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quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26260: Humor de caserna (86): O ”turra” e a boina verde da enfermeira paraquedista (Maria Arminda, ex-ten graduada enfermeira paraquedista, FAP, 1961/70)




Tancos > RCP (Regimento de Caçadores Paraquedistas) > 8 de Agosto de 1961 > Da esquerda para a direita: Maria do Céu, Maria Ivone
 (†)  , Maria de Lurdes (Lurdinhas), Maria Zulmira (†)  , Maria Arminda e o capitão pqdt Fausto Marques (Director Instrutor). Nota: Para completar o grupo das "Seis Marias", falta(va) a Maria da Nazaré  (†)  que torceu um pé no 4.º salto e só viria a acabar o curso alguns dias depois.


Foto (e legenda): © Maria Arminda (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. A Maria Arminda Santos (tenente graduada enfermeira parquedista, 1961-1970) pertence ao grupo das Seis Marias, nome pelo qual ficou conhecido o 1.º curso de Enfermeiras Paraquedistas portuguesas feito em 1961.  Arminda Santos (n. 1937), nossa grã-tabanqueira nº 500 (desde 23 de maio de 2011), é agora a decana ou a matriarca das antigas enfermeiras paraquedistas: tem uma "memória de elefante" , é à sua "base de dados" que recorro sempre que tenho uma dúvida ou uma pergunta sem resposta sobre o "curriculum vitae" das suas colegas).

Passou por todos os TO, e nomeadamnte Guiné (1962 / jan 63) e depois  1965/67, e 1969 (vários períodos no CTIG, nterrompidos, por outras missões), até passar à disponibilidade em finais de 1970 (*)

A história que se segue, julgamos que se passa em Cufar, na região de Tombali, em meados de 1965, por volta do de junho, e no decurso da Op Saturno (fiando-nos na memória do Mário Fitas, ex-fur mil, da CCAÇ 763, os "Lassas!, Cufar, 1965/66) (**)


2. É também uma excente contadora de histórias, como se pode ver a seguir (***). Tem 60 referências no nosso blogue. Vive em Setúbal.


O ”turra” e a boina verde 

da enfermeira paraquedista


por Maria Arminda


(…) Quase sempre, ao aproximar-me do DO-27 ou do AL III, para iniciar uma missão, ao chegar junto dele, instintivamente, dava-lhes duas palmadas na fuselagem, em jeito de saudação. Era assim como que a dizer-lhe: “Aqui estou eu! Leva-me em segurança”.

O incidente que passo a relatar, ocorreu  num DO-27. Eu tinha sido destacada para uma base de operações, em Cufar, em alerta para evacuação urgente de feridos. A operação desenrolava-se no Cantanhez, conhecida pelo “Reino do Nino”. (**)

Surgiu então uma missão de evacuação (…).

Havia três feridos para evacuar, todos africanos, supostamente do recrutamente local, todos metidos dentro do DO-27. Eu fiquei próxima do único que considerava estar em estado grave, a fim de melhor o poder socorrer durante o percurso. (O que aquele avião nos permitia fazer!)

Daqueles três feridos, o mais grave, e que ia junto a mim, era combatente do inimigo, um “turra” (…).  Mesmo que não me tivessem previamente informado desse facto ainda em terra,  eu facilmente chegaria a essa conclusão pela forma pouco amistosa com que os restantes  dois feridos o encaravam e, por vezes,  se lhe dirigiam, verbalmente.

O voo decorria  com normalidade e eu ia, evidentemente,  dispensando mais cuidados ao ferido “turra” por ser o único grave. Mss era bem visível que esta minha atitude não agradava aos outros, embora eu não entendesse bem o que eles diziam entre si.

Aí a meio da viagem, o sol começou a incidir sobre a cabeça  do guerrilheiro e, não tendo eu mais nada para o proteger do sol, coloquei a minha boina verde de paraquedista na cabeça dele.

Aí os outros não aguentaram mais! E foi a revolta! Houve quase um motim a bordo!

Indignados, gritavam para mim que ele, o guerrilheiro, era um “bandido”, e que não merecia  um bom tratamento. E muito menos que lhe pusesse na cabeça a minha boina militar!

Lá os acalmei como pude, gritando um pouco também, e consegui sossegá-los. Já me não recordo de que forma,  e como o consegui, mas foi com alguma dificuldade,  chegando mesmo a recear que eles agredissem o guerrilheiro.

O final do motim ainda me deu tempo, até aterrarmos em Bissalanca, para meditar sobre a importância que aqueles africanos  davam à boina de um militar. Tão grande, que era indecoroso  ser colocada na cabeça de um guerrilheiro.

Consegui acalmá-los com dificuldade,  dizendo-lhes a verdade: que para as enfermeiras paraquedistas, aquele guerrilheiro era apenas mais um ferido,  a necessitar de todo o meu saber e empenhamento. E que, como era entre todos eles o mais grave,  era  a ele que tinha de dispensar mais cuidados.

Mas a eles pouco ou mesmo nada lhes interessavam estas teorias!


Fonte: Excertos de Ivone - "Aspetos humanos da nossa atividade:  O 'bandido' e a boina verde". In: "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pp. 323 / 324  (com a devida vénia) (Imagem à direita, a seguir: Capa do livro)


(Seleção, revisão / fixação de texto, título, introdução: LG) (**)


Coautoras (das 30 da lista, com a Rosa Serra, editora literária, 18 são Marias...):


Maria Arminda Pereira | Maria Zulmira André (†) | Maria da Nazaré Andrade (†) | Maria do Céu Policarpo | Maria Ivone Reis (†) | Maria de Lourdes Rodrigues | Maria Celeste Guerra | Eugénia Espírito Santo | Ercília Silva | Maria do Céu Pedro (†) | Maria Bernardo Teixeira | Júlia Almeida | Maria Emília Rebocho | Maria Rosa Exposto | Maria do Céu Chaves | Maria de Lourdes Cobra | Maria de La Salette Silva | Maria Cristina Silva | Mariana Gomes | Dulce Murteira | Aura Teles | Ana Maria Bermudes | Ana Gertrudes Ramalho | Maria de Lurdes Gomes | Octávia Santos | Maria Natércia Pais | Giselda Antunes (Pessoa) | Maria Natália Santos | Francis Matias | Maria de Lurdes Costa.


______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 23 de maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8314: Tabanca Grande (286): Maria Arminda Lopes Pereira dos Santos, ex-Ten Grad Enf.ª Pára-quedista, 1961-1970

(**) Vd. poste de 29 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6487: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (14): As primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares (2): Maria Arminda (Rosa Serra)

sábado, 7 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26242: Operação Grande Empresa, a reocupação do Cantanhez e a criação do COP 4, a partir de 12 de dezembro de 1972 - Parte III: Dois amargos Natais, em Caboxanque (1972) e Cadique (1973) (Rui Pedro Silva, ex-cap mil, CCAV 8352, Caboxanque, 1972/74)



Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Caboxanque > CCAV 8352/72 (1972/74) > Vista aérea do futuro aquartelamento


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > 2014 >  Perímetro defensivo, em esquema aproximado, sobre imagem atual, do Google Earth (com a devida venia...). CCaboxanque fican maragem esquerda do Rio Cambijá: vd. infografia abaixo)


Fotos do álbum do nosso grão-tabanqueiro, nascido em Angola, Lobito, Rui Pedro Silva, que foi sucessivamente:

(i)  alf mil, CCAÇ 3347 (Angola, 1971);

(ii)  ten mil, BCAÇ 3840 (Angola, 1971/72);

(iii) cap mil, CCAV 8352 (Guiné, Caboxanque, 1972/74). 

Passou 3 Natais no mato (em Angola, 1971, e na Guiné, Caboxanque, em 1972,  e Cadique, em 1973).


Fotos (e legendas): © Rui Pedro Silva (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça E Camaradas da Guiné ] (*)




Guiné > Região de Tombali > Carta de Bedanda (1956) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Bedanda, Cobumba, Cufar, Caboxanque, rio Cumbijã e seu  afluente, o rio  Bixanque.

Infografia:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné   (2024).

 *


 Dois amargos natais, em Caboxanque (1972) e Cadique (1973)

por Rui Pedro Silva


A 21 de dezembro de 1972 a CCav 8352, que eu comandava, desembarcou em Caboxanque, no âmbito da operação Grande Empresa (**), iniciada a 12 de dezembro, a qual tinha como objetivo a ocupação do Cantanhez.

A IAO no Cumeré durou 15 dias e logo marchámos para Cufar,  divididos em dois grupos: o  primeiro grupo deslocou-se de Noratlas a 19 de novembro de 1972 e o segundo de LDG a 21, e  com ele todo o equipamento para a instalação de uma companhia: do equipamento de cozinha às tendas e colchões pneumáticos, das viaturas ao gerador, das armas e munições às rações de combate, etc.

Para todos nós era seguro que não íamos render uma outra companhia e, ao chegar a Cufar, desde logo ficou claro que não seria aquele o nosso destino. Logo no desembarque recebi instruções para conservar o material carregado nas viaturas e tudo o resto guardado num improvisado “armazém”.

Nesse momento ainda não sabíamos da operação a que estávamos destinados. Nas quatro semanas que estivemos em Cufar realizámos operações de patrulhamento da zona, segurança à pista e ao porto e à construção da estrada Cufar - Catió. 

Da sede do batalhão, em Catió [BCAÇ 4510/72, Sector S3, em 1/7/73], vinham insistentes recomendações para nos concentrarmos na segurança da estrada. Havia um claro desentendimento entre os responsáveis em Cufar e a sede do Batalhão. 

A segurança na estrada mantinha-se 24 horas por dia,  rodando por todos os grupos de combate da companhia de Cufar  [CCAÇ 4740/72, em 1/7/73] e da minha  [CCAV 8352/72 ] e portanto não se percebia a insistência.

A preocupação de Catió resultava do facto de estar em curso uma manobra de diversão procurando atrair o PAIGC para aquela zona,  levando-o a mobilizar os seus efetivos para Cufar e assim garantir uma menor resistência à entrada das nossas tropas no Cantanhez. 

Esta manobra teve pleno êxito. O PAIGC foi surpreendido com a entrada das nossas tropas em Cadique [CCAÇ 4540/72, em 1/7/73, rendida em 22/7 pela 1ª C/BCAÇ 4514/72 mas só regressou a Bissau em 17/8]  e Caboxanque,  não oferecendo qualquer resistência nos primeiros dias.

 A Op Grande Empresa foi muito bem descrita no livro “A Última Missão”,  do sr. cor pqdt Moura Calheiros. Como tive oportunidade de lhe dizer na altura da publicação:

“A sua narrativa permite ao leitor ter uma visão mais abrangente da guerra na Guiné e, ao mesmo tempo, navegar consigo no seu PCA, progredir com os seus bigrupos nas missões mais arriscadas, partilhar a angústia das decisões mais difíceis, confrontar-se com a orientação estratégica do Comando-Chefe, conhecer a atuação da guerrilha, viver a vida de um militar naqueles duros tempos e cumprir a nobre missão de resgate dos militares portugueses falecidos e sepultados na Guiné. 

"Ao ler as páginas deste seu livro revejo e identifico pessoas com quem partilhei uma parte importante da minha vida e situações em que a minha companhia esteve também envolvida e que constituem pedaços da história dos paraquedistas, das forças armadas portuguesas e do nosso país.”

Recomendo vivamente a leitura deste livro a quem ainda não o fez porque nele revemos, cada um de nós, ex-combatentes, uma parte da nossa história. Cerca de seis meses depois,  e em resultado da Op Grande Empresa,  existiam 7 novos aquartelamentos
 [no Cantanhez] :

  • Cadique,
  • Caboxanque,
  • Cafal,
  • Cafine,
  • Jemberem,
  • Chugué
  • e Cobumba.

O COP 4, comandado pelo sr. ten-cor pqdt Araújo e Sá, comandante do BCP 12, coadjuvado pelo seu segundo comandante e oficial de operações, maj pqdt Moura Calheiros,  foi a unidade operacional responsável pela operação.

Mas fiz esta longa introdução para abordar o tema do Natal.

Os quatro dias que mediaram desde a nossa entrada em Caboxanque até ao Natal de 1972, foram preenchidos em ciclópicas tarefas de instalação da companhia, segurança no perímetro defensivo e reconhecimento da zona operacional.

O perímetro tinha cerca de 3,5 km  (Fotos  nº 1 e 2) e só foi possível garantir a segurança de Caboxanque instalando os grupos de combate e cada uma das suas secções ao longo da linha de defesa, ficando a CCav 8352 instalada em metade do perímetro virado a norte e a CCaç 4541 na metade virada a sul. 

Instalados em valas cavadas em contrarrelógio, sem arame farpado e apenas separados da mata do Cantanhez por um largo espaço que as maquinas da engenharia terraplanaram, com a ração de combate a alimentar a nossa fome, a noite escura a servir de cobertor e a angústia de podermos ser surpreendidos pelo PAIGC nessa nossa tão frágil posição, assim se encontravam os militares sob meu comando, carregando sob os meus ombros a enorme responsabilidade do que lhes pudesse acontecer naquelas difíceis circunstâncias.

No dia de Natal a companhia estava dispersa pelo perímetro de Caboxanque, um grupo de combate tinha saído com um bigrupo paraquedista, em patrulhamento, e em Cufar ainda permaneciam alguns militares da companhia, guardando todo o material que lá tinha ficado. 

Sem meios frio a funcionar e portanto sem géneros frescos,  as refeições limitaram-se às rações de combate e a uma sopa improvisada com o pouco que diariamente se trazia de Cufar.


Foto nº 3
Estes foram dias muito difíceis para todos. Numa fotografia que aqui junto (Foto nº 3)  podem verificar como eram feitas as distribuições das refeições ao longo do perímetro. Quando o Unimog que fazia este serviço chegava junto da última secção já a refeição que transportava estava fria.

Um ano antes, no 
Natal de 1971, estava em Angola, nos Dembos, na sede do BCAÇ 3840 sediado em Zemba e na escala de serviço coube-me ser o oficial de dia. (...)

Natal de 1973 foi passado em Cadique para onde a CCav 8352 tinha sido enviada, por um mês, no âmbito da Op Estrela Telúrica que envolveu entre outras forças o Batalhão de Comandos. (Vd. o que escreveu, no seu "Diário da Guiné", o nosso camarada António Graça de Abreu, então em Cufar, no CAOP1).

 Instalados em condições muito precárias, sempre com grupos de combate em acção, principalmente junto à estrada Jemberem – Cadique, este foi o terceiro e o nosso pior Natal em guerra.

Dois dias antes do Natal um grupo de combate da minha companhia e outro da companhia de Cadique foram emboscados quando vinham render outros 2 grupos de combate da CCav 8352 que eu naquele dia comandava. 

Em resultado da emboscada houve mortos e feridos entre os militares da companhia de Cadique.

A moral do pessoal de Cadique estava a um nível muito baixo e assistimos a alguns actos de desespero, como a recusa a sair para operações ou tentativas de acionar uma granada defensiva junto do comando. (...)

(Seleção, revisão / fixação de texto,  parênteses retos, título: LG)


____________

Notas do editor:
 
(*) 25 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14080: O meu Natal no mato (42): 1971, em Zemba (Angola); 1972, em Caboxanque; 1973, em Cadique (Rui Pedro Silva, ex- cap mil, CCAV 8352, Cantanhez, 1972/74)

(**) Último poste da série > 5 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26236: Operação Grande Empresa, a reocupação do Cantanhez e a criação do COP 4, a partir de 12 de dezembro de 1972 - Parte II: O BCP 12, o "112" do Com-Chefe

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26228: Operação Grande Empresa, a reocupação do Cantanhez e a criação do COP 4, a partir de 12 de dezembro de 1972 - Parte I: O que diz a CECA



Guiné > Região de Tombali > Rio Cumbijã > Proximidades de Caboxanque (?) > Op Grande Empresa (que começou em 11 e 12 de dezembro de 1972) > LDM > Imagens do 1º cabo apontador da HK21, Victor Tavares, CCP 121 / BCP 12, ao centro.

Fotos (e legenda): © Victor  Tavares (2022).Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. Há dois anos publiquei o poste P23910 (*), no dia a seguir ao Natal... Justamente sobre a reocupção do Cantanhez, em finais de 1972, seis anos depois de ter sido proclamada pelo PAIGC como "área libertada"... 

E aproveitei para usar estas duas fotos do álbum do nosso grande paraquedista, da CCP 121 / BCP12, o ex-1º cabo Victor  Tavares, o homem da HK21 e comentar, com a bonomia, a candura e  o pacifismo próprios da quadra natalícia, essa Op Grande Empresa em que ele e os seus camaradas do BCP 12 estiveram empenhados, bem como outras unidades, quer da Marinha quer do Exército... O que lhe escrevi, acho que merece ser relembrado, agora, a escassas três semanas do Natal de 2024 (mais um, há dois mil anos, sem paz na terra).

"Victor, há natais que nunca mais se esquecem. E menos ainda as guerras por onde andámos.  Em março de 2008 tive ocasião de conhecer o que restava do Cantanhez do teu tempo. Um verdadeiro inferno verde. Deslumbrante mas onde ainda havia marcas de guerra. Tudo nos falavava da guerra que por ali passara, há 40 an0s, mesmo no mais recôndito da floresta onde se escondiam os irãs dos nalus... 

"O silêncio da floresta não conseguia abafar os muitos anos de guerra e as bombas que lá foram largadas, incluindo as de napalm... 

"A Op Grande Empresa foi um duríssimo golpe para o PAIGC e o orgulho de Amílcar Cabral.  Caía por terra o último dos mitos, o dos dois terços de território libertado... 

"Doravante, o PAIGC iria sobretudo refugiar-se nos santuários para lá das fronteiras, na Guiné-Conacri e no Senegal, onde poderia mais facilmente usar as armas pesadas e os camiões russos.

"É claro que neste tipo de território, de extensa floresta-galeria, cruzada por míríades de cursos de água, não há áreas controladas nem libertadas... Mas a resposta do PAIGC foi a do costume: fugir para se reagrupar... A resistência das suas tropas foi fraca, não foi capaz sequer de defender a sua população... 

"Mas também é verdade que Spínola estava a gastar os seus últimos cartuchos... E um mês depois Amílcar Cabral seria abatido como um cão pelos seus homens...  (A mando de quem ?  Dos seus inimigos, internos e externos). E três meses depois, em 25 de março de 1973, há um  'strela', vitorioso, apontado ao coração da nossa Força Aérea.

 
Victor Tavares (ex-1º cabo pqdt,
apontador de HK21
CCP 121/ BCP 12, BA 12,
Bissalanca, 1972/74;
natural de Águeda,
é membro da Tabanca Grande
desde 6/10/2006)
"E tudo isto, para quê, Victor? Nada disto valeu a pena, incluindo o sacrifício inútil
de
 milhares de jovens combatentes de ambos os lados, das dezenas de milhares de mulheres, crianças e velhos da população civil, afinal as grandes vítimas do conflito... 

"Nada, de resto, que tirasse o sono ao Amílcar Cabral ou ao Sékou Touré,  ou ao Spínola ou ao Marcello Caetano, para não falar dos donos do mundo bipolarizado, a ex-URSS e os EUA, o Nixon e o Brezhnev, respetivamente.

"No que nos dizia respeito mais diretamente, Spínola estava já numa relação de divórcio litigioso com o chefe do Governo... Este por sua vez exigia que o exército continuasse a lutar na Guiné com os escassos meios que de dispunha...E até já admitia a sua derrota militar, mas o mais importante era não hipotecar, do ponto de vista jurídico e político, as conmdições a continuação da   defesa das 'joias da coroa', Angola e Moçambique... Sim, por que o resto eram 'peanuts'...

"Entende isto, Victor, como um 'devaneio de paz natalícia', e que não pretende de modo algum pôr em causa a qualidade excecional da tua subunidade (CCP 121) e da sua unidade (BCP 12) nem muito menos o grande combatente, 
de corpo inteiro, de grande coragem e estofo moral que tu foste." (...)


II. Dois anos depois, está na altura de conhecer, em mais detalhe, os planos que, os nossos "maiores", desenharam para a Op Grande Empresa... Voltaremos a falar dela...E. com graça, da maneira como um trio, Spínola e dois dos seus adjuntos, "cozinharam a coisa"... 

Um deles é membro da Tabanca Grande...E quis partilhar comigo, já por mais de uma vez, 
esse "segredo" (que já não de Estado)... 
(Refiro-me ao cor inf Mário Arada Pinheiro 
a quem já pedi autorização para publicar essa conversa, "top secret", que teve com o Spínola, o major Baptista, chefe da Repartição de Operações; era então, o major Pinheiro o comandante de 13 mil tropas africanas...).

De qualquer modo, importa sublinhar qiue a Op Grande Empresa, que se arrastou +por mais de ,meio ano (12Dez / 07Jul73), foi  "uma das mais complexas e difíceis travadas em qualquer dos três TO africanos, pelas Forças Armadas de Portugal" (...), face  à envergadura dos meios humanos e materiais necessários e empregues, oriundos do Exército, da FAP e da Marinha.(diz-se npo sítio da História dss Tropas Paraquedistas Portuguesdas). 
 
Foram empenhadas:

  • como forças de intervenção, três CCP/BCP 12 e o DFE 1 (Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 1), depois substituído pelo DFE 12; 
  • como forças de quadrícula, três Companhias de Infantaria, uma de Cavalaria, três Pelotões de Artilharia e uma Companhia de Engenharia; 
  • como força de apoio atuou um CFT (Cmd de Força Tarefa/Marinha), com duas LDG (Lancha de Desembarque Grande), quatro LDM (Lancha de Desembarque Média), uma LFG (Lancha de Fiscalização Grande), duas LFP (Lancha de Fiscalização Pequena) e, a pedido do Cmdt da operação à FAP, os indispensáveis e disponíveis meios aéreos. 

"O objetivo principal foi a reocupação da região do Cantanhez, no sul da Guiné, a qual há muito tinha sido abandonada, decorrente da retração do dispositivo militar e, como consequência, livremente ocupado pelo PAIGC, onde criara uma embrionária estrutura política e administrativa, apoiada por relevantes forças de guerrilheiros. 

"O difícil objetivo foi atingido, atuando-se em duas vertentes, a operacional através de uma intensa e permanente atividade em toda a zona, que conduziu à desarticulação da dispositivo IN, e outra vertente mais estrutural, tendo sido implantados rapidamente quatro aquartelamentos para as NT, depois mais um outro; concomitantemente foram concentradas as populações da área em aldeamentos de muito boa qualidade, construídos para o efeito, com mão de obra dos próprios e material fornecido, tudo sob orientação das NT. 

"As condições de vida asseguradas às populações, nomeadamente médico-sanitárias, e as ações psicológicas exercidas sobre as mesmas na região, afetaram severamente as forças adversas que, consequentemente, se viram privadas do apoio da população, mormente das colheiras do arroz das produtivas bolanhas. 

"Em cerca de quatro meses foi contruída também uma estrada alcatroada, com cerca de 13 Km de extensão, ligando Cadique a Jemberém, desmatando-se para tal uma zona onde apenas havia uma picada que, na sua maior parte e devido à altura da vegetação, quem nela circulava não via o céu."






Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Península de Cubucaré > Cantanhez > Cananima > 9 de Dezembro de 2009 > c. 18h > Imagens da comunidade da aldeia piscatória de Cananima, na margem direita do Rio Cacine, frente a Cacine.

Fotos (e legenda): © João Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Operação "Grande Empresa" - Parte I


A Directiva n" 19/72 de 29Nov do Comandante-Chefe tem de assunto a "Criação do COP 4". 

Transcrevem-se os primeiros quatro pontos:

"1. No quadro da manobra de contra-subversão a conduzir de acordo com a Directiva para a época seca de 1972-73, a execução de reordenamentos nas áreas de Caboxanque, Cadique e Cafine, para recuperação das populações da região do Cantanhez, é uma das concretizações de maior alcance do esforço da manobra socioeconómica que se pretende desenvolver no Sul da Província.

2. Considerando:

- que o lN pode vir a empenhar elevado potencial na região do Cantanhez, para obstar à execução daqueles reordenamentos;

- que o Sector S3 não tem capacidade de exercício de comando para o cumprimento desta missão específica, face à missão que atualmente já lhe está cometida;

determino a criação do COP 4 sob o comando do tenente-coronel Pqdt Sílvio Araújo e Sá, apoiado pelo Cmd/BCP 12.

3. O COP 4 fica na dependência directa do CCFAG, sendo-lhe atribuída a seguinte missão, meios e ZA:

a. Missão

- implanta destacamentos militares nas áreas de Caboxanque, Cadique e Cafine e desenvolve imediatamente e com a maior intensidade os trabalhos de construção de reordenamentos nas referidas áreas;

- recupera as populações sob controlo do lN e cria as condições psicológicas que permitam a aceitação voluntária dos reordenamentos;

- desenvolve adequada actividade militar em ordem a garantir a segurança das populações, trabalhos de reordenamento e meios materiais;

- limita a iniciativa militar ln na região de Cantanhez por actuação sobre os seus dispositivo militar, aparelho militar de controlo e segurança das populações e infraestrutura político-administrativa existentes na área;

- desenvolve permanente ação psicológica sobre as populações de modo a que aceitem a presença das NF, colaborem na construção dos reordenamentos e, progressivamente, adiram ao programa de promoção socioeconómica em curso na Província.

b. Meios

- 2 CCP do BCP 12

- 2 DFE (1 Destacamento a atribuir posteriormente)

- CCaç 6

- CCaç 4540/72

- CCaç 4541/72

- CCav 8352/72

- Destacamento de Cabedú

- 1 Pel Art 14 cm (T) a 2 Sec BP.

c.ZA

  • Foz do R. Cumbijã, curso do R. Cumbijã até Guileje 3 A5-I5,
  • R. Demba Chiudo, Guileje 2 G3-45, Guileje 2 F7-23, R. Dideregabi,
  • R. Cacine até à foz.

4. Atribuo alta prioridade à missão do COP 4. Consequentemente, impõe-se desde já iniciar com maior intensidade os trabalhos que permitam a instalação dos destacamentos e a execução dos reordenamentos de Caboxanque, Cadique e Cafine que, em linhas gerais, se deverá processar nas seguintes fases:

a. 1ª Fase - Preparação (desde já e até 08Dez72)

(1) Realização de ações ou operações na região do Cantanhez ou de Catió com a finalidade de aniquilar o ln e criar condições psicológicas que facilitem a aceitação por parte das populações dos futuros reordenamentos.

(2) Preparação das Unidades (pessoal e material) para a execução da 2ª. fase e transporte para Cufar dos materiais considerados indispensáveis.

b. 2ª Fase - Implantação (de 08 a 16Dez72)

(1) Transporte e desembarque das forças responsáveis pela implantação dos destacamentos e do material necessário, atendendo ao seguinte:

- Os destacamentos de Cadique e Caboxanque devem ser estabelecidos simultaneamente ou então apenas com um dia de intervalo, mas neste caso o de Cadique tem prioridade.

- Não devem concentrar-se simultaneamente em Cufar efetivos superiores a 1 Comp, além dos atualmente lá existentes.

(2) Desenvolvimento da atividade militar que garanta a necessária segurança à implantação dos destacamentos e à recuperação das populações.

c. 3ª Fase - Consolidação ( a partir de 16Dez72)

(1) Consolidação da ocupação militar e desenvolvimento dos trabalhos de reordenamento.

(2) Desenvolvimento de actividade operacional em proveito da segurança dos destacamentos e populações recuperadas. [... ]"

• Para cumprimento da Directiva n° 19/72, o COP 4, com sede em Cufar, integrando o subsector de Bedanda e a área do Destacamento de Cabedú, ambos transferidos do BCaç 4510/72, teve início em 12Dez72 e a extinção em 02Ju173 .

• Para concretizar a missão, foi decidido executar a Operação "Grande Empresa" de cujo Plano de Operações, elaborado pelo Comandante do COP 4 e datado de 01Dez72, se reproduzem as "Situação", "Missão" e "Execução".

1. Situação

a. Forças Inimigas

Anexo B (Informações) (omitida)

b. Forças Amigas

(1) CDMG

- Realiza os transportes de pessoal e abastecimentos necessários, em coordenação com o CTIG, em ordem ao cumprimento da missão.

- Atribui permanentemente 1 LDM para transportes de material e pessoal.

- Garante o apoio administrativo - logístico às suas Unidades.

(2) CZACVG

- Atribui diariamente 

  • 1 "DO-27" (DCON- TMAN) , 
  • 2 "T-6" (ATAP) 
  • e 1 "ALL III" (TMAN/TEVC) 
para apoio de fogo, ligação entre os destacamentos, e evacuações, e, quando necessário, um meio aéreo para exercício de comando e PCV

- Atribui os meios aéreos necessários à execução de operações, com:

  •  "FIAT G-91" ATAP
  • "T-6" ATAP
  • "ALL III" TMAN/TASS
  • "ALL III" ATAP
  • "DO-27" DCON

- Executa e atribui meios aéreos para intenso reconhecimento da ZA, em ordem à execução do esforço e transporte de manobra em exploração imediata de informações.

- Garante o apoio administrativo-logístico das CCP.

(3) CTIG

- Fornece os meios e serviços necessários ao apoio administrativo- logístico das Unidades do Exército, à implantação dos destacamentos, e à construção dos reordenamentos.

- Liga-se com o CDMG para efeito de transporte dos meios e serviços necessários.

(4) QG/CCFAG

- Fornece uma equipa que assegura diretamente e em permanência o suporte psicológico do cumprimento da missão, considerando como finalidade primordial desta missão a recuperação das populações do Cantanhez.

- Garante o apoio de caráter técnico e logístico aos trabalhos de construção dos reordenamentos, dentro da sua esfera de ação.

(5) BCAÇ 4510/72

- Fornece ao COP4 todo o apoio, em especial em Cufar, no que respeita a instalações de pessoal e material, e ao exercício do Comando.

- Garante a segurança dos meios aéreos e do pessoal e material desembarcado em Cufar.

- Garante o apoio administrativo-logístico do destacamento de Cabedú.

(6) COE

- Colabora na interdição das zonas de passagem mais frequentes do ln, lançando campos de minas quando tal lhe for solicitado pelo comando do COP 4.

2. Missão

- Implantar destacamentos militares nas áreas de Caboxanque, Cadique e Cafine e desenvolver imediatamente e maior intensidade, os trabalhos de construção de reordenamentos nas referidas áreas.

- Recuperar as populações sob controlo do ln e cria as condições psicológicas que permitam a aceitação voluntária dos reordenamentos.

- Desenvolver adequada atividade militar em ordem a garantir a segurança das populações, trabalhos de reordenação e meios materiais. 

- Limitar a iniciativa militar lN na região do Cantanhez por atuação sobre o dispositivo militar, aparelho militar de controlo e segurança das populações e infraestrutura político-administrativa existente na área.

- Desenvolver permanente acção psicológica sobre as populações, de modo a que aceitem a presença das NT, colaborem na construção dos reordenamentos, e, progressivamente, adiram ao programa de promoção socioeconómica em curso na Província.

3. Execução

a. Conceito da Operação

- Construir quatro Agrupamentos, com a missão específica e particular:

- Agrupamento de Forças de Intervenção (Agrup I) - Assegurar a proteção afastada dos reordenamentos, executando ações ofensivas sobre áreas fulcrais, e interdizer ao ln as "cambanças" tradicionais.

- Agrupamentos de Reordenamento (Agrup A, B e C) - Efetuam os reordenamentos em ordem ao cumprimento da missão, e as- . seguram a sua protecção imediata e próxima.

- Atribuir aos Agrupamentos de reordenamento, a organização e funcionamento das missões específicas relativas a:

- Segurança imediata e próxima dos trabalhos de cada reordenamento.

- Organização e controlo do trabalho de cada reordenamento.

- Instalação e segurança do pessoal e dos estacionamentos temporários.

- Exercer intensa ação psicológica, procurando recuperar a população da ZA.

- Atribuir a cada Agrupamento de reordenamento, um sector de responsabilidade
para manutenção da actividade normal de rotina, em ordem a garantir uma ação efetiva e contínua na segurança próxima dos trabalhos de reordenamento, ou a ela ligada.

- Atribuir à CCaç 6 um sector de responsabilidade para manutenção da atividade normal de rotina, em ordem a contribuir para a segurança afastada dos trabalhos de reordenamento.

- Com o Agrup das Forças de Intervenção, executar ações por helitransporte ou por desembarque em meios navais, nas Zonas que possam afetar a segurança dos trabalhos de reordenamento.

- Prever a alteração das Zonas de ação dos Agrupamentos, assim como a articulação das forças, de acordo com a evolução e adiantamento dos trabalhos, e a situação na ZA.

- Anexo C (Zona de acção dos Agrupamentos) (omitido)

b. Agrupamento das Forças de Intervenção

(1) CCP 122

- Articula-se a 2 Agrupamentos a 2 Grupos de Combate.

- Após helicolocação em D-l, de um dos seus Agrupamentos na Zona x e do outro na Zona y, garante a segurança afastada das Zonas ALFA e BRAVO.

- Em D+ 1 é helirecuperada para Cufar, onde fica à ordem do Comandante do COP 4 para intervenção.

- Após helicolocação em D+4 na Zona 2, garante a seguranç afastada da Zona CHARLIE.

- Em D+5 é helirecuperada para Cufar.

- A partir de D+5 fica à ordem do Comando do COP 4 para o desempenho de missões de intervenção na sua ZA.

(2) DFE 1 (-)

- A partir de D+4 faz a interdição, em permanência, da "cambança" tradicional do ln entre Darsalame e a Ilha do Como.

c. Agrupamentos de Reordenamento

(1) Agrupamento ALFA

(a) 2 GComb/CCP 121 (-)

- Após ser helicolocada em D, em Caboxanque, contacta e controla a população, e garante a segurança imediata do desembarque da CCaç 4541/72.

- Findo o desembarque da CCaç 4541/72, passa a garantir a segurança próxima do Agrupamento em íntima coordenação com aquela.

(b) CCaç 4541/72

- Após o seu desembarque em D, em Caboxanque, procede à segurança imediata do ponto de desembarque, e colabora no desembarque do material transportado. Monta a segurança imediata do estacionamento provisório, em coordenação com a CCP 121 (-).

- Com apoio do COE, coloca em D, um campo de minas na região de Bedanda C 1; em data a indicar.

- Procede aos trabalhos de consolidação da sua defesa imediata, e instalação e segurança do pessoal e dos estacionamentos temporários.

- Procede à organização e controlo dos trabalhos de reordenamento.

- Recupera a população da sua ZA, mantendo com a mesma as melhores relações; apoia-a na medida do possível, e desenvolve adequada acção psicológica em conformidade com as instruções que lhe forem dadas.

- Mantém íntima ligação com a CCP 121 (-).

(2) Agrupamento BRAVO

(a) CCP 121 (-)

- Após ser helicolocada em D em Cadique, contacta e controla a população e garante a segurança imediata do desembarque da CCaç 4540/72.

- Findo o desembarque da CCaç 4540/72, passa a garantir a segurança próxima do Agrupamento em íntima coordenação com aquela.


(b) CCaç 4540/72

- Após o seu desembarque em D, em Cadique, procede à segurança imediata do seu estacionamento provisório, em coordenação com a CCP 121 (-).

- Procede aos trabalhos de consolidação da sua defesa imediata, e instalação e segurança do pessoal e dos estacionamentos temporários.

- Procede à organização e controlo dos trabalhos de reordenamento.

- Recupera a população da sua ZA, mantendo com a mesma as melhores relações; apoia-a na medida do possível, e desenvolve adequada acção psicológica em conformidade com as instruções especiais que forem dadas.

- Mantém íntima ligação com a CCP 121 (-).

(3) Agrupamento CHARLIE

(a) DFE 1 (-)

- Após ser helicolocado em D+4 em Cafine, contacta e controla a população e garante a segurança imediata do desembarque da CCav 8352/72, após o que colabora com esta na defesa imediata do estacionamento, em íntima coordenação
com aquela companhia.

(b) CCav 8352/72

- Após o seu desembarque em D+4 em Cafine, procede à segurança imediata do ponto de desembarque, e colabora no desembarque do material transportado. Monta a segurança imediata do estacionamento provisório, em coordenação
com o DFE 1 (-).

- Procede aos trabalhos de consolidação da sua defesa imediata, e instalação e segurança do pessoal em estacionamento temporários.

- Procede à organização e controlo dos trabalhos de reordenamento.

- Recupera a população da sua ZA, mantendo com ela as melhores relações; apoia-a na medida do possível, e desenvolve adequada acção psicológica em conformidade
com as instruções especiais que lhe forem dadas.

- Mantém íntima ligação com o DFE 1 (-).

d. CCaç 6

- De D-l a D+ 1 bate a região de Cura- Braia em ordem a contribuir para a segurança afastada da Zona ALFA.

- A partir de D+ 1 efectua patrulhamentos da sua ZA, em ordem a prosseguir a mesma finalidade.

- Apoia o 17° Pel Art.

- Desempenhará missões indicadas pelo comando do COP 4 em ordem ao cumprimento de missão.

e. Destacamento de CABEDÚ

- Mantém apoio de comunicações, e logístico quando ordenado pelo Comando do COP 4.

- Apoia o 5° Pel Art.

f. Artilharia

(1) 17° PelArt (14 cm)

- Executa AID à ordem do Comando do COP 4, do PCV, ou a pedido das forças empenhadas, em operações dentro da sua ZA.

- Executa fogos noturnos de flagelação na sua ZA, à ordem do comando do COP 4.

(2) Pel Art (Eventual-Cufar) (14 cm)

- Executa AlD à ordem do Comando COP 4, do PCV, ou a pedido das forças empenhadas, em operações dentro da sua ZA.

- Executa fogos nocturnos de flagelação na sua ZA, à ordem do Comando do COP 4.

(3) 5° Pel Art

- ExecutaAID à ordem do Comando COP 4, do PCV, ou a pedido das forças empenhadas, em operações dentro da sua ZA.

- Executa fogos nocturnos de flagelação na sua ZA, à ordem do Comando do COP4. [... ]"

•A instalação no terreno teve início em 12Dez através de uma operação
 [1] .

A missão atribuída ao Cmdt do COP4 pelo Cmdt-Chefe através da Directiva n.º 19/72 de 22 de Nov foi concretizada conforme se comprova:

"As Companhias de Caçadores e de Cavalaria construíam os seus aquartelamentos em Cadique, Caboxanque, Cafal Balanta (e em Jemberém, mais tarde), cuja segurança imediata e próxima garantiam. Controlavam e apoiavam a população. Apoiavam e protegiam a execução dos reordenamentos e  faziam a protecção imediata e próxima à construção da estrada.

As três Companhias de Pára-quedistas e o Destacamento de Fuzileiros
Especiais actuavam ofensivamente sobre os grupos armados inimigos onde
eles fossem detectados, garantindo a segurança em toda a área a fim de permitirem a recuperação das populações e o seu reordenamento, bem como a construção da estrada Cadique-Jemberém. ,

A CMI- Companhia de Material e Infraestruturas do BCP 12 faria o apoio logístico imediato a todo o COP 4.

O Destacamento de Engenharia construiria a estrada Cadique-Jemberém
e apoiaria todas as restantes obras a realizar na Zona de Acção.

A Marinha asseguraria os transportes de pessoal e os reabastecimentos por via marítima e fluvial. Para este efeito, em 07 de Dezembro de 1972, o Comando da Defesa Marítima da Guiné criou uma Força Tarefa exclusivamente
para esta operação, o CTG6.

A Força Aérea asseguraria os reconhecimentos visuais, os transportes de manobra, as evacuações sanitárias e os apoios de fogo aéreos.

Em Janeiro, após as bem sucedidas instalações das Unidades que iam ocupar os novos aquartelamentos no Cantanhez, o dispositivo militar português na região ficou como segue:

  • Em Caboxanque [2] , a CCaç 4541/72 e a CCav 8352/72 ocupando as instalações e a CCP 122 fazendo a segurança afastada. O Agrupamento era comandado pelo Capitão de Artilharia Nelson de Matos.
  • Em Cadique [2] , a CCaç 4540/72 ocupando as instalações e a CCP 121 fazendo a segurança afastada. O Agrupamento era comandado pelo Major de Infantaria Carlos Gordalina.
  • Em Cafal   [3], a CCaç 3565 ocupando as instalações e o DFE 1 fazendo a segurança afastada.

 
- Em Bissau estava a CCP 123, em reserva, com uma prontidão de 15 minutos.

Começaram então as difíceis, melindrosas e persistentes acções de captação da confiança das populações, numa região que não via tropas portuguesas  há anos e onde o PAIGC se instalara em força, controlando todos os aspectos do  quotidiano das ditas populações. 

Durante os primeiros meses de 1973, paulatinamente, [... ] Caboxanque, Cadique, Cafal- e mais tarde Jemberém [4] - tornaram-se centros populacionais onde eram efectuadas muitas trocas comerciais, consequência da visita diária de muitas pessoas que ali acorriam vindas de aldeamentos vizinhos. 

De acordo com os Relatórios Periódicos de Informações do Comando-Chefe, naquele período, Caboxanque era a seguir a Tite e Pirada a localidade que, em toda a Guiné, tinha maior afluência de população vinda do exterior, geralmente para efectuarem trocas comerciais [... ]". [5]

• Integradas na "Grande Empresa" foram realizadas subsequentes operações
destacando-se entre outras:

 - "Cavalo Alado" (17 e 18Dez72) e "Dragão Bravo" (28 a 30Dez72) constantes da actividade operacional deste Capítulo);

- "Tamarú" (OlJan73) e "Gato Espantado" (30 e 31Jan73) constantes da actividade operacional do Capítulo III; 

- "Tigre Poderoso" do BCP 12 onde foi morto em combate, a 01Mai73, o Comandante de bigrupo que era simultaneamente Comandante Militar da área do Cantanhez"  [6].



Foto (CECA, 2015, pág. 235):  Operação "Grande Empresa": 
primeira missa em Caboxanque

_____________

Notas da CECA:

[1] Operação "Grande Empresa" - Actividade Operacional - 2° Semestre deste Capítulo.

 [2]    Subsectores criados em 12Dez72.

 [3]    Subsector criado em 10Jan73 e a partir de 13Mar73, com uma subunidade de reforço em Cafine, Chugé e Cobumba, ambas em 7Abr73.

 [4 ]Subsector criado em 20Abr73.

 [5] CALHEIROS, José de Moura, A Última Missão, Editora Caminhos Romanos, Porto, 2010, p.336

 [6] Relatório Op. N° 15/73, 6° período, do BCP 12. pp. 225/235
____________

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 225-235 (Com a devida vénia...).

(Revisão / fixação de texto, negritos: LG)

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 26 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23919: Facebook... ando (70): A Op Grande Empresa (reocupação do mítico Cantanhez) foi há 50 anos (Victor Tavares, ex-1º cabo ap MG 42, CCP 121/BCP 12, 1972/74)



quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26073: Elementos para a história do Pel Caç Nat 51 - Parte X: 43 anos depois, em casa do ex-mil José Daniel Portela Rosa (1946-2021), com a antiga enfemeira paraquedista Giselda e o ex-alf mil José Ribeiro (Armando Faria, ex-fur mil inf MA, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74)



Foto nº 1


Foto nº 2 


Foto nº 3

Sintra   > Casa do Portela Rosa > 29 de julho de 2015 >  Um reencontro emocionante ao fim de 43 anos: o ex-alf mil José Daniel Portela Rosa (Lisboa, 1946 - Sintra, 2021)  (Foto nº 3), com a ex-enfermeira paraquedista Giselda Antunes (Pessoa, pelo casamento) que o evacuou (de Cufar para o HM 241) (foto nº 1) e com o ex-alf mil José Albino da Silva Ribeiro da CCAÇ 4740  (Cufar, 1972/73), ambos feridos com gravidade no acionamento de uma mina A/C, em 29 de julho de 1972.

Fotos (e legendas): © Armando Faria (2024). Todos os direitos reservados 
[Edição e lendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Armando Faria, hoje e ontem


1. Mensagem do nosso tabanqueiro Armando Faria (ex-Fur Mil Inf Minas e Armadilhas, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74) (membro da Tabanca Grande desde 10 de maio de 2010;  tem 27 referências no nosso blogue; técnico de seguros reformado, vive em Vila Nova de Gaia; tem página no Facebook):


Data - 19 out 2024,  18:52 

Assunto - Pel Caç Nat 51

Boa tarde, camaradas.

Aqui está um assunto, Pel Nat 51, pessoal com quem convivi em Cufar.

Fiz parte da CCaÇ 4740, com origem no B.I.I. 17, Angra do Heroísmo, tendo chegado a Cufar a 22 julho de 1972.

Fomos render a CCaç 2797 e com eles estavam o Pel Caç Nat. 51, o Pel Caç Nat. 67 e o Pel Canhões S/R 3079.

A 29 de julho, numa saída de reconhecimento, sairam 2 Pelotões da CCaç.4740 e o Pel Caç Nat .51.

Foi nesse fatídico dia que o então alferes José Daniel Portela Rosa teve o acidente. Assim o descrevo no meu livro de memórias:

“Ano de 1972

A 29 de julho, trágico dia para todos nós, três oficiais, dois da C.CAÇ 4740 e um do Pelotão Caçadores de Nativos 51, são gravemente atingidos pelo acionamento de uma mina.

Em progressão de Cufar Novo à mata de Boche Mende-Camaiupa, três pelotões de combate o segundo e o terceiro da CCAÇ .4740 e o Pel Caç Nat 51, naquele que seria um reconhecimento de zona, foi acionada uma mina antipessoal pelo comandante do Pel Caç Nat 51, alf mil José Daniel Portela Rosa que ficou com uma perna amputada. Foram ainda atingidos com a projeção de estilhaços o alf mil José Lourenço Salvado de Almeida e o al f mil José Albino da Silva Ribeiro da CCAÇ 4740 que ficaram feridos com gravidade.

Foram evacuados os três para o HM2141, Bissau e seguidamente para o HMP, Lisboa.”



Junto aqui 3 fotografias, uma do Portela Rosa, uma o Portela Rosa com o então alferes Ribeiro e outra com a nossa enfermeira Giselda Pessoa.

Foi um encontro emocionante que se deu a 29 de julho de 2015, em casa do Portela Rosa.

Este encontro deveu-se a contactos que fiz para saber quem o acompanhou na evacuação de Cufar a 29 julho de 1972, pois ele não fazia ideia quem foi que o manteve “do lado de cá” nesse dia.

Um abraço a todos os Combatentes de todos os tempos, mas um especial aos de Cufar, aquele abraço do tamanho do nosso Cumbijã.

Cumprimentos,

Armando da Silva Faria

Fur Mil Inf Minas e Armadilhas, CCaç 4740.

https://www.facebook.com/groups/457725750912229

https://www.ccac4740.pt/

__________

Nota do editor:

(*) Último poste da série  > 19 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26057: Elementos para a história do Pel Caç Nat 51 - Parte IX: O cmdt que se seguiu ao Armindo Batata, entre dez70 e jul72, foi o alf mil inf José Daniel Portela Rosa (Lisboa, 1946 - Sintra, 2021)

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25937: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (23): Victor Condeço (1943-2010), o ex-fur mil mec armamento, CCS/BART 1913 (1967/69), que documentou como ninguém o quotidiano da linda vila de Catió - Parte II

 


Guiné > Região de Tombali > Cufar > Foto 7 > Fevereirto de 1968 > Pista de Cufar, a "Bissalanca do Sul": o helicanhão ("Lobo Mau")



Guiné > Região de Tombali > Cufar > Foto 7 > Fevereiro de 1968 > Pista de Cufar topo do lado do aquartelamento (Operação Ciclone I, envolvendo forças pára-quedistas do BCP 12).


Guiné > Região de Tombali > Cufar > CART 1687 (1967/1969) > Setembro de 1967 > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Foto 07 > Interior da messe e bar de Sargentos. O Victor Condeço, de bigode, parece ser o terceiro  da segunda fila, a contar da direita para a esquerda




Guiné > Região de Tombali > Cufar > CART1687 (1967/1969) > Setembro de 1967 > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Foto 07  > Pormenor: interior da messe e bar de Sargentos. O Victor Condeço, de bigode, parece ser o terceiro  da segunda fila, a contar da direita para a esquerda.



Guiné> Região de Tombali > Cufar > CART1687 (1967/1969) > Setembro de 1967 > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Foto 10 > "Outro interior da messe de Sargentos. Vejam-se os cadeirões feitos dos barris do vinho, a necessidade aguçava o engenho".


Guiné> Região de Tombali > Cufar > CART1687 (1967/1969) > Setembro de 1967 > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Foto 10 > Pormenor: "Outro interior da messe de Sargentos."... Na parede, um grafito: "Salta (periquito)..."


Fotos (e legendas): © Victor Condeço (2010).Todos os direitos reservados [Edição e legtendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 



1. São  fotos, selecionadas,  do álbum do nosso querido e saudoso amigo e camarada Victor Condeço (Vitinho, para os amigos de Catió) (1943-2010),  um dos históricos da nossa Tabanca Grande: sentou-se à sombra do nosso poilão em 3/12/2006. 

Esteve na Região de Tombali, em  Catió,  CCS / BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Victor Condeço, ex-fur mil mec armamento.

Era natural do Entroncamento. Infelizmente a morte levou-o cedo, há 14 anos, em 18 de junho de 2010.

Não o conheci pessoalmente Falei com ele, ao telefone, algumas vezes. A última, na véspera do início do seu tratamento no IPO de Lisboa... Começou a ter sintomas da doença que o vitimou, a partir de fevereiro de 2010. Lúcido e corajoso, sabia o que tinha, conforme  mail de 10 de maio, que me enviou... A última vez que falei com ele, foi justamente no início do mês de junho. Estava apreensivo e ansioso, ia começar no dia seguinte o tratamento de radioterapia no IPO... Tarde de mais, infelizmente... 

Era uma homem discreto, afável e prestável.  
Temos dele  6 dezenas de referências no nosso blogue. Achámos, por isso, que estava na altura de revisitar o seu álbum, com belíssimas fotos da linda vila de Catió, e dos arredores (npomeadamente Ganjola e Cufar,  meticulosamente organizadas por áreas temáticas e e devidamente legendadas...  Estão dispersas no nosso blogue.

Um dos seus grandes amigos era o Benito Neves,  ex-fur mil atirador da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), membro da nossa Tabanca Grande desde abril de 2007, natural de Abrantes,  bancário reformado.

As fotos deste poste são relativas a Cufar.

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Nota do editor:

Último poste da série  > 25 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25880: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (22): Victor Condeço (1943-2010), o ex-fur mil mec armamento, CCS/BART 1913 (1967/69), que documentou como ninguém o quotidiano da linda vila de Catió - Parte I