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quinta-feira, 12 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26914: Dando a mão â palmatória (35): O rio Fulacunda não era afluente do rio Geba, a norte de Fulacunda, mas sim do rio Grande Buba, a sul...



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > "Porto fluvial", no Rio Fulacunda, afluente do Rio Grande de Buba, que ficava a sul >  Chegada de uma LDP com reabastecimentos.

[ Foto do álbum de Jorge Pinto, ex-alf mil da 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74), professor de história reformado; natural de Alcobaça, vive na Grande Lisboa e é também membro da nossa Tabanca Grande e da Tabanca da Linha]

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região de Quínara > Carta de Empada  (1955) (Escala 1/50 mil)  > Posição relativa de Rio Grande de Buba, Rio Fulacunda (ou Bianga) e Rio Empada



Guiné > Carta da antiga Província Portuguesa da Guiné (1961) (Escala 1/500 mil) > Posição relativa de Fulacunda:   do rio Fulacunda (ou Bianga), a sul; do rio Geba, a norte e oeste; do Rio Grande Buba a sudoeste, e do Rio Corubal a leste.

Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


1.  Por lapso, já temos dado o rio Fulacunda (ou Bianga) como estando situado a norte de Fulacunda,e como sendo afluente do rio Geba; ora, como é óbvio (vd acima as infografias), fica a sul de Fulacunda e é afluente do rio Grande de Buba...

As NT percorriam um pequeno troço que passava por Bianga (uma antiga tabanca abandonada no princípio da guerra) para chegar à margem direita do rio Fulacunda (cerca de 4 km). 

Claro que não havia nenhum porto fluvial, pontão, ou cais acostável. Na maré-cheia as embarcações aproximavam-se o mais possível dá margem (direita). As LDP ou LDM da Marinha "abicavam". E só podiam regressar na maré-cheia.

Espero que os nossos leitores nos perdoem este lapso (involuntário), e sobretudo os fulacundenses (*)...


2. Segundo a história da unidade (BCAÇ 6520/72, Tite, 1972/74), o sector S1 (Sul 1, Tite)) tem uma configuração muito especial marcada pelos limites naturais dos rios Geba (a norte e a oeste), a sul (Rio Grande de Buba) e a leste (Rio Corubal), intransponíveis a vau na época seca. Esse obstáculo tanto o era para as NT como para o IN.

 Todos os demais rios  são praticamente intransponíveis na época das chuvas. Não existia floresta, mas as matas eram densas. A orografia era a típica da Guiné (ausência de relevo digno de nota). A vila e a tabanca de Fulacunda ficavam num "altinho" (cotas 32/33/34).

A superfície do setor era avaliado em 1000 km2.

3. Em conversa de quase uma hora (53' 6'') com o Jorge Pinto, ex-alf mil, 3ª C/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74), pude confirmar ou corrigir o seguinte:

(i)  desde o início da guerra (1963), Fulacunda (que era vila e sede circunscriçáo) (sendo Tite e São João postos administrativos), ficou completamente isolada;

(ii) em Bianga e outras tabancas à volta, a população fugiu: umas foram para o mato, onde se refugiaram, outras aderiram ao PAIGC (mais os biafadas do que os balantas, estes foram forçados), e outras ainda ficaram sob a proteção das NT;

(iii) em 1950, a população do Sector (S1, Sul1) era computada em 16,6 mil indivíduos, distribuindo-se assim pela sede e pelos postos administrativos (em %): Fulacunda = 26,8; Tite= 39,6; São João= 33,6. Total=100,0.

(iv) em 1972, quando o batalhão  assume a responsabilidade do setor, a população era estimada em 13,9 mil, assim distribuída (em termos de controlo) (%): NT=59,5; NT/IN (duplo controlo)=21,9; IN= 18,6. Total=100,0.

(v) Fulacunda, em 1972/74, continuava completamente isolada, tendo perdido com o início da guerra em 1963 toda a sua importância (em termos administrativos, demográficos, económicos, comerciais, etc.);

(vi) a população era de 539 habitantes (na sua grande maioria biafadas, com alguns manjacos, balantas e fulas) (ou seja, 12,1% da população de 1950);

(vii) a única fonte de rendimento era a tropa: as mulheres eram lavadeiras, e os homens (umas 3 ou dezenas) eram milícias;

(viiii) havia apenas um caçador, fula; caçava um ma vez por mês: e fazia-se pagar bem pelo produto da caça; 

(ix) havia um Balanta que vendia leitões (de pele e osso, secos, sem sabor...); bebia e batia na mulher; era conhecido da tropa: um dia foi-se queixar ao quartel da mulher, que lhe tinha mestrado... os "tintins";

(x) a tropa e a população tinham uma horta numa faixa estreita de terreno ao longo do arame farpado: faziam-se hortícolas, alguma mancarra e milho paínço (para autoconsumo); com a mancarra, fazia-se uma papa que as pessoas comiam;

(xi) não havia arroz de bolanha nem de sequeiro; simplesmente não havia condições de segurança psra se "lavrar arroz";

(xii) o arroz  (base da alimentação na Guiné) vinha de Bissau, fornecido pela Intendência , quinzenalmente: uma parte era vendida, outra era distribuída gratuitamente; 

(xiii) fechava-se os olhos aos "parentes do mato" que vinham "abastecer-se" também a Fulacunda (fazia parte da "psico"), oriundos de outras  tabancas, nomeadamente  sob duplo controlo ou controlo IN;

(xiv) o ex-fur mil vagomestre José Miguel Louro (que é membro da Tabanca da Linha, Algés) pode dar uma ideia das proporções do arroz que era vendido e que era oferecido;

(xv) e por fim, mas não menos importante: tenho que ressalvar que parte das fotografias ("slides" digitalizados) aqui publicados são do Jorge Pinto, que os partilhou em tempos com o Armando Oliveira; os dois têm de resto o melhor álbum fotográfico sobre Fulacunda: os créditos fotográficos são difíceis de individualizar; mas as fotos do Jorge Pinto são, para já,  as que publicámos há  mais de 10 anos atrás (incluindo algumas mais recentes, com camaradas, a quem ele fez questão de pedir autorização para as publicitar, comportamento ético louvável: as fotos da sua festa de anos, por exemplo).
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P26910: S(C)em comentártios (72): Em Fulacunda, a tropa mal tinha o necessário para a sua própria alimentação, quanto mais alimentar 400 bocas civis e muçulmanas (Cherno Baldé, Bissau)


Cherno Baldé (Bissau)



1.  Comentário do Cherno Baldé ao poste P26900 (*)


Tabanca Grande Luís Graça, não sei porque insistem nessa retórica de que a população civil de uma localidade como Fulacunda com, no minimo, 400 habitantes , dependia da tropa. 

Quando o afirmam,  deveriam poder dar evidências credíveis, mas não é isso que se vê nas imagens quando vemos a população e, inclusive, alguns soldados nativos a trabalhar na limpeza do sorgo (milho) para a sua alimentação.

 Se não podiam produzir localmente, por causa do confinamento da guerra, então sempre podiam comprar em outros sitios da região ou fora dela. 

A minha opinião é de que a tropa mal tinha o necessário para a sua própria alimentação nos diversos aquartelamentos fora das cidades. 

E, sem esquecer que os muçulmanos, como seria o caso em Fulacunda, tinham algumas reservas de natureza religiosa em relação à comida dos portugueses em geral e da tropa (nos aquartelamentos) em particular,  devido ao uso de certos produtos proibidos ou considerados ilícitos pela sua religião. (**)

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Notas do editor

(*) Vd. poste de 9 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26900: Recordações de um fulacundense (Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) - Parte IX

(**) Último poste da série > 6 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26891: S(C)em Comentários (71): Liberdade teve o grande Cherno Rachide que preferiu partir desta para melhor para não ter que aturar com a brutalidade do partido "libertador" (Cherno Baldé, Bissau)

segunda-feira, 9 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26900: Recordações de um fulacundense (Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) - Parte IX

 





Foto nº 1B, 1B e 1



Foto nº 2 e 2A



Foto nº 3 e 3A





Foto nº 4B, 4A, 4

Guiné > Região de Quínara > Fulacunda 3ª C/Bart 6520/72 (1972/74) >  "Porto fluvial" de Fulacunda (a 3/4  km a su-sudoeste  do aquartelamento): reabastecimento quinzenal: mantimentos, caixas de munições, sacos de arroz para a população, etc.; como não havia pontão, ou cais, a descarga era feita manualmente para as viaturas da tropa (GMC, Berliet...). Uma tarefa penosa.

 Fulacunda era reabastecida, através do rio Grande de Buba  e do seu afluente, na margem direita, o rio Fulacunda (que ficava a sul),  com recurso a LDM (Lancha de Desembarque Média) ou barco civil (popularmente conhecido como "barco-urra").

Em geral, deslocava-se um obus (neste caso, o 14 cm), rebocado por uma Berliet, bem como um morteiro 81 para montar segurança à operação de descarga.  Nunca houve nenhuma tentativa de ataque ou flagelação do IN ao tempo da 3ª C/Bart 6520/72 (1972/74). Nem o troço foi minado ou armadilhado, segundo informação do Jorge Pinto  (parte dos "slides" que temos aqui publicados são  dele ou do Armando Oliveira: gfeneroso e solidário como ele, não faz questão de reclamar os créditos fotográficos: consideran o seu álbum como património de todos os fulacundenses).

Fotos (e legenda): © Armando Oliveira (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]

 

1. O Armando Oliveira, natural de Marco de Canaveses, a viver no Porto, foi 1º cabo at inf, 3ª C/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74), tendo pertencido ao 3º Pelotão, comandado pelo nosso amigo, camaradada e grão-tabanqueiro Jorge Pinto. 

Era o apontador da metralhadora pesada Breda, instalada no alto do fortim. Também exercia, no quartel, a sua profissão de barbeiro. E, como "hobby", fazia fotografia. Era um d0s militares que tinha máquina fotográfica. É dele  (e do Jorge Pinto) o melhor álbum fotográfico de Fulacunda.

É membro recente da nossa Tabanca Grande (nº 901). Tem página do Facebook.

Como na maior parte dos casos as fotos que ele nos disponibilizou, não trazem legendas, temos que as tentar reconstituir, e contar com a ajuda dele como dos outros camaradas "fulacundenses" que também fazem parte da Tabanca Grande: 
  • o Jorge Pinto,
  • o José Claudino da Silva
  • e, mais recentemente (nº 905), o Joaquim Caldeira (ex-fur mil inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, Tite e Fulacunda, 1968/69).
As fotos que hoje publicamos são interessantes para se conhecer aspetos da vida quotidiana de uma subunidade de quadrícula. Gastava-se muita energia a assegurar o abastecimento de 200 militares  (1 companhia, 1 Pel Art, 1 Pel Mil) e 400 elementos da população. 

Em Fulacunda a vida agrícola, comercial e económica estava parada (desde o início da guerra em 1963). A população dependia, no essencial,  da tropa para sobreviver: as mulheres trabalhavam como lavadeiras, os homens eram milícias...A sede da circunscrição, na região de Quinara,  passou de Fulacunda para Tite. Fulacunda ficou isolada e entrou em decadência. 

________________


Nota do editor:

domingo, 25 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26845: Tabanca Grande (575): Joaquim Caldeira, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834 (Tite e Fulacunda, 1968/69), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 905

1. Em mensagem de 22 de Maio de 2025, o nosso camarada e novo membro desta tertúlia, Joaquim Caldeira, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2314/BCAÇ 2834 (Tite e Fulacunda, 1968/69), enviou-nos as suas fotos da praxe a fim de ser apresentado.

Recordamos que o nosso camarada Aníbal José da Silva, no seu poste Guiné 61/74 - P26825: (Ex)citações (433), referiu o nome do Joaquim Caldeira por ter encontrado na Net um texto da autoria deste. Segundo o relato do Caldeira, comandava, em 4 de Agosto de 1969, a coluna apeada entre Tite e Nova Sintra, que escoltava alguns militares da CCAV 2483, entre os quais o malogrado Soldado Domingos da Conceição Verdade Ventinhas, falecido em virtude dos ferimentos resultantes do accionamento, por ele próprio, de uma mina antipessoal reforçada com TNT. O Aníbal, que caminhava junto do Ventinhas, ficou ferido com gravidade pela projecção de lama que o atingiu especialmente na cara, resultando a perda de visão durante algum tempo e sequelas que ainda hoje se mantêm.


Lembremos o texto do Aníbal José da Silva no P26825:

EMOÇÕES E AMIZADES FORTES

Ao pesquisar na Net informações relacionadas com o aquartelamento de Nova Sintra, na Guiné, tive acesso ao Blogue do Batalhão de Artilharia 1914, que o meu, Batalhão de Cavalaria 2867, rendeu na região do Quínara em Março de 1969.

Nele li as crónicas do Furriel Joaquim Caldeira, da CCAÇ 2314, e numa delas com o título “Um tronco sem pernas e sem braços”, verifiquei que, pelas piores razões, eu era um dos protagonistas da história (ver recorte de imprensa abaixo). Fiquei com muita curiosidade e vontade de falar com o Caldeira.

Através do mensenger do facebook fiz-lhe chegar, em 30/11/2016, a seguinte mensagem:

Amigo Joaquim Caldeira

Peço desculpa por o tratar assim, mas creio que não me levará a mal este tratamento. Não nos conhecemos pessoalmente, muito embora tivéssemos tido um contacto pessoal, no, para mim, trágico dia 04/08/69.

Na net, ao pesquisar informaçoes e relatos sobre Nova Sintra, encontrei as suas crónicas e numa delas a referência àquele dia trágico com o título “Um tronco sem pernas e sem braços”. Eu era o vagomestre da CCAV 2483 sediada em Nova Sintra, que naquela madrugada chuvosa, fomos comboiados de Tite para Nova Sintra, numa coluna apeada que o meu amigo comandava e que segundo refere na crónica “tinha perdido os dois olhos”.

As lesões que sofri nos olhos e de que tenho sequelas, não foram tão graves quanto à aparência daquele dia. Estive quarenta dias no Hospital Militar de Bissau, trinta dos quais internado e dez na consulta externa. Nos primeiros vinte dias não via rigorosamente nada, para além das dores horríveis nos olhos.

E passo a apresentar-me. O meu nome é Aníbal (...) e quero agradecer-lhe o muito que fez por mim naquele dia.


Dias depois o Caldeira telefonou-me, mas não foi possível estabelecer qualquer conversa, tendo ele enviado a seguinte mensagem:

“Boa tarde, sou o Caldeira. Ainda estou comovido com a notícia de que, o homem que ficou cego naquela manhã, afinal vê. Levei quase 50 anos com estes demónios que me atormentavam desde então. Desculpa não ter conseguido falar. È muita emoção para gerir. Temos muito que falar , muitas memórias para recordar. Afinal, consegues ver e estou muito feliz por isso. Em boa hora me lembrei de escrever aquela aventura. Sem isso nunca teria tido paz e sossego. Também nunca cheguei a saber quem foi que pisou a mina. Assim que puder eu ligo. Ficas a pertencer ao meu grupo de combate.

Um abraço sentido,
J Caldeira”.


Fur Mil Joaquim Caldeira em Tite
Joaquim Caldeira na actualidade


Sobre a CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834

********************

Comentário do coeditor CV:

Caro Joaquim Caldeira,

Sê bem aparecido na tertúlia e que te mantenhas por cá, assim como nós todos, por muitos e bons anos, são os votos da tertúlia.

Ocupas "administrativamente" o lugar 905 deste já extenso grupo de antigos combatentes e amigos da Guiné que se sentam à sombra deste frondoso "Poilão".

O nosso editor Luís Graça já te disse o essencial sobre o nosso Blogue que é um repositório de memórias contadas na primeira pessoa, pelo que não te vou maçar quanto a isto.

Sendo tu o primeiro representante da tua 2314 na tertúlia, tens a responsabilidade acrescida de nos deixares algo que a perpetue na nossa página, que queremos faça parte da História de Portugal e da guerra na Guiné, em particular. As guerras são uma desgraça, criada nos gabinetes do Poder, que matam a eito, não poupando civis e militares, homens, mulheres e crianças, novos ou velhos. Não queremos que volte a acontecer algo semelhante com e em Portugal e, se possível no mundo inteiro.

É fácil, como já sabes, é só enviares os textos, em word preferencialmente, e as tuas fotos, devidamente legendadas, em formato JPEG. Isto não esquisitice, é só para facilitar o nosso trabalho de edição.

A terminar, não me posso esquecer de deixar-te um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.

terça-feira, 20 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26821: S(C)em Comentários (67): P*rra, dou agora conta, 50 e tal anos depois, que nunca me sentei no rancho geral, para partilhar uma refeição com os meus cabos, que eram metropolitanos, e que tinham uma barriga igual à minha... Em Bambadinca, existia o "apartheid", nobreza, clero e povo, devidamente segregados, em termos sociais e espaciais (Luís Graça)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BCART 6520/72 (1972/74) > s/d > Os camaradas (etimologicammente, os que dormem na mesma "câmara", quarto, camarata, no mesmo "buraco", que dormem, comem, vivem e... morrem juntos), sempre presentes no dia a dia da guerra, vão substituindo a família, os vizinhos, os colegas de escola, os amigos, etc. que ficaram lá longe, na terra... São também companheiros, porque comem o mesmo mão à mesma mesa (do latim, cum + panis, o que partilha o pão connosco).


Foto (e legenda): © Armando Oliveira (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Comentário de Luís Graça ao poste P26816 (*):


Há uma coisa que muitos oficiais e sargentos do QP, bem como milicianos (alferes e furriéis) não compreendem (ou pura e simplesmente já esqueceram): as nossas praças (sobretudo o pessoal metropolitano) tiveram que se "desenrascar"... em matéria de comes & bebes.

Comiam "mal e porcamente" (e eu creio que a metáfora do porco não é insulto para ninguém!|)... No mato, nos quartéis do mato (não falo de Bissau)... Mesmo quando "a comida era igual para todos" (nos aquartelamentos das unidades de quadrícula: 1 capitão, 4 alferes, 16 sargentos e furriéis, e o resto cabos e soldados, uns 130/140), as praças comiam sempre pior...

Já não falo nos destacamentos, guarnecidos por 1 Grupo de Combate...onde nem cozinheiro havia, e o reabastecimento (genéros alimentícios, munições, etc.) era sempre um "bico de obra"...

Ninguém é capaz de admitir hoje que "passou fome" na guerra, na Guiné, até por que o "tuga" era sempre capaz de se "desenrascar"...

 Fome ?... Talvez, pontualmente, no mato, em operações... Mesmo "intragáveis", as rações de combate que nos fornecia o exército português,  ainda tinham uma ou outra coisa aceitável para enganar o estômago, sem provocar uma sede do caraças... (Depressa aprendi a prescindir delas, ou de grande parte do seu recheio!)

Mas as nossas operações podiam durar 24 h, 48, 72 h, no máximo... No regresso ao quartel, havia sempre uma sopa quente, com muita água, pouco azeite e poucos legumes, mas ainda assim quente. E havia, graças a Deus e aos bons irãs, e à Intendência (a quem tiro o quico!),  cerveja, muita cerveja, mesmo que que fosse "choca". E coca-cola, e uísque... E até barris de vinho oiu "ãgua de Lisboa"!...

O José Claudino da Silva, cantineiro, em Fulacunda, logo em finais de 1972, requisitava, 12 mil cervejas por mês, com medo do "apagão da Intendência", estamos a menos de dois anos do fim da guerra, num quartel isolado, no mato, a 3ª CART / BART 6520/72, que além dos seus 150 homens metropolitanos, tinha mais um Pel Art (em que as praças eram africanas) e um Pel Mil (também de pessoal africano).

De resto, muitos dos nossos militares, sobretudo oriundos das zonas rurais, do interior do país, de Trás-os-Montes ao Alentejo, foram habituados, desde pequeninos, à "frugalidade": 

  • quem é que bebia leite ?
  • quem é que comia queijo ?
  • quem é que sabia o que era um iorgurte ?
  • quem já tinha provado fiambre ?
  • quem comia peixe fresco ?
  • e carne (sem ser da salgadeira) ?
  • e bacalhau (sem ser no Natal e na Quaresma) ?
  • quem bebia cerveja ?
  • e leite com chocolate ?
  • e sumol ?
  • e café ?...
  • (Para não falar da "coca-cola", uma "americanice" que não entrava no Portugal do Estado Novo).

Porra, e ninguém se revoltava !... E a malta aguentuou 13 anos!... Fala-se em sangue, suor e lágrimas, mas ninguém acrescenta a merda, a fome, a sede!...13 nos anos com a canga em cima, a G3, as cartucheiras, as granadas de mão, as granadas de morteiro (ou de bazuca) às costas, mais os 2 cantis de água... Mais os feridos e os mortos em padiola!...

Eu fiz alguns milhares de quilómetros a penantes, na Guiné, com os meus/nossos "pretos" da CCAÇ 12, entre junho de 1969 e março de 1971...Sei do que falo... Mas chegava a Bambadinca, dois ou três dias depois, com 2, 3 ou 4 quilos a menos, tomava um duche reparador... e não me podia queixar da messe de sargentos..
.

Nunca me faltou o uísque com água de Perrier e duas pedras de gelo!... Nem o gin tónico com limão ou lima!... Não bebia cerveja nem "água de Lisboa", a não ser às refeições...

Mas, porra, dou agora conta, 50 e tal anos depois, que nunca me sentei no rancho geral, para partilhar uma refeição com os meus cabos, que eram metropolitanos, e que tinham uma barriga igual à minha... Em Bambidina, existia o "apartheid", nobreza, clero e povo, devidamente segregados, em termos sociais e espaciais (**)...

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(**) Último poste da série > 16 de maio de 2025 >  Guiné 61/74 - P26807: S(C)em Comentários (66): Eletrificação - As primeiras redes de energia elétrica na Guiné nas décadas de 1930 a 1950 (Manfred Stoppok)

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26801: Recordações de um fulacundense (Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) - Parte VIII






Foto nº 1A, 1B,  e 1









Fotro nº 2, 2A, 2B, 2C




Foto nº 3 e 3A






Foto nº 4, 4A e 4B



Foto nº 5 e 5A

Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BCART 6520/72 (1972/74) > s

Festaa religiosa (o Tabaski e não o Ramadão)  (fotos nºs 1 e 2) e civis da população de Fulacunda, na sua grande maioria biafada e mulçulmana.  A NT tinham sempre alguma curiosidade em relação a estes eventos que juntavam toda a população...Vou pedir ao Cherno Baldé que  "legende" as fotos... As nºs 1, ,2 e 3  teriam a ver com a "festa do carneiro" (o do Tabaski), conforme confirma o Cherno Baldé *).

A festa do Tabaski (designação corrente nos países de forte tradição muçulmana da África ocidental)  é, a seguir à festa do fim do Ramadão, a mais importante do Islamismo, equivalente ao Natal cristão. A data é variável, de ano para ano.

Fotos: © Armando Oliveira (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. O Armando Oliveira, natural de Marco de Canaveses, a viver no Porto,  foi 1º cabo at inf, 3ª C/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74), tendo pertencido ao 3º Pelotão, comandado pelo nosso amigo, camaradada e grão-tabanqueiro Jorge Pinto. Era o apontador da metralhadora pesada Breda, instalada no alto do fortim. Também exercia, no quartel, a sua profissão de barbeiro. E, como "hobby", fazia fotografia. Era um d0s militares que tinha máquina fotográfica. É dele o melhor álbum fotográfico de Fulacunda.


É membro recente da nossa Tabanca Grande (nº 901). Tem página do Facebook.  

Como na maior parte dos casos as fotos que ele nos disponibilizou, não trazem legendas, temos que as tentar reconstituir, e contar com a ajuda dele como dos outros camaradas "fulacundenses" que também fazem parte da Tabanca Grande: o Jorge Pinto e o José Claudino da Silva. (Bem como do Fernando Carolino, de quem aguardamos o OK para ser apresentado).

As fotos que hoje publicamos são interessantes para documentar o binónimo NT / População.
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

8 de julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6695: Memória dos lugares (89): Bafatá, Tabatô, Tabaski 2009: Não há preto nem branco, somos todos irmãos, disse a Fátima de Portugal numa cadeia de união... (Catarina Meireles)

16 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7795: Álbum fotográfico do Arménio Estorninho (CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70): Cherno Rachide e a festa do fim do Ramadão, Bissau, 1970


6 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21974: Álbum fotográfico de António Marreiros, ex-alf mil, CCaç 3544, "Os Roncos", Buruntuma, 1972, e CCaç 3, Bigene e Guidage, 1973/74 - Parte VI: O Ramadão (2/3)

9 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24212: Fotos à procura de... uma legenda (174): Legendas para as fotos do Ramadão de 1971, na tabanca de Saliquinhedim (K3) (José Carvalho, ex-Alf Mil Inf / Cherno Baldé)

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26779: Recordações de um fulacundense (Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) - Parte VII

 


Foto nº 1 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BCART 6520/72 (1972/74) > s/d > Oficiais milician0s, à mesa, provavelmente em dia de anos de algum, ou numa vulgar confraternização. Em cima da mesa, uma garrafa de espumante e pelo menos três garrafas de uisque velho... Um balde de gelo. Não se vêem garrafas de água mineral (Perrier, Vichy ou Castelo). Reconhecemos o Fernando Carolino (ao fundo, ao centro) e Jorge Pinto (o segundo à esquerda). 


Foto nº 2 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BCART 6520/72 (1972/74) > Festa de aniversário do alf mil Jorge Pinto (que faz anos a 10 de outubro; natural de Alcobça, vive em Sintra)...



Foto nº 3> Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BCART 6520/72 (1972/74) > s/d > Festa de aniversário do Jorge Pint0


Foto nº 4 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BCART 6520/72 (1972/74) > s/d > Militares do 3º pelotão ? Quem está de costa, parece-nos ser o alf mil Jorge Pinto, seu comandante. À hora da refeição, as praças bebiam cerveja (0,33 l, marca Cristal, neste caso)

Foto nº 5> Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BCART 6520/72 (1972/74) > s/d > Uma mesa de 1ºs cabos condutores auto ? Em primeiro plano de costas, o 1º cabo José Claudino da Silva, que também era o "cantineiro". Além de vinho verde (em garrafa), também se bebia cerveja Sagres, em lata. Esta mesa tinha por detrás uma fiada de "ventoínhas" (que só deviam funcionar à noite, quando fosse ligado o gerador).

Fotoo nº 6 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BCART 6520/72 (1972/74) > s/d >  Os camaradas (etimologicammente, os que dormem na mesma "câmara", quarto, camarata, no mesmo "buraco",  que dormem, comem, vivem e... morrem juntos), sempre presentes no dia a dia da guerra, vão substituindo a família, os vizinhos, os colegas de escola, os amigos, etc. que ficaram lá longe, na terra... São também companheiros, porque comem o mesmo mão à mesma mesa (do latim, cum + panis, o que partilha o pão connosco). 

 Fotos (e legenda): © Armando Oliveira (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné >  Bissau > BNU > 1973 > Nota de 50 escudos (pesos), verso. O banco emissor era o BNU - Banco Nacional Ultramarino. Uma nota destas, em 1973,  dava para comprar, na cantina do Zé Soldado, no mato uma caixa de 12 cervejas de  0,3 l... Um 1º cabo radiotelegrafista, como o Sousa de Castro, ganhava, 1300$00 na época.  Uma nota destas davam também para comprar uma garrafa de uísque novo, e ainda sobrava uns pesos...

Foto: © Sousa de Castro (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. 

1. O marcoense Armando Oliveira foi 1º cabo at inf, 3ª C/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74), tendo pertencido ao 3º Pelotão, comandado pelo nosso amigo, camaradada e grão-tabanqueiro Jorge Pinto. Era o apontador da metralhadora pesada Breda, instalada no alto do fortim. Também exercia, no quartel, a sua profissão de barbeiro. E, como "hobby", fazia fotografia. Era uma d0s militares que tinha máquina fotográfica. É dele o melhor álbum fotográfico de Fulacunda.

É membro recente da nossa Tabanca Grande (nº 901). Tem página do Facebook. Mora no Porto. Já voltou à Guiné-Bissau 4 vezes, tendo sempre passado por Fulacunda. Pretende voltar lá em 2026

Como na maior parte dos casos as fotos que ele nos disponibilizou,  não trazem legendas, temos que as tentar reconstituir, e contar com a ajuda dele como dos outros camaradas "fulacundenses" que também fazem parte da Tabanca Grande: o Jorge Pinto e o José Claudino da Silva. (Bem como do Fernando Carolino, de quem aguardamos  o OK para ser apresentado).

2. As fotos que hoje publicamos são interessantes para documentar o consumo diferenciado de bebidas alcoólicas nos nossos aquartelamentso do mato e para estimar níveis de consumo:

(i) os oficiais e sargentos bebiam preferencialmente uísque com um pedra de gelo e água mineral, ou um gin tónico;

(ii) as praças optavam em geral pela cerveja (com os frigoríficos a petróleo, ou alimentados à noite pela energia elétrica do gerador, era possível ter bebidas sofrivelmente frescas, além de gelo).

Não sabemos quantidade de cervejas que eram fornecidas pelo BINT (Batalhão de Intendência) às subunidades no mato (150/160 homnens), mas podia ser uma méda mensal de 10 a 12 mil garrafas (de 0,33 l e 0,6,), o que levantava também problemas logísticos, de transporte e de armazenamento (que não vamos considerar aqui).

Peguemos num exemplo, o movimento da cantina da CCAV 2483, Nova Sintra:

(iii) em maio de 1970, consumiu-se cerca de 1,5 mil litros de cerveja (3977 garrafas de 0,33 l, e 268 de 0,6l, das marcas Sagres e Cristal), grossso modo 3,5 mil garrafas de 0,33 (a dividir por 150 dá 10 l de consumo médio mensal ou 30 garrafas de 0,33);

(iii) no final do mês de junho (não temos a existência de mercvadorias  no final do mês de maio), o "stock" era de 3,2 mil litros (5865 garrafas de 0,33 l e 2144, de 0,6l) (daria uma média de 21,3 l ou  cerca de 65 garrafas de 0,33 l(.

Em outubro de 1972, a 3ª C/BART 6520/72, de Fulacunda, passou a requisitar, quinzenalmente, 6 mil garrafas (quer de 0,33 l como de 0,6 l) em vez das 5 mil, segundo informação do cantineiro, o José Claudino da Silva...

12 mil garrafas por mês, numa subunidade (Fulacunda) que deveria ter 200 militares (1 companhia, 1 Pel Art e 1 Pel  Mil), dava uma previsão de consumo de 2 garrafas, por dia e "per capita" (ou 60 por mês)...Claro que havia quem não bebesse (por exemplo, os militares e milícias muçulmanos, por razões religiosas ou culturais)...

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Nota do editor LG:

Último poste da série > 4 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26762 Recordações de um fulacundense (Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) - Parte VI

domingo, 4 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26762 Recordações de um fulacundense (Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) - Parte VI

Foto nº 1 > O alf mil Jorge Pinto, de oficial de dia



Foto nº 2 e 2A > A brigada de limpeza


Foto nº 3 e 3A > A equipa de manutenção e reparação da rede de arame farpado. O alf mil Jorge Pinto "fiscaliza" o trabalho.


Foto nº 4 e 4A > Uma saída para o mato


Foto nº 5 > Regresso de um patrulhamento ofensivo no subsetor de Fulacunda. O militar da frente transporta, ao ombro esquerdo, duas granadas de morteiro 60.


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Mais fotos sobre o quotidiano dos militares no aquartelamento de Fulacunda: limpeza da parada, manutenção e reparação da rede de arame farpado, patrulhamentos ofensivos... Tudo isso está bem documentado nestas excelentes imagens, obtidas a partir dos "slides", digitalizados, do Armando Oliveira.

Fotos (e legendas): © Armando Oliveira (2025). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blog Luís Graça & Camaradas da Guiné]





1. O marcoense Armando Oliveira foi 1º cabo at inf, 3ª C/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74), tendo pertencido ao 3º Pelotão, comandado pelo nosso amigo, camaradada e grão-tabanqueiro Jorge Pinto. Era o apontador da metralhadora pesada Breda, instalada no alto do fortim. Também exercia, no quartel, a sua profissão de barbeiro. E, como "hobby", fazia fotografia.

É membro recente da nossa Tabanca Grande (nº 901). Tem página do Facebook. Mora no Porto. Já voltou à Guiné-Bissau 4 vezes, tendo sempre passado por Fulacunda. Pretende voltar lá em 2026

Como na maior parte dos casos as fotos que ele nos disponibilizou,  não trazem legendas, temos que as tentar reconstituir, e contar com a ajuda dele como dos outros camaradas "fulacundenses" que também fazem parte da Tabanca Grande: o Jorge Pinto e o José Claudino da Silva. (Bem como do Fernando Carolino, que ainda está com um pé dentro e outro fora.)

2. Mais um apontamento sobre Fulacunda e o seu historial... Recorde-se que ainda antes do ínicio da guerra (que, segundo a "narrativa" do PAIGC, começaria com o ataque a Tite em 23 de janeiro de 1963), as regiões do sul, Quínara e Tombali, a partir de meados do ano anterior, já eram  alvo de sabotagens de linhas telefónicas, cortes de estradas e destruição de pontes, além de outras "atividades subversivas" (c0mo a propaganda, o aliciamento e a intimidação das populações). 

Fulacunda acabou por ficar isolada, perdeu o estatuto de sede de circunscrição (transferida para Tite) e a sua população ficou dispersa,  a maior parte no mato, sob controlo do PAIGC Em 3 de julho de 1963, na estrada Fulacunda-São João, o IN colocou a primeira mina A/C.

De acordo com a Directiva nº 3 do Comandante-Chefe, de 22 de maio de 1963, "as  regiões de Quinara e Fulacunda estão, na sua quase totalidade, fora do controlo das autoridades dada a intensa actividade desenvolvida pelo lN"

Mais concretamente:
  • "Grande maioria das tabancas estão abandonadas refugiando-se a população no mato, embora recolha durante a noite a algumas das não destruídas;
  • A população, em parte coagida, em parte de livre vontade, colabora com os terroristas, nomeadamente na colocação de abatizes e no racionamento de géneros alimentícios, este para fazer face às dificuldades que certamente surgirão na época das chuvas que se aproxima;
  • Tem criado dificuldades à movimentação das NT pela obstrução sistemática das vias de comunicação e montagem de emboscadas;
  • Tem atacado embarcações civis e até militares.
  • Já saquearam casas comerciais (S. João)." (...)

Os principais chefes de guerrilha referenciados na altura eram o Arafan Mané, o Gibril, o Malan Sanhá e o Quemo Mané. Em termos de armament0, o lN já dispunha "de pistolas e pistolas metralhadoras em quantidades apreciáveis e de elevado número de granadas de mão de muito boa qualidade".

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da actividade operacional: Tomo II - Guiné - Livro I (1.ª edição, Lisboa, 2014), pp. 100/101.
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Nota do editor LG:

Último poste da série > 1 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26751: Recordações de um fulacundense (Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) - Parte V