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sábado, 22 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21283: (In)citações (166): Da Guerra da Guiné, sem branquear nem reescrever a história: há 60 anos, as ideias Negritude, Nacionalismo, Libertação e Descolonização ou vírus da pandemia que matou a portugalização africana - Parte II (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav)

1. Em mensagem do dia 18 de Agosto de 2020, o nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil Cav da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), enviou-nos um texto a que deu o título: "Da Guerra da Guiné, sem branquear nem reescrever a história: há 60 anos, as ideias Negritude, Nacionalismo, Libertação e Descolonização ou vírus da pandemia que matou a portugalização africana", do qual publicamos hoje a II e última Parte.


Da Guerra da Guiné, sem branquear nem reescrever a história: há 60 anos, as ideias Negritude, Nacionalismo, Libertação e Descolonização ou vírus da pandemia que matou a portugalização africana


Amílcar Cabral e Rafael Barbosa estavam ligados pela verve nacionalista, este clamava a sua adesão ao PAI, ele limitara-se a acompanhar a sua evolução; veio encontrá-lo enformado por cerca de 30 militantes, empregados da Farmácia Lisboa, quadros do Banco Nacional Ultramarino, da Estação Postal, da Estação Telegráfica, da empresa António da Silva Gouveia (CUF) e atletas do Sport Bissau e Benfica, filiou-se, reformou-lhe estatutos e orgânica, Rafael Barbosa continuou presidente, ele passou a secretário-geral, Aristides Pereira, o chefe da Estação Telegráfica seu adjunto, e rumou a Paris, a dar início à sua diplomacia de convencimento.

Amílcar Cabral e a primeira infância do PAIGC em Paris foram “amamentados” pelas remessas de $ (escudos) – então a 3.ª moeda mais forte do mundo - da sua mulher, a eng.ª silvicultora Maria Helena de Ataíde Vilhena Rodrigues, filha de um capitão médico e deficiente da guerra africana, no contexto da I Guerra Mundial.

Em Janeiro de 1960, viajou com o passaporte português de Paris para Túnis, discursou na I Conferência dos Povos Africanos sob o pseudónimo de Abel Djassi, conheceu Nelson Mandela e o caribenho e sociopata revolucionário Frantz Fanon, mentor do terrorismo e em representação da FNL argelina, que lhe apresentou o congolês Holden Roberto, líder da UPA, ainda ele não tinha ido a Washington receber a quantia de 100 mil dólares em dinheiro vivo das mãos do então senador John Kennedy.
O financiamento do terrorismo no norte de Angola, em Março de 1961, materializado no massacre de cerca de 10 mil civis, homens, mulheres e crianças, brancos, pretos e mulatos, foi devido a John Kennedy e ao seu Partido Democrata.

Quando a Maria Helena se lhe juntou em Paris, o exilado angolano Viriato da Cruz, fundador do Partido Comunista de Angola – que Cabral ajudará a reciclar no MPLA –, meteu uma cunha a Sékou Touré, este concedeu-lhes asilo, em Março desse ano mudaram-se para Conacri, deu-lhe uma avença como conselheiro técnico do Ministério da Economia Rural e empregou a Maria Helena como professora no seu liceu. Em Outubro foi a Dacar participar na Conferência de Quadros das Obrigações Nacionalistas, diferenciou o PAI guineense do PAI senegalês, Partido Comunista do Senegal, fundado por Majhmad Diop, também exilado em Conacri, militado por pan-africanistas e por ex-estudantes senegaleses em Paris, mudando-lhe o acrónimo para PAIGC, Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde. Foi encontrar em Conacri o emigrante João Bernardo Vieira, jovem da etnia papel, electricista de Bissau, sobrinho de João Máximo Vieira, carpinteiro de Bedanda, que fora o seu maior entusiasta da falhada fundação da referida associação desportiva juvenil – o destino a fazer o encontro entre os dois guineenses que darão água pela barba ao Governo, infernizarão a vida aos militares portugueses e talharão o destino da Guiné Portuguesa: o líder Cabral, pelo seu talento de estratega, a inteligência na acção, e o bisonho e improvável cabo-de-guerra “Nino”, que se iniciou como “libertador” da zona Sul, superou a famigerada Operação Tridente, foi o chefe das Operações das FARP (Forças Armadas Revolucionárias Populares), proclamou a independência no Boé, foi ministro, primeiro-ministro, fez um primeiro mandato de 19 anos de seu PR e, ao 4.º ano do seu segundo mandato, foi assassinado e o seu cadáver profanado.

Encontro também premonitório do futuro fatal a ambos e de grande contrariedade para as suas mães, que queriam ser portuguesas e sempre viveram em Bissau. D. Iva Pinhel, mãe de Amílcar, dizia que se o tivesse adivinhado político, não teria mourejado tanto para o formar (passava férias em Cabo Verde, as passagens aéreas oferecidas pagas pelo governo provincial) e Nino Vieira afirmava que a sua mãe, Florença de Pina Araújo, procurava todas as oportunidades para lhe ralhar e se convertera em spinolista convicta.

Em Conacri, Amílcar Cabral começou a acolher jovens guineenses da sua sementeira subversiva, os primeiros oriundos da Missão Católica de padres italianos da tabanca de Samba Silaté e outros, militares nativos, na disponibilidade e desertores, mobilizados e expedidos por Rafael Barbosa, os primeiros foram Osvaldo Vieira, Epifânio Amado e o furriel desertor Rui Djassi, os três empregados da Farmácia Lisboa, e, depois, Domingos Ramos e Carlos Correia, todos patrocinados pela dr.ª Sofia Pombo Guerra.

Nesse ano viajou para Checo-Eslováquia, para União Soviética e para a China, aqui permaneceu alguns meses, a receber lições de Mao Tsé Tung sobre a organização da guerrilha rural e do combate nas matas e bolanhas da Guiné contra um exército, o português no caso. O mestre viu no discípulo um homem do campo feito cosmopolita, o seu grande potencial de líder revolucionário e começou a ajuda à sua luta concedendo bolsas de preparação ideológica e militar a 30 jovens guineenses (a Checo-Eslováquia concedeu-lhe 25 e a União Soviética apenas 5).

Leopold Senghor
Entretanto, o seu anfitrião Sékou Touré, em razão do exposto, e Senghor, por não professar os princípios e fundamentos do marxismo, procrastinavam a autorização de bases de retaguarda à sua guerra, ora metiam uns na prisão, ora ameaçavam ou emitiam mandatos de captura contra outros e só lhas concederão rendidos às evidências e ao seu talento, a primeira a ser colhida foi de Senghor, que, em finais de 1960, lhe autorizou a abertura de escritório em Dakar.

Em 30 de Novembro desse ano, propôs a Salazar o recenseamento dos habitantes de Cabo Verde e da Guiné para “uma pessoa um voto”, a eleição de uma Câmara de Representantes das duas Províncias, pelos rácios de 1 deputado por 10 mil cabo-verdianos e de 1 deputado por 30 mil guineenses – uma espécie de assembleia constituinte de um só país – e preconizava a eleição de um Presidente da República comum.

Marrocos tornara-se destino de exílio de oposicionistas portugueses, predominando comunistas e delgadistas, Rabat e a MAC, Movimento Anticolonialista fundado por Viriato da Cruz, tornaram-se ponto de reunião e placa giratória da malta africana que deixava as 3 Casas do Império (Lisboa, Coimbra e Porto). A Maria Helena passava pela segunda gravidez, ora de risco, Amílcar Cabral instalou-a em Rabat, meteu o país e a cidade no seu roteiro, conquistou a consideração do rei Hassan II e, em 1962, este doou-lhe as primeiras 30 pistolas-metralhadoras russas PPSH – as “costureirinhas” e o seu “cantar”, sinistro e indelével na memória dos combatentes da Guiné.
A Rabat foi também parar o impetuoso rebelde Humberto Delgado, Tenente da Revolução do 28 de Maio, General da Força Aérea e o general mais novo do corpo de generais portugueses, notável diplomata militar, fundador da TAP, criador dos aeroportos de Lisboa e do Porto, etc., que passara de Presidente da Repúlica de Portugal eleito, em 1958, derrotado por fraude eleitoral, a refugiado no Brasil. Ao fim de 10 meses no Rio de Janeiro, a viver do subsídio de 30 mil cruzeiros da Associação de Beneficência e Cultura, o empresário Rui Amaral deu-lhe em S. Paulo o emprego de promotor de vendas do “Cestos de Natal Amaral”, na empresa Alimentos Seleccionados Amaral. Já com o estatuto de exilado político, concedido pelo Presidente Juscelino K. Oliveira, despediu-se do emprego, foi instalar o quartel-general do golpe militar do derrube de Salazar em Rabat e alçou o desertor de Angola, Major Pilav. José Ervedosa a seu Chefe de Estado-Maior.

Em 1961, como o MAC era contrário à violência, advogava a desobediência civil como arma de luta da independência, os líderes dos movimentos independentistas dos territórios administrados por Portugal apropriaram-se dele, reciclaram-no na CONCP (Confederação da Organização das Colónias Portuguesas), proclamaram a luta armada contra o colonialismo português, transferiram o seu Secretariado para Casablanca, a sua liderança exercida pela “troika” Amílcar Cabral (Guiné e Cabo Verde), Gentil Viana (Angola) e Marcelino dos Santos (Moçambique). Em Outubro esta “troika” foi a Nova Deli pedir a ajuda de Nerhu à luta da Liga de Goa pela libertação do Estado Português da Índia, Amílcar Cabral foi o seu porta-voz, este disse-lhes que ia reflectir – não lhe deu resposta, invadiu-o e anexou-o por mão militar à União Indiana.

Em 3 de Agosto de 1961, Amílcar Cabral anunciou a passagem da sua luta na Guiné à “acção activa”, eufemismo para não ferir as boas almas pacifistas, nórdicas e não só…, (a União Soviética monta o estaleiro da construção do muro de Berlim), e, em 13 de Outubro, enviou a Salazar e ao Povo Português a proposta da abertura do diálogo pela união da Guiné com Cabo Verde, a sua autodeterminação e a independência como fim último –, inflexível e casmurro, o velho foi recorrente em negar-lhe resposta.
Salazar e o seu fascismo à “português suave” acusavam decadência, os novos “ventos da história” demorarão a chegar a Lisboa, a oposição e um general não tiveram jeito nem força para o afastar do poder, o feito estava reservado à cadeira espreguiçadeira do forte do Estoril. Quando algum dignitário ou emissário internacional lhe invocava a ONU ou abordava a questão colonial, ele evocava logo os Descobrimentos e a sua identidade com o heroísmo dos seus antepassados do século XV. O embaixador americano em Lisboa reportou ao seu presidente que fora presente a um velho e, mal abriu a boca sobre o tema, levou logo com Luís de Camões, com o Infante D. Henrique e com Vasco da Gama (e ele não sabia quem eram…).

Em meados de 1962, a França libertou-se da Argélia e Ben Bella, primeira figura da FNL e especialista de assaltos a bancos foi alçado à honra de seu Presidente da República, precedente que inspirará o nosso Presidente Mário Soares a indultar os nossos brigadistas Carlos Antunes e Isabel do Carmo, condenados judicialmente por assaltos a bancos nacionalizados, e o nosso Presidente Jorge Sampaio, a condecorar Hermínio da Palma Inácio, o nosso assaltante da filial do Banco de Portugal na Figueira da Foz. Nenhum era dos DDT (donos disto tudo)…
A capital Argel passou a centro de gravidade revolucionária, a asilar tudo que parecesse revolucionário africano e oposicionista ao regime de Lisboa, os democratas e delgadistas lusos e suas famílias eram cerca de 40 almas, formataram a sua comunidade na FPLN, acrónimo de Frente Patriótica de Libertação Nacional, a “troika” Piteira Santos, Tito de Morais e Manuel Alegre em seus pontífices.

Em 1962, havia na Guiné Portuguesa 10 movimentos e correntes de opinião nacionalistas, (eram 21, considerando os de Cabo Verde), uns mais informais que outros, e, em Maio, Nino Vieira fez a sua iniciação de comandante guerreiro, montando um fornilho e uma pequena emboscada com pistolas de calibre civil “Unic” à CCaç 84, no troço de Mato Farroba da estrada Cacine-Cufar, sem sucesso. Dias depois, acabado os preliminares e quando se preparava para distribuir as 30 pistolas-metralhadoras PPSH, doadas pelo rei de Marrocos, escondidas sob o arroz no celeiro da quinta do Chiquinho, em Cubaque, foi capturado pela patrulha do Destacamento de Cufar, comandada pelo furriel mil.º Gonçalves, este deu-o como fugido ao fisco e foi levá-lo à cadeia de Catió e o administrador da circunscrição Pedro Duarte (irmão do dr. Abílio Duarte, ambos cabo-verdianos e militantes do PAIGC dos mais importantes) propiciou-lhe a evasão na mesma noite.
Havia mais de um ano que o Estado-Maior de Bissau e o seu comandante de Companhia sabiam quem era o Nino, o que andava e se propunha fazer. Os “donos” da nossa guerra da Guiné omitiam as informações desta natureza aos comandantes de patrulhamentos e de escoltas que não fossem oficiais…

A insurreição armada eclodiu no noroeste da Guiné, em Junho de 1962, numa lógica mais bandoleira que militar, a iniciativa foi do MLG (Movimento da Libertação da Guiné), com o assalto, pilhagens e delapidações nas estâncias de veraneio de Susana e Varela e o incêndio de uma serração em S. Domingos, por bigrupos com o efectivo de 200 guerrilheiros, instruídos em Bamako, capital do Mali, por ex-militares argelinos do exército francês, um deles era Momo Turé, que virá a enformar o trio que martirizou Amílcar Cabral.

O MLG era concorrencial e antecipara-se ao PAIGC na dotação de recursos humanos e de armamento; mas, por atalhos de entendimento, uma coligação informal da UPG, do MLG e do PAIGC desencadeou uma segunda vaga: entre 6 de Janeiro e 5 de Maio de 1963, cortaram a estrada Varela-S. Domingos, incendiaram o posto administrativo de Sedengal e o pontão entre Susana e Varela, atacaram Cajadi, Bigene e Samoge, montaram emboscadas ao CCav 252, causaram a morte a um soldado e ao seu comandante, Capitão Machado do Carmo, incendiaram o autocarro do Manuel Saad, da carreira de Bissau-S. Domingos e dois camiões dos madeireiros, etc..

 Da acção por parte do PAIGC, no Chão manjaco distinguiu-se o ex-professor primário Inocêncio Kani, que virá a ser o comandante do assassinato de Amílcar Cabral, enquanto no sul, na região continental e insular de Cacine, se distinguia Nino Vieira, nas acções nos chãos balanta e nalú, com assaltos a casas comerciais, sabotagens, cortes de estradas e na instrução e formação do primeiro corpo de Exército do PAIGC, uma numerosa força de guerrilha, um corpo de exército, dotada de metralhadoras antiaéreas, que acantonou nas ilhas do Como, Caiar e Catunco, coma missão de proteger a realização do I Congresso de Cassacá.

 Congresso de Cassacá

Ao invés de François Mendy e do seu MLG, Amílcar Cabral só desencadeou a sua guerra com o trabalho de casa feito, depois do estudo do terreno, do dispositivo militar português da Guiné levado ao pormenor, da autoria do então Tenente-Coronel Costa Gomes (em implementação desde 1958 e imutável até 1974), e concebeu a sua orgânica militar e o seu plano táctico-estratégico de acordo com as lições de Mao.
Cerca de 2/3 da dimensão da Guiné eram floresta e água. Na sua perspectiva de soberania, a tropa organizava-se em sectores geográficos, sedes de batalhões, e em quadrículas geométricas, nomadizava nas zonas urbanas e nas tabancas mais densamente povoadas, as quadrículas como áreas de acção de Companhias de Infantaria, com o efectivo de cerca de 150 homens, operava dia e noite, os seus reabastecimentos garantidos por terra, mar e ar. Mas jogava fora. O PAIGC estabeleceu a sua retaguarda no estrangeiro, organizou a sua luta em três frentes ou regiões político-militares, manobrava em Grupos e Bigrupos de combate de grande mobilidade e virtuosismo táctico, estes com o efectivo de 30 homens cada, estava para as matas e florestas como o peixe para a água, era noctívago nas suas ambulações bélicas, tanto pregava a tropa ao chão como a obrigava à dispersão, o seu reabastecimento a partir do estrangeiro, garantido pelas infiltrações das fronteiras, os “corredores” para a tropa – a permeabilidade das fronteiras foi o pecado mortal táctico-estratégico do Alto Comando português. E jogava em casa.

A partir de 1963 e durante 11 anos, o PAIGC foi constante na propalação (até 1974) da glória de dominar e “administrar” 2/3 de “áreas libertadas” na Guiné e de ter imposto o confinamento da soberania de Portugal a Bissau e Safim. Um embuste, “publicidade enganosa”, com sucesso junto da ONU, da OUA e das chancelarias mundiais que lhe sustentavam a guerra.
Esses “2/3 de áreas libertadas” não era mérito seu, era o grande activo da Guiné - o seu ecosistema de massas de florestas, água de rios e braços de mar.
Em 1963, o PAIGC tinha completado a implementação e activado o seu dispositivo militar na Frente sul e na Frente sul (a tropa demorou mais de um ano a iniciar a sua rarefacção, com a Operação Tridente), a manobra dos “primos Vieira”, Osvaldo e Nino evidenciava o virtuosismo decorrente do seu tirocínio em Pequim.

Para memória futura: Fui militar do contingente geral e servi na Guerra da Guiné com o posto de furriel miliciano, de meados de 1964 a meados de 1966, começamos baseados em Bissau, as três companhias operacionais para missões de intervenção. No primeiro ano fomos sempre até onde a soberania de Portugal fora, executando batidas, golpes de mão, cercos, assaltos, sofremos minas, flagelações, emboscadas e suas consequências, por terra e por água e nomadizamos em duas zonas problemáticas – 10 dias em Bironque, no Norte, e 67 dias em Cufar, no Sul. No Norte confrontamo-nos com o comandante Osvaldo Vieira e a sua malta e no Sul com o comandante Nino Vieira e sua malta. No segundo ano fomos para Nova Lamego, ambulamos por todo o Leste, cambamos o Corubal na fatídica jangada do Ché-ché, confrontamo-nos com o comandante Domingos Ramos e sua malta nas abrasivas áreas de Canquelifá, Beli e Madina do Boé e terminamos a comissão na tabanca fula e mandinga de Buruntuma, fronteira da Gconacri.
O PAIGC sujeitou-nos a situações umas mais difíceis e dolorosas que outras, mormente nas matas do Oio, Morés, Cafine, Cantanhez e Cufar, mas, mesmo nessas áreas da sua maior presença e mobilidade, a sua acção nunca configurou algo parecido com “área libertada”!
Não obstante ter sido actor nessa Guerra da Guiné “para nada”, parafraseando alguém, a sua primeira vítima foi a verdade.

Amílcar Cabral rompera com o MLG, tratou de o desnatar dos seus melhores recursos humanos e, na noite de 23 de Janeiro de 1963, inaugurou a sua Guerra da Guiné a solo, numa operação com lógica militar. Um comando do PAIGC formado na base de Koundara, Guiné-Conacri (a 30 km de Buruntuma), veio atacar a sede do BCaç 237, em Tite, no coração da Guiné, na margem esquerda do estuário do Geba, defronte a Bissau, vitimou uma sentinela, o soldado gondomarense Gabriel Moura, mas só no dia 26 é que comunicou o evento à ONU, porque o regresso dos atacantes ao seu PC, em Koundara, demorou 3 dias…

O General Humberto Delgado foi convencido por Álvaro e transumou-se de Rabat para Argel, chegou, invocou à comunidade conspirativa lusa o seu direito natural, de Presidente eleito de Portugal e a sua patente de General, impôs-se presidente da FPLN e comandante da luta da oposição salazarista. A pluralidade convertera a FPLN num saco de gatos, a maioria passou a negar-lhe interacção, a fazer finca-pé à anterior orgânica da FPLN e ele desenrascou-se mudando o P de patriótica para o P de portuguesa.

O General Humberto Delgado a votar nas Eleições Presidenciais de 1958

Em Setembro de 1964, a guerra rebentou em Moçambique, a FRELIMO aderiu à FPLN, e Amílcar Cabral, também convencido por Álvaro Cunhal, deixou Rabat e a família, passou a frequentar Argel, engrossou a FP(atriótica)LN, de saco de gatos oposicionistas passou a saco de tigres, a maioria dessa comunidade conspiradora lusa secundou a proclamação dos três dirigentes nacionalistas à luta armada no Portugal ultramarino, a CONCP propunha-se desencadear ataques de “bate e foge” aos quartéis da Metrópole, o general agoniou-se e em Outubro bateu com a porta.
A sua circunstância e as suas idiossincrasias tornaram Amílcar Cabral apenas fiel a tudo o relativo à guerra, a Maria Helena tendia para os princípios políticos do general, divorciaram-se, ela refez a sua vida sentimental com o seu ajudante de campo Henrique Cerqueira, regressou a Portugal após o 25A74 e deu aulas na Universidade do Minho.
Amílcar Cabral refez a sua vida sentimental com a moça guineense Ana Maria Voss de Sá, sua protegida com uma bolsa de estudo na Checo-Eslováquia, o PAIGC aureolou-a de espécie de viúva nacional, foi o seu representante à cerimónia do arrear da última bandeira portuguesa, na parada do quartel de Mansoa, em 9 de Novembro de 1974, - o último acto da exoneração de Portugal da sua soberania e a última missão do seu o último soldado, o nosso camarada Furriel Mil.º Eduardo Magalhães Ribeiro.

A notícia da morte do General Humberto Delgado na Extremadura espanhola chegou ao Café Bento ou nossa “5.ª Rep” no princípio de Maio de 1965, estávamos em recuperação, passáramos o mês de Abril em intervenção na região de Buba, investidos nas muito duras e sofridas Operação Faena, em Antuane, e Operação Faena, em Incassol. A indiferença ante a notícia foi geral, não provocou reacções de compaixão nem de simpatia – entendíamo-lo como mais que para se vingar de Salazar se passara para os turras, para os ajudar a infernizar-nos a vida, a estropiar-nos e a matar-nos. Pura desinformação. Houve suspeitas, não provadas, de que o General Humberto Delgado teria sido “oferecido” à PIDE pela FPLN ou “Grupo de Argel” ou pela CONCP, em consequência da sua ruptura com ela e por se ter recusado a caucionar a admissão a pretensão da extensão da intromissão dos líderes da guerra africana nos assuntos portugueses genuinamente internos. Votara-se à conspiração armada contra o regime, mas era seu ponto de honra não usar os soldados portugueses para seu alvo – assim o determinara na sua ordem de operação do assalto ao RI 13 de Beja.

Apoiar alguém a matar os seus compatriotas que cumprem o seu dever de soldados do seu próprio país, onde quer que o sirvam, não é igual a planear e lançar ataques aos seus mandantes, nos quartéis, S. Bento, Terreiro do Paço e Belém.

Manuel Alegre reunia em seu favor o talento de vate poético, cantado pela Amália, o de alferes miliciano na tomada de Nambuangongo, Angola, de conspirador do “golpe Botelho Moniz”, a visibilidade da sua militância democrática durante o PREC, mas foi rejeitado pelo voto para nosso Presidente da República e Supremo Comandante das Forças Armadas. A sua rejeição não terá a ver com o passado conspirativo no Grupo de Argel, mas pelo activismo do seu apoio aos “turras”, na Rádio Voz da Liberdade/Rádio Portugal Livre e em eventos. Os Combatentes - foram mais de um milhão! - se perdoaram não esqueceram…

Em jeito de conclusão, invoco Paul Veyne: “A História é um romance verdadeiro que tem o homem por actor”.
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Nota do editor

Vd. poste anterior de 21 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21279: (In)citações (165): Da Guerra da Guiné, sem branquear nem reescrever a história: há 60 anos, as ideias Negritude, Nacionalismo, Libertação e Descolonização ou vírus da pandemia que matou a portugalização africana - Parte I (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav)

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19968: (In)citações (135): Achega II - E o PAIGC exaltou o Comandante Guerra Mendes a substituto de Salazar, na toponímia de Bissau (Manuel Luís Lomba)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) datada de 10 de Julho de 2019, com mais uma "achega":

ACHEGA II*

Protesto o meu respeito à laboriosa pesquisa histórica da Guerra da Guiné pelo Beja Santos, Jorge Araújo, José Matos, José Martins e de outros “camarigos”. Os seus actores não precisam de reescrever a sua história; mas, às vezes, sentimos a pulsão de chamar a “verdade dos factos” à colação das meias-verdades de muitos comunicadores.

O PAIGC foi fundado em 19 de Setembro de 1956, não por Amílcar Cabral (estava em Angola), mas por Rafael Barbosa, escriturário da construção civil, e por Fernando Fortes, chefe da Estação Postal Provincial, em Bissau, sob o acrónimo de PAI (Partido Africano da Independência), homónimo do Partido Comunista do Senegal, ambos militantes do Partido Comunista Português, no contexto do alinhamento deste com as conclusões anticoloniais da Conferência de Bandung, de Abril de 1955, e da proclamação do “direito das colónias à autodeterminação”, do XX congresso do PCUS, em Fevereiro de 1956.

Amílcar Cabral aderiu-lhe como militante e, em 1959, por negociação com os seus poucos pares e sem outra formalidade, Rafael Barbosa passou a presidente, ele a secretário-geral, Aristides Pereira a secretário-geral adjunto, objectivou-o também a Cabo Verde e mudou o seu acrónimo para PAIGC. O presidente manteve-se em Bissau, enquanto os dois secretários-gerais se expatriavam, avisadamente, – a PIDE instalara-se em Bissau no ano anterior. O PAI, o PAIGC, em Bissau, e o PAICV seu sucedâneo, na Praia, tiveram génese comunista e cabo-verdiana.

O PAIGC desencadeou a sua Guerra da Guiné nos princípio de 1963, com dois ataques à guarnição militar de Tite; mas, a Guerra da Guiné foi iniciada pelo MLG (Movimento da Libertação da Guiné), fundado em 1959, em Bissau, o primeiro partido emancipalista a desencadear ataques e emboscadas, nas áreas de S. Domingos, onde vitimou o Capitão de Cavalaria António Lopo Machado do Carmo, o primeiro oficial profissional a morrer em combate na Guiné, pilhagens a Susana e Varela e também atacou o aquartelamento de Bigene, iniciados em Julho de 1962 e activos até Fevereiro de 1964, até a manobra de Amílcar Cabral e o seu “charme” diplomático conseguir o desapoio da Organização da Unidade Africana e a perda da simpatia pela ONU.

O MLG expatriara-se para Dandula-Turene, Senegal, na sequência da agitação dos marinheiros de cabotagem, – a famigerada greve e o “massacre” do Pidjiquiti -, em Agosto de 1959, de sua inspiração e com o contributo do seu militante Luís Cabral, que virá a ser o presidente do PAIGC e primeiro PR da Guiné-Bissau, então guarda-livros da Casa Gouveia (Grupo CUF), empregadora da sua maioria. Esses ataques foram organizados e comandados por Pierre Mendy, um manjaco senegalês, já licenciado do exército francês e que combatera na Guerra da Argélia, e neles participou o guineense Momo Turé, que virá a ser um dos assassinos de Amílcar Cabral.

Os comandantes do PAIGC, que mais infernizaram a vida aos soldados portugueses e às populações, foram os 30 tirocinados na China, na “geração” de Mao-Tse-Tung.

O Rui Demba Djassi, era um jovem activo e turbulento duma família de funcionários públicos, residente na então rua de S. Luzia, entre o estaleiro da Tecnil e o Quartel-General do CTIG, desertara do EP para o PAIGC com o posto de furriel miliciano, e, antes de assentar praça, fora cobrador da Farmácia Moderna, muito dedicado à Dr.ª Sofia Pombo Guerra, comunista portuguesa e uma das mães da independência da Guiné (os guineenses não deixaram de ser polígamos na política…).

Foi o primeiro operacional dos primeiros 30 formandos militares e ideológicos na China, o primeiro instrutor da base de Koundara, vila da República da Guiné, a primeira base do PAIGC, à distância rodoviária de cerca de 30 quilómetros da fronteira com Buruntuma, foi nela que instruiu e foi dela que partiu o grupo de combate, o seu comando dividido com o Bobo Quetá, ex-futebolista de “Os Balantas” de Mansoa, para desencadear a sua guerra da Guiné, com esses dois ataques a Tite, no coração da Guiné - o de 6 de Janeiro, lançado sobre o edifício que encarcerava cerca de 100 “subvertidos” e o de 27 de Fevereiro de 1963, sobre a messe dos sargentos, ambos repelidos, no segundo foi decisiva a prestação da malta da “Maria Albertina”, autometralhadora Fox, do Pelotão de Reconhecimento enviado de Aldeia Formosa (Quebo), em reforço da guarnição.

Osvaldo Vieira, um dos principais formandos ideológico-militar na China, fora também empregado da Dr.ª Sofia Pombo Guerra, em Bissau, outro furriel miliciano desertor do EP, pontificava na Frente norte, Oio, Morés, etc., e, o seu primo Nino Vieira (terá sido cabo na guarnição da Guiné?), o principal formando na China, pontificava na Frente sul, há dois anos "enfeudado" com 300 combatentes, “pacificamente”, nas ilhas do Como, Caiar e Catunco - a sua “república independente” do Como, enquanto não foi extinta pelas NT, com a Operação Tridente, no primeiro trimestre de 1964.

Rui Djassi havia sido transferido para o posto de Vitorino Costa, irmão do Manuel Saturnino, morto no assalto das NT à tabanca de S. João, que tiveram a infeliz (no mínimo) ideia de passear a sua cabeça como troféu, transferido por Amílcar Cabral do seu posto do Gabú, quando falhava clamorosamente a sua subversão – os fulas eram refractários ao PAIGC e à sua mensagem.

Considerado o momento fundacional da nacionalidade bissau-guineense, iniciado em 12 e fechado em 16 de Fevereiro de 1964, no auge da Batalha do Como/Operação Tridente, o famigerado Congresso de Cassacá aprovou a sua “Lei constitucional” e o seu “Código de Justiça”, explicitadas pelo advogado José Araújo, ex-jogador da Académica de Coimbra. Invocando essa legalidade, no dia 17, Amílcar Cabral presidiu ao julgamento dum grupo de correligionários “criminosos”, entre os quais Rui Djassi, condenou três à morte por fuzilamento, o Nino Vieira e o Francisco Té providenciaram a execução, mas perdoou o Rui e deu-lhe a oportunidade de reabilitação no lugar do Vitorino Costa – expondo-o à maldição legada pela malta da CCaç 153, do RI 13 de Vila Real, e do seu capitão Carreto Curto, cuja morte havia decretado, como responsável da morte e da decapitação do Vitorino Costa.

Em 24 de Abril de 1964, dois meses depois, o Rui Djassi também foi eliminado pelas NT e Aristides Pereira mandou o Guerra Mendes para o seu posto, que lhe desobedeceu e que as mesmas eliminarão, um ano depois, em 14 de Fevereiro de 1965.

Quando o MLG e o PAIGC desencadearam a sua “guerra de libertação”, a Guiné-Bissau era uma criação territorial, administrativa e diplomática dos portugueses, mas apenas nominalmente portuguesa, sempre pertencera a guineenses e a cabo-verdianos – aqueles por direito próprio, como seus naturais, e estes como seu destino de emprego, nos serviços da administração pública, no comércio e serviços. Em 1961, havia menos de 1000 portugueses da Metrópole e ilhas adjacentes residentes na Guiné, contando os colonos, patentes militares e quadros públicos.

Os bissau-guineenses não se têm furtado ao reconhecimento que o continuado falhanço do seu Estado advirá do ADN ideológico do PAIGC, quando partido único e totalitário. A sua nacionalidade foi fundada por Amílcar Cabral, foi o PAIGC que a formatou em Estado, a matéria-prima era portuguesa, mas o seu modelo e metodologias eram fantasias, estranhas ao povo guineense.

Amílcar Cabral era português de Bafatá e a sua mulher Maria Helena era portuguesa de Chaves, ele acedeu e formou-se como bolseiro do Estado Português, a Casa dos Estudantes do Império, a cultura e a língua portuguesa foram a matéria-prima com que fundou a nacionalidade bissau-guineense, o seu conhecimento consolidado, como altos funcionários do Estado português, em Lisboa, Luanda e Bissau, iniciou os preparativos internacionais da sua luta com passaporte português, custeou as primeiras despesas da sua luta com escudos$ do seu ordenado e com escudos$ dos recursos da esposa, ter-se-á motivado ao tirocínio na China, para chefe militar, por ter sido oficial miliciano português e foi recrutar a primeira geração dos seus quadros combatentes ao Exército Português – sargentos e praças guineenses e oficiais cabo-verdianos.

Dos seus 60 primeiros quadros operacionais e ideológicos, construtores da nacionalidade e do Estado bissau-guineense, 30 foram mandados para a China, a tirocinar a luta de guerrilha, 25 para a Checoslováquia, a tirocinar para as polícias de segurança e para o controle político de partido único, e 8 para a União Soviética, a tirocinar Economia planificada. A ideologia de partido único, imposta nesses países, terá sido a sua má companhia.

O seu mais alto magistrado da Nação, o primeiro independente, ignorou a ética castrense da obediência ao poder instituído, e mandou fuzilar, alguns já julgados e absolvidos, cerca de 10.000 mil guineenses militares e militarizados, formados técnica e civicamente pelas FA portuguesas, em vez de os reconverter em FA nacionais da Guiné-Bissau.

Os quadros militares formados na China e noutros países de partido único, em vez de servirem o país, viraram as suas armas “libertadoras” contra o seu povo, usaram-nas para se servirem dele. Os quadros policiais, formados na Checoslováquia, em vez de servirem as populações e a administração interna, espiavam-nas e faziam desaparecer os que ousavam tecer qualquer crítica. E os quadros políticos formados na União Soviética não estilhaçaram a economia como delapidaram a generosidade financeira da comunidade internacional. E o tráfico de cooperantes pouco lhe valeu…

O destino foi muito cruel com Amílcar Cabral e menos com a sua ex-mulher. Morreu como como português emigrado, conselheiro Técnico contratado pelo ministério do Desenvolvimento Rural da República da Guiné, e, diplomaticamente, como Mohamed Benali, cidadão marroquino, e é cidadão bissau-guineense póstumo. A Maria Helena, divorciada desde 1966, foi sempre portuguesa, fará carreira como docente da Universidade do Minho e acabará os seus dias em Braga, em 2005.

E o PAIGC exaltou o Comandante Guerra Mendes a substituto de Salazar, na toponímia de Bissau.
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OBS: - Subtítulo da responsabilidade do editor
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Notas do editor

(*) - Vd. poste de 3 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19943: (Ex)citações (353): Uma achega referida à circunstância da morte em combate de Guerra Mendes, comandante do PAIGC (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705)

Último poste da série de 11 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19883: (In)citações (134): Os Coirões de Mampatá, CART 2519 (1969/71) (Mário Pinto, 1945-2019)

terça-feira, 25 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19917: (D)o outro lado combate (50): a morte de 'Guerra Mendes' (Jaime Silva) em Bulel Samba, Buba, em 14 de fevereiro de 1965, na Op Gira - Parte I (Jorge Araújo)


Citação: (1963-1973), "Jaime Silva (Guerra Mendes)", CasaComum.org, Disponível HTTP:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43473 (2019-4), com a devida vénia.




Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue; 


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE: A  MORTE DE 'GUERRA MENDES' EM BULEL SAMBA [S2-BUBA], A 14FEV1965, NA OPERAÇÃO "GIRA", UM ANO DEPOIS DE TER SUBSTITUÍDO RUI DJASSI (FAINCAM) NO COMANDO DA "ZONA 8" (QUINARA) POR DECISÃO DO I CONGRESSO DO PAIGC : "HERÓI DA PÁTRIA", TEM HOJE NOME DE RUA EM BISSAU  (Parte I)


1. INTRODUÇÃO

Depois de nas últimas narrativas ter percorrido "um pedaço do inferno", como foi o caso do Xime (*), local de muitas memórias para a vida daqueles que lá viveram durante as diferentes épocas ou períodos, regresso, de novo, à actividade operacional desenvolvida na região de Quínara, no ano de 1965, recuperando alguns acontecimentos que fazem parte da historiografia da Guerra, com recurso, uma vez mais, às informações obtidas "(d)o outro lado do combate", e da sua triangulação com os documentos "oficiais" das NT.

Como o título acima sugere, o presente texto, que será dividido em duas partes, terá como objecto de análise, o aprofundamento do contexto sócio-histórico que originou a morte do Cmdt da "Zona 8", Guerra Mendes [nome de guerra de Jaime Silva], ocorrida em 14 de Fevereiro de 1965, em Bulel Samba [S2-Buba], dois anos depois do início do conflito e um ano após ter substituído Rui Demba Djassi «Faincam», morto em 24 de Abril de 1964 na península de Gampará [P19532 e P19536], durante a «Operação Alvor». (**)


2. SUBSÍDIO HISTÓRICO DAS ACÇÕES DE 'GUERRA MENDES' APÓS SUBSTITUIR RUI DJASSI NO COMANDO DA ZONA 8 (QUINARA)  (***)


Nomeado na reunião de quadros do PAIGC (I Congresso) realizada em Cassacá, em Fevereiro de 1964, como novo responsável pela Zona 8 (região de Quinara) [P19433], em substituição do anterior Cmdt Rui Djassi (Faincam) (1937-1964), "Guerra Mendes" viria a tombar na área da sua intervenção, a 14 de Fevereiro de 1965, domingo, exactamente um ano após ter assumido esse cargo, no decurso da «Operação Gira», na qual participaram as seguintes unidades: CCaç 594, CCav 702, Pel Rec Fox 888, CCS/BCaç 513 e Pel Mort 979.

O modo como esta operação se desenrolou será abordado na Parte II.

Considerando o período em que decorreu o desempenho da sua missão, os subsídios históricos considerados para a elaboração desta narrativa são exclusivamente os que constam no espólio documental de Amílcar Cabral (1924-1973), existentes na Fundação Mário Soares,  disponíveis no portak Casa Comum, em particular a correspondência trocada entre si e alguns dos seus responsáveis directos.


Citação: (1963-1973), "Reunião de responsáveis do PAIGC com a população", CasaComum.org Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43984 (2019-4), com a devida vénia.


2.1. A PRIMEIRA CARTA - [JAN1965] ENVIADA DE ANTUANE: DE GUERRA MENDES PARA LUÍS CABRAL, DANDO CONTA DA ACTIVIDADE DESENVOLVIDA EM ANTUANE

Exmo. Camarada Luís Cabral

Em primeiro de tudo,  estimo que esta carta lhe vá encontrar em bom estado de saúde, ao lado da sua família.

Eu por cá vou indo bem de saúde,  enfrentando somente grande dificuldade que é para o bem do nosso povo.

Recebi as suas duas cartas a qual li e fiquei contente com a sua exposição e mormente com o meu estado em N'tuane [Antuane]. Por bem dizer posso-lhe afirmar que não me fixei em N'tuane [Antuane], ando por poda a parte da área que o Partido me incumbiu de controlar. Se estaciono em N'tuane [Antuane] é devido à análise da condição ou da decisão que os nossos inimigos tomaram a fim de fechar a linha de fronteira, e por essa razão a minha estadia em N'tuane [Antuane] é da possível necessidade a fim de dirigir camaradas.

Da minha estadia em Quínara que o Camarada Luís [Cabral] menciona, e que podia ficar descansado, porque tenho um camarada de grande confiança que é o Quemo Mané, e devido também os meios que já desenvolvi, tanto a politização da massa como bases novas que abri, tenho a certeza que tudo corre bem e há-de continuar. Mas contudo isso não passa um mês sem chegar lá, assim como a toda a parte que o Partido me ordenou de controlar.

Junto o portador agradecia enviar linhas de nylon e pilhas para fazer gerador eléctrico para instalar minas nos rios. Agradecia mandar-me oferecer jornais e livros de política.

Termino, esperando com toda a esperança o seu favor. Sou Guerra Mendes.

[Revisão / fixação de texto: JA]




2.1.1.  ORIGINAL DA PRIMEIRA CARTA






Citação: (s.d.), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_34412 (2019-4), com a devida vénia.


Fonte: Casa Comum; Fundação Mário Soares. Pasta: 04613.065.092. Assunto: Explicações sobre o facto de permanecer em N'tuane. Estadia em Quinara; politização de massas e abertura de novas bases. Solicita material para um gerador eléctrico. Remetente: Guerra Mendes. Destinatário: Luís Cabral. Data: s/d. Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1963-1964 (dos Responsáveis da Zona Sul. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.




Citação: (1963-1973), "Dois combatentes do PAIGC", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43751 (2019-4), com a devida vénia.



2.2. A SEGUNDA CARTA - [09FEV1965] ENVIADA DE CONACRI:  DE ARISTIDES PEREIRA  PARA GUERRA MENDES SOLICITANDO A ESTE A SAÍDA DE ANTUANE, CINCO DIAS ANTES DA SUA MORTE

Caro Guerra [Mendes]

Saúde e bom trabalho.

Recebemos a tua carta [Jan65], mas continuamos a estranhar saber-te em Antuane, quando há tanto tempo contamos contigo em Quínara. Palavra que não compreendemos. Temos como indispensável a tua presença e o teu trabalho em Quínara. Esperamos que arrumes tudo aí, e que sigas o mais urgentemente para a tua área, a fim de efectuares o trabalho que te está determinado, e com o que contamos absolutamente.

Tomamos devida nota das notícias, mas torna-se necessário mais pormenores nelas.

Regressam os camaradas que vieram buscar medicamentos e artigos escolares. Levam o que é possível, conforme as notas de que são portadores.

Quanto à questão de Bolama que pões, assim como outro qualquer assunto militar ou político local, deves pô-lo ao 'Nino' [Vieira], e discutir com ele o melhor caminho a seguir. Deves, pois, pôr esses problemas ao 'Nino', para ele decidir.

Continuamos recebendo cartas tuas sem assinatura, o que não nos permite identificá-las. Chamamos a tua atenção para esse facto, que já se vem repetindo e que pode trazer prejuízos à identificação das cartas que vêm do interior.

A questão do comércio está sendo devidamente estudada e a nossa Secção encarregada desse assunto ocupa-se inteiramente do caso. Assim, podes estar descansado que tudo irá pelo melhor nesse campo. O encarregado do Depósito dos Armazéns do Povo nessa zona deve dirigir-se à sua sede e expor os problemas que há, pois tu tens que te mexer e ocupar de muitos outros assuntos, embora devas ajudar sempre na medida do possível.

Esperamos é que possamos receber dentro em breve as tuas notícias, mas vindas de Quínara, conforme dissemos acima.

Saudações de todos os camaradas, com votos de saúde e o melhor trabalho possível.

Abraço amigo do camarada, Aristides Pereira.

[Revisão / fixação de texto: JA]


2.2.1. ORIGINAL DA SEGUNDA CARTA





Citação: (1965), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_35306 (2019-4), com a devida vénia.


Fonte: Casa Comum; Fundação Mário Soares. Pasta: 04618.082.030. Assunto: Instruções para sair de Antuane indispensável a sua (Guerra Mendes) presença e trabalho em Quinara. Remetente: Aristides Pereira. Destinatário: Guerra [Mendes]. Data: Terça, 9 de Fevereiro de 1965. Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência dactilografada (Amílcar Cabral, Aristides Pereira e Luís Cabral para os Responsáveis da Zona Sul e Leste). Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.





Mapa da região de Antuane, com indicação dos nomes das tabancas referidas nos documentos consultados. Sinaliza-se, ainda, o local onde o Cmdt Guerra Mendes morreu [Bulel Samba].



2.3. A TERCEIRA CARTA - [16FEV1965] ENVIADA DE SALANCAUR:  DE 'NINO' VIEIRA PARA ARISTIDES PEREIRA, DANDO CONTA DE UMA OFENSIVA DAS NT [OPERAÇÃO GIRA] E DA MORTE DE GUERRA MENDES E MAIS DOIS ELEMENTOS


Caro camarada Aristides Pereira

A continuação da vossa saúde, assim como a dos c/ [camaradas] são os m/ [meus] maiores desejos. Nós bons.

Tenho a informar-vos que no dia 13 e 14 [Fev65], as tropas portuguesas desencadearam uma grande ofensiva nas áreas de Antuane, donde eram apoiados de 2 aviões de caça e 2 de reconhecimento armado. Conseguiram avançar até Indaliel, Banta e Bulel Samba. Os n/ [nossos] camaradas conseguiram aguentar esse duro ataque de 48 horas, onde conseguiram pôr fora de combate dezenas de soldados inimigos, além de feridos. Como prova disso o helicóptero aterrou 3 vezes para transportar cadáveres e feridos.

Por infelicidade n/ [nossa] perdemos o n/ [nosso] camarada Guerra Mendes, Infaly e Isnaba Naberiaguebandé. Estes camaradas foram mortos pelas tropas que avançavam por Bulel Samba. [H]ouve também 3 dos n/ [nossos] camaradas que ficaram feridos: Imbaná Sambú, Bien Naína e Beínha Natchandi. […]

[Revisão / fixação de texto: JA]


2.3.1. ORIGINAL DA TERCEIRA CARTA




Citação: (1965), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_39148 (2019-4), com a devida vénia.


Fonte: Casa Comum; Fundação Mário Soares. Pasta: 04613.065.078. Assunto: Informa sobre a ofensiva das forças portuguesas na área de Antuane, tendo avançado até Indaliel, Banta e Bulel Samba. Lista de combatentes mortos. Destruição de uma grande quantidade de arroz e casas. Solicita opinião sobre a substituição do Guerra [Mendes] em Quinara, propõe o Saco ou o Arafam. Remetente: Marga (Nino Vieira). Destinatário: Aristides Pereira. Data: Terça, 16 de Fevereiro de 1965. Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1963-1964 (dos responsáveis da Zona Sul e Leste). Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.


[Continua…]

Nota:

Em função da extensão da presente narrativa, e como referido na introdução, darei conta na segunda parte do modo como decorreu a «Operação Gira», de que resultou a morte de 'Guerra Mendes' [Jaime Silva] e de mais alguns guerrilheiros.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

27Mai2019.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste  de 24 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19822: Jorge Araújo: Ensaio sobre as mortes por afogamento no CTIG: Os três acidentes na hidrografia guineense (IV e última Parte)


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19536: (D)o outro lado do combate (45): A morte de Rui Djassi - II (e última) Parte - A Op Alvor, península de Gampará, de 22 a 26 de abril de 1964 (Jorge Araújo)


Guiné (1964) - Operação militar. Foto de Manuel Parreiras (1941-2017), natural de Elvas, o 1.º da direita [Unidade desconhecida], pai da minha aluna Ana Parreiras, filha de mãe guineense, de Bafatá. (vou fazer um poste… com mais detalhes).



Mapa da península de Gampará. Território batido pelas NT durante a «Operação Alvor» onde morreu Rui Djassi (Faincam) em 24 de Abril de 1964. Fonte: Carta de Fulacunda (1955), escala 1/50 mil

Infografia: Jorge Araújo (2019)



 Jorge Alves Araújo, ex-fur mil op esp / Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue



A «OPERAÇÃO ALVOR», DE 22 A 26ABR64, NA BUSCA DO "QUARTEL-GENERAL" DE RUI DJASSI (FAINCAM) - A PRIMEIRA MISSÃO DAS NT NA PENÍNSULA DE GAMPARÁ,  15 MESES APÓS O INÍCIO DO CONFLITO ARMADO - 




1. INTRODUÇÃO


Como complemento à narrativa anterior – P19532 – onde caracterizamos algumas das vicissitudes da vida do guerrilheiro do PAIGC, Rui Demba Djassi (Faincam), primeiro cmdt da Zona 8 (região de Quinara), com particular relevância para o desconhecimento do seu paradeiro desde o início do ano de 1964, vimos hoje ao fórum dar conta como foram os últimos 'combates' da sua vida, e dos seus subordinados, travados em redor do seu "Quartel-General", algures na Península de Gampará.


2. A «OPERAÇÃO ALVOR», DE 22 A 26ABR1964


A execução da «Operação "Alvor"» foi determinada pelo Comandante Militar do CTIG, à data o Brigadeiro Fernando Louro de Sousa, através da Directiva de Operações n.º 1/64, ficando agendada para o período compreendido entre 22 e 26 de Abril desse ano, um mês depois de concluída a Operação "Tridente". A missão tinha como área de intervenção a península de Gampará, uma vez que, desde o início do conflito, esta região ainda não tinha sido percorrida por forças militares.

Para cumprir esta "Directiva de Operações", a primeira de 1964, a responsabilidade de comando foi atribuída ao BCaç 599 (Sector G), com sede em Tite, que abrangia, do ponto de vista operacional, os subsectores de Tite, S. João e Fulacunda. 

De referir que o BCaç 599, Unidade mobilizada pelo RI 15, de Tomar, era comandada pelo tenente-coronel Carlos Barroso Hipólito, sendo apenas composto de Comando e CCS, não dispondo, por isso, de subunidades operacionais orgânicas. Este Batalhão sucedeu, em 18Out1963, ao BCaç 237, dele transitando os elementos de recompletamento.


 2.1. AS FORÇAS MILITARES ENVOLVIDAS


Tendo em consideração as distâncias que havia que percorrer, os meios logísticos à disposição da Unidade de quadrícula [BCaç 599], bem como os efectivos operacionais que esta podia empregar em acções prolongadas, foi considerado que uma operação de "reconhecimento e controlo da população" na península de Gampará, só poderia ser levada a efeito com êxito por efectivos mais numerosos, com forte apoio aéreo e o concurso de meios navais, operacionais e de transporte. 

Para esse efeito, a operação mobilizou os seguintes efectivos:

● Forças do Sector G:

> Companhia de Cavalaria 353 (CCav 353) – 2 Gr Comb;

> Companhia de Artilharia 565 (CArt 565) – 2 Gr Comb.

● Reforços:

> Companhia de Artilharia 643 (CArt 643) – 3 Gr Comb;

> Destacamento de Fuzileiros Especiais (DFE 2). 

O DFE2 e as restantes Forças Navais tinham a seu cargo o transporte de pessoal, água potável e reabastecimentos com as LDM 302, 303, 304 e 305 e a fiscalização dos rios Geba e Corubal compreendidos na ZO, com especial atenção para as "cambanças" e flagelações do IN partindo de Ganjeque, Ponta do Inglês e Ponta Luís Dias.

A Força Aérea, por outro lado, apoiava os desembarques e reembarques e a actividade das forças de superfície durante a acção; fiscalizava o rio Pedra Agulha, bem como os rios Geba e Corubal dentro da ZO impedindo "cambanças"; fazendo ainda a ligação, PCA e a evacuação sanitária. 


2.2. AS RAZÕES QUE JUSTIFICARAM A OPERAÇÃO

O facto da península de Gampará nunca ter sido percorrida por forças militares desde que se iniciou o conflito armado [23 de Janeiro de  1963], embora se soubesse que a maioria dos habitantes das tabancas limítrofes de Fulacunda as tivessem abandonado, passando a residir em locais desconhecidos, situados nos matos existentes nessa península. 

Por reconhecimentos feitos a Uaná Porto e à região marginal do rio Geba, junto à foz do rio Pedra Agulha, sabia-se que o IN se tinha revelado com fraco poder combativo. Em função dos factos anteriores, ainda não se tinham realizado contactos entre a população e as forças militares estacionadas nessa área. Acresce, por outro lado, terem sido referenciadas dez canoas na orla marítima, bem como observadas de Porto Gole, entre as 18h00 e as 20h00, luzes da outra margem. De referir, também, que em 16 de Abril de 1964, pelas 00h30 ter sido atacada uma embarcação das Forças Navais (FN) com MP [, metralhadora pesada].


2.3. A MISSÃO


i) - Percorrer os matos e as povoações de toda a área da península de Gampará, contactando com a população a fim de avaliar do seu grau de lealdade. Sempre que estas se manifestarem pacíficas procurar acalmá-las quando for caso disso, incutindo-lhes confiança e sensação de segurança pela presença das NT.

ii) - Obter, por meio de interrogatórios a PG [prisioneiros de guerra] ou civis, os elementos de informação que conduzam à detecção de elementos lN, seus acampamentos, ligações, pontos de "cambança", chefes de zona, etc.

iii) - Explorar, imediatamente, as notícias ou informações obtidas no decorrer das operações e que se refiram à localização de órgãos de apoio do IN, à identificação destes ou dos seus chefes, de elementos activos ou de simples simpatizantes.

iv) - Procurar, sempre que possível, fazer prisioneiros por necessidade e conveniência em se obterem os elementos de informação desejados, que venham a permitir avaliar-se do grau de confiança que essas populações possam merecer.

v) - Deixar intactos os géneros, a água, o gado ou outros bens pertencentes aos habitantes encontrados, desde que os seus proprietários não tenham hostilizado as NT, incluindo mesmo os daqueles que tiverem fugido quando da sua aproximação. Mas, destruir ou recuperar, conforme os casos e as possibilidades, as habitações, o gado, os géneros, os poços de água, ou outros bens ou pertences existentes nas povoações donde tenham sido hostilizadas as NT ou tenha havido reacção à presença das mesmas.

vi) - Abater ou destruir, por qualquer meio, todo o elemento IN que reaja ou actue pelo fogo contra as NT assim como todo o indivíduo armado que não entregue acto contínuo a sua arma ou que pretenda fugir, bem como ainda todas as instalações que lhe sirvam de guarida ou apoio, todas as canoas encontradas e ainda as povoações abandonadas donde tenham sido hostilizadas as nossas forças.

vii) - Explorar o sucesso, imediatamente a seguir à neutralização de núcleos do ln quer esta tenha sido levada a cabo pelas Forças de Superfície ou pela FA, por forma a tornar possível a apreensão do armamento ou a recolha e identificação dos mortos e dos feridos, do lN.

viii) - Destruir todas as casas de mato e outras instalações de fortuna, localizadas fora das áreas das povoações, permitindo-se porém aos seus proprietários a recuperação dos seus bens uma vez que não tenham mostrado hostilidade à presença das NT.


2.4. A EXECUÇÃO


Com vista ao reconhecimento da península de Gampará, a fim de permitir o controlo e a assimilação da sua população pacífica e a destruição dos núcleos de elementos do IN aí existentes, seriam realizados desembarques simultâneos na foz do Rio Agulha e em Uaná Porto, conjuntamente com as restantes forças saídas de Fulacunda e com o apoio da FA, de modo a isolar a península de Gampará e criar as condições favoráveis ao reconhecimento e à limpeza desta área segundo três eixos de progressão paralelos.




2.5. O DESENROLAR DA OPERAÇÃO


No dia 22 de Abril de 1964, quarta-feira, pelas 03h00 da madrugada, deu-se início à «Operação Alvor» na península de Gampará com desembarques simultâneos das CCav 353, CArt 565, CArt 643 e DFE 2, utilizando quatro LDM, na foz do rio Pedra Agulha e Uaná Porto, conjugados com forças progredindo de Fulacunda e com apoio aéreo, a fim de isolar essa região. 

As forças desembarcadas ocuparam posições ao longo da linha Gansambo-Uaná Porto-Uaná Beafada. A partir dessas posições executaram uma batida conjunta e simultânea na península de Gampará.

No dia 23 de Abril, quinta-feira, elementos In armados, escondidos no tarrafo, detectados pelo PCA, foram batidos pela CArt 643, com a colaboração da FA e fugiram. O DFE 2 venceu uma ligeira resistência em Canquecuta, que destruiu com o apoio da FA. O IN opôs resistência à progressão da CArt 643. Foi isolado e aprisionado um grupo da população que escondia 8 guerrilheiros. A CArt 565, emboscada pelo IN, reagiu prontamente, dispersando-o. As NT tiveram um guia auxiliar morto e dois feridos. Foram mantidos os horários de coordenação e as forças atingiram os objectivos estabelecidos para este período.

No dia 24 de Abril, sexta-feira,  também foram atingidos os objectivos determinados para o terceiro dia de operações. Foi capturado material e documentos. As NT não tiveram baixas e foram mortos três guerrilheiros [, um deles pondendo ser o Rui Djassi... ] e feitos mais de vinte prisioneiros. 

O IN estava sitiado e a operação prosseguia. Durante a noite os estacionamentos das NT foram flagelados, sendo o IN posto em fuga. Em toda a zona revelaram-se guerrilheiros isolados, alguns dos quais foram abatidos. Foram evacuados para Bissau oito prisioneiros, mulheres e crianças. O IN, cercado no extremo da península de Gampará, exerceu violenta repressão na população que pretendia apresentar-se às NT. Estas recolheram três centenas de pessoas, no mato e no rio, das quais foram evacuadas noventa, para Bissau. 

No dia 25 de Abril, sábado, o IN flagelou a CArt 565 que recolheu a Fulacunda, sem baixas. O DFE 2, em colaboração com a CCav 353, fez batidas na orla do rio. As NT acompanharam a população, na reocupação das tabancas, antes do reembarque.

No dia 26 de Abril de 164, domingo,  recolheram a quartéis todas as forças que tomaram parte na operação.



3. MAIS DUAS NOTAS DA PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS NAVAIS NESTA OPERAÇÃO


Para concluir o contexto sobre a «Operação Alvor", e como adenda ao modo como a mesma decorreu, importa dar conta de alguns testemunhos individuais de camaradas que nela participaram, ainda que as mesmas já tenham sido publicadas neste espaço.


No primeiro caso, cito uma passagem do livro "Homem  Ferro - memórias de um combatente", da autoria de Manuel Pires da Silva [SMor Grad FZE (Ref) do DFE 2] – P11521: "Notas de Leitura", de Mário Beja Santos, onde se pode ler:


"Tudo se agrava no rio Corubal, as embarcações são constantemente alvo de emboscadas, atacam navegação na Ponta do Inglês, e mesmo no canal do Geba. Volta-se à península de Gampará, vão com o apoio de forças terrestres, conclui-se que o inimigo não estava até então implantado no terreno. E depois atacam Cafal Balanta, Cafal Nalu e Santa Clara, há fogo do inimigo que só deixa de reagir quando chegam os T6. E no mês de Junho [1964] acabou a guerra para o DFE 2". 


No segundo caso, a narrativa está ligada à "LDM 302", recurso logístico utilizado na "Operação Alvor", e que é contada em livro de A. Vassalo, em BD, Edições Culturais da Marinha, 2011, com o título "A Epopeia da LDM 302".

No P15003, de novo em "Notas de Leitura", de Mário Beja Santos, retiramos a seguinte passagem: 


"Em 22 de Abril [1964, a LDM 302] conheceu o baptismo de fogo. Frente a Jabadá quando, em conjunto com mais três LDM [303, 304 e 305] procedia a um desembarque de fuzileiros [DFE 2], o inimigo tentou opor-se com fogo de armas ligeiras, mas não conseguiu evitar o desembarque".


Também no P10084 – "A Vida e morte da gloriosa LDM 302", o marinheiro fogueiro Ludgero Henriques de Oliveira [, lourinhanense, vizinho, amigo de infância,  e colega de escola primária do nosso editor e camarada Luís Graça, nascido em 1947 e falecido em 2011, ]  que pertenceu à guarnição desta Lancha de Desembarque Média, atribuída ao DFE 2, em 18 de Março de 1964, para fiscalização da zona do Rio Geba, conta-nos alguns dos aspectos mais relevantes da sua existência. 




A LDM 302 no rio Cacheu onde viria a ser violentamente atacada e afundada por duas vezes com baixas pessoais dramáticas, com mortos, feridos graves e feridos ligeiros. Fonte: Cortesia do blogue Reserva Naval, do Manuel Lema Santos [1.º Tenente da Reserva Naval, Imediato no NRP Orion, Guiné, 1966/68]


4. A OCUPAÇÃO [?] DE GAMPARÁ PELAS NT

Por último, depois de consultada a bibliografia a que tivemos acesso, nada encontrámos para satisfazer a curiosidade relacionada com a instalação das NT em Gampará (e em Ganjauará)  Apenas temos, como referência, o Monumento ali existente, onde constam as diferentes Unidades de quadrícula que por lá passaram, conforme imagem abaixo (vd. P12247).



Guiné > Zona Leste > COP 7 (Bafatá) > Margem esquerda do Rio Corubal > Península de Gampará > Gampará > 1972 > Monumento da CART 3417 (Magalas de Gampará), assinalando a passagem por Gampará (e Ganjauará) da 38ª CCmds e de outras tropas especiais.

Vê-se que por ali também passaram, ao serviço do COP 7 (Bafatá), vários DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais (4, 8, 13, 21, 22), a CCP 121/BCP 12, a 2ª CCA - Companhia de Comandos Africanos, o 29º Pel Art e o Pel Mil 331.

A última Unidade que aí esteve instalada, até à independência, foi a CCAÇ 4142 (1972/1974) "Herdeiros de Gampará".

Foto (e legenda): © Amilcar Mendes (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Fontes consultadas:

«Operação Alvor» (texto adaptado): Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª edição, Lisboa (2014); pp 252/257.

Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

26Fev2019.

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Nota do editor:

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19532: (D)o outro lado do combate (44): A morte de Rui Djassi - Parte I (Jorge Araújo)


 Imagem nº 2 > Ilha do Como (Jan1964) - «Operação Tridente». Desembarque das forças do BCAV 490.


Imagem nº 3 > Ilha do Como (1964) – Embarque de vário material de regresso a Bissau.

Fotos do camarada Armor Pires Mota, ex-Alf Mil Cav da CCAV 498 (1963/1965) - P12386, com a devida vénia.


Imagem nº 1 > Infogravura da «Operação Tridente», com a indicação do desenrolar das acções iniciadas em 15 de Janeiro de 1964, 4.ª feira. In. Guerra Colonial: Angola - Guiné - Moçambique, edição do Diário de Notícias, p.73, com a devida vénia. 


Jorge Alves Araújo, ex-fur mil op esp / Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue



GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > OS RETIROS RESERVADOS DE RUI DJASSI (FAINCAM), NAS MATAS DE GAMPARÁ, DESCOBERTOS PELA CART 643, NA «OPERAÇÃO ALVOR», EM 24ABR64, DATA DA SUA MORTE... "HERÓI DA PÁTRIA", TEM HOJE NOME DE RUA EM BISSAU 



1. INTRODUÇÃO

Mantendo o interesse em encontrar respostas fiáveis às dúvidas suscitadas nas narrativas anteriores, partilhadas no fórum nos P19433, P19437 e P19471, onde se colocava a questão relacionada com o desconhecimento do paradeiro do cmdt da Zona 8 (região de Quinara), Rui Djassi (Faincam), de quem Amílcar Cabral recebera as últimas notícias em finais de 1963, identificamos novas pistas que indiciam termos chegado ao fim desta incógnita e, por conseguinte, deste tema.

Para situar o contexto historiográfico e cronológico das ocorrências, recorda-se que os últimos contactos de Rui Djassi (Faincam) tinham sido duas cartas enviadas ao secretário-geral, datadas de 26 e 30 de Dezembro de 1963. Este, como resposta, manifesta-lhe um duplo desagrado, para o qual utilizei a metáfora "puxão de orelhas", o primeiro por insuficiente comunicação, o segundo por um comportamento pouco cuidado, rigoroso e muito permissivo na "zona 8", enquanto principal responsável operacional na região de Quinara, que facilitou um bloqueio da fronteira Sul por parte das NT, inviabilizando o cumprimento da estratégia logística no «Corredor de Guileje» [P19433].

Certamente, consequência desse laxismo, o seu nome/pessoa deixou de contar para a nova estrutura político-militar do PAIGC decidida no I Congresso, realizado em Cassacá, entre 13 e 17Fev1964, onde foram nomeados os líderes do 1.º Corpo de Exército Popular. Já nessa ocasião Amílcar Cabral (1924-1973) dava conta do agravamento da situação naquela região (Zona 8 - Quinara) por via do desaparecimento do seu responsável – Rui Demba Djassi (1937-1964) – cujo paradeiro ninguém conhecia embora, para ele, existisse a convicção de que estaria vivo [P19433].


2. OPERAÇÃO "TRIDENTE" – DE 15JAN64 A 24MAR64

Tendo por objectivo recuperar o controlo das ilhas de Caiar, Como e Catunco, antes ocupadas pelos guerrilheiros do PAIGC sob a liderança de 'Nino' Vieira (1939-2009) [Marga, nome de guerra], no sentido a garantir a segurança dos abastecimentos marítimos na costa sul da Guiné, foi realizada a «Operação Tridente», a qual teve uma duração de dois meses e meio, entre 15 de Janeiro e 24 de Março de 1964 [Vd. imagem nº 1, acima].

De referir que durante a realização do 1.º Congresso do PAIGC já a componente terrestre dessa operação contabilizava um mês de intensa actividade operacional, sob o comando do Tenente-Coronel Fernando José Marques Cavaleiro (1917-2012), que, para além do envolvimento do seu Batalhão de Cavalaria 490 [BCAV 490], de Estremoz, contava, também, com a participação conjunta de outras unidades militares dos três ramos das Forças Armadas, num contingente superior a um milhar de elementos. [Vd. imagenns nºs 2 e 3, acima].

Entretanto, após concluída a reunião de quadros do PAIGC, em Cassacá [, na pensínsula de Quitafine], onde 'Nino' Vieira viu reforçada a sua liderança, enquanto principal responsável operacional da guerrilha naquela região sul, este seguiu, naturalmente, para essa frente de luta tendente a assumir o controlo da situação e, concomitantemente, dos diferentes combates.

Em função das dificuldades observadas no terreno, tomou a iniciativa de escrever uma carta aos seus camaradas «Faincam» e «Kant», nomes de guerra de 'Rui Djassi' e 'Domingos Ramos', respectivamente, implorando ajuda em recursos humanos (guerrilheiros) para fazer face à situação militar difícil que estava a viver [, na Ilha do Como].

Este pedido de apoio, expresso na referida carta, não teria nada de anormal, digo eu, para a construção desta narrativa, se não tivesse encontrado duas versões divergentes quanto à génese dos factos narrados. Ainda assim, as divergências encontradas não nos impediram de perseguir com o aprofundamento da investigação, cujos resultados aproveito para partilhar convosco.

2.1. CARTA DE 'NINO' VEIRA ENVIADA A RUI DJASSI [FAINCAM] E DOMINGOS RAMOS [KANT] NO INÍCIO DE MARÇO DE 1964

De acordo com o acima exposto, é de relevar que as duas versões, ainda que o conteúdo da carta [texto] seja igual, entre elas existem diferenças quanto ao contexto como foram obtidas.

No primeiro caso, o acesso à carta está plasmada no livro «Os Anos da Guerra Colonial (1961-1974)», no sítio: [http://batalhaocacadores2885.blogspot.com/2009/08/as-grandes-operacoes.html].

Diz a carta: […]

"Ao fim de 48 dias de combates na região do Como (ou seja, em 3 de Março de 1964, 3.ª feira), as
tropas portuguesas interceptaram um estafeta com uma carta de Nino Vieira, escrita à máquina, para outros chefes da guerrilha. Os destinatários eram os comandantes Faincam e Kant".

O exemplar da carta dactilografada, que se apresenta na figura ao lado, pela sua qualidade, não nos permite decifrar, com nitidez, o que nela consta. Apenas tivemos acesso ao seu conteúdo no texto que a enquadra, publicado na obra acima citada. [Imagem nº 4].

No segundo caso, a referência à carta em apreço consta do livro do Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974) – Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª edição, Lisboa (2014). 

Dele se retira, para o presente propósito e com a devida vénia, a seguinte passagem: 

"Sobre a operação "Tridente" junta-se uma carta atribuída a João Bernardo Vieira "Nino", capturada em Maio [Abril] de 1964, na operação "Alvor". […] Na realidade, a carta de João Bernardo Vieira "Nino", esclarece a situação aflitiva dos guerrilheiros nas referidas ilhas perante a acção das NT. O original da carta figurava entre os documentos capturados por forças da CArt 643 na "Operação Alvor", realizada na península de Gampará, de 22 a 26Abr64, quando atingiram o "Quartel-General" do chefe da região Sul, Rui Demba Djassi (op.cit., pp 218/219).

Eis a transcrição do seu conteúdo:

"Camaradas Faincam e Kant

Para que esta vos encontre continuando uma boa saúde, junto dos vossos camaradas. Eu e os meus vamos indo razoavelmente bons.

Camaradas, achei obrigado a dirigir-vos estas linhas, porque sei que já não tenho nenhuma safa a não ser que dirigir-me a vós. Como sabem estou muito afrontado, porque as tropas ainda continuam a praticar bárbaros massacres no I. Como. Hoje [3 de Março de 1964] já se faz 48 dias que os n/ [nossos] camaradas estão enfrentando corajosamente as forças inimigas. Queria que os camaradas retirassem juntamente com a população conforme era a solução tomada pelo n/ [nosso] Secretário Geral. Mas o que certo é impossível, porque não temos caminho de fazê-los sair. Por isso agradecia-vos que me mandassem reforço vindo de todas as partes. Mesmo se por acaso será possível podem enviar no mínimo 150 a 200 camaradas, porque senão os portugueses vão-me dar cabo da população.

Camaradas, tenham paciência porque não tenho uma outra safa a não ser o vosso auxílio.

Tenho encontrado numa situação muito grave. As tropas estão aumentando cada vez mais as suas forças, tanto como terrestres, aviação e também por meios marítimos.
Camaradas, não tenho mais nada a dizer-vos. Somente posso dizer-vos que dum dia para outro vamos ficar sem a população e sem n/ [nossos] guerrilheiros aí. Já estamos a contar com a baixa de 23 camaradas n/ [nossos] durante todos estes dias dos ataques. Portanto termino desejando-vos maiores sucessos, junto dos vossos camaradas e do povo em geral.

Do vosso camarada Marga – Nino"

2.2. Segue-se a reprodução da carta manuscrita por 'Nino' Vieira [Imagem nº 5].



Imagem nº 5


Imagem nº 6 > Bilhete-Postal (s/d) da Rua Dr. Oliveira Salazar, em Bissau [hoje, Rua Rui Djassi], da Colecção "Guiné Portuguesa, 135". (edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte, Sarl.) - P6625, com a devida vénia.



Imagem nº 5 > Localização da Rua Rui Djassi, em Bissau. 


3. RUI DEMBA DJASSI [FAINCAM] – HERÓI DA PÁTRIA

Depois da independência o corpo de Rui Djassi ('Faincam') foi transladado [teria sido o seu corpo?] para Bissau, encontrando-se sepultado no Memorial dos Heróis da Pátria da Guiné-Bissau, na Fortaleza de São José de Amura, no centro da cidade.

Hoje, o seu nome faz parte da toponímia de "Bissau-Antigo", substituindo a designação anterior que era a do Dr. Oliveira Salazar (1889-1970).

Continua…
Nota:

Em função da extensão da presente narrativa, considerámos ser de interesse colectivo dar conta, em novo poste, ao modo como se desenrolou a «Operação Alvor», de que resultou a morte de Rui Djassi (Faincam), na medida em que sobre ela nada consta no puzzle historiográfico da «Tabanca».

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

18Fev2019.
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Nota do editor: