(i) ex-fur mil at Armas Pesadas Inf, CCAV 8351, "Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74);
(ii) membro da Tabanca Grande desde 30/1/2021, tem cerca de 7 dezenas de referências no blogue;
(iii) autor da série "Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74)" (de que se publicaram 28 postes, desde 3/2/2021 a 28/7/2022) (*), e que depois publicou em livro ("Memórias de um Tigre Azul - O Furriel Pequenina", por Joaquim Costa; Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp);
(iv) tirou o curso de engenheiro técnico, no ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto;
(v) foi professor do ensino secundário, tendo-se reformado como diretor da escola secundária de Gondomar;
(vi) minhoto, de Vila Nova de Famalicão (**), vive em Rio Tinto, Gondomar;
Data - 24/10/2023, 10:49
Assunto - Depois da Guiné... a luta continua
Olá, Luís,
Espero que tudo esteja bem contigo.
Envio-te a minha primeira crónica, que publico no Facebook, sobre as “Minhas Escolas”.
Esta primeira crónica faz uma pequena referência às dificuldades e peripécias sobre o regresso à escola para concluir os cursos que ficaram a meio com a nossa mobilização para a guerra.
Deixo ao teu critério o interesse na publicação do Blogue.
Um grande abraço
Joaquim Costa
2. Comentário do editor LG:
Como já te respondi, por mail e na sequência da nossa última conversa ao telefone, claro que vamos publicar. É um "filão" a explorar, o teu, o nosso pós-guerra como "paisanos"...
Ainda na ressaca dos dois anos passados no inferno da Guiné e completamente alucinado com o desenvolvimento do PREC (Processo Revolucionário Em Curso, 1974/75), assistindo incrédulo ao incêndio e destruição da sede de um partido político com uma multidão em fúria, lá me desloquei à minha antiga Escola (hoje ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto) tentar retomar os estudos vencendo as cadeiras por concluir.
Esta miudagem olhava para estes “velhos;” tisnados pelo sol da Guiné e com aspeto de alucinados, com alguma desconfiança já que cumprimentavam com deferência os seus antigos professores, que eles queriam sanear.
Lá se conseguiu concluir o curso com o mesmo espírito com que se venceram os dias de inferno na Guiné, apoiados uns nos outros, nunca deixando ninguém para trás.
Concluído o curso, enquanto esperava pela resposta aos inúmeros currículos enviados para várias empresas, com outros colegas avançámos, como profissionais liberais, na elaboração dos primeiros projetos (ou proje...tinhos) de engenharia.
Entretanto surge a minha colocação na Escola Industrial e Comercial de Santo Tirso, que aceitei uma vez que me garantia o vínculo à função pública.
Não foi fácil, pois o ensino estava a anos-luz das minhas preferências. Apresentei-me na escola num dia, e nesse mesmo dia me indicaram a sala, cheia de alunos, para iniciar as aulas.
Entrei pela primeira vez na sala de professores, onde se discutia aos gritos os últimos desenvolvimentos do PREC. Mesmo naquelas condições não foi uma entrada discreta, para além do silêncio de igreja que abruptamente se fez sentir, vejo, incrédulo, toda a gente a afastar-se de mim. Tinha acabado de trocar o meu Fiat 600 por uma Diane nova com os estofos de uma mistela que deixava um cheiro na roupa insuportável. Demorou um ano a sair aquele cheiro, pelo que não foi fácil fazer... amizades.
Passei dois anos nesta Escola, bem perto de casa (que era em Famalicão), mas não foram propriamente os melhores anos da minha vida. Contudo gostei muito dos alunos com quem mantive uma boa relação.
Também ajudou a algum desconforto o facto de ser o responsável pelo bar da escola, tarefa que ninguém queria, já que se estava sujeito a todo o tipo de piropos sobre a qualidade dos produtos e a quantidade do queijo e fiambre no pão. Chegaram a insinuar que eu estava a meter dinheiro ao bolso. Era brincadeira, mas... aleijava!
Até os amigos das jogatanas de futebol de salão me tratavam por... “tasqueiro”!
Sim, é mesmo verdade! Imaginem o meu espanto quando a Diretora me entrega o horário com duas horas da “disciplina” de Bar. Argumentei que a minha formação era em engenharia eletromecânica pelo que nada sabia sobre restauração. Dizia ela, com um sorriso nos lábios: "não dá trabalho nenhum, é só comprar os produtos e vendê-los ao preço de custo. No final do ano entregas um relatório com a diferença do deve e haver a zeros!"...
Ficou, ao menos, uma grande amizade com o funcionário do bar, o meu braço direito...e esquerdo.
Não foram propriamente dois anos fáceis, principalmente na "cadeira" de Bar...
Joaquim Costa