sábado, 26 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7869: Memória dos lugares (145): Bedanda 1972/73 - Filhos da Terra / Filhos da Guerra (2) (António Teixeira)

1. Continuação da apresentação da série de fotografias dedicadas aos Filhos da Guerra*, do nosso camarada António Teixeira (ex-Alf Mil da CCAÇ 3459/BCAÇ 3863 - Teixeira Pinto, e CCAÇ 6 - Bedanda; 1971/73).


BEDANDA 1972/73

FILHOS DA TERRA / FILHOS DA GUERRA (2)










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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 25 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7863: Memória dos lugares (144): Bedanda 1972/73 - Filhos da Terra / Filhos da Guerra (1) (António Teixeira)

Guiné 63/74 - P7868: Notas de leitura (209): A Academia Militar e a Guerra de África (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Fevereiro de 2011:

Queridos amigos,
Um volume da maior utilidade para entender o papel da Academia Militar no decurso da guerra. A estrutura do seminário permitiu obter um leque variado de opiniões, desde o contexto internacional, passando pela análise da sociedade portuguesa e olhar de vários oficiais sobre a evolução dos três teatros de operações.

Um abraço do
Mário



A Academia Militar e a guerra de África

Beja Santos

Em 28 de Maio de 2009 a Academia Militar promoveu um seminário intitulado “A Academia Militar e a Guerra de África”. O acervo documental desde evento deu lugar a uma publicação: “A Academia Militar e a Guerra de África”, edição da Academia Militar e Prefácio Edições, 2010. Sumariam-se algumas das questões tratadas no decurso dos trabalhos.

O Prof. António Telo abordou o enquadramento internacional e a situação política nacional nesse período de 13 anos. Considera ter havido dois momentos fundamentais no decurso do conflito no que diz respeito aos apoios externos para a estratégia seguida por Salazar: no início da década de 60 ocorreu um afastamento em relação à Grã-Bretanha e aos EUA o que foi acompanhado de uma aproximação à França e à RFA; na segunda metade dos anos 60 registou-se uma aproximação à África do Sul e à Rodésia, o regime apostou na construção de uma estratégia comum para a África Austral. O Reino Unido descolonizara de maneira pacífica, aceitou os ventos da História, isto enquanto, ainda no mandato de Eisenhower, se inflectia para uma política de descolonização e tal doutrina acentuou-se com a administração Kennedy. Sem estes apoios, o regime, necessitando de um exigente esforço militar, procurou dois parceiros com interesses na região. Está hoje bem esclarecido porque é que a RFA praticou tão boa vizinhança com o regime de Salazar: tendo enveredado pelo rearmamento próprio, a NATO precisava de dispor de uma retaguarda segura para essa frente da Europa Central, a Espanha não fazia parte da NATO, optou-se por Portugal. A RFA assinou três dezenas de grandes acordos de cooperação com Portugal: base de Beja, o uso de Alverca, modernização da indústria de defesa em Portugal, a espingarda G3, a pistola Walther, as metralhadoras ligeiras passaram a ser fábricas em Braço de Prata e outras unidades, montagem em Portugal do Unimog, aquisição de aviões Do-27, etc., etc. Escreve o historiador: “O que acontece na década de 60 é que Portugal desenvolve duas estratégias nacionais: uma oficial e outra real. Na estratégia oficial, Portugal aposta tudo no conceito de “pátria pluricontinental e multirracial”, o que implica o envolvimento nas três guerras de África e a criação de um mercado de livre circulação do escudo, que abarcava Portugal e as suas colónias. Na estratégia real, Portugal aproxima-se cada vez mais da RFA e da França que eram a locomotiva da CEE, tanto em termos de comércio, como dos financiamentos, dos fluxos técnicos ou humanos”. E de facto a França e a RFA foram os grandes apoios internacionais na primeira fase do esforço das guerras de África. Os problemas vão surgir com o fim da guerra da Argélia e com a viragem política da RFA aproximando-se do Leste. A política diplomática de Salazar, virou-se para outras alternativas: Lisboa apoiou, em 1966, a declaração unilateral da independência da Rodésia branca; assinam-se acordos com a África do Sul, tanto no campo económico como na cooperação militar. Em absoluto sigilo, desenha-se um entendimento estratégico que abarcava toda a África Austral. A África do Sul, a partir de 1967, fornece equipamento militar e intervém em operações, nomeadamente com helicópteros, primeiro, e acções combinadas e a criação de uma força internacional, depois. Quando se chega ao 25 de Abril, a CEE era de longe o maior parceiro de Portugal em termos de comércio e na África Austral estava em curso uma operação que procurava consolidar a supremacia branca em Angola e Moçambique.

Numa comunicação sobre a formação de oficiais entre 1960 – 1974, o coronel Vieira Borges realçou o papel da Academia Militar como escola de formação dos oficiais dos quadros permanente do Exército e da Força Aérea, destacou as preocupações dos diferentes comandantes da Academia nestes períodos, os planos dos cursos e também a formação dos quadros de complemento. A Academia formou entre 1960 e 1974 mais de 1100 oficiais; a formação foi-se adaptando à guerra subversiva.

O coronel David Martelo debruçou-se sobre o recrutamento de oficiais, destaca, através dos números, o desgaste provocado pela guerra e a necessidade de recorrer aos capitães milicianos bem como à formação de oficiais na Escola Central de Sargentos. Analisou com minúcia a controversa legislação de 1973 que fez estalar o descontentamento dos oficiais do quadro com os estímulos aos capitães do QEO e introduziu dinâmica ao chamado movimento dos capitães.

A professora Maria Helena Carreiras procedeu a uma intervenção sobre o papel das mulheres na sociedade portuguesa, durante o período do conflito africano, deteve-se no MNF – Movimento Nacional Feminino, as Madrinhas de Guerras, as enfermeiras pára-quedistas e as mulheres dos militares, tanto na retaguarda como na linha da frente. “Falar da guerra só no masculino é contar apenas uma parte da história”, concluiu.

Num diagnóstico sobre o retrato do militar português, o tenente-general Abel Couto começou por apresentar a evolução dos comportamentos da juventude face ao serviço militar obrigatório. O que ressalta das estatísticas é o crescimento da percentagem dos apurados e a elevada percentagem de faltosos, adiados e voluntários. Traçou o enquadramento do militar na guerra, sobretudo o carácter do soldado e referiu-se aos efectivos e baixas.

Os oradores seguintes referiram-se aos três teatros de operações. O tenente-coronel Pires Nunes deixou bem claro na sua exposição que a situação militar em Angola reduzira a estilhas os três grupos de guerrilheiros. O coronel Matos Gomes, a propósito de Moçambique, referiu detalhadamente as estratégias do general Augusto dos Santos e do general Kaúlza de Arriaga, considerando que a estratégia de Kaúlza se revelou inadequada e incapaz de estabilizar militarmente Moçambique, não contribuindo para a resolução do problema político. O general Manuel Monge, a quem competiu a análise do teatro de operações da Guiné, concluiu a sua intervenção da seguinte maneira: “O general Spínola não aceitou, em 1973, permanecer na Guiné porque quando comunicou ao professor Marcelo Caetano que só uma solução política era possível para a guerra, a resposta dada foi de que era preferível uma derrota militar com honra do que ter que negociar com terroristas. Os militares sabiam o que os políticos de então consideravam “uma derrota militar com honra, pelo modo como as Forças Armadas tinham sido tratadas na Índia. Obviamente que Spínola não podia aceitar isso, foi substituído pelo general Bethencourt Rodrigues. Um grande general foi cumprir uma missão de sacrifício quando já não havia esperança: a Guiné estava perdida. Então os centuriões perceberam que já não era possível defender a Pátria nas fronteiras do Império. Havia que volver à Europa. Foi o que fizemos no 25 de Abril”.

O volume termina com a publicação das conclusões.

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7839: Notas de leitura (208): Antologia Poética da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7867: Projecto Recolha do Arquivo Histórico-Militar: salvaguardar o precioso património documental da guerra colonial (António J. Pereira da Costa)


Sítio A Nossa História, da Liga dos Amigos do Arquivo Histórico-Militar.


1. Mensagem do nosso camarigo António José Pereira da Costa (Cor Art na reserva, na efectividade de serviço, que foi comandante da CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74):


Data: 18 de Janeiro de 2011 21:32
Assunto: Faltam Detalhes


Boa noite, Camarada

Julgo que deveríamos divulgar um pedido a todo o universo tabanqueiro para que não se desfaça das recordações que possa ter da sua passagem pel Guiné.

O projecto "Faltam Detalhes" pretende concentrar no Arquivo Histórico Militar toda informação disponível: fotos (mesmo as mais doidas), slides, mapas, aerogramas, desenhos, esquemas e até documentos oficiais como, por exemplo, relatórios, notas, etc.


Os contactos são:



Arquivo Histórico Militar
Largo dos Caminhos de Ferro, 2
1100-105 Lisboa.


LAAHM - Liga dos Amigos do Arquivo Histórico-Militar
Estrada de Chelas,
Antigo Convento (Anexo) 1949-010 Lisboa

Remessa Livre (grátis)

Remessa livre 8802 EC Cabo Ruivo
1806-960 Lisboa


Linha Verde (grátis): 800 205 938
Fax:218842514
Telefone: 21 884 24 92
Endereços Electrónicos:
projectorecolha@hotmail.com
recolha@anossahistoria.org
URL AHM: http://www.exercito.pt
http://www.anossahistoria.org




 É essencial fazer a História antes que outros escrevam:

Camarada, faz isso por ti, pelos teus filhos e netos, por todos nós!
Faz isso, por ti, por todos nós... Pelas razões que entenderes...
É necessário que nada se perca!
Um Alfa Bravo


António J. Pereira da Costa


2. Projecto Recolha

O Arquivo Histórico Militar [, criado em 1911, na sequência da reforma do Exército,] tem em execução, desde há alguns anos, um Projecto Recolha visando localizar, recolher e guardar espólios documentais particulares com interesse para a história do Exército. 

Agora, um grupo de cidadãos integrando a Liga dos Amigos do AHM (em organização) propôs ao Arquivo lançar uma campanha a nível nacional, de forma a recuperar essa documentação dispersa e muitas vezes em risco de perder-se. O AHM aceitou e apoia com muito entusiasmo o projecto e congratula-se por esta iniciativa de grande valor cultural.

De uma forma geral, a documentação que o AHM possui é documentação oficial, produzida e recebida pelas unidades do Exército. Tem também algumas dezenas de espólios pessoais, entregues por militares dos quadros permanentes. Infelizmente, o Arquivo não possui documentação de oficiais e sargentos milicianos ou soldados, a não ser raros documentos produzidos durante os períodos de campanhas militares – as Invasões Francesas, a I Guerra Mundial e a Guerra Colonial. 

Todos sabemos que um grande número de homens (pode dizer-se uma geração inteira) esteve na Guerra Colonial, nos anos sessenta e setenta do século XX. Calcula-se que tivessem estado nos teatros de operações cerca de 800.000 homens. Muitos destes homens escreveram cartas às suas famílias e receberam as respectivas respostas (normalmente em aerogramas). 



Também fizeram muitas fotografias, slides e mesmo alguns filmes, com os meios que havia na época. Outros escreveram diários, memórias ou simples apontamentos. Podem ter na sua posse também outros documentos, como cartazes, postais, autocolantes, desenhos, documentos oficiais, etc. Podem ainda ter guardado jornais e revistas da época


Toda esta documentação interessa salvaguardar. Estes espólios, assim como outros semelhantes de outras épocas, constituem o objecto do Projecto Recolha.



Durante a I Guerra Mundial foram escritas, aproximadamente, trinta e dois milhões de cartas, das quais restam agora cerca de meia centena à guarda do Arquivo Histórico Militar. Perdeu-se irremediavelmente um canal privilegiado de observação da história dessa época: o contar dos acontecimentos na primeira pessoa. Muitos destes despojos perdem-se nas casas sem espaço e com eles a memória de cada tempo. Pela consciência que temos desse destino e porque faz falta reflectir sobre a nossa identidade, não queremos deixar de estar disponíveis, como nos pertence. Por isso aqui repetimos a mensagem da nossa campanha: “Para que nenhum detalhe importante fique a faltar à nossa História, o Arquivo Histórico Militar precisa da sua ajuda. Faça-nos a doação ou deixe-nos guardar as suas cartas, diários, fotos e filmes sobre Portugal no Século XX. Desde a Monarquia à nossa entrada na CEE, sobre questões militares ou não, preservar o máximo é o grande objectivo. Contrapartidas para si? A certeza de que as suas recordações ficam bem entregues e o orgulho de contribuir para que nada se perca. Contacte-nos pela linha verde 800205938 ou em www.anossahistoria.org 



Guiné 63/74 - P7866: Parabéns a você (221): João Carlos Silva, ex-Cabo Especialista da FAP (Tertúlia / Editores)


PARABÉNS A VOCÊ

26 DE FEVEREIRO DE 2011

JOÃO CARLOS SILVA*

Caro jovem camarada João Carlos, recebe os parabéns da Tabanca Grande.

Aqui estão os Editores (roídos de inveja... ai se nós ainda não tivéssemos 50), em nome de toda a Tertúlia, a desejar-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos.

Que esta data se festeje por muitos anos, tantos que estes velhotes os não consigam contar, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que amas e prezas.

Na hora do brinde, não esqueças os teus camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela tua saúde, juventude e longevidade.
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Notas de CV:

O postal de aniversário é de autoria do nosso camarada Miguel Pessoa, Coronel Pilav Ref da FAP

(*) João Carlos Silva foi Cabo Especialista da FAP e prestou serviço na Base Aérea n.º 6 do Montijo nos anos de 1979/82.

(*) Vd. poste de 26 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5885: Parabéns a você (82): João Carlos Silva, ex-Cabo Especialista da FAP, BA6 (Montijo, 1979/82) (Editores)

Vd. último poste da série de 25 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7858: Parabéns a você (220): Gumerzindo Silva, ex-Soldado Condutor da CART 3331 (Tertúlia / Editores)

Guiné 63/74 - P7865: Operações do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (1): Quadrilha Sagaz, Satecuta, subsector do Xitole, 11-12 de Julho de 1971



1. Excertos do Cap II da História do BART 2917, Bambadinca, 1970/72 - Documento classificado como "reservado" - , segundo versão policopiada gentilmente cedida ao nosso blogue pelo ex-Fur Mil Trms Inf, José Armando Ferreira de Almeida, CCS/ BART 2917, Bambadinca, 1970/72, membro da nossa Tabanca Grande; cotejada igualmente com a versão, em suporte digital, corrigida e melhorada pelo Benjamim Durães (*).

Já aqui publicámos alguns excertos deste documento, nomeadamente com elementos de caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (*)... Hoje damos início a nova série, Operações do BART 2917, com a publicação de um excerto , correspondente às pp. 78-81, e à Op Quadrilha Sagaz, que envolveu forças da CART 2716 (Xitole) e CART 2714 (Mansambo)... 

O objectivo nas NT, com, esta operação que decorreu em 11 e 12 de Julho de 1971, era atingir a antiga tabanca de Satecuta (subsector de Xitole, abaixo de Galo Corubal, na margem direita do Rio Corubal), onde se estimava que o PAIGC tivesse sob o seu controlo cerca de 300 habitantes (p. 42), defendidos por um grupo, comandado por MÁRIO MENDES (p. 44) (Segundo informação do António Duarte, nosso camarigo, lisboeta, furriel miliciano da 3ª terceira geração de quadros metropolitanos da CCAÇ 12, o "Mário Mendes, comandante de bi-grupo na zona do Xime, foi morto numa acção da CCaç 12 no final de 1972: numa deslocação feita para lá de Madina Colhido, foi abatido pelo apontador de HK21 do 4º pelotão"). 

Em 11 de Julho de Julho de 1971, noutro subsector (Xime) do Sector L1,  "um grupo IN não estimado flagelou, durante 25 minutos, da direcção de SSE com CAN S/R, MORT 82 e FOGUETÕES 122 o aquartelamento e a tabanca do XIME, causando um ferido ligeiro à população" (p.78)... (No meu tempo, ainda não havia, no Sector L1,  os Katiusha).

Esta operação acaba também de ser descrita por nosso camarada Jorge Silva, no poste P7843 (**).


[ Fixação / revisão de texto / título: L.G.] 


Mapa (esboço) do Sector L1, ao tempo do BCAÇ 2851 (1968/70), do BART 2917 (1970/72) e da CCAÇ 12 (1969/71)... 

Observações: NT= Nossas Tropas; Badora, Bissari, Corubal, Cuor, Xime = Regulados; RGeba, RCorubal = Rio Geba, Rio Corubal; N, W, S, L= Quatro pontos cardeais: norte, oeste, sul, este; IN= Inimigo; 1 = Um bigrupo (50/60 guerrilheiros); 2 = Dois bigrupos (90/100 guerrilheiros); A/B = 1 grupo de artilharia (morteiro 82, canhão s/r 75 e 82) + 1 grupo especial de bazuqueiros (RGP) (Mangai…).



Guiné > Zona leste >Sector L1 > CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) > Um coluna logística ao Xitole... O pessoal fazendo uma paragem na Ponte dos Fulas, destacamento do Xitole.

Foto: © Arlindo Teixeira Roda (2010) & Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


11 e 12.JULHO.71  > OPERAÇÃO “QUADRILHA SAGAZ”

(DESENROLAR DA ACÇÃO)

- No dia 08.JUL pelas 9,00 horas um Grupo de Combate da CCAÇ 12 saiu de BAMBADINCA para o XITOLE onde chegou através de GALOMARO, pelas 16,00 horas a fim de garantir a defesa do XITOLE e tabancas em A/D na área durante a operação.

- No dia 09.JUL pelas 13,00 horas um Grupo de Combate da CCAÇ 12 saiu de BAMBADINCA para MANSAMBO afim de reforçar a guarnição de MANSAMBO durante a operação garantindo a defesa da povoação e tabancas em A/D da área durante a operação.

- Tal antecedência de reforço, que pode ter denunciado a operação,  foi devida aos apoios aéreos inicialmente concedidos para 10.JUL.71 terem sido cancelados pela mensagem 3131/C de 091645JUL71 (já com as tropas da CCAÇ 12 em movimento) e posteriormente concedidos para 12JUL71.

- No dia 11.JUL pelas 22,00 horas os AGRUPAMENTOS saíram dos seus respectivos quartéis em marcha, pela estrada de MANSAMBO – XITOLE,  tendo o AGRUPAMENTO VERMELHO [CART 2714, Mansambo], atingido pelas 23,30 horas a PONTE do RIO BISSARI, continuando a progressão a corta mato ao longo da margem esquerda deste rio até à bolanha que corre para leste da sua confluência com o RIO SAMBA ERIEL onde emboscou pelas 3,00 horas do dia 12.JUL para descanso do pessoal.

- Entretanto o AGRUPAMENTO AZUL [CART 2716, Xitole] ao atingir a área de CULOBO abandonou a estrada inflectindo para W na direcção de GALO CORUBAL tendo pelas 04,30 horas emboscado na área de (XIME 4F6-37) aguardando a chegada dos meios aéreos.

- No dia 12 pelas 04,00 horas o AGRUPAMENTO VERMELHO continuou a progressão para Sul tendo pelas 5,30 horas emboscado na área de (XIME 4F1-54) onde aguardou a chegada dos meios aéreos.

- Pelas 6,30 horas o AGRUPAMENTO AZUL referenciou uma patrulha IN de 4 elementos armados que, descobrindo o trilho das NT,  fez um disparo de LROCK e alguns tiros de LM possivelmente para alertar outras forças IN e população da área. As NT não reagiram para evitarem revelar a sua posição. Os AGRUPAMENTOS tentaram simultaneamente entrar em contacto entre si (o AGRUPAMENTO VERMELHO para perguntar o que sucedera, o AGRUPAMENTO AZUL para informar que a patrulha seguira para NW), mas não conseguiram estabelecer a ligação rádio.

- Pelas 7,00 horas chegou a DO-27 a BAMBADINCA,  tendo nele imediatamente embarcado o Comandante da Operação que se dirigiu para o XITOLE (as nuvens muito baixas obrigaram o piloto a seguir o RIO CORUBAL a baixa altitude para conseguir atingir aquela pista de aterragem).

- Estabelecido contacto rádio com os AGRUPAMENTOS,  o Comandante da Operação ordenou o reinício da progressão,  indo aterrar no XITOLE onde ficou em alerta.

- Pelas 7,15 horas o AGRUPAMENTO VERMELHO continuou a sua progressão para Sul, paralelamente ao antigo trilho de GALO CORUBAL com grandes dificuldades devido à densidade da vegetação que embaraçava a progressão o que, associada às nuvens baixas que cobriam o Sol, desorientava o guia nativo.

- Pelas 7,20 o AGRUPAMENTO AZUL reiniciou a progressão mas como o guia principal encontrasse grande dificuldade na sua orientação devido à arborização apresentar nesta época um aspecto uniforme, o capim estar já com uma razoável altura e as nuvens muito baixas encobrirem o Sol, houve, a seu pedido,  que deslocar um auxiliar de guia de um dos pelotões para a testa da coluna para entre ambos encontrarem o caminho a seguir.

- Pelas 8,30 um grupo IN estimado em 40 elementos emboscou com MORT 82, RPG-2 e ML em [XIME 4F3-37] o AGRUPAMENTO AZUL,  ferindo nos primeiros disparos os dois guias que tiveram posteriormente a ser evacuados.

- A pronta reacção das NT obrigou o IN a debandar levando consigo pelo menos 4 elementos feridos confirmados visualmente por vários elementos das NT e pelos rastos de sangue deixados no terreno. Ao mesmo tempo que debandava o IN flagelava a zona com MORT 82 cujos impactos cobriram eficazmente a sua retirada não permitindo a perseguição das NT.

- É de realçar que este grupo tem que dispor de um muito bom apontador de MORT 82 dada a precisão de tiro desta arma. As NT,  impedidas de perseguir o IN, flagelaram-no com MORT 60, BAZOOKA e dilagramas provocando possivelmente mais baixas pois os impactos situaram-se na zona de retirada do grupo IN.

- Apenas se deu esta emboscada,  o Comandante da Operação sobrevoou a área tendo pelas 8,40 horas pedido a evacuação dos dois guias feridos e orientado o AGRUPAMENTO AZUL para uma clareira em [XIME 4F3-38] de onde se iriam fazer as evacuações e nas imediações da qual o AGRUPAMENTO AZUL emboscou.

- O AGRUPAMENTO VERMELHO que,  aos primeiros rebentamentos se encontrava a uma distância estimada em 1.000 metros do local dos impactos, possivelmente em [XIME 4E7-44], emboscou preparando-se para socorrer o AGRUPAMENTO AZUL se necessário ou intersectar, capturando-o ou ao menos aniquilando-o, o Grupo IN em retirada.

- Às 9,00 horas obtida a certeza de que o IN não retirara na sua direcção e de que o AGRUPAMENTO AZUL não precisava de auxílio, o AGRUPAMENTO VERMELHO deixando parte das suas tropas emboscadas iniciou o reconhecimento da zona definida pelos pontos:

PONTO 12 - XIME 4D7-45; PONTO 13 – XIME 4E7-47; e pelo PONTO 3 – XIME 4E2-36,

Não tendo sido detectados trilhos ou indícios de instalação IN.

- A vegetação muito densa, dificultando a orientação, frequentemente obrigava a retroceder até ao antigo trilho do GALO CORUBAL para orientação.

- Pelas 10,10 horas do dia 12 com a protecção do Helicanhão foi feita a evacuação dos dois guias feridos e ordenado pelo Comandante da Operação o seu prosseguimento dentro dos planos estabelecidos.

- O AGRUPAMENTO AZUL informou então de que os guias evacuados eram os únicos que conheciam o caminho dispondo agora apenas de dois auxiliares de guias e que,  dado o aspecto actual da vegetação e as condições meteorológicas que dificultavam a orientação, estavam bastante diminuídas as possibilidades de atingir o objectivo.

- Perante esta informação e dado que o DO necessitava de abastecer, o Comandante da Operação ordenou, pelas 10,25 horas, que as tropas emboscassem até ao regresso do DO à zona em virtude de ter reconhecido ser impossível prosseguimento do AGRUPAMENTO AZUL sem que o mesmo fosse orientado por um meio aéreo.

- Abastecido o DO em ALDEIA FORMOSA,  o Comandante da Operação dirigiu-se imediatamente à zona onde chegou pelas 11,30 horas precisamente na altura em que o AGRUPAMENTO AZUL voltava a ser flagelado em [XIME 4F2-39] com MORT 82, ML e Lança Rocket, por um grupo IN estimado em 40 elementos, sem consequências para as NT, que reagiram prontamente, sendo de admitir terem provocado baixas do IN, uma vez que os pontos de impacto de MORT 60, Bazooka, e dilagramas se situaram sobre a área de instalação do Grupo IN; mais uma vez os impactos de MORT 82 cobriram eficazmente a retirada do IN, não permitindo a sua perseguição pelas NT.

- Não tendo os meios aéreos localizado o IN, o Comandante da Operação determinou a sua continuação dentro dos planos previstos,  passando o DO a orientar directamente a progressão do AGRUPAMENTO AZUL.

- Entretanto o Helicanhão teve de seguir para ALDEIA FORMOSA para abastecer.

- Pelas 12,15 horas com o AGRUPAMENTO AZUL,  progredindo na mata cerrada em direcção ao objectivo e a cerca de 3 km de distância deste o piloto do DO informou que em virtude de ter recomeçado a chover na área da linha de borrasca que se aproximava, não lhe era possível continuar a orientar o AGRUPAMENTO AZUL atingir SATECUTA e tendo o AGRUPAMENTO VERMELHO já explorado a área de GALO CORUBAL, o Comandante da Operação deu ordem de retirada aos AGRUPAMENTOS pelas 12,20 horas, para a estrada XITOLE – MANSAMBO por itinerários sensivelmente paralelos aos que tinham seguido na aproximação.

- No dia 12 pelas 12,40 horas o AGRUPAMENTO VERMELHO sensivelmente em (XIME 4E7-48) detectou um elemento armado IN que se erguera a coberto de um tronco de árvore alertando todo o pessoal.

- As NT abriram fogo, tendo o IN respondido com grande intensidade e potencial de fogo diverso, com MORT 82, LROCKET e ML , não tendo as NT caído na zona de morte.

- Ao fim de cerca de 5 minutos de fogo intenso, o IN retirou para Leste na direcção da Ponte do RIO JAGARAJÁ.

- Da batida imediatamente feita, estimou em 20 elementos armados o efectivo do grupo IN e verificou-se que os impactos e crateras provocadas pelas armas das NT se situavam na zona de instalação IN e, pelos rastos de sangue e sinais de corpos arrastados, era de admitir que o IN tivesse sofrido baixas. Não foi encontrado qualquer material abandonado,  a não ser cápsulas de cartuchos e um chapéu de palha.

- Na consequência do fogo IN, sofreram três feridos ligeiros provocados por estilhaços; foram eles o:

- Alferes Mil Atirador JOAQUIM SILVA PEREIRA;  Soldado Atirador MANUEL AUGUSTO SILVA RIBEIRO; e o  Guia Nativo Assalariado IABO BALDÉ.

- Sobrevoada entretanto a zona,  o PCV nada detectou tendo o AGRUPAMENTO VERMELHO continuado a progressão inflectindo mais para Norte atingindo a estrada XITOLE – MANSAMBO, a 2 km a Sul da Ponte do RIO BISSARI, pelas 15,15 horas.

- O PCV manteve-se na área até que o péssimo estado de tempo o obrigou a aterrar pelas 13,00 horas,  orientando sempre o AGRUPAMENTO AZUL que, quando o PCV abandonou a área,  seguia em bom andamento e aparentemente sem dificuldades de orientação cerca de [XIME 4G3-22].

- Pelas 15,15 horas o AGRUPAMENTO AZUL foi novamente flagelado em [XIME 4D7-49] com MORT 82, ML e lança Rocket, tendo-se notado nesta flagelação uma considerável redução de utilização de armas ligeiras o que leva admitir que o Grupo IN agora estimado, pelos vestígios deixados, em cerca de 30 elementos tivesse nos primeiros recontros, sofrido baixas ou esgotado munições.

- Mais uma vez é de realçar o excepcional trabalho do apontador de MORT 82, cobrindo excelentemente a retirada do IN que debandou pela reacção das NT. Nesta altura constatou o Comandante do AGRUPAMENTO AZUL que o guia se encontrava perdido pois dizia ser a estrada XITOLE – MANSAMBO para OESTE,  pelo que solicitou orientação aos meios aéreos que imediatamente haviam ocorrido à área.

- O Comandante da Operação determinou então ao Helicanhão que orientasse o AGRUPAMENTO AZUL para a estrada MANSAMBO – XITOLE,  o que fez até ao seu limite de autonomia de voo e visibilidade para atingir ALDEIA FORMOSA numa manifestação de espírito de missão verdadeiramente notável,  aliás já manifestada também pelo piloto do DCON que,  após a saída do Héli,  continuou a orientar a progressão do AGRUPAMENTO AZUL até cerca das 17,30 horas, [altura] a que teve de regressar a BAMBADINCA e posteriormente a BISSAU.

- No dia 12 pelas 16,30 horas o AGRUPAMENTO VERMELHO atingiu MANSAMBO, em meios auto a partir da Ponte sobre o RIO BISSARI.

-No dia 12 pelas 18,30 horas o AGRUPAMENTO AZUL atingiu a estrada do XITOLE na área do PONTÃO sobre o RIO JAGARAJÁ e pelas 21,00 horas atingiu o quartel do XITOLE transportado em viaturas auto a partir da PONTE PULON.

- No dia 13 pelas 2,30 horas [?] do dia 13 o Grupo de Combate da CCAÇ 12 abandonou o XITOLE tendo atingido BAMBADINCA pelas 15,30 horas.

-No dia 14 pelas 6,30 horas o Grupo de Combate da CCAÇ 12 abandonou o XITOLE tendo atingido BAMBADINCA pelas 14,00 horas.


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Notas de L.G.:


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7864: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (13): Dom Quixote de Lapin

1. Mensagem José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 24 de Fevereiro de 2011:

Caros Camaradas
Dos fracos não reza a história.
Mas todos os vencedores já perderam.
Por isso, vamos continuar.
Um abraço do Silva


Memórias boas da minha guerra (13)

Dom Quixote de Lapin

Estávamos em meados de Outubro de 1965.

Domingo de manhã na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém. Fim de semana para toda a gente menos para os de longe e para os castigados.

Nesse curso, havia apenas três gajos da zona do Porto: O Egas (o da corda) de Gondomar, o Fonseca de Rio Tinto e eu, de Fiães. Enquanto que os outros nortenhos seguiram para gozar o fim-de-semana, eu, com três castigos no “placard”, fiquei, mais uma vez, meio abandonado a moer a minha revolta.

Junto ao Pavilhão Polidesportivo faziam-se equipas para alguns passatempos e eu, talvez porque aparentava alguma antipatia, ou, então, por ser um “estrangeiro de lá de cima”, fiquei sentado a contemplar os dotes desportivos daqueles craques, onde eu não merecia lugar em qualquer das equipas. Mas, afinal, não estava sozinho, porque me apercebi logo que o algarvio, a quem chamávamos Dom Quixote de Lapin, também havia sido preterido. Ora, o Rodrigo, tinha trazido do Algarve alguns vizinhos que já o conheciam por esse apelido “de Lapin”. Era esquelético, alto e de cara afiada. Tinha uma boca pequena de onde se salientavam os tais dois dentes grandes, cujo aspecto lhe teria dado justamente o tal apelido de Lapin. Tinha os cabelos aloirados e especados em várias direcções, resistentes a qualquer tipo de penteado. A farda sobrava-lhe tanto que os respectivos colarinhos lhe davam para meter dois pescoços. Pois, o Dom Quixote de Lapin tornou-se facilmente numa figura extremamente conhecida. Todavia, os nossos camaradas não lhe viram qualidades para o desporto, o que era absolutamente natural, ou então, recearam que ele, tão frágil, se pudesse magoar.

Vista parcial de Santarém.
Foto retirada do site da Câmara Municipal, com a devida vénia

Ao ver-me meio sisudo e pouco alegre, abeirou-se para me reconfortar. Foi metendo conversa e, de repente, apareceu-me de luvas de boxe calçadas e com outro par para mim.

- Oh pá, vamo-nos entreter com isto. Vais ver que é porreiro – incentivava ele.

- Pois pode ser, mas eu não quero saber nada disso e para mais é um desporto que não gosto e em que perdem sempre os dois – respondi-lhe.

Ele pôs as luvas sobre os meus joelhos e começou a fazer gestos de pugilista, na minha direcção, enquanto insistia para eu experimentar. Além de não gostar daquela modalidade, também não queria ter a responsabilidade de lhe partir os ossos, pois acreditava nas capacidades físicas do meu corpinho de atleta. Ele, não me convencia. Tanto insistiu que eu, por curiosidade, enfiei as luvas. Daí, até lhe responder, com os meus gestos, foi um repente.

Começou a tocar-me na “fronha” e eu, querendo responder-lhe, não lhe acertava uma. Até que tomei a atitude de reagir com mais agressividade. Levei um “penso” que me estatelei logo no chão. Meio atordoado e muito melindrado com a situação, levanto-me e tento fazer-lhe o mesmo. Então é que ele me acertou em cheio. Devo ter levado um tempito para reanimar. Mal me apercebi da humilhação que estava a levar, enraivecido, corro para ele, procurando atingi-lo de qualquer maneira e em qualquer parte do corpo. O Dom Quixote gritava para eu ter calma, que éramos amigos, etc etc. Como um cavalheiro (ou não fosse ele um sósia do tal Fidalgo de La Mancha), pediu-me desculpa por se ter excedido e não me ter informado que era atleta de Boxe e que se aproveitara da oportunidade por sentir muita necessidade de treinar. E foi adiantando que eu, da forma como reagia, não tinha quaisquer hipóteses de sucesso nessa modalidade desportiva.

À noite, quando chegaram os meus amigos, foram procurar-me aos balneários, onde eu, com água fresca, ainda tentava emagrecer as minhas maltratadas feições.

- Hi, cun’ cara...go! Oh Egas, olha o que fizeram ao nosso vizinho Silva – gritou o Rio Tinto. - Ele está com as “bentas” inchadas. Coseram-lhe a “tromba” – continuava ele.

O Egas, um gondomarense de gema, abeirou-se e logo, valentemente, perguntou:

– Quantos eram, quantos eram? E aumentando o tom de voz: - Até os comemos! Ele, que não podia com uma gata pelo rabo (estava à espera de Junta Médica para ser recusado por “incapaz”), já estava a preparar a devida resposta aos agressores, quando eu afirmei:

- Foi só um!

- O quê, que não ouvi bem? – interpelava o Rio Tinto.

Lá respondi: – Foi o Dom Quixote de Lapin!

Gargalhada geral.

- Como? – voltou o Rio Tinto - Aquele transparente, que não aguenta uma revoada de vento?

– Sim – respondi-lhe - Sim, esse pau-de-virar-tripas, que é praticante de Boxe e que eu, feito Tarzan Taborda, tentei assapar-lhe o pelo!

Silva da Cart 1689
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7766: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (12): Uma madrinha de guerra

Guiné 63/74 - P7863: Memória dos lugares (144): Bedanda 1972/73 - Filhos da Terra / Filhos da Guerra (1) (António Teixeira)

1. Mensagem de António Teixeira* (ex-Alf Mil da CCAÇ 3459/BCAÇ 3863 - Teixeira Pinto, e CCAÇ 6 - Bedanda; 1971/73), com data de 23 de Fevereiro de 2011:

Carlos
Cá vão mais algumas fotos para a história de Bedanda

É ainda com imensa saudade e ternura que revejo estas fotos.
Estávamos habituados a ver aquelas crianças sempre por ali, sempre simpáticas, com um sorriso aberto e leal. Outras, com um olhar mais triste, talvez já adivinhando um futuro sem grandes promessas.

Que será feito delas? Terão sobrevivido? Terão vingado? Nunca o saberemos, como também não sei os seus nomes, nem as suas famílias, nem as suas moranças.
Eram crianças apenas.
Que até para brincar tinham que construir os seus próprios brinquedos.
Tentei captar alguns desses rostos, desses olhares.

Um grande alfa bravo
António Teixeira


BEDANDA 1972/73

FILHOS DA TERRA / FILHOS DA GUERRA (1)










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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7831: Memória dos lugares (141): Bedanda vista por António Teixeira, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (1971/73) (3)

Vd. último poste da série de 25 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7859: Memória dos lugares (143): Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, 1971/72 (Paulo Santiago, instrutor de mílícias, ex-Alf Mil At Inf, Pel Caç Nat 53)

Guiné 63/74 - P7862: (Ex)citações (133): Obrigadinho, Jorge, salvaste-me a vida!... (David Guimarães, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 2716, Xitole, 1970/72)


Guiné-Bissau > Zona Leste > Saltinho > 2001 > O David Guimarães junto à ponte sobre o Rio Corubal, no Saltinho, um dos sítios paradisíacos da Guiné, onde havia, durante a guerra colonial, um aquartelamento que ficava a 20 Km de Xitole na estrada Bambadinca-Aldeia Formosa (hoje, Quebo). Esta ponte, no nosso tempo (1969/71), chamava-se Craveiro Lopes, e estava interdita...


Foto:  © David Guimarães (2005). Todos os direitos reservados




Guiné-Bissau > Saltinho > 2005 > "No Saltinho, as bajudas continuam lindas, ontem, como hoje", escreveu o José Teixeira, quando lá voltou em Abril de 2005... (E já lá voltou depois mais vezes, e vai voltar em Abril de 2011, desta vez levando os filhos, um deles médico)...  Mas esta é (ou era, no nosso tempo) também uma região... palúdica, devido à existência de rios e charcos de água, acrescenta o nosso David Guimarães, que fez do Xitole, tabanca também ribeirinha do Corubal mas mais a norte, a sua tabanca da Guiné...


Muita malta não sabe que o David Guimarães, filho de de um herói da 1ª Guerra Mundial (!), também foi vítima... do paludismo, como quase todos nós, tanto ou mais do que dos encantos das bajudas fulas... Além de mestre da viola, foi um exímio manipulador de minas e armadilhas... Brincou muitas vezes com o fogo, mas felizmente para ele (e para nós, seus camarigos) teve a sorte do seu lado (o mesmo não se  pode dizer dos infelizes Quaresma, decapitado, e Leones, que ficou cego e sem dedos) (LG) (*) 


Foto: © José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados




1. Mensagem do  David Guimarães (nosso camarigo, tabanqueiro da primeira hora, Maio de 2005), com comentários ao Poste P7857 (**):

Luis, e restantes camaradas... JORGE:

Esta entrada de Jorge Silva (**) , com seus escritos de memória (na tabanca), se a todos será de boa e interessante leitura,  a mim não me poderá passar ao lado naturalmente. Não tenho comentado muito as situações vividas por todos os companheiros e eu mesmo ali pelas Tabancas de Matosinhos e dos Melros. Enfim,  assinalo pelo menos a minha presença... Nque os escritos valem o que valem e será o ponto que mais nos poderá unir uns aos outros...

Um dia alguém disse (creio que o Mexia Alves)  que todos acabamos por ter uma terra na Guiné, que foi aquela onde estivemos aquartelados... Uns tiveram mais que uma,  caso dele e caso do Jorge...



E então vamos, eu dar os parabéns a um combatente que a esta distância descreve uma operação sem a ajuda de nenhum escrito, sem nenhum apontamento (ontem mesmo o Jorge me confirmou) e com aqueles pormenores, a nível de ser um dilagrama lançado da G3 do nosso camarada de que o Silva fala e que vive para aí em Vila de Azeitão, o Rei, (então,  sim,  é memória de elefante), a parar uma emboscada...

Ao Jorge, num comentário que fiz logo ao Silva,  só lhe corrigi isto: não foi uma avioneta mas sim um helicópetero quem nos guiou... Logo ele corrigiu em documento final,  sendo que eu,  então já documentado,  informei o nome da Operação [...

Nessa operação, que o Jorge tão bem conta, na cena do dilagrama estava eu junto do Rei, assim se chama o nosso ex-camarada e querido amigo... Trocava eu e ele cigarro e lume e eis que as costureirinhas começaram a funcionar... Imediatamente nos deitamos atrás de uma árvore bem fina para abrigar um e eu disparei três tiros de G3,  ainda hoje me pergunto porquê... A tensão era maior claro, e ele disse:

- Calma,  Guimarães ... - E lá foi o bendito engenho que os calou...

Nunca vi um documento tão bem escrito como este do Jorge quanto a precisões e detalhes do que nesse dia se passou, em que não conseguimos entrar em Satecuta porque eles não deixaram...  Que coisa esquisita,  tudo aos tiros e as granadas de morteiro deles a caírem bem entre a nossa companhia, foi o dia em que senti terra a cair por cima de mim, manga de cu pequenino mas, no fim,  disse eu no comentário ao texto dele:

- Que sorte tivemos,  Jorge!...


Nunca mais daríamos com o caminho de volta... e a operação acabou,  como ele disse claro... PONTE DOS FULAS,  XITOLE, com  todos a receber-nos eufóricos de alegria, uma companhia de indivíduos que tinham saído de camuflados muito limpos e regressavam todos sujos, cansados,  mas se a missão não tinha sido cumprida, pelos motivos mais que  evidentes de não termos entrado no aquartelamento/tabanca deles, vínhamos no entanto todos com os dedos a mexer... Aquela água dos bidões limpou-nos por fora e as bazucas  [, cerveja,] como Jorge diz e bem, limpou-nos por dentro e serviu de calmante...´


Assim tenho que evidentemente render homenagem ao Jorge que começou a escrever e bem - e já está a falar da minha terra da Guiné, XITOLE...

Estou á espera - ontem falámos nisso - , de como ele um dia me salvou a vida... Diz-me o Jorge, andávamos nós a desmontar as minas, na sobreposição...

- Olha aí entre os teus pés... - Eram as três hastes da espoleta de uma mina antipessoal m/966 que eu tinha montado no início da Comissão junto ao aquartelamento mas com capim...


Quando fomos levantar,  estávamos no tempo seco, levei o detector de minas para não correr riscos e só aí vi que o risco foi maior ainda: aquele local tinha sido antes uma antiga serração e o chão estava juncado de matéria metálica das serras... Lá se fora o préstimo do detector de minas pois apitava em todo o lado... Como eu tinha a certeza que tinha sido ali, pronto,  foi fácil detectá-la,  olhando só,  que eu quase a calcava... Assim se morre no fim da guerra, mas  ainda bem que o Jorge estava lá pela beira....


OBRIGADINHO, Jorge,  salvaste-me a vida ou partes do corpo...


Colando o Blogue que o Jorge fez dentro do mesmo espírito que o nosso - acho muito giro que seja aproveitado tudo o que ele conta da ponte dos Fulas (e daquele ponto de tiro que ele engendrou em cima do Fortim junto à ponte onde se meteu uma metralhadora - creio... e tantas peripécias que ele sabe tão bem quanto eu durante o tempo que lá andou - antes de ir para "empresário de festas" no BENG em Bissau - após a nossa vinda para a Metrópole, assim era na altura)...

Parabéns,  Jorge,  e agora escreve e vai ler o que digo e é do teu tempo - para ver se pomos ordem na nossa Companhia....

Um abraço,

David Guimarães
Furr Mil 173545368
At Art Minas e Armadilhas

CART 2716,
Xitole,  1970/1972


PS - Continua, Jorge Silva,  conta aquela vez em que eles apontaram pela primeira vez os canhões em recuo para o Xitole e parece que dispararam em rajada - e tu a tomares banho ... Contaste-me ontem... Não contes quando um dia andavam à minha procura e não me encontravam, e,  pronto,  estava eu e o Martins metidos na vala junto ao nosso abrigo, tínhamos bebido um pouquinho a mais só,  e aquele metro e meio de vala era muito alto e a cerveja era pesada para caramba...



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Notas de L.G.:


(*) Vd.  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, I Série, poste de 10 Julho 2005 > Guiné 69/71 - XCIX: Estórias do Xitole: Com minas e armadilhas, só te enganas um vez (David Guimarães)


(**) Vd. poste de 24 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7857: (Ex)citações (132): O glorioso dia zero, 25 de Março de 1972, o mais feliz da vida dos jovens da CART 2716, o da véspera do regresso a casa (Jorge Silva)

Guiné 63/74 - P7861: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (71): Na Kontra Ka Kontra: 35.º episódio




1. Trigésimo quinto episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 24 de Fevereiro de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


35º EPISÓDIO

O calor aperta e resolve tornar ao quartel. Não vai pela avenida principal, que a essa hora e a subir é penoso percorrê-la. Vai antes por um caminho totalmente arborizado e plano que conduz à mãe d’água de Bafata, zona muito aprazível onde até há mesas e bancos para piqueniques, local que é conhecido por Sintra de Bafata. Pelo caminho cruza-se com bandos de macacos-cão que estão sempre por ali à espera que se lhe dê qualquer coisa para comer. Da mãe d’água, onde também há um grande chafariz, até ao quartel só tem que subir um pequeno desnível, passando ao lado da casa do Comandante do Esquadrão. Não é raro neste local verem-se uns enormes “lagartos” com mais de um metro de comprimento mas perfeitamente inofensivos.

O Alferes Magalhães no caminho de Sintra de Bafata.

Chegado ao quartel vai deitar-se. O Comandante tinha-lhe atribuído três dias de descanso e portanto aproveita.

O nosso Alferes passa os três dias concedidos quase exclusivamente a descansar. Come dorme e sobretudo vai pensando o que fazer da sua vida. O dia-a-dia do quartel não o ajuda muito a resolver a situação.

Começa a pensar no fim da comissão que se aproxima e também nos seus familiares da metrópole. Pensa na namorada que lá deixou e com quem, nos últimos tempos não tem mantido correspondência. Talvez ela já tivesse arranjado outro namorado, ou talvez não… Mesmo assim resolve escrever-lhe. Se ela ainda lhe responder terá aí um grande apoio para continuar a aguentar o passar dos dias, das horas, dos minutos…

Com tempo de sobra e contrariamente ao que era habitual, escreve-lhe uma grande carta ocupando quatro aerogramas. Diz-lhe uma “pequena mentirinha”: Que esteve dois meses isolado numa tabanca no mato. Relata-lhe os “perigos” por que passou, repete, como suas, as palavras do Furriel de Madina Xaquili que demonstrou a intenção de levar para lá a esposa e aí viverem felizes para sempre. Refere-lhe que agora cada dia que passa se sente mais só, que ainda gosta muito dela, o que desta vez não é mentira.

Quando vai entregar a carta no SPM ainda hesita enviá-la, mas por fim, sem nada a perder, deixa-a cair na caixa do correio. Se houver resposta irá demorar alguns dias.

No primeiro fim de semana em que há cinema, não perde a oportunidade, acima de tudo para rever o seu amigo Ibraim. Está um calor sufocante mas porque há a ameaça de um tornado tem que levar no braço um impermeável da tropa, que vestido lhe chega aos pés, protegendo-o totalmente.

A rua onde se situa o Cinema.

Vai directo ao recinto, ao ar livre, onde se projecta o filme. Lá chegado vê logo o Ibraim. Está a vender os bilhetes e a controlar as entradas. Nem sequer repara no cartaz que anuncia o filme dessa noite. Deixa entrar as pessoas que estavam à porta e sem mais ninguém para o porteiro atender, dirige-se ao seu amigo:

- Ibraim, há tanto tempo que não nos vemos. Tenho muitas coisas para lhe contar. Estive dois meses numa tabanca…

O porteiro, sentado a uma pequena mesa onde tinha os bilhetes e o dinheiro das entradas, sem sequer levantar os olhos para o amigo, mantendo-se a olhar para o maço de bilhetes como se estivesse muito atarefado, responde:

- Senhor Alferes, agora tenho muito que fazer e não podemos conversar.

O Alferes ficou aparvalhado, sem saber o que dizer. Passava-se alguma coisa com o seu amigo. Antes de ir para Madina Xaquili davam-se como verdadeiros amigos e agora a reacção do Ibraim era perfeitamente incompreensível. Estendeu o dinheiro, recebeu o bilhete e entrou. Sentado à espera que o filme comece pensa em tudo o que podia ter provocado aquela reacção, não chegando a conclusão alguma. Decide que no fim do espectáculo irá tirar tudo a limpo, confrontando o amigo com a reacção que tinha tido.

Depois dos documentários, que desta vez foram sobre as Pousadas de Portugal, e começado o filme dessa noite é que o Alferes se apercebe que se trata do “Deserto Vermelho” de Antonioni. Óptimo filme, mas nestas circunstâncias talvez preferisse um tema menos pesado, quiçá uma “coboiada”.

O que é certo é que no intervalo metade da assistência já não voltou à sala. O filme era realmente difícil.

No fim o Alferes deixou sair todo o pessoal e só depois de dirigiu para a saída. O Ibraim não teria justificação para não falar com ele.

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7854: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (70): Na Kontra Ka Kontra: 34.º episódio

Guiné 63/74 - P7860: Convívios (294): Convivío do BCAV 3846, dia 13 de Março no Restaurante Quinta do Paúl, em Paul, Ortigosa, Leiria (Delfim Rodrigues)




1. O nosso Camarada Delfim Rodrigues, ex-1º Cabo Aux Enf da CCAV 3366 do BCAV 3846, Susana e Varela, 1971/73, enviou-nos com pedido de publicação o seguinte programa da festa anual do seu batalhão para 2011:

Camaradas,

Agradecia que publicassem o programa do almoço anual do Batalhão de Cavalaria 3846, que esteve na Guiné em 1971/73 - Ingoré, São Domingos, Susana, Antotinha, Sedengal e Varela -, e ao qual eu pertenci.

Um abraço
Delfim Rodrigues
Convivío do BCAV 3846
Caros Amigos,


É com enorme prazer que neste começo de novo ano desejamos a Todos e suas Famílias um óptimo ano 2011 e, ao mesmo tempo, aproveitamos para vos comunicar a data e o local do nosso próximo Almoço/Convívio.
Este ano realiza-se no próximo dia 13 de Março num local já nosso conhecido Restaurante Quinta do Paúl em Ortigosa que esperamos seja do vosso agrado, dado o nível de qualidade conseguido há 2 (dois) anos.
Contamos com a vossa presença, para que juntos possamos fazer deste Almoço/Convívio mais um momento inesquecível e de grande confraternização, espelhando a alma de amizade que temos vindo a preservar ao longo deste últimos 38 anos e que perdurará para sempre nas nossas memórias.
Ás 12H00 será celebrada missa pelo nosso Capelão, onde serão recordados Todos aqueles que nos deixaram. Por volta das 13H00 será servido o almoço.


Restaurante: Quinta do Paúl em OrtigosaMorada: Estrada Nacional 109 – Paúl – Ortigosa – LeiriaTelefone: 244 613 438
Os Preços para este ano são:

ð Crianças entre os 5 e 10 Anos = 10,00 €;
ð Para os restantes = 28,00 €
Para qualquer esclarecimento poderão contactar:

- Alberto Toscano: 912381293 – albertotoscano@netcabo.pt
- Carlos Conceição (Xina): 919489378 –
carlosconceicaonovoa@gmail.com
- Laureano: 966452001-
laureano@netmadeira.com

A confirmação da vossa presença deverá ser feita até 8 de Março.
Esperamos contar convosco neste dia e até lá desejamos a Todos Boa Viagem.
Um forte abraço do Toscano, Xina, Laureano e Capelão


PS:
- Pedimos, por especial favor, a quem possui E-mail que o mesmo seja fornecido à Organização. Obrigado.


Como chegar ao Restaurante a partir de Leiria:
  • Leiria – Ortigosa: Distância: 11,7 km (aprox. 17 min.)
  • Ponto de referência: Av. Dom João III (avançar 170 m)
  • Na rotunda, seguir pela 3.ª saída para Av. Dr. Adelino Amaro da Costa
  • Passar 1 rotunda (avançar 1,0 km) Na Rotunda Almoinha Grande, sair na 2.ª saída para N113 (a avançar 350 m)
  • Na rotunda, seguir pela 1.ª saída para N109. Passar 2 rotundas (avançar 9,4 km) em direcção a Figueira da Foz/Monte Real.
  • Virar à direita (avançar 93 m) e está em ORTIGOSA
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Nota de M.R.: