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domingo, 25 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26845: Tabanca Grande (575): Joaquim Caldeira, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834 (Tite e Fulacunda, 1968/69), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 905

1. Em mensagem de 22 de Maio de 2025, o nosso camarada e novo membro desta tertúlia, Joaquim Caldeira, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2314/BCAÇ 2834 (Tite e Fulacunda, 1968/69), enviou-nos as suas fotos da praxe a fim de ser apresentado.

Recordamos que o nosso camarada Aníbal José da Silva, no seu poste Guiné 61/74 - P26825: (Ex)citações (433), referiu o nome do Joaquim Caldeira por ter encontrado na Net um texto da autoria deste. Segundo o relato do Caldeira, comandava, em 4 de Agosto de 1969, a coluna apeada entre Tite e Nova Sintra, que escoltava alguns militares da CCAV 2483, entre os quais o malogrado Soldado Domingos da Conceição Verdade Ventinhas, falecido em virtude dos ferimentos resultantes do accionamento, por ele próprio, de uma mina antipessoal reforçada com TNT. O Aníbal, que caminhava junto do Ventinhas, ficou ferido com gravidade pela projecção de lama que o atingiu especialmente na cara, resultando a perda de visão durante algum tempo e sequelas que ainda hoje se mantêm.


Lembremos o texto do Aníbal José da Silva no P26825:

EMOÇÕES E AMIZADES FORTES

Ao pesquisar na Net informações relacionadas com o aquartelamento de Nova Sintra, na Guiné, tive acesso ao Blogue do Batalhão de Artilharia 1914, que o meu, Batalhão de Cavalaria 2867, rendeu na região do Quínara em Março de 1969.

Nele li as crónicas do Furriel Joaquim Caldeira, da CCAÇ 2314, e numa delas com o título “Um tronco sem pernas e sem braços”, verifiquei que, pelas piores razões, eu era um dos protagonistas da história (ver recorte de imprensa abaixo). Fiquei com muita curiosidade e vontade de falar com o Caldeira.

Através do mensenger do facebook fiz-lhe chegar, em 30/11/2016, a seguinte mensagem:

Amigo Joaquim Caldeira

Peço desculpa por o tratar assim, mas creio que não me levará a mal este tratamento. Não nos conhecemos pessoalmente, muito embora tivéssemos tido um contacto pessoal, no, para mim, trágico dia 04/08/69.

Na net, ao pesquisar informaçoes e relatos sobre Nova Sintra, encontrei as suas crónicas e numa delas a referência àquele dia trágico com o título “Um tronco sem pernas e sem braços”. Eu era o vagomestre da CCAV 2483 sediada em Nova Sintra, que naquela madrugada chuvosa, fomos comboiados de Tite para Nova Sintra, numa coluna apeada que o meu amigo comandava e que segundo refere na crónica “tinha perdido os dois olhos”.

As lesões que sofri nos olhos e de que tenho sequelas, não foram tão graves quanto à aparência daquele dia. Estive quarenta dias no Hospital Militar de Bissau, trinta dos quais internado e dez na consulta externa. Nos primeiros vinte dias não via rigorosamente nada, para além das dores horríveis nos olhos.

E passo a apresentar-me. O meu nome é Aníbal (...) e quero agradecer-lhe o muito que fez por mim naquele dia.


Dias depois o Caldeira telefonou-me, mas não foi possível estabelecer qualquer conversa, tendo ele enviado a seguinte mensagem:

“Boa tarde, sou o Caldeira. Ainda estou comovido com a notícia de que, o homem que ficou cego naquela manhã, afinal vê. Levei quase 50 anos com estes demónios que me atormentavam desde então. Desculpa não ter conseguido falar. È muita emoção para gerir. Temos muito que falar , muitas memórias para recordar. Afinal, consegues ver e estou muito feliz por isso. Em boa hora me lembrei de escrever aquela aventura. Sem isso nunca teria tido paz e sossego. Também nunca cheguei a saber quem foi que pisou a mina. Assim que puder eu ligo. Ficas a pertencer ao meu grupo de combate.

Um abraço sentido,
J Caldeira”.


Fur Mil Joaquim Caldeira em Tite
Joaquim Caldeira na actualidade


Sobre a CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834

********************

Comentário do coeditor CV:

Caro Joaquim Caldeira,

Sê bem aparecido na tertúlia e que te mantenhas por cá, assim como nós todos, por muitos e bons anos, são os votos da tertúlia.

Ocupas "administrativamente" o lugar 905 deste já extenso grupo de antigos combatentes e amigos da Guiné que se sentam à sombra deste frondoso "Poilão".

O nosso editor Luís Graça já te disse o essencial sobre o nosso Blogue que é um repositório de memórias contadas na primeira pessoa, pelo que não te vou maçar quanto a isto.

Sendo tu o primeiro representante da tua 2314 na tertúlia, tens a responsabilidade acrescida de nos deixares algo que a perpetue na nossa página, que queremos faça parte da História de Portugal e da guerra na Guiné, em particular. As guerras são uma desgraça, criada nos gabinetes do Poder, que matam a eito, não poupando civis e militares, homens, mulheres e crianças, novos ou velhos. Não queremos que volte a acontecer algo semelhante com e em Portugal e, se possível no mundo inteiro.

É fácil, como já sabes, é só enviares os textos, em word preferencialmente, e as tuas fotos, devidamente legendadas, em formato JPEG. Isto não esquisitice, é só para facilitar o nosso trabalho de edição.

A terminar, não me posso esquecer de deixar-te um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.

3 comentários:

Anónimo disse...

João Crisóstomo, Nova Iorque, (de momento em Portugal)

Este foi mais um momento de emoção, a juntar a tantos que tenho vivido desde o primeiro momento em que tive conhecimento e depois ingressei formalmente neste grupo de “Camaradas da Guiné”.
Quem de nós não experimentou e viveu momentos como estes aqui descritos pelo nosso camarada Caldeira?

“ È muita emoção para gerir. Temos muito que falar , muitas memórias para recordar.” Afinal, consegues ver e estou muito feliz por isso. Em boa hora me lembrei de escrever aquela aventura.” …. “ estou comovido com a notícia de que, o homem que ficou cego naquela manhã, afinal vê” ….

Puxa vida! Não sei o que te dizer, a não ser que me junto ao Luís Graça e Carlos Vinhal num grande abraço de “benvindo”. Podes ter a certeza, meu camarada Caldeira, de que não são só estes dois e eu. Este abraço de “benvindo” é de todos nós, mesmo que não o ponham por escrito. Todos estamos gratos ao Aníbal por te ter reencontrado. E todos vivemos também esta comoção fortemente manifesta nas vossas palavras.

Não sei se vais receber este a tempo, mas aqui vai uma sugestão/convite: no dia 29, nesta próxima quinta feira, muitos de nós ( 75 confirmados até ao momento) vamos-nos encontrar no Restaurante “Caravela d’ Ouro” em Algés, arredores de Lisboa para um almoço e umas horas em que lembramos, partilhamos e revivemos… Se puderes e quiseres aparecer , creio que o nosso régulo Resende arranjará maneira de juntar mais um ou dois lugares. Se isso te for possível, ( sem ofensa!) permite-me que sejas meu convidado,OK? Considera isso parte do meu abraço de Boas vindas! O beneficiado sou eu e todos pela tua presença que será uma grande “maior valia “ , uma experiência extraordinária para todos .
Se me quiseres contactar o meu E mail é : crisostomo.joao2@gmail.com Podes tentar o meu telefone , mas como eu vivo em Nova Iorque tens de pôr o respectivo indicativo ; portanto será 0019172571501. Duma maneira ou outra, Sê benvindo!

João Crisóstomo.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Já dei as boas vindas ao Joaquim Caldeira, um camarada de Coimbra que viveu, intensamente, o drama de Bissássema. Ele tem histórias, porque as viveu, para partilhar connosco. Que os bons irãs te protejam, Joaquim!... Luis

Eduardo Estrela disse...

Meu caro, querido, amigo e camarada João Crisóstomo!!
Eu e o teu contemporâneo e comum amigo Joaquim Teixeira vamos poder dar-te um fraterno abraço na quinta feira 29.
Um abraço de agradecimento pela forma como vives e agradeces a todos os que se juntam às tropas desmobilizadas, mas activas.
És um Homem de boas e fraternas causas.
Também eu me comovi e sei que muitos outros, com esta impressionante história de violência, fraternidade e amor, que nos transporta para uma época de equívocos que correm o risco de regressar pela mão de quem nada sabe e ou pretende ignorar.
Grande abraço
" Saúde da boa "
Eduardo Estrela