Fotos (e legenda): © Victor Tavares (2022).Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Victor Tavares (ex-1º cabo pqdt, apontador de MG42 CCP 121/ BCP 12, BA 12, Bissalanca, 1972/74; natural de Águeda, é membro da Tabanca Grande desde 6/10/2006) |
de milhares de jovens combatentes de ambos os lados, das dezenas de milhares de mulheres, crianças e velhos da população civil, afinal as grandes vítimas do conflito...
- como forças de intervenção, três CCP/BCP 12 e o DFE 1 (Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 1), depois substituído pelo DFE 12;
- como forças de quadrícula, três Companhias de Infantaria, uma de Cavalaria, três Pelotões de Artilharia e uma Companhia de Engenharia;
- como força de apoio atuou um CFT (Cmd de Força Tarefa/Marinha), com duas LDG (Lancha de Desembarque Grande), quatro LDM (Lancha de Desembarque Média), uma LFG (Lancha de Fiscalização Grande), duas LFP (Lancha de Fiscalização Pequena) e, a pedido do Cmdt da operação à FAP, os indispensáveis e disponíveis meios aéreos.
A Directiva n" 19/72 de 29Nov do Comandante-Chefe tem de assunto a "Criação do COP 4".
"1. No quadro da manobra de contra-subversão a conduzir de acordo com a Directiva para a época seca de 1972-73, a execução de reordenamentos nas áreas de Caboxanque, Cadique e Cafine, para recuperação das populações da região do Cantanhez, é uma das concretizações de maior alcance do esforço da manobra socioeconómica que se pretende desenvolver no Sul da Província.
- que o lN pode vir a empenhar elevado potencial na região do Cantanhez, para obstar à execução daqueles reordenamentos;
- que o Sector S3 não tem capacidade de exercício de comando para o cumprimento desta missão específica, face à missão que atualmente já lhe está cometida;
determino a criação do COP 4 sob o comando do tenente-coronel Pqdt Sílvio Araújo e Sá, apoiado pelo Cmd/BCP 12.
3. O COP 4 fica na dependência directa do CCFAG, sendo-lhe atribuída a seguinte missão, meios e ZA:
a. Missão
- implanta destacamentos militares nas áreas de Caboxanque, Cadique e Cafine e desenvolve imediatamente e com a maior intensidade os trabalhos de construção de reordenamentos nas referidas áreas;
- recupera as populações sob controlo do lN e cria as condições psicológicas que permitam a aceitação voluntária dos reordenamentos;
- desenvolve adequada actividade militar em ordem a garantir a segurança das populações, trabalhos de reordenamento e meios materiais;
- limita a iniciativa militar ln na região de Cantanhez por actuação sobre os seus dispositivo militar, aparelho militar de controlo e segurança das populações e infraestrutura político-administrativa existentes na área;
- desenvolve permanente ação psicológica sobre as populações de modo a que aceitem a presença das NF, colaborem na construção dos reordenamentos e, progressivamente, adiram ao programa de promoção socioeconómica em curso na Província.
b. Meios
- 2 CCP do BCP 12
- 2 DFE (1 Destacamento a atribuir posteriormente)
- CCaç 6
- CCaç 4540/72
- CCaç 4541/72
- CCav 8352/72
- Destacamento de Cabedú
- 1 Pel Art 14 cm (T) a 2 Sec BP.
c.ZA
- Foz do R. Cumbijã, curso do R. Cumbijã até Guileje 3 A5-I5,
- R. Demba Chiudo, Guileje 2 G3-45, Guileje 2 F7-23, R. Dideregabi,
- R. Cacine até à foz.
4. Atribuo alta prioridade à missão do COP 4. Consequentemente, impõe-se desde já iniciar com maior intensidade os trabalhos que permitam a instalação dos destacamentos e a execução dos reordenamentos de Caboxanque, Cadique e Cafine que, em linhas gerais, se deverá processar nas seguintes fases:
a. 1ª Fase - Preparação (desde já e até 08Dez72)
(1) Realização de ações ou operações na região do Cantanhez ou de Catió com a finalidade de aniquilar o ln e criar condições psicológicas que facilitem a aceitação por parte das populações dos futuros reordenamentos.
(2) Preparação das Unidades (pessoal e material) para a execução da 2ª. fase e transporte para Cufar dos materiais considerados indispensáveis.
b. 2ª Fase - Implantação (de 08 a 16Dez72)
(1) Transporte e desembarque das forças responsáveis pela implantação dos destacamentos e do material necessário, atendendo ao seguinte:
- Os destacamentos de Cadique e Caboxanque devem ser estabelecidos simultaneamente ou então apenas com um dia de intervalo, mas neste caso o de Cadique tem prioridade.
- Não devem concentrar-se simultaneamente em Cufar efetivos superiores a 1 Comp, além dos atualmente lá existentes.
(2) Desenvolvimento da atividade militar que garanta a necessária segurança à implantação dos destacamentos e à recuperação das populações.
c. 3ª Fase - Consolidação ( a partir de 16Dez72)
(1) Consolidação da ocupação militar e desenvolvimento dos trabalhos de reordenamento.
(2) Desenvolvimento de actividade operacional em proveito da segurança dos destacamentos e populações recuperadas. [... ]"
• Para cumprimento da Directiva n° 19/72, o COP 4, com sede em Cufar, integrando o subsector de Bedanda e a área do Destacamento de Cabedú, ambos transferidos do BCaç 4510/72, teve início em 12Dez72 e a extinção em 02Ju173 .
• Para concretizar a missão, foi decidido executar a Operação "Grande Empresa" de cujo Plano de Operações, elaborado pelo Comandante do COP 4 e datado de 01Dez72, se reproduzem as "Situação", "Missão" e "Execução".
1. Situação
a. Forças Inimigas
Anexo B (Informações) (omitida)
b. Forças Amigas
(1) CDMG
- Realiza os transportes de pessoal e abastecimentos necessários, em coordenação com o CTIG, em ordem ao cumprimento da missão.
- Atribui permanentemente 1 LDM para transportes de material e pessoal.
- Garante o apoio administrativo - logístico às suas Unidades.
(2) CZACVG
- Atribui diariamente
- 1 "DO-27" (DCON- TMAN) ,
- 2 "T-6" (ATAP)
- e 1 "ALL III" (TMAN/TEVC)
- Atribui os meios aéreos necessários à execução de operações, com:
- "FIAT G-91" ATAP
- "T-6" ATAP
- "ALL III" TMAN/TASS
- "ALL III" ATAP
- "DO-27" DCON
- Executa e atribui meios aéreos para intenso reconhecimento da ZA, em ordem à execução do esforço e transporte de manobra em exploração imediata de informações.
- Garante o apoio administrativo-logístico das CCP.
(3) CTIG
- Fornece os meios e serviços necessários ao apoio administrativo- logístico das Unidades do Exército, à implantação dos destacamentos, e à construção dos reordenamentos.
- Liga-se com o CDMG para efeito de transporte dos meios e serviços necessários.
(4) QG/CCFAG
- Fornece uma equipa que assegura diretamente e em permanência o suporte psicológico do cumprimento da missão, considerando como finalidade primordial desta missão a recuperação das populações do Cantanhez.
- Garante o apoio de caráter técnico e logístico aos trabalhos de construção dos reordenamentos, dentro da sua esfera de ação.
(5) BCAÇ 4510/72
- Fornece ao COP4 todo o apoio, em especial em Cufar, no que respeita a instalações de pessoal e material, e ao exercício do Comando.
- Garante a segurança dos meios aéreos e do pessoal e material desembarcado em Cufar.
- Garante o apoio administrativo-logístico do destacamento de Cabedú.
(6) COE
- Colabora na interdição das zonas de passagem mais frequentes do ln, lançando campos de minas quando tal lhe for solicitado pelo comando do COP 4.
2. Missão
- Implantar destacamentos militares nas áreas de Caboxanque, Cadique e Cafine e desenvolver imediatamente e maior intensidade, os trabalhos de construção de reordenamentos nas referidas áreas.
- Recuperar as populações sob controlo do ln e cria as condições psicológicas que permitam a aceitação voluntária dos reordenamentos.
- Desenvolver adequada atividade militar em ordem a garantir a segurança das populações, trabalhos de reordenação e meios materiais.
- Limitar a iniciativa militar lN na região do Cantanhez por atuação sobre o dispositivo militar, aparelho militar de controlo e segurança das populações e infraestrutura político-administrativa existente na área.
- Desenvolver permanente acção psicológica sobre as populações, de modo a que aceitem a presença das NT, colaborem na construção dos reordenamentos, e, progressivamente, adiram ao programa de promoção socioeconómica em curso na Província.
3. Execução
a. Conceito da Operação
- Construir quatro Agrupamentos, com a missão específica e particular:
- Agrupamento de Forças de Intervenção (Agrup I) - Assegurar a proteção afastada dos reordenamentos, executando ações ofensivas sobre áreas fulcrais, e interdizer ao ln as "cambanças" tradicionais.
- Agrupamentos de Reordenamento (Agrup A, B e C) - Efetuam os reordenamentos em ordem ao cumprimento da missão, e as- . seguram a sua protecção imediata e próxima.
- Atribuir aos Agrupamentos de reordenamento, a organização e funcionamento das missões específicas relativas a:
- Segurança imediata e próxima dos trabalhos de cada reordenamento.
- Organização e controlo do trabalho de cada reordenamento.
- Instalação e segurança do pessoal e dos estacionamentos temporários.
- Exercer intensa ação psicológica, procurando recuperar a população da ZA.
- Atribuir a cada Agrupamento de reordenamento, um sector de responsabilidade
para manutenção da actividade normal de rotina, em ordem a garantir uma ação efetiva e contínua na segurança próxima dos trabalhos de reordenamento, ou a ela ligada.
- Atribuir à CCaç 6 um sector de responsabilidade para manutenção da atividade normal de rotina, em ordem a contribuir para a segurança afastada dos trabalhos de reordenamento.
- Com o Agrup das Forças de Intervenção, executar ações por helitransporte ou por desembarque em meios navais, nas Zonas que possam afetar a segurança dos trabalhos de reordenamento.
- Prever a alteração das Zonas de ação dos Agrupamentos, assim como a articulação das forças, de acordo com a evolução e adiantamento dos trabalhos, e a situação na ZA.
- Anexo C (Zona de acção dos Agrupamentos) (omitido)
b. Agrupamento das Forças de Intervenção
(1) CCP 122
- Articula-se a 2 Agrupamentos a 2 Grupos de Combate.
- Após helicolocação em D-l, de um dos seus Agrupamentos na Zona x e do outro na Zona y, garante a segurança afastada das Zonas ALFA e BRAVO.
- Em D+ 1 é helirecuperada para Cufar, onde fica à ordem do Comandante do COP 4 para intervenção.
- Após helicolocação em D+4 na Zona 2, garante a seguranç afastada da Zona CHARLIE.
- Em D+5 é helirecuperada para Cufar.
- A partir de D+5 fica à ordem do Comando do COP 4 para o desempenho de missões de intervenção na sua ZA.
(2) DFE 1 (-)
- A partir de D+4 faz a interdição, em permanência, da "cambança" tradicional do ln entre Darsalame e a Ilha do Como.
c. Agrupamentos de Reordenamento
(1) Agrupamento ALFA
(a) 2 GComb/CCP 121 (-)
- Após ser helicolocada em D, em Caboxanque, contacta e controla a população, e garante a segurança imediata do desembarque da CCaç 4541/72.
- Findo o desembarque da CCaç 4541/72, passa a garantir a segurança próxima do Agrupamento em íntima coordenação com aquela.
(b) CCaç 4541/72
- Após o seu desembarque em D, em Caboxanque, procede à segurança imediata do ponto de desembarque, e colabora no desembarque do material transportado. Monta a segurança imediata do estacionamento provisório, em coordenação com a CCP 121 (-).
- Com apoio do COE, coloca em D, um campo de minas na região de Bedanda C 1; em data a indicar.
- Procede aos trabalhos de consolidação da sua defesa imediata, e instalação e segurança do pessoal e dos estacionamentos temporários.
- Procede à organização e controlo dos trabalhos de reordenamento.
- Recupera a população da sua ZA, mantendo com a mesma as melhores relações; apoia-a na medida do possível, e desenvolve adequada acção psicológica em conformidade com as instruções que lhe forem dadas.
- Mantém íntima ligação com a CCP 121 (-).
(2) Agrupamento BRAVO
(a) CCP 121 (-)
- Após ser helicolocada em D em Cadique, contacta e controla a população e garante a segurança imediata do desembarque da CCaç 4540/72.
- Findo o desembarque da CCaç 4540/72, passa a garantir a segurança próxima do Agrupamento em íntima coordenação com aquela.
(b) CCaç 4540/72
- Após o seu desembarque em D, em Cadique, procede à segurança imediata do seu estacionamento provisório, em coordenação com a CCP 121 (-).
- Procede aos trabalhos de consolidação da sua defesa imediata, e instalação e segurança do pessoal e dos estacionamentos temporários.
- Procede à organização e controlo dos trabalhos de reordenamento.
- Recupera a população da sua ZA, mantendo com a mesma as melhores relações; apoia-a na medida do possível, e desenvolve adequada acção psicológica em conformidade com as instruções especiais que forem dadas.
- Mantém íntima ligação com a CCP 121 (-).
(3) Agrupamento CHARLIE
(a) DFE 1 (-)
- Após ser helicolocado em D+4 em Cafine, contacta e controla a população e garante a segurança imediata do desembarque da CCav 8352/72, após o que colabora com esta na defesa imediata do estacionamento, em íntima coordenação
com aquela companhia.
(b) CCav 8352/72
- Após o seu desembarque em D+4 em Cafine, procede à segurança imediata do ponto de desembarque, e colabora no desembarque do material transportado. Monta a segurança imediata do estacionamento provisório, em coordenação
com o DFE 1 (-).
- Procede aos trabalhos de consolidação da sua defesa imediata, e instalação e segurança do pessoal em estacionamento temporários.
- Procede à organização e controlo dos trabalhos de reordenamento.
- Recupera a população da sua ZA, mantendo com ela as melhores relações; apoia-a na medida do possível, e desenvolve adequada acção psicológica em conformidade
com as instruções especiais que lhe forem dadas.
- Mantém íntima ligação com o DFE 1 (-).
d. CCaç 6
- De D-l a D+ 1 bate a região de Cura- Braia em ordem a contribuir para a segurança afastada da Zona ALFA.
- A partir de D+ 1 efectua patrulhamentos da sua ZA, em ordem a prosseguir a mesma finalidade.
- Apoia o 17° Pel Art.
- Desempenhará missões indicadas pelo comando do COP 4 em ordem ao cumprimento de missão.
e. Destacamento de CABEDÚ
- Mantém apoio de comunicações, e logístico quando ordenado pelo Comando do COP 4.
- Apoia o 5° Pel Art.
f. Artilharia
(1) 17° PelArt (14 cm)
- Executa AID à ordem do Comando do COP 4, do PCV, ou a pedido das forças empenhadas, em operações dentro da sua ZA.
- Executa fogos noturnos de flagelação na sua ZA, à ordem do comando do COP 4.
(2) Pel Art (Eventual-Cufar) (14 cm)
- Executa AlD à ordem do Comando COP 4, do PCV, ou a pedido das forças empenhadas, em operações dentro da sua ZA.
- Executa fogos nocturnos de flagelação na sua ZA, à ordem do Comando do COP 4.
(3) 5° Pel Art
- ExecutaAID à ordem do Comando COP 4, do PCV, ou a pedido das forças empenhadas, em operações dentro da sua ZA.
- Executa fogos nocturnos de flagelação na sua ZA, à ordem do Comando do COP4. [... ]"
•A instalação no terreno teve início em 12Dez através de uma operação [1] .
A missão atribuída ao Cmdt do COP4 pelo Cmdt-Chefe através da Directiva n.º 19/72 de 22 de Nov foi concretizada conforme se comprova:
"As Companhias de Caçadores e de Cavalaria construíam os seus aquartelamentos em Cadique, Caboxanque, Cafal Balanta (e em Jemberém, mais tarde), cuja segurança imediata e próxima garantiam. Controlavam e apoiavam a população. Apoiavam e protegiam a execução dos reordenamentos e faziam a protecção imediata e próxima à construção da estrada.
As três Companhias de Pára-quedistas e o Destacamento de Fuzileiros
Especiais actuavam ofensivamente sobre os grupos armados inimigos onde
eles fossem detectados, garantindo a segurança em toda a área a fim de permitirem a recuperação das populações e o seu reordenamento, bem como a construção da estrada Cadique-Jemberém. ,
A CMI- Companhia de Material e Infraestruturas do BCP 12 faria o apoio logístico imediato a todo o COP 4.
O Destacamento de Engenharia construiria a estrada Cadique-Jemberém
e apoiaria todas as restantes obras a realizar na Zona de Acção.
A Marinha asseguraria os transportes de pessoal e os reabastecimentos por via marítima e fluvial. Para este efeito, em 07 de Dezembro de 1972, o Comando da Defesa Marítima da Guiné criou uma Força Tarefa exclusivamente
para esta operação, o CTG6.
A Força Aérea asseguraria os reconhecimentos visuais, os transportes de manobra, as evacuações sanitárias e os apoios de fogo aéreos.
Em Janeiro, após as bem sucedidas instalações das Unidades que iam ocupar os novos aquartelamentos no Cantanhez, o dispositivo militar português na região ficou como segue:
- Em Caboxanque [2] , a CCaç 4541/72 e a CCav 8352/72 ocupando as instalações e a CCP 122 fazendo a segurança afastada. O Agrupamento era comandado pelo Capitão de Artilharia Nelson de Matos.
- Em Cadique [2] , a CCaç 4540/72 ocupando as instalações e a CCP 121 fazendo a segurança afastada. O Agrupamento era comandado pelo Major de Infantaria Carlos Gordalina.
- Em Cafal [3], a CCaç 3565 ocupando as instalações e o DFE 1 fazendo a segurança afastada.
Começaram então as difíceis, melindrosas e persistentes acções de captação da confiança das populações, numa região que não via tropas portuguesas há anos e onde o PAIGC se instalara em força, controlando todos os aspectos do quotidiano das ditas populações.
• Integradas na "Grande Empresa" foram realizadas subsequentes operações
destacando-se entre outras:
[2] Subsectores criados em 12Dez72.
[5] CALHEIROS, José de Moura, A Última Missão, Editora Caminhos Romanos, Porto, 2010, p.336
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Nota do editor: