biafra" com telhado em zinco, bom para aquecer mais, e uma vista da rede mosquiteira. Agora vendo melhor, pensei que era mais fina, mas parece-me agora um pano
grosso, tipo um lençol, que abafava a boca e protegia dos mosquitos.

F03 – A entrada para o "Clube de Oficiais" do QG, com muro separador e uma vista geral da
messe. Foi a primeira imagem que tive, no dia 21set67, ainda estava em melhoramentos. No dia seguinte, 22 de setembro,  segui de Dakota para Nova Lamego, para a minha tomada de posse do CA (Conselho de Adminiustração)  cessante do BCAV1915.

 A primeira missão que me deram à noite, ou foi por acaso, mas agora me lembro que podia ser uma praxe para os periquitos que chegavam. Fazer ou comandar um grupo de militares numa cerimónia de Velório a um militar num caixão de chumbo. Não fiquei com traumas por isso, mas preferia ir beber uns copos com a malta que estava de saida e conhecer alguns que nunca os vi. 

Passados 2 dias voltei para Bissau, para receber mais instruções do major, Chefe da Chefia de Contabilidade. Ele ficou tão atrapalhado com a minha total ignorância, pois soube que eu nunca tinha estado num CA, quer lá quer cá, nunca tive estágio nem a formação, que mais tarde ele foi lá a Nova Lamego pessoalmente para ver como eu me desenrascava. Tive sempre ali um amigo. Mas nem sei o nome dele.

F04 – A Piscina do Clube, quase nova. Parece-me que nem água tinha, visto agora, mas tem
uma boa sombra ao fundo.

F05 – O edificio da Messe, tudo muito novo, será que ainda não tinha aberto ao público? É uma que faço agora por ver as fotos com outros olhos.

F06 – Esta foto ainda em setembro 67, junto à piscina, ainda me parece tudo novo, e sem água ainda, porque estou vestido de roupa normal.

F07 – Já estamos em novembro de 67, e já se vê água e nadadores, já tinha os meus calções que nunca os larguei, mesmo depois de vir ainda usei uns anos, gostava do amarelo. Foi uma
sorte ter comprado no Rossio em Lisboa, na tarde de 19 de setembro, pois por causa de o avião não pegar, fiquei ali um dia, e lembrei-me que na Guiné devia haver também água!! Foi a visita de um camarada do Porto, da Escola e do Instituto Comercial e depois 
colega  na  EPAM no Lumiar. 

Era um bom rapaz, assim transmontano, entroncado à minha beira, os pais tinham uma Pensão e Casa de Pasto, na Rua do Loureiro, ao lado da Estação de São Bento. Hoje está tudo em obras para novos hotéis e alojamentos de turistas. Ali ao lado paravam as camionetas que nos traziam de Mafra e Lisboa, e depois nos levavam no domingo à noite. Por amizade chamavamos de  o "Artolas", pois foi um nome dado a 5 comparsas no curso, que ficavam na mesma tenda, onde eu me incluia também. Chama-se Policarpo e era alferes,  mas não sei o que fazia lá, qual era a sua função. Mas, filho de peixe sabe gerir uma messe ou intendència!

F08 – No espaço da piscina, já com piso relvado, não se vislumbra ainda a água. Ainda em set67 junto de um trabalhador civil, que tratava da limpesa e arranjos de jardins e plantas.

 F09 – Em 5nov67 já está a funcionar a piscina, e inicio eu a minhas maratonas de saltos em alturas, das pranchas para a água, era a minha habilidade. Mesmo sem saber  formalmente nadar como uma pesoa normal, atirava-me sempre em mergulhos para a parte mais funda, depois já sabia o caminho debaixo de água para dar umas braçadas e apanhar umas escadas para me segurar.

Acho que depois de ir para Nova Lamego com o Batalhão, pelo Rio Geba acima, em 040ut67,
este mês não devo ter estado em Bissau, e em novembro já estou lá, para a prestação de contas na Chefia de Contabilidade, e já passo umas vezes pela piscina, ou estou lá instalado, ou noutro sitios de Bissau, como seja o meu preferido, o Grande Hotel, que era um Oásis no meio aquilo tudo. Tinha dormidas em quartos pessoais e independentes e Casa de Banho privativa, pequeno almoço na sala, e almoços e jantares para quem quisesse. Um excelente espaço de bar com muito artigos que nunca tinha visto nem comprado. Assim comprava roupa especial, camisas manga curta, polos Fred Perry, que não existia em Portugal,  calças de ganga, cintos, canetas de marcas, isqueiros, charutos, cachimbos, tabacos para os mesmos, bebidas na sua aioria desconhecidas na metrópole, embora no aquartelamento , verdade seja dita, tinhamos a nossa dose mensal de distribuição militar de bebidas e tabacos importados.

O Grande Hotel" tinha uma esplanada uns degraus abaixo, com mesas à sombra   das  palmeiras, passeavam entre nós grandes sardões, que subiam e desciam das palmeiras, e pela primeira vez vi aterrar perto de mim, um grande jagudi que pegou numa peça morta e a levou para bem longe. Era um animal muito feio, mas muito útil para um ambiente sustentável,  como se diz agora para tudo.

 É a natureza a atuar como sempre fez e vai continuar, por isso não me atormentam os
terrores lançados pelos ambientalistas, pois a natureza tudo resolve.

Por coincidência hoje vi uma reportagem sobre os milhares de milhões de toneladas  plástico nos oceanos, e a ciência descobriu que existe uma fórmula para eliminar os plásticos, são absorvidos pelos fungos. Não sei se estou a dizer uma barbaridade mas foi o que percebi.

F10 – A segunda fase do salto, o lançamento pelo ar tipo pato bravo, a esperar-me uma barrigada na água, pois não tinha ainda a noção das posições, algum amigo encarregava-se de cá fora fazer as fotos, já com a máquina programada por mim, era só bater a chapa.

(Continua)

(Revisão / fixação de texto / negrit0s, título: LG)

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sexta-feira, 23 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26835: Humor de caserna (199): O meu grande "bubu" azul!... Que pena não mo terem deixado levar, vestido, no avião da TAP, de regresso a casa !... (Jorge Cabral, 1943-2021)






Foto nº 1


Foto nº 2



Foto nº 3


Legendas:

Fotos nºs 1 e 2 > Lisboa > Belém > 10 de junho de 2016 > O ex-alf mil art  Jorge Almeida Cabral, antigo cmdt do Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71) com uma jovem militar da Marinha (foto nº 1);  e com Maldu Jaló, natural de Catió, e que era do tempo do Mário Fitas, tendo feito  parte da milícia do João Bacar Jaló (foto nº 2, aqui mais a esposa) (Fotos do Mário Fitas, ex-fur mil inf OR / Ranger, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67).

Fotos (e legendas): © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 3 Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Jovem fula ou mandinga vestido o seu grand boubou, e protegendo-se da canícula por intermédio do seu inseparável chapéu automático (dois luxos que chegavam à tabancas do interior, graças ao comércio dos djilas do tchon francês e ao patacon da guerra).

Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-fur mil OE/ Ranger,  CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).
 
Foto (e legenda): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Capa do livro de Jorge Cabral, "Estórias Cabralianas", vol I. 
Lisboa: Ed José Almendra, 2020, 144 pp.  Tinha um II volume, praticamente pronto para ser publicado. A morte surpreendeu-o. A "estória" que reproduzimos não vem no livro... Foi publicada no blogue há 19 anos atrás. Merece ser conhecida dos nossos "periquitos".


1. Um dia o "alfero Cabral", o Jorge Cabral (Lisboa, 1943 - Cascais, 2021), sonhou que podia ser Cabral entre os Cabrais,  fula entre os fulas, mandinga entre os mandingas, guinéu entre os guinéus, homem entre os homens... e até louco entre os loucos!

Foi de tudo um pouco, o mais paisano dos militares que eu conheci na Guiné. Filho de militar e aluno  do Colégio Militar, disse-me em vida que "todos nós tinhamos direito a um pouco de loucura e de humanidade", o que implicava pôrmo-nos na pele do outro; e ele fazia isso como ninguém... 

Morreu cedo demais, aos 78 anos. Lembrá-lo aqui, no blogue que ele tanto amava, é um dever dos seus amigos e camaradas da Guiné.




Má chegada, pior partida... com o meu grande "bubu" azul e sempre com ameaça de porrada...

por  Jorge Cabral (1943-2021)



Com destino à Guerra, viajei no 
Alfredo da Silva, quase um cacilheiro, durante doze dias. Em primeira classe, sete oficiais e uma dona puta em pré-reforma habitavam um ambiente de opereta, jantando de gravata, com a estafada dama na mesa do comando. Depois havia a valsa… Cheirava a mofo, a decadência, ao fim do Império…

Cheguei à noite, sentindo logo a África, no calor, na cor, na humidade. A bordo subiram militares, e o putativo marido da senhora, cuja profissão nunca descobri. 

Um sargento gago carimbou-me a guia de marcha e assinalou:

− Pel Caç Nat 63. 

Bem lhe perguntei o significado da sigla e para onde ia, mas não sabia ou não quis dizer.

Desembarcado, apanhei uma boleia num camião militar carregado de batatas, que me deixou no "Biafra", depósito de alferes em trânsito por Bissau.

Talvez para impressionarem o periquito, todos se mostraram totalmente apanhados. Quanto ao meu destino foram animadores

 É,  pá, vais para um pelotão de nharros. É só embrulhar. Estás lixado.

Apresentado no Quartel-General, ordenaram-me a partida para o Xime. Tinha que tomar um barco no dia seguinte, às tantas horas.

 Regressado ao "Biafra", aconselharam-me a não ir:

 − Recusa-te. Os barcos são sempre atacados.
 
Confiante na experiência dos velhinhos, falhei o embarque tendo voltado ao QG. Aí um capitão barrigudo passou-me a um major nervoso, que me remeteu para um tenente-coronel que, quase apoplético, me descompôs:

 
− Começa mal! Está a pedir uma porrada. As ordens são para cumprir. Desapareça da minha vista!

Desapareci, e o certo é que fui de avião para Bafatá.

Muitos dias, muitos meses, mais de dois anos passaram e eu continuei no mato. (As cunhas funcionavam na perfeição. Chegados a Bissau, em rendição individual, podiam ser encaixados, sem grande escândalo, em qualquer Repartição.) 

Tinha porém de ser rendido, e a solução foi encontrada a nível de Batalhão, substituindo-me por um alferes da Companhia de Mansambo.

Entretanto o meu Pelotão foi para a ponte do rio Undunduma e a Missirá voltou o Pel Caç Nat 52, tendo eu permanecido mais três semanas e entrado ainda numa operação, na qual morreram dois soldados africanos que, indo a fumar o mesmo cigarro, accionaram uma mina antipessoal reforçada.

Finalmente, e após uns dias em Bambadinca, embarquei no Xime com destino a Bissau. Recusara à chegada, mas afinal regressava de barco… e ao "Biafra". Agora eu era o velhinho e o apanhado.

No dia da partida, eu que cismara aparecer em Lisboa vestido com o bubu azul, bordado a ouro, que comprara a um djila senegalês em Missirá, resolvera mandar encurtar a vestimenta a um costureiro de rua. Enquanto esperava, passou por mim um furriel conhecido, que me alertou: o voo havia sido antecipado. 

À pressa, pego no fato, meto-me num táxi e vou para Bissalanca (toda a minha bagagem, fotografias, o meu diário, os versos que escrevi, ficaram no "Biafra").

Chegado ao aeroporto enverguei o meu traje, causando o espanto e o riso dos passageiros, militares. Eis que sou cercado por um coronel e dois majores, os quais em coro me determinam:

– Não pode ir assim, é uma vergonha, lembre-se que é um oficial....E blá, blá, blá…

Tento contestar:

− Se um fula pode embarcar com um fato europeu, porque não posso eu ir vestido à fula?

Nada feito, se persistir não vou e levarei uma porrada. Obrigado a obedecer, lá entro no avião, no qual segue também o coronel, o que impediu de me fardar a bordo.

Teimoso,  porém, mal chego a Lisboa, envergo o grand boubou e é com ele vestido que abraço a família. 

Franze o sobrolho o meu pai que me diz que o Carnaval ainda não chegara, que tivesse juízo e não o fizesse passar vergonhas… Quanto à minha mãe, chorava, talvez de alegria, mas muito mais de tristeza. Coitado do filho…enlouquecera!

Num destes dias vou de novo vestir o meu grand boubou. Pode ser que tenha conquistado o direito a um pouco de loucura. Talvez


(Revisão / fixação de tecto, título: LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26677: Humor de caserna (198): Carlos Fabião, um oficial duplamente superior, grandalhão e brincalhão (António Novais, ex-fur mil trms, Cmd Agr 2951, Cmd Agr 2952 e Combis, Mansoa e Bissau, 1968/70)

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26829: Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) - Parte III: Desembarque e colocação em Bissau, na CEFINT, 1ª Rep QG/CTIG, em Santa Luzia




Guiné > Bissau > Avenida marginal > c. fevereiro / abril  de 1970

Foto (e legenda): © Jaime Machado (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






1. O Carlos Filipe Gonçalves, de alcunha Kalu Nhô Roque (como consta na sua página no facebook) nasceu em 1950, no Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde. 
É uma figura conhecida na sua terra: radialista, jornalista, historiógrafo musical, e escritor, vive na Praia, a capital.

É membro da nossa Tabanca Grande desde 14 de maio de 2019, sentando-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 790. Tem mais de 2 dezenas de referências no nosso blogue.

Estamos a reproduzir excertos das suas recordações, a publicar eventualmente em livro, do seu tempo de tropa, que cumpriu, nos serviços auxiliares, como fur mil amanuense, na Chefia dos Serviços de Intendência (CHEFINT) 1ª Rep, QG/CTIG, Santa Luzia, Bissau, 1973/74.

Na Metrópole, durante a recruta, a especialidade e a mobilização em rendição individual para o CTIG, passou por Tavira, Vendas Novas, Leiria e Lisboa.

A fonte que utilizamos é a página do Facebook da Tabanca Grande.


Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) (*)

Parte III:  Chegada  e colocação em Bissau


(i) O fim da viagem

Os dias foram passando naquela rotina de banhos de sol, comer, dormir, ver a jogatina à batota, ver filmes à noite, etc. Agora, sentia-se cada vez mais calor, um sol abrasador fustigava a pele branquinha dos meus camaradas… As faces começaram a ficar vermelhas, o suor escorria, andava-se despido nos camarotes, os blusões esquecidos nas maletas, andámos agora em camisa de manga curta, alguns de calções e meias altas. 

O Gabarolas deixou de me atrapalhar, parece que me esqueceu, depois daquela descompostura que lhe dei logo no início da viagem. Na sexta-feira de manhã cedo, avistamos terra, o mar azul deu lugar a uma água castanha, cheia de troncos e ramos de árvores, toda a espécie de detritos vinha na corrente: sapatos e roupa velha, garrafas de plástico e os objectos mais incríveis! 

Não há dúvida, chegamos à Guiné! Estamos a subir o rio Geba. Lá pelas 10 da manhã entramos no porto de Bissau, logo avistamos o casario e carros a passar na marginal, o pessoal que tinha rádio sintonizou uma emissão e começamos a ouvir música, locutores a falar… ouvia-se música Pop em moda… de repente, passa música de Cabo Verde! Uma surpresa! Ouço o cantor Bana… depois o conjunto Voz de Cabo Verde… o som inconfundível do clarinete, ou o sax do Luís Morais! O navio Uíge fundeou ao largo e recebemos a informação que o barco só atracaria no dia seguinte.


(ii) Desembarque e colocação em Bissau, na CEFINT, 1ª Rep QG/CTIG, em Santa Luzia


Sábado de manhã, 3 de março de 1973 teve início o desembarque. Logo depois de pisar o cais, ouvi alguém a chamar: “Quem é o Carlos Filipe Gonçalves!” Fiquei surpreendido, mas, respondi logo: “Sou eu!” 

Era, um furriel veterano, abraçou-me e disse: “Bem-vindo meu periquito! Há meses que estou à tua espera!" 

O recém-chegado à Bissau era logo identificado, pela farda nova de um verde impecável, cara avermelhada de tanto calor, pele de um branco alvo, desajeitados... Por isso, o “maçarico” na metrópole, era aqui chamado «periquito», porque essa ave típica da Guiné, tem uma penugem verde intensa e um andar desajeitado. Os militares mais antigos tinham a farda desbotada e a tez mais escura. Claro, que quanto a mim, só se evidenciava a farda novinha de um verde intenso, afinal eu era «chocolate» e estava orgulhoso disso. 

Depois de uma breve conversa que não fazia sentido para mim, pois, eram problemas que ele enfrentava e ainda por cima explicados numa linguagem de siglas e na gíria da tropa local, aquele furriel veterano volta-se para mim e diz: “Como vais de Berliet, encontramo-nos no QG ! Estarei lá à tua espera!”

Fomos transportados nos camiões para o Quartel-General em Santa Luzia, onde logo encontro o tal furriel veterano em final de comissão e que estava todo feliz, porque finalmente ia regressar à Metrópole depois de seis meses a mais, desde o final da comissão de dois anos! Ele começou logo a me explicar o funcionamento da repartição do QG onde trabalhava, porque ele tinha planos para partir o mais tardar na próxima quarta-feira. Claro, eu ouvia, mas não percebia nada… 

Fiquei então alojado num pré-fabricado coberto de telhas de zinco, sem quaisquer condições a que os veteranos chamavam: "Biafra"! Havia apenas beliches, numa pequena camarata sem nada, nem armários, nem cadeiras. Nada! Com o aproximar do meio-dia, havia um Sol abrasador, o calor era intenso, o "Biafra" ficava insuportável! A porta estava sempre aberta, não havia chaves…

Fomos almoçar na messe de sargentos ali em frente, o furriel veterano, agora meu guia, não me largava um minuto, dizia empolgado: “Vamos tomar uma cerveja! … Vamos fazer isso e aquilo etc.” Naquela tarde veio ter comigo e disse: “Vamos a Bissau, para eu te mostrar a cidade!” E logo explicou: “Há um serviço de autocarros da tropa, de hora a hora!”

 E lá fomos, ele sempre a mostrar, a descrever, enfim, foi um acolhimento de primeira. Constatei então que Bissau era uma cidade muito maior que a minha Mindelo, na Ilha de S. Vicente, com muitas árvores, ruas direitas e longas, casario baixo do tipo vivendas, com alpendres e pátios envolventes,  cheios de plantas. 

Apesar de ser sábado à tarde, havia muito movimento nas esplanadas e cafés, todos repletos de militares «brancos». Há muitos indígenas vestidos tradicionalmente, são os «djilas», vendedores dos produtos mais esquisitos e quinquilharia: pulseiras, colares, objectos em pele de crocodilo ou de cobra, artesanato, etc. etc.; há ainda as «badjudas» e rapazinhos, que vendem mancarra (amendoim) e caju, ou então, veludo e alfarroba (frutos secos tipo amêndoas felpudas), uma novidade para os meus colegas, mas que eu já conhecia desde a minha infância em Cabo Verde. 

Estes vendedores são insistentes, mesmo depois de um não, continuam a propor o produto, fazem novas ofertas de preço, elogiam os produtos… Vejo-os a discutir com outras pessoas: “São tantos pesos… posso baixar! Toma por tantos pesos!” 

O furriel, meu guia, diz-me: “Não ligues pá! Tens de acostumar e não levar esses gajos a sério!” 

Eu estava cansado da viagem, por isso regressei cedo ao quartel em Santa Luzia. Mais um banho e fui dormir.

Naquela noite aconteceu a habitual brincadeira para amedrontar os “periquitos”: depois das 22 horas, os veteranos, lançaram um «ataque» ao "Biafra"! Atiravam garrafas vazias de cerveja sobre o telhado de zinco do alojamento onde estavam os recém-chegados. Era um barulho medonho a que se juntaram gritos e um alarido. O pessoal recém-chegado pensou logo que se tratava de um ataque dos «terroristas» … logo saíram a correr, outros deitavam-se no chão a rastejar… Os veteranos às gargalhadas e a gozar com o espectáculo! Essa era uma cena que se repetia, sempre que chegava um novo grupo de "periquitos"!

Na segunda-feira de manhã apresentamo-nos na 1.ª Repartição do QG onde trabalhava o tal furriel veterano que estava empolgado com a minha chegada. Mandaram-nos subir para o auditório no primeiro andar, onde decorriam os «briefings» do Estado-Maior. Todos sentados, em silêncio ouvimos as boas-vindas por um oficial de alta patente. O meu amigo furriel veterano, veio ter comigo e tranquilizou-me: “Vais ficar em Bissau de certeza! Mas, olha, descobri que afinal o meu periquito não és tu!” 

Pensei logo: outra vez,  não me querem numa repartição sensível! Os corações batiam de ansiedade, pois avizinhava-se o momento das colocações. Sabíamos que embora nos serviços auxiliares, podíamos ser colocados numa CCS algures no mato onde havia «porrada»,  como se dizia na gíria militar, quando se referia aos ataques e emboscadas.

Depois de uma preleção sobre o dever para com a Pátria, o sentido de disciplina, a prontidão para o combate, etc. etc. , teve início a chamada dos nomes e indicação das colocações. Alto e bom som, o oficial chamou: “Fulano de tal! Colocado em Pirada!” 

Ouviu-se logo um resmungo baixinho, eu diria, um choro disfarçado…. Pudera! Pirada era uma localidade na fronteira… Desde sábado que os «periquitos» ouviam relatos dos veteranos sobre os quartéis mais perigosos no mato. Pirada, já se sabia, era constantemente flagelada pelos «turras». 

E continuou o oficial: “Passe pela secretaria, para tomar a guia de marcha e saber do seu transporte para a unidade!” 

E, assim, prosseguiu a chamada de nomes e indicação das colocações. Logo depois da indicação de cada localidade ou unidade de colocação, ouvia-se/sentia-se, ou um resmungar de aflição, ou… expressões de alegria! 

Quando, chegou a minha vez, o oficial indicou a minha colocação: “Chefia da Intendência!” 

Fiquei ali parado sem saber o que fazer, pois não sabia onde era, nem o que era! O amigo furriel veterano que estava ao meu lado disse-me logo: “Vai-te embora, pá, antes que mudem de ideias! É mesmo aqui ao lado!” 

Saí a correr, cheguei à «parada», desorientado perguntei onde ficava a tal repartição, alguém respondeu: “CHEFINT? Passe pela porta de armas, vire à esquerda, siga em frente pela rua, à direita encontra uma outra porta de armas, entre. No rés-do-chão é o BINT , a CHEFINT é no primeiro andar!”

E assim vou tendo contacto com esta linguagem de siglas, vejo que o QG é um enorme complexo com vários quartéis (todos cercados com muros de protecção e porta de armas); do lado de fora, moradias para oficiais superiores, vários alojamentos para oficiais e sargentos, interligados por ruas alcatroadas… 

Havia ainda as messes de oficiais e sargentos, uma piscina, um cinema ao ar livre e diversos serviços (como a Chefia de Contabilidade, Tribunal Militar etc.) a funcionar em instalações que antes teriam sido alojamentos; todo este conjunto, cercado / circundado, por uma enorme e longa cortina de arame farpado! Só há duas portas de entrada/saída para o exterior, todas também com casa da guarda e sentinelas! 

Mais tarde, ouvia de vez em quando, umas explosões… Ouço dizer que para lá do arame farpado havia uma área minada… As explosões, diziam-me, eram devidas a bovinos e outros animais que, deambulando na pastagem, entravam na área minada e… BUM! Mas, nunca lá fui, nem nunca vi de perto esse local. 

Verdade ou não, o que me diziam era evidente, porque havia uma guerra, ouvia-se a guerra, sobretudo à noite! Bissau, era cercada de campos de minas e tinha dois ou três «checkpoints” que controlavam as entradas e saídas!

Ao me apresentar na Chefia de Intendência (CHEFINT), foi uma alegria para o chefe, um tenente-coronel, homem já de meia-idade. Mal entrei no gabinete, bastante frio, devido ao ar condicionado, ele riu-se e disse-me logo: “Seja bem-vindo, oh nosso furriel! Estamos a lutar com falta de pessoal! Venha, vou-lhe mostrar a sua secção e o que tem a fazer!” 

Saímos do gabinete fresquinho, passamos pelo corredor, um verdeiro forno, entramos numa sala mesmo ao lado, todo mundo levantou-se e ele diz: “Oh nosso alferes, aqui tem um reforço! Desta vez temos de acabar com esse atraso na resolução dos autos. Têm três meses para resolver todos os pendentes!” E retirou-se. 

O alferes apresenta-me então o pessoal da “Secção Autos de Víveres e Artigos de Cantina”,  aponta e comenta: “Militares, aqui, agora somos três, eu, aqui o nosso furriel e você. Temos três civis!” E aponta: “O Demba, o Issa e o Claudino!” 

Cumprimento os civis; logo noto, que o furriel veterano, é dos serviços auxiliares, pois tem uns óculos de míope com lentes muito mais grossas que as minhas! Ele mostra-me, todo ufano, um gráfico de barras com os 24 meses da comissão! Vejo que, ele assinala cada mês que passa, preenchendo uma coluna com lápis azul! Constato logo, que para ele, já cantam, um ano e um mês de comissão. Vendo a minha curiosidade ele sugere: “Posso arranjar-te um gráfico destes, toda malta tem um!” Respondi logo: Contar os meses? Não tenho pachorra para isso! Comigo pensei: isso é uma tortura, prefiro deixar o tempo correr e quando a comissão chegar ao fim… pronto, acabou-se! 

Embora espantado com a minha reacção, o agora meu colega de serviço não comenta, volta-se para mim e diz: “Estás a ver aquela estante aí cheia de pastas de arquivo? Pois é, naquele monte de papéis, estão mais de mil autos que temos de resolver! Ouviste o que disse o chefe? Temos três meses para acabar com isso tudo! Portanto, ao trabalho!”

(Revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor:

(*) ÚLtimo poste da série > 20 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26819: Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) - Parte II: De Lisboa a Bissau, no T/T Uíge