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quinta-feira, 19 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26937: In Memoriam (550): José Luís Pio Abreu (Santarém, 1944 - Coimbra, 2025), psiquiatra, foi alf mil médico, CCS/BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto / Canchungo,1971/73)


Capa do livro de J. L. Pio Abreu (1944-2025), "Como tornar-se doente mental", 18ª ed, Lisboa, Dom Quixote, 2008. (Prémio Città delle Rose, 2006). (O livro foi um sucesso editorial: lançado em 2006, já teve pelo menos 26 edições)

Citando e parafraseando o autor  (pp. 155/156, negritos nossos), podemos dizer:

  • se não mentires a ti próprio, descobrirás que és uma pessoa com limites e deixarás de querer ir a todas, como fazem os fóbicos;
  • também não serás dono da verdade nem tão importante como são os paranóicos;
  • não serás o mais perfeito, o que fica para os obsessivos;
  • nem tão brilhante ou poderoso como os histriónicos e psicopatas;
  • não serás uma pessoa muito especial, como os esquizofrénicos,
  • nem um génio, como os maníaco-depressivos;
  • serás apenas uma pessoa comum que aceita os desafios e os paradoxos da vida, faz o possível para, em cada momento, dar o que pode e actuar em conjunto com os outros;

No entanto, tens de assumir a responsabilidade completa pelas tuas acções:

  • afinal, todos fomos expulsos do Paraíso e condenados à solidariedade;
  • fizemos das fraquezas forças e, uns com os outros, construímos coisas admiráveis;
  • convenhamos entretanto que tudo isto é muito complicado, pouco gratificante e difícil de fazer;
  • fácil, fácil, é mesmo tornares-te um  doente mental.


1. José Luís Pio Abreu foi alf mil médico, CCS/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1971/73 (*), ao tempo dos nossos grão-tabanqueiros António Graça de Abreu e Mário Bravo. Foi, portanto,  nosso camarada de armas.

Morreu ontem.  Nunca foi membro da nossa Tabanca Grande, nem sabemos se alguma vez nos leu. Tem 4 referências no nosso blogue. Não temos nenhuma foto dele. Merece, no mínimo, que a gente se lembre dele, neste dia triste, em que se despede da Terra da Alegria (**).

Psiquiátra e psicoterapeuta, professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra,  publicou diversos livros ligados à psiquiatria, com destaque para:

  • "Como Tornar-se Doente Mental“ (2006); 
  • “Quem Nos Faz Como Somos“ (2007);
  • “Estranho Quotidiano“(010);
  • "O Bailado Da Alma“ (2014);
  • “A Queda dos Machos (2019);
  • “Pequena História da Psiquiatria“ (2021)

Outras frases do nosso camarada médico (teve  um papel ativo na crise académica de 1969, em Coimbra) que nos obrigam a pensar:

  • “Quando o medo se torna o solo em que se pisa, o pensamento abandona a razão e regressa ao instinto.” In: O Bailado da Alma (2014)
  • “Não há loucura maior do que manter-se são num mundo insano.” In: Como Tornar-se Doente Mental (2009).

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Guiiné 634/74 - P11091: (Ex)citações (212): Afinal, todos fomos expulsos do Paraíso e condenados à solidariedade (J. L. Pio de Abreu, psiquiatra, ex-alf mil med, CCS/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1971/73)


Capa e contracapa do livro de J. L. Pio de Abreu, Como tornar-se doente mental, 18ª ed, Lisboa, Dom Quixote, 2008. (Prémio Città delle Rose, 2006).


“Se não mentir a si próprio, descobrirá que é uma pessoa com limites e deixará de querer ir a todas, como fazem os fóbicos. Também não será dono da verdade nem tão importante como são os paranóicos. Não será o mais perfeito, o que fica para os obsessivos, nem tão brilhante ou poderoso como os histriónicos e psicopatas. Não será uma pessoa muito especial, como os esquizofrénicos, nem um génio, como os maníaco-depressivos. Será apenas uma pessoa comum que aceita os desafios e os paradoxos da vida, faz o possível para, em cada momento, dar o que pode e actuar em conjunto com os outros. No entanto, tem de assumir a responsabilidade completa pelas suas acções. Afinal, todos fomos expulsos do Paraíso e condenados à solidariedade. Fizemos das fraquezas forças e, uns com os outros, construímos coisas admiráveis. Convenhamos entretanto que tudo isto é muito complicado, pouco gratificante e difícil de fazer. Fácil, fácil, é mesmo tornar-se doente mental.” (pp. 155/156). (Negritos nossos).


[José Luís Pio de Abreu foi alf mil médico, CCS/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto,1971/73]
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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11081: (Ex)citações (211): Ainda o P11033 (Vasco Pires)

terça-feira, 12 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10025: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (18): A ponte Alferes Nunes, a CCAÇ 16, o Bachile, a 38ª CCmds, o Canchungo, o cor pára Rafael Durão, o futebol, a violência, a morte...


Guiné > Região do Cacheu > Bachile > CCAÇ 16 (1972/74) > Uma equipa de futebol de sete... O António Branco é o primeiro da direita, da 2ª fila (de pé)...







Guiné > Região do Cacheu > Bachile > CCAÇ 16 (1972/74) > Jogando matraquilhos... o António Branco, ex-1º Cabo Reab Mat CCAÇ 16, 1972/74, é o militar da esquerda.

Fotos: ©   António Branco (2010). Todos os direitos reservados. 



1. No Diário da Guiné, do António Graça de Abreu (AGA), há uma única referência à Ponte Alferes Nunes, que ficava na na estrada Canchungo - Bachile... No entanto, essa referência está associada a uma tragédia que devia (e podia) ter sido prevenida e evitada... Tudo começou com uma  partida de futebol entre os de Bachilé (CCAÇ 16) e os de Teixeira Pinto (CAOP1)... Aqui se reproduz essa parte do Diário do AGA, com a devida vénia... (LG):


(...) Canchungo, 1 de Fevereiro de 1973

É uma hora da manhã, escrevo sereno, lúcido, sem paixão, tudo de enfiada.

Ver viver, ver morrer, três homens mortos, sete feridos graves, quatro ligeiros. A causa próxima foi um desafio de futebol, a causa remota foi o destino e o facto de estarmos numa guerra.

Esta tarde houve um jogo de futebol entre o pessoal branco do Batalhão 3863 e a tropa branca e negra do aquartelamento do Bachile [, CCAÇ 16, constituida sobretudo por militares manjacos, do recrutamento local9. Não sei se por culpa dos brancos ou dos negros, decerto por culpa de ambos, o jogo descambou em grossa pancadaria o que levou o coronel [, pára, Rafael Durão, comandante do CAOP1,] a intervir, a assestar uns tantos socos em não sei quem e a dar voz de prisão a dois negros.

Cerca das oito da noite, foi recebida aqui uma comunicação rádio do capitão branco do Bachile, a braços com uma insubordinação dos militares negros. Quarenta africanos armados haviam saído do aquartelamento e marchavam a pé para Canchungo, a fim de tirarem da prisão os seus dois camaradas detidos. Aprontaram-se imediatamente cerca de cinquenta comandos da 38ª. Companhia e o coronel seguiu com eles. 

Na ponte Alferes Nunes, já próximo do Bachile, os Comandos ficaram e o coronel avançou sozinho, no jipe, ao encontro dos soldados africanos. Graças à sua coragem, ao respeito que impõe a toda a gente - é o “homem grande” branco -,  à promessa de libertar os presos, os soldados negros regressaram pacatamente ao Bachile.

Aqui em Teixeira Pinto estávamos na expectativa, não sabíamos o que ia acontecer. Em frente do edifício do CAOP, eu conversava com o major Malaquias, com um alferes da 38ª [CCmds] e outro do Batalhão quando ouvimos um grande rebentamento muito próximo. Que será? Um minuto depois chegou a informação, via rádio. Era preciso preparar imediatamente o hospital, havia mortos e feridos. 

No regresso dos comandos, à entrada da vila, rebentara uma caixa cheia de dilagramas – granadas disparadas pelas G 3 com um dispositivo especial – em cima de um Unimog onde vinham catorze homens. Dois mortos de imediato, os restantes feridos vinham a caminho. Corremos para o hospital. Os comandos chegaram. 

Como vinham, meu Deus! Um furriel morria na sala de operações. As suas últimas palavras para o Pio [de Abreu], o médico, foram: “Doutor, cuide dos outros, eu estou bem.” 

Nas macas, no chão de pedra do hospital jaziam feridos graves, corpos semi-desfeitos, barrigas, intestinos de fora e quatro rapazes só com alguns estilhaços. Não ouvi um queixume, mas havia muitos homens a chorar.

Era preciso evacuar os feridos para o hospital de Bissau. Onze horas da noite, iluminámos a pista com os faróis das viaturas e com as mechas acesas em muitas garrafas de cerveja cheias com petróleo, distribuídas aí de dez em dez metros ao longo do campo de aviação. Aterraram quatro DO. Ajudei a transportar feridos entre o hospital e as avionetas, num dos nossos Unimog. Dois deles iam muito mal, cravados de estilhaços, em estado de choque ou coma, não sei se escaparão.

O condutor do Unimog em cima do qual as granadas rebentaram é um dos meus soldados, do CAOP 1, Loureiro de seu nome,  com apenas oito dias de Guiné. Ia a conduzir, não sofreu uma beliscadura. Trouxeram-no cambaleando, o espanto, incapaz de falar. Evacuados os feridos, fui buscá-lo, abracei-o, sentei-o na minha cadeira na secretaria, animei-o, bebemos quatro águas Castelo.

Foi um acidente de guerra. Corpos ensanguentados, dilacerados, muitos homens destruídos, não apenas os mortos e os feridos. 

Reacções de alguns dos nossos soldados. “Tudo por culpa dos cabrões dos negros, filhos da puta, só fuzilados!”...

Quem resiste aos corpos esventrados dos companheiros de armas?!...As razões sem razão porque se avivam ódios, porque se morre! 

Não sei que horas são, deve ser tarde, não tenho ponta de sono. Já ouço os galos cantar. Um novo dia nasce.


Guiné > Teixeira Pinto (ou Canchungo) > CAOP 1 > Uma das raras fotos (e de fraca resolução) que temos, no nosso blogue, do cor pqdt  Rafael Ferreira Durão, comandante do CAOP1, ao tempo do António Graça de Abreu. "A caminho do almoço de Natal de 1971. Da esquerda para a direita respectivamente, Cmdt do BCaç 3863 (?), Cmdt do CAOP  Cor Pára Rafael Durão e Ten Pára da CCP 122". 

Foto e legenda: © Jorge Picado (2008). Todos os direitos reservados


2. Comentário, posterior,  do nosso camarada Bernardino Parreira [, foto atual, à direita]:

Caros camaradas e amigos, tendo acabado de ler, pela primeira vez, este excerto do livro do nosso camarada Graça Abreu não posso deixar de referir que fui um dos jogadores da CCaç 16, do Bachile, nesse jogo de futebol, e que os incidentes desencadeados pelos camaradas africanos tiveram origem na anulação de um golo nosso... 

Daquilo que tenho conhecimento, corroboro o testemunho do nosso camarada Graça Abreu. Informo ainda que um dos militares detidos, da CCaç 16, foi o meu companheiro africano Policarpo Gomes, que ainda fui visitar à prisão. 

Gostaria de saber como posso adquirir o livro do nosso camarada Graça Abreu.
Um abraço a todos. Bernardino Parreira .

3. Comentário do editor:

O Bernardinmo Parreira foi Fur Mil da CCAV 3365/BCAV 3846 (Dão Domingos, 1971/72) e CCAÇ 16 (Bachile, 1972/73). Foi destacado para a CCAÇ 16 no "primeiro trimestre de 1972". Acabou em Bachile a sua comissão, tendo regressado à metrópole em 17 de março de 1973. 

É algarvio de Portimão, a residir em Faro. Tal como ele nos contou na sua apresentação à Tabanca Grande,  em 20 de agosto de 2010, a sua integração na CCAÇ 16 "foi fácil, ao fim de pouco tempo conhecia todos os camaradas africanos e metropolitanos, e parecia ter sido adoptado por uma nova família. O ambiente entre os militares era bom, tal como o que havia deixado em S. Domingos. Nos tempos livres, o que eu mais gostava de fazer era jogar à bola e depressa me integrei numa equipa de futebol, de maioria africana. Disputámos o torneio de futebol entre companhias militares pertencentes ao CAOP 1, entre 1972/1973". 

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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9943: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (17): Guidage (com g) foi há 39 anos...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4891: Os nossos médicos (2): Tierno Bagulho e Pio Abreu (Canchungo, 1971/73) (Luís Graça / António Graça de Abreu)




Capa e contracapa do livro de J. L. Pio de Abreu, Como tornar-se doente mental, 18ª ed, Lisboa, Dom Quixote, 2008. (Prémio Città delle Rose, 2006).

Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados.


Os nossos médicos (2): Tierno Bagulho e Pio Abreu (Canchungo, 1971/73)

por Luís Graça e António Graça de Abreu


Os médicos que estiveram na Guiné, no tempo da guerra colonial, têm sido em geral parcos de palavras (escritas). Ainda não nos deixaram testemunhos (escritos), com uma excepção ou outra (por exemplo, Mário Ferreira, autor de uma obra de ficção, Tempestade em Bissau, que ainda não li) (*)... Que eu saiba, não temos ninguém equivalente ao António Lobo Antunes (**), que fez a guerra de Angola, e cujas filhas publicaram, em 2006, as cartas e os aerogramas que o pai foi escrevendo à mãe, entretanto falecida por doença.

É bem possível que ainda haja escritos (diários, cartas, aerogramas, relatórios, dossiês, etc.) nas gavetas de alguns dos nossos antigos camaradas médicos. Fotos, seguramente que há algumas, já amarelecidas, no velho baú lá do sótão de um ou outro. É possível, no entanto, que apareçam escritos, sobre a experiência da guerra colonial, da autoria dos nossos médicos, à medida que acabam as suas carreiras no Serviço Nacional de Saúde. No caso dos que foram mobilizados para a Guiné, logo na primeira metade da década de 1960, já estarão mais do que reformados, andando a maioria na casa dos 70-75 anos.

A verdade é que não têm chegado ao nosso blogue, nem os escritos nem as fotos dos médicos que passaram pelo CTIG. O que é pena: o seu ponto de vista, muito particular, sobre o nosso quotidiano na Guiné, é também uma peça importante do puzzle da nossa memória…

Nem sequer sabemos quem eles são (ou foram), quantos foram, por onde andaram e por onde param hoje. Em geral, havia um médico, miliciano, por batalhão. (Originalmente, houve companhias independentes, que tinham o seu próprio médico, como foi o caso foi da CCAÇ 675, Binta 1964/65, de que o nosso camarada JERO era o Fur Mil Enfermeiro) (***).

Julgo eu que fossem, a maior parte deles, de rendição individual. Em Bambadinca, entre 1969 e 1971, conheci no mínimo três, o David Payne, o Saraiva e o Vilar. Destes, o primeiro e o último tiraram depois a especialidade de psiquiatria. O Payne e o Sampaio pertenciam à CCS do BCAÇ 2852 (1968/70). O Vilar – também conhecido pela sua alcunha de caserna, o Drácula – integrava a CCS do BART 2917 (1970/72).

O David Payne, já falecido, foi aqui amiudadas vezes vezes evocado pelo Beja Santos. O Payne seu era amigo e padrinho de casamento (se não me engano). Infelizmente, também já não se encontra entre nós (***).

Os nossos alferes milicianos médicos eram mais velhos que os restantes oficiais e sargentos milicianos. O Lobo Antunes, por exemplo, foi para Angola já com 28 anos, casado… Eram mais velhos por razões óbvias: eram licenciados e, em princípio, tinham de já estar inscritos na Ordem dos Médicos para poderem exercer medicina em Portugal. Convém aqui recordar que as carreiras médicas, públicas, só existem em Portugal, desde 1971.

Não sei quais eram os critérios usados pelo Exército no recrutamento, incorporação, instrução e mobilização dos médicos, digamos, de campanha, que integravam unidades operacionais a nível de batalhão

Talvez alguém saiba e possa escrever mais alguma coisa sobre os serviços de saúde militar, a sua história, o corpo médico, etc. Enquanto estudantes de medicina, os futuros médicos deviam beneficiar de adiamento da incorporação. Mas, quando eram incorporados, não deviam ter ainda grande experiência clínica. A tropa e sobretudo o ultramar devem ter sido, também, para eles, uma grande “escola” (tanto do ponto de vista clínico como humano).

Na Guiné, para além do HM 241, em Bissau, não havia nenhum estabelecimento hospitalar digno desse nome, nem mesmo em Bafatá, a capital da zona leste… Os meios de diagnóstico e terapêutica eram escassos, o serviço de sangue bem como o de anestesia eram inexistentes, a farmácia estava limitada aos produtos do laboratório militar, etc., nos nossos postos médicos, no mato, preparados quando muito para prestar primeiros socorros (um rudimentar medicina de emergência pré-hospitalar) e fazer, quando alguma, algum pequena cirurgia ambulatória com ou em anestesia local...

Não é ofensa para ninguém reconhecer que a preparação dos alferes milicianos médicos (sem falar dos furriéis milicianos enfermeiros e dos 1ºs cabos auxiliares de enfermagem) era deficiente, tanto a nível clínico e terapêutico como epidemológico (conhecimento da etiologia e da distribuição das principais patologias que afectavam a população que serviam, os militares e os civis).

Tal como no passado, o que era sobretudo valorizado era a cirurgia militar, com as suas várias valências, capaz de responder aos casos, mais graves, de feridos em combate ou por acidente, muitos deles politraumatizados, com direito a evacuação Ypsilon (os tais trinta minutos de viagem de heli, de ida e volta, que podiam significar a diferença entre a vida e a morte).

Em geral, os nossos alferes milicianos médicos não nos acompanhavam em operações (a não ser em casos esporádicos como foi o caso do já citado Dr. Saraiva, apanhado pela Op Tigre Vadio, em Março de 1970). Eles pertenciam à CCS do respectivo batalhão e, tal como os capelões, faziam visitas periódicas às unidades de quadrícula (Xime, Mansambo e Xitole, no caso por exemplo do Sector L1, com sede em Bambadinca).

Dentro das limitações dos serviços de saúde militares da época e do país (que só tinha 3 faculdades de medicina, em Coimbra, Lisboa e Porto, e uns escassos 5 mil médicos… no final da década de 1950, número que duplicou na década seguinte!), fizeram-se milagres na Guiné, com a coragem, a competência e a abnegação dos nossos 1ºs cabos auxiliares de enfermagem, dos nossos furriéis milicianos enfermeiros, das nossas pára-quedistas enfermeiras, dos nossos alferes milicianos médicos, dos nossos médicos militares de carreira (que deveriam ser poucos) e, enfim, de todo o staff do HM241 (que, eu, felizmente, nunca conheci, por dentro…), sem esquecer na rectaguarda, na Metrópole, o Hospital Militar Principal, na Estrela, com o seu famigerado Anexo de Campolide, em Lisboa, e o Centro de Medicina de Reabilitação, em Alcoitão, Cascais, criado (em meados da década de 1960) e gerido pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. (Em casos mais graves, que exigiam sofisticados cuidados de cirurgia plástica e reconstrutiva, Portugal tinha um acordo de cooperação com a Alemanha, um parceiro da NATO).

Alguns dos nossos camaradas médicos já não estarão vivos. Outros ainda aparecem nos convívios anuais das unidades a que pertenceram. É o caso, por exemplo, do Dr. Vilar, que foi médico do meu tempo em Bambadinca (CCS/BART 2917, 1970/72), mas também do Dr. Mário Fereira.

De que eu me lembre só temos dois antigos alferes milicianos médicos na nossa lista, de A a Z, dos membros da Tabanca Grande: o Amaral Bernardo e o Mário Bravo (ambos vivem e trabalham no Porto, o primeiro no Hospital de Santo António e o segundo no Hospital da Ordem do Carmo) (****). Não confundir com oficiais milicianos que, tendo sido operacionais, se formaram mais tarde como médicos, já depois do 25 de Abril. É o caso, por exemplo, do nosso querido amigo Victor Junqueira (que vive e trabalha em Pombal).

No descritor “Médicos” do nosso blogue, há já mais de três dezenas de referências. Temos inclusive varais histórias protagonizadas por médicos mas escritas por outros. Daí a ideia de darmos continuidade à série, ainda incipiente, dedicada aos nossos médicos.

É uma série (*****) que deve ser de recordação de (e de homenagem a) os nossos médicos militares que, em geral, eram milicianos, incluindo os que prestavam serviço no HM 241, em Bissau. Fica aqui o apelo para nos lembrarmos deles e eles de nós… Cada um de nós deve ter recorrido uma ou mais vezes aos seus serviços e, portanto, deve ter, no mínimo, uma história passada com eles.

Hoje começamos por evocar dois deles, através da escrita do nosso camarada e amigo António Graça de Abreu, Alf Mil, CAOP 1 (Canchungo, Mansoa e Cufar, Junho de 1972/Abril de 1974). São eles o Tierno Bagulho, na altura já com “trinta e tal anos” e o Pio de Abreu, mais novo. O primeiro (cirurgião) com mais experiência clínica e treino de que o segundo (que hoje é um conhecido psiquiatra). O Tierno Bagulho, infelizmente, já não nos poderá ler. O mesmo não acontece com o coimbrão J.L. Pio de Abreu, autor de um desconcertante e saudavelmente provocador livro sobre saúde mental.

O livro do António Graça de Abreu continua a ser, para mim, uma preciosa fonte de informação (factual e contextual) sobre o período final da guerra que eu já não vivi nem acompanhei (1972/74).

Há tempos perguntei ao Graça de Abreu se tinha mais recordações do Tierno Bagulho, para além das que constam no seu diário. Aqui fica a resposta:

(...) Perguntas-me pelo Bagulho, o médico, cirurgião de Teixeira Pinto. Falo nele no meu livro, conheci-o bem quando cheguei a Teixeira Pinto, em Junho de 1972. Estava lá com outro médico, outro grande senhor chamado Pio de Abreu que é hoje professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e um dos maiores especialistas portugueses em Psiquiatria. Foram duas pessoas que me orgulho muito de ter conhecido. Do Dr. Bagulho, filho do almirante Tierno Bagulho, sei que faleceu poucos anos depois de voltar da Guiné. Afinal tu conheces a viúva, a Raquel. Infelizmente não tenho nenhuma fotografia do Bagulho e do Pio de Abreu, apenas uma onde apareço com o outro médico, o Mário Bravo, que veio substituir um deles em Teixeira Pinto. Um abraço ao Mário Bravo. (...)

Canchungo, 22 de Julho de 1972

Fui hoje jantar com os dois alferes médicos no único tasco onde se pode comer cá na terra. Um bife duro, batatas mal fritas, um ovo estrelado, 45 escudos.

Os dois médicos são gente interessante, inteligentes, cabeças abertas para o mundo. Conversámos sobre a guerra, sobre as nossas vidas. O Bagulho tem trinta e tal anos, é já cirurgião em Lisboa, esteve detido em Caxias quando da crise académica de 1962. O Pio de Abreu ainda não tem trinta anos, é de Coimbra e faz parte daquele grupo de quarenta e nove estudantes da Universidade que, em 1969, na sequência das greves e desacatos na academia coimbrã, foram alistados coercivamente no exército.

Nenhum tem hoje qualquer actividade política nem de contestação do regime, mas carneiros não somos. É pena para mim – não para eles -, estarem em fim de comissão, só mais dois meses para o Bagulho.

São óptimos médicos, segundo a opinião de toda a gente. Dão consulta à população, com intérprete, tratam das milhentas doenças que afligem este povo manjaco e são os médicos militares, cuidam da tropa aqui estacionada e prestam assistência aos feridos em combate que chegam a Canchungo vindos directamente do mato.

Têm uma casa grande apenas habitada por eles, fora do quartel, na avenida principal em frente ao hospital. Uma casa bonita com uma sala de estar confortável, com móveis e tudo.
In: António Graça de Abreu: Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura. Lisboa: Guerra e Paz. 2007. pp. 31/32.

Sobre o Luís Tierno Bagulho, que morreria precocemente, de doença, no final dos anos 70, depois de ter à Guiné, já independente, como médico cooperante, deixando viúva a minha amiga Raquel, e três filhos (duas raparigas e um filho de tenra idade, o Luís, hoje também médico, devendo estar a acabar a sua especialidade em medicina interna, no antigo Hospital São José, em Lisboa), escreve ainda o António Graça de Abreu:

Canchungo, 6 de Agosto de 1972

Depois do jantar, estava no bar de oficiais com o Bagulho, o alferes médico, e chamaram-no de urgência ao hospital. Peguei no jipe e fui lá levá-lo.

Havia uma criança a nascer.

A primeira vez que entrei numa maternidade foi na barriga de minha mãe, a segunda foi hoje. Entrei curioso na pequena sala do hospital que funciona como maternidade no momento exacto em que o bebé nascia, saía coma placenta ensanguentada do ventre da mãe, a pele quase branca. O Bagulho fez rapidamente o seu trabalho de médico e deixou o recém-nascido ao cuidado da enfermeira negra. Pediu-me que o acompanhasse até uma sala mais pequena, do outro lado da parede.

Havia uma criança a morrer.

Um bebé de quatro meses agonizava. A mesma enfermeira que cuidava agora do recém-nascido, há umas horas atrás exagerara na distribuição do soro à criança doente cuja vida se extinguia diante dos nossos olhos. O Bagulho pediu-me para eu ir buscar uma botija de oxigénio. Mas a válvula da botija estava avariada, não regulava a distribuição do gás. O médico suava, eu também. Nada se podia fazer. Extinguia-se uma vida por doença, incompetência, falta de meios. O miúdo morria.

Sempre o supremo milagre: entre nascimento e morte, caminhamos sobre a terra
(p. 38).

(Esta cena fez-me recordar uma outra, passada em Bambadinca, em meados de 1970 – já não posso precisar o mês – em que o Dr. Saraiva, auxiliado pelo nosso querido Pastilhas, se não estou em erro, e mais uns tantos como eu, que só atrapalhavam, tentou desesperadamente salvar uma bebé de umas das nossas amigas do Bataclã de Bambadinca… Elas era de Bafatá (vinham de vez em quando fazer a Bambadinca uma farras) e uma delas tinha uma bebé, de meses, que dormia a um canto, embrulhada nuns míseros panos. A farra era grande, a música alta, íamos já pela noite dentro, quando a mãe – a Ana Maria ? a Fatumatá ? – deu conta de que a criancinha estava com dificuldades respiratórias…

Levada de urgência para o nosso posto médico, no quartel, o Saraiva fez tudo o que estava ao seu alcance para a salvar… Lembro-me dele esquartejar, com o bisturi, a perna da bebé à procura, desesperadamente da safena para lhe poder administrar o soro milagroso da vida… A criança acabou por morrer, já de madrugada… Cotizámo-nos para ajudar a mãe a fazer um funeral condigno… Foi o primeiro bebé que vi a morrer, à minha frente. Embora já calejados pela dureza da guerra, ficámos todos consternados pela morte daquele anjinho… De bisturi em punho, o Saraiva, nessa noite, atingiu, aos meus olhos, o estatuto do gigante humano lutando, num combate desigual, contra a prepotência dos deuses. Eu, que segurava a perninha da criança, não aguentei o combate até ao fim. Pronta e brutamente, o Saraiva dispensou os meus serviços e mandou-me apanhar ar, para a parada)…

Encontro, mais à frente no diário do A. Graça de Abreu, outra referência a médicos, desta vez ao Pio de Abreu:

Canchungo, 16 de Agosto de 1972

Hoje, o resultado das brincadeiras com as armas. Ouvi um tiro e gritos na caserna dos soldados do Batalhão [, BCAÇ 3863], aqui diante do meu quarto, a uns quarenta metros. Fui dos primeiros a chegar, a ver o sucedido. Um soldado, quando brincava coma espingarda, esfacelara o pé direito de outro soldado com um tiro de G3. Tiraram a bota ao pobre rapaz que guinchava de dores, e meu Deus, como estava o pé, destroçado, atravessado de lado a lado, com os ossos e os tendões despedaçados, tudo à mostra, escorrendo sangue. Estava convencido de que era pouco impressionável, mas tive uma tontura, vi tudo branco. Recuperei rápido e ajudei a levar o rapaz em braços para a enfermaria. O Pio, o médico, fez o que pôde. Uma hora depois uma DO evacuava o soldado para o hospital de Bissau.

Em Bafatá, caiu um das avionetas DO ao levantar voo, parece que por acidente, descuido do piloto, um alferes que eu não conhecia. Morreram o piloto e um cabo mecânico.
(pp. 43/4).

O Pio de Abreu ainda estava em Teixeira Pinto, em finais de Outubro de 1972, aquando a emboscada entre Pelundo e Có, a uns quinze quilómetros do Canchungo, a um coluna de cerca de 40 viaturas, e em que seguiam vários oficiais superiores, incluindo o comandante do CAOP1 (o famoso coronel Durão), e em que houve cerca de 10 feridos, alguns com gravidade,

Há uma referência à actuação do Alf Mil Médico Pio de Abreu [, da CCS do BCAÇ 3863, ] na tentativa de salvar a vida a um fuzileiro do PAIGC, atingido por estilhaços de uma bala de helicanhão.


Canchungo, 31 de Outubro de 1972

(…) Quando acontecem estas coisas, pedem-se logo os helicópteros de Bissau para a evacuação dos feridos e vem também o helicanhão que faz fogo sobre os itinerários de retirada do IN. Foi então abatido um guerrilheiro que veio de héli para aqui. Eu sabia que havia feridos e lá estava na pista. O fuzileiro do PAIGC chegou ainda vivo, com um uniforme azul manchado de sangue e um estilhaço na cabeça de bala de helicanhão. O médico e um furriel enfermeiro fizeram-lhe massagens no coração que de nada valeram, o homem morreu. Foi o primeiro guerrilheiro que vi, e logo agonizando numa maca de lona.
(p. 62)

Em Fevereiro de 1973, há outra referência a um intervenção do Pio de Abreu.


Canchungo, 1 de Fevereiro de 1973

(…) No regresso dos comandos [, da 38ª CCmds, enviados com o Cor Ricardo Durão, para lidar com um rebelião de militares guineenses do Bachilé, na sequência de um desafio de futebol que acabara mal], à entrada da vila rebentara uma caixa cheia de dilagramas – granadas disparadas pela G3 com um dispositivo especial – em cima de um Unimog onde vinham catorze homens. Dois mortos de imediato, os restantes feridos vinham a caminho. Corremos para o hospital. Os comandos chegaram. Como vinham, meu Deus! Um Furriel morria na sala de operações. A suas últimas palavras para o Pio, o médico, foram: “ Doutor, cuide dos outros, eu estou bem”. Nas macas, no chão de pedra do hospital jaziam feridos graves, corpos semi-desfeitos, barrigas, intestinos de fora e quatro rapazes só com alguns estilhaços. Não ouvi um queixume mas havia muitos homens a chorar.

Era preciso evacuar os feridos para o hospital de Bissau. Onze horas da noite, iluminámos a pista com os faróis das viaturas e com as mechas acesas de muitas garrafas de cerveja cheias com petróleo, distribuídas de dez em dez metros ao longo do campo de aviação. Aterraram quatro DO. Ajudei a transportar feridos entre o hospital e as avionetas, num dos nossos Unimogs. Dois deles iam muito mal, cravados de estilhaços, em estado de choque ou em coma, não sei se escaparão. (…)
(p. 74).

Dias depois, a 3 de Fevereiro de 1973, o António Graça de Abreu é, transferido, com o CAOP1, para Mansoa (que tem a grande desvantagem, em relação ao Cachungo, de “embrulhar uma vez por mês”, p. 73), e perdemos o rasto do Pio de Abreu, que, como já dissemos, pertencia à CCS do BCAÇ 3863, com sede em Canchungo (Teixeira Pinto).

Mobilizado pelo RI 1, o BCAÇ 3863, esteve sediado (o comando e a CCS) em Teixeira Pinto. A comissão de serviço na Guiné foi de 17/9/1971 a 16/12/1973. Foi comandado pelo Ten Cor António Joaquim Correia. Era composto pelas CCAÇ 3459 (Bassarel), 3460 (Cacheu) e 3461 (Carenque e Teixeira Pinto).

Presumo o que o J.L. Pio de Abreu tenha terminado a comissão na mesma altura que a CCS do BCAÇ 3863, ou até antes. Hoje ele é um dos mais conceituados nomes da psiquiatria portuguesa, sendo psiquiatra do Hospital de Coimbra e professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, autor do best-seller Como tornar-se doente mental, 18ª ed, Lisboa, Dom Quixote, 2008. (Prémio Città delle Rose, 2006).

Teríamos muito gosto que ele nos lesse ou que este poste pudesse chegar ao seu conhecimento. O mesmo se passa com a nossa amiga Raquel e seu filho Luís Bagulho, ou até mesmo com as suas filhas (com quem cheguei a privar, quando adolescentes). Talvez a família Bagulho queira e possa acrescentar algo mais sobre este período da vida do nosso camarada que tanto o marcou, como pessoa e como médico, ao ponto de voltar à Guiné-Bissau, como cooperante, sempre generoso e slidário, já depois da independência. Nunca o conheci pessoalmente. A doença atraiçou-o precocemente, creio que já no final dos anos 70.


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Notas de L.G.:

(*) 10 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2092: Antologia (61): Tempestade em Bissau (Mário G. Ferreira)

(**) 9 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2169: Antologia (63): Zé, meu camarada, eras um dos nossos e cada um de nós um dos teus (António Lobo Antunes, Visão, 4 Out 2007)


Vd. também:

28 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3375: (Ex)citações (5): Os nossos soldados eram miúdos, de 19, 20, 21 anos. Admiráveis. Iam matar e morrer (A. Lobo Antunes)

30 de Junho de 2008 >Guiné 63/74 - P3003: Blogoterapia (58): Que o País os beije antes de os deitar fora, e lhes peça desculpa (António Lobo Antunes / A. Graça de Abreu)

23 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2205: Humor de caserna (1): A sopa nossa de cada dia nos dai hoje (Luís Graça / António Lobo Antunes)

(***) Vd. ppste de 29 de Agosto de 2009 >Guiné 63/74 - P4878: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (12): O nosso Alferes Médico na vida civil...


Vd. outras histórias sobre médicos (lista exemplificativa, não exaustiva), publicadas no nosso blogue:

2 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1238: David Payne Pereira, um gentleman luso-britânico e um grande médico em Bambadinca (Beja Santos)

8 de Agosto de 2007> Guiné 63/74 - P2036: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (11): Dr Brocas, o contador de estórias que era gago


11 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2523: Estórias de Guileje (7): Um capitão, cacimbado, e um médico, periquito, aos tiros um ao outro... (Rui Ferreira)


26 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2887: Em busca de...(27): José Alberto Machado, Alf Mil Médico (Carlos Marques Santos)

(***) Vd. postes de:

21 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2566: Em busca de ... (21): Malta de Bedanda, do futebol e dos serviços de saúde (Mário Bravo, Alf Mil Médico, CCAÇ 6, 1971/72)

23 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1457: Tertúlia: Apresenta-se o Alf Mil Médico Mário Bravo, CCAÇ 6, Bedanda (1971/72)

28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1467: Bem vindo a Guileje, Doutor (Mário Bravo)

12 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1517: Tertúlia: Com o António Graça de Abreu em Teixeira Pinto (Mário Bravo)

(*****) Vd. poste de 15 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3899: Os nossos médicos (1): Alf Mil Médico José Alberto Machado (Nova Lamego)