1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Janeiro de 2023:
Queridos amigos,
Quem quiser conhecer o talento artístico do fotógrafo Domingos Alvão, veja algumas destas imagens que aqui se reproduzem alusivas à 1.ª Exposição Colonial Portuguesa. O evento permitiu um conjunto de publicações de que destaco o álbum fotográfico de Alvão. A par da exposição, houve um conjunto de conferências sobre matérias imperiais, não encontrei nada de verdadeiramente expressivo. Peço a vossa atenção para aquele parágrafo de Castro Fernandes, virá a ser administrado do BNU e grande conhecedor das realidades guineenses, figura grada do regime, ele acentua a importância em torno da exposição de que se estava a levantar o Terceiro Império, perdera-se o segundo devido às malfadadas ideias liberais que pareciam condenar a nação ao apoucamento, interessante este pensamento nacioanlista que acompanha a ascensão do Estado Novo.
Um abraço do
Mário
1.ª Exposição Colonial Portuguesa, Porto, 1934, os memoráveis clichés fotográficos de Domingos Alvão
Mário Beja Santos
O Álbum Fotográfico da 1.ª Exposição Colonial Portuguesa reúne 101 clichés fotográficos de Domingos Alvão, que foi o fotógrafo oficial do evento. É uma recolha soberba de imagens, que exemplifico: o Padrão de Diogo Cão (escrevendo-se que se trata do autêntico), o monumento ao esforço colonizador português, a representação das missões religiosas portuguesas, belíssimas cabeças de Benim, a réplica do Arco dos Vice-Reis. E a Guiné mereceu a melhor atenção do grande mestre da fotografia do Porto, caso da aldeia lacustre Bijagó, a postura soberana do régulo Mamadu Sissé, balantas, destaque para a “Rosinha”, a fotografia do menino Bijagó, o Augusto, que irá aparecer numa publicidade a cigarros, a criança com o cigarro na boca, mulheres e homens, e escusado é dizer que todas estas mulheres e homens mais desnudados que vestidos foram motivo de escândalo, queixaram-se ao governo do sr. capitão Henrique Galvão, como é que era possível permitir-se, contra os bons costumes portugueses, mostrar tanto primitivismo atentado à moral?
Importa chamar a atenção do leitor para a qualidade de outras publicações à volta desta Exposição Colonial. É o caso do álbum-catálogo onde há textos credores da nossa reflexão. Veja-se este a apontamento de um membro do Governo responsável pelas colónias, Júlio Castro Fernandes:
“Num vale escuro da História, invadidos nas organizações políticas e nas almas, pelas ideologias de 1789, alheados do sentido da nossa grandeza e da nossa missão pelo falso esplendor de novas ideias, perdemos o Brasil e o rumo imperial da nossa nação nas colónias.”
Mais adiante, um texto sobre a Guiné, assinado por Machado Saldanha, intitulado A colónia das terras vermelhas:
“A Guiné portuguesa é um repositório de valiosos subsídios étnicos e morais das raças que descreveram do Oriente as suas linhas migratórias para a África. Xadrez de raças, todas elas cheias de inusitado e de usos e costumes típicos, definem psiquicamente o maravilhosismo dos seus aborígenes, embora a sua vida de hoje se espraie adentro dos preceitos da civilização, que as nossas autoridades têm pouco a pouco introduzindo.
A cerimónia do fanado, as festas do Ramadão, o regime matriarcal dos Bijagós, são notas expressivas da vida dos vários povos que habitam a Guiné portuguesa.
A colónia é, por assim dizer, uma extensa planura lacustre serpenteada por ótimas estradas e por braços de mar, com os contrafortes das ilhas repletos de palmeiras que formam o arquipélago dos Bijagós.
As condições do seu clima incorporam a Guiné portuguesa como colónia de exploração, isto não obstante a permanência dos europeus. A densidade da sua população cria no país condições excecionais de facilidade de mão de obra. O território da Guiné portuguesa confina, caracteristicamente, o verde-escuro dos seus campos de flora com a nota vermelha do desenrolar das suas estradas, pelo que se define bem o país designando-o como a Colónia das terras vermelhas.”
Faz-se ao longo deste álbum-catálogo uma súmula da situação climática, da população (fala-se em pouco mais de 340 mil habitantes), divisão administrativa, estradas, vias fluviais, principais portos de comércio, comunicações telegráficas e telefónicas, linhas de navegação, movimento comercial, agricultura e indústrias.
Imagem espetacular de um dos eventos que acompanharam a Exposição do Mundo Português, em 1940, onde existiu uma expressiva participação guineense
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Nota do editor
Último poste da série de 9 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24542: Historiografia da presença portuguesa em África (380): O General Craveiro Lopes na Guiné, maio de 1955 (6) (Mário Beja Santos)