1. Mensagem do nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 23 de Janeiro de 2016:
HOMENAGEM PÓSTUMA AO MEU CAMARADA SEZINANDO
Amigos e Camaradas,
Ao longo da minha vida fui conhecendo pessoas que, por circunstâncias várias, me foram tocando profundamente. O Fur Mil (Operações Especiais) Domingues, Sezinando para os amigos, foi uma dessas pessoas. A mobilização para a Guiné, integrado na CCaç 3328, levou-o a Angra do Heroísmo e ao BII 17. Foi ali que o conheci, em 1971.
De semblante algo austero, olhar penetrante, calmo e simpático no seu falar, o Sezinando transpirava confiança e impunha respeito à sua volta. O seu forte carácter levava à construção de amizades sólidas. Entre muitos, eu fui um dos felizardos que teve a oportunidade de apreciar a sua palavra amiga, o gesto simples dócil de um coração sincero.
A bordo do "Uíge", Janeiro de 1973 - A contar da esquerda: Fur Mil Coelho, Fur Mil Duarte, o Fur Mil Op Esp Sezinando Domingues (que faleceu no dia 17 deste mês de Janeiro), todos da CCaç 3328/BII 17. A seguir, da CCaç 3327/BII 17: o Fur Mil André Lourenço Fernandes e eu, José Câmara. Na mesa um pouco mais atrás, o Fur Mil Vagomestre Alberto Ferreira, da CCaç 3328/BII 17.(1)
Na Guiné, a CCaç 3328/BII17, uma Companhia de Intervenção às ordens do BCaç 2928, fez a sua comissão em Bula. O Sezinando comandou durante muitos meses o 1.° GrComb, tendo sido louvado, em Setembro de 1972, pelo Comandante do Batalhão. Após a comissão, aquela Companhia, bem assim as CCaç irmãs, 3326 e 3327, chegaram a Lisboa ao entardecer do dia 12 de Janeiro de 1973, desembarcando na manhã do dia seguinte.
Consequentemente, cada um de nós seguiu o seu próprio caminho e só em 2014 voltei a encontrar-me com o Sezinando, fruto do convívio que aquelas Companhias tiveram na Quinta do Paúl, em Ortigosa. Como era seu timbre, participou activamente nos preparativos do encontro, cabendo-lhe a procura e indicação dos locais mais apropriados para a realização do mesmo. E que bem o fez.
Convívio 2014, Ortigosa – À esquerda e à direita os Fur Mil João Cruz e José Câmara, ambos da CCaç 3327. Ao centro, o Fur Mil Sezinando Domingues (da CCaç 3328), com a esposa.
Foi ao findar do seu trabalho no terreno que descobriu ter sido acometido de doença incurável. Nunca se queixou. Extremamente debilitado pelos tratamentos conseguiu arranjar forças na fraqueza que o consumia para ir abraçar os amigos no convívio que ele, com tanto carinho, ajudara a preparar. Foi o último grande gesto de um homem de eleição.
Convívio 2014, Ortigosa – O Fur Mil Vagomestre Alberto Ferreira (CCaç 3328), num improviso comovido, cumprimenta os presentes e em especial o camarada de armas Sezinando. que está com a mão na fronte.
O Sezinando Ferreira Domingues tinha residência em Casal dos Claros, Amor, Leiria. No passado dia 17 deste mês de Janeiro saiu em patrulha sem regresso. Na sua mochila de campanha levou o respeito de todos nós que o conhecemos e fomos seus amigos. Com a família e connosco deixou um belo caderno de recordações escrito com a caneta do amor e da amizade.
Até qualquer dia amigo.
José Câmara
____________
Notas do editor
1 - Em tempo: Legenda da foto rectificada, em 25JAN16, a pedido do autor do texto.
Último poste da série de 30 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15553: In Memoriam (243): António [Gabriel Rodrigues] Vaz (1936-2015), ex-cap mil art, cmdt CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69); nosso saudoso grã-tabanqueiro nº 544, desde 2012
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 23 de janeiro de 2016
Guiné 63/74 - P15658: Manuscrito(s) (Luís Graça) (74): Aquele poema que nunca disseste na parada do quartel de Tavira...
Aquele poema que nunca disseste na parada do quartel de Tavira
por Luís Graça
Que pena não
teres tido a ideia
(ou a coragem ?),
(ou a coragem ?),
naquela manhã
de fim de outono de 68,
em plena
parada do quartel de Tavira,
no regresso
da tua companhia
de armas
pesadas de infantaria,
encharcado e
exausto,
depois do
crosse até às salinas…
que pena não teres tido a ideia
de dizer em
voz alta,
pausadamente,
mecanicamente,
com a voz
monocórdia de robô,
ampliada pelo altifalante da parada do quartel,
aquele poema
do Alberto Caeiro
(lembras-te?):
“Quem me dera que a minha vida fosse…
“Quem me dera que a minha vida fosse…
um canhão
sem recuo,
montado num
jipe,
eu não tinha
que ter esperanças,
tinha só que
ter rodas, e chapa,
e um tubo de
aço de canhão sem recuo,
e granadas
para o municiar.
Nem sequer precisaria
de peças sobresselentes,
porque a minha esperança média de vida,
à nascença,
seria sempre
muito curta:
na melhor
das hipóteses,
não chegaria
sequer à próxima batalha.
Finda a
guerra,
seria apenas
um monte de sucata,
onde
cresceriam ervas daninhas,
e ninguém
mais se importaria comigo
e, muito menos
ainda, choraria a minha morte.
Dos
sobreviventes,
haveria por
certo alguém,
um burocrata da tropa,
que se daria à maçada
de tomar
nota da matrícula do jipe,
e mandar
abater-me ao efetivo,
depois de lavrado o competente auto de corpo de delito,
como manda o regulamento”…
como manda o regulamento”…
Não teve
sorte, o teu poeta, coitado,
morreria cedo,
ao que parece,
aos vinte e
poucos anos,
que é a
idade mais bonita para se viver e morrer.
Teria feito a tropa ?
Teria feito
a guerra ?
Não se sabe,
mas só posso
imaginá-lo, morto,
na batalha de La Lys,
esventrado, os olhos vidrados,
o caderno de
notas no bolso junto ao
coração,
varado por
um estilhaço de morteiro,
o sangue
ainda quente,
ao lado
daquele menino de sua mãe,
um tal
Fernando Pessoa,
de que só se
conhece um retrato pungente.
Alfragide, 26 set /2024, v4
_________________
Nota do editor:
Último poste da série > 1 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15563: Manuscrito(s) (Luís Graça) (73): Vamos cantar as janeiras: "O Novo Ano é sempre assim, /Traz sonhos e inquietações, / Em português ou em mandarim, / Aguardaremos as instruções."
Guiné 63/74 - P15657: Parabéns a você (1023): Augusto Silva Santos, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3306 (Guiné, 1971/73); Francisco Godinho, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2753 (Guiné, 1970/72) e José Albino, ex-Fur Mil Art do Pel Mort 2117 e BAC 1 (Guiné, 1969/71)
Nota do editor
Último poste da série de 22 de Janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15650: Parabéns a você (1022): Rogério Freire, ex-Alf Mil Art MA da CART 1525 (Guiné, 1966/67) e Virgínio Briote. ex-Alf Mil Comando, CMDT do Grupo Os Diabólicos (Guiné, 1965/67)
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
Guiné 63/74 - P15656: Memórias de Gabú (José Saúde) (60): O meu quartel (José Saúde)
1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.
As minhas memórias de Gabu
O meu quartel
Obrigado camarada Amílcar Ramos por este pequeno/grande miminho que trouxeste a público: uma foto do quartel novo de Gabu. Uma imagem que me fez viajar no tempo e recordar o meu, aliás nosso, quartel. Tu, camarada de armas, também por lá passaste. Eras furriel miliciano BAA, estavas alojado em instalações avançadas junto à pista de aviação, mas, lá ias à nossa messe de sargentos.
E tantos foram os almoços e jantares em que fomos companheiros de mesa. A minha memória teima em refazer imagens desses velhos tempos. Recordar espaços comuns, camaradas que o tempo ousou literalmente afastar e um sem número de aventuras acumuladas em pleno palco da guerrilha.
“Uma lágrima ao canto do olho” vagueia pelo meu rosto já crivado de saudosistas recordações. Olho atentamente a foto. Curvo-me perante as lembranças. E são de facto muitas que se concentram nesta já sexagenária e débil mente. Todavia, aquele horizonte leva-me a um cheiro a África. Apetece-me viajar nas ondulantes asas do vento, imaginar-me a envergar o meu camuflado, “viajar” num Unimog, ou a “butes” e desbravar aquele inigualável horizonte.
Na pista alcatroada aterravam e descolavam voo aviões de maior porte (Noratlas, por exemplo) que obrigava o pessoal a uma proteção mais refinada, ou seja, uma proteção feita no interior do mato. Lembro-me da infinidade de horas que por lá passei.
A sensação de alívio sentida pelo grupo quando o avião descolava. Ou, ouvir o barulho dos motores numa aterragem. Ou, a raiva da malta quando a demora na missão se protelava no tempo. A nossa incumbência passava indiscutivelmente pela segurança. Neste contexto, a previsão em aterrar e descolar aconselhava-se rápida. Porém, nem sempre tal acontecia.
A dimensão que a foto monopoliza, leva-me a outros sensações sentidas no tempo áureo da guerrilha. Aquela estrada para Bafatá!... Ui, tantas colunas que fizemos a terras do Geba. Tantas histórias que farão eternamente parte integrante dos nossos baús.
Depois a grandeza e profundidade daquele mato serrado. Os quilómetros palmilhados pelo interior daquele matagal. O contacto com as tabancas que habitualmente cruzávamos. O dialogar com os homens e as mulheres grandes. Ouvir a criançada quando a nossa chegada à tabanca ocorria. A brincadeira dos macacos, ou um inadvertido toque numa árvore que entretanto acolhia um enxame de abelhas e o subsequente delírio da rapaziada. Uma galinha de mato que levantava voo, ou uma cabra de mato apetecível a um tiro que entretanto não se dava, por motivos óbvio. Enfim, uma panóplia de recordações que o guerrilheiro obrigado jamais esquecerá. Momentos inolvidáveis, sublinho eu.
Por outro lado, havia os tais momentos sempre de incerteza. Incerteza no trilho; incerteza na picada; incerteza no que estava para lá da densidade do mato; incerteza no momento seguinte; incerteza numa mina que traiçoeiramente tinha sido colocada pelo IN com a finalidade de causar ronco num jovem em plena idade de afirmação como gente e a incerteza numa emboscada.
Reparo, também, as tabancas à beira da estrada. Revejo o meu quartel. Os aposentos dos oficiais, dos sargentos e do restante pessoal. A porta de armas. O refeitório das praças. As oficinas. A parada. Etc, etc, e etc…
Repito, camarada Amílcar: OBRIGADO!
Um abraço, camaradas
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
5 DE JANEIRO DE 2016 > Guiné 63/74 - P15580: Memórias de Gabú (José Saúde) (59): Memórias que o tempo jamais ousará apagar
Guiné 63/74 - P15655: Álbum fotográfico de António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494 e CART 3567 (1): BAA 3434, dispositivos para iluminação do campo de batalha e Cumeré
1. Mensagem do nosso camarada António
José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª na CART
1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá,
1972/74), com data de 10 de Janeiro de 2016, com as primeiras fotos para o seu Álbum fotográfico:
Olá Camaradas
É minha intenção enviar todas as minhas fotos da Guiné. Vou enviá-las por assuntos:
Segue o primeiro - a Btr AA 3434 que defendia heroicamente (digo eu) a Base Aérea 12 contra ataques aéreos e terrestres como aconteceu por duas vezes que me recorde.
Depois do guião e do emblema de peito um portefólio feito numa noite de exercício de defesa Anti-Aérea.
O Malogrado TCor Brito voava num T-6 e largou um ou dois flares - dispositivos para iluminação do campo de batalha) que ficavam a pairar à vertical da base e os artilheiros, PUMBA! Fogo neles.
E até acertaram... Era incipiente, mas era o que se podia arranjar. A defesa AA da Base tinha muitas limitações, como já se disse, mas se houvesse tempo era possível pôr tiros no ar que é o que faziam todas as AA da II GM que utilizavam os materiais de que dispúnhamos. O resto era rezar e esperar que Deus fosse português (e do Benfica de preferência...). Caso contrário poderia ser uma tragédia.
Seguem duas fotos do Cumeré, em MAI71. Ainda não estava completamente acabado, mas já fazia serviço e "embrulhou" na noite de 9 para 10UN71, quando foram atacados todos os quartéis à volta de Bissau e ao mesmo tempo 6 foguetões de 122 mm caíam à beira do "Pelicano" um restaurante bem agradável de que todos nos lembramos.
Voltarei à antena com mais fotos.
Um Ab.
António J. P. Costa
____________
Olá Camaradas
É minha intenção enviar todas as minhas fotos da Guiné. Vou enviá-las por assuntos:
Segue o primeiro - a Btr AA 3434 que defendia heroicamente (digo eu) a Base Aérea 12 contra ataques aéreos e terrestres como aconteceu por duas vezes que me recorde.
Depois do guião e do emblema de peito um portefólio feito numa noite de exercício de defesa Anti-Aérea.
O Malogrado TCor Brito voava num T-6 e largou um ou dois flares - dispositivos para iluminação do campo de batalha) que ficavam a pairar à vertical da base e os artilheiros, PUMBA! Fogo neles.
E até acertaram... Era incipiente, mas era o que se podia arranjar. A defesa AA da Base tinha muitas limitações, como já se disse, mas se houvesse tempo era possível pôr tiros no ar que é o que faziam todas as AA da II GM que utilizavam os materiais de que dispúnhamos. O resto era rezar e esperar que Deus fosse português (e do Benfica de preferência...). Caso contrário poderia ser uma tragédia.
Seguem duas fotos do Cumeré, em MAI71. Ainda não estava completamente acabado, mas já fazia serviço e "embrulhou" na noite de 9 para 10UN71, quando foram atacados todos os quartéis à volta de Bissau e ao mesmo tempo 6 foguetões de 122 mm caíam à beira do "Pelicano" um restaurante bem agradável de que todos nos lembramos.
Voltarei à antena com mais fotos.
Um Ab.
António J. P. Costa
____________
Guiné 63/74 - P15654: Memória dos lugares (331): Procissão do Corpo de Deus em Bissau no ano de 1967 (José António Viegas)
1.
Mensagem do nosso camarada José António Viegas (ex-Fur Mil Art do Pel Caç Nat 54, Enxalé e Ilha das Galinhas, 1966/68), com data de 11 de Janeiro de 2016:
Caro Carlos Vinhal
Depois de um interregno em virtude de mudanças na minha vida, deixei de morar em Loulé e moro agora em Olhão, vim fazer companhia ao nosso camarada Henrique Matos.
Dia 30, Dia de Corpo de Deus, lembrei-me dessas fotos a vida na Guiné, que não era só guerra, retratando a procissão descendo a avenida.
Assim que tiver mais tempo vou preparar outras fotos e histórias da Guiné.
Um grande abraço
Viegas
Nota do editor
Último poste da série de 12 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15609: Memória dos lugares (330): A aldeia de Brunhoso é uma importante produtora de cortiça (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)
Caro Carlos Vinhal
Depois de um interregno em virtude de mudanças na minha vida, deixei de morar em Loulé e moro agora em Olhão, vim fazer companhia ao nosso camarada Henrique Matos.
Dia 30, Dia de Corpo de Deus, lembrei-me dessas fotos a vida na Guiné, que não era só guerra, retratando a procissão descendo a avenida.
Assim que tiver mais tempo vou preparar outras fotos e histórias da Guiné.
Um grande abraço
Viegas
Bissau, 25 de Maio de 1967 - Procissão do Corpo de Deus
____________Nota do editor
Último poste da série de 12 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15609: Memória dos lugares (330): A aldeia de Brunhoso é uma importante produtora de cortiça (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)
Guiné 63/74 - P15653: Convívios (724): o primeiro almoço convívio do ano da Tabanca da Linha: Hotel Riviera, Carcavelos, 21/1/2016 - Parte I: Texto de José Manuel Matos Dinis e fotos de Manuel Resende
Foto nº 1 > Tabanca da Linha > Carcavelos > Hotel Riviera > 21 de janeiro de 2016 > Aspeto geral da sala
Foto nº 2 > Tabanca da Linha > Carcavelos > Hotel Riviera > 21 de janeiro de 2016 > Aspeto parciak da sala (1)
Foto nº 3 > Tabanca da Linha > Carcavelos > Hotel Riviera > 21 de janeiro de 2016 > Aspeto parciak da sala (2)
Foto nº 4 > Tabanca da Linha > Carcavelos > Hotel Riviera > 21 de janeiro de 2016 > O "comandante" Jorge Rosales e a esposa.
Foto nº 5 > Tabanca da Linha > Carcavelos > Hotel Riviera > 21 de janeiro de 2016 > O "ajudante de campo" Zé Manel Dinis e a Teresa. (Em segundo plano, de pé, o João Sacôto)
Foto nº 6 > Tabanca da Linha > Carcavelos > Hotel Riviera > 21 de janeiro de 2016 > Zé Carioca e esposa.
Foto nº 7 > Tabanca da Linha > Carcavelos > Hotel Riviera > 21 de janeiro de 2016 > Manuel Lema Santos e esposa.
Foto nº 8 > Tabanca da Linha > Carcavelos > Hotel Riviera > 21 de janeiro de 2016 > João Sacôto e esposa.
Foto nº 9 > Tabanca da Linha > Carcavelos > Hotel Riviera > 21 de janeiro de 2016 > Mário Fitas, outro fundador da Tabanca da Linha, e esposa. Helena.
Foto nº 10 > Tabanca da Linha > Carcavelos > Hotel Riviera > 21 de janeiro de 2016 > Hugo Moura Ferreira e o seu amigo guineense Braima Baldé.
Foto nº 11 > Tabanca da Linha > Carcavelos > Hotel Riviera > 21 de janeiro de 2016 > Da direita para a esquerda, António Martins de Matos e Juvenal Amado.
Foto nº 12 > Tabanca da Linha > Carcavelos > Hotel Riviera > 21 de janeiro de 2016 > José Rodrigues e esposa.
Foto nº 13 > Tabanca da Linha > Carcavelos > Hotel Riviera > 21 de janeiro de 2016 > A Gina, o António [Fernando] Marques e o Hélder Sousa [, nosso colaborador permanente].
Foto nº 14 > Tabanca da Linha > Carcavelos > Hotel Riviera > 21 de janeiro de 2016 > Marcelino da Mata e António Graça de Abreu.
Foto nº 15 > Tabanca da Linha > Carcavelos > Hotel Riviera > 21 de janeiro de 2016 > Sobremesas...
Karíssimos,
Realizou-se hoje o último encontro da Magnífica Tabanca da Linha, e igualmente o primeiro do ano corrente de 2016 que vos desejamos corra muito bem, pleno de alegrias e realizações pessoais e colectivas.
Teve a particularidade de inaugurar uma nova série, a de Carcavelos, e ocorreu no Hotel Riviera. Em sala razoável, bem amesentada, com brilhantes copos de vinho, e quase inúteis copos de água, constatou-se o elevado grau de civismo dos tertulianos, que limitaram as misturas ao mínimo necessário. Vi um, que nem ao translucido líquido recorreu para tomar um comprimido. Já não há gente desta índole!
Também se constatou o elevado número de presenças, e bateram-se os recordes anteriores, tanto em masculinos, como em femininos. 68 na totalidade, quase uma Companhia em finais de comissão. Muito me apraz registar o ingresso de alguns jovens que revelaram excelente capacidade de integração, o que corrobora a ideia de que na Magnífica se respiram bons ares.
Tratou-se de um almoço "buffet", conforme noticiado pelas vias oficiais, as únicas fidedignas, e as mesas apresentaram-se sempre com alimentos apetecíveis, dos preliminares, aos finalmentes. Talvez se pudesse melhorar esta questão, se houvesse outra mesa de apoio, e o acesso passaria a acontecer por duas filas em lugares opostos da sala, com vista a torná-lo mais fluente, e que todos terminassem o auto-serviço em tempos mais aproximados. Houve, de facto essa "decalage", mas nada que perturbasse irremediavelmente o rumo dos acontecimentos, ou provocasse o desânimo perante o atraso do golpe.
Sopa, saladas, pastéis, o peixe e acompanhamentos, mai-las sobremesas, foram em doses suficientes, apesar da salada de cogumelos ter antecipado a finitude para alguns dos mastigantes. As notícias foram de agrado pela variedade palatal, e pelos convívios estimulados pela distribuição de 8 lugares por mesa. E ninguém se magoou. O serviço de apoio nos vinhos decorreu muito bem, com simpáticos funcionários atentos ou solícitos.
Cantaram-se os parabéns ao José Carioca, um dos fundadores, porque merecidamente completa hoje mais um ano de andança. De novo o felicito, com votos de longa vida, plena de alegrias. O Senhor Comandante também manifestou grande regozijo pela interpretação do cântico alusivo, que ele cada vez aprecia mais. Mandou-me registar essa satisfação.
Mataram-se saudades, e desejamos expressar que o trabalho que nos dá o Senhor Comandante Rosales, é sempre desenvolvido com alegria e determinação, sobretudo o que compete ao nosso director informático. Com mais ou menos resinguice cá vou desenvolvendo as tarefas da minha competência, e perante as dificuldades correntes, já não alimento a esperança da reforma para os próximos anos. Haja fé!
Desculpem a pressa com que cumpro a obrigação de noticiar o acontecimento do dia, mas amanhã vou alentejanar, e ainda devo preparar o saco para a campanha. Lembro-vos que a terceira idade é para nos divertirmos, pela simples razão de ser a última. Abraços fraternos.
JD
Amanuense a aguardar promoção
______________
Nota do editor:
Último poste da série > 12 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15611: Convívios (723): Convívio da Magnífica Tabanca da Linha, dia 21 de Janeiro de 2015, no Hotel Riviera, lugar do Junqueiro, Carcavelos (José Manuel Matos Dinis)
Último poste da série > 12 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15611: Convívios (723): Convívio da Magnífica Tabanca da Linha, dia 21 de Janeiro de 2015, no Hotel Riviera, lugar do Junqueiro, Carcavelos (José Manuel Matos Dinis)
Guiné 63/74 - P15652: Notas de leitura (799): “La Découverte de L'Áfrique", por Catherine Coquery (2) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Abril de 2015:
Queridos amigos,
Trata-se de uma obra de divulgação sobre África: um continente desconhecido durante longos séculos, a despeito dos seus impérios; o continente passa a ser conhecido graças aos geógrafos árabes, o mundo islâmico estava em marcha, África era mais que os berberes, o ouro do Sudão, o glorioso Egipto e os cereais da Líbia; com o projeto Henriquino, a África tropical atlântica é alvo de narrativas que ainda hoje merecem a nossa atenção, pela riqueza do pormenor.
E assim chegamos aos contactos dos portugueses com o Benim, relatos que entraram na literatura e lá permanecem.
Este livrinho apareceu-me numa ofensiva numa livraria de obras em segunda mão, foi bafejado pela sorte, escrito em 1965 ainda hoje se lê com exaltado prazer.
Um abraço do
Mário
À descoberta de África, por Catherine Coquery (2)
Beja Santos
Os europeus já tinham afrontado o oceano Atlântico antes de o empreendimento henriquino em direção à costa de África. Conheciam desde a Antiguidade a rota do Norte na mira do estanho da Cornualha, e faziam a cabotagem em direção às cidades flamengas onde emergia o capitalismo. Em contrapartida, no Sul, e ao largo da costa marroquina, as tentativas foram raras e mal sucedidas: os irmãos Vivaldi, de Génova, partiram em 1291 e sonhavam alcançar o Rio de Ouro, nunca regressaram. Navegava-se, é certo, por todo o Mediterrânio, queria-se atingir o Oriente, mais do que o ouro do Sudão, cobiçavam-se as sedas, as pedras preciosas e as especiarias. O declínio do tráfico mediterrânico é também devido à extrema agressividade dos sultões Mamalucos que fizeram frente ao comércio veneziano, genovês e pisano. Enquanto se sonha com novas cruzadas, começa a circular a notícia do reino do Prestes João, um reino grandioso e cristão no coração do continente negro.
É neste contexto que Catherine Coquery questiona como é que Portugal, com os seus meios limitados e uma frota reduzida foi o primeiro a abrir o caminho para contornar o litoral africano. Vê-se que leu cuidadosamente Vitorino Magalhães Godinho. O país escapara às querelas e devastações da Guerra dos Cem Anos; ganhara identidade e tinha as suas fronteiras definidas; e havia conhecimento das expetativas europeias em alargar as áreas comerciais. Com a dinastia de Avis, o país perdera a dimensão da feudalidade, parecia um país novo, pouco afetado pela Peste Negra. Uma nova aristocracia mostrava-se impaciente por atingir o Norte de África, por desempenhar um papel relevante nas transações financeiras entre a Europa e o Oriente, dispunha de marinheiros dinâmicos, estava na vanguarda do conhecimento científico e cartográfico, graças aos árabes, aos marinheiros genoveses e catalães e aos sábios cartógrafos judeus de Maiorca, conhecia a bússola, os portulanos e fazia-se transportar num barco flexível, apropriado para navegar longe da costa e assim enfrentar os ventos alísios. A autora duvida da exclusividade do projeto henriquino, considera que esta expansão não foi obra de um só vulto mas de um grupo social e de uma época. Os portugueses revelaram-se empíricos e sistemáticos.
Entrando nos textos, a autora apresenta-nos Gomes Eanes de Azurara e a sua Crónica da Guiné, transcreve as cinco razões que incitaram o Infante D. Henrique a procurar descobrir as costas da Guiné, e relata os terrores medievais. A fronteira meridional do mundo conhecido ficava a Sul de Marrocos, ao tempo confundia-se o Cabo Bojador com o Cabo Juby, situado 150 quilómetros mais a Norte. A passagem do Cabo Bojador por Gil Eanes em 1434 foi um acontecimento capital que acelerou os descobrimentos. Pergunta-se por que é que os navios temiam este Cabo Bojador. Havia uma crença muito antiga em que quem afrontasse estas paragens corria risco de vida, aventurar-se a esta viagem era o mesmo que um suicídio. E assim se passaram 12 anos até que se dobrou o Cabo. A partir de 1434, tudo parecia mais fácil. Azurara descreve o Infante como um homem de grande autoridade, admoestava sem rispidez, exigia permanentemente aos seus colaboradores que trouxessem indícios de terra. Por exemplo, Gil Eanes não conseguiu trazer gente mas trouxe sinais da vegetação.
Dobrado o Cabo, as expedições avançaram ao longo de costas desertas onde viviam tribos nómadas até chegar à terra dos negros. Em 1445, atingiu-se a desembocadura do rio Senegal. E a autora recorre ao relato de Cadamosto, um veneziano ao serviço do rei de Portugal, ficámos a dever-lhe descrições pitorescas sobre o rio, o sistema tribal do rei de Sénega (Senegal), o fausto da corte, a poligamia, a presença do Islão e o animismo na Gâmbia, as guerras entre estes diferentes seres, é minucioso também na descrição dos costumes, no tipo de agricultura praticada, na natureza dos mercados e como os portugueses foram bem acolhidos, pondo saliva na pele dos brancos, encantados com a novidade da cor. A viagem de Cadamosto incluiu a Gâmbia e a costa da Mina, é um relato delicioso.
Os primeiros descobridores portugueses não se aventuravam para lá da costa, Azurara descreve a belicosidade dos nativos que vinham com as suas embarcações e setas envenenadas. A grande exceção foi o Benim, na atual Nigéria, um dos grandes centros da civilização das cidades Yoruba, cuja importância se extinguiu no século XVIII. O Benim estava intimamente ligado a Ifé, o importante centro de arte africano da Idade Média, com grandes artistas na estatuária, na cerâmica, no latão e no marfim. No Esmeraldo, Duarte Pacheco Pereira faz uma descrição magnificente do Benim, do Palácio Real, das muralhas e das riquezas, como o caso da pimenta negra.
Irão prosseguir os relatos sobre a Etiópia do Prestes João e a chegada ao Congo. Mas há uma referência espantosa que Catherine Coquery faz às desventuras de um mercador flamengo nas costas da Guiné, no século XV.
A primeira feitoria de escravos foi estabelecida em 1443, na baía de Arguim. No século XVI este comércio desenvolveu-se com o transporte de escravos para as ilhas da América; no século XV foram escravos para a Madeira, para as plantações de cana-de-açúcar. Foi um período de economia de troca, os mercadores levavam os produtos desejados pelos reis e traziam escravos.
Os portugueses sonharam com o privilégio exclusivo em África e obtiveram o apoio papal, assim se urdiu a prefiguração da partilha do mundo, o Tratado de Tordesilhas, sancionado pelo Papa Alexandre VI. Mas estes tratados não eram respeitados, primeiro pelo contrabando espanhol e flamengo, e mais tarde pelos ingleses e pelos franceses.
É assim que aparece Eustache de La Fosse, mercador natural de Tournai (hoje Bélgica), mercador em Bruges, aparece em Sevilha em 1479 e lança-se na aventura ao longo da Serra Leoa e na Costa de Ouro, onde foi preso pelos portugueses. Deixa-nos um relato primoroso do tráfico de escravos na região da Mina. O seu livro intitula-se Viagem à costa ocidental de África, 1479-1480. E aqui finda os relatos da descoberta de África para o período que nos interessa, mais adiante a autora falará detalhadamente do comércio francês e da presença no Senegal, Daomé e outras paragens.
Um dos grandes acontecimentos culturais que vivemos na década de 1990 foi a nossa presença na Europalia em 1991. Visitei esta exposição da Via Orientalis, o nosso caminho para o Oriente e as sucessivas permutas artísticas. A capa do catálogo mostra um saleiro da arte do Benim em marfim, pertence ao Museu de História Natural de Leiden, Países Baixos, temos aqui um português a cavalo e figuras de outros portugueses na base, é uma obra soberba.
Outra obra da arte do Benim, uma peça em latão, a figura exibe na parte inferior da indumentária cabeças esterilizadas de portugueses.
Nota do editor
Último poeta da série de 18 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15632: Notas de leitura (798): “La Découverte de L'Áfrique", por Catherine Coquery (1) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Trata-se de uma obra de divulgação sobre África: um continente desconhecido durante longos séculos, a despeito dos seus impérios; o continente passa a ser conhecido graças aos geógrafos árabes, o mundo islâmico estava em marcha, África era mais que os berberes, o ouro do Sudão, o glorioso Egipto e os cereais da Líbia; com o projeto Henriquino, a África tropical atlântica é alvo de narrativas que ainda hoje merecem a nossa atenção, pela riqueza do pormenor.
E assim chegamos aos contactos dos portugueses com o Benim, relatos que entraram na literatura e lá permanecem.
Este livrinho apareceu-me numa ofensiva numa livraria de obras em segunda mão, foi bafejado pela sorte, escrito em 1965 ainda hoje se lê com exaltado prazer.
Um abraço do
Mário
À descoberta de África, por Catherine Coquery (2)
Beja Santos
Os europeus já tinham afrontado o oceano Atlântico antes de o empreendimento henriquino em direção à costa de África. Conheciam desde a Antiguidade a rota do Norte na mira do estanho da Cornualha, e faziam a cabotagem em direção às cidades flamengas onde emergia o capitalismo. Em contrapartida, no Sul, e ao largo da costa marroquina, as tentativas foram raras e mal sucedidas: os irmãos Vivaldi, de Génova, partiram em 1291 e sonhavam alcançar o Rio de Ouro, nunca regressaram. Navegava-se, é certo, por todo o Mediterrânio, queria-se atingir o Oriente, mais do que o ouro do Sudão, cobiçavam-se as sedas, as pedras preciosas e as especiarias. O declínio do tráfico mediterrânico é também devido à extrema agressividade dos sultões Mamalucos que fizeram frente ao comércio veneziano, genovês e pisano. Enquanto se sonha com novas cruzadas, começa a circular a notícia do reino do Prestes João, um reino grandioso e cristão no coração do continente negro.
É neste contexto que Catherine Coquery questiona como é que Portugal, com os seus meios limitados e uma frota reduzida foi o primeiro a abrir o caminho para contornar o litoral africano. Vê-se que leu cuidadosamente Vitorino Magalhães Godinho. O país escapara às querelas e devastações da Guerra dos Cem Anos; ganhara identidade e tinha as suas fronteiras definidas; e havia conhecimento das expetativas europeias em alargar as áreas comerciais. Com a dinastia de Avis, o país perdera a dimensão da feudalidade, parecia um país novo, pouco afetado pela Peste Negra. Uma nova aristocracia mostrava-se impaciente por atingir o Norte de África, por desempenhar um papel relevante nas transações financeiras entre a Europa e o Oriente, dispunha de marinheiros dinâmicos, estava na vanguarda do conhecimento científico e cartográfico, graças aos árabes, aos marinheiros genoveses e catalães e aos sábios cartógrafos judeus de Maiorca, conhecia a bússola, os portulanos e fazia-se transportar num barco flexível, apropriado para navegar longe da costa e assim enfrentar os ventos alísios. A autora duvida da exclusividade do projeto henriquino, considera que esta expansão não foi obra de um só vulto mas de um grupo social e de uma época. Os portugueses revelaram-se empíricos e sistemáticos.
Entrando nos textos, a autora apresenta-nos Gomes Eanes de Azurara e a sua Crónica da Guiné, transcreve as cinco razões que incitaram o Infante D. Henrique a procurar descobrir as costas da Guiné, e relata os terrores medievais. A fronteira meridional do mundo conhecido ficava a Sul de Marrocos, ao tempo confundia-se o Cabo Bojador com o Cabo Juby, situado 150 quilómetros mais a Norte. A passagem do Cabo Bojador por Gil Eanes em 1434 foi um acontecimento capital que acelerou os descobrimentos. Pergunta-se por que é que os navios temiam este Cabo Bojador. Havia uma crença muito antiga em que quem afrontasse estas paragens corria risco de vida, aventurar-se a esta viagem era o mesmo que um suicídio. E assim se passaram 12 anos até que se dobrou o Cabo. A partir de 1434, tudo parecia mais fácil. Azurara descreve o Infante como um homem de grande autoridade, admoestava sem rispidez, exigia permanentemente aos seus colaboradores que trouxessem indícios de terra. Por exemplo, Gil Eanes não conseguiu trazer gente mas trouxe sinais da vegetação.
Dobrado o Cabo, as expedições avançaram ao longo de costas desertas onde viviam tribos nómadas até chegar à terra dos negros. Em 1445, atingiu-se a desembocadura do rio Senegal. E a autora recorre ao relato de Cadamosto, um veneziano ao serviço do rei de Portugal, ficámos a dever-lhe descrições pitorescas sobre o rio, o sistema tribal do rei de Sénega (Senegal), o fausto da corte, a poligamia, a presença do Islão e o animismo na Gâmbia, as guerras entre estes diferentes seres, é minucioso também na descrição dos costumes, no tipo de agricultura praticada, na natureza dos mercados e como os portugueses foram bem acolhidos, pondo saliva na pele dos brancos, encantados com a novidade da cor. A viagem de Cadamosto incluiu a Gâmbia e a costa da Mina, é um relato delicioso.
Os primeiros descobridores portugueses não se aventuravam para lá da costa, Azurara descreve a belicosidade dos nativos que vinham com as suas embarcações e setas envenenadas. A grande exceção foi o Benim, na atual Nigéria, um dos grandes centros da civilização das cidades Yoruba, cuja importância se extinguiu no século XVIII. O Benim estava intimamente ligado a Ifé, o importante centro de arte africano da Idade Média, com grandes artistas na estatuária, na cerâmica, no latão e no marfim. No Esmeraldo, Duarte Pacheco Pereira faz uma descrição magnificente do Benim, do Palácio Real, das muralhas e das riquezas, como o caso da pimenta negra.
Irão prosseguir os relatos sobre a Etiópia do Prestes João e a chegada ao Congo. Mas há uma referência espantosa que Catherine Coquery faz às desventuras de um mercador flamengo nas costas da Guiné, no século XV.
A primeira feitoria de escravos foi estabelecida em 1443, na baía de Arguim. No século XVI este comércio desenvolveu-se com o transporte de escravos para as ilhas da América; no século XV foram escravos para a Madeira, para as plantações de cana-de-açúcar. Foi um período de economia de troca, os mercadores levavam os produtos desejados pelos reis e traziam escravos.
Os portugueses sonharam com o privilégio exclusivo em África e obtiveram o apoio papal, assim se urdiu a prefiguração da partilha do mundo, o Tratado de Tordesilhas, sancionado pelo Papa Alexandre VI. Mas estes tratados não eram respeitados, primeiro pelo contrabando espanhol e flamengo, e mais tarde pelos ingleses e pelos franceses.
É assim que aparece Eustache de La Fosse, mercador natural de Tournai (hoje Bélgica), mercador em Bruges, aparece em Sevilha em 1479 e lança-se na aventura ao longo da Serra Leoa e na Costa de Ouro, onde foi preso pelos portugueses. Deixa-nos um relato primoroso do tráfico de escravos na região da Mina. O seu livro intitula-se Viagem à costa ocidental de África, 1479-1480. E aqui finda os relatos da descoberta de África para o período que nos interessa, mais adiante a autora falará detalhadamente do comércio francês e da presença no Senegal, Daomé e outras paragens.
Um dos grandes acontecimentos culturais que vivemos na década de 1990 foi a nossa presença na Europalia em 1991. Visitei esta exposição da Via Orientalis, o nosso caminho para o Oriente e as sucessivas permutas artísticas. A capa do catálogo mostra um saleiro da arte do Benim em marfim, pertence ao Museu de História Natural de Leiden, Países Baixos, temos aqui um português a cavalo e figuras de outros portugueses na base, é uma obra soberba.
Outra obra da arte do Benim, uma peça em latão, a figura exibe na parte inferior da indumentária cabeças esterilizadas de portugueses.
A cidade de Benim no século XVII, gravura que está Biblioteca Nacional, Paris
____________Nota do editor
Último poeta da série de 18 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15632: Notas de leitura (798): “La Découverte de L'Áfrique", por Catherine Coquery (1) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P15651: Lembrete (16): É já amanhã, dia 23, sábado, às 16h30, em Lisboa, no "Chiado Clube Literário e Bar", que o nossso camarada Juvenal Amado vai lançar o seu livro!... Diz-nos ele: ""Camaradas, não sei se a tropa fez de mim um homem, mas decerto fez-me arranjar amigos como vocês. Apareçam!"
A Chiado Editora, representada em Portugal, Brasil e Angola, é "a maior editora do mundo em língua portuguesa", com "mais de 1000 novos títulos por ano", ou sejam, 3 por dia...
1. Este é um lembrete (**) para todos aqueles nossos leitores, que podem e querem ir a esta sessão, e muito em particular os nossos amigos e camaradas da Guiné. Apareçam, estão todos convidados!.
É, além disso, um honra termos mais um camarada (e já são muitos!) com um livro, publicado, impresso em papel, com a sua história de vida e as suas memórias.
É um livro escrito com ternura e sensibilidade poética, mas também muita garra e. autenticidade humana. São mais de 300 páginas e mais de 80 pequenas histórias que, interligadas, constituem o percurso de um homem e de uma geração de portugueses que cedo conheceram a "picada da vida" (a infância dura, a escola autoritária, a usura física e mental do trabalho nos cmapos, nas fábricas, nos escritórios, a tropa, a guerra, o sangue, o suor, as lágrimas, mas também as alegrias do amor, da amizade, da camaradagem)...
O livro tem uma dedicatória: "O meu amigo João Caramba que em 7 de março de 2013 se fez memória",
O autor descobriu o gosto (e a paixão) pela escrita no nosso blogue. É um colaborador ativo, atento e leal, contando já com cerca de 190 referências. Na dedicatória autografada que nos mandou, o Juvenal teve a gentileza de escrever o seguinte: "Luís, não sei se a tropa fez de mim um homem, mas decerto fez-me arranjar amigos como tu"...
E nas páginas 9/10, ele acrescenta: "Na verdade, não escrevi para mim mas para nós (...)" E acrescentaria, "por nós, por muitos de nós!"... Enfim, deixa "um obrigado especial ao Luís Graça, pelo que representa para mim e para muitos dos ex-combatentes da Guiné, e ao Carlos Vinhal, que me apoiou e incentivou a continuar a escrever, e aos camaradas, de várias idades, latitudes, tendências, que me ajudaram a chegar aqui e publicar estas histórias" (...).
E nas páginas 9/10, ele acrescenta: "Na verdade, não escrevi para mim mas para nós (...)" E acrescentaria, "por nós, por muitos de nós!"... Enfim, deixa "um obrigado especial ao Luís Graça, pelo que representa para mim e para muitos dos ex-combatentes da Guiné, e ao Carlos Vinhal, que me apoiou e incentivou a continuar a escrever, e aos camaradas, de várias idades, latitudes, tendências, que me ajudaram a chegar aqui e publicar estas histórias" (...).
Parabéns, camarada!... Desejo-te uma belíssima e concorrida sessão de lançamento do teu livro, porque tu mereces, nós merecemos!... (LG)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 12 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15608: Agenda cultural (455): Sessão de lançamento do livro do Juvenal Amado, "A tropa vai fazer de ti um homem": Lisboa, Chiado Clube Literário & Bar, Av da Liberdade, sábado, 23 de janeiro, 16h30, com a presença em força da malta tabanqueira
(**) Último poste da série > 9 de dezembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15467: Lembrete (15): Lançamento do livro "História(s) da Guiné Portuguesa", da autoria de Mário Beja Santos, com apresentação do Prof. Eduardo Costa Dias e Dr. António Duarte Silva, amanhã dia 10 de Dezembro, 5.ª feira, pelas 18 horas, no Palácio Conde de Penafiel, Rua de S. Mamede ao Caldas, n.º 21 - Lisboa
Guiné 63/74 - P15650: Parabéns a você (1022): Rogério Freire, ex-Alf Mil Art MA da CART 1525 (Guiné, 1966/67) e Virgínio Briote. ex-Alf Mil Comando, CMDT do Grupo Os Diabólicos (Guiné, 1965/67)
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Nota do editor
Último poste da série de 21 de Janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15645: Parabéns a você (1021): João Graça, Médico e músico, Amigo Grã-Tabanqueiro
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