1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) com data de 1 de Julho de 2019, com uma achega à circunstância da morte de Guerra Mendes:
Citação: (1963-1973), "Jaime Silva (Guerra Mendes)", CasaComum.org, Disponível HTTP:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43473 (2019-4), com a devida vénia.
Uma achega referida à circunstância da morte em combate de Guerra Mendes, comandante do PAIGC
Os ventos semeados pela História transformaram a Guiné em filial do inferno, os combatentes (dos dois campos) em seus diabos, mas as suas tempestades sobraram para o Povo bissau-guineense…
A carta de Nino Vieira à sua hierarquia contém a evidência que levou o Jorge Araújo, no seu labor, a comunicar que o Comandante Guerra Mendes morreu em 14 de Fevereiro de 1965, na região de Buba/Antuane, no decurso da “Operação Gira”, manobrada pela CCav 702, o Pel Rec Fox 888, o Pel Mort 979 e a CCS do BCaç 513.
Naquele tempo e durante um ano, o BCav 705, aquartelado no Forte da Amura, esteve de reserva às ordens do Comando-Chefe, que investiu a valente malta da sua CCav 702 nessa operação, enquanto investia a sua CCav 703 a nomadizar em Cufar e, durante 65 dias, dormimos no chão, alimentámo-nos de rações de combate e andámos aos tiros com o Saturnino Costa, o Nino Vieira e a sua malta.
Se a memória não me engana (já lá vão mais de 50 anos!), em 10 e 11 de Abril desse ano, nós, a CCav 703 andámos de intervenção naquela região, na “Operação Faena”, em interacção com os Comandos "Os Fantasmas", o Destacamento de Fuzileiros 7, a CCaç 594, o Pel Rec Fox 888 e o Grupo de Milícia do João Bacar, com o apoio duma parelha de aviões de combate T6.
Nesta operação passámos 48 horas, “non stop” ou H24, como diz a malta da Força Aérea, num inferno de tiros e rebentamentos com os endiabrados Nino Vieira, Quebo Mané e a sua malta.
O Pelotão de Reconhecimento Fox 888 operava com a auto-metralhadora Fox “Simone” (de Oliveira) e com o granadeiro Whait e, em conversa com a sua malta, tenho a ideia que tinham abatido o Guerra Mendes (filho) e, duas horas depois, o Guerra Mendes (pai), que tentou vingar a morte do filho com uma granada em cada mão. Ou foi nessa operação ou na anterior.
Bobo Quetá diz que ele(s) eram de Bissau e como ele e o Nino Vieira não cultivavam o rigor pela verdade dos factos, perfilho a versão daquela malta, fã da “Simone”…
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Notas do editor
Vd. poste de 25 de Junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19917: (D)o outro lado combate (50): a morte de 'Guerra Mendes' (Jaime Silva) em Bulel Samba, Buba, em 14 de fevereiro de 1965, na Op Gira - Parte I (Jorge Araújo)
Último poste da série de2 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19736: (Ex)citações (352): In illo tempore, o Alferes José Cravidão, no CISMI de Tavira (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 3 de julho de 2019
Guiné 61/74 - P19943: (Ex)citações (353): Uma achega referida à circunstância da morte em combate de Guerra Mendes, comandante do PAIGC (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705)
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4 comentários:
Caro Manuel Luís Lomba,
Obrigado pelas achegas sobre a morte do Cmdt Guerra Mendes.
Com a publicação da II Parte (a última) deste tema, que deve estar para breve, creio que poderemos validar a data de 14 de Fevereiro de 1965 como sendo a da morte de Guerra Mendes, ocorrida durante a «Operação Gira». Como suporte factual, apresento mais alguns documentos a que tive acesso.
Quanto à «Operação Faena» transcrevo o que consta na literatura oficial (livro da CECA; p 314):
"Em 11 e 12Abr65, teve lugar a «Operação Faena» - envolvendo a participação das seguintes forças: GCmds "Os Fantasmas", CCav 703, CCaç 594 e PRecFox 888.
Foi destruído um acampamento a sudeste de Antuane, com 60 casas, com indícios de ter sido abandonado recentemente; outro em Ponta Nova, com 26 casas, 2 tabancas não identificadas a oeste daquela, 3 núcleos de casas a noroeste de Ponta Nova, num total de 48 casas; um acampamento na margem esquerda do rio Cavela, a sudeste de Antuane, outro a noroeste de Quenel Lei e a tabanca de Imbunga, que dava indícios de ter sido abandonada precipitadamente; um acampamento junto à bolanha, a norte de Quenel Lei, dois núcleos de casas junto a Imbunga e a tabanca de Antuane. No conjunto foi capturado grande número de munições, material e destruída grande quantidade de arroz, coconote e gado. As NT verificaram que a região da Batambali Beafada se encontrava a arder e que a tabanca de Gambine se encontrava arrasada".
Com um forte abraço,
Jorge Araújo.
Obrigado, grande veterano e maior minhoto, Manuel Luís... Já temos a 2ª parte do trabalho do incansável Jorge Araújo, que, pro razões profissionais, se divide todas as semanas enter Almada e Portimão...
Nesta 2ª parte, o Jorge reproduz a resposta, de 28/2/1965, do Aristides Pereira ao 'Nino' Vieira, e que foi nestes termos:
(...)" Recebemos a tua carta de 16 do corrente [Fev1965], tendo que lamentar a perda dos camaradas, nomeadamente do responsável Guerra Mendes [Jaime Silva]. Infelizmente a nossa luta tem de ser assim, mas lamentamos ainda mais quando temos perdas desse género devido a erros nossos. Por exemplo, há quanto tempo vimos dizendo ao camarada Guerra para deixar Antuane e seguir para o seu posto – Quínara!... Sugerimos mesmo suprimir a base de Antuane, mas tudo debalde, até chegar a esse puro azar, visto ter sido resultado de bombardeamento. Enfim, importa é que tiremos sempre lições, amargas sim, de casos como este e que suportemos as responsabilidades que sempre aumentam quando faltam-nos um elemento como este infeliz camarada responsável. " (...)
Tudo indica que este jovem comandante do PAIGC, Jaime Silva, puto de Bissau, era um cobói, tal como o Rui Djassi... A cúpula "cabo-verdiana" do PAIGC teve que "jogar" com a prata de casa... E tudo o que vinha à rede era peixe, Amílcar Cabral não se podia dar ao luxo de fazer "seleção de pessoal" e realizar todos os anos um "congresso de Cassacá"... Tal como nós, já nessa época, em relação aos nossos graduados, milicianos e do QP... Erros de "casting", quantos não os houve, do nosso lado ?...
Mantenhas, e viva o galo de Barcelos!
Olá, Jorge:
Vou complementar a minha achega com outro texto-post.
Confirmas a nossa grande labuta nessa Operação Faena a demolir as "urbanizações" e a destruir a "intendência" do IN, dois dias e duas noites, as intensas trocas de tiros e de bazucadas, e que o Guerra Mendes não cumpriu a ordem de transferência do Aristides Pereira.
A malta do PAIGC também pensava e agia conforme muitos de nós: - Ai és mandão à distância? Então anda para cá tu!
O Amílcar,o Luís e Aristides, a "troika" do PAIGC, nunca andaram aos tiros...
Nesse tempo, o General Arnaldo Schulz era o Comandante-chefe e o Brigadeiro Sá Carneiro o Comandante militar.
Do BCav 705 estão "vivinhos da silva" e recomendam-se, o 2.º comandante, então Major Ricardo Durão, e os três comandantes das Companhias operacionais, os então capitães: Fernando Ataíde (702), Fernando Lacerda (703) e Barão da Cunha (704).
Um abraço e boas férias (no Algarve?)
Manuel Luís Lomba
Olá, Luís:
Atingida a maturação na Guerra da Guiné, evoluímos de operacionais para capoeiristas - primeiro pilhar as capoeiras e depois pilhar o In e as suas bases.
Por isso, a minha prioridade vai para o teu mote e não para um comentário ao teu comentário. Refiro-me ao galo de Barcelos!s
É assim. Ao 6.º e último da sua criatividade, o Criador foi ao barro, moldou com ele o homem (a mulher é outra loiça!), vivificou-o com um sopro, e foi descansar - os sindicalistas entendem que entrou de férias e os poetas entendem que entrou em descanso eterno.
Os barristas barcelenses imitaram o Criador,transformaram o barro em galos, a Rosa Ramalho é o Picasso desses barristas, o galo de Barcelos ganhou foros de símbolo nacional, e o seu município povoou os arruamentos e largos do burgo com galos desproporcionados - chamados de figurado - e até a Joana de Vasconcelos implantou o seu, contra o pagamento duma pipa de massa, ainda mais desproporcionado que os outros. Os barcelenses consideram dinheiro mal gasto, não gostam nem o promovem a galo - alcunham-no de "pito da Joana" eufemismo da ingénita malícia minhota...
Mas, Luís, se te quiseres bater com um galo de Barcelos, aconselho-te o cantado pelo Vinicius de Morais:
Gosto muito desta vida/Ensopada ou Cozida,/Até assada é divertida/Mesmo sendo à cabidela/Pois será na panela/Meu fim.
Um abraço e boas férias (em Candoz?)
Manuel Luís Lomba
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