Guiné > Bafatá > Espectacular vista aérea da bela Bafatá colonial, segunda cidade da província e principal centro militar da zona leste.
Até Julho de 1969, Galomaro fazia parte do Sector L1 (BCAÇ 2852, Bambadinca). Em Agosto de 1969, a zona de acção (ZA) da CCAÇ 2405 passou a constituir o COP 7, criando-se em Outubro seguinte o Sector L5, sob a responsabilidadew do BCAÇ 2851 e formado pelas ZA das CCAÇ 2405 (Galomaro) e 2406 (Saltinho).
Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)
© Humberto Reis (2006)
Pouco ou nada se tem aqui falado do subsector de Galomaro que, em 1968/70, era guarnecido pela CCAÇ 2405, a sacrificada companhia que viu morrer 17 dos seus melhores elementos na travessia do Rio Corubal, em 6 de Fevereiro de 1969, em Cheche, na retirada de Madina do Boé (Op Mabecos Bravios).
A essa companhia pertenciam os nossos amigos e camaradas Victor David e Rui Felício. O primeiro já entrou para a nossa tertúlia (1). O segundo mandou-me há dias (9 de Fevereiro) a seguinte mensagem:
"Meu Caro Luis Graça,
"Por indicação do meu amigo de juventude e mais tarde camarada de armas na CCAÇ 2405, Victor David, tive conhecimento e acesso ao excelente blogue que criaste sobre a nossa passagem por terras da Guiné.
"Transmitirei aos meus conhecidos e amigos a existência do blogue e procurarei colaborar nele se tal for possivel, levando ao conhecimento de todos alguns episódios marcantes das nossas vidas, relativamente à nossa estadia na bela e martirizada terra da Guiné.
"Até breve e um abraço
"Rui M. S. Felício (ex-alferes miliciano, CCAÇ 2405, Galomaro, 1968/69)"
Em homenagem aos dois novos tertulianos, passo a transcrever o relatório (texto digitalizado e revisto por mim) da Op Ginja Verde [o adjectivo está pouco legível] em que o Rui Felício participou, como comandante de um dos grupos de combate... Infelizmente ainda não temos on line o mapa de Padada. Em todo o caso, os pontos principais aqui referidos (Galomaro, Dulombi, Mondajane, Paiai Numba...) podem ser facilmente localizados no mapa geral da Guiné e nos mapas locais.
Fonte: História do BCAÇ 2852 (Guiné, 1968/70): Bambadinca: BCAÇ 2852. 1970. Cap II. 93-95. Documento policopiado, classificado como reservado. (Cópia em papel facultada pelo Humberto Reis, meu ex-camarada da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).
Op Ginja Verde
Iniciada às 16h00 de 13 de Julho de 1969 com a duração de dois dias para fazer uma batida cuidadosa à região de Paiai Numba, procurando detectar vestígios IN, aniquilá-lo e destruir meios de vida se os houvesse.
Composição e articulação das Forças:
Cmdt – Cap Mil Jerónimo – Cmdt da CCAÇ 2405
Cmdt do 1º Gr Combate / CCAÇ 2405 – Alf Mil Rijo
Cmdt 3º Gr Comb CCAÇ / 2405 - Alf Mil Felício
Cmdt 4º Gr Comb CART / 2520 (2) – Alf Mil Oliveira
Desenrolar da acção:
As NT iniciaram o movimento a 13 [de Julho de 1969], às 16h00, deslocando-se até Mondajane. Reiniciaram o movimento apeado por volta das 4h00 do dia 14.
Saiu o movimento apeado de Mondajane na direcção leste, patrulhando sempre a margem esquerda do Rio Queuel. A progressão era feita a TT [todo o terreno], mas apesar disso era relativamonte fácil por se nos deparar uma mata pouco densa.
Cerca das 7h00 foi atingido o Rio Cantor, que seguimos na direcção norte. Entretanto a progressão tornava-se cada vez mais difícil, quer pela ausência de trilhos quer pelo terreno que se nos ia deparando mais arborizado à medida que se caminhava para norte.
A progressão continuou sem novidade tendo-se atingido o Rio Sinhandi cerca das 11h00, onde parei cerca de meia hora para descansar. Prosseguiu-se depois ao longo da margem direita do Rio Nhancam cujo curso segui por saber que este me conduziria à tabanca de Paiai Numbá.
A cerca de 1 Km desta tabanca, onde cheguei por volta das 13h00, tomei a direcção sudeste e patrulhei a área adjacente à tabanca do Vendu Jangala.
Até a este momento não foram detectados quaisquer vestígios IN nem a existência de quaisquer trilhos que não estivessem marcados na carta. Reiniciei o movimento, desta vez na direcção nordeste caminhando paralelamente ao itinerário Dulombi – Paiai Lemini – Paiai Numba e a cerca de 2 Kms para o lado esquerdo.
0 terreno apresentava-se de difícil progressão pela ausência de acidentes geográficos bem referenciados, e por ter de se atravessar uma mata densíssima. A navegação foi sempre feita por carta e bússula já que os guias nativos diziam não saber orientar-se pela inexistência de trilhos. Atingimos o itinerário Dulombi-Paiai às 16h00 em PADADA 2F4 onde mandei fazer um alto para fazer descansar a tropa.
A testa da coluna encontrava-se junto ao itinerário e o resto da força estava embrenhada na mata em sentido oblíquo ao da estrada. Comecei a montar o dispositivo de defesa mas só tive tempo de colocar dois grupos de sentinelas avançadas, um de cada lado da estrada. Às 16h05, um desses grupos de sentinelas detectou um grupo IN quo se aproximava pelo itinerário em direcção ao Dulombi. As referidas sentinelas abriram fogo de espingarda automática, logo seguido pelo fogo de alguns elementos da minha tropa que se encontravam junto a estrada. Aos primeiros tiros dois elementos IN que vinham à frente caíram enquanto os restantes se embrenhavam apressadamente na mata em posição frontal às nossas forças e debaixo de fogo de dilagrama, armas automáticas e granadas de mão.
Desencadeou-se forte tiroteio com consumo indiscriminado de munições por parte do IN, que utilisava lança-rockets, morteiro 60, metralhadora ligeira e grande quantidade de armas automáticas. Ao fim de cerca de 10 minutos de tiroteio o IN conseguiu com um tiro de lança-rockets atingir alguns elementos das NT com vários estilhaços, tendo dois deles ficado gravemente feridos.
Tentei comunicar com o posto de rádio de Mondajane mas o operador de transmissões informou-me que o aparelho de rádio CHP-1 se encontrava inoperacional por ter sido atingido pelo mesmo rocket. Quase simultaneamente um dos nossos apontadores de LGFog aniquilou con um tiro certeiro um elemento IN que se encontrava em cima da uma árvore a fazer fogo preciso sobre nós. 0 fogo continuou de parte a parte, tendo o IN tentado o envolvimento mas a reacção pronta das NT impediu-o.
0 IN, com o efectivo que estimo em cerca de 60 elementos entre carregadores e combatentes, acabou por retirar na direcção sudoeste, sob o nosso fogo de morteiro e de LGFog. Não me foi possível efectuar una batida ao local da emboscada, senão no dia seguinte, porque no final da refrega constatei que o IN nos tinha causado um ferido muito grave (que veio a falecer pouco depois) mais dois feridos graves e três ligeiros que ocupavam imediatamente um grupo de combate para os transportar e auxiliar.
Todo estes factores, aliados ao facto de nos encontrarmos ainda a uma distância de 6 quilómetros de Dulombi e de o patrulhamento ter extenuado a tropa, obrigaram-me a ter de desistir da batida ao local, em benefício da evacuação [- que por heli se mostrou] impossível por o único nosso meio de transmissão a longa distância se encontrar inoperacional. Além disso, as NT por terem estado cerca de 35 minutos debaixo de fogo intenso consumiram quase todas as munições. Portanto, achei inconveniente sujeitar-me a novo contacto organizando a batida.
O IN pareceu-me excepcionalnente bem municiado. 0 que me fez crer que o seu objectivo era ir atacar o Dulombi se não tivesse tido o contacto connosco.
__________
Notas de L.G. :
(1) Vd post de 8 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DIV: CCAÇ 2405 (Galomaro e Dulombi, 1968/70)
(2) CART 2520 (1968/70): estava sediada no Xime.
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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sábado, 11 de fevereiro de 2006
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