terça-feira, 9 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2169: Antologia (63): Zé, meu camarada, eras um dos nossos e cada um de nós um dos teus (António Lobo Antunes, Visão, 4 Out 2007)

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Visão, 4 de Outubro de 2007 > Crónica do António Lobo Antunes (com a devida vénia à revista e ao autor...).

Imagem digitalizada por Zé Teixeira. Alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.


1. Mensagem, com data de 5 de Outubro de 2007, enviada pelo nosso querido amigo e camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70), actualmente residente em Matosinhos, bancário, reformado:

Caríssimos editores

Na revista Visão desta semana vem este extraordinário artigo sobre a morte de um camarada que o escritor António Lobo Antunes escreveu (1).

Creio que com a devida vénia merece ser dado a conhecer a todos os antigos camaradas.

Devo dizer que quem mo trouxe foi o meu filho, com o seguinte comentário:
-Trago-te um artigo sobre a morte de um antigo combatente que me fez chorar (2) (3).

Bom fim de semana

J. Teixeira
Esquilo Sorridente
__________

Nota dos editores:

(1) Vd. post 6 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2161: Pensamento do dia (12): Camarada, uma palavra que só quem esteve na guerra entende por inteiro (António Lobo Antunes)
(2) O escritor reencontrou os seus camaradas do Leste de Angola 34 anos depois do regresso a Lisboa. Nesse espaço de tempo, morreu um dos seus grandes amigos desse, o coronel Melo Antunes (1933-1999).
Vd. o seguinte recorte de imprensa:

António Lobo Antunes reencontra camaradas de há 34 anos
Ana Vitória
Jornal de Notícias, 19 de Novembro de 2005
"Estes são mais que meus amigos. São meus camaradas". Visivelmente emocionado, o escritor António Lobo Antunes abraçou, um a um, chamando-os pelos nomes, cada um dos seus companheiros da comissão de serviço militar obrigatório que desempenhou em Angola, entre Janeiro de 1971 e Março de 1973. Há 34 anos que não via muitos deles. Ontem, juntaram-se todos na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa, a mesma de onde, há 34 anos, partiram, a bordo do navio Vera Cruz para a Guerra Colonial.
O momento do encontro, carregado de emoção e com lágrimas mal contidas, teve como pretexto o lançamento de "D'este viver aqui neste papel descripto - Cartas da guerra", uma compilação das cartas que António Lobo Antunes, quase diariamente, escreveu na época à sua mulher que ficara em Lisboa.
"Temos todos uma ligação muito forte. Só quem passou por aquilo pode compreender. Partilhamos muita solidão, muito sofrimento, muitos silêncios - e muito medo. Por isso o que nos liga a todos é indestrutível. Este livro é também uma homenagem a cada um dos meus camaradas. Aos vivos que aqui vieram, e aos que já não estão entre nós", disse António Lobo Antunes.
Muitos dos camaradas de guerra que ontem o acompanharam no lançamento do livro, organizado pelas duas filhas do escritor, Maria José e Joana Lobo Antunes, pisaram pela segunda vez o átrio da Gare Marítima de Alcântara. "Só estive aqui há 34 anos, quando parti para Angola e isto era um mar de gente com lenços brancos e lágrimas a despedir-se de nós; e a agora, para o lançamento do livro. Ainda estou um bocado atordoado. Voltar aqui é como reabrir as feridas que a guerra, de uma maneira ou de outra deixou em todos nós, mesmo nos que por ela passaram sem serem feridos". As palavras são de Luís Oliveira, que se tornou conhecido em Angola como o Pontinha (porque morou lá perto) e que ontem mereceu particular atenção por parte do "senhor Dr. Lobo Antunes", que insistentemente reclamava a sua presença.
"Na tropa acabei por ser cozinheiro. Era eu que preparava as refeições do senhor Dr. Cozinhava-lhe uns petiscos, tirava-lhe as espinhas do peixe. Deixava o prato impecável, como ele gostava. Levava uma hora a comer a sopa e hora e meia a saborear o conduto. Sabia que ele escrevia mas nunca nenhum de nós leu esses escritos".
Nestas "Cartas da guerra" agora editadas, como sublinhou João Paixão, da editora Dom Quixote, o que perpassa de uma forma mais marcante é "a força dos silêncios e das ausências". E como diria a filha do escritor, Maria José, "publicar estas cartas é recusar o esquecimento".

(3) Para saberes mais sobre o escritor e o homem:
Blogue Orgia Literária > Os Cus de Judas, de António Lobo Antunes
Portal da Literatura > António Lobo Antunes (n. 1942)
Site não oficial sobre António Lobo Antunes > Biografia
Wikipédia > António Lobo Antunes

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