sábado, 16 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25279: Os 50 anos do 25 de Abril (2): O meu primo Luís Sacadura, furriel miliciano, natural de Alcobaça, hoje a viver nos EUA, estava lá, no RI 5, Caldas da Rainha, no 16 de marco de 1974, e mandou-me fotos dos acontecimentos (Juvenal Amado)


Foto nº 1 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Posto com Reforço.


Foto nº 2 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Capitão Virgílio Varela,  um dos comandantes da revolta


Foto nº 3 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Preparados para defender o quartel


Foto nº 4 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Oficiais revoltosos


Foto nº 5 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Junto à porta de armas: tempo de incerteza (i)


Foto nº 6 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Junto à porta de armas: tempo de incerteza (ii)


Foto nº 7 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > 
Junto à porta de armas: tempo de incerteza (iii)


Foto nº 8 >  Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > O quartel já cercado pelas forças governamentais


Foto nº 9 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Jipe com parlamentar governamental, o brigadeiro Pedro Serrano


Foto nº 10 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Pelo aspecto do brigadeiro,  já se estava no capitulo das ameaças. (A imagem original tem um defeito de revelação ou de exposição, que procurámos corrigir.)


Foto nº 11 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Serviço audiovisuais


Foto nº 12 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Furriel mil Luís Sacadura, meu primo  que me enviou as fotos dos EUA.

Fotos (e legendas): © Luís Sacadura / Juvenal Amado (2011). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Reproduzimos aqui a mensagem de Juvenal Amado (ex-1.º cabo cond auto-rodas, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 28 de maio de 2011, publicada no poste P8359, de 1 de junho de 2011 (*):
 
O 16 DE MARÇO DE 1974 EM FOTOS

O meu Batalhão estava no Cumeré já a aguardar embarque quando se deu o levantamento das Caldas da Rainha.

Foi com natural apreensão que essas notícias chegaram até nós, pois, já com 27 meses de comissão, os nossos receios viram eventuais atrasos no nosso embarque resultante da situação que se vivia na Metrópole.

Ainda foi alvitrado no gozo, por alguém, que quando desembarcássemos nos seria distribuída novamente as G3 e ainda acabávamos na Serra da Estrela.

Quanto a mim juntava a essas preocupações o facto de o meu primo direito Luís Sacadura, que era furriel miliciano, e o Caetano, que era alferes miliciano, os dois de Alcobaça, estarem nessa altura a cumprir serviço militar no referido quartel e que decerto se teriam envolvido nos acontecimentos, de que resultaram à volta de 200 prisioneiros.

O meu primo já estava em liberdade quando desembarquei em 4 de Abril de 1974, mas o Caetano só o vi depois do 25 de Abril quando foi solto.

Hoje quem lê sobre os acontecimentos os nomes de militares ligados à Guiné, são prova de que o facto terem sido lá combatentes, assumiu um peso muito grande tanto neste levantamento como no 25 de Abril, que levaria por diante o derrube do regime.

Por último, as fotos foram-me enviadas dos EUA pelo o meu primo com a devida autorização para as publicar (...)

2. Comentário do editor LG (*):

(i) Recebemos do Juvenal Amado a seguinte mensagem, com data de 27 de maio de 2011:

"Carlos: Recebi fotos do 16 de Março 1974 a quando do levantamento das Caldas da Rainha. As mesmas foram-me enviadas por um primo meu a morar nos USA que participou na referida tentativa.

"Não sendo assunto directamente associado com a Guiné, venho então saber se ao blogue interessa o assunto. Fico a aguardar a tua opinião e se ela for um sim escreverei alguma coisa para acompanhar as fotos." (...)


(ii) A nossa resposta dos editores só podia ser sim, sem quaisquer reservas... Independentemente da "leitura" dos acontecimentos, e da contextualização do 16 de Março de 1974, seria no mínimo uma "pena" que estas fotos, tiradas pelo Luís Sacadura, de grande interesse documental, e até de boa qualidade estética (traduzindo o momento de grande tensão dramática que foi esse dia), fossem um dia parar a um "caixote do lixo" americano...

Obrigado, Luís ("God Save You!"), obrigado, Juvenal... Tudo o que diz respeito à nossa Pátria e à nossa História, nos interessa, embora com particular enfoque na guerra da Guiné (1961/74)... Mas onde começa e acaba a "guerra da Guiné"? Para nós, que ainda estamos vivos, e cultivamos a arte e o prazer da memória, ela ainda não acabou de todo... 
 
(iii) Cinquenta anos depois do 16 de março de 1974, e do 25 de Abril, todas estas fotos são preciosas (**). O 16 de Março não teve um grande fotógrafo à altura como o Alfredo Cunha (que fez na madrugado do 25 de Abril fez a reportagem da sua vida)... 

São fotos, amadoras, que merecem ser republicadas. Aliás, temos escassas referências no blogue ao "16 de Março" e a imprensa da época, devido à censura, não pôde dar informação detalhada sobre o ocorrido...

Três dias depois os leitores do "Diário de Lisboa", como eu (na época), ficaram a saber, por uma pequena notícia da SEIT (antigo SNI) que tinham  sido presos 33 oficiais (e não 200, como dizia alguma imprensa estrangeira) "implicados na insubordinação verificada no Regimento de Infantaria nº 5"... (Repare-se que nem a RTP Arquivos tem imagens do cerco ao RI 5)...

3. O historiador e biógrafo de Spínola, Luís Nuno Rodrigues, escreveu: 

"No rescaldo do episódio, cerca de duas centenas de militares são presas, entre ele os membros do MFA mais próximos do general António de Spínoala, como Almeida Bruno, Manuel Monge, Casanova Ferreira, Armando Ramos e Virgílio Varela" (...). 

E mais adianta: 

"O '16 de Março'  tinha sido, por conseguinte, uma tentativa algo atabalhoada da 'ala spinolista' do MFA de fazer despoletar um movimento para o derrube do regime e para a entrega do poder ao general. 

"A acção fora em grande parte motivada pela tomada de posição de algins oficiais do CIOE de Lamego (que acabariam por não sair do quartel), pelas atitudes de dois antigos oficiais de Spínola na Guiné (Leuschner Fernandes e Carlos Azeredo) e pelo impeto dos oficiais oriundos de milicianos do RI5  das Caldas da Rainha". (Fonte: Excertos de "Spínola: biografia",  Lisboa: A Esfera dos Livros, 2010, pág. 236).




Diário  de Lisboa, edição de terça feira, 19 de março de 1974, pág, 1
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P25278: Os nossos seres, saberes e lazeres (619): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (146): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (6) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Novembro de 2023:

Queridos amigos,
Folheio uma obra de Túlio Espanca sobre a cidade de Évora e fica-me o ressaibo de indisfarçada amargura de amanhã partir de regresso a casa sem visitar o antigo quartel dos Dragões de Évora, o Palácio de D. Manuel (ou o que dele resta), passear-me no Aqueduto da Água da Prata, ver o mirante da Casa Cordovil e algumas igrejas que são tesouros, como a Igreja de S. Francisco. Fica para a próxima. Deu-me enorme prazer sair do Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida e ver outros empreendimentos da Fundação como a coleção de carruagens e o Páteo de S. Miguel e o Paço dos Condes de Basto, visitas que a todos se recomenda quando vierem à princesa do Alentejo, estou pronto a regressar, e sem demora.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (146):
Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (6)

Mário Beja Santos

Os fotógrafos de smartphone, com os quais alinho, têm o dever de ir eliminando imagens da câmara para que não chegue o pesadelo da lentidão da máquina. Estava a proceder a essa filtragem quando fiquei um tanto embasbacado quando descobri que não tinha incluído este magnífico presépio, imagem captada no Museu Nacional de Évora, no episódio apropriado, correspondente à dita visita. Por o achar muito belo, entendi que o leitor perdoaria o dislate e podia ver com agrado um vistoso presépio de que nos podemos orgulhar ter uma vastíssima coleção de obras únicas que não se confinam aos trabalhos portentosos de Machado Castro, dispomos de peças de rara sensibilidade por museus e templos religiosos e até casas particulares. Aqui fica o registo.
Presépio esplendoroso, de uma espantosa riqueza figurativa na sua organização

Visitado que foi o Centro de Arte e Cultura, havia que visitar um outro tesouro da Fundação Eugénio de Almeida, a coleção de carruagens, assente no antigo celeiro do Cabido da Sé de Évora. O edifício foi adquirido em 1959 por Vasco Eugénio de Almeida com o objetivo de integrar o conjunto edificado do pátio de S. Miguel. Abriu ao público em 1998 e foi alvo de requalificação entre 2008 e 2011, temos aqui uma coleção de carruagens que reúne os atrelados e utilitários de viagem que estiveram ao serviço da Casa Eugénio de Almeida entre a segunda metade do século XIX e os primeiros anos do século XX. A exposição não deixa de mencionar que com os primeiros anos do século XX as carruagens entraram progressivamente em desuso. A família Eugénio de Almeida começou a ter carros a partir de 1907, houve que adaptar as cocheiras do Parque de Santa Gertrudes. Décadas depois, quando as carruagens não passavam de relíquias, vieram expeditas por caminho de ferro até Évora. Mas veio o racionamento da Segunda Guerra Mundial, as velhas carruagens não tardaram a ser resgatadas e postas ao serviço, até que terminou a guerra. São estas as carruagens de família e outras peças adquiridas em leilões, caso da cadeirinha que podemos ver com imensa satisfação.
Imagens recolhidas na coleção de carruagens
Já muito se passeou e o palato pede uma açorda com muito coentro e uns cubos bem olorosos de carne de porco. É nesse ínterim que se percorrem as arcadas da Praça do Giraldo e dá-se conta que numa intervenção foi encontrado um fresco e ali ficou mantido em estado de boa conservação para nos recordarmos de outras eras em que seguramente estas arcadas, já de si garbosas, possuíam frescos.

É a última deambulação do dia, a visita ao Palácio dos Condes de Basto ou Paço de São Miguel, a sorte favorece os audazes, esta tarde o Paço é visitável, coisa que raramente acontece. Diz o guia de Évora que a origem deste palácio remonta, pelo menos, ao período muçulmano. Conheceu-se sucessivas modificações, não falta no seu interior o estilo manuelino e mudéjar. Assenta sobre troços da muralha medieval (e romana) e tem uma aparência exterior fortificada. A elegâncias das reformas manuelinas traduz-se nas janelas geminadas e nos arcos ultrapassados de um dos corpos principais, o conjunto é discreto e funde-se com a malha urbana da cidade. Só penetrando no páteo é que se começa a vislumbrar a extensão do palácio. O corpo adjacente situado a poente é mais moderno, teve obras entre 1570 e 1573. É aqui que encontramos três salas ornamentadas por programas fresquistas. Deve-se a Vasco Eugénio de Almeida, no século XX, a profunda intervenção de conservação e restauro de todo o complexo de edifícios do Páteo de São Miguel. O Paço está classificado desde 1922 como Monumento Nacional.

A Sala Oval é coberta por uma abóbada artesoada preenchida por uma copa de árvores cujos ramos e vegetação se encontram entrançados; entre estes ramos brincam crianças colhendo frutos, num ambiente de fortuna e prazer, rodeados das oitos ninfas segundo as Metamorfoses de Ovídio. A Sala da Tomada de La Goleta é coberta por 22 painéis com frescos cuja temática é a abundância.
Sala de bilhar
Um encantador sinal da arte mudéjar.

Aviso o leitor que vamos prolongar esta visita. Enquanto por aqui se deambulava, uma amável cicerone indicou uma sala onde se podia ver como era o Páteo de São Miguel antes das obras, fica-se de boca aberta com o estado de degradação, de completo abandono em que se encontravam grande parte das instalações adjacentes ao Paço. Houve a preocupação de ler Túlio Espanca antes de vir a Évora. Ele refere a importância da cidade na História de Portugal, refere mesmo a arquitetura civil manuelina e não esquece o Paço dos Condes de Basto. Este importante divulgador cultural refere a sua história e fala do edifício do seu interior desta maneira:
“Edifício de grande caráter e acentuada diversidade arquitetónica, assenta na torre e muralha mediévicas, em cujo flanco oriental rompe a hoje obstruída Porta da Traição e no maior bloco se ergue o imponente pavilhão de telhados de quatro águas, rasgado por janelas minadas, de arcos de ferradura, de ladrilho e delicada capitelação de pedra regional. No interior, disposto em majestosas salas, subsistem curiosas pinturas murais do estilo renascentista e outras maneiristas, de temática mitológica ou histórica.”

Vamos a seguir concluir a visita a tão impressionante conjunto de edifícios.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 10 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25257: Os nossos seres, saberes e lazeres (618): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (145): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (5) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25277: Convívios (984): 55.º Almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 14 de março de 2024 - Parte I


Lisboa > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 14 de março de 2024 > 55.º convívio da Magnífica Tabanca da Linha > O João Crisóstomo (Nova Iorque) e filha Cristina (que presentemente vive e trabalha em Lisboa)


Lisboa > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 14 de março de 2024 > 55.º convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Lado direito da mesa em U: logo em primeiro plano, três "magníficos" e "históricos" da Tabanca da Linha: o António Fernandes Marques (Cascais)  o Luís Moreira e a Irene (Mem-Martins)


Lisboa > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 14 de março de 2024 > 55.º convívio da Magnífica Tabanca da Linha > O lado esquerdo da mesa em U:  logo em primeiro plano, o Carlos Silvério (Lourinhã).


Luís Cardoso Moreira e Irene (Mem-Martins)


Virgínio Briote e Irene (Lisboa)


Luís Graça e Alice (Lourinhã)


O João Crisóstomo (Nova Iorque), o José Colaço e o António Pina, ambos de  São João da Talha. 


António Graça de Abreu (São Pedro do Estoril), outro "histórico" e "magnífico" da Tabanca da Linha


Hélder Valério Sousa (Setúbal)


João Pereira da Costa (Lisboa): foi recentemente operado às cataratas...


Fernando Serrano (Linda-A-Velha)


Victor Carvalho (Linda-A-Velha)


Constantino Ferreira d'Alva (Linda-A-Velha)


António F. Marques (Cascais)


António Casquilho Alves (Lisboa)


Daniel Gonçalves (Carcavelos)


João Crisóstomo (Nova Iorque)


Fotos: © Manuel Resende (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Quinta feira, 14 de março de 2024, às 21;44. o régulo (e administrador da página do Facebook) da Magnífica Tabanca da Linha, Manuel Resende, já estava a postar as fotos que tinha tirado à tarde, e comentado,  com bom humor,  que os "magníficos" desta vez foram 36 (três dúzias), alguns outros não puderam vir por esta ou aquela razão... Voltaremos a encontrarmo-nos em 23 de maio, no 56.º almoço-convívio:

(...) Caros Magníficos, como estava previsto, realizou-se hoje mais um convívio do nosso grupo "A Magnífica Tabanca da Linha",  com a presença de 36 valentes que apostam sempre na linha da frente. 

Podia ter sido um pouco mais concorrido, mas as famigeradas maleitas atacaram alguns. Vamos em frente, porque estes convívios dão força ao nosso espírito. 

O nosso "homenageado" João Crisóstomo ficou feliz com as presenças de muitos conhecidos de há quase 60 anos.

Bom, o próximo será a 23 de Maio, já reservei a sala do 2.º piso no restaurante para nós.

Para ver as fotos de hoje, clicar no link. (...)


2. Desta vez o nosso almoço foi servido na sala de jantar do r/c do restaurante Caravela de Ouro. Costuma ser no 2.º andar, em salão amplo, privativo, com vista magnífica para o Tejo... quando o número o justifica.

Não vamos repetir aqui as fotos do Manuel Resende, disponíveis na página do Facebook da Tabanca da Linha. Sabemos que ele teve  seis "piras" (caras novas) mas não listou os seus nomes... 

Para já deixamos aqui algumas caras mais conhecidas, de camaradas que são membros também da Tabanca Grande, a mãe de todas as tabancas. As fotos foram editadas por nós, eliminando o fundo... Esperamos que o fotógrafo, e os próprios, não levem a mal esta "brincadeitra"... Num segundo poste publicaremos mais "caras", umas mais conhecidas do que outras... Nestas fotos, tiradas à mesa há sempre "poluição estética" a mais: copos, garrafas, talheres, guardanapos, pratos com comida...

O João Crisóstomo, à despedida, manifestou a sua alegria por este convívio entre camaradas e "irmãos"... "Ganhei o dia!", disse-nos ele. E para mais tinha a companhia da sua querida filha Cristina que tirou pelo menos duas horas à sua agenda sobrecarregada para estar com o pai e os seus velhos camaradas... 

A Cristina, filha de mãe minhota, nasceu no Brasil, veio novinha para Portugal e só depois foi viver para Nova Iorque em meados dos anos 70, se não erro... Fala impecavelmente o português, o que é um motivo de orgulho para todos nós... (Vive no Chiado, queixa-se de estar ainda um bocado  isolada...).
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Nota do editor:

Último poste da série > 14  de março 2024 > Guiné 61/74 - P25273: Convívios (983): XXXI Convívio do pessoal da CCAÇ 2381 - "Os Maiorais" - a levar a efeito no próximo dia 13 de Abril de 2024, em Fátima, com concentração na Rotunda dos Peregrinos (José Teixeira / Eduardo Moutinho Santos)

sexta-feira, 15 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25276: Notas de leitura (1676): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (16) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Março de 2024:

Queridos amigos,
Prossegue a narrativa alusiva ao esforço dos altos-comandos na Guiné para assegurar que o teatro de operações estivesse efetivamente protegido por eficazes sistemas de defesa antiaérea; sob o comando de Spínola e com o Coronel Diogo Neto no comando da Zona Aérea procuraram-se aeronaves mais potentes e até adequar os Fiat com melhores mísseis, como é sabido as negociações para adquirir aviões Mirage ainda decorriam em abril de 1974; a par de todas estas diligências, aqui se revelam as operações, mormente na Península do Quitafine, para aniquilar os sistemas antiaéreos do PAIGC, este recebe um novo canhão em 1970 e, entretanto, em sucessivas operações, vão sendo demolidos os sistemas defensivos, com a particularidade de renascerem como cogumelos.

Um abraço do
Mário



O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974
Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (16)


Mário Beja Santos

Deste segundo volume d’O Santuário Perdido, por ora só tem edição inglesa, dá-se a referência a todos os interessados na sua aquisição: Helion & Company Limited, email: info@helion.co.uk; website: www.helion.co.uk; blogue: http://blog.helion.co.uk/.



Capítulo 4: “A pedra angular”

Procedeu-se no texto anterior a um histórico das intrusões no espaço aéreo guineense e as preocupações e medidas tomadas nomeadamente por Schulz e Spínola para proteger o aeroporto de Bissalanca e outros lugares críticos. Em 1970, Spínola apelou de um modo um tanto dramático para que houvesse aumento dos dispositivos antiaéreos, reconhecia-se a necessidade de um total de seis pelotões, que deviam ser distribuídos pelo Teatro de Operações. Nenhum reforço esteve disponível até, pelo menos, 1971, e o Comandante-chefe não escondeu a frustração de só dispor de um pelotão mal equipado. Para reforçar o sistema de defesa aéreo da Guiné, a FAP recomendou a aquisição de equipamentos portáteis, mísseis terra-ar guiados por infravermelho, os FIM-43 “Redeye”, de origem norte-americana. Este míssil estava ao serviço das forças norte-americanas desde 1967, tinham sido projetados para proteger as tropas da linha da frente de aeronaves táticas hostis, embora se tenham revelado apenas marginalmente eficazes contra jatos rápidos. Mas não se ignoravam as restrições de armas por parte dos Estados Unidos. O embargo norte-americano deu-se logo em 1964 com os F-86, demorou anos até chegar ao Fiat, em 1968, esta era uma aeronave de apoio tático, havia, portanto, que preencher a lacuna para dissuadir jatos de ataque.

Portugal tinha recebido 440 “Sidewinder” no início da década de 1960, especificamente para equipar os F-86. Em maio de 1969, Spínola concordou na necessidade de aumentar o armamento dos Fiat com Sidewinders, com a intenção de melhorar o seu potencial de combate. No entanto, os testes efetuados revelaram que o Fiat estava em clara desvantagem comparativamente ao desempenho de prováveis inimigos, nomeadamente o MiG-17. Durante os mesmos testes os mísseis Sidewinder revelaram-se ineficazes contra alvos a baixa e média altitude, o que fora provado nos combates ar-ar no Vietname. Em consequência, em abril de 1970, o chefe das operações da Força Aérea, Coronel António da Silva Cardoso, revelou-se contra novas tentativas para armar os Fiat com mísseis, o que gerou grande discussão na Força Aérea e no Ministério da Defesa. Em janeiro de 1970, a solução para colmatar as deficiências quanto ao combate aéreo na Guiné residia na aquisição de um novo caça. Na sua avaliação anual da situação, Spínola solicitou um mínimo de 16 aviões Mirage, projeto que exigia anos de negociações internacionais, formação de pilotos e melhorias de infraestruturas.

Mesmo um caça como o Mirage, reconhecia-se, seria inútil como intercetador sem aviso adequado de que havia um ataque. Embora dois radares de vigilância aérea AN/TPS-1D tivessem sido fornecidos a Bissalanca a partir de 1964, eles operavam com limitações e até paralisação. Eram reconhecidamente obsoletos e com problemas de manutenção, tudo agravado pelas dificuldades na obtenção de peças sobressalentes. Como resultado, um dos radares foi canibalizado para manter o outro em atividade. Dois conjuntos AN/TPS-1D foram posteriormente enviados para a Guiné, mas ambos acabaram inoperantes ou canibalizados. Além disso, mesmo em condições de bom funcionamento, o radar AN/TPS-1D dava apenas aviso entre quatro a sete minutos de um intruso a voar a 3 mil pés e 450 nós, a interceção chegaria tarde e a más horas. Esta era a situação em 1970, altura em que a Zona Aérea solicitou quatro conjuntos adicionais para implantar noutros lugares da província. A Zona Aérea procurava melhorar a proteção física das suas instalações. Em 18 de fevereiro de 1968, um grupo de guerrilha procurou ameaçar com um ataque aéreo Bissalanca; o Chefe de Estado-Maior da Força Aérea ordenou que se fizesse um estudo urgente para proteger as aeronaves contra possíveis intrusões aéreas. Dispersar os meios de defesa antiaérea era virtualmente impossível devido ao número de superfícies de estacionamento disponíveis; reconhecida essa impossibilidade, foi recomendada a construção de abrigos e plataformas em Bissalanca, que seriam complementados pelos radares de vigilância que tinham sido solicitados, bem assim como os aviões de combate que o Governo de Lisboa estava a procurar negociar. Em abril de 1970, uma missão conjunta do Exército e da Força Aérea renovou essas exigências de um Centro de Alerta Aéreo e Centro de Operações Antiaéreas na Base Aérea N.º 12. Estas melhorias recomendadas implicavam despesas muito além do orçamento da Força Aérea. Apesar de todas estas recomendações e repetidos apelos, não se deu satisfação ao provimento de adequados sistemas de defesa aérea.

Com Spínola continuaram as operações para procurar destruir as defesas aéreas do PAIGC. Em setembro de 1969, um reconhecimento aéreo revelou uma nova ZPU-4 em Cassebeche, o que mostrava que a guerrilha procurava reconstituir as suas defesas aéreas na Península do Quitafine. Três formações de Fiat visitaram aquele lugar em três dias consecutivos, de 24 a 26 de setembro, daí resultou a destruição do sistema antiaéreo da quádrupla. Mas o PAIGC continuou a comprometer os seus meios de defesa aérea em Cassebeche, e em 20 de janeiro de 1970, uma formação de Fiat relatou ter tornado ineficaz uma ZPU-4 e incendiado uma DShK. Seguiu-se a Operação Cravo Azul, lançada imediatamente, quatro Fiat partiram de Bissalanca com carga máxima e destruíram a ZPU-4 e duas DShK. O reconhecimento pós-ataque revelou que não havia sinais de atividade da guerrilha em Cassebeche. A tripulação portuguesa anunciou a Operação Cravo Azul como uma conclusão bem-sucedida dos 27 meses da “Batalha do Quitafine”.

Apesar de todo este otimismo, os pilotos dos Fiat relataram nove incidentes subsequentes com disparos de sistemas antiaéreos até ao final de 1970, incluindo sete na região do Quitafine ou ao longo da fronteira próxima com a República da Guiné. Além disso, houve o fogo das armas contra aeronaves leves e helicópteros, pelo menos em quatro ocasiões. Neste ano surgiu um novo tormento para os aviadores portugueses, o PAIGC começava a utilizar uma outra arma antiaérea, o canhão M1939 de 37 mm, também de fabrico soviético, duplamente mais potente que as armas anteriores. A sua presença foi revelada pela primeira vez em 12 de maio por pilotos de Fiat que patrulhavam a fronteira sudeste, observaram detonações antiaéreas enquanto voavam a uma altitude supostamente segura. Uma subsequente operação de reconhecimento confirmou a presença de quatro canhões antiaéreos de 37 mm, duas ZPU-4 e quatro antiaéreas DShK, nas proximidades de Guileje, armamento que presumivelmente utilizava a base transfronteiriça do PAIGC em Kandiafara.

Procedeu-se ao planeamento operacional, a Diamante Azul, que ocorreu em 13 de maio; duas vagas de quatro Fiat atingiram as armas montadas com 600 quilos de bombas específicas, na primeira vaga, e cargas de profundidade de 750 libras convertidas em bombas de demolição, na segunda vaga. Num reconhecimento posterior, revelou-se que as armas do PAIGC, ou o que delas restava, tinham regressado a Kandiafara. Em finais de junho de 1970, um Fiat identificou canhões antiaéreos de 37 mm em Sare Morso, junto da fronteira com a República da Guiné, a 14 km a nordeste de Guileje, o que levou à Operação Pérola Azul. 24 missões de Fiat atingiram o local na primeira semana de julho, com aparente sucesso, já que não houve mais avistamentos de armas antiaéreas de 37 mm ou da atividade do PAIGC até maio de 1972.

As Oficinas Gerais de Material Aeronáutico testaram os mísseis Sidewiner em Fiat, mas a combinação provou-se ineficaz (imagem das OGMA)
Soldado norte-americano manipulando um Redeye durante um exercício em 1963. O Governo português procurou desesperadamente obter este sistema, a despeito do embargo norte-americano (Arquivos Nacionais dos EUA)
Operações contra os sistemas de defesa antiaérea do PAIGC entre setembro de 1968 e julho de 1970 (Matthew M. Hurley)
Um canhão M1939 de 37 mm usado pelo PAIGC no Sul da Guiné (Casa Comum/Fundação Mário Soares)
Relatório da atividade da defesa aérea entre 1965 e 1972 (Matthey M. Hurley baseado em documentação militar do tempo)

(continua)
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Notas do editor:

Post anterior de 9 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25254: Notas de leitura (1674): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (15) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 11 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25263: Notas de leitura (1675): Capitães/MFA – A conspiração na Guiné (Mário Beja Santos)