sábado, 9 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2515: Em busca de... (19): Informações sobre a morte do Fur Mil Belmiro dos Santos João (Irundino N. João / Belmiro Vaqueiro)



Cópia da certidão de óbito do Fur Mil Belmiro João, vítima de rebentamento de mina antipessoal, em Catió. Evacuado para Bissau, veio a falecer no Hospital Militar, em 18 de Abril de 1968. A sua unidade, a CART 1689, do BART 1913, passou em 1967 por Bambadinca.

Foto: A. Marques Lopes (2007).

1. Em 5 de Fevreiro de 2008, Luís Graça recebeu a seguinte mensagem de Irundino do Nascimento João, irmão do malogrado Fur Mil Belmiro dos Santos João.

Tive conhecimento através dum amigo comum, Belmiro Vaqueiro, que o Luís sabia de todos os pormenores da morte do meu irmão.

Gostaria de trocar impressões sobre este assunto.

Caso seja possível, agradecia que me diga se tem disponibilidade.

Sem outro assunto de momento aguardo o seu contacto através deste meio.

Um amigo ao dispor
Irundino do Nascimento João


2. Face à insuficiência de elementos para avançarmos numa pesquisa, a pedido do Editor Luís Graça, foi enviada em 6 de Fevereiro, a mensagem que se segue, ao nosso camarada Belmiro Vaqueiro que vive na tão bonita quanto fria Cidade de Bragança.

Caro Belmiro Vaqueiro:
Votos de boa saúde.

Tenho o prazer de te contactar pela primeira vez.

Pediu-me o Luís Graça para solicitar a tua colaboração para o assunto abaixo.

Parece que conheces o Irundino, mas gostávamos de saber pormenores do seu irmão.

Como se chamava, onde e como morreu, etc.

Aguardo notícias tuas.

Recebe um fraterno abraço do camarada
Carlos Vinhal

3. No mesmo dia veio a resposta do Belmiro Vaqueiro.

Caro Carlos Vinhal:
Foi através de um nosso camarada, em resposta a um meu pedido emitido através do blogue do Luís Graça, que tomei conhecimento de alguns pormenores da morte em combate do ex-Furriel Miliciano Belmiro dos Santos João.

Na posse destes dados extraí uma fotocópia que entreguei ao irmão do falecido.

Como apaguei a mensagem não estou na posse de qualquer dado que possa enviar.

Apenas sei que o infortunado, meu amigo e conterrâneo, fazia parte do BART 1913/CART 1689 e morreu em 18 de Abril de 1968, ao que julgo no sul da Guiné.

Foi um prazer ter-te contactado.

Aprecio muito o teu trabalho e faço votos para que nunca te faltem forças para o prosseguir.

Recebe um grande abraço do amigo e camarada
Belmiro Vaqueiro.

4. Em face dos preciosos esclarecimentos do camarada Belmiro, foi fácil encontrar as postagens que se referem à morte do nosso camarada.

Assim foi enviada em 8 de Fevereiro a mensagem resposta ao nosso amigo Irundino.

Caro Irundino:
Estou a comunicar consigo em nome de Luís Graça, editor do nosso Blogue, para lhe dar algumas notícias sobre a morte do seu irmão e nosso camarada, Belmiro dos Santos João.

Na verdade a fatídica morte deste nosso camarada foi falada no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com).

Vou deixar-lhe os números das publicações e os respectivos endereços, pelo que basta clicar e vai directamente aos locais que lhe interessam (1).

Publicação P1529 > http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2007/02/guin-6374-p1529-belmiro-dos-santos-joo.html

Publicação P1532 > http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2007/02/guin-6374-p1532-o-furriel-belmiro-dos.html

Publicação P1535 > http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2007/02/guin-6374-p1535-subsdios-para-histria.html

Espero que o que tem oportunidade de agora ler chegue para apaziguar as vossas dúvidas.

Pela nossa parte não deixaremos esquecer aqueles que tiveram o infortúnio de não voltarem vivos.

Seremos testemunhas activas até ao fim dos nossos dias e esperamos deixar um legado que jamais deixe esquecer o sacrifício em vidas, saúde física e mental, derramamento de sangue e tudo mais que uma juventude violentada pela guerra teve de suportar.

Como, por mais palavras que se digam e escrevam, é impossível acalmar a vossa saudade e a vossa dor, deixo-lhe um abraço sentido em nome do editor Luís Graça e de todos os tertulianos do nosso Blogue.

Disponha de nós sempre que precise.

Carlos Vinhal
_________________________

Nota de CV:

(1) Vd. postes sobre a morte do Fur Mil Belmiro dos Santos João:

15 de Fevereiro de 2007> Guiné 63/74 - P1529: Belmiro dos Santos João, de Miranda do Douro, vítima de mina antipessoal em Catió (Fernando Chapouto / A. Marques Lopes)

17 de Fevereiro de 2007> Guiné 63/74 - P1532: O furriel Belmiro dos Santos João, a primeira vítima mortal do inferno de Gandembel (Idálio Reis)

19 de Fevreiro de 2007> Guiné 63/74 - P1535: Subsídios para a história da CART 1689, a que pertencia o Belmiro dos Santos João (Vitor Condeço)

Guiné 63/74 - P2514: Convite (2): Lançamento da biografia de Cecília Supico Pinto, a líder do MNF: 12 de Fevereiro, 18h30, na Sociedade de Geografia


Capa e contracapa do livro de Sílvia Espírito Santo, Cecília Supico Pinto: O Rosto do Movimento Nacional Feminino, a ser lançado no dia 12 de Fevereiro de 2007. Preço: c. 20 €.


1. A editora A Esfera dos Livros teve a gentileza de nos mandar um convite para a sessão de lançamento da obra da investigadora Sílvia Espírito Santo, com o título Cecília Supico Pinto: O Rosto do Movimento Nacional Feminino. Será já no próximo dia 12 de Fevereiro, 3ª feira, às 18h30, na Sociedade Portuguesa de Geografia, Rua das Portas de Santo Antão, 100, Lisboa, Telefone 21 342 5401. Apresentação a cargo de Anne Cova, historiadora, e de Fernando Dacosta, escritor, ex-jornalista (autor de, entre outras obras, Máscaras de Salazar e Salazar - Fotobiografia).

A autora é investigadora do Centro de Estudos das Migrações e Relações Interculturais (CEMRI), licenciada em História pela Universidade de Coimbra e mestre em Estudos sobre as Mulheres, pela Universidade Aberta de Lisboa. É autora, entre outros, dos seguintes trabalhos relacionados com a guerra colonial:

(i) "Por Deus e pela Pátria", in A Guerra do Ultramar: Realidade e Ficção (Lisboa, Notícias Editorial, 2002);

(ii) Adeus até ao Meu Regresso, O Movimento Nacioanl Feminino na Guerra Colonial, 1961-1974 (Lisboa, Livros Horizonte, 2003;

(iii) E a guerra aqui tão perto - os ex-combatentes da guerra colonial (Região de Leiria - RL, 2003)...

2. Cecília Supico Pinto (nickname, Cilinha) nasceu em 1921, em Lisboa. Cecília Maria de Castro Pereira de Carvalho, de seu nome de solteira, era oriunda de uma família da alta burguesia financeira. Casou com Lúís Supico Pinto, economista, homem do núcleo duro do regime de Salazar com quem o casal privava. Salazar era visto por Cecília Supico Pinto como "um verdadeiro príncipe". Em 1961, ela irá fundar o MNF - Movimento Nacional Feminino (1), uma organização que se pretendia independente do Estado, e que tinha por missão mobilizar as mulheres portuguesas no apoio moral e material aos soldados que combatiam em Angola e, depois, em Moçambique e na Guiné.

A primeira metade da década de 1960 terá sido para Cecília Supico Pinto e suas colaboradores de exaltação, mobilização e ensusiasmo... A partir de 1966, a líder do MNF confessa começar a dar conta da fadiga provocada pela guerra, traduzida na desmobilização da sociedade civil e na redução de donativos, a par do crescimento da contestação, ora surda, ora aberta, da guerra no Ultramar...

O 25 de Abril aconteceu alguns dias depois a seguir à sua última missão no Ultramar, justamente na Guiné. Não terá sido apanhada completamente de surpresa.... Ainda tentou transformar o MNF numa organização de assistência e apoio aos ex-combatentes do Ultramar, mas já não a tempo de evitar que, três meses depois da queda do regime político que era o seu, de alma e coração, o MNF fosse extinto, por despacho do Ministro da Defesa Nacional, a 22 de Julho de 1974.

Cecília Supico Pinto foi, reconhecidamente, uma mulher de forte personalidade, uma líder com carisma, amiga íntima de Salazar (mas já não de Marcelo Caetano...) que concitou tremendos ódios e paixões, a começar pelos próprios militares e sobretudo pelos contestatários da guerra colonial, do colonialismo e do regime político de Salazar/Caetano...

Esta biografia ajudará a conhecê-la melhor, a ela, à sua época e à sua obra. "Dei tudo o que tinha. O Movimento foi a vida minha! - disse ela em entrevista à autora do livro. "Os militares e o trabalho no Movimento foram, de certo modo, os filhos a que me dediquei". Vive hoje, em Cascais, retirada da vida pública.


3. A editora mandou-nos um exemplar do livro de que faremos muito brevemente a respectiva recensão.

Contacto: Margarida Damião

A Esfera dos Livros

Rua Garrett, n,º 19 - 2º A
1200-203 Lisboa

Tel. 21 340 40 64 / Telm. 96 344 19 79 / Fax. 21 340 40 69

__________

Notas de L.G.:

(1) Sobre o Moviment0 Nacional Feminino, há já aqui, no blogue, alguns postes:

18 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2362: O Movimento Nacional Feminino no filme em DVD Natal de 71, de Margarida Cardoso, que recomendo (Diana Andringa)

17 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2357: O meu Natal no mato (3): Banjara, 1965 e 1966: um sítio aonde não chegavam as senhoras do MNF (Fernando Chapouto)

18 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2059: Um disco oferecido pelo MNF, às NT, no Natal de 1973 (Álvaro Basto/Carlos Vinhal) 08 Março 2006

8 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXIV: Dia Internacional da Mulher (2): As Tias Lili Caneças de antigamente (João Tunes)

16 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CXCIII: Antologia (19): os 'remorsos de guerra' do tenente Tunes (João Tunes)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2513: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (19): O Natal de 1969 em Bambadinca e na Ponte do Rio Udunduma

Capa do disco de ópera Carmen, de Bizet, com a Maria Callas... "A prenda que me ofereci no Natal de 1969...É nas andanças da procuração de casamento, em Bafatá, muito perto do Natal, que vou à casa Teixeira onde me mostram um acontecimento musical que acaba de chegar: a última gravação da Maria Callas numa ópera integral. De facto, foi a Carmen a última ópera que a Callas cantou por inteiro. A partir de 1964, a Divina só aceitou actuar em concertos ou em master classes. Esta gravação da Callas foi objecto de apreciações tensas e contraditórias. O fundo orquestral é de uma beleza ímpar (estou à vontade, só como melómano é que de vez enquando oiço a Carmen, que classifico como ópera bonita mas fácil nos seus efeitos), Nicolai Gedda era seguramente um grande tenor do seu tempo, e cumpre a preceito o Dom José. O barítono Robert Massard é para mim o grande achado da ópera, um toreiro fogoso e viril. Gosto da voz assanhada da Callas, mas hoje é um registo bastante ultrapassado. Custou-me 400 escudos, paguei em dois meses, já estava a preparar o casamento em Bissau. A ópera foi muito bem aceite na caserna, o Alf Abel[, da CCAÇ 12,] gostava de a ouvir por sua iniciativa. Veio comigo, é uma relíquia desse Natal de 1969, onde me faltou a festa como nos Açores e em Missirá, as minhas inesquecíveis festas de Natal".

Digitalização da capa: uma gentileza do Humberto Reispara quem vai um abração.

Foto: © Beja Santos / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados.


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Ponte do Rio Udunduma, na estrada Bambadinca- Xime > Pel Caç Nat 52 (1968/70) > Natal de 1969 (2) > Os bravos soldados do 52, que o Mário considerava os melhores soldados do mundo... O famigerado destacamento da Ponte do Rio Udunduma resumia-se a uns bidões de areia, umas valas, umas chapas ... como tecto e milhões de mosquitos. Este rio era uma fluente do grande Geba... Foto do ex-Fur Mil João Sousa Pires, a quem agradecemos a gentileza de nos autorizar a sua reprodução (LG).

Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.


Texto do Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), remetido em 11 de dezembro de 2007:

Luis, recordo que tens aí a fotografia do dia de Natal na ponte de Udunduma, enviei já as ilustrações do Claude Simon e S. S. Van Dine, tens igualmente a ópera Carmen. Vou começar já o episódio n.º 20, temos que fazer tréguas no Natal. Muitíssimo obrigado pelo teu esforço na recolha e preparação dos materiais que vão ilustrar Na Terra dos Soncó. Segue pelo correio o conjunto de aerogramas que ainda tinha em meu poder, referentes a 1969. Vou telefonar para marcarmos o almoço de Natal. Um abraço do Mário.


Operação Macaréu à vista > Episódio XIX (3)

O NATAL EM BAMBADINCA E NA PONTE DE UDUNDUMA
por Beja Santos


(i) Os preparativos do Natal, a história de um poemacto alucinante

Começam a chegar as iguarias natalícias provenientes de Lisboa, bolo rei, broas castelares e de milho, coscorões, rabanadas, entre outras. Um alferes Rodrigues que até hoje nunca consegui identificar (logo ficou claro que não era o Rodrigues da CCaç 12, esse quando se apresentou de férias vinha com alguns discos de vinil debaixo do braço), deixara em Bafatá um pacote de doces no comando do Agrupamento e lá fui buscá-lo a propósito de mais um episódio com a procuração para o meu casamento, a que se juntou o atestado de residência.

No fim do ano escreverei à Cristina:

“Espero que o Ismael te tenha telefonado em Bissau, aqui os telefones deixaram de funcionar, as minhas insónias têm-me impedido de escrever com regularidade. Não é nada de grave, já não sei se é o desgaste físico que abala o psíquico ou vice-versa. O destacamento da ponte de Udunduma é escabroso, sem qualquer segurança, umas valas mal amanhadas, custa conciliar o sono dentro daquele buraco. O Vidal Saraiva quer pôr-me num quarto de repouso em Bissau, talvez uma semana seja o suficiente para eu recuperar. Parte das minhas economias deste mês foram para substituir a roupa esburacada, calças e camisas na fímbria... Agradeço-te do coração o novo Chopin, mas confesso-te que houve um pequeno desastre, saí uma manhã destas para ir às tabancas próximas, deixei-o fora do estojo, quando voltei estava ondulado. O Samson François não merecia este castigo! Li 'Guerra e Paz' na tradução da Isabel da Nóbrega e do João Gaspar Simões, o português é escorreito mas não sabe a nada. Começaram as medidas de prevenção que irão até ao Ano Novo.

"A grande notícia é que os documentos da procuração estão novamente prontos, não sei se te contei que descobri no meio dos meus livros a procuração anterior, mais uma vez anulada porque faltava a data de nascimento do teu pai. Não percebo porque é que uma procuração tem que ter estes pormenores, em que a data de nascimento do pai da noiva é crucial. Por aqui, não se pode dizer que a guerra se tenha agravado. Há de vez em quando incêndios de moranças nas redondezas de Bambadinca, assaltos aos Nhabijões quando os naturais não oferecem vacas nem outros mantimentos aos rebeldes, houve agora um grande ataque ao Enxalé e pouco mais. O ano está quase a acabar e o futuro espera-nos. Aconteça o que acontecer, confio que Deus nos quer juntos no próximo ano. Peço-te muito que descanses e não te aflijas. Logo que resolva o problema das insónias tudo vai voltar à normalidade”.


Desço a rampa e vou conversar com o Zé Maria. Já sei que o dia de Natal será passado na ponte de Udunduma, a ver se ele consegue preparar uns frangos para eu almoçar com a malta do pelotão no dia 24. É uma negociação difícil, o Zé Maria começa por me pedir o couro e o cabelo, vai descendo, faz as contas a doze frangos, arredondo para quinze, um grande tacho de arroz, canja e depois papaia, sendo a bebida a laranjada, acertamos a verba e subo novamente a rampa para entrar nas lides burocráticas.

Cá em cima, na secretaria, tenho de rectificar nomes de uma proposta feita ainda em Missirá. Enviara o ofício n.º 366, processo 200.03, dirigido ao comandante do BCaç 2852, SPM 5188, com os seguintes dizeres “Em virtude de recentes desfalques nos quadros orgânicos destes dois pelotões de milícias, dada a circunstância de faltar um comandante de secção em Finete e um cabo em Missirá, sugiro a V. Ex.ª se digne promover ao posto de 2º sargento o 1º cabo Ieró Baldé do Pel Mil 102 e a 1º cabo o soldado Dauda Jamanca do Pel Mil 101”. Sempre com o cenho carregado, o tenente Pinheiro argumentava:
- Beja, V. só me dá trabalhos, o homem não se chama Ieró Baldé mas Inderissa Baldé, não é a mesma coisa, fazíamos as folhas de pagamentos e depois tínhamos o Inderissa a pedir um vencimento que só existe para o Ieró, acontece que V. já tem cá dois Ieró para aumentar a balbúrdia!

Se estava de cenho carregado, o semblante do tenente Pinheiro, enquanto eu escrevia ou garatujava uns papéis freneticamente não disfarçava o pasmo:
- Beja, V. está a ouvir-me, o que é que está a escrever?.

Depois de lhe ter perguntado se ele estava mesmo interessado em saber o que se estava a passar na minha cabeça, respondi-lhe na mais completa das inocências:
- Pinheiro, estou a tentar escrever uma carta ao Deus menino, a dizer que o amo muito. Como não sou poeta, vou ajeitando, vou acomodando as palavras nestes papéis, à espera de uma inspiração. Se quer saber, aqui escrevi "aeroplano de papel', “nesta pétala encravada em minas de salgema”, “é uma sarça ardente em labareda, avermelhando o arvoredo”, “daquela fundura, chegam-nos os odores dos mangais e dos limoeiros, é então que me fere uma dor maturescente”, “Bambadinca está acima da savana, vai pipilando entre candeeiros de petróleo, envolvidos no orvalho do amanhecer”.

O rosto do tenente Pinheiro congestionava-se:
- V. veio gozar-me, vem misturar trabalho com coisas da sua cabeça desarranjada. Se isso é cultura, vou ali e já venho. Acabemos por aqui, antes que eu me irrite.

Pôs a boina na cabeça e atirou a porta com todo o estrondo. O 1º cabo Olival parecia estar a assistir a uma cena do outro mundo, inclinava bem a cabeça sobre os papéis, atarefava-se com a sua escrita ornamentada, floreada.


(ii) E chegámos ao poemacto alucinante

Pedi duas folhas de papel ao 1º cabo Olival, arrumei o dossiê dos expediente a tratar, inclusive todos estes rabinhos de palha de Missirá e Finete, há deprecadas urgentes a expedir, também, olhei os apontamentos garatujados, os que estavam em cima da mesa e os que me saíram dos bolsos, pus a Montblanc em movimento:

“Ao meu querido Deus menino, Tu, detentor do mais lindo sorriso do mundo, vê se me podes ajudar com os teus bracinhos abertos lá no presépio, cativado, protegido por teus pais, pastores e reis magos. Conto com o teu lindo, cúmplice sorriso, protegido na noite estrelada que eu desenhava nos presépios da minha infância. Vem dizer-nos que nos protegerás sempre quando partimos nas colunas de reabastecimento ou nos estradões e picadas que levam ao combate, em todos os momentos de dúvida quanto ao nosso feliz regresso. Vem dar-me fé sobre a sumaúma que se desprende dos bissilões, como cabelo ao vento, neste tempo da época seca. Impõe a Tua inocência benfazeja nesta cintura da guerra. Traz-nos o consolo da cola, do sal e do pão ázimo, cuida dos meus soldados, dá um sinal de misericórdia entre os nossos consanguíneos. Sei que Te estou a pedir muito, como se de um milagre se tratasse: Menino amado, ilumina-nos a mata, aparece como sarça ardente, com uma angra de promessas, dá-nos um sinal do teu perdão nesta enseada de sangue coalhado. Assina um lorde gentílico, numa guerra repartida, à espreita de ver o arvoredo com cores de incêndio, dá, imploro-Te, o Teu sinal como sarça ardente nessa noite de Natal”.

O 1º cabo Olival viu-me atarefado, escrevendo e refazendo, deu-me, solícito vários aerogramas aonde se copiou o pretenso poemacto, que seguiu para algumas partidas do mundo. Nalguns casos, nada mais se dizia a não ser o teor da mensagem ao Deus menino. Noutros, escreviam-se algumas outras banalidades, tais como: a existência de boatos de que Amílcar Cabral estava tuberculoso e que já havia uma luta de poder nos bastidores, isto segundo a propaganda emitida pela rádio; que, devido à acção do calor, pois saíra de madrugada e deixara a luz acesa, o disco com trechos de obras de Wagner, a Sinfónica de Chicago dirigida por Fritz Reiner, ficara em gelatina, só me apercebera quando quisera ouvir a Marcha Fúnebre de Siegfried e saíram uns sons cavos; que o jogo do xadrez se presta a agressividades, numa noite atrás dois oficiais, parceiros pacatos, desataram aos gritos e aos insultos, tabuleiro e peças andaram pelo ar, ninguém percebeu porquê, já nos bastam as cenas com a comida em que uma simples observação pode dar dez dias de prisão; que Cibo Indjai, o mais valoroso caçador do Cuor, me veio perguntar se pode voltar para Missirá, tem saudades de caçar, pedi-lhe para esperar, por enquanto há só um furriel, há cabos em falta e soldados doentes, não posso dispensar os melhores soldados; regressou o Campino e temos mais um apontador de bazuca e recebemos um fula educadíssimo, Dauda Bari; que na véspera do dia de Natal almoçaremos juntos, seguiremos para Bafatá onde vou buscar a ópera “Carmen”, que é a prenda que me ofereci, mais os doces, a procuração e o atestado de residência que seguirão directamente para Lisboa; que jantaremos todos muito tarde e que haverá uma consoada no quartel; e que ao amanhecer do dia de Natal partiremos por quatro dias para a ponte de Udunduma; àqueles que mais me estimam ainda sou capaz de lhes confessar o meu sofrimento com as insónias. Só me apetece dormir, a luz fere-me os olhos, todos os sons mudaram de volume. Assim acabei o correio de antes do Natal.

(iii) O dia de Natal na ponte de Udunduma

A 24 [de Dezembro de 1969], coube-nos reabastecer quem estava nos Nhabijões, fomos buscar doentes a Samba Juli para ir à consulta do Vidal Saraiva, levaram-se munições para o pelotão de milícias em Amedalai, seguiu-se para Bafatá, deixei no correio um punhado de cópias do poemacto, tratei dos documentos, voltei ao correio e meti-os numa carta que seguiu para a Cristina, fui buscar a minha prenda de Natal, o Cherno olhava para a senhora do estojo da ópera, eu disse-lhe:
- É a Callas, via-a em Lisboa há onze anos, gosto muito da sua voz.

O Cherno limitou-se a pegar no embrulho e comentou:
- Agora quem ouve a gritaria são os outros lá do teu quarto!.

Seguimos para Bambadinca, ficámos no Zé Maria, onde já estava o resto do pelotão, não sem ter pedido ao Xabregas que trouxesse o Setúbal, os condutores de Missirá pertenciam à família. E tratou-se de uma almoço em família, eles eram a minha gente, eu bem pedia a Deus que não houvesse mais infortúnios nos próximos sete, oito, nove meses em que seria o seu comandante. Agradeci-lhes muito a companhia e o seu heroísmo, a sua capacidade de sacrifício, de tarde ainda iríamos a Galomaro, nessa noite não haveria emboscada nem reabastecimentos, seguiríamos às 7h da manhã para a ponte de Udunduma, revezando um dos grupos de combate da CCaç 12.

Pela meia noite, brindámos na messe de oficias, abriram-se iguarias (da minha parte, escondi ao máximo as minhas para as oferecer no dia seguinte no local mais desagradável que vi a imitar um refeitório), fizeram-se votos, recolhemos cedo, os operacionais sabiam que não haveria tréguas no dia de Natal. Lembro-me de ter conversado com o major Cunha Ribeiro, pedindo-lhe toda a compreensão para o facto de precisar de mais sargentos. Com o novo ano, sairá o Pina e virá o Vitorino Ocante, mais tarde chegará um militar destemido, o sargento Manuel Cascalheira, que tanto me ajudou na operação Rinoceronte Temível.

Vão seguir-se quatro dias de suplício na ponte, um local onde nada acontece, no dia de Natal ainda nadei umas braçadas no rio Udunduma, enquanto houve luz li e escrevi, as noites vou passá-las praticamente em claro, é um período sem história, não consegui ter argumentação para convencer o major de operações a olharmos a ponte de Udunduma doutra maneira, fazer patrulhamentos envolvendo Amedalai, Demba Taco e Moricanhe, na resposta eram só dificuldades, havia sempre obstáculos que tudo inviabilizavam. Com o cansaço, desisti de argumentar. E voltámos para Bambadinca, para o torvelinho das rotinas.

A 30, li num aerograma que mandei à Cristina, visitou-nos o Spínola: “Esteve cá o Spínola depois de ter ido a Missirá. Altivo, monóculo faiscante, perguntas em tom abrupto”. O que eu não disse à Cristina foi que ele se passeou com a sua comitiva e diferentes dos nossos oficiais pelos abrigos, interpelando com contundência Jovelino Corte Real enquanto entravam e saíam dos abrigos. Lá para os lados da caserna dos soldados, à entrada de um desses abrigos um prego apanhou a camisa do comandante no cós das costas, a camisa rasgou-se e transformou-se numa fralda deixando a carne à mostra.

Com toda a dignidade possível, Cunha Ribeiro passou a dialogar com Spínola enquanto Jovelino Corte Real foi mudar de camisa. No fim da visita, o comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné bradou que iria voltar em breve e que haveria consequências caso não fossem tomadas as providências que ele exigia.

A 31, pelas 6h da manhã, um jogo de futebol, finalmente o 52 derrotou a equipa da CCS, assisti da bancada, sem qualquer energia para jogar dez minutos. Nessa noite, o conjunto pop do batalhão deu uma récita com guitarras eléctricas e bateria. Por essa altura, recebi muitas cartas amigas, o Ruy Cinatti procurou dar-me estímulo, o Ferreira de Castro pedia notícias. Peguei num jornal atrasado e soube da morte do Alves Redol e do José Régio.

Fui à capela de Bambadinca rezar por todos os meus entes queridos, pedi paz, supliquei para que o novo ano nos trouxesse menos sofrimento. Depois partimos para o Bambadincazinho, vamos fazer a emboscada na missão do sono. Regressarei pelas 6h da manhã com um moribundo nos braços e uma camisa perfurada pelo ocaso das balas. É uma camisa ensanguentada que o Cherno vai exibir por Bambadinca, a sua prova definitiva de que eu sou um baqué, aquele guerreiro mitológico que nenhuma bala pode matar.


(iv) Uma grande descoberta, Claude Simon


Comecei a ler um livro extraordinário, uma prenda da minha Mãe, A Casa Grande de Romarigães, de Aquilino Ribeiro. Leio devagar, a saborear uma prosa alquímica que nos fala do Minho rural, a posse da terra, a construção da riqueza fundiária, os preconceitos, o peso das superstições. Leio e releio, não paro de me assombrar: como é que é possível abrir um romance com este toque mágico, inultrapassável:

“O vento, que é um pincha-no-crivo devasso e curioso, penetrou na camarata, bufou, deu um abanão. O estarim parecia deserto. Não senhor, alguém dormia meio encurvado, cabeça para fora no seu decúbito, que se agitou molemente. Voltou a soprar. Buliu-lhe a veste, deu mesmo um estalido em sua tela semi-rígida e imobilizou-se. Outro sopro. Desta vez o pinhão, como um pretinho da Guiné de tanga a esvoaçar, liberou-se da sela e pulou no espaço”.



Capa do livro O crime do Dragão, por S.S.Van Dine. Lisboa: Livros do Brasil, s/d. (Colecção Vampiro, 97) . "Um grafismo com reminiscências surrealistas, como é compreensível em toda a obra do Cândido da Costa Pinto. A tradução é de Roberto Ferreira. Tive uma grande alegria quando recuperei este livro na Feira da Ladra. Foi uma leitura estimulante, perto do Natal de 1969, livro comprado em Bafatá" (BS).

Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.


É melhor parar aqui, isto é um português de lei que tenho de mastigar, assimilar, respirar todos os odores. Oxalá tenha forças e lucidez para ler, perceber e amar. O livro policial que me acompanhou nas emboscadas foi O crime do Dragão, de S.S. Van Dine. Desta feita, a tragédia inicia-se numa piscina nos arredores de Nova Iorque, num local quase lendário, a Piscina do Dragão, propriedade da família Stamm. Alguém mergulhou e não reapareceu. Tinha havido uma festa e um galã propôs um banho nocturno, a própria vítima. Philo Vance, um detective super chique e super culto, acompanha as investigações e vai deslindar uma trama diabólica em que o Dragão é um mergulhador vingativo que desfaz as suas vítimas e acabará por ser punido, sendo esmagado por um rochedo da piscina. Um dos pontos fortes do romance é Van Dine ir conduzindo a investigação para um falso criminoso invertendo aparatosamente o rumo da investigação até ao desenlace espectacular. Pelo meio, Philo Vance dá uma lição aos polícias e aos leitores sobre a importância do Dragão em todas as mitologias e religiões.

Palace, de Claude Simon, veio lembrar-me a prosa de William Faulkner a embriaguez da palavra, uma narrativa poderosa feita de minúcias em que os actores são o estudante , o homem-espingarda, o americano, o mestre-escola e o calvo. Tudo se passa em Barcelona, durante a Guerra Civil espanhola, o estudante volta lá quinze anos depois e tudo vai relembrar, é um reencontro hipnótico, o estudante vê e revê os ambientes por onde deambulou, o que era o Palace durante a guerra e em que se transformou o Palace, no pós guerra.



Capa do romance de Claude Simon, Palace. Lisboa: Ulisseia, 1966. "Palace é uma escrita arrebatadora,uma grande surpresa.Desconhecia Claude Simon, nunca me impressionou o novo romance, mas este este livro alterou-me o conceito dos cânones literários. Logo a seguir pedi ao meu Padrinho O Vento, que fora publicado na Colecção Contemporânea, da Portugália. Ainda bem que lhe atribuíram o Nobel de 1985. A capa é uma beleza, tem a chancela do Espiga Pinto, que se iria impor nas artes plásticas. A tradução é de ferando Cascais Xavier. Ulisseia,1966" (BS).



Foto : © Beja Santos (2008). Direitos reservados.


Tudo começa com um inventário minucioso de objectos e detalhes do interior do Palace, dos locais por onde o estudante se passeia, parece que o autor leva um caderno e regista detalhes ínfimos, enquanto se ouvem as vozes da guerra. Segue-se uma narrativa do homem-espingarda, a prosa de Claude Simon torna-se ainda mais densa, chega o americano...

É assim, em linguagem oficinal que o tempo é relembrado até chegarmos ao Palace, em que se encerra a imponente narrativa, olhando a fachada, recordando as marcas das balas, o voo dos pombos ao sol por cima dos telhados, é uma escrita compulsiva como se segue:

“... o Sol desapareça atrás das colinas, a Oeste, por trás das carcassas descarnadas das torres e das grandes rodas do luna-parque abandonado sob o céu agora cor de salmão, a própria cidade também ao abandono, solitária, sob a invariável luz verde-eléctrico dos globos e dos lampadários complicados que se acendem uns após outros como a ribalta de um teatro, semelhante a uma dessas rainhas em parto, abandonada no seu palácio, porque ninguém a deve ver nesse momento, parindo, expulsando dos seus flancos, encharcados pelo suor o que deve ser parido, expulso, algum monstrozinho macrocéfalo, inviável e degenerado - e, por fim, tudo se imobiliza, recai, e ela fica ali, jazendo esgotada, expirante, sem esperança que aquilo venha acabar, esvaziando-se numa ínfima e incessante e vã hemorragia...”.

Fiquei a gostar tanto de Claude Simon que logo escrevi ao meu Padrinho a pedir-lhe que me mandasse O Vento, que fora publicado na Colecção Contemporânea da Portugália Editora. Foi mesmo muito bom acabar o ano de 1969 a conhecer a literatura de Claude Simon.

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Notas de L.G.:


(1) Vd. poste de 3 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2024: A discoteca de Missirá ou alguns dos discos da minha vida (Beja Santos) (1): De Verdi a Beethoven



(2) Vd. poste de 21 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2370: O meu Natal no mato (7): Destacamento do Rio Udunduma, 1969, Pel Caç Nat 52 (Beja Santos)

(3) V. último poste desta série > 1 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2498: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (18): Operação Punhal Resistente

Guiné 63/74 - P2512: Arma de Transmissões (1): Uma resposta Relâmpago para uma pergunta Relâmpago (Luís Graça / Carlos Vinhal)



Manual de Transmissões > Páginas 312 e 313 > Uma gentileza do Santos Oliveira que, além destas, mandou-nos mais umas tantas imagens digitalizadas.
Fotos: © Santos Oliveira (2008). Direitos reservados.


1. Pedido de ajuda do editor do blogue, em 28 de Janeiro:

Amigos/as e camaradas :

(i) A propósito de alguns documentos do AHM – Arquivo Histórico Militar, que o Nuno Rubim nos trouxe (vd. post P2487 de hoje) (1), e que na altura eram classificados, há um, o Doc 4 (do Com Chefe Oper para o CAOP 3), que diz Relâmpago / Confidencial...

(ii) Os senhores professores da Arma de Transmissões não quererão ajudar este pobre e ignorante editor a descodificar a coisa ?... Imagino que seja uma ordem de prioridade, mas não estou (não estava) por dentro da linguagem das transmissões... E se alguma vez cheguei a saber, desaprendi depressa... Estão a ver ? Hoje faz-me falta...

(iii) E a propósito: Alguém quer escrever sobre isto ? Sistema de classificações mensagens das nossas NT ? O saber não ocupa lugar, embora nos possam acusar de estar a discutir, placidamente, o sexo dos anjos ao falar das estrias da G-3 e do calibre dos obuses, enquanto o mundo lá fora corre o risco de implodir... Ou será que ainda continuamos apanhados do clima ? (…) (LG)

2. A pergunta (O que é uma mensagem Relâmpago) teve, para surpresa dos editores, uma resposta Relâmpago… Os camaradas da Arma de Transmissões mostraram, quarenta anos depois, que ainda estão operacionais… As respostas chegaram, quase minuto a minuto, nos dias 28 e 29 de Janeiro, como podem ver… Mais uma vez, o meu Oscar Bravo a todos os camaradas da arma de transmissões (2) de quem a gente - os operacionais - só se lembrava quando estava à rasca no mato...


28 de Janeiro de 2007:



Gabriel Gonçalves (ex-1.º Cabo Cripto da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

Luis: As mensagens eram classificadas por grau de precedência: RELÂMPAGO; IMEDIATO; URGENTE e ROTINA.

Um abraço
GG

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João Melo (Op Cripto, CCAV 8351, Aldeia Formosa, 1972/74)

(que trabalha nos seguros e mora em Alquerubim, Portugal, como ele indica entre parênteses, para quem não sabe de geografia)...

Caro camarada.

Criptografia, é comigo mesmo! Alguma dúvida não vacilem!

Irei tentar, muito sinteticamente os Graus de Procedência utilizados em mensagens criptografadas:

Z - ZULU = Relâmpago (Passava à frente de todas as outras porque o seu grau de urgência era a mais cotada)

O - OSCAR = Imediato (As primeiras a serem decifradas, caso não houvessem Zulus...)

P - PAPA = Urgente (Para se fazer...)

R - ROMEO = Rotina...(Como o seu nome indica, para ser ir fazendo...)

Quanto ao confidencial, era normal todas serem no mínimo confidenciais mas havia além dessas e por ordem de secretismo: Reservada / Confidencial / Secreta.

Quanto ao estarmos todos apanhados do clima, acho que, se não corresponde à verdade, anda muito próxima dela! Porque, aqueles ares com tudo o que de perigoso nos trazia, eram sem sombra de dúvida imbuídos de um misto de exuberância e misticismo que, de tal forma, se nos embrenhou que só a tumba o levará!

Um abração e, vou ver se consigo um tempinho extra para intervir mais activamente!

Com amizade,
João Melo
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Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo , 1972/74)

TRMS
Bom! Vou tentar resumir o significado do grau de procedência e a classificação das mensagens (MSG)

Há quatro tipos de grau de procedência e grau de segurança, ou seja:

Grau de procedência: Relâmpago; Imediato; Urgente; Rotina

- Relâmpago: quer dizer que uma mensagem deste tipo ao ser apresentada para expedição ultrapassa todas as outras mensagens que estiverem à frente. Interrompem a transmissão de uma outra de grau inferior.

- Imediato: Serão transmitidas antes das mensagens urgentes.

- Urgente: Serão transmitidas antes das de Rotina.
Uma mensagem Rotina é uma mensagem que pode ser transmitida até no dia seguinte ao dia da recepção.

Grau de Segurança

Quanto ao grau de segurança, temos dois tipos: Mensagens não classificadas e mensagens classificadas, estas divididas em quatro tipos de classificação:

- Muito secreto
- Secreto
- Confidencial
- Reservado

O grau de segurança a atribuir às mensagens é da exclusiva responsabilidade do remetente e a única consequência dessa classificação para as transmissões reside em a mensagem ser ou não ser transformada em linguagem secreta (codificada).

Espero ter contribuído de alguma forma para o significado de alguns procedimentos sobre transmissões.

Alfa Bravo (abraço)
Sousa de Castro
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António Santos (ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74)

Um ALFA BRAVO a todos os tertulianos.

Para responder à solicitação do Luís, penso que tenho o necessário.

As mensagens eram divididas em 2 graus, um de precedência outro de segurança, quanto ao grau de segurança as mensagens podem ser a) não classificadas e b) mensagens classificadas.

Grau de precedência Relâmpago (ZULU); Imediato (OSCAR); Urgente (PAPA) e Rotina (ROMEO), quer dizer que uma mensagem Relâmpago tinha prioridade sobre todas, mesmo que o operador estivesse a enviar interrompia para passar a ZULU.

Segundo os apontamentos que tirei na época eram até 10 minutos para a Relâmpago, 15 a 30 minutos para a Imediato, de 3 a 6 horas para a Urgente e a Rotina às 15 horas do dia seguinte. Na prática este grau se fosse só para conhecimento podia demorar muito mais que isso.

Quanto ao grau de segurança: Muito secreto; Secreto; Confidencial e Reservado. Nas Unidades não apareciam mensagens com grau de segurança superior a Confidencial, os outros 2 graus eram para os COP; CAOP e QG.

O grau de segurança a atribuir às mensagens é da exclusiva responsabilidade do remetente e a única consequência dessa classificação para as Trasmissões reside em a mensagem ter ou não de ser transformada em linguagem secreta (cifra). Bem acho que hoje chega.

Oscar Bravo. Um Alfa Bravo
António Santos
SPM 2558
Pel Mort 4574/72
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António José Pereira da Costa

Olá, Camarada!

As mensagens têm ainda hoje 4 graus de precedência: Relâmpago, Imediato, Urgente e Rotina. A mensagem Relâmpago (Z) deveria chegar ao destinatário em 10 minutos. As Imediato (O) demorariam cerca de 2 horas. As Urgente (P) já iam para as 4-6 horas. Claro que as Rotina (R) eram como o combóio do espanhol. No que diz respeito à classificação de segurança ainda hoje temos as Muito Secreto, Secreto, Confidencial e Reservado.

Um Alfa Bravo
Pereira da Costa,
Ex-Cap Art Pereira da Costa (hoje, Coronel),
CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/74)

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Luís Fonseca (ex-Fur Mil Trms, CCAV 3366/BCAV 3846 Suzana e Varela , 1971/73)

Caro Luis

Mensagens:

(i) Quanto ao correspondente: Oficiais; Serviço; Procedimento;

(ii) Quanto à procedência: Relâmpago (Z); Imediato (O); Urgente (P); Rotina (R).

(iii) Grau de segurança: Muito Secreto; Secreto; Confidencial; Reservado;

(iv) Quanto à linguagem: Clara; Secreta.

Penso que responde à tua questão ou pretendes também saber quem tinha acesso?

Luís Fonseca
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Nuno Rubim, Cor Art Ref

Caro Luís

(…) As mensagens eram classificadas quanto ao grau de segurança e quanto à prioridade de (re)transmissão. No 1º caso as mensagens podiam ser : N/Classificada, Reservado, Confidencial e Secreto. Em alguns casos, Muito Secreto (estas, sobretudo, para correspondência ao mais alto nível: Ministérios da Defesa Nacional, Negócios Estrangeiros, Presidência do Conselho de Ministros, portanto de carácter essencialmente político-militar). (…)

Um abraço

Nuno Rubim
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Albano Gomes (ex-1.º Cabo Cropto da CART 2339, e Mansambo, 1968/69):

Amigo LG

Em transmissões existe os chamados graus de urgência que passo a descrever:

Urgente - designado pela letra (R) Romeo.
Imediato - (O) Oscar.
Relâmpago - (Z) Zulu.

As mensagens classificadas como urgentes-R podiam ser tratadas e entregues durante 24horas.
As de classificação imediato-O tinham um tratamento o mais rápido possível.
Quanto às de classificação Relâmpago-Z tinham prioridade sobre todo e qualquer serviço.

Existe também a grau de segurança: Rotina, Confidencial e Secreto. Com o grau de segurança Rotina, dá para se saber qualquer coisinha. Se for o grau de Confidencial já não há hipótese de se saber o que quer que seja. Se tiver o grau de Secreto, aí não há nada p'ra ninguém.

Espero ter dado aqui um pouco do meu contributo.

Saudações para todos os Camaradas
Albano Gomes
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Fernando Calado
(ex-Alf Mil TRMS, CCS/BCAÇ 2852,
Bambadinca, 1968/70)

Camaradas, aí vai um pequeno esclarecimento de um "menino das tranmissões":

As mensagens expedidas pelo emissor eram obrigatoriamente classificadas de Rotina, Imediato ou Relâmpago conforme a urgência de chegada ao receptor.

Um grande abraço

Fernando Calado
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Eduardo Santos, (ex-1.º Cabo Cripto, CCS/BCAV 1915, Nova Lamego e Bula, 1896/69)


Caro amigo:

Essa linguagem já estava esquecida, não na minha mente, mas no meu dicionário da vida.
Confesso que me passaram poucas pelas mãos, mas executei algumas. Aí vai.

Mensagem Relâmpago ou Zulu correspondia (confesso que não sei se ainda corresponde actualmente) ao grau de urgência máximo e exigia do cripto ou radialista(transmissões) um tratamento célere e imediato.

Quanto ao confidencial correspondia ao grau de segurança.

A propósito disso, recordo-me de uma que tive que decifrar quando estava destacado em Bula entre 67 e 68, cuja lembrança ficou.

Em pleno ataque nocturno ao aquartelamento foi recebida uma mensagem nessas condições, era o único cripto que estava de serviço e lá executei o trabalho de decifração da mensagem debaixo da mesa de trabalho (no interior do centro cripto e à luz de um foxe) o mais rapidamente que conseguiu, para de seguida a entregar ao destinatário (comandante ou substituto, não me recordo) que se encontrava no abrigo existente no aquartelamento.

São factos que não esquecem, mas que nos fazem recordar o bom e até o menos bom que aquela guerra nos deixou.

Um abraço amigo
Eduardo
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29 de Janeiro de 2008


Henrique Pinho (ex-Marinheiro Radiotelegrafista, Guiné, 1971/73)

Em resposta e como informação ao v/ pedido sobre classificação e prioridade de mensagens:

(i) Havia mensagens c/classificação: N/C - Não classificado: C - Confidencial; S - Secreto; TS - Top Secret.

(ii) Havia mensagens c/prioridade: R - Rotina; P - Urgente; O - Imediato e Z – Relâmpago.

As mensagens N/C não tinham classificação e tanto podiam ser enviadas em linguagem clara como cifradas. A partir do grau confidencial eram todas cifradas.

As mensagens c/a prioridade R eram de rotina e não era obrigatório deixarmos tudo para as encaminharmos de seguida, o que não acontecia com as de prioridade P, O ou Z.

Cumprimentos,
Henrique Pinho
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António Pimentel (ex-Alf Mil Rec Info, CCS/BCAÇ 2851, Mansabá e Galomaro, 1968/70)


Relâmpago-Imediato-Urgente-Rotina.

Esta é, por ordem decrescente,a escala de rapidez com que uma mensagem deveria ser enviada pelos meninos das transmissões. O que nem sempre acontecia...
Esta matéria também era estudada pelos meninos do Reconhecimento e Informações e das Operações Especiais, especialidades que eu frequentei.

Com um abraço

Anónio Pimentel
(minitertúlia do Norte)
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João Tunes (ex-Alf Mil TRMS, CCS/BCAÇ 2884, Pelundo e Catió, 1969/71)


Caro Luís,

Pois, “relâmpago” era a classificação de prioridade máxima. Isto é, implicava transmissão imediata com óbvia prioridade relativamente a todas as mensagens que estavam em fila para serem transmitidas.

E da parte do receptor, o tratamento também adequado para situações extremas. Só era aplicável a situações muitíssimo excepcionais, normalmente ataque forte a provocar baixas e com dificuldade de resposta à altura do ataque sofrido.

Independentemente do teor da mensagem, que tinha de ser muito curta e directa (o que se passava e que apoio se necessitava), ela não era sujeita a cifra (ia na chamada linguagem clara) pois se a urgência era limite seria contraditório sujeitá-la à demora da cifra antes da emissão e decifragem após a recepção.

Daqui o melindre de tal recurso em que se tinha de gerir a rapidez do pedido de socorro (normalmente, era disso que se tratava) com a alta possibilidade de o lado adversário conhecer o impacto que estava a ter a sua investida.

E, neste sentido, tinha de se admitir que o atendimento do pedido de ajuda à situação desesperada, normalmente apoio aéreo, seria suficientemente eficaz para que a guerrilha não tivesse tempo de tirar partido do uso da linguagem clara, em morse ou por voz, na transmissão da mensagem.

Se bem me lembro, em toda a minha comissão, enviei uma ou o máximo de duas mensagens relâmpago.

Abaixo do grau máximo de prioridade (o "relâmpago "), havia "urgente" e "rotina", estas codificadas por regra, constituindo dois lotes com prioridades relativas por data-hora e em que o lote de "rotina" só ia sendo despachado quando o lote de "urgentes" se tivesse esgotado.

Além do grau de prioridade, havia o grau deconfidencialidade:
"secreto", "confidencial" e sem classificação.

Aqui, era o conteúdo que ditava a classificação porque delimitava o acesso ao teor da mensagem - só para conhecimento do comando, para um núcleo de oficiais, de conhecimento que podia ser genérico por tratar de questões inócuas em termos de acção militar.

Já lá vão alguns anos desde que deixei o mundo das transmissões e das cifras na Guiné, pois não me deu para o trazer para a peluda, bastando-me ficar com o corpinho de volta à vida civil, de onde, aliás, nunca devia ter saído.

E a memória cada vez ajuda menos. Se há lapsos no meu contributo, e com tantos camaradas de transmissões na nossa tertúlia, agradeço que me corrijam.

Abraço do
João Tunes
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Nuno Rubim

Assim era realmente. Só me lembro de ter enviado uma mensagem Relâmpago após um ataque a Salancaur, zona de Guileje, 1966, em que a minha Companhia ia ficando lá toda.

Quanto às cifras, um dia terei de contar coisas que se passaram comigo na minha última comissão na Guiné, 1972-1974, que ainda permanecem "Top Secret", mas que entendo que assim não deverão ficar, para bem do conhecimento histórico do que foi a guerra naquele teatro de operações.

Eu fui um dos 16 (número que não consegui confirmar, tal o secretismo envolvente) Criptólogos AED (Aptidão Especial para Descriptamento), frequentando um curso de 14 meses em Portugal, medonho, e depois colocado na Cheret Guiné a trabalhar numa chafarica de que ninguém (só com uma meia dúzia de excepções ...) suspeitou da sua existência ... Só por estes dados poderão imaginar o quadro...

Nuno Rubim
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Santos Oliveira (2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf.ª, Como, Cufar e Tite , 1964/66)

Camaradas amigos

Fiquei calado com o desafio do Nuno Rubim (porque hoje não seria dia de trabalho. Afinal, sempre me casei neste dia de 1967...).

Vou tentar que sigam algumas páginas para leituras de cabeceira. Isto é um pouco extenso para digitalizar e enviar; mas, descansa Nuno, vão receber tudo o que tenho (penso que seja apenas isto). Vão Mails separados para que tudo chegue bem. No entanto, se depois faltar algo, espero que digam.

Um abraço, do
Santos Oliveira
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Nuno Rubim

Camarada Santos Oliveira, bem haja pela sua informação. Mande mais !!!

Os documentos que está a fornecer-nos são muito importantes porque justamente são aquilo que vai ficar para a posteridade.

Os serviços históricos do Exército não estão para aí virados, não têm pessoal devidamente qualificado, pouquíssimos meios técnicos, têm dificuldade em estabelecer prioridades, e ainda por cima... pouca motivação, acrescentaria eu, que com eles lido há muitos anos ... E mesmo assim alguma coisa de positivo têm feito ...

Um desafio ao nosso camarada e fazedor do blogue amigo Luís Graça : Porque não começar a organizar dossiês temáticos que ficariam arquivados no blogue ? Se calhar estou a dizer um disparate, porque realmente não sei ( mas suspeito ) o que será gerir um monstro (passe o exagero) desses ... Exemplos: Transmissões, Serviços de Saúde, Material, Reabastecimentos (Administração Militar ), etc..., etc..., Teatro de Operações da Guiné. Isto para começar ...

Claro que ter-se-ia de contar com a colaboração dos camaradas.

Um abraço
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Santos Oliveira:

Caro Rubim:

Mesmo antes de sair ainda fiz um clic para ver as últimas e deparei com esta tua.

Tinha acabado (penso eu de que…) de V. enviar a parte restante que faltava e que havia prometido. Acho que dessa incumbência, já estou livre; agora a V/parte; assim se passam as bolas.

Mas tenho a certeza que a tua ideia seria um trabalho Belo e Ciclópico, mas que careceria da colaboração de todos os Blogueiros e a aprovação dos Chefes de Tabanca, os Homens Grandes…

Sabes que muitos de nós se desfizeram dos seus Manuais de Instrução, apenas para esquecerem a Guerra que guerreamos; mas a verdadeira Guerra está ainda mais acesa após o cair dos anos.

Vê, eu fui Sargento por 40 dias. 30 ainda na Guiné (sem saber que o era) e 10 no Depósito Geral de Adidos (aqui onde me pagaram os diferenciais que, parece, não eram para ser pagos, a avaliar pelo esconder a publicação em O.S.). Como faltavam os meus Docs, andei com uma Guia de Furriel Mil e cerca de 15 anos de luta pela posse da minha Caderneta Militar que convenientemente havia desaparecido, venho verificar que tenho Tiro de 2ª Classe, nunca estive no CIOE em Lamego, nunca estive no BCP em Tancos, nunca saltei de avião e não fui promovido a Sargento.

Há comentários? Nunca o RI6 me conseguiu convencer, como nunca fui convencido que por ser Ranger não podia ter identificação; nem cá, nem na Guiné. Mas o EME de três em três, ou de seis em seis meses me convidava para regressar, ora a Mafra (perdendo todo o tempo passado) ora à Academia Militar onde teria todas as facilidades de acesso; isto durou até aos meus 28 anos. O caricato foi que quando já tinha celebrado 29 anos (tenho esse único Doc.) convidaram-me para FURRIEL Do QP. E esta, hein? Há algo de muito mal nisto, porque só se admitiam mancebos no Exército, Marinha, FA GNR, GF, etc. até ao máximo de 28 anos.

Eu considero-me Sargento como me foi recomendado ao virarem-me as divisas no Depósito Geral de Adidos. Estou certo? Não sei.

Se te aborreci, perdoa, mas tenho muita mágoa e tristeza para atirar cá para fora.

As melhores saudações e um grande abraço, do
Santos Oliveira
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30 de Janeiro de 2008

Henrique Pinho

Caro amigo Luís Graça:

Ontem meti os pés na poça!!! Já lá vão 34 anos e nem tudo está conforme pensamos estar.

Em relação ao grau de classificação de mensagens, há entre N/Classificado e Confidencial o grau de R - Reservado.

As minhas desculpas pela deficiente informação, mas aqui fica a correcção.

Cumprimentos,

Henrique Pinho
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Notas dos editores:
(2) Vd. postes de:
9 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCVIII: Um Alfa Bravo para os nossos Op TRMS (2) (Luís Graça / Sousa de Castro)
(...) Éramos considerados uns gajos que não faziamos nada, não alinhávamos para o mato e que só sabiamos causar interferências na telefonia. Só se lembravam dos TRMS quando iam para operações, aí perguntavam sempre ao Castro:
- Qual é a Bateria que está em melhores condições ? - Neste aspecto confiavam só em mim. Curiosamente a especialidade de radiotelegrafista foi um trabalho que me dava muito gozo. (...)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2511: Álbum das Glórias (39): Bacari Soncó, o actual régulo do Cuor (Beja Santos)

Guiné-Bissau > Região de Baftá > Cuor > Missirá > Bacari Soncó, o actual régulo do Cuor, fotografado em Janeiro de 2008.




Foto: © Beja Santos (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem de 7 do corrente: Beja Santos (ex-Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70; autor do livro Diário da Guiné: 1968-1969: Na Terra dos Soncó, Lisboa: Círculo de Leitores /Temas e Debates, 2008)



No dia de Natal de 2007, fui a casa do tenente-coronel Henrique Jales Moreira, o último oficial de operações em Bambadinca, e entreguei-lhe uma carta para Bacari Soncó, um dos meus mais queridos amigos, antigo comandante de milícias de Finete e actual régulo do Cuor. A resposta acaba de me chegar pelas mãos de Cherno Suane.

Ficamos a saber que Bacari Soncó também nunca me esquece, que sente a responsabilidade de zelar pelas gentes do Cuor e sofre com os estilhaços de uma bala que lhe dificulta o andar. Vou já escrever-lhe para lhe dizer que no dia 6 de Março só pensarei nele no lançamento de um livro onde os Soncó são exaltados como gente hospitaleira e de uma bravura inexcedível.

Guiné 63/74 - P2510: Estórias do Juvenal Amado (2): O boato: nós, o Sardeira e a Maria Turra (J. Amado, CCS/BCAÇ 3873, Galomaro, 1972/74)

Juvenal Amado
Ex-1.º Cabo Condutor,
CCS/BCAÇ 3872
(Galomaro, 1972/74)


1. O boato, uma estória de Juvenal Amado (*)

O bom do Sardeira (1) tinha por missão ir às Duas Fontes (2), local a 6 km do quartel, com o Unimog, mais conhecido por burro do mato, encher o autotanque de água.

E assim durante muito tempo, logo de manhã, com uma Secção de homens armados, lá ia picada fora aproveitando para dar boleia às bajudas (3) que, nisto de andar de carro, estavam sempre prontas.
Iam... e depois vinham.

O meu amigo Sardeira usava uns óculos que mais pareciam o fundo de duas garrafas, tal era a grossura das lentes. Mais tarde, no nosso primeiro almoço de confraternização, passados vinte anos, em Seia, reparei que ele não trazia os famosos óculos. Quando lhe perguntei por eles, com ar maroto respondeu-me que os tinha deitado fora, mal tinha saído do Niassa em Lisboa. Verdade ou não, deixa de ser sempre tema de conversa e brincadeira, entre nós quando nos juntamos.

Guiné > Zona Leste > Sector L5 > Galomaro > Quartel


Mas voltando atrás no tempo, o camarada ia encher o autotanque, duas vezes de manhã e duas vezes de tarde. Assim foram passando os meses e como foram passando, ele foi abrandando o cuidado e, de vez em quando, pegava na viatura e lá ia ele direito às Duas Fontes, sem escolta.

Escusado será dizer que, em situação de guerra de guerrilha, esta atitude era uma tonteira e era assunto de conversa entre nós. Até que ele passou a ir mais vezes sem escolta do que com ela.

Nós, meio a sério meio a brincar, dizíamos:
- Qualquer dia ainda te lixas - e ele respondia a gozar que éramos medricas e que não havia perigo nenhum.

O tempo foi passando. Um dia lá vinha ele a chegar do seu passeio, o Caramba gritou-lhe que ele estava a forçar a sorte. Ele riu-se e disse que não havia azar, ao que o Caramba retorquiu:
- Ah, pois, vai ter com o Narciso das transmissões que ele diz-te o que a Maria Turra (**) disse sobre apanhar o condutor da água de Galomaro à mão!

O Sardeira mudou de cor e num riso um bocado amarelo, ainda disse:
- Estás a gozar!

O Caramba disse muito sério, na sua forma falar de alentejano dos quatro costados:
- Não se está vendo? Andas brincando com a sorte.

Nós entretanto fartámo-nos de rir, mas a mentira passou a ser uma verdade e nenhum de nós se desmanchou.

A estória correu o quartel e à boa maneira de quem conta um conto, acrescenta um ponto, a peta alastrou.

O que foi certo é que o camarada passou a querer mais segurança e nunca mais lá foi buscar o precioso líquido, sozinho.

Juvenal Amado
Ex-1.º Cabo Condutor
CCS/BCAÇ 3872

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Notas do autor:

(1) O primeiro encontro entre nós, passado vinte anos, deve-se em grande parte ao trabalho desenvolvido pelo Sardeira que, a par com o Alfredo Chapinhas, fizeram um trabalho notável para que o almoço se realizasse. Ele veio de propósito encontrar-se comigo em Alcobaça, para que eu fornecesse os números de telefone dos camaradas que ainda estavam em contacto comigo.

(2) Duas Fontes: local onde abastecíamos de água perto de Bangacia. Era um local que inspirava confiança, mas não podemos esquecer que essa mesma confiança custou a vida a seis camaradas do Batalhão antigo, que ali foram emboscados.

Bangacia foi também destruída por um ataque durante a nossa comissão. Nós reconstruímos a povoação com ordenamento tipo Baixa Pombalina, com escola, posto médico e o PAIGC nunca mais atacou. Deve ter considerado que era uma coisa boa a manter para quando a paz chegasse. E tinham toda a razão.

(3) Bajudas: nome dado as moças solteiras da Guiné.

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Notas de CV:

(*) Vd. post de Juvenal Amado de 11 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2430: História de vida (9): Um dia negro, na estrada Galomaro - Saltinho (Juvenal Amado, CCS/BCAÇ 3872)

(**) Maria Turra: A famosa locutura da Rádio Libertação, do PAIGC... Vd. poste de 1 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2235: Maria Turra, a locutora do PAIGC, que faz(ia) parte do vosso imaginário, era(é) a Amélia Araújo (Diana Andringa)

(...) "A Maria Turra era (é, porque está viva, em Cabo Verde) Amélia Araújo, natural de Angola, casada com o cabo-verdiano José Araújo, esse já falecido. No filme [As Duas Faces da Guerra]ouvimos a voz dela, em nova, a anunciar a emissão da Rádio Libertação e filmámo-la este ano, a ler, em estúdio, uma mensagem de Amílcar Cabral aos soldados portugueses" (...).

(...) Os Araújo (...) estavam em Portugal em 1961 e fizeram parte do grupo que, nesse ano, fugiu de Portugal, com o apoio de oganizações protestantes, do qual muitos se foram juntar aos movimentos de libertação dos respectivos países (...).

A Maria Turra era seguramente a locutora mais popular... entre os militares portugueses... Vd. poste de 27 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2223: A nossa Tabanca Grande e as Duas Faces da Guerra (12): A minha luta diária com a Maria Turra, no HM241 (Carlos Américo Cardoso)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2509: Estórias de Bissau (15): Na esplanada do Pelicano, a ouvir embrulhar lá longe (Hélder Sousa)

Guiné-Bissau > Saltinho > Abril de 2006 > Um olhar de esperança no futuro... É, pelo menos, o que gostaríamos de adivinhar neste olhar inocente de uma criança às costas de sua mãe... O que mudou na Guiné-Bissau, desde que o Hélder Sousa desembarcou, em Bissau, do Ambrizete, em rendição individual, em 9 de Novembro de 1970...

Foto: © Hugo Costa (2006). Direitos reservados.

Guiné-Bissau > Bissau > 1996 > Rua onde ficava a célebre cervejaria Solmar, aqui evocada pelo Hélder Sousa.... "Após o jantar, uma voltinha para desmoer e reconhecer os vários locais de interesse, Solmar, Solar do 10, Ronda, o inevitável Café do Bento (5ª Rep.), a casa das ostras na rua paralela à marginal, o Pelicano" (HS).

Foto: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados.

Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2006 > Um velho Toca-Toca (transporte colectivo) que morreu no asfalto, numa das ruas da capital guineense... Em 1970, apesar de militarizada, Bissau ainda era uma pequena cidade, com ar pacato, limpa, bonitinha, colonial... Como comentou o Hélder nouro poste, afinal Bissau sempre era maior do que a nossa aldeia: (...) "Bissau era o que mais se aproximava à realidade da maioria daqueles jovens que estavam espalhados no TO do CTIG (era também assim que se dizia) e que, naqueles idos dos finais de 60, inícios de 70 - excepção feita aos habitantes da grande Lisboa, Porto, Coimbra e limítrofes - não tinham a vivência de grandes metrópoles e para eles aquilo já era um grande movimento"....

Foto: © Hugo Costa (2006). Direitos reservados.

Navio de carga Ambrizete > Construído em 1948 na Inglaterra, tinha cerca de 138 metros de comprimento e 5500 toneladas de arqueação bruta. Deslocava-se a uma velocidade de 13 nós, tinha 37 tripulantes e pertencia à SG, a Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes, com sede em Lisboa (Grupo CUF). Recorde-se que a CUF - Companhia União Fabril estava representado na Guiné pela Casa Gouveia, adquirida na década de 1920 (1)... Eram cargueiros da SG como o Ambrizete que traziam para a Metrópole a mancarra com que a CUF fazia o seu famoso Óleo Fula (em 1929 conseguiu a autorização para produzir óleo alimentar, em regime de monopólio, e em clara concorrência, desleal, com os produtores de azeite)...

Fonte: © Navios Mercantes Portugueses, página de Carlos Russo Belo (2006) (com a devida vénia...). O autor foi oficial da marinha mercante. A página, alojada do Sapo, deixou entretanto de estar disponível.


1. Texto do Helder Sousa (ex-Fur Mil de Transmissões TSF, Piche e Bissau, 1970/72), em que ele descreve a sua chegada a Bissau, no navio da marinha mercante Ambrizete, em rendição individual, e as suas primeiras impressões da cidade, dos seus lugares mais afamados e da sua fauna humana (2).

Luís Graça e Caros Co-Editores:

Há algum tempo atrás enviei-vos a história da minha partida para a Guiné (3), a qual foi precedida pela ida ao Tivoli assistir ao filme O Último Adeus.

Pois bem, agora pretendo relatar a minha chegada à Guiné, mais propriamente a Bissau.

A partida ocorreu então cerca das 22 horas do dia 3 de Novembro de 1970, quando o velho Ambrizete rumou à foz do Tejo com destino a Bissau, navegando com uma inclinação de 7º para estibordo motivada por uma qualquer má distribução da carga que consistia, para além de géneros alimentícios, em material de guerra diverso e sobressalentes para manutenção.

A viagem correu bem, com mar sem causar problemas (vaga larga, como nos explicaram), gozando aqui e ali da companhia dos peixes voadores que faziam questão de acompanhar e, aparentemente, rivalizar com o navio.

A aproximação à costa da Guiné deu-se pela madrugada do dia 9 de Novembro, com todas as sensações que aqui no Blogue já foram descritas por outros camaradas, como a visualização da linha do que parecia ser uma mata cerrada, o bafo quente e húmido de que lá emanava, os sons e os silêncios, tudo isto ainda mais ampliado pelo facto de estar a nascer o sol em contra-luz em relação à nossa posição.

Durante a madrugada tínhamos ultrapassado o Carvalho Araújo que seguia carregado de militares mas que nos disseram ter tido um conjunto de problemas (fogo a bordo?) que o fazia navegar muito lentamente. Deste modo, todos aqueles que seguiam no Ambrizete (como tinha dito, 6 militares, todos Furriéis de Transmissões, 3 TPF (transmissões por fios) e 3 TSF (eu, o Nélson Batalha e o Manuel Martinho)) desembarcámos a meio da manhã desse dia 9, enquanto que o desembarque do pessoal do Carvalho Araújo só ocorreu no dia seguinte, dia 10 de Novembro, dia de S. Martinho, o que nos fez ficar com velhice acrescida em relação a todos os que viajaram naquele barco, nomeadamente os nossos camaradas de curso e especialidade, Furriéis Milicianos Eduardo Pinto, Luís Dutra Figueiredo, António Calmeiro e José Manuel Fanha, sendo que, como era sabido, "a velhice era um posto"!

O episódio do desembarque teve algo que me marcou e que me deixou de pé atrás, como se costuma dizer...

Devido à tal situação do posicionamento relativo dos dois barcos que estavam a chegar ao cais de Bissau, o Ambrizete ficou um tanto ancorado ao largo para dar a primazia ao Carvalho Araújo, razão pela qual a passagem dos passageiros do barco para terra foi feita por intermédio de pequenas embarcações do tipo que lá se usavam para fazer as cambanças mas que no nosso imaginário eram pirogas dirigidas por nativos, sendo aí o primeiro contacto (desconfiado) com os naturais.

Quando o barquito manobrava na aproximação à rampa, estando nós naturalmente a um nível mais baixo do que aqueles que se encontravam no cais, um militar que lá se encontrava procurou saber se "algum de vós é o Furriel Hélder Sousa ?". Após a confirmação de que eu "era eu", o militar em causa, de que eu era o substituto, desesperado pela demora da minha chegada (não esquecer que oficialmente parti a 23 de Outubro, embora só o tenha feito realmente em 3 de Novembro e, sendo das Transmissões, sabia que eu já tinha embarcado) começa aos saltos e aos gritos de É ele!, é ele!, é ele!", o que fez aumentar a minha preocupação sobre onde me vinha meter para suscitar tanta alegria pela partida...

Hoje já não me lembro do seu nome, ele que fez tanta questão em me acompanhar em todas as voltas que foi necessário dar para me apresentar no Quartel, de me levar a uns amigos de Vila Franca que me tinham guardado um lugar para ficar, de me levar a almoçar à messe de sargentos, etc., mas a imagem que tenho é de um macaquinho aos saltos (era o que me parecia, já que o via de baixo para cima e ele estava acocorado), feliz da vida por ter encontrado o seu pira e safar-se dali o mais depressa possível, provavelmente na viagem de regresso do Carvalho Araújo.

Depois das apresentações fiquei a saber que os Comandantes da Companhia de Transmissões e do STM (Serviço de Telecomunicações Militares) eram respectivamente os Capitães Cordeiro e Oliveira Pinto (excelentes pessoas), que eram cunhados e contemporâneos da minha (nossa) passagem pelo B.T., no Quartel da Graça, quando fazíamos a especialidade, o 2º Ciclo do C.S.M., e eles eram Tenentes a fazer o tirocínio para capitães, período de alguma agitação pois ocorreu no último trimestre de 1969, quando tiveram lugar as chamadas Eleições de 69.

Igualmente o 1º Sargento que supervisionava o STM em Bissau e que nos iria instruir preparando-nos para as tarefas que teríamos que desempenhar quando fossemos destacados para os postos no interior era meu velho conhecido, já que tinha sido ele a orientar o meu estágio da especialidade em Tancos, na EPE (meu e do Manuel Martinho que também foi para a Guiné, bem como do Miguel Rodrigues que foi para Angola, salvo erro, e do Fernando Marques que ficou cá em Portugal, na CHERET).

O camarada que fui substituir deixou-me depois aos cuidados dos meus conterrâneos vilafranquenses, Furriéis Milicianos José Augusto Gonçalves e Vitor Ferreira, o primeiro deles meu colega da Escola Industrial e o outro das tertúlias do Café A Brasileira, mais parceiro que adversário das partidas de bilhar, os quais estavam integrados nas Transmissões (nessa ocasião ainda estava em criação o futuro Agrupamento de Transmissões) os quais arranjaram um espaço para me acomodar no quarto que compartilhavam nas instalações para sargentos em Santa Luzia, juntamente com outro Furriel, de apelido Pechincha, que tinha estado numa Companhia de Caçadores Nativos e que estava agora destacado numa repartição qualquer do Q.G..

Levaram-me a jantar à Meta (já li algumas referências no Blogue mas não me parece que lhe tenham dado o relevo que de facto tinha naqueles finais de 1970), lugar muito frequentado, com uma zona de Bar, zona de restauração e uma enorme pista de minicarros, muito maior que as que conhecia cá na Metrópole e que era palco de acesas e renhidas disputas de competição dos vários miniaceleras que por lá iam gastando o seu tempo e dinheiro.

Após o jantar, uma voltinha para desmoer e reconhecer os vários locais de interesse, Solmar, Solar do 10, Ronda, o inevitável Café do Bento (5ª Rep.), a casa das ostras na rua paralela à marginal, o Pelicano.

Aqui no Pelicano, quando para me integrar saboreava a minha Coca Cola com uísque (era um privilegiado, já tinha tido a oportunidade de beber aquela coisa quando em 1968 estivera em França, Bélgica e Inglaterra), tive contacto directo com mais algumas das realidades do mundo onde estava a entrar...

O primeiro foi a sensação estranha de estar ali na esplanada a ouvir embrulhar lá longe, do outro lado do grande e largo Geba, diziam que era em Tite, ou Fulacunda ou qualquer outro nome que para mim naquela ocasião não assumia personalidade, coisa que mais tarde já não era assim, os nomes tinham depois uma identidade própria, acho mesmo que havia até uma como que espécie de hierarquia, no que respeita à forma como eram identificados pelas dificuladdes de vida que lhes eram inerentes. Estar ali a ouvir os rebentamentos abafados pela distância e a ver alguns clarões deu logo um arrepiozinho na espinha, com aquele misto de temor e de ansiedade que nessas ocasiões nos assaltam, mas também com um pensamento de solidaridade e angústia pela impotência de quem só pode assistir e não intervir.

O segundo contacto foi mais do género de constactar a degradação moral que a permanência em situações daquelas podia produzir em espíritos mais fracos. Já se falava do que acontecia no Vietnam com os soldados americanos consumindo droga para resolver os seus problemas mas ali no Pelicano não foi esse o caso. Tratou-se apenas do facto de que em determinado momento um desgraçado qualquer acercou-se da mesa onde estávamos e procurou vender uma fotos "de gaijas nuas". É claro que recusámos mas fui depois esclarecido de que não se tratavam de "gaijas" mas sim de "uma gaija", a própria mulher dele, a quem ele (diziam que era um fulano já bastante apanhado do clima) enviava fotos que tirava a si mesmo sem roupa e pedindo que ela lhe enviasse fotos do mesmo jeito, que ele depois reproduzia e tentava vender.

Fiquei bastante impressionado com aquela demonstração prática da alienação a que o clima de guerra e o consequente improviso da vivência podiam produzir em seres humanos e jurei a mim mesmo que haveria de sair da Guiné são de cabeça e mais determinado em contribuir para as mudanças inevitáveis que haveriam de ocorrer na nossa sociedade.

Cumprimentos
Hélder Sousa
Ex-Furriel Mil
Transmissões TSF
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Notas dos editores:

(1) Vd. o interessante blogue do jovem Ricardo Ferreira, 26 anos, estudante de história, O Grupo CUF - Elementos para a sua História e o primeiro poste que é dedicado à memória do seu fundador Alfredo da Silva (1871-1942):

(...) Em 1918 sobe ao poder Sidónio Pais, é conhecido o seu apoio pelo industrial, que durante este período será eleito senador, e também designado para o Conselho Superior Económico. Com a guerra terminada, lança-se na criação de uma nova empresa, que será crucial para o futuro da C.U.F., de seu nome Sociedade Geral de Indústria Comércio e Transportes. Esta empresa fundada em 1919, iria ainda antes de se lançar no ramo dos transportes marítimos (1922), estava apta a adquirir ou fazer parte do capital de outras empresas que interessassem ao projecto de expansão da C.U.F., foi esse o caso da Casa Gouveia na Guiné. Assentava na exploração agrícola, centrada na palma, no mendobi (amendoim) e gergelim, que passariam a ser carregados em barcos da S.G. e passariam a ser transformadas em óleos comestíveis no Barreiro (...)

(2) Vd. postes desta série Estórias de Bissau:

11 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias de Bissau (1): Cabrito pé de rocha, manga di sabe (Vitor Junqueira)

11 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1267: Estórias de Bissau (2): A minha primeira máquina fotográfica (Humberto Reis); as minhas tainadas (A. Marques Lopes)

14 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1278: Estórias de Bissau (3): éramos todos bons rapazes (A.Marques Lopes / Torcato Mendonça)

17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1286: Estórias de Bissau (4): A economia de guerra (Carlos Vinhal)

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1288: Estórias de Bissau (5): saudosismos (Sousa de Castro)

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1289: Estórias de Bissau (6): os prazeres... da memória (Torcato Mendonça)

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1290: Estórias de Bissau (7): Pilão, os dez quartos (Jorge Cabral)

24 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1314: Estórias de Bissau (8): Roteiro da noite: Orion, Chez Toi, Pilão (Paulo Santiago)

22 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1391: Estórias de Bissau (9): Uma noite no Grande Hotel (José Casimiro Carvalho / Luís Graça

2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1484: Estórias de Bissau (10): do Pilão a Guidaje... ou as (des)venturas de um periquito (Albano Costa)

10 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1512: Estórias de Bissau (11): Paras, Fuzos e...Parafuzos (Tino Neves)

31 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1639: Estórias de Bissau (12): uma cidade militarizada (Rui Alexandrino Ferreira)

19 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2281: Estórias de Bissau (13) : O Pilão, a Nônô e o chulo da Nônô (Torcato Mendonça)

21 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2290: Estórias de Bissau (14) : O Pilão, a menina, o Jesus e os pesos que tinha esquecido (Virgínio Briote)

Vd. também:

17 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2272: As nossas (in)confidências sobre o Cupelom, Cupilão ou Pilão (Helder Sousa / Luís Graça)

14 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2264: Blogue-fora-nada: O melhor de... (3): Carta de Bissau, longe do Vietname: talvez apanhe o barco da Gouveia amanhã (Luís Graça)

(3) Vd. poste de 14 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2438: História de vida (10): O Último Adeus ou as peripécias da minha partida no N/M Ambrizete (Helder Sousa)