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quinta-feira, 14 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19586: (D)o outro lado do combate (46): A Missão especial da ONU na Guiné - Abril 1972 (António Graça de Abreu / Luís Graça) - Parte I: capa + pp. 1-3



Capa do relatório, de 11 (onze) páginas do relatório, policopiado que é uma versão portuguesa contendo a parte principal do "Report of the Mission of the United Nations Special Committee on Decolonization after visiting the liberated Areas of Guinea-Bissau (A/AC. 109/L. 804; 3 July 1972)"... 



1. Ainda não encontramos, na Net,  o documento original, em inglês, do Comité Especial para a Descolonização, das Nações Unidas, que visitou as "áreas libertadas" da Guiné-Bissau, em plena guerra colonial, em abril de 1972, a convite de...Amílcar Cabral. Ou, melhor, temos encontrado excertos... Mas o relatório original, em inglês,  está documentado com fotos, mapas, itinerários, etc.

A cópia, em papel,  de que dispomos foi-nos fornecida há anos [, por volta de 2010, na sequência dos comentários ao poste P5680 (*), e não foram poucos: cerca de duas dezenas e meia!] pelo nosso camarada António Graça de Abreu, com vista a uma eventual publicação no blogue.

O documento é capaz de corresponder à seguinte referência bibliográfica que encontramos no portal das Memórias de África e de Oriente:

BORJA, Horácio Sevilla - A missão especial da ONU na Guiné Bissau, Abril 72 / Horácio Sevilla Borja, Folke Lofgren, Kamel Belkhiria. - [S.l.] : PAIGC, 1972. - 11 p.. - Corresponde a: Relatório [...]
Cota: BAC-135|CIDAC.

A iniciativa da sua publicação e divulgação, em Portugal, logo na época, deve ter pertencido ao CIDAC - Centro De Intervenção Para O Desenvolvimento Amílcar Cabral, com sede em Lisboa. Aliás, o o documento, de 11 páginas, consta da sua base de dados bibliográfica.

Logo na página não numerada, entre a capa e a página 1, se explica qual é  a natureza e a autoria do documento:

(i) o texto editado, em português,  é "a parte principal do relatório escrito e apresentado pela Missão Especial";

(ii) três membros do Comité Especial de Descolonização da ONU visitaram as "áreas libertadas da Guiné-Bissau" (sic), de 2 a 8 de abril de 1972, a convite do PAIGC;

(iii) nesse curto espaço de tempo (menos de um semana), terão percorrido 200 quilómetros (ida e volta), quase sempre a pé, visitando 9 localidades diferentes (o que, convenhamos, é obra para quem, como nós conheceu a Guiné, ou uma parte dela, a "penantes" ou de "viatura militar": Unimog, GMC, Berliet, Jeep...);

(iv) o objetivo da visita, que se fez à revelia do governo português de então, e sob protesto deste, era "assegurar informações em primeira mão sobre as condições nas áreas libertadas" (sic) e, simultaneamente, "averiguar as intenções e aspirações do povo no que respeita ao seu futuro";

(v) além de dois  funcionários da ONU (,1 secretário e 1 fotógrafo),  os membros da missão eram  os seguintes diplomatas: Horácio Sevilla Borja (Equador), Folke Lögfren (Suécia) e Kamel Belkhiria (Tunísia); Borja foi o relator principal. (É hoje representante permanente do seu país na ONU, tendo sido até 2016, embaixador residente no Brasil.)

A edição do documento é atribuída. pelo CIDAC, ao PAIGC. Amílcar Cabral fez o que  lhe competia e convinha: tirou o máximo proveito  propagandístico desta polémica missão a que já nos referimos em poste anterior (*).
"
O documento, policopiado,  que agora reproduzimos tem a página 2 está pouco legível, as restantes estão com qualidade aceitável. Na página 2,  reconstituímos alguns parágrafos. O relatório foi digitalizado pelo nosso editor Luís Graça. Damos hoje início à sua publicação (, nove anos depois!...), esperando entretanto os preciosos comentários dos nossos leitores, e nomeadamente os que conheceram a região de Tombali, e em particular o "corredor de Guileje" por onde andaram os visitantes...vindos de (e regressados a) Conacri-Boké-Kandiafara. 

Na capa vem um mapa da Guiné, com o território assim distribuído: (i) "áreas libertadas"; (ii) "áreas onde há luta"; (iii) "áreas controladas pelo exército colonial português"; e (iv) "aquartelamentos do exército colonial"... Presume-se que o mapa seja da autoria do PAIGC e se reporte à situação militar no 1º trimestre de 1972. 

Salta logo à vista que faltam, no que diz respeito às posições das  NT em 1972,  inúmeros aquartelamentos, destacamentos e tabancas em autodefesa, com pelotões de milícia, em todas as três grandes regiões: Norte, Leste e Sul...Logo no setor L1, que eu conheci: há só referência a Bambadinca e Saltinho, faltam 3 importantes aquartelamentos (Xime, Mansambo e Xitole), fora os destacamentos do exército e das milícias...


2. Recorde-se o que aqui, neste blogue, já foi dito em 2010, no poste P568o (*): esta missão decorreu no sul, na atual região de Tombali. Representou para Amílcar Cabarl e o seu Partido uma suas maiores vitórias diplomáticas. A Região de Tombali engloba, hoje, os sectores de Bedanda, Catió, Como, Quebo e Quitafine, tendo um total de cerca de 3700 km2 e 90 mil habitantes. Na época teria muitíssimo menos população.

A missão da ONU  restringiu-se à zonas de Bedanda,  Catió  e Quitafine. Os diplomatas  focaram a sua atenção nas estruturas militares, aldeias, escolas e armazéns, e fizeram depois apreciações, que constam no relatório, sobre "a situação no campo do ensino, da saúde, da administração da justiça, da reconstrução da economia e da formação de uma assembleia nacional".  Os membros da missão vestiam fardas militares, com insígnias das Nações Unidas, e tiveram escolta de um bigrupo reforçado do PAIGC (cerca de 60 homens armados) sob o comando do Constantino Teixeira.

O(s) autor(es) do relatório inclui(em), nesta síntese, excertos de um relatório de Amílcar Cabral sobre "a agressão [portuguesa] contra a Missão Especial da ONU" (pág. 5, vd. no próximo poste)... Os números que utiliza são fantasiosos,  e faz referência as meios, alegadamente utilizados pelas NT que já não existiam, ou não existiam de todo no CTIG: por exemplo, os aviões de combate F-86 F, a artilharia de 130 mm... (confusão com a peça 11.4 e o obus 14).

Sabe-se qual foi a musculada resposta de Spínola, alguns meses depois: a decisão de reocupar o mítico Cantanhez, que o PAIGC controlava desde 1966, em termos territoriais e populacionais... A Op Grande Empresa, conduzida pelo recém-criado COP 4, teve início em 8 de Dezembro de 1972, com desembarque de forças e a sua instalação nas tabancas de Cadique Ialala, Caboxanque e Cadique. Seria também ocupada a região de Jemberém e construída uma estrada táctica a ligar as duas margens da península do Cantanhez...

Na sua mensagem de Ano Novo 1973, Amílcar Cabral denuncia e reconhece as tentativas de reocupação do Cantanhez, aos microfones da Rádio Libertação, três semanas antes de ser assassinado (Oiça-se o registo aúdio, disponível no Dossier Amílcar Cabral, da Fundação Mário Soares).





Página não numerada, que antecede a página 1 do documento, de 11 págunas e que vem a seguir à capa.





[resta, pântanos e savana. Durate o percurso, a Missão atrvessou três ribeiros e rios e cruzou numerosos arrozais. Algumas horas antes do amanhecer de 3 de Abril, a Missão chegou ao seu primeiro destino, no coração das florestas do setor Balana, uma base do exército do PAIGC, fortemente guardada,  formada por várias tendas,  cabanas e barracas, que é o Quartel General do Comissariado Político para a Região Sul.  Aqui a Missão encontrou , entre outros, os seguintes líderes e membros do Comité Executivo:  João Bernardo Vieira (Nino), comandante do exército de libertação; Vasco Cabral, ideó.]



[feitos por atilharia pesada: as culturas tinham sido destruídas com napalm e havia muitas palhotas e celeiros destruídos. Durante o percurso a Missão visitou a aldeia de Ien-Kuntei que foi totalmente destruída no dia seguinte por bombardeamentos aéreos, e passou a 2 km do acampamento militar português de Bedanda.

Na manhã de  4 de Abril, a Missão chegou à escola  Areolino Lopes Cruz, no sector Cubucaré (região Catió), onde ficou duas noites. Esta escola, que tem o nome de um dos primeiros professores mortos durante um ataque dos portugueses, ministra o ensino primário a 65 alunos, entre os 10 e os 15 anos. A maioria dos alunos são órfãos ou filhos dos soldados do PAIGC. Por]




(Continua)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de janeiro de  2010 > Guiné 63/74 - P5680: Efemérides (41): No 37º aniversário da morte de Amílcar Cabral, recordando o sucesso diplomático que foi a visita da missão da ONU às regiões libertadas, no sul, 2-8 de Abril de 1972


Na altura, em 22/1/2010, o António Graça de Abreu escreveu o seguinte, em comentário:

(...) Já havia esquecido, mas ontem fui aos meus papéis velhos sobre a Guiné e lá encontrei o relatório da "Missão especial da ONU na Guiné, Abril de 1972."

Está aqui comigo e recomendo a leitura e entendimentos a todos os que passámos pela Guiné na fase final do conflito. Esclarecedor, brilhante, também angustiante.As verdades dos factos. Talvez a publicar no blogue mas são dez páginas em A 4.

Em anexo ao texto dos homens da ONU, são publicados excertos do relatório então escrito por Amílcar Cabral sobre a visita dos homens da ONU.  No nosso blogue temos tido o gosto (eu não) de denegrir a capacidade militar das NT (Guileje, a guerra militarmente perdida, perdida em termos militares, etc.). Pois Amílcar Cabral faz exactamente o contrário, exalta e exagera a capacidade militar das tropas portuguesas em Abril de 1972.

Leiam as palavras de Amilcar Cabral no seu relatório sobre Missão da ONU:  "No dia seguinta da partida da missão (da ONU), o estado Maior Português, declarou o estado de prevenção para os 45.000 militares das tropas coloniais existentes no nosso país, dos quais 15.000 se encontram acampados no Sul (...) 10.000 homens das tropas especiais foram transportados durante alguns dias de Bissau para o Sul. Se juntarmos as forças da aviação e da marinha que operaram no decurso da agressão, o número total de homens mobilizados foi da ordem de 30.000."

Isto num pequeno país onde, segundo a missão da ONU,  3/4 do território eram "zonas libertadas pelo PAIGC" que dispunha de 5 a 6 mil combatentes, e onde (agora em Janeiro de 2010) segundo a opinião do diplomata equatoriano da ONU que fez parte da missão, os portugueses, "entrincheirados nos  seus quartéis" apenas "se deslocavam por via aérea."
Tanto dado falsificado! Difícil fazer a nossa História e a dos povos da nossa Guiné!" (...)


(**) Último poste da série > 27 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19536: (D)o outro lado do combate (45): A morte de Rui Djassi - II (e última) Parte - A Op Alvor, península de Gampará, de 22 a 26 de abril de 1964 (Jorge Araújo)

domingo, 18 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16500: (Ex)citações (317): Porto Balana era uma designação da Força Aérea, julgo que o Exército nunca lá terá ido (Miguel Pessoa, Coronel PilAv Reformado)

1. Mensagem do nosso camarada Miguel Pessoa, Cor PilAv Ref (ex-Ten PilAv, BA 12, Bissalanca, 1972/74), com data de 14 de Setembro de 2016:

Caros editores

Dou-vos esta informação por mail pois pretendo incluir uma imagem alusiva, o que não seria possível através de um comentário no Poste.

Apareceu no Poste 16494 (I Parte do texto sobre a ejecção do TCor. Costa Gomes em Gandembel) um comentário do nosso camarada Alberto Branquinho que diz que deve haver um engano e o Porto Balana deverá ser o destacamento de Ponte Balana.

Não é bem assim, eram duas coisas diferentes. Acredito que o pessoal do Exército nunca se tenha apercebido da existência do Porto Balana.

O que acontece é que quando o corredor do Guilege chegava ao Rio Balana havia um embarcadouro onde se avistavam com frequência pirogas. Nesse ponto os guerrilheiros transferiam alguma da carga que vinha pelo trilho para as pirogas e essa carga seguia depois "via fluvial" pelo Rio Balana acima em direcção à área de Salancaur.

A Força Aérea andava sempre a tentar detectar alguma actividade neste ponto e chegámos a partir algumas caixas com o helicóptero armado.~

No meu tempo (fins de 1973?) eu próprio estive envolvido em algumas missões a esse local com os Fiat G-91.

Julgo que o Exército nunca lá terá ido. A designação "Porto Balana" é da Força Aérea.

Junto uma imagem que mostra os dois pontos nas imediações do aquartelamento de Gandembel.

Abraço
Miguel Pessoa

Zona do aquartelamento de Gandembel
Infogravura: Miguel Pessoa (2016)
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 Nota do editor

Último poste da série de 1 de setembro de 2016 Guiné 63/74 - P16436: (Ex)citações (316): Em Fá Mandinga e Missirá, costumava declamar, de Reinaldo Ferreira, o poema "Receita para fazer um herói" (Jorge Cabral, ex-alf mil art, Pel Caç Nat 63, 1969/71)

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13212: (In)citações (65): Salvemos o elefante africano que 40 anos depois do fim guerra volta a percorrer o corredor de migração de Gandembel, Balana, Cumbijã e Colibuía na época das chuvas!

1. Mensagem do nosso amigo Nelson Herbert Lopes, jornalista da Voz da América (VOA)

De: Nelson Herbert

Data/hora: 29 mai 2014 15:40

Assunto - Elefantes


Quatro dácadas volvidas sobre o fim da guerra pela independência, "elefantes" repovoam mitica floresta de Cantanhez... no Sul da Guine Bissau !

Anexo foto recente (Abril 2014) do Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) da Guine Bissau !

Pepito ia adorar saber disso ! (*)



Imagem de um elefante, captado pelo IBAP - Instituto de Biodiversidade e das Áreas Protegidas, da Guiné-Bissau, no dia 1 de abril de 2014, às 17h53. Imagem enviada pelo Nelson Herbert Lopes, sem indicação de fonte. Em princípio, é uma foto automática, tirada por uma câmara especial, "Moultrie", usada para fotografar a vida selvagem... A temperatura ambiente era de 30º.. Estamos no fim da época seca (abril)... (LG)


2. Recortes de imprensa


(i) IBAP confirma presença de elefantes nas florestas da Guiné-Bissau

2014-05-27 13:33:20

Bissau – O Instituto de Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) confirmou a existência, nas florestas da Guiné-Bissau, de animais de grande porte, concretamente na região de Quinara, sector de Buba.

Em comunicado de imprensa que a PNN consultou, esta instituição indicou que, em Fevereiro de 2014, a Direcção do Parque Natural das Lagoas de Cufada foi informada da presença de elefantes nas matas de Sintchã Paté [,entre o Quebo e Xitole], tendo uma equipa do IBAP deslocado-se ao local para confirmar estas informações, onde se observou a presença de elefantes a 6 de Fevereiro, pelas 18.30 horas.

De acordo com os habitantes da povoação de Sintchã Paté e de Samba Só, trata-se de uma pequena manada composta por três animais, dois adultos e uma cria, que se encontram bloqueados numa área restrita com condições favoráveis à sua sobrevivência, dotada de água e alimentos, pois o corredor de migração habitualmente utilizado foi bloqueado devido ao corte de madeira.

Na sequência da presença do primeiro grupo destes animais, a ocorrência foi novamente confirmada em Abril, pelos técnicos do IBAP através da instalação de câmaras de vigilância ultravioleta nas florestas, que conseguiu captar imagens de um casal de elefantes na lagoa de Caruai, Balana, Parque Nacional de Cantanhez.

O instituto informa ainda que esta manada de elefantes parece localizar-se numa zona muito limitada, com frequentes migrações entre a República da Guiné-Conacri e a Guiné-Bissau, em busca de água e alimentos. O elefante africano é o maior mamífero terrestre conhecido. Está classificado na Lista Vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza na categoria de animais ameaçados de extinção e também consta no anexo I da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies de Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas. (...)

(c) PNN Portuguese News Network

[Excerto, reproduzido, com a devida vénia,  de Jornal Digital - Notícias em Tempo Real]


(ii) Alguns excertos da  nota informativa do IBAP que  foi reproduzida no sítio da IUCN - União Interncional para a Conservação da Natureza:




A época de migração destes elefantes para a Guiné-Bissau (regiões de Quínara e Tombali), em busca de água e alimento,  começa no início das chuvas, em maio e vai até novembro, altura em que voltam  à Guiné-Conacri, para a zona do Rio Kogum (Bouliagne) onde se supõe que se encontra o resto da população. (**)














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sábado, 1 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11661: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (3): No antigo corrredor da morte: Gandembel, Balana, Mejo, Guileje ... E as novas tabancas do Cantanhez: Amindara, Faro Sadjuma, Iemberém... E as crianças a correr atrás de nós: Poooorto! Poooorto! (Leia-se: Portugueses, Portugal)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mejo > 2 de maio de 2013 > O Zé Teixeira e o Régulo de Medjo – ex-combatente dos tempos de Guiledje, por detrás da tabuleta que assinala o "poço de Medjo", um dos melhoramentos da aldeia, tornado possível graças à solidariedade da ONG Tabanca Pequena, de Matosinhos




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mejo > 2 de maio de 2013 > Crianças e mulheres de Medjo


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Ponte Balana > 2 de maio de 2013 > O rio Balana e a sua ponte, a seguir a Gandembel.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Faro Sadjuma > 2 de maio de 2013 > O miradouro de Sutuba, para observação da vida animal...


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez >  Faro Sadjuma >  Miradouro de Sutuba >  2 de maio de 2013 > ... Sem visita marcada, os habitantes locais não apareceram...




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Amindara > 2 de maio de 2013 > Mais outra tabanca que passou a ter água potável, graças ao apoio da ONG Tabanca Pequena...


 Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez >  2 de maio de 2013 > Cartaz publicitário do hotel  DjsamDjam,  em Faro Sadjuma


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Faro Sadjuma > 2 de maio de 2013 > Interior de um bangalô, no Hotel DjamDjam, em Faro Sadjuma, no interior da Mata do Cantanhez.


Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]




Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau 

(28 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte III 

por José Teixeira [, membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013; companheiros de viagem: a esposa Armanda; o Francisco Silva, e esposa,  Elisabete; no dia seguinte, 1 de maio, o grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira; na 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo ] (*)



O tempo voou sem nos apercebermos. Era já a hora ideal para almoçarmos em Faro Sadjuma, onde nos  esperava a Fatumata, com o saboroso petisco de sua lavra e as canções com cheiro ao Minho e Viana do Castelo, quando ainda estávamos a passar a ponte sobre o Balana. Local que o Francisco Silva quis fotografar para levar uma recordação ao Hugo Guerra, pois foi neste mítico lugar, ali mesmo ao lado de Gandembel, que este iniciou a sua guerra.

Para mim foi mais uma oportunidade de regressar a um passado de sangue,  suor e lágrimas, neste espaço de terreno desde Quebo (Aldeia Formosa) até Gandembel. Sinto felicidade imensa em passar por aqui e reviver estes locais, onde a vida germinou de novo. As tabancas surgiram por todo o lado, nos locais onde a terra é fértil e dá pão. Dá-me imenso gosto sentir a alegria e a vida desta gente pobre e humilde a palpitar. Os sorrisos de esperança espelhados nos rostos das crianças que correm ao lado da viatura a gritar POOOORTO! POOOORTO! o que quer dizer Portugueses ou Portugal,  substituindo o velho grito do inimigo de outros tempos:
– TUGA, vai-te embora!

Como me senti feliz ao poder apreciar as bajudas a tomarem banho no Balana sem se preocuparem com a nossa presença. Foi um regressar feliz a outros tempos, mas não naquele lugar. Deixei-me banhar por um sentimento de imensa felicidade ao sentir,  mais uma vez,  que a paz é possível e com paz a vida brota felicidade e bem estar.
Seguiu-se Guiledje, de passagem, uma hora depois, com promessa de voltarmos,  com tempo de sobra, no regresso,  para saborearmos este naco da história recente da Guiné-Bissau.

Por fim, quando o sol caminhava para o zénite, aportamos no Hotel Djamdjam, em Faro Sadjuma, para almoçar, deixando para trás Medjo e o seu régulo, o camarada Manuel Umaru Djaló, dos tempos duros de Guiledje.

O petisco, galinha à cafreal como só a Fatu sabe fazer, acompanhado por uns copos de fresquinho sumo de cabaceira, soube demais.

Após uma visita aos bungalôs ou moranças adaptadas a quartos de dormir com muita mestria, voltamos a Medjo, para conversar um pouco com o "velho" Umaru, que nos recebeu com a sua apreciada simpatia. Falou-nos do seu povo e do bem-estar da tabanca com a abertura do poço de água e respetivo fontanário, agora numa fase em que a água está mesmo no fundo. Foi necessário condicionar o fornecimento de água existente no depósito, destinando-a apenas para matar a sede, aguardando os melhores dias que se aproximam com a época das chuvas.

De novo na picada,  estamos de passagem na tabanca de Amindara, onde foi aberto outro poço com o apoio da ONG Tabanca Pequena, e em que se faz sentir os ganhos em saúde,  especialmente das crianças, associados ao bem estar resultante  da melhoria da qualidade da água para beber.

Seguimos para Iemberém, com tempo ainda para passar pelo Miradouro Sutuba,  à procura dos Macacos ComChimpazés Dari e  Búfalos, que por falta de marcação atempada da hora, não se dignaram aparecer.

Por fim, chegamos ao destino, onde nos acolheu com a simpatia que já nos habituaram o Abubakar [, engenheiro agrónomo da AD,]  e a Satu, sua esposa,  que nos preparou um petisco de galinha (Muita galinha se come na Guiné!),  com molho de mancarra, que soube muito bem depois de um excelente banho reparador.

Segui-se uma amena cavaqueira, que se prolongou até chegar o cansaço. Pelo fresco, recolhemos aos acolhedores quartos que nos estavam reservados. Enfim,  uma noite repousante!

Nesta rota passada a correr, vimos uma estrada ou picada cheia de gente num corrupio do dia a dia, muitas tabancas cheias de vida, muita juventude e muitas crianças que acenavam ou corriam atrás da viatura, gritando POOORTO, POOORTO. (Portugal, Portugal).

Que felicidade!

Zé Teixeira

[O título do poste é da responsabilidade do editor]

(Continua)
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sábado, 31 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9688: Memória dos lugares (179): Gã Dembel ou Gandembel das morteiradas... (José Teixeira, CCAÇ 2317, 1968/70)

1. Dois comentários do Zé Teixeira ao poste P9676

(i) Fui um "mirone" de Gã Dembel,  ou melhor, Gandembel. Durante cerca de 6 meses acompanhei de perto aquele festival de terrífica música de morteiradas e canhoadas. As cenas repetiam-se de dia e de noite. De Tchangue Laia para a frente, onde havia uma placa que dizia, salvo erro, "Aqui começa a Guiné independente",  tudo era tenebroso. Era o principio da carreiro da morte. Os buracos dos fornilhos sucediam-se aterradoramente, a mata fechada, o silêncio - até a passarada parece que tinha ido de férias. A atenção redobrada de cada um de nós... e o coração a palpitar.  Um pouco mais à frente, surgia gente nossa da CCaç 2317, respirava-se um pouco melhor e logo ali à frente surgia o pequeno destacamento de Balana, onde estava creio eu, o Hugo Guerra. Hoje nesse local de paz lavam as mulheres a sua roupa e até os elefantes por lá passam.

Gandembel vem a seguir depois de uma leve subida e uma ligeira curva. Hoje há apenas floresta e uma planta a florir que lá deixei em 2008 numa romagem que foi o principio do fim,  ou seja,  encontrei a paz comigo mesmo e enterrei a guerra que me roía as entranhas e por vezes me atormentava alta noite. 

Os testemunhos materiais, os restos das casernas de betão vão sendo cobertos pela terra do esquecimento até que alguém ouse reescrever a história do local. Há algures por lá perto os restos de um Fiat que em fins de Julho de 1968 vi passar a arder e despenhar-se na mata ali por perto. Era o nosso protector aéreo, enquanto penosamente protegíamos uma coluna que ia levar mantimentos aos "toupeiras" de Gandembel.


Idálio, deixa-me expressar a mina gratidão por teres avançado com o livro e agora com o desenvolvimento sobre as vossas canções. estás a construir um pouco da história da guerra que tanta gente procura abafar, a começar pelo desprezo que votam a todos nós que forçadamente a fizemos.






Guiné > Carta da província (1961) > Escala 1/500 mil > Detalhe > A posição relativa de Balana e Gandembel, em pleo "carreiro" (ou "corredor da morte"), junto à fronteira sudeste da Guiné-Conacri,  tendo a norte Aldeia Formosa e a sul  Guileje, e a sudoeste Gadamael e Cacine... Em 1961, Gandembel nem sequer constava como topónimo no mapa geral da província...




(ii) Deixa-me recordar que em 2010 tive oportunidade de conversar com um grupo de ex-guerrilheiros do PAIGC a viverem em Farim do Cantanhez. 

Da conversa pude apurar que quando Portugal decidiu avançar para Gandembel, o PAICG, comandado pelo Nino, deu instruções a seis dos seus grupos estacionados na grande mata do Cantanhez, localizados nos arredores de Catió, Bedanda, Cacine, Cabedú e creio que Gadamael, para cercarem Gandembel e por aí ficaram até as tropas portuguesas abandonarem a posição. 

Pode deduzir-se desta informação a força de fogo que o inimigo tinha na área. Segundo o mesmo grupo eles assentaram perto de Gandembel e substituiam-se nos ataques de modo a baralhar a aviação, pois atacavam uma vez do norte, para logo a seguir atacar do este ou sul, etc. 

Por outro lado continuavam a flagelar as outras tabancas desde Buba a Gadamael, deslocando-se pelo interior da mata que à data era muito cerrada e lhes permitia caminhar durante o dia sem grande risco.

Zé Teixeira
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Nota do editor:

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2715: Construtores de Gandembel / Balana (7): As minhas andanças com o Pel Caç Nat 55, no tempo da CCAÇ 2317 (Hugo Guerra)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gandembel > 2007 > Restos do antigo aquartelamento das NT, abandonado em Janeiro de 1969... De quem seria estas inscrições no cimento dos abrigos ? Seguramento dos primitivos construtores: Barreto... Globe-Trotters...

Fotos: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Hugo Guerra, dirigida ao José Teixeira, com conhecimento aos editores do blogue, com data de 30 de Março (1):


Zé Teixeira:

Como dizíamos na tropa estava à espera "que te apresentasses" (brincadeira, claro) para encetarmos este papo entre nós que começou nos idos de 1968.

Já hoje tinha andado a bisbilhotar o blogue para ver se estavas atento e, como respondeste para o mail da minha mulher, só agora te respondo. Vamos pôr as nossas memórias em dia, se possível (2):

(i) Cheguei à Aldeia Formosa de Helicóptero e saí para Gandembel também de Heli.

(ii) Era mesmo este sub-nutrido (54 kilos) que conheceste na Aldeia e vou contar-te porque fui parar a Mampatá. Nessa altura, Gandembel embrulhava todas as noites e, embora eu estivesse em trânsito para lá, houve uma noite que na hora de jantar começou o fogachal e o Major Azeredo mandou o Alferes Artilheiro mandar umas obuzadas para lá, para aliviar a pressão.Já era hábito para vocês mas para mim foi de tal maneira horrível que era aquilo que me esperava, que tive um ataque de choro que só acalmou quando o Médico me pôs a dormir.

(iii) No dia seguinte, mais calmo, fui eu que pedi ao Major que me deixasse ir dormir a Mampatá umas noites para me ambientar (e esconder a vergonha, claro).

(iv) Aí nos devemos ter encontrado, mas as minhas recordações são muito diluidas. Recordo-me que foi a minha primeira noite debaixo do chão no abrigo do Alferes que comandava o destacamento. Gandembel tornou a ser flagelada mas lá me aguentei e tomei a decisão de ir ter com o meu Pel Caç Nat 55 o mais rápido possível.

(v) Não fui, portanto, na coluna que referes, mas sim num heli que ali parou com destino a Gandembel e, como eu pesava pouco, deram-me boleia.

(vi) Quanto à Chamarra só não nos encontramos por dias, sei lá. Eu vinha de Ponte Balana na coluna de 19 de Janeiro [E 1969] e fomos descomprimir na Aldeia Formosa durante uns dias. Fui para a Chamarra substituir o Alferes Magro, com o meu Pel Caç Nat 55. A CCAÇ 2317 seguiu para Buba na mesma altura que tu, penso eu.

(viii) Fiquei na Chamarra até vir de férias ao Continente, em Junho ou Julho desse ano e depois.... Bem, é outra estória para outro dia.

Foi bonito o teu gesto carregado de simbolismo em Gandembel (3).

Tive muita pena de não poder ir mas o meu médico quebra-ossos desaconselhou-me de todo. É o Francisco Silva que foi com vocês.....Que raiva.

Para já um grande abraço
do Hugo Guerra
___________

Notas dos editores:

(1) O Hugo Guerra, hoje Cor DFA, comandou os Pel Caç Nat 55 (que esteve adstrito à CCAÇ 2317, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra, 1968/69) e depois o Pel Caç Nat 50 (S. Domingos, 1969/70):


(2) Vd. postes de:






domingo, 30 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2703: Memória dos lugares (6): Destacamento de Ponte Balana (Nuno Rubim)

Foto 1 > Destacamento de Ponte Balana: em 1968 e... em 2008 (vestígios)

Foto 2 > Vestígios actuais do antigo destacamento de Ponte Balana

Foto 3 > Coordenadas GPS do antigo destacamento de Ponte Balana, de acordo com fotografia de satélite do Google.
Fotos : © Nuno Rubim (2008) . Direitos reservados.

1. Texto do Nuno Rubim (Cor Art Ref, com 2 comissões na Guiné, e especialista em história da artilharia) (1):

Caro Luís

Mais uma informação com possível interesse para os camaradas do blogue.

Na ida ao Sul, durante o Simpósio de Guiledje, aproveitei para tirar coordenadas GPS de vários locais.

Também andei a procurar vestígios das construções que existiram no destacamento da Ponte Balana, de acordo com uma fotografia que o nosso camarada Idálio Reis me forneceu ( ver foto 1). Coloquei-me mais ou menos na posição do fotógrafo de 1968 (?) e depois entrei no mato do lado esquerdo. E realmente encontrei alguns vestígios (foto 2 ). Só uma limpeza aturada permitiria descobrir algo mais.

Nesse local as coordenadas GPS são: 11º 25' 33" N - 14º 48' 05" W. ( atenção que constatei que a carta 1:50 000 contem erros de localização ... ) (Ver Google, Foto 3).

Quanto a Gadembel, as coordenadas do centro geométrico do aquartelamento são: 11º 24' 47" N - 14º 47' 53" W.

Um abraço

Nuno Rubim


PS - Como sabes estou a contactar alguns cmdts do PAIGC no sentido de tentar aclarar dúvidas que tenho no que concerne os aspectos organizativos e operacionais e ainda o armamento. Vamos lá ver se eles respondem ...

Talvez alguma coisa possa vir a interessar para publicação no blogue. Nada de especulações ( cada vez constato mais ... ), textos curtos, nada de complicado, imagens, etc... Depois te consultarei, artigo a artigo.

Tudo isto porque julgo que se não fôr o blogue, muita coisa ficará por dizer sobre a guerra na Guiné ... Temos tempo, não é ? ... até porque ando enfronhado com o livro [que ando a escrever].
___________

Nota de L.G.:

(1) Vd. último poste de Nuno Rubim: 26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2687: Cemitério militar de Bissau: homenageando os nossos 350 soldados, uma parte dos quais desconhecidos (Nuno Rubim)

sexta-feira, 28 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2692: Construtores de Gandembel / Balana (3): Nunca falei em protagonismo pessoal, mas sim da CART 1689 (Alberto Branquinho)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gandembel > Ponte Balana (ou sobre o Rio Balana) na estrada de Gandembel-Quebo > 3 de Março de 2008 > No regresso a Bissau, depois da visita, ao sul, dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje... O último olhar de Nuno Rubim (tendo a seu lado, a Alice, esposa do editor do blogue) e, noutra foto, do Zé Teixeira... Tudo indica que a construção desta ponte (dinamitada pelo PAIGC, reconstruída pelo menos duas vezes pelas NT, e hoje com tabuleiro em madeira, em risco de ruína) seja da mesma época, princípio dos anos 50, da construção da ponte sobre o Rio Corubal, no Saltinho, que no nosso tempo se chamava Ponte Craveiro Lopes... Mais antiga do que estas, talvez dos anos 40, deveria ser a Ponte, em ruínas, Marechal Carmona, sobre o Rio Corubal, na antiga estrada Quebo-Xitole, visitada em 2001 pelo David Guimarães (1)... (LG)
Fotos: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem do Alberto Branquinho, ex-Alf Mil, CART 1689 (Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69)

Camarada Luis Graça

Estou profundamente infeliz por ter sido mal entendido pelo Idálio Reis (2), tendo presente o que ele e a sua Companhia terão sofrido durante os muitos meses que terão permanecido naquele inferno depois de 15 deMaio de 1968. 

Aliás, isso é salvaguardado nos pontos E e H do meu texto. Mas que houve outros homens-toupeira em Gandembel, além dos da CCAÇ 2317, isso houve! E que houve mais outros homens que trabalharam nas obras, também houve ! Mas o nosso mês e meio de Gandembel não se pode comparar com os nove ou dez da CCAÇ 2317.

Quanto ao protagonismo - nunca falei de mim. Falei da minha Companhia - CART 1689.
Quanto ao narcisismo e diletantismo narcisista que encontro ao longo do blogue, nada tem a ver contigo e muito menos com o Idálio Reis, repito MUITO MENOS com o Idálio Reis, que NUNCA fala de si, mas só da sua Companhia e das fotografias que lhe vi já publicadas, ele nunca consta. Se entenderes necessário que eu identifique os casos do «...gosto de falar de mim», eu identificarei.

Não faço questão que este texto seja publicado no blogue (fica ao teu critério ), mas PEÇO o reencaminhes para o Idálio Reis, para que repense o juizo que fez de mim, que me deixou muito infeliz.

Um abraço (e continua a trabalhar NISTO, que é positivo).

Alberto Branquinho

2. Nova mensagem do Alberto Branquinho:

Caro Luis Graça

Obrigado. É verdade. Para completar as informações - conheci o Eng. Carlos Schwarz ( a quem chamam Pepito) em 1999, em Bissau, ao tempo em que era Ministro dos Transportes do governo Francisco Fadul. Fomos com ele por Farim, Susana e Varela, onde dormimos, em casa sua. Essa zona noroeste da Guiné era, afinal, aquela que eu não conhecia do tempo da guerra. Dali fomos (já sem ele) de jeep até Dakar, onde apanhámos um avião para Lisboa.

Para que a nota do Idálio Reis não fique sem clarificação, gostava que publicasses o seguinte texto:


ASS: Construção de Gandembel/Balana


Fiquei mui triste com a parte introdutória do escrito do Idálio Reis. Em primeiro lugar, porque ninguém lhe quer negar o sofrimento e a sobrevivência de nove ou dez meses no inferno de Gandembel; segundo, porque fez de defensor de quem não foi acusado e, em terceiro lugar, porque presumiu que eu conhecia todos os seus textos, quando eu só tinha tropeçado em um ou outro. ( Agora, com os links do comentário final do L.G. fiquei a saber mais ).

Para terminar, pela minha parte, esta troca de notas, venho dizer o seguinte:

- Todos os que fizeram afirmações, ao longo do blogue, quanto à construção de Gandembel/Balana devem considerá-las como corrigidas, referindo que a construção foi efectuada «... pelo capitão F....?.... e pelos seus homens-toupeira da CCAÇ 2317, with a little help from their friends.» ( Que viveram, também, como toupeiras durante quase um mês e meio em Gandembel ).

Este é o serôdio protagonismo que quero para a minha CART 1689, não para mim. Sem voltas e sem amêndoas está explicado.

Nada mais direi sobre este assunto.

Um abraço
Alberto Branquinho

3. Mensagem que mandei ao Idálio Reis (c/c ao Alberto Branquinho e os co-editores do blogue, CV e VB), para fecho desta troca de impressões/recordações entre dois valorosos construtores e defensores de Gandembel/Balana (ou melhor, representantes de duas das nossas unidades que estiveram lá):

A última coisa que eu quero é gente infeliz no blogue e na Tabanca Grande... O Branquinho - que eu sei, pelo Jorge Cabral, que é irmão do outro Branquinho, o ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 63, do meu tempo de Bambadinca - já percebeu que entre nós não há ressentimentos: tratamo-nos por tu, como velhos camaradas, e nunca puxamos pela G3 contra um camarada...

Com três anos de comissão bloguística, aprendemos todos a viver e conviver com o que nos identifica e com o que nos separa ou pode ser fracturante... O que temos em comum é um património valiosíssimo que eu quero que o Alberto também partilhe... A partir de hoje ele faz parte integrante da nossa Tabanca Grande, com direito a figurar na lista nominal de A a Z, da coluna do lado esquerdo da página de rosto do blogue... A menos que ele me dê ordens em contrário... Idálio, e os meus caros co-editores, CV e VB, podem dar-lhe as boas vindas... Quem bebeu da água do Balana só pode ser uma camarada fixe... Luís
_____

Notas de L.G.:


(1) Vd. poste de 26 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXV: Estórias do Xitole ao Saltinho: duas pontes, um fornilho e uma trovoada tropical (David Guimarães)


(2) Vd. postes anteriores:


quarta-feira, 26 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2689: Construtores de Gandembel / Balana (2): O papel da CART 1689 (8 de Abril a 15 de Maio de 1968) (Idálio Reis)

Comentário do Idálio Reis, ex-Alf Mil da CCAÇ 2317 (Gandembel / Balana, Abril de 1968 / Janeiro de 1969), a pedido do editor, ao texto do Alberto Branquinho (1).


(i) Luís, é com enorme gosto que procuro gizar um comentário ao que o Alberto Branquinho vos (enquanto editores) enviou. Dado que parece tentar causar algum serôdio protagonismo, envereda por uma atitude insinuativa, pouco cordata, dirigida ao destinatário que melhor lhe convém e apraz: o editor do Blogue.

O que ele aflora na sua parte A, é obvio que merece uma resposta de igualha, pois que, se há muitos ex-combatentes que não têm conhecimento da existência do Blogue, devido a um conjunto de razões fáceis de reconhecer, é de lamentar que outros que detêm essa enorme possibilidade, não queiram contar a sua história ou se demitam de a fazer.

O Blogue tem sido um espaço aberto e plural, que aceita com entusiasmo e agrado as opiniões que cada um deseja subscrever, seguro que não pode nem deve minimamente duvidar que a narração dos factos bélicos que vão surgindo, sejam fictícios ou mesmo meras presunções. O Blogue pretende ser um enorme ponto de aglutinação, onde se forje e cimente uma tertúlia de gentes com muito de comum, e que demonstrem desejar abrigarem-se na Tabanca Grande.

A história da guerra colonial, em que participámos convulsivamente, essa sim, denota fortes omissões ou propositadas distorções, e o Blogue é, se se quiserem, o meio em que cada um que queira apresentar, possa veicular o que dita o seu estado de alma num determinado momento.

O Alberto Branquinho faz afirmações pouco abonatórias em relação a abundantes narrativas que vamos recebendo. Cabe-lhe pois comprovar o que profere, mas que não pretenda ser o único paladino da verdade.

(ii) Quanto ao que está descrito no post de 14 de Março, em que aflora o papel desenvolvido em Gandembel/Ponte Balana, julgo que é primacialmente baseado no que eu fui escrevendo, pois até ao momento, fui o homem que se apresentou como tendo vivido, sem qualquer interrupção, uma longa jornada de 295 dias por aqueles sítios.

Mas, transcreve-se ao que referi quanto à CART 1689.

«Tudo me leva a crer (noite de 8 de Abril), que foi este imenso tiroteio que determinou a que a coluna se refizesse e avançasse mais cerca de meia dúzia de quilómetros para norte, em busca de uma linha de água que nos viesse a proporcionar o fornecimento desse elemento tão vital, e que dado o adiantado da época seca, se tornava um bem bastante escasso. E por via disso, na superior linha de festo do rio Balana, nos viemos a quedar nessa manhã, para de imediato dar início à odisseia que representou a construção de um posto militar fixo, que se viria a chamar Gandembel e mais tarde a uma anexa afastada apenas de poucas centenas de metros, de nome Ponte Balana.

"Sob a vigilância directa de uma tropa já bastante mais experimentada - a CART 1689 -, que já reconhecera o local antecipadamente, e que teve uma acção extraordinária durante a permanência que teve connosco até à sua retirada a 15 de Maio, e que é de elementar justiça salientar o papel relevante que sempre demonstrou, começámos a arranjar as nossas guaridas colectivas, autênticos abrigos-toupeira, que nos ofertassem uma maior segurança pessoal durante o tempo de construção dos abrigos definitivos.».


Mais à frente, expresso o seguinte:

«A briosa CART 1689 despede-se do nosso convívio, e esta sua partida deixou-nos claramente mais pobres, sós e indefesos. Em mais de um mês que nos acompanhou, até 15 de Maio, desenvolveu um trabalho extremamente meritório e empenhou-se forçadamente em nos acompanhar. Passou também por graves tribulações, em que perde um furriel, alvo de um artefacto armadilhado por ele mesmo, e sofre mais de uma dezena de evacuações, por ferimentos e doenças.».

Do que se afirma, a Companhia de Gandembel/Ponte Balana, pelo sentir do Idálio Reis, não escamoteia o relevante papel desenvolvido pela CART do Alberto Branquinho durante o período de pouco mais de um mês que aqui permanece. Ao invés, presta-lhe todo o mérito e engrandece-lhe a sua missão.

(iii) O Alberto Branquinho, como que inquere o editor, se sabe o que foi a operação BOLA DE FOGO?

Tenho em minha posse o historial da CART 1689 enquanto esteve na zona do Forreá, bem como da minha Companhia e da CCAÇ 2316.

Sob o título “Os Heróis de Gandembel”, o saudoso José Neto da CART 1613, no Post DCCLXXXV de 23 de Maio de 2006, relata o seguinte:

«A Operação Bola de Fogo destinou-se à implantação de um aquartelamento para efectivo de Companhia, no Corredor de Guilege. Desenvolveu-se entre 8 e 14 de Abril de 1968, com a seguinte força executante: CART 1613, CART 1689, CCaç 2316, CCaç 2317, 3.a Companhia de Comandos, 5.a Companhia de Comandos, Pelotão de Reconhecimento Fox 1165, Pelotão de Sapadores do BART 1896, Pelotão de Caçadores Nativos 51, Pelotão de Caçadores Nativos 67, Pelotões de Milícias 138 e 139, elementos do BENG 447, APAR (Apoio Aéreo). Durante a operação, o IN flagelou 7 vezes as posições, causando às NT 2 mortos, 13 feridos graves e 34 ligeiros.».

O historial da CART 1689, descrito muito pormenorizadamente, refere que a 14 de Abril, a OP BOLA DE FOGO foi considerada como tendo terminado neste dia. E de forma fidedigna, narra os factos ocorridos nos dias subsequentes até ao dia em que se retira de Gandembel.

Porque o Blogue já se debruçou sobre as circunstâncias da morte do furriel Belmiro dos Santos João, da CART 1689, por premência de seus familiares, fui eu que deu as indicações devidas (P1532 de 17 de Fevereiro de 2007).

Já o historial da minha Companhia refere tão só o seguinte:

«Com o dia 8Abril68, chegou então a data de partida desta CCaç para GANDEMBEL, integrada na operação 'Bola de Fogo' a fim de construir o aquartelamento, onde ficaria instalada a Companhia. Nessa noite sofreu 5 flagelações no itinerário GUILEJE-GANDEMBEL, a cerca de 3 Km de GANDEMBEL, mais propriamente junto ao rio BUNDO-BORO. As NT reagiram pelo fogo, tendo infligido uma baixa confirmada ao IN.»

Quanto ao que sobre o assunto se inscreve no historial da CCaç 2316, é do seguinte teor:

«De 08 a 14 de Abril realizou-se a operação 'Bola de Fogo', tendo por finalidade conseguir a reabertura da estrada GUILEJE-GANDEMBEL, onde seria construído um aquartelamento. Durante esta operação, foram as NT várias vezes flageladas e emboscadas, quer durante o dia quer durante a noite. Passadas buscas aos locais de onde foram efectuadas as flagelações, foi encontrado vário material IN, destacando-se uma PPSH, várias munições e equipamento, além de um elemento IN morto.

"Das várias emboscadas às NT, pode-se destacar a do dia 13ABRIL68, em que o IN utilizou um grande potencial de fogo, combinado com a deflagração simultânea de 4 fornilhos comandados, que nos causaram 8 feridos. Nesta data, cerca das 16H00 atingiu-se GANDEMBEL. Mais uma vez, ao regressar no dia seguinte, as NT foram de novo emboscadas, tendo sofrido 4 feridos, dos quais 1 grave. Registe-se contudo, que se bem que não confirmadas devem ter sido causadas cerca de 15 baixas ao IN.».


Como o Alberto Branquinho pode atestar, o Blogue tomou conhecimento, já há muito tempo, da operação BOLA DE FOGO, mas com as datas que aqui se referem, e não as que menciona. O editor do Blogue foi sempre um operacional do mato, pelo que as funções que cabiam aos elementos sapadores ou de engenharia, não precisa de ser elucidado, pois sabe muito bem distingui-las.

Mas quanto ao desempenho da engenharia militar, na reconstrução da ponte sobre o rio Balana, eu próprio tive de reconhecer que houve muita leviandade, pois apesar de ser muito pouco utilizada, ruiu numa das últimas colunas de reabastecimento provenientes de Aldeia Formosa, a 22 de Novembro [d, ao peso de uma GMC cheia de bidões de combustível.

(iv) A afirmação que não foram só os homens da CCaç 2317 que trabalharam nas obras de construção de Gandembel/Ponte Balana, é no mínimo capciosa.

A Companhia do Alberto Branquinho prestou uma estimável ajuda durante pouco mais de um mês, que bem reconheci. E após a sua retirada, com quem mais contou para a finalização da obra?

Mas como se reconhece, Gandembel foi sujeita a 372 ataques/flagelações, que a CART 1689 sofre uma pequeníssima parte.

Mas na dureza das condições em que Gandembel foi palco, o aspecto que quis mais relevar aquando da retirada, a 28 de Janeiro [de 1969], expresso-o do seguinte modo:

«Na qualidade de ex-militar que viveu todos os dias de Gandembel/Ponte Balana, sinto que os homens desta Companhia foram uns joguetes de uma estratégia macabra, hedionda, vergonhosa. Jamais teve, até à chegada dos pára-quedistas, o apoio que merecia. E tenho de reconhecer em Spínola, um militar de uma enorme dimensão, pois que se não fora a sua persuasão, talvez poucos homens desta Companhia restariam».

E quanto à acção desenvolvida pelas forças pára-quedistas, chegadas a 20 de Agosto [e 1968], crê que ela foi fundamental para o futuro dos homens da sua Companhia, muito em especial no aspecto anímico, onde inclusive conseguiu também criar um clima de muito maior segurança para as demais tropas que estavam de algum modo envolvidas com Gandembel.

Houve muito trabalho de pá e pica, onde o Alberto Branquinho desde que abandonou aquele malfadado lugar, denota não ter acompanhado devidamente o que foi o seu dia-a-dia, da situação crítica em que ficaram aqueles homens, muito em especial como frente de guerra, e por isso, entre todos os que ajudaram essa Companhia, tenho que enfatizar a acção dos pára-quedistas, o que me leva a afirmar:

«Indubitavelmente, foi capaz de incutir uma outra serenidade a estes desalentados homens, renovar estados de espírito abalados, sobrepujar contrariedades inúmeras, remoçar réstias de esperança, que se revelaram cruciais no aumento da auto-estima. E esta extraordinária proeza, este feito inigualável, ninguém lhe conseguiu dar a devida dimensão, tão-só o peso e o testemunho da gratidão dos que o sentiram.

"Alguém que ouse escrever esta epopeia da presença dos pára-quedistas em Gandembel, porventura das maiores que a guerra colonial conheceu, e julgo que omitida».


(v) Uma vez que o Alberto Branquinho refere ter conhecimento da existência do Blogue há alguns anos, julgo que de todo não tem lido o que eu e o editor Luís Graça têm escrito sobre essa saga de Gandembel/Ponte Balana, porque muito provavelmente não chegaria ao motivo do seu escrito.

E assim, desculpar-me-á, mas foi infeliz nas suas afirmações.

O Simpósio de Guiledje, que o Blogue se associou desde logo, e que teve um forte empenho do nosso amigo Carlos Schwarz, teve um único objectivo, que o José Teixeira, tão bem soube apregoar no meio das ruínas de Gandembel: simbolizar o espírito de todos os que ali lutaram, de todos os que aí derramaram o seu sangue, sem distinção de raça ou cor; simbolizar o espírito da paz e fraternidade que seja alimentado por todos, e a esperança na construção de uma Guiné-Bissau onde haja paz, pão, saúde, educação, justiça.

E Luís, tenta dar a volta a tudo isto. Bom regresso, com muitas amêndoas. Um caloroso abraço do Idálio Reis.

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Nota de L.G.:

(1) Vd. poste de 26 de Março de 2008

Guiné 63/74 - P2688: Construtores de Gandembel/Balana (1): Op Bola de Bogo, em que participou a CART 1689, a engenharia e outros (Alberto Branquinho)